O espaço do sublime

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o espaço do sublime demarcar terra sagrada tekohá

aluna: marcella arruda orientadora: marina grinover dossiê do trabalho final de graduação escola da cidade, 2016


indice

introdução .............................................................03 justificativa ...........................................................11 objetivos .................................................................14 procedimentos e métodos ..................................15 cronograma ...........................................................17 bibliografia ...........................................................18 anexo ........................................................................19

O termo tekoá, também grafado tekoha (pronunciado /tequô’á/), é de origem guarani e significa aldeia guarani. O significado completo da palavra, porém, não se reduz ao lugar habitado pelo grupo guarani. Literalmente, significa o lugar do modo de ser guarani, sendo esta categoria modo de ser (tekó) entendida como um conjunto de preceitos para a vida, em consonância com os regramentos cosmológicos herdados pelos antigos guaranis. Nem todo lugar habitado por populações guaranis é um tekoá os acampamentos e áreas de ocupação recentes não são chamados de tekoá. Somente são considerados tekoá áreas onde foram construídas e são mantidas as casas cerimoniais da tradição guarani e centro das atividades xamânico-religiosas das comunidades.

Virada da Educação no Terreyro Coreográfico, 2015.


introdução

É na variação daquilo que é esperado e estabelecido, na violação da expectativa que a atmosfera do sublime se cria, alterando a percepção do espaço do viaduto e resignificando-o como templo urbano contemporâneo. Ocorre, então, um processo de criação de uma heterotopia, na conceituação de Foucault

“Nosso mundo existe porque o sentimos, o interpretamos e construímos uma percepção. Sentimos nosso corpo e sentimos nosso ambiente. Dessas sensações, construímos um mapa de nosso mundo interno e externo“ costas (2010, p49)

Esta pesquisa é um trabalho de campo experimen-

“Acreditar no mundo é o que mais nos falta: nós perdemos completamente o mundo, nos desapossaram dele. Acreditar no mundo significa principalmente suscitar acontecimentos, mesmo pequenos, que escapem ao controle ou engendrar novos espaços-tempo, mesmo de superfície ou volume reduzidos. É o que voce chama de pietás. Ao nível de cada tentativa que se avaliam a capacidade de resistência, ou, ao contrário, as submissões a um controle. Necessita-se ao mesmo tempo criação e povo. (…) criar não é comunicar, mas resistir” deleuze (2010)

e através da práxis, produzir reflexões sobre a con-

“Ao transitar, ao mover-nos, expressarmos, abrimos possibilidades, criamos passagens. Com outros corpos, potencializamos a ação e produzimos a vida e a alegria, produzimos subjetividade, território.” espinosa (2009)

O sublime pode se dar na sensação do espaço liso, do

de valor (subjetivo, simbólico…), por isso mesmo

deserto de Deleuze e Guatarri, em Mil Platôs (1980):

inimaginável de acontecer nesse próprio lugar. O re-

um espaço livre de limites, de determinações e códi-

corte escolhido foi trabalhado no Estúdio Vertical do

gos previamente estabelecidos, caracterizado essen-

primeiro semestre de 2016: viadutos como templos

“Corpo no espaço e espaço no corpo. Espaço no corpo é tomar o corpo e ou partes dele como ponto de referência direcional e definir lugares no espaço a partir do corpo. Corpo no espaço é tomar o espaço [de um quarto, um palco, um jardim] como referência direcional para o corpo” rengel (2003, p50)

cialmente por movimento. Um espaço que é atraves-

urbanos contemporâneos. O grupo compreendeu

sado por uma variação contínua de fluxos de caráter

que o projeto, em uma primeira camada, é a análise

e intensidades múltiplas. Para que se deixe seguir

crítica do existente: uma vez que os viadutos são

essas linhas de fuga que escapam ao controle, tenta-

monumentos que marcam a glorificação do modelo

tiva de aprisionamento, organização e categorização,

de urbanismo rodoviarista tão recorrente na história

pressupõe-se também um tempo liso, uma ocupação

das cidades brasileiras, a atribuição do caráter de

lisa do tempo.

templo a essas infra-estruturas se dá por uma in-

Por isso o recorte e o método do trabalho: habitar em

versão de significado. No entanto, é inegável o papel

baixo do viaduto Júlio de Mesquita Filho (apelida-

de referência e marco desse elemento na paisagem e

do de Terreyro Coreografico); transformá-lo cotidi-

imaginário coletivo da cidade1: na mentalidade dos

anamente, realizar ações de apropriação e ressignifi-

paulistanos e na sua memória coletiva de São Pau-

cação do lugar através do corpo; observar aquilo que

lo. Além disso, sua configuração espacial (escala,

emerge, discutir a problemática do espaço e revelar

o espaço entre) são também fatos que justificam a

suas potencialidades.

atribuição de tal valor de maneira semelhante.

tal que está diretamente relacionada com a minha experiência pessoal. Busca-se traçar um percurso investigativo e criativo de situ-ações (dentre performances, práticas coletivas e intervenções efêmeras), strução do espaço do sublime - conceito utilizado a partir do recorte da compilação da Whitechapel Gallery (2010):

(1967): um deslocamento, a criação outro espaço dentro do lugar já conhecido, significado e codificado. Segundo Foucault, as heterotopias são “Espécies de contraposicionamentos, espécies de utopias efetivamente realizadas nas quais os posicionamentos reais, todos os outros posicionamentos reais que se podem encontrar no interior da cultura estão ao mesmo tempo representados, contestados, invertidos, espécies de lugares que estão fora de todos os lugares, embora eles sejam efetivamente localizáveis.” FOUCAULT (2006, p.415)

“The sublime experience is fundamentally transformative, about the relationship between disorder and order, the disruption of the stable coordinates of time and space. Something rushes in and we are profoundly altered.”

No caso, a escolha do recorte do viaduto como ter-

MORLEY (2010)

discussão no sentido de trazer para um espaço resid-

ritório para espacializar tais embates materializa a ual na cidade contemporânea um uso tão carregado

1 Se perguntar para as pessos na rua onde é o Teatro Oficina, ninguém sabe; mas se perguntar sobre a ligação leste-oeste, todos conhecem.


Um templo, segundo a definição do dicionário Michaelis, é um edifício público destinado ao culto religioso, um lugar misterioso e respeitável, uma recordação perene das grandes ações. Na etimologia, religião vem do latim religare: sentir-se pertencente ao todo, em conexão. Outra camada do trabalho que fundamentalmente caracteriza essa operação (de atribuição da condição de templo ao viaduto) se dá na atribuição do programa: práticas coletivas que trabalham essencialmente com o corpo e movimento e que criam essa sensação de religare. Há alguns anos, tenho vivido diversas experiências que criam essa atmosfera do sublime: uma sensação de pertencimento e conexão, a vivência de um espaço liso; performances. Na etimologia, a palavra performance vem do francês parfornir: par - completamente, de todo; fornir - providenciar, fornecer; dar-se completamente. Essas experiências coletivas de entrega, de quebra, de expressão e manifestação individual livre e espontânea, ficaram inscritas no meu corpo, sobrepostas em diversas escalas de temporalidade, e modificaram a minha relação cotidiana com a cidade.

Performance Templos Urbanos no Viaduto Júlio de Mesquita Filho, São Paulo.


Oficina de dança e expressão corporal na Casa de Trocas.

Contato e improvisação em Itanhaém.

Dinâmica de música circular do Fritura Livre na Praça Victor Civita.

Vivência de expressão corporal com crianças da Casa Labirinto, no Parque Gomm, Curitiba.

Balançar eu adoro do MUDA_coletivo na Praça Marechal Deodoro.

Dinâmica de dança circular durante o Festival Emergências, no Rio de Janeiro.


Dessa forma, a proposta para o trabalho é de criar

justificativa

No II Colóquio de Experimentações Sociais e Cria-

performances e práticas coletivas no espaço do via-

tividade Política, Peter Pal Pelbart argumenta: “é no

duto Júlio de Mesquita Filho que criem essa atmos-

terreno da ética (e não da política) que o combate

fera do sublime e conformem corpografias urbanas

se trava: trata-se de ideias de vida. (...) É uma apos-

nos sujeitos que delas participem.

ta bio-política: que formas de vida nós desejamos

A corpografia se compôe a partir da expressão e

“Os novos espaços públicos contemporâneos, cada vez mais privatizados ou não apropriados, nos levam a repensar as relações entre urbanismo e corpo, entre o corpo urbano e o corpo do cidadão. A cidade não só deixa de ser cenário mas, mais do que isso, ela ganha corpo a partir do momento em que ela é praticada, se torna “outro” corpo. Dessa relação entre o corpo do cidadão e esse “outro corpo urbano” pode surgir uma outra forma de apreensão urbana e, consequentemente, de reflexão e de intervenção na cidade contemporânea.”

manifestação individual e espontânea de cada su-

JACQUES, BRITTO (2008)

“Uma corpografia urbana é um tipo de cartografia realizada pelo e no corpo, ou seja, a memória urbana inscrita no corpo, o registro de sua experiência da cidade, uma espécie de grafia urbana, da própria cidade vivida, que fica inscrita mas também configura o corpo de quem a experimenta”. JACQUES, BRITTO (2008)

hoje?”. também como uma sintomática do momento histórico de intensa transformação que vivemos (de modos de habitar, de valores, métricas…) que se dá o recorte futuro desse trabalho. “A instauração de um presente pelo ato do eu que fala [habita], e ao mesmo tempo, pois “o presente é propriamente a fonte do tempo”, a organização de uma temporalidade (o presente cria um antes e um depois) e a existência de um “agora” que é presença no mundo.” CERTEAU (1984)

jeito envolvido na ação, a qual conforma um todo harmônico e multi-facetado; a partir da participação de diferentes sujeitos, constrói-se o pertencer ao comum - sincronicidades que se compõe em um instante único. Estudando o estado suprasensorial de

“Precisamos de bolsões de experimentação ecológica, coletiva, libertaria, espalhados pela cidade de São Paulo inteira, onde não sejamos reduzidos a meros usuários de serviços ou de equipamentos coletivos previamente “programados”’ PELBART (2016)

Hélio Oiticica (1967) e as definições do sublime na contemporaneidade pela coletânea da Whitechapel Gallery, percebi a importância de tais conceitos na minha experiência da cidade e minha prática de intervenção no território. O objeto de estudo será o corpo, em sua relação com o espaço, tempo e movimento: em devidas circunstâncias, como o corpo responde a um estímulo inesperado? Em qual intensidade e variação? Traçando trajetórias indeterminadas, a pesquisa será realizada de maneira intuitiva e experimental, caracterizando um processo criativo essencialmente fundamentado na praxis (FREIRE, 1986), na experiência sensorial, concreta, e seus desdobramentos (ação e reflexão).

Diante do contexto contemporâneo de privatização do público, normalização dos sujeitos, crescente polaridade, violência e agressividade com o diferente, falta do exercício de empatia e alteridade, percebo o quão fundamental é criar experiências que propic-

Criar experiências de presença e reafirmação de existência no mundo com poder transformador e criador de novos mundos. Percebo ser fundamental trazer o potencial de ação - autonomia e liberdade - de volta para o sujeito, afinal, existe cada vez mais um posicionamento da sociedade em geral de apontar responsabilidades e se isentar delas, uma sintomática do momento histórico de intensa transformação que vivemos.

comunidade, a um coletivo, a um comum (múltiplo,

“A percepção de si mesmo dentro do agir é um aspecto relevante que distingue a criatividade humana. Movido por necessidades concretas sempre novas, o potencial criador do homem surge na história como um fator de realização e constante transformação.”

porém único). Me interessa, portanto, criar (a partir

OSTROWER (2013, p.10)

iem aos sujeitos que delas participam liberdade, aceitação e o sentimento de pertencimento a uma

de dispositivos materiais ou imateriais) a experiência do deserto, do espaço liso, livre de divisões, cat-

A partir dessa percepção de si mesmo dentro do

egorizações, limites rígidos e definidos. Criar um

agir, que se dá essencialmente com a compreensão

espaço de performances: par fornir, espaços para

da expansão do seu espaço individual e pessoal, e do

dar-se completamente (a partir da experiência sen-

entendimento do projeto como “dar à existência de

sorial-motriz, do corpo); nos quais possamos pro-

hoje uma dimensão a respeito do futuro” (ARGAN,

jetar não somente o espaço arquitetônico formal,

1993), constroem-se novos valores de mundos pos-

mas também projetar existências, desejos de vida,

síveis. Fundamental entender que o projeto não re-

de comum.

duz ao projeto arquitetônico, mas também projeto


de sociedade, de vida - e que se baseia em uma experiência passada e em desejos e potenciais para o futuro. Futuro de existência, de relações pautadas pela convivência, troca; pelo comum. “Parto da premissa de que o estudo das relações entre corpo - corpo ordinário, vivido, cotidiano – e cidade, pode mostrar alguns caminhos alternativos, desvios, linhas de fuga, micro-políticas ou ações moleculares de resistência ao processo molar de espetacularização das cidades contemporâneas.” JACQUES, BRITTO (2008)

Compreende-se que hoje vivemos essa crise do projeto, e por isso, “estamos presenciando a emergência de uma nova categoria social global, com aspirações e identidades semelhantes”, que partem do corpo e das micro-políticas para construir novos mundos possíveis: espaços de heterotopia (de resistência) como Parque Augusta e Ocupa Estelita no Brasil, 3M na Espanha, centros sociais auto-geridos, movimentos Occupy nos Estados Unidos, Nuit Debout na França.... Atravessamos um momento histórico de revisão de padrões e valores estabelecidos: crise política, econômica, social, ambiental. Teóricos como Peter Pal Pelbart e Eduardo Viveiros de Castro defendem a necessidade de “forjar outros modos de se relacionar com o tempo, o corpo, a libido, a sociabilidade, a terra, o céu, a imaginacao, a arte, o coletivo, o sonho. Não são só as árvores estão em extinção, mas toda uma biodiversidade humana subjetiva; é preciso inventar dispositivos que propiciem experimentações, que lhe deem expressão e que as façam ressoar”. Dessa maneira, entendo a relevância da escolha do Terreyro Coreografico como templo que irá abrigar tais eventos e ações: território histórico de resistência na cidade, e que aponta na sua resistência novos modos de existência. Assembléia geral no Parque Augusta, São Paulo.


objetivos

procedimentos e métodos

2. relacionar (collect) . se apropriar do que está disponível e recompor, relacionar materiais em novas composições (resignificar, re-valorar, desenvolver potencialidades, criar conexões inesperadas, pensar em capacidades não

O trabalho irá se orientar em 3 eixos de pesquisa. O

A pesquisa irá se desenvolver a partir da metodolo-

primeiro eixo será teórico: formação de um grupo

gia do Situated Design e da abordagem do conceito

de leitura e estudos de referências de corpo e mov-

de Performative Urbanism.

imento, performance, arte efêmera, e espaços do

multiplicação (uma publicação e um documentário,

“Architecture as a cultural technique possesses a repertoire of interior material and structure that only during a cultural event – in a situation of use - develops real character. The aim for openness shows the capability to produce diversity and simultaneity only during this performative act. This leads to a relation between substance and contingency, which relates to the openness of the process, the action of experiencing space and the structure of events in relation to their spatial coherence. This aspect of architectural space, essential to the current architectural debate, will be applied to the scale and the (an-)architectural structures of urban land scape. Performative urbanism trusts in urban architecture, in the designing competence of the profession and in the power of architecture to create spaces of openness and performative experience by conciseness”

composto de entrevistas, vídeos das ações, fotos,

WOLFRUM (2008)

comum, o qual irá providenciar reflexões e fundamento discursivo para o grupo. O segundo eixo será prático: de mapeamento dos recursos, planejamento e realização de experimentações. Mapeamento de materiais, pessoas, instituições, possibilidades de captação e financiamento, potenciais a serem sinalizados e desenvolvidos. O terceiro eixo será de registro: comunicação, tanto divulgação das ações por vir (campanha de mídia, virtual e real) quanto registro das ações realizadas, de seu impacto e efeito, e

cartografias, coreografias). Tal registro irá contabilizar maneiras de utilizar o espaço (movimentos,

Após uma pesquisa sobre referências de discurso

situações, transformações). Será um mapa de inten-

e poética de práticas coletivas, performances, arte

sidades, variações:

efêmera e espaços de construção do comum (tanto

“O mapa é aberto, é conectável em todas as suas dimensões, desmontável, reversível, suscetível de receber modificações constantemente. ele pode ser rasgado, revertido, adaptar-se a montagens de qualquer natureza, ser preparado por um indivíduo, um grupo, uma formação social. Pode-se desenha-lo numa parede, concebê-lo como obra de arte, construí-lo como uma ação política.” DELEUZE, GUATARRI (2000, p 21) “Os autores propõem uma reflexão sobre modos de investigar e pensar, questionando como as cartografias podem produzir realidades, ou seja, como podem afetar e participar da construção de mundos” BARBOSA (2014)

teórica quanto vivencial), o trabalho será guiado pelos princípios do método Situated Design: 1. situar (situate) . considerar limitações e especificidades locais (capacidades material, espacial, social e cultural; possíveis conflitos) . escolha do espaço de atuação: situação específica (brecha, potencial); atmosfera afetiva, pessoas locais com conhecimentos e capacidades específicos, objetos ou materiais a serem utilizados e recompostos no processo de desenho e projeto

propriedades) . criar uma assemblage, onde qualidades estéticas e recursos sociais são coletados de diversos contextos 3. compor (assemble) . recompor atores sociais e materiais em situações urbanas afetivas . situação na qual as práticas do design emergem: junção de diversos elementos ad hoc, de materialidades vibrantes 4. compartilhar (distribute) . compartilhar com público a coleção composta e construir 5. multiplicar (disperse) . resignificar novamente a ação, multiplicá-la para que seja usada em outros contextos

Ao final do trabalho, serão produzidos dois

registros de sistematização do processo: uma publicação (tendo como referência o projeto Permutations of Pages, 2014, do coletivo holandês iii) e um documentário. O objetivo é realizar produtos em linguagens acessíveis e multiplicáveis, que possam democratizar o conhecimento adquirido ao longo da trajetória. A publicação será composta de uma multiplicidade: zines que registram as ações realizadas em três etapas: 1. partitura/regras (planejamento da idéia); 2. evento (realização); 3. máscara de stencil/lambe-lambe (convite para uma próxima ação).


cronograma

julho: pensamento . olhar agosto: som . situar setembro: corpo . relacionar outubro: matÊria . compor novembro: espaço . compartilhar dezembro: território . dispersar

Projeto Permutations of Pages do coletivo iii em Haia, Holanda.


bibliografia

&cod=481&tipo=2> PELBART, Peter Pal. Empoderamento, cidadania ativa e subjetividade poitica, 2016. II Colóquio Cidades: experimentações sociais e criatividade políti-

ARGAN, G. C. A História na Metodologia do Projeto. Revista Caramelo, São Paulo, nº 6, p; 156-170, 1993. BARBOSA,

ca. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=RmLmMx_PN8o> SIMONSEN, JESPER, et al. Situated design meth-

Ana

Gabriela

Leirias

Barbosa.

CRIAÇÕES POÉTICO-ESPACIAIS: CARTOGRAFIAS E PRÁTICAS ARTÍSTICAS CONTEMPORÂNEAS. São Paulo, 2014. DELEUZE, Gilles. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. Vol. 5. Editora 34, 2000. JACQUES, Paola Berenstein. “Corpografias urbanas.” Vitruvius. Arquitextos 8, 2008. Disponível em: <http://www.cult.ufba.br/enecult2008/14401-03. pdf> MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. MORLEY, Simon. From Whitechapel: Documents of Contemporary Art. The Sublime. MIT Press. 2010 NEGRI, Antonio. A constituição do comum. Conferência inaugural do II Seminário Internacional Capitalismo Cognitivo–economia do conhecimento e a constituição do comum. Tradução de Fabio Malini. Rio de Janeiro. 2005. OITICICA, Hélio. A Busca do Suprasensorial, 1967. Programa HO, 0192/67-8/9. Disponível em: <http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia/ho/index.cfm?fuseaction=documentos

ods. MIT Press, 2014. Disponível em: <https://mitpress.mit.edu/sites/default/files/9936_001.pdf> WOLFRUM, Sophie. Urban Land Scape: Performative Urbanism, 2008. Disponível em: <http:// www.udri.org/2009/10.pdf ?phpMyAdmin=w6qdoDhnTY-UA44T6XZMtfF7FTd> e <https://www. stb.ar.tum.de/fileadmin/w00blf/www/DOWNLOADS/PublikationenTexte/2008_01_uls-perf.urb. pdf>


anexo

turais, históricas e sociais. E isso não se faz só com

Sabemos das dificuldades da Gestão Pública de uma

pesquisas objetivas em arquivos históricos, pesqui-

cidade do tamanho de São Paulo, ou mesmo de

sas de opinião, mas sim, pisando na terra, habitan-

uma Subprefeitura do tamanho da da Sé, em gerir

do o espaço, corpo presente, ali, sentindo todos os

seus equipamentos e espaços públicos, em cuidá-

fluxos que passam, que habitam, que atuam. Para

los, administrá-los, cultivá-los, mantêlos abertos

BIXIGA PULSA

assim descobrir as potências que ali existem, e dar

ao público. Dificuldades essas que possuem uma

VIDA

voz a elas.

série de razões diferentes alegadas pelos gestores,

CORAÇÃO SAMPÃ

Isso será feito através de experimentações públicas

especialmente a falta de dinheiro. E que resulta em

No dia 31 de maio de 2016 o edital que pretendia

concretas desses espaços, que inclusive já vem sendo

espaços públicos abandonados e fechados, ou cedi-

entregar as TERRAS PÚBLICAS dos baixios do via-

realizadas desde 2014, com feiras e festas populares,

dos à gestão privada, que por não terem, na grande

duto Júlio Mesquita Filho no BIXIGA, encabeçado

cinema ao ar livre, aulas de dança, de percussão, es-

maioria das vezes, uma experiência viva desses es-

pela SP Urbanismo junto da Subprefeitura da Sé,

paço de ensaio e apresentação de diferentes grupos

paços, atuam de forma abstrata, a partir de uma

deu deserto, nenhuma inscrição, caiu! Não sem um

de teatro e dança, palco de encontros e de debates

perspectiva extremamente restrita, produzindo

grande empenho nosso e de muitos outros atuador-

públicos. Um lugar onde convivam crianças girando

consequentemente um espaço restritivo, seja pelo

es do bairro do BIXIGA,

bambolês, andando de bicicleta, nômades urbanos

valor abusivo dos serviços oferecidos num espaço

que trabalharam para mostrar que com seus

cozinhando, dormindo, vivendo e cuidando do es-

dito público e pela sua concepção estética higieni-

parâmetros extremamente genéricos, o edital não

paço onde estão morando temporariamente, sen-

sta, que se faz convidativo apenas a uma certa elite

passava de porta de entrada para um processo de ar-

hores passeando com seus cachorros, um banheiro

paulistana; ou produzindo espaços e mobiliários ur-

razoamento da cultura e da vida do bairro.

público para as necessidades básicas. Uma cozinha

banos que já nascem fadados ao abandono, por não

Agora, frente a essa queda, insistimos para que se

pública para quem preferir preparar seu próprio al-

se estabelecerem em sintonia com as especificidades

escute a voz daqueles que cultivam as TERRAS

moço mas está longe de casa. Para aqueles que estão

do lugar; ou em casos mais violentos em que apenas

PÚBLICAS SAGRADAS DO BIXIGA. Que se es-

caminhando sob o sol, um quiosque de coco por um

se cria um disfarce para as questões sociais de um

cute a voz dos que habitam essas terras e dos seus

preço justo para que possa se refrescar. Uma banca

determinado bairro ou comunidade.

atuadores – pequenos comerciantes, moradores,

de jornais e livros com bancos em volta para aque-

Ou seja, o dinheiro não tem se mostrado ser solução

principalmente os que dormem nas calçadas, os

les que quiserem sentar para ler uma notícia, ou um

para a construção de uma cidade para todos e mais

que desenvolvem ali projetos culturais, sociais, mas

bom livro. Canteiros repletos de árvores! Devolver

humana, como gosta de dizer a atual gestão munic-

principalmente aqueles que pensam o bairro para

a Terra ao Povo da Terra. Uma verdadeira ÁGORA.

ipal.

além dos seus próprios interesses, em acordo com a

Tudo aberto. Público! Também com ações junto à

Talvez seja uma solução apenas para a administração

história e memória viva desse bairro tão rico e mul-

Subprefeitura da Sé e à SP Urbanismo que possi-

pública, por não ter de se preocupar com a gestão e

ticultural que é o BIXIGA.

bilitem uma maior permeabilidade desses espaços:

os cuidados básicos do espaço, que passa a respons-

Para isso estamos propondo que se instaure ali no

retirada de grades, cercas e muros que atrapalhem

abilidade para o privado, criando uma aparência de

baixo do viaduto Júlio Mesquita Filho uma AU-

ou impeçam sua fruição pública. Além dos cuida-

estar fazendo algo pela cidade, mas que na verdade

DIÊNCIA PÚBLICA PERMANENTE e CONCRE-

dos básicos que a Prefeitura deve ter com qualquer

está privando a cidade de se fazer acordes com os

TA, um ESPAÇO DE ESCUTA e EXPERIMEN-

espaço público: limpeza periódica, varredura, poda

Interesses Públicos.

TAÇÃO, onde se possa experimentar publicamente

de árvores etc.

Qual outro caminho?

esses espaços antes de lhes dar uma finalidade

Tudo o que for preciso para que todo esse trecho de

Num outro sentido temos uma incontável quanti-

monocultural com projetos que não levem em conta

11.500 m² possa ser experimentado pelo Povo da

dade de iniciativas dos próprios moradores de um

seu DNA, seu Genius Loci, suas especificidades cul-

Terra do Bixiga enquanto um ESPAÇO EFETIVA-

bairro, de uma comunidade, que devido a uma len-

MENTE PÚBLICO.

tidão ou descaso dos gestores públicos, cansam de


esperar e resolvem fazer por conta própria, cuidar

versas regiões. No caso de São Paulo podemos citar

teça por si. Não é preciso muito, mas o mais básico,

contas e ações.

de uma praça, organizar atividades no espaço pú-

a de-cisão política pelo Plano de Avenidas propos-

gestos muito simples de cuidado. É tempo de trans-

Porém é preciso que isso seja levado às últimas

blico que envolvem a comunidade, festas, shows,

to por Prestes Maia e Ulhôa Cintra nas décadas de

mutarmos esse delírio moderno megalomaníaco de

consequências. Numa aliança de responsabilidade

saraus etc.

1920 e 30 que orientou todo o desenvolvimento e

que sempre é preciso gestos grandiosos e eloquentes

e confiança entre o Poder Público, o Povo da Terra

Tem-se, de um lado, a necessidade de gerir um es-

crescimento da cidade a partir de uma perspecti-

e com muito dinheiro para se fazer algo.

e os Gestores Públicos e Políticos, escolhidos pelo

paço público e de outro, o Povo da Terra agindo en-

va rodoviarista, que propunha entre outras coisas

É tempo de aproximarmos a necessidade e a von-

Povo. Parece óbvio, e é. Basta trabalharmos nessa

quanto Poder Público, pois Poder Público diz res-

a desastrosa opção urbana em enterrar seus rios,

tade, a necessidade de cuidar dos espaços e equipa-

direção.

peito ao Povo. O Povo da Terra é a maior expressão

que criou o gravíssimo problema de enchentes e de

mentos públicos e a vontade de trabalhar e de cuidar

Em uma cidade com a dimensão de São Paulo isso

do Poder Público! Os políticos eleitos são figuras

dificuldade de fluxo, com seus engarrafamentos in-

do que é público que muitos demonstram ter. Isso é

só será possível com uma descentralização do pod-

simbólicas que estruturam a gestão do que é pú-

findos. Outro exemplo alinhado com esse mesmo

de uma riqueza imensurável, de um

er, ampliando a possibilidade de atuação direta da

blico e devem atuar conforme os Interesses Públi-

pensamento é a construção do Minhocão e do eixo

poder imponderável. Quando os Gestores Públicos

população. É preciso fortalecer Conselhos e Grupos

cos através de suas de-cisões políticas. Mas não são

de ligação Leste-Oeste, que deteriorou e devastou

começarem a olhar para isso, vão perceber a força

de Gestão, que devem ter capacidade real de delib-

eles que detém o poder. Embora isso seja insisten-

todo o caminho por onde passa e, no caso do Bixiga,

que isso tem e que aí podem encontrar uma solução

eração e ação. Sabemos que recursos são necessários

temente esquecido. E isso precisa ser lembrado! O

rasgou o bairro no meio, criando uma ferida urbana

para sua falta de dinheiro, que na verdade é apenas

para a realização de projetos, mas propomos que o

Poder Público, o Povo da Terra precisa ser escutado!

que separa o bairro em dois, Bixiga de Baixo e Bixiga

uma falta de visão, uma visão bastante limitada da

dinheiro não seja o protagonista e o superobjetivo, e

Ainda mais nesse momento político, tão precário no

de Cima, desarticulando a vida do bairro, dificultan-

realidade. O dinheiro não pode ser o protagonista,

que muito pode ser feito com um investimento mín-

que diz respeito aos interesses públicos.

do a comunicação e a troca entre esses dois lados.

apenas um mediador e facilitador dos gestos.

imo e incentivando uma economia local popular. O

O que significa atuar acordes com o Interesse Pú-

Com a demolição de quarteirões inteiros de casas e

Por trás dessa limitada visão, esconde-se uma falta

Setor Privado entra em cena para viabilizar projetos

blico?

comércios, criou-se terrenos residuais que por mui-

de confiança no Povo da Terra, como se os políticos

que sejam orientados pelo Interesse Público e pela

Há uma grande confusão entre Público e Privado e

to tempo foram (sub)utilizados apenas como esta-

fossem superiores e soubessem mais dos que os que

sabedoria do Poder Público, determinados e desen-

talvez seja necessário dissociarmos essas duas pala-

cionamento, ou simplesmente abandonados. Há al-

habitam e cultivam um lugar o que precisa ser feito

hados pelos Cultivadores da Terra e não por Inter-

vras. Interesse Público não é a somatória de Interess-

gumas iniciativas que precisam ser destacadas como

ali. Assim apresentam publicamente uma

esses Privados e privatistas.

es Privados, e essa é uma mortal armadilha em que

é o caso do Sacolão Municipal Bela Vista, criado du-

face arrogante, de quem se arroga ao poder e não

O que é público diz respeito ao público, ao povo. En-

caem os Gestores Públicos, quando alegam, para jus-

rante a gestão da Prefeita Luíza Erundina em 1992

consegue compartilhá-lo com os que tem o saber da

tão porque não o povo fazer a gestão de um espaço

tificar-se frente a críticas, que é impossível agradar a

que criou uma infraestrutura mínima de água, luz,

terra, a Gaia Ciência.

público?

todos, e que é preciso atender a uma suposta maioria

banheiro e além do sacolão, alguns box, que são lo-

Em tempos sombrios da política nacional, precisa-

A atual Prefeitura tem se dedicado incansavelmente

da população. Interesse Público se faz enquanto Ne-

cados por preços acessíveis via concorrência públi-

mos atuar mais radicalmente em uma microescala.

em criar instrumentos para que se efetue esse tipo

cessidade de um tempo, de um território, da Terra,

ca. Ali hoje funciona um cafélanchonete, açougue,

O trabalho no micro inevitavelmente se alastra, res-

de parceria (que estamos chamando de Parceria

de uma comunidade, de uma cidade, e essas neces-

pastelaria, mercearia.

soa e toca no macro, pois participam de uma mesma

Público-Público). Temos de aproveitar ainda essa

sidades são contingências históricas, resultantes de

Mas precisamos ir mais longe, e trabalhar a costura

estrutura. Uma mudança na microescala é poder-

gestão para ativarmos esses instrumentos. O tempo

movimentos que ultrapassam a escala meramente

e a cicatrização dessa ferida, e isso é de Interesse Pú-

osíssima e pode ter consequências maravilhosas. E

é oportuno!

humana, embora esteja intimamente ligadas a ela.

blico! Todos estamos acordes de que é preciso cuidar

se essa atual gestão municipal de São Paulo apre-

Que se escute a voz da Terra e dos Cultivadores da

Na sua grande maioria das vezes causadas por gestos

desses espaços. Mas para que essa cicatrização, no

senta uma mínima abertura de diálogo através dos

Terra! Quem sabe assim realizemos a segunda con-

ansiosos de governantes, descuidados e desastrosos,

caso do Bixiga, aconteça, não adianta apenas cobrir

inúmeros Conselhos criados formados pela socie-

versão de São Paulo, finalmente em SAMPÃ!

ou tomadas de decisões equivocadas no percurso

a ferida com esparadrapos e band-aids coloridos.

dade civil, das inumeráveis Audiências e Consultas

SAMPÃ dia 3 de junho de 2016

de crescimento e desenvolvimento de uma cidade,

Para que essa cicatrização aconteça é preciso, pri-

Públicas para se discutir projetos a serem implanta-

Terreyro Coreográfico

produzindo traumas urbanos, doenças nos corpos

meiro, respeitar o tempo de cicatrização. Segundo,

dos na cidade, de enfrentamento frente à cultura do

da cidade, desigualdades sociais, abandonos, difi-

não produzir uma ferida sobre a ferida. Terceiro,

automóvel que por tanto tempo dominou e massac-

culdade de interação e comunicação entre suas di-

cuidar, limpar, arejar, para que a cicatrização acon-

rou a cidade, de transparência com relação às suas


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