RN registra uma morte violenta a cada 4h

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Natal - Rio Grande do Norte Terça-feira, 20 de dezembro de 2016

natal

RN registra uma morte a cada 4h24 « VIOLÊNCIA » RN registrou 26 mortes violentas no fim de semana. Já são 1.917 pessoas assassinadas no Estado somente em 2016, segundo dados do Obvio. Ou seja, uma pessoa foi assassinada a cada 4 horas e 24 minutos MAGNUS NASCIMENTO

MARCELO LIMA

Ì

repórter

O

Rio Grande do Norte teve 26 mortes violentas entre sexta-feira (16) e domingo (18). Esses crimes contribuíram para 2016 ampliar o recorde de ano mais violento de todos os tempos no Estado. Já são 1917 pessoas assassinadas em território potiguar só em 2016. Ou seja, uma pessoa foi assassinada no RN a cada 4he 24 minutos. A quantidade de mortes violentas ultrapassa com folga de 12,63% os casos de 2014, até então o ano mais violento da história. De 1º de janeiro a 18 de dezembro daquele ano, 1.702 pessoas foram assassinadas. Se comparado com 2015, o ano atual já está 18,7% mais mortal. Os dados são do Observatório da Violência Letal Intencional (Obvio) do Rio Grande do Norte. Os feminicídios também aumentaram este ano. Esse tipo de crime é motivado pelo simples de a vítima ser mulher. Em geral, são crimes passionais e resultado de violência doméstica. Em 2015, foram 28 mulheres foram mortas nessas condições. Neste ano, já são 37 mor-

CRIMES VIOLENTOS LETAIS E INTENCIONAIS NO RN 2014 2015 2016

A quantidade de mortes violentas ultrapassa com folga de 12,63% os casos de 2014, até então o ano mais violento da história

tes, crescimento de 32,14% de um ano para o outro. O observatório também monitora os assassinatos femininos sem motivação sexista. Se somados todos os tipos de mortes de violentas de mulheres, houve uma redução comparado os últimos três anos: em 2014, foram 123 femicídios; no ano seguinte, 111; neste ano, são 104. Vale destacar que a comparação diz respeito ao período de 1º de janeiro a 18 de dezembro.

O relatório do Obvio esquematizou as mortes violentas do fim de semana por região do Estado. No Leste Potiguar, onde está localizada a Região Metropolitana de Natal, concentrou-se 73% de todos os crimes violentos, letais e intencionais de sexta a domingo passado. Dos 26 homicídios, 19 foram cometidos no entorno da capital ou dentro dela. Só em Natal, foram seis. Na sequência, a cidade mais violenta das pro-

ximidades é Parnamirim, com quatro mortes. A região Oeste vem logo em seguida do Leste. Foram quatro mortes violentas, sendo três em Mossoró e uma em Baraúna. Dessa forma, a capital do Oeste já alcançou os 216 homicídios neste ano. O Obvio também fez um estrato temporal dos assassinatos do final de semana. A maioria deles aconteceu no domingo: 10 mortes (38% das ocorrências). Tanto na sexta-feira

quanto no sábado foram registrados oito CVLIs por dia. Em todas as ocorrências, os criminosos usaram armas de fogo. Ao lado disso, as unidades prisionais da Grande Natal registraram 25 fugas. Os presos saíram da Penitenciária Estadual de Parnamirim (PEP), da Cadeia Pública de Natal e do presídio provisório Raimundo Nonato. Segundo o secretário de Justiça e Cidadania, houve facilitação da fuga em Parnamirim.

1.702 1.615 1.917

Feminicídios (morte motivada por questões relacionadas ao gênero da vítima)

2014 2015 2016

29 28 37

Período: de 1º de janeiro até 18 dezembro Fonte: Observatório da Violência Letal e Intencional (Obvio) do Rio Grande do Norte

»ENTREVISTA » CAIO BEZERRA SECRETÁRIO DE SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA SOCIAL

“Houve um acirramento de grupos criminosos”

ADRIANO ABREU

Nesse ano, já houve o registro de 37 feminicídios. Qual avaliação sobre essa quantidade de mulheres assassinadas?

Infelizmente, esse crime teve um aumento, mas aumentou em linha com os demais casos de homicídios. Estamos acompanhando. Já existem ações em andamento. Nós fazemos visitas de acompanhamento da violência doméstica já em alguns bairros de Natal. Pretendemos ampliar para toda a região metropolitana e para o Estado do Rio Grande do Norte.

« SEGURANÇA » Caio Bezerra afirma que 69,1%

dos homicídios, no RN, têm relação com o tráfico e que Sesed concentra as ações em áreas críticas

A

explicação do secretário da Segurança Pública e Defesa Social, Caio Bezerra, para o crescimento da violência neste ano é a briga entre facções criminosas dentro do Rio Grande do Norte. Segundo ele, 69,1% das mortes violentas registradas no Estado têm relação com o tráfico de drogas. Na entrevista concedida ontem à TRIBUNA DO NORTE, Caio Bezerra explica o que a Secretaria tem feito diante da situação. Sobre o crescimento de mortes motivadas pelo fato de os alvos serem mulheres, o secretário diz que a Segurança Pública do RN não tem acesso às medidas protetivas, definidas pela justiça, com o intuito de proteger as mulheres. Ou seja, elas não passam de papel. Além disso, o secretário disse que a instalação de bloqueadores de sinal de celulares é fundamental para controlar a violência. Confira a entrevista.

O número de homicídios de 2016 já superou de 2014, até então o ano que teve mais violento no Rio Grande do Norte. E nesse final de semana, foram 26 mortes. Isso se deve a que?

A gente verifica aqui no Estado que houve um acirramento da disputa de grupos criminosos principalmente relacionado ao tráfico. Nesse final de semana, também houve a fuga de 25 pessoas do sistema prisional na Grande Natal. Existe uma relação entre as fugas e as mortes?

São vários fatores que levam a ocorrência de crimes. Fatores

econômicos, sociais. Dizer que isso está diretamente relacionado a uma causa não. Isso é muito mais complexo. O que posso dizer que a Secretaria de Segurança, junto com as instituições vinculadas à secretaria, semanalmente reavalia as ações de segurança pública de acordo com os dados que recebemos do Ciosp [Centro Integrado de Operações em Segurança Pública] e o setor de estatística. Com isso, buscamos planejar melhor, adaptar nosso policiamento à dinâmica do crime, concentrar as operações policiais nessas áreas mais críticas. E por qual motivo esse ano, essa gestão de recursos materiais, policiais, humanos não conseguiu aplacar esse número que vinha em decréscimo no ano passado?

É como nós falamos no início. Há um acirramento da disputa de grupos criminosos relacionados ao tráfico.

O que falta para essa expansão?

Nós fazemos visitas de acompanhamento da violência doméstica já em alguns bairros de Natal. Pretendemos ampliar para toda a região metropolitana e para o Rio Grande do Norte”

E não há nada que a Segurança Pública do RN possa fazer para frear esse acirramento?

Pode e já fez. Na crise de agosto, no sistema penitenciário, desarticulamos o principal grupo criminoso, que estava atuando e determinando os ataques. Era uma organização criminosa com todos os elementos que a lei exige para definir como organização criminosa. Foram presas mais de dez pessoas. Desde de então, se verifica claramente que aqueles ataques, a partir daquelas prisões, foram diminuindo. As polícias não pararam de trabalhar, continua-

A gente precisa que os dados das medidas protetivas sejam compartilhados com a Secretaria de Segurança”

mos com as ações. Prendemos mais de cem pessoas, fora essa organização criminosa, relacionadas àqueles ataques. E recentemente, alguns grupos que estavam atuando no crime de explosão de caixa eletrônico foram desarticulados. Tanto que está havendo a implantação dos bloqueadores em Alcaçuz de forma mais tranquila, mas continuamos atentos. Como o senhor avalia a importância desses bloqueadores?

Os bloqueadores são essenciais para desarticular esses grupos. Eles estavam instaladas em unidades prisionais, às vezes, comandando o crime. Essa é uma medida essencial para o Estado combater o tráfico de drogas. Houve uma ação preventiva, inclusive para garantir a tranquilidade dessa importante medida de segurança pública que o Estado vem adotando. Dos 26 homicídios que aconteceram no fim de semana, quantos têm envolvimento com o tráfico de drogas?

A gente vem observando um aumento desse percentual. Era próximo de 60%, aumentou um

pouco no decorrer do ano e a gente está com 69% de crimes relacionados ao tráfico de drogas. Essa informação é compartilhada com todo o sistema de segurança, inclusive Denarc [Delegacia Especializada em Narcóticos] e Polícia Federal, que atuam nessa área. Esse é o número do ano todo. O déficit de pessoal nas polícias civil e militar é um fator preponderante para o crescimento desses crimes?

As polícias, apesar das dificuldades enfrentadas, elas estão apresentando os melhores resultados possíveis. Tanto que a quantidade de pessoas presas, as organizações criminosas desarticuladas. Então as polícias estão apresentando resultado na medida que vão investigando e trabalhando esses grupos criminosos. Claro que temos que ampliar o efetivo. A Secretaria de Segurança e a Secretaria de Administração, por ordem do governador, já iniciou os processos e, em breve, vamos lançar os editais para concurso do efetivo dessas instituições. Já muito em breve, a gente vai lançar edital para o Corpo de Bombeiros Militar e o Instituto Técnico de Perícia.

A gente precisa que os dados das medidas protetivas sejam compartilhados com a Secretaria de Segurança. Já estamos dialogando com o Ministério Público e com o Judiciário para que a gente tenha acesso a esses dados para fazer um planejamento em conjunto com esses órgãos para que, em ações de policiamento preventivo, possamos acompanhar essas vítimas de violência doméstica. Estamos conversando com a Polícia Militar, para que a Companhia de Polícia Feminina dê apoio a essas visitas. É o cumprimento da patrulha Maria da Penha, que a gente quer dar uma dimensão maior no menor tempo possível. Mas para isso, precisamos do compartilhamento dos dados. No final do mês passado, houve a primeira reunião para o plano integrado de Segurança Pública do Rio Grande do Norte. O que ficou definido de lá pra cá?

Estamos trabalhando em conjunto com a Senasp [Secretaria Nacional de Segurança Pública]. Vamos fazer um grande planejamento integrado e dentro de um matriz de responsabilidade, vai dizer o que é a responsabilidade de cada instituição. Vai ser celebrado um acordo de cooperação federativo, que a gente espera que esteja concluído em janeiro, definindo exatamente quais os papéis da União e do Estado nesse plano de redução da violência. Com a definição também dos aportes de recursos materiais e humanos. A gente espera para janeiro.


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