Natal • Rio Grande do Norte Domingo, 04 de setembro de 2016
Motores
DO DESENVOLVIMENTO DO RN
O SÊNIOR DA ONU HABITAT, ALAIN GRIMARD, DEFENDE QUE AS CIDADES PRECISAM SER MAIS DENSAS, COMPACTAS E CONECTADAS. PÁGINA 7 ALEX RÉGIS
Criatividade para reinventar as cidades O conceito de ‘Cidade Criativa’ ganha força. O objetivo é enfrentar velhos problemas urbanos com ideias inovadoras, culturais e criativas.
Empregos ESTUDO APONTA IMPORTÂNCIA DOS SEGMENTOS
Cultura OS EMPREENDEDORES CULTURAIS DO BAIRRO RIBEIRA
CRIATIVOS PARA A GERAÇÃO DE EMPREGO E RENDA. ESSAS ÁREAS EMPREGAM 20% DA POPULAÇÃO ATIVA. PÁGINA 6
CONSEGUEM ATRAIR QUASE 200 MIL PESSOAS ANUALMENTE PARA VÁRIOS TIPOS DE MANIFESTAÇÕES CULTURAIS. PÁGINA 12
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especial
CIDADES CRIATIVAS
COMO CAMINHO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EDITORIAL CRIATIVIDADE PARA GUIAR O DESENVOLVIMENTO
» SEMINÁRIO O 28º Seminário do Motores do Desenvolvimento do Rio Grande do Norte reuniu no auditório da Procuradoria Geral de Justiça, arquitetos, engenheiros e empresários para discutir como a criatividade pode ajudar na qualidade de vida nas cidades. PÁGINA 3
Ribeira
Economia criativa gera emprego e renda No Brasil, os segmentos da economia criativa geram 892 mil empregos. Apenas 19% estão em empresas puramente criativas. O demais estão espalhados por segmentos diversos da economia. PÁGINA 6
Turismo precisa de infraestrutura O turismo cultural, um dos retornos financeiros mais visíveis de uma cidade criativa, pode ser inibido quando não há a cobertura de serviços públicos de qualidade. PÁGINA 10
» CULTURA As ruas estreitas da Ribeira pipocam de manifestações artísticas, culturais e até religiosas. Produtores se empenham em dar vida à área que respira história e cultura por todos os cantos. PÁGINA 11 e 12
EXPEDIENTE Diretor de Redação: Carlos Peixoto
Gerente Comercial: Eliane Rocha
Edição: Cledivânia Pereira
Textos: Marcelo Lima
Fotos: Alex Régis/Arquivo TN
Projeto gráfico e diagramação: Carlos Bezerra
Infografia: Carlos Bezerra
O projeto “Motores do Desenvolvimento do Rio Grande do Norte” é um compromisso da TRIBUNA DO NORTE com o público leitor para um jornalismo de qualidade. Desde o início do projeto, em 2008, foram realizados 28 seminários. O encontro realizado na última segunda-feira, dia 29, teve como tema a “Cidades Criativas como caminho para o desenvolvimento sustentável”, que convidou os presentes a pensarem Natal enquanto cidade criativa e inteligente. O seminário ocorreu no auditório da Procuradoria Geral de Justiça e trouxe a Natal Alain Grimard, oficial internacional sênior da ONU - Habitat (Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos). A segunda palestrante foi Ana Carla Fonseca Reis, uma das maiores autoridades brasileiras em “cidades criativas”. O projeto Motores do Desenvolvimento do Rio Grande do Norte tem como objetivo impulsionar o progresso potiguar, trazendo para a mesa de debates economistas, consultores, ministros, ex-ministros, jornalistas, autoridades de várias áreas do conhecimento, governantes, parlamentares, lideranças empresariais e empreendedores de sucesso de todo Brasil. O MDRN é uma realização do jornal TRIBUNA DO NORTE, Ministério Público do Rio Grande do Norte (MP/RN), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (Fiern), Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Rio Grande do Norte (Fecomércio/RN) e RG Salamanca Investimentos.
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CIDADES CRIATIVAS
COMO CAMINHO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Auditório da Procuradoria Geral de Justiça, em Candelária, ficou lotado para o evento que trouxe representante da ONU para debater o futuro das cidades
Criatividade e inteligência para gerar desenvolvimento 28ª edição do Seminário Motores do Desenvolvimento discutiu segunda-feira (29), na sede da PGJ, como a criatividade e a sustentabilidade podem garantir e impulsionar o desenvolvimento das cidades
A
28ª edição do seminário Motores do Desenvolvimento do Rio Grande do Norte ocorreu na última segunda-feira (29), no auditório da Procuradoria Geral de Justiça. O debate convidou os presentes – que lotaram o auditório – a pensar Natal enquanto cidade criativa e inteligente. O encontro teve como tema “Cidades Criativas como caminho para o desenvolvimento sustentável”. O evento foi aberto oficialmente pelo procurador-geral de Justiça, Rinaldo Reis, que ressaltou o tema como relevante não apenas para Natal, mas para outros municípios que podem concorrer a ser uma cidade criativa e inteligente. Segundo Rinaldo, o debate sobre meio ambiente e ocupação de espaços urbanos com ênfase em soluções para o crescimento socioeconomico da capital demonstra a atuação propositiva para o desenvolvimento do Estado por parte do Ministério Público. “O Ministério Público não é apenas órgão fiscalizador... também podemos e devemos atuar propondo ideias e apontando soluções”, ressaltou. A escolha pela área de meio ambiente se deve ao fato de ser área de atuação do MPRN que mais gera polêmicas e por ser “pouco compreendida pela sociedade”. “As Cidades criativas têm a ver com o meio ambiente, sustentabilidade, urbanismo e urbanização ampliar o debate com empresários e a classe politica e propor não apenas propor ações judiciais, mas atuar na busca da efetividade, da justiça social e do bem estar. Enxergamos nessa parceria com o Motores do Desenvolvimento, a ampliação da atuação ministerial sob todos os aspectos, não apenas as vias judiciais. Passando uma nova imagem de que o MP pode estar presente e discutir decisivamente para soluções”, frisa o procurador.
Palestras
Para fomentar ideais sobre o
MOTORES
Procurador-geral de Justiça, Rinaldo Reis defende que o Ministério Público pode contribuir com ideias e soluções para as cidades
uso da criatividade nas soluções para as cidades, o evento trouxe a Natal Alain Grimard, oficial internacional sênior da ONU - Habitat (Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos). Ele falou sobre “Cidades inteligentes e sustentáveis: tendência mundial para soluções locais” e mostrou exemplos de municípios que conseguiram otimizar serviços públicos ou resolver problemas comuns, envolvendo poder público, iniciativa privada e cidadãos. A segunda palestrante foi Ana Carla Fonseca Reis, uma das maiores autoridades brasileiras em “cidades criativas”. As palestras foram seguidas de mesa redonda que contou com a participação da promotora do Meio Ambiente, Gilka da Mata, e do secretário adjunto de Fiscalização e Licenciamento da Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb) de Natal, Daniel Nicolau Pinheiro.
Poder público aponta soluções Na abertura da 28ª edição do MDRN, o prefeito Carlos Eduardo Alves ressaltou a importância da parceria para pensar Natal enquanto Cidade Criativa. “É um desafio que requer parceria com os demais poderes e sociedade para promover o conceito”. Em seu discurso de abertura, Carlos Eduardo sintetizou o conceito de cidade criativa ao de promover a convivência saudável em espaços públicos que tem no poder público a força motriz, para promover a melhoria da qualidade de vida das pessoas, buscando a inovação e o modelo de sustentabilidade. E lembrou projetos e programas que estão sendo implementados, como a instalação de pontos de internet gratuita em espaços públicos da cidade até o final do ano. “E a inovação e criatividade
não estão restritas a tecnologia. Quando fizemos o aterro sanitário e o fim do lixão, inovamos. Quando criamos o Parque da Cidades com espaço para preservação ambiental, inovamos. Quando implantamos o projeto de infraestrutura integrada, inovamos. E melhorou a qualidade de vida dos cidadãos”, pontua o prefeito.
Estado
O governador Robinson Faria também participou da abertura do evento e analisou que não existe cidade inteligente e desenvolvimento sustentável se não existir saneamento básico. Ele explicou que há dois anos a cobertura em Natal era apenas de 30%, mas com as obras iniciadas nos últimos 18 meses, áreas como a zona Norte da Capital, por exemplo, já está em 50%
com rede coletora. “A meta que em 2017, a capita esteja 100% saneada”, afirmou o governador. Ele aproveitou o evento e anunciou o início das obras de saneamento e esgotamento sanitário do bairro San Valle, que havia questionamentos acerca da área de APA, e ainda a expectativa de em dois meses retomar as obras de Pium, Cotovelo e Pirangi. O Governador também mencionou projetos aguardados há anos, como a socialização da Via Costeira, com a criação de dois novos parques estaduais (no Vale das Cascatas e em Mãe Luiza), o novo estádio Juvenal Lamartine e o plano de manejo do Parque das Dunas, com a inclusão de novas atividades no entorno e nas margens junto a Avenida Roberto Freire, para a prática ecoesportiva.
Nascido no ano de 2008, o Seminário Motores do Desenvolvimento do Rio Grande do Norte tem a finalidade colocar o setor público, a iniciativa privada e produtores de conhecimento do Estado na mesma mesa. Juntos, eles discutem desafios atuais, propõem soluções e tentam se antecipar a cenários futuros. Com o intuito de impulsionar o progresso potiguar, o evento já trouxe para essa mesa de debates economistas, consultores, ministros, ex-ministros, jornalistas, autoridades de várias áreas do conhecimento, governantes, parlamentares, lideranças empresariais e empreendedores de sucesso de todo Brasil. Os temas destacados nessas quase 30 edições foram os mais diversos: Aeroporto de São Gonçalo do Amarante, Gestão pública, Tecnologia da Informação, Hub da Latam, Infraestrutura, Transporte e Mobilidade Urbana, Copa do Mundo de 2014, Educação Profissionalizante, Indústria, Energia, Empreendedorismo, Eleições, Turismo, Agronegócio e Pesca, Crise Econômica, Parques Tecnológicos dentre outros. O projeto é uma realização do jornal TRIBUNA DO NORTE, Ministério Público do Rio Grande do Norte (MP/RN), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (Fiern), Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Rio Grande do Norte (Fecomércio/RN) e RG Salamanca Investimentos.
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CIDADES CRIATIVAS
COMO CAMINHO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Boas ideias para solucionar velhos problemas urbanos O conceito de ‘Cidade Criativa’ se espalha pelo mundo e ganha força diante do grande desafio de resolver problemas urbanos em cidades cada vez mais adensada. O objetivo é desatar velhos nós com novas ideias
A falta de mobilidade urbana é um dos principais problemas das cidades. As soluções convencionais dependem de muitos recursos e mega projetos. Criatividade pode ajudar a encontrar soluções
m lugares em que as velhas soluções não conseguem resolver os problemas (velhos e novos), a saída é criar novas ideias. Para isso é preciso um ambiente favorável para a inventividade. Mas, então, como propiciar esse ecossistema criativo se os espaços públicos, principal lugar para semear ideias, se tornaram inseguros, desconetadas e hostis? É exatamente para desatar esse nó que a ideia de Cidade Criativa pode ser usada. Ainda mais quando 54% da população do mundo vive em áreas urbanas. No Brasil, esse número é ainda maior: 84%. Em 1940, era apenas 31%. No Rio Grande do Norte, o número de moradores urbanos cresceu 1.582% em 76 anos. São 2,6 milhões de pessoas nas cidades potiguares hoje. Isso significa 76,5% de toda a população potiguar. Em 1940, eram apenas 164.248mil, ou 21,4% da população da época. Uma explosão de crescimento acompanhada de políticas públicas insuficientes, semelhante ao adolescente que passa pela fase do “estirão” sem alimentação adequada. Basicamente, existem duas concepções sobre o que pode ser uma cidade criativa.”Não é uma concepção uniforme. Existe várias propostas”, afirma Fernando Cruz, professor do Departamento de Políticas Públicas da Universidade Federal do Rio Grande (UFRN). Uma cidade pode ser criativa porque consegue amenizar ou se livrar de problemas não necessariamente com a solução mais cara e usual. Exemplo disso foi a revitalização social do centro de Rotterdam (Holanda). Depois de iniciar um processo de ocupa-
E
Conceito pode ser propulsor da economia
Cidades MUNDO
BRASIL
7,3
206
54%
84%
bilhões de pessoas moram na Terra
da população mundial vive em áreas urbanas
milhões de habitantes
da população brasileira mora em zonas urbanas
ECONOMIA CRIATIVA
6,13%
foi o crescimento médio anual de 2012 para 2013 BRASIL
2,3%
foi o crescimento do PIB criativo brasileiro entre 2012 e 2013
60%
R$ 126
das pessoas viverão em áreas urbanas até 2030
bilhões foi o PIB do setor em 2013
2,6%
de toda a riqueza produzida no Brasil em 2013
69,8%
foi o crescimento do PIB da economia criativa entre 2004 (R$ 74,3 bilhões) e 2013
36,4%
RIO GRANDE DO NORTE
foi o crescimento do PIB brasileiro nesse mesmo período
3.474.998
251 mil
milhões de habitantes no Rio Grande do Norte em 2016
empresas estão no setor criativo
76,5%
6%
2.658.373
REINO UNIDO 133,3 bilhões de libras foi o PIB do setor em 2014 8,2% de toda a riqueza produzida em 2014 2,9 milhões de postos de trabalho em 2015
de todas as empresas brasileiras são criativas
da população do Rio Grande do Norte vive nas áreas urbanas
habitantes na zona urbana do RN 816.625 na zona rural do RN
Fonte: Mapeamento da Indústria Criativa no Brasil (2014, ano base 2013)/Firjan, Estimativas Econômicas da Indústria Criativa/Reino Unido e Indústria Criativa: Foco sobre o emprego/Reino Unido.
ção cultural do bairro, um grupo de artistas solicitou ao poder público uma passarela para conectar melhor a região. Como tantas regiões urbanas pelo mundo, o centro da segunda maior cidade holandesa também foi desenhado para carros e transporte de massa, o que dificultava o passeio a pé. O poder público disse que até poderia construir uma passarela, mas isso levaria 30 anos. Em
resposta, o grupo resolveu apelar à população. Fizeram um financiamento coletivo (crowdfunding) da passarela, convocando as pessoas a contribuírem por meio de uma ferramenta digital. Em três meses, foram arrecadados 100 mil euros. A mobilização forçou o poder público a se mexer. No final das contas, as seis fases de construção da ponte durou dois anos (2012 a 2014).Nada de
concreto foi usado. Para erguêla, 17 mil pedaços de madeira foram encaixados. Em cada um deles, há o nome dos doadores do dinheiro. Essa foi claramente uma intervenção urbana, mas nem é preciso ir tão longe para ver ideias criativas aplicadas em outras situações. No campo social, uma entidade que cuida de idosos em Joinville (Santa Catarina) resolver unir afetos. De um
lado, estavam pessoas idosas em instituições de longa permanência. Do outro, cães idosos que foram abandonados pelos seus donos. Os cães foram adotados pelos moradores da instituição e o problema de solidão de ambas as partes foi resolvido. Essa foi um das situações descritas pela consultora Ana Carla Fonseca Reis na 28ª edição do Seminário Motores do Desenvolvimento do Rio Grande do Norte.
Outra concepção de Cidade Criativa está diretamente ligada aos setor produtivo. Nesse caminho, a economia criativa tornase um dos propulsores do desenvolvimento da cidade. As atividades econômicas dentro dessa definição são aquelas diretamente ligadas às artes e setores funcionais que tem a ideia como principal insumo para gerar valor. Na mais recente pesquisa feita sobre a produção de riqueza desse setor, o Brasil havia produzido R$ 126 bilhões no ano de 2013. Isso representou 2,6% de toda a riqueza produzida no País naquele ano. Mundialmente, a média de crescimento da economia criativa é bem maior que a brasileira. O mais recente relatório de uma agência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a força econômica da criatividade, o mundo cresceu 6,1% em 2013. Países como Equador (5%) e Bósnia e Herzegovina (5,7%) tiveram um crescimento maior que o Brasil nesse quesito. O Reino Unido é um dos pioneiros na quantificação de resultados da economia criativa. Desde o final da década de 1990, o Departamento para Cultura, Mídia e Esporte tem a missão de mensurar a produção de riqueza desse setor. Em 2014, o conjunto de produziu 133,3 bilhões de libras de produtos e serviços criativos. No ano, isso representou 8,2% de todas as riquezas produzidas. Em valores atuais, isso representa R$ 576 bilhões.
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CIDADES CRIATIVAS
COMO CAMINHO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
No Brasil, a economia criativa gera 892 mil empregos. Apenas 19% estão em empresas puramente criativas. O demais estão espalhados por segmentos diversos da economia
Profissões criativas para enfrentar a crise e desemprego IBGE e Federação das Indústrias têm levantamentos que apontam segmentos sobre economia criativa e mostram a importância desses setores para a geração de emprego e renda. Essas áreas empregam 20% da população ativa ara o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os segmentos que compõe a economia criativa são: artesanato, manifestações tradicionais populares, música, dança, teatro, artes plásticas e visuais, gastronomia, audiovisual, produção literária, circo, arte digital e design. A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) faz um mapeamento detalhado desse setor e inclui também: publicidade; arquitetura; produção editorial (mais amplo que produção literária); pesquisa e desenvolvimento; biotecnologia; tecnologia da informação e comunicação. Muitas delas tem relação estreita com atividades econômicas tradicionais. No setor secundário, há confecções de roupas, indústria eletrônica, fabricação de instrumentos musicais e hardware como exemplos. Outras tantas estão associadas aos serviços e comércio, como operadoras de tvs por assinatura, venda de roupas no varejo, bancas de jornais e livrarias. A Firjan também considera atividades econômicas de apoio: indústria têxtil, construção civil, empresas de assistência técnica para material de tecnologia da informação, instituições de formação de profissionais, serviço de tradução e telecomunicações por exemplo.
P
Empregos
São 2,9 milhões de pessoas em ocupações criativas no Reino Unido. Vale lembrar muitos empregos “criativos” são gerados fora das empresas tipicamente criativas. Isso quer dizer que arquitetos que não trabalham em escritórios de arquitetura também entram para essa conta desde estejam em uma
Emprego e renda BRASIL à 892,5 mil de pessoas empregadas 24,7% (221 mil) estão empregados na indústria de transformação
à
Ì 1,2% foi a participação dos profissionais criativos no total de empregados no RN em 2013
QUEM
à
Empresas criativas e a importância do segmento na geração de emprego e renda
15º é a posição do RN entre os Estados que mais empregam no setor criativo em números percentuais
à
19,4% trabalham em empresas criativas puras
à
R$ 5.422 é a média salarial dos profissionais criativos
à
R$ 2.073 é a média salarial do trabalhador brasileiro
à
QUANTO
à
11ª média de remuneração entre os Estados brasileiros
Essas empresas empregam no Brasil quase 20% da população economicamente ativa
à
R$ 9.990 é a média salarial dos engenheiros da área de Pesquisa e Desenvolvimento
R$ 4.506 é a média da remuneração no RN em 2013
à
R$ 12.570 é a média salarial do profissional de Pesquisa e Desenvolvimento no RN, o maior ganho da área criativa
à
R$ 14.510 é a média da remuneração dos profissionais da área de Pesquisa e Desenvolvimento no Rio de Janeiro (Estado com melhor média de remuneração para profissionais criativos)
à R$ 1.055 é o rendimento médio mensal do profissional de moda no RN, o pior ganho da área criativa no Estado
RIO GRANDE DO NORTE 0,4% era a participação dos profissionais criativos no total de empregados no RN em 2004
à 7.178 profissionais da indústriacriativa potiguar, 16ª maior população entre os Estados brasileiros em números absolutos
CRESCIMENTO NA CRISE PIB criativo no Brasil (antes e depois da crise de 2009) 2007: R$ 89,3 bilhões
2008: R$ 100,6 bilhões 2009: R$ 100,7 bilhões 2010: R$ 111,9 bilhões
função relaciona com sua profissão. Ele pode ser, por exemplo, servidor público de uma secretaria de obras. No Brasil, a economia criativa gera são 892 mil empregos. Apenas 19% estão em empresas puramente criativas. O demais estão espalhados por segmentos diversos da economia, inclusive na indústria de transformação que acolhe 24,7% deles segundo o estudo da Firjan (Mapeamento da Indústria Criativa no Brasil – 2014, ano base 2013). A média salarial é outra vantagem do setor criativo. Enquan-
to a média do salário do trabalhador brasileiro é de R$ 2.073, o profissional criativo ganha bem mais: R$ 5.422. Se focarmos no salário médio do trabalhadores na área de Pesquisa e Desenvolvimento do Rio Janeiro (Estado com maior remuneração para profissionais criativos), o valor chega a R$ 14.510.
ram. Para acompanhar esse ramo da economia, o governo Federal criou a Secretaria da Economia Criativa em 2013. O órgão era vinculado ao Ministério da Cultura, mas deixou de existir. No Rio Grande do Norte, existem 7.178 profissionais evolvidos na economia criativa. Essa é a 16ª maior população desse tipo de trabalhador entre os Estados brasileiros. Eles representam 1,2% de todo o mercado de trabalho formal potiguar. Por aqui, a média da remuneração é a 11º maior do Brasil, com R$ 4.506. Assim como no Rio de Ja-
neiro, aqueles que trabalham na área “pesquisa e desenvolvimento” têm a melhor média salarial: R$ 12.570. Os piores salários são pagos para os profissionais de moda: R$ 1.055. A resistência à crise estão provadas em estatísticas oficiais. Na crise de 2009, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro teve uma diminuição de 0,3%. Contudo, a economia criativa sozinha ainda conseguiu produzir R$ 100 milhões a mais que no ano anterior. Infelizmente não há dados sobre o desempenho do setor na crise atual.
à
à
Enfrentamento da crise
Embora dados mostrem que o setor criativo da economia enfrenta a crise melhor que outros setores, os estímulos públicos para a criatividade no Brasil sumi-
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CIDADES CRIATIVAS
COMO CAMINHO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
« ENTREVISTA : ALAIN GRIMARD » « OFICIAL INTERNACIONAL SÊNIOR DA ONU HABITAT »
‘As cidades oferecem serviços a mais gente se forem compactas’ O sênior da ONU Habitat (agência das Nações Unidas voltada para assentamento humano), Alain Grimard, defende que as cidades precisam ser mais densas, compactas e conectadas
M
ais densas, compactas e conectadas. Esses foram os princípios defendidos pelo oficial internacional sênior da Onu Habitat (agência das Nações Unidas voltada para todo tipo de assentamento humano), Alain Grimard. Depois da 28ª edição do Seminário Motores do Desenvolvimento do Rio Grande do Norte, a TRIBUNA DO NORTE perguntou como aplicariamos esses princípios em cidades já estabelecidas há quase meio milênio como as brasileiras. Como compactar? Como densificar a população? Mais gente num mesmo espaço não dá mais problema? Essas foram algumas das perguntas a Grimard. Além disso, ele falou sobre o que achou interessante em Natal durante os três dias que passou na cidade. O representante da Onu Habitat admirou o povo e a natureza local.
Ideias criativas em Natal
“O que chamou minha atenção em Natal foram todos os ativos que a cidade tem a nível natural, meio ambiente, manguezais. Pra mim, isso é único. Isso distingue Natal de muitas outras cidades do Brasil. Tem-se ver como fazer muito mais com esse ativo sem destruí-los e aproveitá-los em toda a vida econômica e social e proteger o meio ambiente.”
Agregar valor aos recursos naturais
“Há de se buscar uma marca comercial para que quando as pessoas vejam dunas, manguezais associem a Natal automaticamente. Isso deve ser divulgado por vários lugares, não só no Brasil e na Europa, mas na América Latina também.”
Engajamento popular
“No bairro de Mãe Luíza, um
Ì QUEM Ele chegou no Escritório Regional para América Latina e o Caribe do Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat/ ROLAC) em agosto de 2010. Indicado como Diretor Regional entre março de 2011 e julho de 2013. Anteriormente, também trabalhou como Oficial de Assentamentos Humanos na Sede da Agência em Nairóbi, Quênia, onde coordenou um portifólio de 30 milhões de dólares para países do Oriente Médio e África Sub Sahariana. Antes de entrar no ONU Habitat, trabalhou por 20 anos em outras agências das Nações Unidas (PNUD, FDCNU e UNOPS), no Caribe e na África. Possui o título de mestrado em Economia pela Universidade de Laval em Quebec.
estádio popular criado por iniciativa popular e de um padre. Isso me parece um exemplo ótimo que mostra como a população local pode se mobilizar para construir infraestrutura própria, de boa qualidade e que, apesar do bairro ser pobre, as pessoas mantém o estádio muito bem.”
Compactação
“Sempre tem possibilidade de ficarem compactas novamente. Barcelona é uma cidade que tem 2 mil anos. Talvez não seja possível densificar toda a cidade, mas é possível fazer isso em bairros, nos quarteirões. Podemos mudar as coisas pouco a pouco. Leva tempo, pode levar 20 ou 30 anos, mas ainda tem possibilidade de densificar as coisas.”
Como fazer
“Para o ONU-Habitat, isso deveria basear-se em 5 princípios: espaços adequados para ruas e rede de ruas eficientes; alta densidade; uso do solo misto; mix social, com disponibilidade de habitação em diferentes níveis de preços e propriedade em qualquer bairro para acomodar rendas diferentes; especialização do uso do solo limitado. O objetivo é limitar bairros com funcionalidades únicas, como aqueles em que os moradores somente vão dormir, comprar ou trabalhar.”
Densidade
“Na Europa, a média é de 7 a 8 mil habitantes por quilômetro quadrado. Na Ásia, em Cingapura, Hong Kong é mais que os 15 mil habitantes por quilômetro quadrado preconizado pela Onu Habitat. Chega a 30 mil. Na América Latina é algo como 3 ou 4 mil pessoas em geral. Então, podemos multiplicar a densidade.
Mais gente morando no mesmo espaço: problema?
Pelo contrário. Os custos unitários dos serviços públicos vão baixar. Então, em cada quilômetro quadrado vai poder oferecer o mesmo serviço a muito mais gente. Por exemplo, rede de abastecimento de água e saneamento. Se você tem que instalar essas redes para três mil pessoas por quilômetro quadrado, você vai gastar muito mais dinheiro para alcançar toda a população do que se houvesse 15 mil pessoas ocupando a mesma área. Com escolas, com transporte também acontece isso. Então, você tem economia de escala ao fazer a densificação da população.”
Planejamento e uso do solo urbano
“A ONU-Habitat é inflexível sobre a necessária participação do setor público nas funções do planejamento. O planejamento das cidades ou de bairros específicos é estritamente uma atribuição de domínio público. A mesma não pode ser entregada para o setor privado. Decidir sobre o uso do solo é de notoriedade pública considerando que as decisões tomadas (por exemplo sobre a localização das ruas, prédios, espaços verdes, etc.) terão consequência nas vidas dos cidadães por gerações.”
Economia e desenvolvimento urbano
“Nunca deveríamos negligenciar a economia. Se não há atividade econômica vigorosa, a cidade não pode funcionar bem. Muitas indústrias e negócios estão localizados em áreas urbanas ou próximos das mesmas, oferecendo trabalho para os moradores. É pelo fato da maior parte da oferta de trabalho es-
No bairro de Mãe Luíza, um estádio popular criado por iniciativa popular e de um padre. Isso me parece um exemplo ótimo que mostra como a população local pode se mobilizar para construir infraestrutura própria, de boa qualidade e que, apesar do bairro ser pobre, as pessoas mantém o estádio muito bem”
tar nas áreas urbanas que as cidades atraem grande parte da população rural à procura de oportunidades. As autoridades não podem se esquecer de estarem atentos à economia de suas cidades. É fonte de bem estar para os cidadãos.”
Sustentabilidade no Brasil
“É preciso dizer que a sustentabilidade também significa res-
peito ao meio ambiente e a realidade social do lugar. Neste ponto, a importância das autoridades públicas para definir e implantar políticas que vão orientar os negócios na direção certa, que vão respeitar e preservar o ambiente e outros do tipo. Por isso, as leis brasileiras sobre o licenciamento ambiental são algo muito positivo, pois permite que o setor privado contribuir intensamente para o desenvolvimento sustentável dos territórios onde as empresas operam. Nesse sentido, o Brasil está na vanguarda de muitos países do mundo.”
Líderes sustentáveis, criativos e inteligentes
“Quanto mais uma cidade educar e treinar o cidadão, mais eles vão estar sensíveis para assuntos e políticas públicas. No fim, os líderes terão que entregar mais, vão ter que se superar para satisfazer cidadãos que demandam mais e mais. Esses líderes estão mais conscientes sobre o que deve ser o desenvolvimento sustentável. Sabe-se que o desenvolvimento está melhorando com conhecimento e novas competências. Líderes concordam que, com mais educação, as pessoas sabem perfeitamente que eles têm que oferecer novas oportunidades para todos. E nós não devemos esquecer que, com o desenvolvimento extensivo de novas tecnologias da informação e comunicação, líderes e cidadãos têm tem mais acesso a novos modelos, novas ferramentas e novas oportunidades. Desde que um país como o Brasil esteja investindo em educação, os beneficiários dessa educação estarão aptos para contribuir mais ao desenvolvimento de suas cidades.”
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CIDADES CRIATIVAS
COMO CAMINHO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Unesco coordena rede que integra 116 cidades A maior rede internacional de cidades criativas possui 116 cidades em 54 países do mundo. Cinco delas estão no Brasil: Curitiba, Salvador, Belém, Santos e Florianópolis
“L
aboratório de ideias inovadoras”. A maior rede internacional de cidades criativas possui desde o ano passado 116 cidades em 54 países do mundo. Cinco delas estão no Brasil: Curitiba, Salvador, Belém, Santos e Florianópolis. Para a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), as soluções criativas devem promover o desenvolvimento sustentável, a inclusão social e a produção cultural. A razão de existir da rede é exatamente a cooperação entre esses municípios e compartilhamento das experiências. Para entrar na rede, as cidades devem montar um plano de ação de uma das sete categorias criativas previstas na rede: artesanato e arte folclórica; design; filme; gastronomia; literatura; música; e artes midiáticas. Apesar das categorias, o órgão da ONU não incentiva ações meramente isoladas. As conexões e interseções com outras áreas são bem-vindas segunda a Unesco. Outra questão importante é que municípios vizinhos também podem ajudar nesse sentido, no entanto, toda a responsabilidade sobre a aplicação dos plano de ação é do município titular. Ao final de cada ano, a Unesco escolhe as cidades que entram para a rede. O tamanho da população ou sua influência econômica pouco importam como critério. Prova disso é que a cidade de Bamiyan, que teve seu patrimônio histórico devastado pelo movimento Talibã, e a populoso e moderna Pequim estão lado a lado na rede. A consultora Ana Carla Fonseca Reis, que proferiu palestra na 28º edição Seminário Motores do Desenvolvimento do Rio Grande do Norte, participou do processo de candidatura da pequena cidade portuguesa de Idanha-a-Nova. “Muitas pessoas ficaram surpresas pelo fato de uma cidade tão pequenina se candidatar a uma rede tão qualificada, mas a riqueza de suas tradições musicais, o empenho de sua população em mostrar suas singularidades musicais, a excelência do trabalho validado pela comunidade e a presença da música em seu dia a dia garantiu sua presença na rede”, disse. Ana Carla reforçou também a importância do engajamento popular na vocação cultural da cidade. Sem a vontade de transformar uma cidade criativa de música, nenhum esforço do poder público sozinho teria esforço segunda Reis. “O nível de engajamento cidadão de Idanha-a-Nova a levou a dar um passo que as outras não deram”, completou. A Prefeitura de Idanha-anova avalia que o selo de cidade criativa na música pode também atrair mais pessoas para morar na cidade. Não é à toa que o slogan da gestão municipal é “em Idanha há lugar para ti”. O encolhimento populacional é um dos grandes problemas de
Para entrar na rede, a cidade deve montar plano de ação de uma das categorias criativas: artesanato e arte, design, filme, gastronomia, literatura, música ou arte midiática
REDE MUNDIAL DE CIDADES CRIATIVAS China Suzhou (China) - Artesanato e arte folclórica Chengdu (China) - Gastronomia Shenzen (China) - Design Jingdezhen (China) - Artesanato e arte Folclórica Xangai (China) - Design Pequim (China) - Design Hangzhou (China) - Artesanato e arte folclórica Shunde (China) - Gastronomia Japão Nagoya (Japão) - Design Kobe (Japão) - Design Sasayama (Japão) - Artesanato e arte folclórica Hamamatsu (Japão) - Música Tsuruoka (Japão) - Gastronomia Sapporo (Japão) - Artes midiáticas Kanazawa (Japão) - Artesanato e artes folclóricas Estados Unidos Tucson (Estados Unidos) - Gastronomia Paducah (Estados Unidos) - Artesanato e arte folclórica Detroit (Estados Unidos) - Design Austin (Estados Unidos) - Artes midiáticas Iowa (Estados Unidos) - Literatura Santa Fé (Estados Unidos) - Artesanato e Arte folclórica Coreia do Sul Tongyeong (Coreia do Sul) - Música Jeonju (Coreia do Sul) - Gastronomia Gwangju (Coreia do Sul) - Artes midiáticas Icheon (Coreia do Sul) - Artesanato e arte popular Busan (Coreia do Sul) - Filme Seul (Coreia do Sul) - Design Espanha Granada (Espanha) - Literatura Burgos (Espanha) - Gastronomia Barcelona (Espanha) - Literatura Dénia (Espanha) - Gastronomia Bilbao (Espanha) - Design Sevilha (Espanha) - Música Itália Roma (Itália) - Filme Parma (Itália) - Gastronomia Fabriano (Itália) - Artesanato e arte folclórica Bologna (Itália) - Música
Turim (Itália) - Design Brasil Salvador (Brasil) - Música Belém (Brasil) - Gastronomia Curitiba (Brasil) - Design Florianópolis (Brasil) - Gastronomia Santos (Brasil) - Filme Inglaterra Liverpool (Inglaterra) - Música Bradford (Inglaterra) - Filme Nottingham (Inglaterra) - Literatura Norwich (Inglaterra) - Literatura França Enghien-les-bain (França) - artes midiáticas Lyon (França) - Artes midiáticas Saint-Étienne (França) - Design Brazzaville (França) - Música Alemanha Heildelberg (Alemanha) - Literatura Berlim (Alemanha) - Design Hannover (Alemanha) - Música Mannheim (Alemanha) - Música México Puebla (México) - Design San Crisobal de Las Casas (México) Artesanato e arte folclórica Ensenada (México) - Gastronomia Colômbia Popayán (Colômbia) - Gastronomia Bogotá (Colômbia) - Música Medellín (Colômbia) - Música Austrália Melbourne (Austrália) - Literatura Adelaide (Austrália) - Música Sidney (Austrália) - Filme Irã Isfahan (Irã) - Artesanato e arte folclórica Rasht (Irã) - Gastronomia Polônia Katowice (Polônia) - Música Cracóvia (Polônia) - Literatura Irlanda Galway (Irlanda) - Filme Dublin (Irlanda) - Literatura Escócia Edimburgo (Escócia) - Literatura Glasgow (Escócia) - Música
Ì Congo Lubumbashi (República Democrática do Congo) - Artesanato e arte folclórica Kinshasa (República Democrática do Congo) - Música
Islândia Reikjavik (Islândia) - Literatura
Áustria Linz (Áustria) - Artes midiáticas Graz (Áustria) - Design
Marrocos Dakar (Marrocos) - Artes midiáticas
Portugal Óbidos (Portugal) - Literatura Idanha-a-nova (Portugal) - Música Indonésia Pekalongan (Indonésia) - Artesanato e arte folclórica Bandung (Indonésia) - Design Equador Duran (Equador) - Artesanato e Arte folclórica Uruguai Montevideo (Uruguai) - Literatura Bahamas Nassau (Bahamas) - Artesanato e arte folclórica Cingapura Cingapura - Design
Jamaica Kingston (Jamaica) - Música
Egito Assuã (Egito) - Artesanato e arte folclórica Israel Tel Aviv (Israel) - Artes midiáticas Bulgária Sofia (Bulgária) - Filme
des passam por avaliações periódicas de seus planos de ação. A Unesco informa que não há um valor definido para os orçamentos desses planos. O principal norte para a avaliação do órgão ligado à ONU é a consistência das ações e relação com o orçamen-
à Em 1988, uma
conferência em Melbourne (Austrália) recebeu o nome de “Cidade Criativa”. Ali, os participantes discutiram como a cultura e as artes poderiam ser integrados ao desenvolvimento urbano. à Em 1994, a Austrália
Noruega Bergen (Noruega) - Gastronomia
iniciou uma política cultural chamada de “Nação Criativa”, buscando mostrar os traços cosmopolitas do País e a integração entre a história, cultura, tecnologia e modernidade. Tudo isso dentro da ilha.
Suécia Östersund (Suécia) - Gastronomia
à Em 1995, os consultores
Tailândia Phuket (Tailândia) - Gastronomia Canadá Montreal (Canadá) - Design
Ucrânia Lviv/Leópolis (Ucrânia) - Literatura
Estônia Tartu (Estônia) - Literatura
Charles Landry e Franco Bianchini lançam o livro “A Cidade Criativa”. O livro foi resultado de uma série de debates sobre a criatividad em dez cidades, britânica e alemãs.
Argentina Buenos Aires (Argentina) - Design
Finlândia Helsinque (Finlândia) - Design
à Em 2000, o livro “A Cidade
Líbano Zahlé (Líbano) - Gastronomia
Arábia Saudita Al-ahsa (Arábia Saudita) - Artesanato e artes folclóricas
Haiti Jacmel (Haiti) - Artesanato e arte folclórica
Afeganistão Bamiyan (Afeganistão) - Artesanato e arte folclórica Índia Jaipur (Índia) - Artesanato e arte folclórica Lituânia Kaunas (Lituânia) - Design
Hungria Budapeste (Hungria) - Design Eslovênia Liubliana (Eslovênia) - Literatura
Turquia Gaziantep (Turquia) - Gastronomia Macedônia Bitola (Macedônia) - Filme Rússia Ulyanovsk (Rússia) - Literatura
Bélgica Ghent (Bélgica) - Música Fonte: Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).
cidades europeias pequenas, que perdem jovens em idade produtiva para os grandes centros urbanos. Em dezembro do ano passado, o município português recebeu o título. Para usar a marca de “Cidade Criativa da Unesco”, as cida-
COMO OS TERMOS SURGIRAM?
to proposto. Além disso, os municípios integrantes da rede tem que estimular pesquisa sobre os conceitos aplicados nas cidades e estudos de caso. A rede da Unesco existe desde 2004 e todo mês de dezembro anuncia os novos participantes
que fazem parte da rede. Uma reunião da rede está prevista para ocorrer neste mês na Europa. Vale ressaltar que já existem outras redes de cidades criativas com diferentes abrangências pelos continentes, pelo mundo e no Brasil também.
Criativa: uma caixa de ferramentas para inovadores urbanos” foi lançado por Landry. Essa é sua principal referência. à Em 2001, John Howking
publica “A Economia Criativa”. Embora o termo já fosse usado anteriomente, o conteúdo também transformou o consultor em uma referência mundial. à Em 2002, Richard Florida
lançou “A ascenção da classe criativa”. No livro, ele destaca a importância dos espaços públicos de socialização para criar um ambiente de criatividade e atrair os profissionais desse setor. Fonte: Cidades Criativas – Perspectivas (2011).
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Natal • Rio Grande do Norte Domingo, 04 de setembro de 2016
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CIDADES CRIATIVAS
COMO CAMINHO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Ribeira CENTRO CRIATIVO DE NATAL Desde 2011, os empreendedores culturais do bairro Ribeiro conseguem atrair quase 200 mil pessoas anualmente para vários tipos de manifestação cultural
As ruas estreitas da Ribeira pipocam de manifestações artísticas, culturais e até religiosas. Produtores se empenham em dar vida à área que respira história e cultura por todos os cantos
início: integrar a produção cultural de uma cidade ao desenvolvimento urbano. Foi dessa preocupação que surgiram as primeiras discussões mundiais que resultaram nas noções de cidades e economia criativa. A despeito das ações e planejamento do poder público, a Ribeira é um indício que esse processo já começou em Natal. Desde 2011, os empreendedores culturais do bairro conseguem atrair quase 200 mil pessoas anualmente para todo tipo de manifestação cultural. Um dos eventos que ajuda a atrair esse milhares para o Centro Histórico é a Virada Cultural, que ocorre nesse fim de semana. A ideia nasceu na França, veio para São Paulo e já se consolidou na beira do Potengi. A realização do evento é um das distinções da iniciativa local. “A Virada Cultural daqui é particular, a gente faz junto com a Casa da Ribeira. Normalmente, em outras cidades são realizadas pelo poder público, apesar de uma vez ou outra a gente conse-guir uma ajuda, mas o poder público não é realizador da Virada”, informou Anderson Foca, diretor do Espaço Cultural DoSol. Mesmo assim, cerca de 50 mil pessoas participam da programação de mais de 24 horas de atividades artísticas. Original mesmo é o Circuito Cultural Ribeira. Pelo menos, ele não teve um inspiração conhecida. Desde 2011, o evento espalha até 120 mil pessoas anualmente pelo Centro Histórico. Até aqui, o Circuito não ocorreu em dois anos. Quando ele ocorre, geralmente, são oito edições em meses diferentes com a oferta de tudo que é pro-
24 estados desenvolvem políticas para turismo cultural
O
Um dos eventos que ajuda a atrair esse milhares para o Centro Histórico é a Virada Cultural
duto cultural da Ribeira completamente gratuita. Para os idealizadores, é uma espécie de degustação dos produtos culturais do bairro. “A gente pensou que se reunisse, uma vez por mês, tudo que o bairro oferece de cultura, a gente poderia jogar uma luz diferente sobre ele e instigar as pessoas a virem aqui o resto do mês”, explicou Foca. Entre 15 e nove empreendimentos culturais fazem parte do Circuito. Além deles, as ruas estreitas pipocam de manifestações artísticas, culturais e até religiosas. “Na hora em que você ocupa com pessoas, as próprias pessoa já geram mais conteúdo para essa ocupação”, acrescentou diretor do Espaço Cultural DoSol. Em entrevista para o Motores do Densevolvimento do RN (MDRN), Anderson defende a ocupação do centro histórico por setores criati-
vos e esse modelo de uso da região. Ele e os agentes culturais se opõem ao projeto tradicional de revitalização, que busca trazer pessoas para morar na Ribeira. Tecnicamente chamadas de operações urbanas, as tentativas de revitalização do bairro histórico estão sob análise de um grupo técnico sob supervisão da Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb) Natal. A primeira tentativa de dar novos ares à Ribeira foi em 1997 e a segunda, dez anos depois. Ambas foram regidas por força de lei e ganharam o nome de Operação Urbana Ribeira. Durante o 28º Seminário MDRN, o secretário adjunto de Licenciamento e Fiscalização da Semurb, Daniel Nicolau, cogitou a possibilidade de que os incentivos para a iniciativa privada não tenham sido suficiente. Por isso, a revitalização não tenha dado
certo. Neste ano, até os postes, desenhados especialmente para harmonizar com o ambiente histórico, foram trocados, o que ajudou a descaracterizar ainda mais o trabalho feito em 2007 pela gestão municipal. A Ribeira e Cidade Alta já foram o centro econômico da cidade, mas o crescimento urbano tiraram esse protagonismo desses bairros. Isso não é uma exclusividade de Natal. Para se aprofundar na missão de ser um “hub criativo” de Natal, a região deverá atrair mais empreendimentos dos setores funcionais da economia criativa, como escritórios de arquitetura, produtores de audiovisual, agências de publicidade e outros do gênero. Mas aí o círculo volta para um velho problema: a oferta de vantagens, serviços públicos e infraestrutura pode ser empecilho.
Na mais recente pesquisa sobre o perfil cultural de municípios e Estados, 24 Estados responderam que desenvolviam alguma atividade na área do turismo cultural, inclusive o Rio Grande do Norte. A pesquisa é o estudo mais recente desse porte feito em 2014 pelo Insituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A divulgação de atrações é a mais recorrente e na maioria dos Estados. Em 18, há esse tipo de ação. Naquele ano, 16 Estados também estavam envolvidos com algum tipo de calendário de festividade ou eventos. A ação direta na formação de mão-de-obra e a intervenção no mercado com a elaboração de roteiros ainda são medidas tímidas. Somente seis Estados atuam nessas frentes. Só em uma unidade federativa, havia um curso de guia de turismo em andamento. Para o produtor cultural Anderson Foca, o turismo cultural na Ribeira é quase zero. A baixa infraestrutura do bairro é o principal problema. A presença do poder público no lugar também desmobiliza o cidadão e o turista a ocuparam o local. Na avaliação de Foca, apesar do diálogo, há uma desconexão entre os interesses da classe criativa da região e do poder público. “O nosso papel é primordial na formação cultural e crítica das pessoas. Quando você tem acesso à arte e à cultura, você está, por tabela, desen-volvendo
Ì O QUE CENTRO HISTÓRICO DE NATAL (Ribeira, Cidade Alta e Rocas) à 28 hectares à 3 bairros à 560 imóveis à 64 imóveis de maior importância histórica
a criatividade e elevando o potencial individual”, concluiu Foca, que, depois de Henrique Fontes da Casa da Ribeira, é um dos empreendodores culturais mais antigos do bairro.
Municípios
As cidades de menor porte são as que mais dão atenção para o desenvolvimento por meio do turismo cultural no Brasil. Em 2014, 61% dos municípios brasileiros desenvolveram alguma ação ou programa para implantação do turismo cultural, um percentual bem superior se comparado com a última pesquisa de 2006 (26,2%). Dedicaram-se aos calendários de festividades ou eventos 55,7% dos municípios brasileiros. A divulgação de atrações mereceu uma atenção destacada para 41,4% dos municípios.
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CIDADES CRIATIVAS
COMO CAMINHO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
« ENTREVISTA : ANDERSON FOCA » « AGENTE CULTURAL DO BAIRRO DA RIBEIRA »
“A Ribeira é um ‘hub’ criativo de cultura” Anderson Foca, um dos principais agentes culturais do bairro da Ribeira, defende que haja maior ligação entre economia criativa e turismo, o que levaria à reocupação da área m das características comuns a muitas cidades criativas pelo mundo são as conexões, sejam elas entre pessoas, espaços públicos, segmentos da sociedade e por aí vai. Para um dos principais agentes culturais do bairro da Ribeira, há uma desconexão entre poder público e setor criativo. Na ótica de Anderson Foca, esse é um dos motivos para que a “revitalização” do bairro não ter sido um sucesso para o poder público. Na verdade, Foca prefere usar a palavra “ocupação”, por entender que o processo pelo qual o bairro deve passar é diferente do que o poder público idealiza. Ele e os agentes culturais da região pensam o lugar como um “hub (centro de conexões) criativo”. A seguir, você vai ver também que Foca defende que o centro histórico de Natal também seja um ambiente para inovações em políticas públicas.
U
Economia criativa como motor do desenvolvimento
“Cidades não muito grandes, mas muito conhecidas como Porto, que é menor que Natal, têm um viés de economia criativa muito grande linkada ao turismo. Não tem como se ir lá e não se deparar com as ações culturais e não tem como fazer turismo sem essas ações culturais. Tem a ver também com o interesse político, o interessante é que esse link seja o viés. A cultura como um papel desenvolvedor de atividades tem um papel importantíssimo porque trabalha com a criatividade. E a cultura desenvolve criatividade, educação e uma série de coisas. É por isso que a gente encara essa missão cultural como uma coisa que não está sendo usada com toda a sua potencialidade no Brasil e em Natal.”
Revitalização
“Não acho que falhou. Acho que o investimento foi feito de uma forma que não fosse interessante para o bairro. Essa palavra [revitalização] está até fora de moda. Ela não cabe mais, porque os bairros históricos não precisam ser mais revitalizados. Revitalização parece verniz, uma coisa que você pinta e deixa lá. A gente está mais ligado a ocupar do que revitalizar, porque a ocupação é mais real do que a revitalização. Se você revitaliza um bairro, pinta sacada, ajeita rua, bota luz, mas não ocupa com pessoas, essa revitalização é temporária.”
Ocupação x Revitalização
“Ocupação é trazer as pessoas para a rua para entenderem o que acontece no bairro, entenderem a importância dele, que é tombado pelo patrimônio histórico. Aqui tem mais que 15 equipamentos culturais dentro dessa região, descendo do Sesc até aqui [rua Chile]. Muita gente só co-
E a cultura desenvolve criatividade, educação e uma série de coisas. É por isso que a gente encara essa missão cultural como uma coisa que não está sendo usada com toda a sua potencialidade no Brasil e em Natal”
nhece os principais, como a Capitania das Artes, o Solar Bela Vista, o Teatro Alberto Maranhão, mas também tem o Centro Cultural DoSol, que funciona há 14 anos, a Casa da Ribeira, que funciona há 15, o Armazém Hall, o Galpão, que tem quase 10. Não é que as pessoas não gostem, é que desconhecem.”
gra porque lá tem minimamente uma infraestrutura para levar o turista. Se a iniciativa privada sente que não está dando em infraestrutura, também abandonada aquele local. Natal já teve pontos turísticos muito interessantes no passado e perderam a importância com o tempo, foram sendo trocados por outros.”
to certo de a gente fazer isso aqui, mas há uma desconexão entre o pensamento de ocupação dos agentes culturais e do poder público. Não estou botando a culpa em ninguém. Não há conexão entre o que os ocupadores acham importantes e o que o poder público acha que resolve. “
Turismo na Ribeira
Rehabitar
“Já houve várias tentativas de diálogos, mas nunca andou pra frente. Tem o PAC das Cidades Históricas, que só saiu do papel para obras públicas em prédios públicos. Revitaliza, mas não tem dinheiro para programar o prédio. Aí não adianta nada, é um lençol muito pequeno, que descobre a cabeça e cobre o pé.”
“O que a gente faz aqui deveria ser mais explorado turisticamente. A gente tem uma exploração turística da cultura perto de zero. Na minha ótica, é impossível ter sucesso pleno com turismo se você não envolve cultura. É muito complexo. Se o cara vem aqui para Natal ficar três dias, talvez só a praia seja suficiente. Mas se o cara vem ficar 15 dias, só a praia talvez não vá dá conta de atender a ele. Acho que a gente está perdendo uma grande oportunidade de atrelar as atividades culturais da cidade, o centro histórico, com a questão turística.”
Infraestrutura
“O Centro Histórico está abandonado. Falta policiamento, iluminação pública, faltam cuidados dos mais simples. Até propaganda mesmo, a gente ainda faz. Mas o poder público não encara o centro histórico como um viabilizador cultural, como uma coisa que seja próxima de ele se orgulhar. É uma falha. Isso poderia acontecer. A iniciativa privada oferece coisas em Ponta Ne-
“A gente da Ribeira sempre foi contra esse projeto, porque a gente entende o bairro como um ‘hub’ criativo de cultura. A Ribeira é um dos poucos bairros onde se você quiser fazer uma música no largo da rua Chile, não vai incomodar ninguém. E você precisa ter áreas na cidade em que se possa levar coisas lúdicas e ao mesmo tempo cidadãs, sem incomodar ninguém. E a gente detectou que, na Ribeira, isso podia acontecer. Na nossa ótica, um belo jeito de ocupar a Ribeira seria transformar ainda mais em um ‘hub’ cultural. Incentivar que sedes de grupos de teatro, produtoras culturais, ateliês artísticos, agências de publicidade, todos estivessem reunidos aqui. “
Exemplos de hubs criativos culturais
“Esse tipo de iniciativa acontece com muito sucesso em cidades como Berlim, Lisboa e Barcelona. Em São Paulo, minimamente acontece um pouco disso em alguns bairros da cidade, como a Vila Madalena. Era o jei-
Projetos e diálogo
Atmosfera Boêmia/ Criativa/Cultural
“A Virada Cultural, Circuito Cultural Ribeira, o Festival DoSol e outros que ocupam o Centro Histórico têm a preocupação de ocupação, não é só levar a vida noturna para o bairro. A gente está falando de ocupação real com o viés que ele tem desde sempre. O viés boêmio do Baixo Ribeira não foi a gente que inventou. Ele vem da Segunda Guerra Mundial. É o viés de Maria Boa, do cais do porto, das prostitutas que recebem os turistas. A gente tem que ter capacidade de leitura de entender isso. Entender que é um ponto de chegada e nascedouro de cultura do por conta do cais. É exatamente onde se encontram as coisas de fora com
as coisas de Natal.”
Incentivos fiscais
Tem o incentivo de não pagar IPTU [Imposto Predial Territorial Urbano], mas o IPTU daqui é muito baixo. De um prédio como o Centro Cultural DoSol é de R$ 150 ao ano. É uma boa atitude, mostra algum tipo de interesse, mas é ínfimo. No fim das contas, não tem impacto nenhum.”
Experimentos urbanos
“Toda a cidade precisa de cuidado. Mas aqui é o centro histórico, tem um potencial de receber mais gente. A gente sempre reclama muito da ação policial, que é muito militarizada, pouco humanizada, os policiais recebem mal. Os centro históricos poderiam ser uma incubadora de uma polícia nova, com uma mentalidade nova, uma polícia mais instrutiva do que repressiva. O policial não precisa estar de preto, poderia estar de uma cor mais alegre, mais festiva, que as pessoas não ficassem tão assustadas com a presença da polícia, porque a presença da polícia é a presença do Estado. Essas são só ideias que poderiam trazer mais humanidade para o centro histórico e que poderiam testar algumas coisas no centro histórico para serem replicadas no resto da cidade. O viés criativo, que faz parte do conceito, de uma bairro ocupado pela cultura, mesmo que capengando, é exatamente nisso que a gente pode contribuir.”
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Infraestrutura é fundamental Especialistas apontam que não se pode ser criativo se as necessidades básicas não estão atendidas. Por isso, infraestrutura adequada eleva a qualidade de vida e promove ações e ideias criativas qualidade dos serviços públicos e infraestrutura favorece a ecologia da criatividade. Tanto é que o oficial sênior da Onu Habitat, Alain Grimard, ressaltou a relevância dos investimentos saneamento básico e pavimentação em Natal. Durante os discursos de abertura do 28º Seminário Motores do Desenvolvimento do Rio Grande do Norte os gestores públicos também elencaram essas ações como estimuladoras de uma cidade criativa. É consenso que não se pode ser criativo se suas necessidades básicas não estão atendidas. Portanto, a pressão para ter espaços públicos dotados de serviços e infraestrutura adequada consequentemente eleva a qualidade de vida de uma população. Por sua vez, a sensível atmosfera para os intercâmbios criativos também é criada. Apesar dos investimentos, o professor Fernando Cruz, do Departamento de Políticas Públicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), acredita ainda há muito o que ser feito pelo poder público. O turismo cultural, um dos retornos financeiros mais visíveis de uma cidade criativa, pode ser inibido quando não há a cobertura de serviços públicos de qualidade em uma região que, contraditoriamente, pode ser um símbolo cultural. “Não é possível um turista chegar em Natal e você dizer: ‘se você quer ir para a Ribeira ou Cidade Alta, nos eventos culturais, você não deve ir porque é inseguro’”, comentou o pesquisador. Esse fenômeno é chamado por estudiosos do turismo de “bolha turística”, lugares dotados de atenção do poder públi-
A
O turismo cultural, um dos retornos financeiros mais visíveis de uma cidade criativa, pode ser inibido quando não há a cobertura de serviços públicos de qualidade
co e que proporcionam uma boa experiência ao visitante. Se o interesse do turista for cultural, ele vai se decepcionar. Não raramente, “a bolha” não contém todas as nuances culturais de uma cidade. Mas não é só o turismo que perde. A criatividade dos cidadãos fica comprometida. As autoridades em cidade criativa pelo mundo defendem que as conexões interpessoais em espaços públicos atraentes é um fator chave para o ambiente criativo. A participação de turistas nesses espaços seriam um po-
Incubadora já atendeu cerca de 1,4 mil pessoas Como um setor econômica emergente, os empreendimentos criativos também se servem de incubadoras. O governo do Rio Grande do Norte tem na sua estrutura a incubadora RN Criativo. Em dois anos de existência, a incubadora já atendeu a cerca de 1.400 pessoas por meio de cursos ou consultorias. Foram cerca de 50 capacitações a agentes culturais de aproximadamente 40 cidades. Apesar do pouco tempo de vida, a incubadora já passou por turbulências. Criada em agosto de 2014, ela foi desativada no final daquele ano por problemas na prestação de contas. Um ano depois foi reativada. Ela nasceu graças a uma parceria entre Ministério da Cultura e a Fundação José Augusto (FJA). A primeira fase de funcionamento tem a previsão de gastos de R$ 1,5 milhão. Segundo o assessor técnico da FJA Sanclair Solon, ainda restam cerca de 20 oficinas e consultorias para que todo o dinheiro da primeira fase seja aplicado. Elas são nas áreas de direitos autorais, plano marketing, prestação de contas e projetos. A segunda fase da parceria prevê um orçamento de R$ 714 mil, que não necessaria-
mente deve começar quando a primeira estiver encerrada. “A única questão é como os repasses vão acontecer nesse cenário de incertezas e realinhamento político”, disse o assessor técnico responsável pela incubadora. Conforme Sanclair, ainda não houve interrupção das atividades. No Rio Grande do Norte, há também a Incubadora Tecnológica de Cultura e Arte do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) voltada para estudantes, egressos da instituição e profissionais de Turismo, Multimídia, Eventos, Esporte e Lazer que queiram iniciar uma atividade empreendedora.
Crítica
O formato das incubadoras culturais locais está equivocada. Essa é a avaliação do professor do Departamento de Política Públicas Fernando Cruz, estudioso em cidades e economia criativa. “A incubadora não pode ter apenas uma visão complementar em termos de colocar mais conhecimentos na área técnica. Tem que ter a atitude empresarial. Existem propostas de atuação em diferentes setores culturais e criativos, mas criar essa perspectiva da formação de empresas”.
tencializador da criatividade, uma vez que eles podem trazer visões e experiências diferentes de mundo. Além disso, quando o turista vai a um espaço público no qual os residentes da cidade estão lá, o visitante tem a sensação de que viajou para a “cidade real”, e não para a “bolha turística”.
Mobilidade e equipamentos
A mobilidade urbana também é um ponto a revisto em Natal. Para ele, não é possível haver estímulo criativo com
horários tão limitados do transportes público. “Temos transporte público até as 10h30 da noite. Com os eventos feitos à noite para turistas resta apenas o táxi como opção. Para não falar dos próprios moradores daqui, porque muitas deixam de sair, porque deixam de sair por conta dessa questão”, criticou. Na madrugada, o sistema de ônibus urbano conta apenas com o “corujão”, no qual raríssimos ônibus cortam a cidade numa frequência baixíssima. O transporte sobre trilhos é
outra tragédia. Não funciona nos fins de semana e raramente em feriados. Também não funciona depois das 19 horas em dias de semana. Para completar, não há integração entre os dois modais, nem mesmo perspectiva que isso ocorra. Em um estudo de caso sobre o ambiente criativo em Natal, o professor também anotou problemas nos equipamentos culturais, como os museus. Grande parte deles funcionavam no horário comum do serviço público, ou seja, estavam fechados nos fins de semana e feriados.
Municípios brasileiros com grupos de atividades criativas (%) Artesanato Manifestação tradicional popular Dança Banda Capoeira Grupo musical Coral Bloco carnavalesco Teatro Orquestra Artes plásticas e visuais Escola de samba Associação literária Cineclube Gastronomia Arte digital Moda Circo Design
2006 64,3 47,2 56,1 53,2 48,8 47,2 44,9 34,2 39,9 11,5 2,2 11,4 9,4 4,2 2,9 -
2014 78,6 71,9 68,5 68,4 61,7 54,6 50,4 46,9 43,4 22,1 19,6 14,6 13,8 13,6 13,6 7,2 6,8 6,8 5,1
Variação entre 2006 e 2014 22,2 52,3 22,1 28,6 26,4 15,7 12,2 37,1 8,8 92,2 -11,7 28,1 46,8 223,8 134,5 -
Raio-x da cultura e setor criativo É certo que todos os aglomerados humanos produzem algum tipo de cultura, mas nem todos lugares conseguem transformar isso em renda e emprego. É por isso que o Perfil dos Estados e Municípios Brasileiros na área cultural, publicado em 2014 pelo IBGE, observou quais os objetivos dos Estados brasileiros na área de gestão cultural, a estrutura governamental destina a esse setor e se estimulam a dinamização econômica da produção cultural. Uma das perguntas das pesquisas aos Estados brasileiros foi “desenvolve programa ou ação para produção cultural autossustentável?”. O Rio Grande do Norte respondeu “não”. Ao lado do Rio
Grande do Norte, mais oito unidades da federação também não têm essa intenção em seus planos estaduais de cultura segundo o IBGE. No Nordeste, estamos acompanhados de Paraíba e Sergipe. Para o instituto, a economia criativa e autossustentável se baseia “na capacidade de indivíduos, segmentos ou grupos, não estabelecidos através de cadeias formais de produção ou serviços, estabelecerem um empreendimento através de uma formulação criativa, ou seja, de uma ideia, que tenha sustentabilidade, mas que possa ser estimulada, financeiramente ou não”. Ainda de acordo com o IBGE, o plano estadual de cultura
do Rio Grande do Norte, em 2014, não previa como objetivos: “integrar a cultura ao desenvolvimento local”, “dinamizar as atividades culturais do Estado”, “garantir a sobrevivência das tradições culturais locais”, “descentralizar a produção cultural”. Outra deficiência do RN é a ausência de um sistema informatizado de gestão das ações e programas culturais do órgão gestor. O Rio Grande do Norte é um dos nove Estados (Roraima, Pará, Amapá, Maranhão, Piauí, Sergipe, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul) brasileiros que não possuem esse tipo de ferramenta. Essa é a mais recente pesquisa do gênero feita pelo IBGE.
Ì RN CRIATIVO O que é? Incubadora para setor criativo. Onde? Solar João Galvão. Av. Câmara Cascudo, 431, Cidade Alta. O que os Estados brasileiros querem da cultura à 23 Estados - Preservar o patrimônio histórico, artístico e cultural à 20 Estados - Transformar a cultura componente básico para a qualidade de vida da população à 16 Estados - Democratizar a gestão cultura à 14 Estados - Integrar a cultura ao desenvolvimento ESTÍMULO À ECONOMIA CRIATIVA à 18 Estados - Desenvolvem programa ou ação para a produção cultural autossustentável à 15 Estados - Dos que possuem ações ou programas, 15 dão destaque para formação, capacitação, qualificação ou educação capaz de incentivar competências criativas à 14 Estados - Possuem articulação e estímulo ao fomento de empreendimentos criativos à 12 Estados - estímulo à criação, produção, circulação ou distribuição de bens e serviços criativos
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CIDADES CRIATIVAS
COMO CAMINHO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
« ENTREVISTA : ANA CARLA FONSECA REIS » « ECONOMISTA, MESTRE EM ADMINISTRAÇÃO E DOUTORA EM URBANISMO »
“A singularidade é um potencial, mas não basta” A doutora em urbanismo, Ana Carla Fonseca Reis, defende que para o desenvolvimento do turismo cultural, é preciso transformar 'história' em atração e produto turístico ara o desenvolvimento do turismo cultural, não basta ter história que ninguém mais tem para contar. Há de se transformá-la em atração e produto turístico. Ao vir a Natal para a 28º edição do Seminário Motores do Desenvolvimento do Rio Grande do Norte, A TRIBUNA DO NORTE questionou a consultora Ana Carla Fonseca Reis sobre a melhor exploração de patrimônios culturais e turísticos como o prédio do Centro de Turismo de Natal. Além disso, ela também fala sobre bairros culturais como impulsionadores do desenvolvimento urbano e econômico de uma cidade. Dessa forma, ela também comentou especificamente sobre a Ribeira.
P
Potencial do Centro de Turismo
O atrativo é um potencial. Na verdade, isso não vai bastar. Mas como esse potencial vai ser apresentado? Uma coisa é você falar que isso é uma antiga cadeia e ponto. Outra coisa é você reviver as histórias, contar quem ficou lá, fazer uma ambientação, promover uma experiência a partir dessas singularidades. Tem que envolver as pessoas naquilo. Se não for a história delas também, não vai dar certo. É o princípio da novela, em que todo mundo se identifica com a história. Você vai comprando as histórias, no bom sentido, no caso da cultura, do patrimônio em especial, aquilo passa a ser seu também. Então, a singularidade é um potencial, mas em si não basta. Depende de como aquilo é apresentado e mantido. É mantido se, claro, a Prefeitura faz a limpeza da rua na frente, mas também se o vizinho vê que vai vandalizar e vai lá com o dedo em riste. Esse patrimônio tem que ser abraçado pelo um conjunto de governanças compartilhadas, que pega o público, o privado e a sociedade civil.
Conexões entre singularidades
Não são só as singularidades que fazem as cidades serem criativas, é a composição delas, a conexão entre elas. Se não for assim, um pedaço da cidade vai numa determinada linha, e o outro pedaço não vai e a cidade acaba vivendo uma esquizofrenia. Então, depende muito mais do processo em si do que o produto em especial.
Bases para criatividade urbana
Com base em um estudo que desenvolvemos junto a 18 colegas de 13 países, identificamos que uma cidade criativa se pauta por três questões. A primeira são as inovações, em sentido amplo - das inovações sociais às de tecnologia de ponta, dependendo dos desafios e das condições da cidade. Uma cidade criativa,
Ì QUEM Economista, mestre em Administração e doutora em Urbanismo (tese pioneira em cidades criativas) pela Universidade de São Paulo (USP). Administradora Pública pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV/SP), com MBA pela Fundação Dom Cabral. Liderou projetos globais em marketing e inovação para empresas multinacionais, com base na América Latina, em Milão e Londres. Autora e editora de vários livros referenciais, dentre os quais Economia da Cultura e Desenvolvimento Sustentável. Com esse título foi vencedora da maior comenda da literatura brasileira, Prêmio Jabuti na área de economia, administração e negócios em 2007. Também é autora de Economia Criativa como Estratégia de Desenvolvimento (2008); Cidades Criativas, Soluções Inventivas – o Papel da Copa, das Olimpíadas e dos Museus Internacionais (2010); Cidades Criativas – Perspectivas (2011); e Cidades Criativas – da Teoria à Prática (2012). É Sócia-Diretora da Garimpo de Soluções – economia, cultura & desenvolvimento, empresa de consultoria em economia criativa e cidades criativas. Já ofereceu seus serviços em 30 países, 169 cidades e 172 clientes.
em essência, é uma cidade que se reinventa. A segunda são as conexões: entre público, privado e sociedade civil; entre sua história e seu desejo de futuro; entre áreas da cidade e dentre outros elementos. A terceira, por fim, é sua cultura, o que em sentido macro representa sua alma, sua identidade e em um recorte mais micro abrange também sua cena cultural, sua vida artística.
Criatividade tem tamanho?
Embora cidades de maior parte tendam (via de regra) a ter desafios mais complexos, seu potencial de reinvenção é proporcional a esses desafios, já que criativa a rigor não é a cidade, mas sim o são seus cidadãos.
Cidade criativa x cidade inteligente
Uma cidade inteligente preconiza o recurso à tecnologia para benefício da cidade e de seus cidadãos. Na cidade criativa o recurso básico é a criatividade humana. A tecnologia é bem-vinda, sempre e quando não se sobreponha ao protagonista do cidadão, mas há programas e ações que não dependem de tecnologia.
Poder público, iniciativa privada e cidadãos
Qualquer um dos três pode catalisar novos olhares de transformação, como se acendesse um palito de fósforo, para iluminar novos caminhos e possibilidades. Porém, essa luz só se converterá em longeva, perene e sustentável se os demais atores se engajarem nesse processo. To-
dos os processos de transformação dos quais participei ou me envolvi, tendo por pauta a lógica da cidade criativa, requereram a participação de governo, setor privado e sociedade civil.
Cidade e economia
Embora a economia seja apenas um dos fluxos que se desenvolvem na cidade (a cidade é muito mais do que sua economia), há uma simbiose muito potente entre economia criativa e cidade criativa, já que esta oferece um ambiente mais propício à criatividade, do qual a economia necessita. Por sua vez, com o ancoramento da economia criativa a cidade também tende a se beneficiar não apenas desses setores econômicos, como da presença e da valorização dos profissionais que trabalham neles. Não creio que no Brasil haja resistência em pensar o desenvolvimento da cidade a partir da economia criativa, mas entendo que ainda haja falta de clareza acerca do que de fato é economia criativa.
Turismo e cultura local
O turismo que agrega à cidade e aos cidadãos não é o comoditizado, mas o que valoriza as singularidades do território e as propostas diferenciais de suas pessoas. Nada mais em consonância do que uma cidade que se destaca por valorizar as mesmas questões.
Ribeira
O êxito de uma iniciativa deve ser analisado à luz dos objetivos traçados. Embora eu tenha menos envolvimento com a Ribeira do que gostaria, entendo
que os objetivos que vêm pautando o bairro são os de preservação ambiental, reinserção positiva no imaginário dos cidadãos que não vivem ali e geração de novas dinâmicas econômicas. Quero crer que, ao se tornar mais visível, os natalenses em geral venham valorizando e defendendo o patrimônio que ali se encontra; que eventuais resistências a visitar o bairro estejam diminuídas e que, ao contrário, ele venha sendo incorporado no mapa afetivo dos cidadãos; e que, com o maior fluxo de pessoas, novas oportunidades de geração de emprego e renda venham sendo criativas, inclusive graças ao trabalho de algumas instituições referenciais, como a Casa da Ribeira.
Rede de cidades criativas da Unesco
Creio que a questão de fundo é se valorizamos nossas cidades pelo que elas têm - ou seja, se nós mesmos reconhecemos seu potencial criativo e nele investimos. O projeto da rede de cidades criativas da Unesco [Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura] valoriza tanto o produto o que a cidade apresenta de criativo, na categoria para a qual se postula -, quanto o processo de candidatura, a exemplo do envolvimento dos cidadãos nessa empreitada. Parece-me que, mais até do que receber ou não o título da Unesco, mas esse despertar de novos olhares do cidadão sobre sua cidade, esse trabalho conjunto envolvendo governo, privado e cidadão em defesa do que a cidade é.
Pequena portuguesa na rede
Participei há dois anos do processo de candidatura à rede da Unesco da portuguesa Idanha-a-Nova, uma cidade de poucos milhares de habitantes. Muitas pessoas ficaram surpresas pelo fato de uma cidade tão pequenina se candidatar a uma rede tão qualificada; mas a riqueza de suas tradições musicais, o empenho de sua população em mostrar suas singularidades musicais, a excelência do trabalho validado pela comunidade e a presença da música em seu dia a dia garantiu sua presença na rede. Lisboa poderia ter se candidatado, assim como o Porto, Coimbra ou Braga, em diferentes categorias? Potencialmente sim. Mas o nível de engajamento cidadão de Idanha-a-Nova a levou a dar um passo que as outras não deram.
Natalenses: criativos e engajados?
Você vê esse amor, esse engajamento e essa vontade do natalense de defender e projetar sua cidade no mundo, a partir do que ela é e tem de mais singular?
Bairros exclusivamente culturais e conexões
Uma cidade é mais do que um conjunto de bairros isolados. Uma cidade é e sempre foi um ser vivo, um sistema de partes conectadas. Tomar a parte pelo todo imaginar que uma cidade é criativa porque tal ou tal bairro o é equivalera a dizer que alguém é são, porque seu fígado funciona bem. Acho que nossas cidades merecem mais do que isso.
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CIDADES CRIATIVAS
COMO CAMINHO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Natal tem iniciativas inovadoras e sustentáveis O RN ainda não possui projetos sistematizados no conceito de ‘Cidade Criativa’, mas algumas iniciativas, como a ‘Amigo Verde’ indicam que é possível inovar na busca por sustentabilidade ecnologia, tolerância e talento. Cooperação, comunicação e cultural. Inovação, cultura e conexões. Todos esses tripés ditados por autoridades em cidades criativas tentam dar uma noção do que seja um município assim modelado, sem ter a intenção de restringi-lo a esses pontos. A sustentabilidade (social, econômica e ambiental) também é uma dessas característica que já foi agregada a um sem-número de modelos de desenvolvimento debatidos no nascedouro desse milênio. Tão rememorado nos discursos de reforma urbana, a sustentabilidade já virou um valor tácito. Embora ainda não existam macroprojetos sistematizados de desenvolvimento com foco na aplicação do conceito de cidades criativas, já é possível observar que as iniciativas existentes. Exemplo disso é o Amigo Verde no Gramorezinho, que se encaixa no conceito mais amplo de cidade criativa. Ele resolveu dois problemas de uma vez só: cultivo de hortaliças sem agrotóxicos em uma área ambientalmente sensível e a garantia de renda sustentável para cerca de 500 famílias. O projeto tem a coordenação do Minitério Público do RN e é coordenado pela promotora Gilka da Mata. De outro lado, há o Mapa Verde (Green Map), uma parceria entre a UFRN e a Semurb. O aplicativo pretende criar conexões entre várias iniciativas sustentáveis ambiental, social e economicamente espalhadas pela cidade.
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Mulher de areia
Mesmo sem parceria alguma há iniciativa praticamente isoladas pelo Rio Grande do Norte afora. É o caso da artesã Antonia Linete de Souza, de 43 anos. Ao lado do marido, filhas e mais 11 mulheres ela consegue reciclar garrafas de vidro e transformar em arte. Desde
Amigo Verde, em Gramorezinho, resolveu dois problemas: cultivo de hortaliças sem uso de agrotóxicos em uma área sensível e a garantia de renda para 500 famílias
1995, quando ela se casou com João da Areia, tira toda a sua renda das garrafinhas de areia. Segundo ela própria diz, criou as três filhas às custas da areia. “Tudo que eu tenho na minha vida vem do meu trabalho com garrafinha de areia. Tenho essa minha casa, tenho mais quatro casinhas de aluguel, tenho minhas coisas só às custas das minhas areias”, contou. Além disso, ela dá consegue gerar renda para 11 mulheres na ci-
dade de Grossos, de onde vem toda a areia colorida. Ela também tem plena consciência que seu trabalho é um auxílio muito bem-vindo à natureza, visto que uma garrafa do tipo leva 4 mil anos para se decompor na natureza. “É muito importante, porque além de a gente reciclar esse vidro a gente também recicla o papelão. A gente precisa das caixas para colocar tudo dentro e poder ser transportada”, acrescentou.
Natal faz parte do projeto Mapa Verde
Ì SUSTENTÁVEIS Amigo Verde – Gramorezinho 120 agricultores familiares beneficiados à As hortaliças orgânicas produzidas não recebem adubos químicos, agrotóxicos, nem reguladores de crescimento. à
INICIATIVAS SUSTENTÁVEIS Prefeitura de Natal Academias ao ar livre à Recuperação de praças à Aplicativo de celular para usuários de ônibus urbanos à Instalação de wi-fi nos ônibus à à
O Mapa Verde é uma aplicação de internet que pretende se espalhar pelo mundo, destacando iniciativas ambiental, social e economicamente sustentáveis. A sede do Green Map é na cidade de Nova Iorque. No Brasil, apenas três cidades brasileiras tem essas boas práticas mapeadas: Curitiba, Florianópolis e Natal. Segundo o professor da UFRN Olavo Bessa, coordenador do projeto na capital potiguar, afirma que o projeto é uma ferramenta que permeia todos os conceitos de sustentabilidade, inteligência e criatividade. “O Green Map dentro dessa questão de informação ele é um excelente banco de dados, ainda que não muito aprofundado, tem uma relativa consistência. Por outro lado, ele é um mapa. Como banco de dados, ele oferece informações com uma rápida visualização de coisas que ficam escondidas nas universidades ou
nas prateleiras das prefeituras”, comentou. Os pontos mapeados compreendem três categorias: natureza; modo de vida sustentável; e cultura e sociedade. Na visualização do mapa, qualquer pessoa pode encontrar um restaurante que compra hortaliças orgânicas, ou uma marcenaria que atende os critérios do projeto. Ele pode funcionar como um guia turístico, mas não só. Para o professor, o mapa também pode criar uma rede de sustentabilidade entre, por exemplo, o restaurante que serve orgânicos e os produtores. Em “Cultura e Sociedade” há também “espaços de contemplação”. “Mapear as ciclovias pode servir tanto para a prefeitura, para saber onde ele precisa criar ciclovia, ou para criar conexões entre as várias ciclovias que hoje não têm conexão, ou para expandir a rede, ou para
um consumidor da ciclovia poder traçar o melhor percurso vendo por onde tem melhor segurança, por exemplo”, acrescentou. Não existe aplicativo de celular para facilitar o acesso. O endereço virtual do mapa verde é w w w . o p e n g r e e n map.org/greenmap/mapaverde-natal . Por enquanto, só os estudantes do curso de Design são os responsáveis por incluir os novos pontos do mapa. Com isso, o coordenador do projeto quer garantir que as primeiras inserções de informação, que começaram em março deste ano, tenha grande densidade de informações. Posteriormente, a idea é abrir o aplicativo para que todos os interessados incluam nos pontos que poderão ser moderados pela coordenação do projeto. Neste caso, a Prefeitura de Natal entrou com a compra da licença do projeto.
Amigo Verde
Governo do RN Plano de manejo do Parque das Dunas (permite novas atividades dentro do Parque das Dunas, novos passeios, ciclovias [na Roberto Freire], arborismo, mirantes)
à
Estádio Juvenal Lamartine transformação em parque Saneamento básico de Natal à Car – Cadastro Ambiental Rural à Novo Parque dos Vales das Cascatas à Parque Mãe Luíza/Via Costeira à Saneamento básico da Praia de Pipa à
Lançado em junho de 2012, o projeto Amigo Verde tinha a intenção de modificar o modo de produção de cerca de 120 agricultores familiares. Eles receberam orientação técnica para se enquadrar em um modelo de produção orgânica, que tem como princípio a não utilização de agrotóxicos, de abudos químicos e de reguladores de crescimento. A região do Gramorezinho foi escolhida por fazer parte do cinturão verde que fica ao redor de Natal. É de lá que vem as hortaliças que perecem mais rápido para o consumo na capital. Boa parte dos membros da comunidade do Gramorezinho vieram do interior do Rio Grande do Norte e começaram a se fixar naquela região por volta de 40 anos atrás. O local não é um grande produtor de hortaliças por acaso. Além do Rio Doce, a região é cercada de lagoas naturais. Os parceiros responsáveis pela mudança no processo de produção também se preocuparam com a outra ponta do negócio: o mercado. A solução foi a criação de feirinhas do projeto Amigo Verde pela cidade. As primeiras foram montadas na sede da Procuradoria-geral de Justiça do Rio Grande do Norte todas às quartas-feiras pela manhã. Nas quintas-feiras, ela acontece na Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo em Mirassol. Aos sábados, a feirinha de orgânicos se desloca para o Bosque das Mangueiras no bairro de Lagoa Nova em frente ao campus da Universidade Potiguar da avenida Nascimento de Castro. O projeto é um claro esforço de múltiplas entidades da sociedade civil e do poder público. A Associação dos Amigos Produtores de Hortaliças e Moradores do Sítio Gramoré e Adjacências (Amigs) teve a ajuda da Emater, Sebrae, Idiarn, UFRN, Ufersa, Semurb, Petrobrás sob a a supervisão do Ministério Público do Rio Grande do Norte.
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COMO CAMINHO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Centro de Turismo tem potencial sub-explorado Do ponto mais alto do bairro de Petrópolis, a singularidade do Centro de Turismo de Natal ainda possui um potencial a ser despertado. Em julho passado, recebeu 11,8 mil visitantes asa de verão, asilo para pacientes psiquiátricos, orfanato feminino e casa de detenção. Com tanta história acumulada, o prédio recebeu só no mês de julho passado 11.853 turistas. Isso representa apenas aqueles que foram ao local em ônibus de receptivos turísticos. Do alto de um colina no bairro de Petrópolis, a singularidade do Centro de Turismo de Natal ainda possui um potencial a ser despertado. Esse quadro fica perceptível num rápido passeio pela edificação do final do século 19. O antigo calabouço da cadeia e a Capela de Nossa Senhora dos Monte, por exemplo, estão sem utilidade. Majoritariamente, os visitantes do local são turistas. De natalenses, só a mão-de-obra. Tombado em 1988, a história desse patrimônio histórico estadual ilustra com exatidão o que os especialistas em cidades criativas defendem quando tocam no turismo: valorizar as singularidades locais. A arquitetura neoclássica e os usos desse prédio no passado são apenas parte do atrativo. Apesar do crescimento imobiliário do entorno, o lugar ainda guarda vistas únicas de Natal, do Rio Potengi e da Ponte Newton Navarro. Em vez de boxes, as lojas de artesanato estão abrigadas em espaços onde foram as celas da antiga casa de detenção. A espessura da parede denuncia o passado. São pelo menos 30 centímetros. As grades nos janelões permanecem no mesmo local. E o mais curioso do lugar é, contraditoriamente, um dos atrativos mais desconhecidos: os contos sobrenaturais. Eles estão praticamente restritos a quem trabalha por lá. Por falar em trabalho, o Centro gera cerca de 100 empregos em 40 empreendimentos: restaurante, lojas de artesanato, galeria de arte e antiquário, lanchonete e administração. Esse número não conta com o evento “Forró com Turista”, realizado quintas-feiras às 22h. O prédio é gerido hoje pela Associação dos Empreendedores do Centro do Turismo (Assectur) de Natal. O uso privado é uma cessão do governo do Estado. No entanto, a presidente da entidade torce para que o governo retome a gestão. “Tenho muita vontade que o governo viesse administrar. Temos muitos espaços ociosos e só o governo para criar alguma coisa nova aqui”, disse Lenilda Emerenciano. O governo do Estado retomou a gestão de dois empreendimentos turístico que eram explorados pela iniciativa privada. Um deles foi o Centro de Convenções de Natal, que passa por uma ampliação e deve ficar pronto no fim deste ano. O outro foi o Cajueiro de Pirangi, que passou para a gestão do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (Idema).
C
Tombado em 1988, a história desse patrimônio histórico estadual ilustra o que os especialistas em cidades criativas defendem: valorizar as singularidades locais
Ì CENTRO DE TURISMO DE NATAL Estudiosos estimam que a parte mais antiga do prédio seja datada do final do século 19, quando servia de casa de veraneio para uma família. à 1911 – Transforma-se no Asilo de Mendicidade Padre João Maria à 1920 – Passa a funcionar como Orfanato Padre João Maria exclusivamente feminino à 1943 – Ficou sob gestão do Governo Federal porque seria usado durante a Segunda Guerra Mundial em função de sua localização estratégica à 1945 – Depois da Guerra, foi reformado para tornarse a Casa de Detenção de Natal à 1976 – O Centro de Turismo de Natal passa a operar no lugar após recuperação da estrutura física Fonte: Associação dos Empreendedores do Centro de Turismo (Assectur).
Na segunda-feira passada, durante a realização do Seminário Motores do Desenvolvimento do Rio Grande do Norte, nossa equipe perguntou sobre a possibilidade de assumir
a gestão do Centro de Turismo. Robinson Faria respondeu que essa questão é mais delicada porque envolve pequenos empreendedores do turismo. Contudo, ele confirmou que essa possibilidade é analisada pelo governo. Apesar da boa frequência turística, o local está praticamente fora do roteiro de qualquer morador da capital potiguar. Quando se trata de cidade criativa, um equipamento turístico só tem sentido para a atividade econômica se tiver importância para a comunidade local. O sentimento pertencimento de um bem público para um povo é crucial. Todavia, o prédio centenário parece não criar essa relação com o cidadão natalense. “Isso é um problema cultural do natalense. O natalense pensa que isso aqui é para o turista, mas isso aqui é do nosso povo”, respondeu Lenilda.
Calabouço vazio
Nos fundos da antiga Casa de Detenção, há uma espécie de calabouço. Conforme a presidente da associação, os presos ficavam pendurados por correntes sobre um fosse com água. “Era um espaço para castigar os presos”, contou. Depois que se tornou Centro do Turismo, o espaço virou tentou se viabilizar como boate. Foram três tentativas: boate Pool (piscina); Calabouço; e Papion. O lugar permanece com o modelo festivo à espera de uma nova destinação. Há duas áreas vips, um espaço para DJ, uma cozinha, banheiros, bilheteria e bar. O calabouço onde os apenados eram castigados transformou-se no dance.
Tenho muita vontade que o governo viesse administrar. Temos muitos espaços ociosos e só o governo para criar alguma coisa nova aqui” LENILDA EMERENCIANO Associação dos Empreendedores do Centro do Turismo
Prédio centenário tem estórias e histórias Se as conexões são um dos fundamentos para uma cidade criativa, podemos dizer que o Centro de Turismo de Natal também está bem provido dessa característica. Inclusive com conexões sobrenaturais segundo relatos. Uma edificação com mais de um século de existência certamente guarda histórias e estórias. Há mais de duas décadas como Auxiliar de Serviços Gerais do Centro de Turismo, Guimarães Ferreira dos Santos, de 48 anos, já ouviu e viu muito coisa que não gostaria de ter presenciado. Logo nos primeiros anos de trabalho, Guimarães cobria a escala de plantão de um vigilante. Sozinho em uma dessas noi-
tes, ele viu o que apenas tinha ouvido comentário de terceiros. “Uma moça loira jovem. Tinha uns 25 anos e tava vistada toda de branco”, contou. O ASG afirma que era um espírito. “Era sim, porque ela desaparecia. Bastava piscar o olho e ela já não estava mais lá”, explicou Guimarães. A moça de outra dimensão costumava aparecer depois das 23 horas. Ela sempre caminhava no corredor do restaurante. Relatos de funcionários dão conta que a tal seria uma ex-funcionária da cozinha do orfanato. “Outra informação é que ouviram uns prato quebrando no chão e quando chegaram na cozinha não tinha nada”,
falou o funcionário do Centro. Em algumas noites, a dificuldade para dormir era outra. Um barulho. “Ouvi vozes de dois homens discutindo, cobrando dinheiro. Dormia lá no quartinho do vigia e ouvia aquela discussão. Quando eu abria a porta não tinha ninguém, quando fechava voltava tudo de novo”, lembrou o funcionário. A saída era ir dormir na sala da administração. Perguntado sobre a utilidade do quartinho do vigilante no passado, Guimarães informou, “lá colocavam os presos de castigo”. Segundo Guimarães, depois de celebrações de missas no Centro de Turismo, os ex-ocupantes nunca mais apareceram nem discutiram entre si. Todas essas narrativas ainda não são exploradas de forma comercial do ponto de vista do turismo, muito menos do entretenimento.
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CIDADES CRIATIVAS
COMO CAMINHO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
« ENTREVISTA : FERNANDO CRUZ »
« PROFESSOR DO DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE »
“Uma cidade não é criativa com medo” Professor do Departamento de Políticas Públicas da UFRN, Fernando Cruz, explica que a melhoria dos serviços públicos é fundamental para dar suporte à criatividade urbana melhoria dos serviços públicos são fundamentais para dar suporte a criatividade urbana. Essa é a tônica da entrevista do professor do Departamento de Políticas Públicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Fernando Cruz. Entre 2012 e 2014, ele realizou um estudo sobre o ambiente criativo em Natal. Numa conversa com o pesquisador, pinçamos alguns pontos, como a necessidade de parcerias mais sólidas entre setor público e privado; as deficiências de incubadoras culturais locais, onde deveria ser o berço para empreendimentos culturais sustentáveis; e a visão econômica sobre as atividades criativas.
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Concepções
“A concepção de cidade criativa não é uniforme. Existem várias propostas. Uma propostas que alia a cidade criativa a partir da união dos setores criativos e funcionais, como arquitetura, moda, design e publicidade. Há propostas de entender a cidade criativa pelo seu núcleo cultural. Mas existe outra abrangência, que é a que eu prefiro, que é considerar a cidade em termos mais amplos. É considerar que é uma cidade que dá ênfase a questão cultural, mas também relaciona com a economia, gestão e políticas.”
Empecilhos
“Não podemos pensar uma cidade com disponibilidade para ser uma cidade do conhecimento, para propor produtos novos e ideias novas, se estivermos com medo. Então, a questão da segurança pública é extremamente importante. Uma cidade burocrata, com procedimentos extremamente burocráticos, as nossas energias vão se gastar com burocracia em vez de estarmos dedicados a questão de ter ideias, a questão das inovações.”
Poder econômico criativo
“Uma questão importante para a economia criativa é que a cultura deixe de ser vista apenas como despesas dos órgãos públicos, mas que seja encarada com o seu potencial econômico. Se nós agregarmos às atividades tradicionais os setores culturais pode permitir vender mais. Se pensarmos as questões dos bares. Muitos bares tem música, que é do setor cultural, mas a música nem sequer é paga muitas vezes, mas permite ao bar vender mais. Já começa por aí. Então, podemos fazer uma agregação, em termos de economia criativa, de novos serviços e novos produtos, em que realmente essa oferta cultural está presente. Dá mais trabalho. Permite ter receitas profissionais para as pessoas de cultura, mas também permite uma dinamização econômica das cidades.”
Ì QUEM Doutor em Sociologia pela Universidade do Porto (Portugal), Cruz realizou um estudo de caso sobre a qualidade e estrutura dos espaços públicos em três cidades portuguesas. Sua dissertação de mestrado em Ciências Sociais foi feita na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e teve como título “Ambiente criativo: estudo de caso na cidade de Natal/RN”. Ele também possui especializações em Sistemas da Informação (Universidade do Minho) e Estudos Europeus (Universidade de Coimbra). Hoje ele é professor efetivo do Departamento de Políticas Públicas da UFRN e líder do Grupo de Pesquisa em Cidades Contemporâneas. Também é graduado em Direito (Universidade Portucalense Infante de Henrique) e Antropologia (Universidade Fernando Pessoa).
O que varia é a intensidade. Há cidades que são muito criativas, porque se está a facilitar. Há outras cidades que têm intensidade menor. Mas a minha leitura é que não existem só algumas cidades que são criativas. Todas as cidades têm conhecimento, todas as cidades tem setor cultural, todas as cidades podem fazer dinamização econômica a partir desse setor.”
Turismo
“Para além disso, Natal tem uma grande potencialidade que está por explorar em relação a agregação cultural e econômica. É uma cidade turística em que há recursos que precisam ser melhorados. Não é possível um turista chegar em Natal e você dizer: “se você quer ir para a Ribeira ou Cidade Alta, nos eventos culturais, você não deve ir porque é inseguro”. Então, a alternativa é apenas a praia seja para Norte ou Sul. É necessário criar meios para que esses turistas possam realmente ir a museus, teatros, ir ao cinema e consumir em termos gerais. Isso se consegue também com essa criatividade que não é própria somente dos setores culturais, mas também em termos econômicos, tecnológicos, conferências, palestras. Isso também atrai outro tipo de turista, o turista de eventos.”
Serviços públicos deficientes
Estudo sobre Natal
“Uma das minhas conclusões na minha dissertação é que em qualquer cidade pode-se aplicar o conceito de economia criativa.
“Existem cidades que tem o transporte público diferenciado com relação a sexta-feira e ao sábado. Aqui nós temos transporte público até as 10h30 da noite. Como os eventos feitos à noite para turistas resta apenas o táxi. Para não falar dos próprios moradores daqui, porque mui-
tas deixam de sair, porque deixam de sair por conta dessa questão de “como voltar com segurança”. O transporte público é outra questão que deve ser repensada.”
Museus
“É necessário também pensar a questão dos horários do museus. Não pode ser horário apenas do funcionamento dos órgãos públicos. Há também que melhorar a questão das ofertas, criar dinamismo, agregar vários gêneros.”
Turismo: Sol e Mar X Cultural
“O turista que vem a procura de sol e mar não deixa de se interessar pela gastronomia. Não deixa de se interessar por ir dançar o forró. Não deixa de procurar algumas alternativas. É necessário também que o marketing de Natal enquanto cidade cultural seja reforçado. É necessário novas formas de buscarmos o turista. Não é possível chegar ao turista e dizer que ele não vá buscar eventos culturais e que fique só na zona Sul porque é relativamente seguro. Natal tem realizações importantes e potencialidades.”
Eventos
“A economia criativa pensa a questão do ciclo econômico: criação, produção, distribuição e mercado. Não é possível só o Estado apoiar em termos de criação com os meios conhecidos que são poucos e deficientes. É necessário que o Estado também apoie o mercado, os eventos, porque dá visibilidade à cidade. Isso também permite colocar os profissionais de diversos serviços nesse tipo de eventos em vários setores, não só o cultural. O evento também é extremamente importante em termos de ca-
lendarização, atração e polaridade. Se pensarmos em eventos como Natal em Natal e o carnaval, a partir de momento em que passa a ser regular já se passa a expectativa que no ano seguinte se encontrar um evento, no mínimo, nas mesmas condições que foi realizado neste ano. A cidade pode até nem apoiar a questão da criação, mas se apoiar a saída da produção através de organização de eventos, contatos, feiras de artesanato, aí ele está a potencializar em termos econômicos também.”
Parcerias público-privadas
“Acidadecriativatemqueseencarada como um projeto. Pode-se conceitualmente considerar todas as cidades criativas, mas se quisermos dinamizar ainda mais essa criatividade não pode ser apenas um projeto do governo. Tem que haver parcerias público-privadas. Também não pode ser uma iniciativa só do privado. Já vemos que existem vários empreendimentos bem criativos que fazem essa agregação entre as atividades tradicionais e a questão mais cultural no sentido de produzir renda. Mas ainda é importante que se consolidem essas parcerias público-privadas.”
Indústria criativa
“Os setores criativos estão incluídos todos os setores culturais e também os setores funcionais, como design, publicidade e moda. Estes setores utilizam elementos culturais. No fundo, são os setores em termos econômicos que criam mais renda. Não propriamente o setor do teatro, mas esse teatro pode estar associado a outras atividades por exemplo.”
Estado provedor
“Agora, há uma mentalida-
de nos setores culturais que é colocar tudo que se produz em termos de cultura no poder público. O Estado tem que apoiar financeiramente a criação, a produção, o evento. Acho que o Estado pode fomentar essa ideia de economia criativa, pode apoiar em termos de eventos. É importante que haja esse apoio para garantir os espaços que não precisam ser necessariamente fechados.”
Cultura e dinheiro
“A nossa legislação cultural, como a lei Rouanet, logo comete essa tônica: a cultura e a questão econômica também. Então, não existe a cultura pela cultura, só para alguns resistência que não necessitam de ter renda a partir de sua atividade. Se nós vivemos em uma sociedade do conhecimento, estamos cada vez mais especializados, é importante que as pessoas que optam trabalhar em cultura tenham renda e não façam apenas como um segundo emprego, como uma atividade só para pegar mais algum valor econômico, tendo outra atividade onde gastam suas energias. A cultura exige que haja pessoas especializadas e que trabalhem o tempo inteiro nessas atividades.”
Incubadoras
“A incubadora tem que funcionar bem. Tem que fomentar e potencializar a criação de empresas, a incubadora não pode ter apenas uma visão complementar em termos de colocar mais conhecimentos na área técnica. Tem que ter a atitude empresarial. Existem propostas de atuação em diferentes setores culturais e criativos, mas criar essa perspectiva da formação de empresas, do econômico.”
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Natal • Rio Grande do Norte Domingo, 04 de setembro de 2016
especial
CIDADES CRIATIVAS
COMO CAMINHO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Os três pilares para a implantação dessa definição da cidade inteligente e humana são: poder público, economia e sociedade. Objetivo é oferecer mais eficiência ao cidadão e otimizar a gestão
Inovar para ter uma cidade inteligente
Na Cidade Inteligente e Humana o foco é o bem estar dos cidadãos. A infraestrutura tecnológica utilizada deve ser a melhor, mas não é o seu foco” ÁLVARO OLIVEIRA Consultor
Conceito ‘cidade inteligente e humana’ tem também relação com a criatividade. O objetivo é proporciona serviços mais eficientes ao cidadão eunir sistemas de informações e aplicações para dar mais eficiência aos serviços públicos não basta. Todo esse processo tem que ter o ser humano como a figura central. É por isso que recentemente o conceito cidade inteligente e humana tem também relação com a criatividade, uma feição essencialmente humana. “Na Cidade Inteligente e Humana o foco é o bem estar dos cidadãos. A infraestrutura tecnológica utilizada deve ser a melhor, mas não é o seu foco. A Cidade Inteligente e Humana proporciona serviços mais eficientes ao cidadão e a otimização da gestão da própria Prefeitura”, ressalta Álvaro Oliveira, consultor contratado pela Prefeitura de Natal para dar suporte ao município na Rede de Cidades Inteligentes e Humanas. Na metodologia do consultor, os três pilares para a implantação dessa definição da cidade inteligente e humana: poder público (governança participativa, gestão transparente etc), economia (ecossistema de inovação urbano, soluções baseadas em ideias locais, criação de startups locais para colocar essas soluções em prática) e sociedade
R
(inovação social, em nível de bairro principalmente). Muitas das experiências trazidas nessa página oferecem um protagonismo ímpar para a população, como é o caso do Observatório da Dengue e o E-guia. Esse também tem o viés de inclusão social. Por outro lado, também mostram que um ecossistema de inovação social e tecnológico já se formou na cidade. Pelo menos todos esses abaixo são da UFRN.
E-guia
Desenvolvido originalmente para auxiliar pessoas cegas ou com baixa visão no momento de usar o transporte pública, o eguia também pode se tornar uma ferramenta universal. Com um aparelho de GPS (Sistema de Posicionamento Global) instalado nos ônibus, o e-guia consegue prever em que horário determinado ônibus vai chegar na sua parada. Para pessoas que possuem deficiência visual, ele é completamente sonorizado, inclusive com avisos sobre o ponto em que o passageiro deseja descer. Apresentado por diversas vezes à gestão municipal de Natal e aos empresários de ônibus da cidade, nunca foi ado-
tado. Recentemente, a Prefeitura de Natal anunciou que vai ter um aplicativo para o transporte de ônibus na cidade. Não será o E-guia.
Segurança Pública
Foi assinado um acordo entre a Sesed e UFRN para ações dentro do Centro Integrado de Operações de Segurança Pública. Um programa deverá usar as informações geradas a partir de aplicativos e uso nas redes sociais. Elas irão mapear, por exemplo, encontros de torcidas de times de futebol para brigas nas proximidades de estádios. Outro mapeamento que pode ser feito com esses recursos de aplicativos e leitura refinada de dados é em que áreas da cidade estão ocorrendo o maior número de delitos, crimes e classificações, gerando informações para ação preventiva da segurança pública.
Observatório da Dengue
Pode ser acesso por meio de qualquer dispositivo, móvel ou não, qualquer pessoa pode denunciar um foco de dengue ou registrar que conhece um vizinho que está com suspeita da doença. Desse modo, um agen-
fectados quando vão se alimentar de sangue humano. Assim, quando eles picam uma segunda pessoa também podem transmitir o vírus de outras pessoas que ele tenha picado anteriormente. O sistema está em funcionamento desde 2013 e é parcialmente usado pelas secretarias de saúde, mesmo que não seja em sua plenitude. Além de ser um meio de denúncia quase que universal, o Observatório da Dengue também é uma ferramenta de gestão. Os agentes de endemias, por exemplo, também podem registrar os focos de dengue no sistema por qualquer dispositivo móvel. Além disso, o sistema de localização via satélite permite traçar um mapa de vulnerabilidade que pode ser visualisado pelo gestor da saúde pública. Desse modo, ele pode traçar ações de bloqueio da doença para que ela não se alastre por outras regiões da cidade. Embora faça parte da Rede de Cidades Inteligentes e Humanas juntamente com a UFRN, o município de Natal não aderiu integralmente a essa iniciativa.
Turismo
A Cidade Inteligente e Humana proporciona serviços mais eficientes ao cidadão e a otimização da gestão da própria Prefeitura ” ÁLVARO OLIVEIRA Consultor
te de saúde/ de endemias ou equipe de Saúde da Família pode ir até a casa do doente em potencial e fazer o encaminhamentos necessários. Cruzando os dados as pessoas com dengue e as informações do foco, o sistema consegue traçar um raio de vulnerabilidade nas regiões da cidade que tiverem essas duas pontas do ciclo de transmissão. Esse raio de
vulnerabilidade geralmente é de um quilômetro quadrado. Portanto, se dentro de um quilômetro houver um foco de infecção e uma pessoa doente registradas no sistema, haverá uma grande chance de haver transmissão da doença. Vale lembrar que a maioria dos mosquitos não nascem infectados com o vírus da dengue, zika ou chikungunya. Eles são in-
São 466 itens de informação para que nenhum turista se perca em Natal ou se restrinja aos pontos turísticos tradicionais. O aplicativo Find Natal está disponível em inglês e português no sistema operacional Android. As informações foram divididas em quatro áreas: Conheça Natal, Restaurantes e Bares, Meios de Hospedagem e Serviços. Completamente gratuito, o aplicativo pode ser usado em tablets e smartphones. A elaboração do Find Natal teve o empenho de seis alunos dos cursos de Turismo, Design, Ciência da Computação, Engenharia de Software e Ciência e Tecnologia. Por sua vez, eles também contaram com a orientação de professores. O software está disponível desde janeiro de 2014, visto que foi elaborada para a Copa de 2014.
Natal • Rio Grande do Norte Domingo, 04 de setembro de 2016
especial
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CIDADES CRIATIVAS
COMO CAMINHO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
« ENTREVISTA : DANIEL NICOLAU »
« SECRETÁRIO ADJUNTO DE MEIO AMBIENTE E URBANISMO DE NATAL »
“Temos que enxergar qual a vocação da Ribeira” Daniel Nicolau, da Semurb, detalha política pública que tentou incentiva a ocupação da Ribeira e possíveis formas de tornar o bairro mais atrativo para os setores criativos e população em geral ara que as certas características humanas se desenvolvam, as trocas interpessoais são imprescindíveis. Todos os estudiosos de cidades criativam frisam: os espaços públicos são fundamentais para o processo criativo e intercâmbio de ideias. Sem eles, ficamos restritos a grupos sociais homegêneos (condôminos, colegas de trabalho, de sala de aula, frequentadores shoppings de classe A ou B). Desse modo, não conseguimos nos expor à fricções suficientemente fortes para gerar a energia criativa que leva o mundo pra frente. É por isso que nessa segunda parte da entrevista com o secretário adjunto de Meio Ambiente e Urbanismo de Natal, Daniel Nicolau, destacamos o centro histórico de Natal e os insucessos das chamadas “operações urbanas” para manter a vitalidade do lugar. Perguntamos sobre a política pública que incentivava a moradia no bairro da Ribeira e possíveis formas de torná-lo ainda mais atrativo para os setores criativos e população em geral.
P
Falhou?
“Existe um grupo chamado Coopere [Grupo de Trabalho para a Projetos Estruturantes da Ribeira e Entorno] e a gente tem ações aqui para tentar revitalizar a Ribeira e Cidade Alta. No plano diretor de 2007, os dois bairro já são de interesse histórico, área de possível operação urbana, direito de preempção [norma que dá preferência de aquisição de imóveis ao poder público]. Ou
seja, existe já uma preocupação da Prefeitura e de estudiosos, porque isso já é sensível há muito tempo. Por outro laldo, o que fazer? A Operação Urbana Ribeira já passou por uma segunda edição e não teve êxito. Esse grupo está estudando o que foi que aconteceu de errado para tentar acertar de uma próxima vez.”
Nós não apreendemos o nosso patrimônio cultural. O natalense tem essa dificuldade de enxergar o patrimônio cultural que tem”.
Rehabitar: atração de moradores
“Isso aí é mais com a Searpe, porque esses programas quando vem pra cá, vem mais pra gente licenciar. Não vem pra gente fechar o programa. Mas com esse tumulto da política e economia não duvido que ele tenha freado um tempinho para fazer um freio de arrumação.”
O que fazer
“É preciso uma coalização. Independentemente da esfera, vai ter que ter a gestão pública. A municipal, por afinidade e por competência, é a que está mais próximo. Mas tem que ter também a “compra da ideia” pela população e pelo empreendedor. Imagino que o Green Map [mapa verde] poderia funcionar invertendo esse caminho. Quem não está ligado à cultura o que sabe dos grupos culturais de Natal? Aquele monte de quadrilha que enche o Festival de Quadrilhas da Prefeitura dois ou três dias, onde é que esse pessoal está? Quem produz o carnaval, onde estão essas pessoas?”
Patrimônio cultural local
“Nós não apreendemos o
nosso patrimônio cultural. O natalense tem essa dificuldade de enxergar o patrimônio cultural que tem. Na feirinha de orgânicos aqui [na frente da Semurb], os preços são super diferenciados, mas muita gente não sabe. Às vezes, é 1/3 dos orgânicos vendidos no supermercado. Quando a cidade perceber o que tem, quando o imaginário da cidade estiver preenchido por essas iniciativa e a gente percebe que a população anseia por isso, eles vão procurar um lugar.”
Espaços: interação e criação
“Todo mundo precisa de um lugar. Ou é uma praça para se encontrar, ou uma Casa da Ribeira da vida, ou teatros, ou restaurantes e locais para trocas. Você vê que está muito em voga essa questão do treino [físico] funcional. O pessoal vai pra uma praia ou uma praça. São comunidades que estão se juntando com um objetivo comum. E ao mesmo tempo isso propricia renda. É a economia criativa.”
Gestão dos lugares
“Na hora em que se tiver esse ambiente mental da cidade trabalhado, aí a gestão pública vai precisar conduzir as pessoas para um lugar que seja interessante. Esse conduzir não é criar leis e dizer “você só produz se for na Ribeira”. É chegar e dizer assim: preparei a Ribeira, olha que legal. Na hora que for desse jeito, funciona porque você atrai.”
Novo centro econômico
“O entorno do Midway atrai porque tem a melhor infraestrutura da cidade: é o centro geográfico, você se desloca levando mais ou menos o mesmo tempo para qualquer lugar da cidade; passa muita linha de ônibus; tem saneamento; tem sombra; tem polícia. Então é o lugar que a externalidade atrair. As pessoas conseguem chegar lá porque tem proximidade e acessebilidade. Por outro lado, você está na zona sul e vai para a Ribeira comprar alguma coisa, por exemplo, não encontra a mesma ambiência do entorno do Midway, um ambiente de lojas, supermerca-
dos, escritórios, serviços de uma maneira geral.”
Ì
Condições especiais
QUEM
“Esse ambiente em volta não se criou sozinho. A iniciativa privada precisou entender que aquele lugar polarizava. Os empreendedores foram chegando porque eles viram que aquela localidade tinha atrativos. O que se precisa fazer é exatamente essa política do atrativo. Na Ribeira, por exemplo, vai ter que ter uma infraestrutura diferenciada, um ambiente tributário diferenciado. Aí, temos que enxergar qual a vocação da Ribeira.”
Natal, cidade criativa
“Natal tem todas as atividades que dizem respeito a uma cidade criativa: turismo, eventos, atividades de produção que são capazes de criar consumo criativo. As indústrias tradicionais fomentam o começo. O evento é uma atividade que tem tudo para ser utilizado na economia criativa. Na hora em que a gente não está lastreado por grandes empresas pode criar uma lacuna de investimentos, mas ela pode ser suprida de outras formas. Natal já tem o nicho da criatividade. O que ela precisa, a própria população, incentivar para que essas atividades possam prosperar. Não adianta eu forçar a barra para plantar um orgânico na zona Norte se, de repente, a população daqui for uma população de fast food. Mas Natal está mostrando que já tem esse público.”
Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) em 2002, ele é hoje secretário adjunto de Fiscalização e Licenciamento da Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb) de Natal. Ingressou no mestrado do Programa de PósGraduação em Arquitetura (PPGAU) da UFRN. Sua área de interesse é planejamento urbano. Já produziu e apresentou trabalhos sobre o plano diretor de Natal, desenvolvimento metropolitano e gestão ambiental. Desde 2004 é servidor do quadro efetivo da secretaria. Já participou de bancas como avaliador de trabalhos de conclusão de curso em nível de graduação. O secretário adjunto também é técnico em Edificações pela então Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte (ETFRN, hoje IFRN).