UM MILÊNIO EM QUATRO ANOS

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Ano 1 / N°191 / Natal, DOMINGO, 4 de julho de 2010 04

RODA VIVA

DISPENSA DE LICITAÇÃO PERMITE QUE RN PAGUE POR PROJETO MAIS DO QUE O DOBRO DA MÉDIA

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ARGEMIRO LIMA / NJ

CIDADES

NATAL RECEBE PREZADO AMIGO AFONSINHO

Primeiro jogador a desafiar a lei do passe, amante declarado da música, Afonsinho curte uma roda de samba em Natal. Aos 62 anos, permanece o constestador de sempre.

MILÊNIO ESTÁ ATRASADO NO RN 09

CIDADES

/ PAULO VINÍCIUS COELHO /

O pecado mortal do Brasil foi deixar de produzir meias armadores. ESPORTES, 15

/ TOSTÃO /

Apesar da importância, não é de bom senso mudar tudo só por causa de uma derrota na Copa. REPRODUÇÃO

/ RUIM / GOVERNO SE COMPROMETEU EM 2000 A CUMPRIR AS OITO METAS DO MILÊNIO PROPOSTAS PELA ONU, MAS ESTÁ MAL EM SETORES COMO EDUCAÇÃO, SANEAMENTO E COMBATE À FOME

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ESPORTES, 16 HUMBERTO SALES / NJ

ECONOMIA

AINDA HÁ QUEM SINTA FALTA

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EMPREENDER

MODA, CULTURA E OUSADIA Projeto Natal Pensando Moda ensina empresas de confecção como a de Patrícia Vieira a misturar moda e cultura.

Vinte anos depois de ter sido liquidado, em meio a uma acirrada campanha política, o Banco do Estado do Rio Grande do Norte ainda é lembrado pelos segmentos empresariais como um

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CIDADES

instrumento importante para promover o desenvolvimento do RN. Embora faça falta, é unânime, entre as lideranças econômicas, que as ingerências políticas foram prejudiciais, a ponto de serem

IVAN CABRAL

MAGNUS NASCIMENTO / NJ

apontadas como uma das razões que fizeram com que o banco fosse fechado, deixando atônitos correntistas, aplicadores e funcionários. Processo de liquidação durou dezoito anos.

WWW.IVANCABRAL.COM

UMA MULHER VAI COMANDAR A UFRN Duas chapas, lideradas por mulheres, vão disputar sucessão do reitor Ivonildo Rêgo. 02

ÚLTIMAS

TRE DE PLANTÃO PARA CANDIDATOS O TRE faz plantão hoje, das 8h às 13h, para registro de candidaturas. Prazo final é amanhã, dia 5.

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CULTURA

CHICO ELION E A SUA “VARIETÉ” Aos 80 anos, o compositor Chico Elion relembra a carreira e o tempo de rádio, no seu “Varieté Transa Bacana”.


Últimas 2

Editor Marcos Bezerra

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/ NOVO JORNAL / NATAL, DOMINGO, 4 DE JULHO DE 2010

STF CONFIRMA FICHA LIMPA / JUSTIÇA / DEPOIS DE DUAS SENTENÇAS FAVORÁVEIS, VICE-PRESIDENTE STF NEGA PEDIDOS PARA SUSPENDER PUNIÇÕES FOLHAPRESS O VICE-PRESIDENTE DO

STF (Supremo Tribunal Federal), Carlos Ayres Britto, negou na noite de sexta-feira três pedidos de políticos para suspender a lei da Ficha Limpa. As decisões liminares do ministro, que está no exercício da presidência do tribunal, vêm de-

pois de duas sentenças favoráveis a políticos “ficha suja” -um do ministro Dias Toffoli e outra do ministro Gilmar Mendes. Um dos pedidos negados foi do deputado João Alberto Pizzolatti Júnior (PP-SC). Ele foi condenado pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina por improbidade administrativa. O ministro, que foi um dos

/ ELEIÇÕES /

TRE-RN faz plantão para receber registros O PRAZO FINAL para registro de can-

didatura termina amanhã e para receber os registros, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RN) estará de plantão hoje, das 8h às 13h. Até o fechamento dessa edição nenhum partido ou coligação potiguar havia realizado a inscrição. Para realizar os registros de candidatura o TRE-RN está de plantão desde ontem, funcionando apenas os setores de Protocolo, Secretaria Judiciária, Suporte e Sistemas Eleitorais. O prazo final para o registro de candidaturas encerra-se na segunda-feira, 05 de julho, às 19 horas. No último dia o órgão irá funcionar normalmente a partir das 8h.

No próximo dia 8 de julho o TRE irá divulgar a lista dos candidatos registrados, por meio do diário de justiça eletrônico. Segundo o secretário judiciário, Alexandre Albuquerque, o próprio candidato poderá solicitar o seu registro nos casos em que o partido se omitir, desde que tenha sido escolhido em convenção. “Após divulgarmos a lista, aqueles que não estivem inclusos poderão requerer a inscrição com até 48h, ou seja, até o dia 10 de julho”, explica. Se a convenção não indicou o número máximo de candidatos, os partidos poderão preencher as vagas remanescentes até o dia 4 de agosto.

/ MANOBRA /

Governo dobra gasto com publicidade O governo federal turbinou seus gastos publicitários nos meses anteriores à disputa presidencial de 2010. A média mensal dos valores pagos entre janeiro e junho de 2010 dobrou, em comparação com a média do mesmo período de 2009, 2008 e 2007. A curva suscita dúvida sobre desobediência à Lei Eleitoral. O texto

legal exige que a despesa com propaganda oficial no período da précampanha, no ano eleitoral, não ultrapasse a “média dos três anos anteriores”. A redação da lei é dúbia, o que permite ao governo dizer que a média citada é a anual, não a semestral. Assim, o governo diz que cumprirá a média anual, ao final de 2010. PAULO JARES / ABR

▶ Brasil conquistou os torcedores haitianos com amistoso em 2004 / TORCIDA /

ELIMINAÇÃO DO BRASIL CAUSA MORTES NO HAITI A ELIMINAÇÃO DO

Brasil da Copa da África do Sul deixou um saldo de quatro mortos no Haiti. De acordo com informações do site da revista IstoÉ, dois haitianos torcedores da seleção brasileira cometeram suicídio após a partida, jogando-se na frente de carros para serem atropelados, enquanto outro torcedor faleceu logo após a partida, vítima de um ataque cardíaco fulminante, em Porto Príncipe. Na

Zona Rural do Haiti, um quarto torcedor foi apunhalado depois de se envolver em uma briga com torcedores da Argentina. A população haitiana havia adotado a seleção brasileira como a favorita durante o mundial. Durante a partida de sextafeira contra a Holanda, a polícia dispersou vários tumultos em Porto Príncipe onde os torcedores assistiam ao jogo em telões instalados pela prefeitura.

defensores da Ficha Limpa, negou a liminar com o argumento de que não poderia suspender individualmente uma decisão tomada por um colegiado de juízes. “Se não é qualquer condenação judicial que torna um cidadão inelegível, mas unicamente aquela decretada por um “órgão colegiado’, apenas o órgão igual-

mente colegiado do tribunal ad quem [instância superior] é que pode suspender a inelegibilidade”, afirma Ayres Britto Ele disse ainda que o deputado não foi condenado pelo exercício de seu mandato, mas por ser sócio de uma empresa que teve um contrato com a Prefeitura de Pomerode (SC) considerado irregular pela Justiça.

O segundo pedido foi do exprefeito de Montes Claros (MG) Athos Avelino Pereira e do ex-vice-prefeito Sued Kennedy Parrela Botelho, condenados pela Justiça Eleitoral de Minas. O argumento do ministro foi o mesmo. Já para Juarez Firmino, condenado pelo TRE-PR, Britto afirma que o STF não pode suspender recurso da Justiça Eleitoral.

NELSON JUNIOR / TSE

▶ Ministro Ayres Britto


Política

Editor Viktor Vidal

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NATAL, DOMINGO, 4 DE JULHO DE 2010 / NOVO JORNAL /

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UM MILÊNIO EM 4 ANOS

/ INDICADORES / MANDATO DO PRÓXIMO GOVERNADOR SERÁ DECISIVO PARA RN SAIR DO ATRASO NO CUMPRIMENTO DAS METAS DO MILÊNIO WALLACE ARAÚJO / NJ

▶ Andreia Mendes ilustra a situação da miséria no RN, que ocupa a nona posição entre os mais pobres MARCELO LIMA

DO NOVO JORNAL

OS PRÓXIMOS QUATRO anos do novo governo, cujos candidatos disputam a vaga em outubro, serão decisivos para o cumprimento das metas do milênio até 2015 no Rio Grande do Norte. Em 2000, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu os oito objetivos do milênio: acabar com a fome e a miséria; garantir ensino básico de qualidade para todos; promover a igualdade entre os sexos e a valorização da mulher; reduzir a mortalidade infantil; melhorar a saúde materna; combater AIDS, malárias e outras doenças; promover a qualidade de vida e o respeito ao meio ambiente; o trabalho de todos em prol do desenvolvimento. Os governos e entidades não-governamentais se comprometeram a modificar drasticamente os indicadores sociais, usando como referência os números de 1990. Uma década depois de fir-

mado o acordo, o Movimento Nacional pela Solidariedade e Cidadania analisou o cumprimento das metas com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Rio Grande do Norte ainda apresenta resultados que preocupam. O primeiro objetivo é acabar com a fome e a miséria. Nesse ponto, o Rio Grande do Norte é o nono Estado brasileiro que mais possui pessoas em condições de indigência. Isso significa que 19% da população potiguar vive com menos de R$ 127 por mês; são um pouco mais de 570 mil pessoas. Afora os miseráveis, ainda há 22,9% de norte-rio-grandenses abaixo da linha da pobreza, ou seja, que vivem com menos de R$ 255 por mês. Andreia Mendes da Silva, de 21 anos, ilustra a situação desse meio milhão de cidadãos miseráveis. Ela não tem residência, nunca foi à escola e não possui emprego fixo. “Eu faço programa, não vou mentir”, conta. Segundo ela, os seus

Educação Taxa de frequência no ensino fundamental de alunos dos 7 a 14 anos. 96,6% 96,1% 96% 96% 95,9%

Taxa de conclusão do ensino fundamental entre jovens de 15 a 17 anos 1º São Paulo 2º Santa Catarina 3º Paraná 4º Mato Grosso 19º Rio Grande do Norte 20º Maranhão 21º Alagoas

77,4% 76,4% 68% 67% 35,5% 38,4 38,2

Taxa de frequencia no ensino médio de alunos de 15 a 17 anos 1º São Paulo 2º Santa Catarina 3º Paraná 4º Amapá 21º Rio Grande do Norte 22º Bahia 23º Pará

69,2% 59,8% 57,9% 57,6% 35,5% 35,4% 35,1%

FONTE: IBGE – CENSO DEMOGRÁFICO/ PNAD/ MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO – INEP.

Pobreza Pessoas abaixo da linha da miséria (vivem com ¼ do salário mínimo) 1º Alagoas 2º Maranhão 3º Piauí 4º Ceará 8º Sergipe 9º Rio Grande do Norte 10º Amazonas

▶ Maria da Conceição também engrossa o quadro da pobreza no estado clientes pagam preços módicos e o faturamento “não dá para viver, mas dá para se manter”. Andreia Silva afirmou ganhar menos de R$ 200 por mês e nunca foi beneficiada por um projeto social dos governos. Os seus pais faleceram e o único parente vivo é sua avó. A jovem fica acompanhada de mais alguns moradores de rua na avenida do Contorno, próximo ao viaduto do baldo, mesma situação de Maria da Conceição Oliveira. De toda a população do Rio Grande do Norte, 58% das famílias ganham um valor maior que meio salário mínimo. Mas a população estadual é apenas a 17ª colocada nessa lista. Para se ter uma ideia, o Estado de Santa Catarina possui 87% com renda acima de R$ 255, valor que delimita a linha da pobreza.

PROJEÇÃO

Apesar desses números, o secretário estadual de Trabalho, Habitação e Assistência Social, José Gersino Saraiva, con-

sidera que o Estado evoluiu bem nesses dez anos. “O Rio Grande do Norte está numa situação de projeção além do que deveria”, afirma. No entanto, reconhece que nas questões relacionadas ao meio ambiente, como o saneamento, o estado vai mal. Ele justifica que o governo estadual desenvolve uma política de segurança alimentar que compreende programas assistencialistas como: a rede de restaurantes populares, a merenda escolar, projeto Cidadão Sem Fome e Programa do Leite. “O índice de carência alimentar baixou muito ao longo desses anos”. Atualmente é 14,5%. “Temos problemas, mas onde é que não tem”, diz o secretário. Contudo, ele acredita no cumprimento dos objetivos antes de 2015. A meta do Rio Grande do Norte é reduzir a pobreza pela metade. O indicador está em 42% da população e a intenção é chegar a 34%. Em 1990, 69% da população era pobre.

OS OITO OBJETIVOS DO MILÊNIO

▶ 1. Acabar com a fome e a miséria

▶ 2. Garantir educação básica de qualidade para todos 3. Promover a igualdade entre os sexos e a valorização da mulher ▶ 4. Reduzir a mortalidade infantil ▶ 5. Melhorar a saúde materna ▶ 6. Combater a AIDS, malária e outras doenças ▶ 7. Promover a qualidade de vida e o respeito ao meio ambiente ▶ 8. Todos trabalhando pelo desenvolvimento

NA EDUCAÇÃO, MAIORIA NÃO CONCLUI ENSINO FUNDAMENTAL

POSIÇÃO DO RN NA EDUCAÇÃO E NA POBREZA

1º São Paulo 2º Rio Grande do Norte 3º Paraíba 4º Espírito Santo 5º Tocantins

WALLACE ARAÚJO / NJ

30,3% 26,6% 25,5% 23,2% 19,5% 19,2% 19%

Embora o Rio Grande do Norte apresente a segunda melhor taxa de frequência no Brasil de alunos entre 7 e 14 anos no ensino fundamental (1º ao 9º ano), com 96,1% dos estudantes nas salas de aula, atrás apenas de São Paulo, à medida em que o nível de ensino aumenta, os índices mostram que os alunos se distanciam da escola. Apenas 38% dos estudantes de 15 a 17 anos do ensino fundamental conseguem concluir essa etapa dos estudos. Com esse número, o Rio Grande do Norte é o 19º Estado brasileiro quando o assunto é conclusão do ensino fundamental. No que se refere ao ensino médio (1º, 2º e 3º ano), a taxa de frequência também é uma das piores, a 21º do país. Somente 35,5% dos adolescentes entre 15 a 17 anos frequentam uma instituição de ensino. Para o secretário estadual da Educação, Otávio Tavares, dar acesso quase universal no ensino fundamental é um passo. Outro ponto é a continuidade da vida escolar do aluno. “Uma coisa é a questão do acesso, outra é a permanência, e outra é o sucesso na trajetória escolar”, diz. E observa também: “temos que analisar esses dados em um contexto de um país extremamente desigual”. De acordo com o secretário, muitos alunos de ensino médio trabalham e estudam. Quando não dá para conciliar as duas atividades, o aluno opta pelo emprego, uma vez que a necessidade financeira é colocada em pri-

TIAGO LIMA / NJ

▶ Salas vazias: apenas 38% dos estduantes de 15 a 17 anos concluem o Ensino Médio meiro plano. Na visão de Otávio Tavares, não é possível dar a mesma justificativa para a evasão dos alunos em escolas diferentes. “Não dá para se ter a mesma explicação para todos os municípios e todas as regiões do Brasil. Também temos que nos lembrar dos fatores internos de cada escola”, comentou. Pelo menos na Escola Estadual Felizardo Moura, no bairro das Quintas, a diretora tem uma explicação. “A falta de professores contribui muito. Eles vão deixando de vir e acabam-se evadindo completamente”, analisa a diretora Margareth Martins da Mata. Na escola, o turno vespertino deixou de funcionar desde 2009 por falta de alunos, tanto no ensino fundamental quanto no médio. “Nas turmas de 3º e 2º ano

era muito difícil de formar turma para o ensino médio. Às vezes chegava a ficar entre 20 e 22 alunos por turma”, disse. De acordo com a diretora, a Secretaria Estadual de Educação (SEEC) definiu 35 estudantes como o número mínimo para a formação de uma turma nessa fase da educação formal. Só no ano passado, oito escolas da rede estadual foram extintas por falta de alunos. Na capital, as escolas Professor Acrísio Freire, Professor Paulo Freire, Rotary Club Natal Alecrim e Encontro de Irmãos deixaram de existir. Em Mossoró, as escolas estaduais Jerônimo Vingt Rosado Maia, Maria Virgínia de Oliveira e Nossa Senhora de Fátima. No município de Portalegre, a escola Ana Nunes Rêgo deixou de funcionar.

A extinção foi confirmada por meio de decretos da então governadora Wilma de Faria e o secretário de Educação Ruy Pereira, em agosto de 2009. No que diz respeito à igualdade entre os sexos, o estudo do Movimento pela Cidadania e Solidariedade considera a meta alcançada. Em 2008, mulheres de 18 a 24 anos de idade tinham um ano de estudo a mais que os homens da mesma idade. No entanto, elas perderam ligeiramente campo de trabalho para os homens e os seus salários ainda não são iguais ao dos profissionais do sexo masculino. Para o Movimento, todos os Estados brasileiros atingiram a meta nesse quesito.

CONTINUA NA PÁGINA 5 ▶


Opinião 4

Editor Franklin Jorge

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/ NOVO JORNAL / NATAL, DOMINGO, 4 DE JULHO DE 2010

Editorial 2014: tudo é urgente ▶ rodaviva@novojornal.jor.br

SEGUNDA GOVERNADORA

TROCAR DE CANAL

O Rio Grande do Norte ganha uma segunda governadora. É a professora Tereza Neuma de Castro Dantas, Coordenadora Executiva do Núcleo Tecnológico Petrobrás/UFRN, que assumiu a direção do Distrito L 4500, do Rotary Clube. Contando com 88 clubes e 2.270 associados, nos Estados de Pernambuco Paraíba e Rio Grande do Norte, o Distrito do Rotary já tinha tido outra Governadora do Rio Grande do Norte, a Sra. Aldanira Pereira Barreto.

A eleição de outubro, depois que o time brasileiro foi desclassificado na Copa do Mundo, começa a ganhar as condições para começar a ocupar os corações e mentes da grande maioria que estava ligada preferencialmente no Mundial. Enquanto a jabulani rolava, muito foi feito, discutido, acordado, decidido e noticiado, embora o interesse da grande maioria estivesse ligado em outro canal. A campanha eleitoral, na verdade, ocupava quase todo o interesse de jornalistas, assessores, políticos, candidatos e suas famílias. Vale lembrar que, mesmo assim, a fila não parou de andar. E o respeitável público precisa saber que – pelo menos – os times já estão escalados, mesmo levando-se em conta a nossa insegurança jurídica, sobretudo, em matéria de Direito Eleitoral. Num ano de eleição para presidente da República, começando empatada – segundo o Datafolha – entre José Serra e Dilma Roussef (com Marina Silva correndo por fora), a eleição estadual tem tudo para ser o principal alvo das atenções gerais, também com três principais candidaturas: 1 – Iberê Ferreira de Souza (com uma coligação que tem o PSB-PTPPS-PTB como seus principais legendas), que assumiu o governo em abril, com a renúncia de Wilma de Faria, tendo o ex-secretário Vagner Araújo como vice. Para o Senado vai de Wilma de Faria e Hugo Manso; 2 – A senadora Rosalba Ciarlini (DEM-PSDB-PMN) formou uma chapa – chamada “chapa dos sonhos” - com o deputado Robinson Faria como vice e para o Senado, José Agripino e Garibaldi Alves, atuais Senadores: 3 – Carlos Eduardo (PDT-PC do B) tem o deputado Álvaro Dias como vice e o jornalista Sávio Hakcradt para o Senado. Até 17 de Agosto, quando começa a propaganda gratuita no rádio e na televisão, todos eles têm o desafio de provocar o interesse do eleitor. Mesmo com propaganda eleitoral liberada, esses próximos 33 dias vão servir, basicamente, para aquecer os tamborins até a corrida para os 62 dias de corrida na reta de chegada. Até lá, não faltarão emoções!

O 1º Encontro do Ministério Público Eleitoral será realizado nesta segunda-feira, na sede da Procuradoria Geral da Justiça. Os 69 Promotores de Justiça que vão atuar na área eleitoral vão discutir temas como propaganda eleitoral, fraude e voto consciente, em busca de uma ação comum. O Subprocurador Geral da República, Edílson França, participará do encontro, oportunidade em que o promotor Augusto Flávio Azevedo, apresentará a campanha elaborada para estimular o voto consciente.

SUPLENTE COM VOTOS

O senador Garibaldi Alves fez uma opção preferencial por suplentes com voto. O primeiro suplente, indicado pelo PV, é Paulo Davim, deputado estadual. O segundo, indicado pelo PR, é o exprefeito de Ipanguassu, João de Deus, com liderança em todo o Vale do Açu. Nesta segunda-feira será encaminhado o pedido de registro da chapa completa.

VIDA DE CRAQUE

Cícero Ramalho, o legendário goleador do Baraúnas, responsável pela desclassificação do Vasco da Gama numa Copa Brasil com o gol que marcou no estádio de São Januário, vai ter sua vida transformada em livro. O jornalista carioca Marcelo Migueres é esperado, neste domingo, em Mossoró, para colher depoimentos e pesquisar episódios da vida do ex-atleta.

HUMBERTO SALES / NJ

AÇÃO CONJUNTA

Toda a ação que venha no sentido de dar transparência é bem vinda”

PERCENTUAL MAIOR Segundo um experiente executivo da área de contratação de obras públicas, o percentual médio dos projetos na formação do custo final de qualquer obra não passa de 2,5%. Em casos excepcionais, esse percentual chega a 5% , sendo que por casos especiais são consideradas obras sem similar e que nem existem nos livros. A contratação – com dispensa de licitação – pelo governo do Estado do projeto do futuro estádio Arena das Dunas, projetado para custar R$ 400 milhões, por R$ 27 milhões, representa mais de 7% do total. Quase três vezes a média. Este é um dos pontos ainda não explicados.

ME-ENGANA-QUE-EU GOSTO Batizada de Refinaria Clara Camarão no ano passado, neste domingo, completa 22 anos que era instalado o que a Petrobrás chamou, na época, de “Polo de Produção de Guamaré”, para processar gás natural que havia sido descoberto no subsolo potiguar e quando não se dispunha de tecnologia para fazer o transporte de toda a produção. Desde então aquele polo agregou vários equipamento, até receber o apelido de refinaria, na verdade mini-refinaria, para justificar a localização das refinarias de verdade no Ceará e em Pernambuco.

ÔNIBUS DA TV

A engenharia política que criou a candidatura de Wober Júnior para deputado federal – criando uma ameaça para Sandra Rosado – pode virar pó. Como a presença do PPS na coligação pode tirar Lula e Dilma (muito mais Lula) da programação da TV, a orientação nacional é expelir as legendas intrusas (o PPS apóia Serra). Nesta segundafeira termina o prazo das definições e pode pintar o cartão vermelho. No plano local, o problema é que a força maior é o PSB. E foi lá que pariram a candidatura de Wober.

A Rede Bandeirantes prepara o lançamento, nos próximos dias, de um “reality show” montado em cima de um ônibus – on the road, o ‘Busão do Brasil”- que vai percorrer o país com 12 candidatos que serão submetidos a várias provas, sonhando em ganhar R$ 1 milhão. Uma dessas etapas, no Rio Grande do Norte, tendo como cenário o Lajedo da Soledade, no município de Apodi. O programa é inspirado no The Bus, já exibido na Holanda, Bélgica e Espanha

FORA DE HORA

INSEGURANÇA JURÍDICA

DO DEPUTADO FERNANDO MINEIRO SOBRE A ABERTURA DE INQUÉRITO, PELO MINISTÉRIO PÚBLICO, PARA ESCLARECER A DISPENSA DE LICITAÇÃO PARA O CONTRATO, DE R$ 27 MILHÕES, DO PROJETO DA ARENA DAS DUNAS.

CARTÃO VERMELHO

Nem Marinho Chagas gostou da homenagem que a prefeitura quis lhe prestar na hora do jogo Brasil X Holanda. Uma das coisas para esquecer na brilhante carreira de Marinho foi, justamente, a partida que ele disputou contra a Holanda em 1974. Como esqueceram de combinar com a FIFA, a solenidade na Praia do Meio foi iniciada quando o jogo havia começado. Resultado: Marinho terminou sem assistir a partida, pelo menos até o empate da Holanda. * Mesmo boas idéias, executadas de última hora, terminam dando efeito negativo na administração pública. O efeito positivo imediato termina virando um problema futuro. Como o que a prefeitura está enfrentando com as bandas participantes do Dia do Rock, em junho do ano passado, ainda cobrando seus cachês ao pagos.

Caso o Tribunal Superior Eleitoral concorde em modificar a interpretação dada ao uso do rádio e televisão entre aliados (que tira o presidente Lula da maioria dos palanques eletrônicos) vai aumentar o sentimento de insegurança jurídica. Agravado com as brechas que estão sendo abertas para garantir candidaturas de fichas-sujas. Os governistas prometem reação, votando uma lei acabando a verticalização da propaganda.

ZUM ZUM ZUM ▶

Brasil 3 X 1 Coréia do Sul , na madrugada deste sábado. - Brasil país do voleibol. Brasiiiiiil! ▶ No Datafolha, os números do Nordeste repetem o Ibope: 47 (Dilma) a 30 (Serra). A reação de Serra foi no Sul (50 a 32). ▶ A prefeita Micarla de Sousa cria o Cadim Municipal para ter uma lista dos

inadimplentes com o município. ▶ Programa de domingo do senador José Agripino: Feirinha de Santana, no bairro de Capim Macio. ▶ Título de anúncio da Volkswagen (patrocinador da CBF): “A gente nuca deixa de acreditar na seleção brasileira: faltam 49 meses para o Hexa”. ▶ Nesta segunda-feira a revista Foco

faz a festa para lançar sua edições com as empresas mais lembradas – “Top of mind” – do RN ▶ A TV Senado suspendeu as retransmissões no período eleitoral. Agora só bota no ar transmissões ao vivo das sessões. ▶ Para ser deglutido pelo empresariado, Lula lançou uma “Carta ao Povo

Passada, para nós, a Copa de 2010, que se transformou em fiasco parecido com o de quatro anos antes, tudo agora se volta para a Copa de 2014, desde a escolha da nova comissão técnica da seleção brasileira aos preparativos de organização, uma vez que o torneio vai ser promovido no Brasil. No que nos interessa mais de perto, Natal, escolhida para ser uma das sedes, mantém uma estranha e pouco amistosa convivência entre os responsáveis pelo evento e as entidades com quem deveriam estar mais sintonizados, situação provocada, principalmente, pela falta de transparência nas medidas que vêm sendo adotadas. É o caso das secretarias da Copa e da Infra-estrutura com o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea). O governo realizou uma polêmica dispensa de licitação em que pagará R$ 27 milhões a duas empresas, ambas de fora do estado, para fazer, somente, o projeto arquitetônico e o projeto executivo da Arena das Dunas, o estádio que será erguido no lugar do Machadão. A explicação da Procuradoria Geral do Estado – de que não havia outras empresas capacitadas para elaborar os projetos, no RN ou fora dele – causou tanta estranheza que provocou reações imediatas. Parlamentares oposicionistas cobraram investigação e mesmo os aliados políticos do governo defenderam mais clareza no procedimento. O Crea garante que é ilegal – e que há outras empresas capazes de realizar os projeto, o que tornaria, portanto, a licitação necessária. O Ministério Público decidiu então instaurar um inquérito para apurar a dispensa de licitação. Essa polêmica é só um viés da Copa de 2014 em Natal – a da necessidade de os gastos públicos serem divulgados, para afastar qualquer suspeita de irregularidade. Vale tanto para a construção do estádio como para as obras de mobilidade urbana, que farão da cidade um canteiro de obras. Há, porém, um outro tipo de atenção para a qual deve se voltar o gestor público: fazer o que já existe funcionar bem. Tome-se o exemplo noticiado ontem por este NOVO JORNAL. Em dia de jogo do Brasil, com trânsito infernal e com chuva, em pelo menos quatro cruzamentos o sistema de semáforos não funcionou, ampliando os riscos de acidentes. Tem sido freqüente. Chuva é sinônimo de sinal queimado. A prefeitura anuncia providências que precisam, na prática, ser executadas. Os desafios são inúmeros, dos maiores, como construção de estádio, aos aparentemente menores, como o funcionamento correto dos semáforos. Para uma cidade que deve receber milhares de turistas em 2014, tudo passa a ser urgente.

Brasileiro”; para conquistar a classe D, Serra prepara uma “Carta Social”. ▶ Eike Batista, o homem mais rico do Brasil, já atingiu a marca dos 44 mil seguidores no twitter. ▶ Faz 50 anos neste domingo que o candidato a presidente da República Juscelino Kubistchek visitava a cidade de Mossoró.

Artigo CARLOS MAGNO ARAÚJO Diretor de Redação ▶ carlosmagno@novojornal.jor.br

O craque e o lenitivo Quem acompanha futebol – e tem o bom gosto de ser tricolor – lembra que o Fluminense campeão brasileiro de 84 tinha um meio campo técnico. Os destaques eram Assis e Romerito, mas havia um volante de classe chamado Delei, que vem de Wanderley, seu nome de batismo. Hoje é deputado federal pelo PSC do Rio de Janeiro. Eu que vibrei tanto com ele, o Delei, sou vítima dele nessa Copa. Não dele propriamente, mas de um homônimo que é muito chato. Nas ruas, os botecos gritaram gol primeiro. Os vizinhos gritaram gol primeiro que eu. E até os carros buzinaram festejando o gol antes que eu pudesse soltar o meu grito. Uma frustração danada. É como chegar à festa com todo mundo já bêbado, te dando tapa nas costas. Ou como correr para chegar à pré-estreia na hora marcada e notar que, apesar do esforço, o filme começara antes. As tevês abertas estão se vingando. À febre dos canais fechados, com sua oferta mais variada e sua programação específica e dirigida, está respondendo com mais agilidade. Delay, o nome do fenômeno, é, no grosso modo, como se chama o tempo em que a imagem parte do local de transmissão, vai até o satélite e é distribuída para as residências. Nos canais fechados, digitais, acaba gerando uma diferença de tempo em comparação com os canais abertos, ainda “analógicos”. Por incrível que pareça, o analógico é mais rápido do que o digital. Muitos espectadores migraram para os canais fechados porque a maioria deles é temático. Há os que tratam só de esportes; outros, só de músicas; outros, só de filmes; outros, de documentários, de desenhos animados. E por aí vai. É divertimento, conforto, informação e lazer segmentados e a qualquer hora do dia. Essa péssima Copa para o Brasil foi a do Delay. No jogo contra a Coreia, menos. Mas na partida contra a Costa do Marfim, quando o Brasil inventou de fazer três gols, a diferença de tempo foi gritante. Quando Luis Fabiano tocou na bola pela primeira vez já começaram os gritos na vizinhança. Quando deu o segundo lençol e meus olhos ainda arregalavam a expectativa pelo desfecho da jogada, o mundo (não só a vizinhança) vibrou. Festa com muxoxo. Igual a do terceiro gol, de Elano. Como era possível? Kaká mal chegara à linha de fundo, e o grito já estava no meio da rua? Nem Galvão Bueno imaginava vingança tão maligna. A maioria dos meus amigos arrotou, feliz da vida, a solução definitiva para se livrar do narrador da Globo: a TV fechada. Todos eles, por causa daquele homônimo amigo meu, o delay, estão hoje rendidos. O jeito é mesmo recorrer à Vênus Platinada. Eu lembro da classe do Delei, o outro, e encontro meu lenitivo.


▶ POLÍTICA ◀

NATAL, DOMINGO, 4 DE JULHO DE 2010 / NOVO JORNAL /

Painel RENATA LO PRETE Da Folha de São Paulo

painel@uol.com.br

Última instância As duas decisões do Supremo liberando as candidaturas do senador Heráclito Fortes (DEM-PI) e de uma deputada estadual de Goiás, ambos enrolados com a Lei da Ficha Limpa, disseminaram na base governista o discurso de que a regra terá aplicação bem mais reduzida do que se imaginava nas eleições. A avaliação é amparada nas palavras do ministro José Antonio Dias Toffoli, segundo quem a lei ‘apresenta elementos jurídicos passíveis de questionamentos’. Além disso, especula-se que, caso a ministra Cármen Lúcia dê parecer favorável a uma reclamação do ex-deputado Carlos Gratz (PSL-ES), para quem a lei é inconstitucional, as proibições cairiam em cascata.

BORRACHA Se a suspensão dos efeitos da Lei da Ficha Limpa no STF tiver sequência, a avaliação dos governistas é que poderá abafar a principal bandeira do vice de José Serra, o deputado Indio da Costa (DEM-RJ).

RÉGUA

A direção do PSDB fará uma reunião nesta semana com todos os presidentes dos diretórios estaduais para mapear conflitos que persistem na aliança com DEM e PPS. Além de eventual ‘enquadramento’ nos casos mais complexos, o partido cobrará mobilização de candidatos a deputado para as visitas de José Serra.

NA RAIZ

A coordenação da campanha de Serra usa um dado do último Datafolha para sustentar que a campanha adversária tem mais mobilização nas bases: 43% acham que Dilma ganhará a eleição, contra 33% de Serra, apesar do empate técnico.

BOLSO

Um dirigente tucano adverte: ‘É bom que fique claro que se faltar apoio nas bases, como ocorreu em 2006, vai faltar dinheiro para muita gente também’.

SANTINHOS

Um governista fez a conta: dado o maior número de partidos na aliança, Dilma terá mais candidatos espalhando seu nome nos Estados. A matemática dos petistas prevê volume 40% superior ao de Serra.

SEM PANETONE

Apesar de Serra ter cedido a vaga de vice ao DEM, lideranças do PT afirmam que

FALTAM ESGOTAMENTO SANITÁRIO E FOSSAS HUMBERTO SALES / ARQUIVO NJ / 27.03.10

o partido não pretende explorar o episódio do mensalão de José Roberto Arruda no Distrito Federal. Motivos: os petistas temem que a ideia suscitaria o troco de ‘demos’ e tucanos, lembrando o escândalo de 2005, e implodiria o discurso de campanha ‘paz e amor’ de Dilma.

ROTEIRO 1

Desde que saiu da Casa Civil para disputar as eleições, Dilma não foi nenhuma vez ao Paraná e só visitou uma única cidade em Santa Catarina. Isso deve mudar, numa tentativa dos petistas de quebrar o favoritismo de Serra na região.

ROTEIRO 2

Estado em que Dilma fez a carreira política, o Rio Grande do Sul recebeu quatro visitas da petista até agora. A proporção será mantida para tentar alavancar votos nas ‘origens’ e arrebanhar a militância de Tarso Genro (PT), candidato ao governo gaúcho.

SHOPPING 1

Antes de se acertar com Duda Mendonça, Marta Suplicy (PT) procurou os serviços de João Santana, que fez sua campanha de 2008 à prefeitura paulistana. O marqueteiro explicou que neste ano ficará concentrado na candidatura de Dilma Rousseff à Presidência.

SHOPPING 2

A parceria firmada entre Marta, que concorrerá ao Senado, e Duda, que fará também a campanha de um adversário de Aloizio Mercadante ao governo (Paulo Skaf, do PSB), ainda não foi digerida por muita gente no PT de São Paulo, mas teve um padrinho de peso: José Dirceu.

TIROTEIO Lula está acostumado a entrar em disputas “nadando de braçada’. Agora quero ver desta vez, em que o jogo está zero a zero. DO DEPUTADO ACM NETO (DEM-BA), sobre o resultado da pesquisa Datafolha que mostra Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) tecnicamente empatados.

CONTRAPONTO MERCADO FUTURO O líder do DEM na Câmara, Paulo Bornhausen (SC), telefonou na semana passada para Antonio Palocci (PT-SP) para tratar de um projeto de relatoria do petista. Lá pelas tantas, brincou: _Estou de olho no seu movimento para tentar implementar o parlamentarismo no Brasil! Palocci, um dos principais colaboradores da campanha de Dilma Rousseff, logo se esquivou: _ Que história é esta? Eu, imagina... Ao que Bornhausen emendou: _Falo sobre o desejo de virar primeiro-ministro...

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▶ Esgoto é jogado no Rio Jundiaí CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 3 ▶ A meta relacionada a Meio ambiente e qualidade de vida envolve ações que possibilitam o acesso a rede de água potável, esgotamento sanitário e coleta de lixo. No que se refere a casas com rede de abastecimento de água canalizada, o Rio Grande do Norte conquistou o almejado: somente 15% dos domicílios não têm esse serviço. A coleta de lixo cobre quase 100% das residências no meio urbano. Porém, o acesso ao saneamento básico com coleta adequada de resíduos ou fossas sépticas ainda é um dos piores dos Brasil. O Estado ocupa a 6ª posição no país entre os que menos oferecem esgotamento sanitário ou fossas nas zonas urbanas: 45% da população não têm esse serviço. Além disso, em abril desse

NÚMEROS ESCONDEM DISTORÇÕES De acordo com relatório divulgado no final do mês passado, a ONU acredita que o Brasil vai atingir os objetivos, mas as desigualdades regionais e locais continuarão, uma vez que os números podem esconder algumas distorções. O Movimento Social pela Solidariedade e Cidadania, vinculado à Secretaria Geral da Presidência da República, organiza núcleos estaduais para monitorar as metas. No Rio Grande do Norte, Jorge Alberto Cardoso é o representante da Federação das Indústrias do Estado (Fiern) no núcleo. Segundo ele, essas organizações locais têm a missão de incentivar o trabalho de organizações não-governamentais e dos municípios na direção das Metas do Milênio.

ano, a Promotoria do Meio Ambiente em parceria com o Instituto de Desenvolvimento de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (IDEMA) constatou que nenhuma das estações de tratamento de esgotos de Natal funcionava adequadamente. “A população paga para que a Caern faça a coleta, tratamento e destinação dos resíduos. Mas na verdade só está havendo a primeira etapa”, acrescentou a promotora de defesa do Meio Ambiente, Gilka da Mata, à época. Ainda no mês de abril, a Caern firmou um acordo com a promotoria para recuperar as estações de tratamento até setembro de 2011. Algumas obras já estavam em processo de licitação. Essa meta do milênio também contempla a avaliação de atividades de impactos no meio ambiente nos municípios brasileiros. “Alguns já foram alcançados em outros estados. Em outros, temos que concentrar os esforços em determinados objetivos”, disse. Na avaliação de Jorge Cardoso, as metas serão atingidas dentro do prazo. “É algo que vai ter continuidade independentemente de quem venha ocupar o governo”, declarou. Ele ressaltou também que o acordo foi assinado por todos os governos ligados a ONU. Nessa reta final de cinco anos, o membro do núcleo falou que o mais importante é orientar os recursos municipais em prol dos objetivos. “Tem projetos funcionando em paralelo para o mesmo objetivo. O problema é que na maioria das vezes, as prefeituras têm pouca pólvora [dinheiro] para muita coisa”, comentou. A 8ª meta do milênio não envolve um número específico, mas reúne algumas ideias para o desenvolvimento sustentável.

DADOS SOBRE METAS DO MILÊNIO NO RN

Promoção da qualidade de vida e o respeito ao meio ambiente Moradores de domicílios urbanos sem acesso a esgoto sanitário ligado a rede geral ou fossa séptica 1º Mato Grosso do Sul 2º Amapá 3º Goiás 4º Tocantins 5º Alagoas 6º Rio Grande do Norte 7º Mato Grosso

73% 65% 61% 59% 52% 45% 39%

Saúde materna Em cada cem mil partos, 40 mulheres morrem. O objetivo é chegar a 10,8 mortes de mães. Nesses dez anos o avanço em busca da meta foi de apenas de 9%.

Mortalidade infantil A intenção do Rio Grande do Norte é atingir os 14,8 bebês mortos, com idade de até um ano, a cada mil nascidos vivos. O dado mais recente, de 2008, mostra que no Estado morrem 17 crianças a cada mil com até um ano de idade. De acordo com Movimento Nacional pela Solidariedade e Cidadania, que gerencia os objetivos do milênio, cerca de 40% de mortes nessa faixa de idade não são registradas no RN. O secretário de Assistência Social acredita que a distribuição gratuita de leite à população carente auxilia na diminuição da mortalidade.

Combate à AIDS e outras doenças A meta de todos os Estados brasileiros é atingir uma queda permanente nos casos de AIDS, malária e dengue. Ao contrário do que se esperava, o Rio Grande do Norte registrou um dos maiores crescimentos de casos, com 20% a mais. Outros 20 estados brasileiros também apresentaram acréscimos.

Combate a Aids, malária e outras doenças 1º São Paulo - 9% de decréscimo 2º Minas Gerais e Rio de Janeiro - 5% de decréscimo 3º Distrito federal – 4% de decréscimo 15º Mato Grosso – acréscimo de 14% 16º Rio Grande do Norte - acréscimo de 20,7% 17º Amapá – 24% de acréscimo FONTE: MINISTÉRIO DA SAÚDE – DATASUS / OBJETIVOS DO MILÊNIO.

ESTADO OCUPA A 6ª POSIÇÃO NO PAÍS ENTRE OS QUE MENOS OFERECEM ESGOTAMENTO SANITÁRIO OU FOSSAS NAS ZONAS URBANAS


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▶ OPINIÃO ◀

/ NOVO JORNAL / NATAL, DOMINGO, 4 DE JULHO DE 2010

FRANKLIN JORGE Jornalista

Ítalo Calvino e a literatura ÍTALO CALVINO VIU a literatura como a “Terra Prometida” em que a linguagem se torna aquilo que na verdade deveria ser — mais que uma superfície –, um campo lavrado, não de maneira casual e descuidada, porém segundo exigências capazes de traduzir as “nuanças do pensamento e da imaginação”. Ele o diz na terceira das seis conferencias que faria no Massachussets, a convite da Universidade de Harvard, em 1985-86, como escritor visitante daquele ano letivo que foi também o da sua morte. Como sabemos, Calvino chegou a escrever cinco das seis conferencias previstas, posteriormente reunidas por sua mulher, Esther Calvino, no livro “Seis Propostas Para o Terceiro Milênio” (Cia. Das Letras, São Paulo, 1990). A última, que não chegou a escrever, versaria sobre a Consistencia. As demais abordam os seguintes temas: 1) Leveza; 2) Rapidez; 3) Exatidão; 4) Visibilidade e 5) Multiplicidade. Todas relacionadas com o processo da criação literária. Escritor italiano, nascido em

1923 em Santiago de La Veja, Cuba, morreu em Siena quando se preparava para viajar para a América em atendimento ao honroso convite de Harvard. A exatidão, segundo Calvino, prevê pacientes e minuciosos ajustamentos – à maneira de Borges –, para resultar, no caso do texto literário, no que é: algo cristalino, sóbrio e arejado, sintético e esquemático, que conduz a uma linguagem tão precisa quanto concreta. Pertence Ítalo Calvino àquela maçonaria de escritores que conseguem ser além de criadores literários, críticos, autocríticos e metacriticos. Artistas, enfim, cônscios do que criam. Por isso, pode afirmar após quarenta anos escrevendo ficção, que “(…) logo me dei conta de que entre os fatos da vida, que deviam ser minha matéria-prima, e meu estilo que eu desejava ágil, impetuoso, cortante, havia uma diferença que eu tinha cada vez mais dificuldade de superar. Talvez que só então estivesse descobrIndo o pesadume, a inércia, a opacidade do mundo – qualidades que se aderem logo à escri-

franklinjorge@novojornal.jor.br

DO ROMANCE Borges, amante dos paradoxos, preconizou a morte do romance e a sobrevivência do conto, por sua antiguidade, porém creio que se equivocou. Já o conto que ele cria imortal anda mergulhado numa zona de sombras e ostracismo, apesar de sua natureza sintética que corrobora e exprime o espírito da época em que vivemos. Ao absorver e deglutir todos os gêneros literários, inclusive o poético, o romance afirma-se como a expressão máxima da pós-modernidade. Sua contradição reside num simples detalhe: não comporta invenções formais como as que foram propostas, por exemplo, pelo Nouveau Roman que começou e se finou com os seus propositores sensacionalistas, entre os quais Robbe-Grillet e Nathalie Serraute. Ainda hoje, romances como os que foram produzidos por Sterne e Joyce constituem menos criações romanescas do que curiosidades literárias em grande parte impalatáveis e indigeríveis para a maioria dos leitores – excetuando-se aí os pedantes e ditos “vanguardistas” –, embora contenham o gérmen difuso duma novidade artificial e fictícia, erroneamente chamada de vanguarda. Tais experimentos que fogem a uma fórmula que, por seu perfeccionismo não comporta invenções açodadas, especialmente aquelas de caráter desconstrutivistas, podem incitar a critica e estimular a produção de textos acadêmicos pontuais, sem conquistar, no entanto, os leitores mais exigentes, formados no gosto da leitura. Desses inventores se pode dizer o que disse Borges do “Ulisses” de Joyce que teria sido escrito porque estava previsto — segundo as leis univer-

ta, quando não encontramos um meio de fugir delas”. Como explorador e artífice que nunca é vago ou aleatório em seus desígnios, Calvino mergulha no universo infinito da literatura. Apressa-se, pois, lentamente, atormentado, como Baudelaire, pelo demônio da lucidez. Em busca da “escrita breve” expõe seu conceito de literatura total, conjectural e multíplice, decodificado nos valores que, segundo afirma ao referir-se a Valéry – tanto admira, sobretudo por seu rigor –, gostaria que fossem transferidos para a própria escritura. Entre esses valores está principalmente este: “(…) o de uma literatura que tome para si o gosto da ordem intelectual e da exatidão, a inteligência da poesia juntamente com a da ciência e da filosofia”. Uma literatura, em resumo, tão precisa quanto concreta constitui o seu legado para o Milênio. Uma literatura, como diria Calvino, que tomou a escrita como modelo de todo processo do real e mesmo como toda realidade cognoscível; ou, ainda, como a única realidade possível.

sais –, assim como estava previsto o beijo de Judas, sem o qual a divindade de Jesus não teria sido revelada aos homens… Ora, o romance é uma construção clássica; sua forma, como a do conto, já foi suficientemente burilada e um autor verdadeiramente hábil sabe por intuição que deve movimentar-se dentro de certos limites que não excluem propriamente a invenção, como faz entre nós a ficcionista Heloisa Maranhão, autora que explora e reinventa o universo feminino segundo uma perspectiva que foge completamente do convencional e engloba todas as épocas e os mais diversos sistemas sociais. Para Ítalo Calvino, um mestre do gênero – embora eu o prefira como ensaísta e critico –, seria o romance uma ‘’obra aberta” ou multíplice, cujo processo substitui “a unicidade de um eu pensante pela multiplicidade de sujeitos, vozes, olhares sobre o mundo, segundo aquele modelo que Mikhail Bakhtin chamou de ‘dialógico’, ‘polifonico’ ou ‘carnavalesco’, rastreando seus antecedentes desde Platão a Rabelais e Dostoiévski (…)”. Uma espécie de obra que, por sua natureza enciclopédica e antropofágica, anseia conter todo o possível, não dando a si mesma uma forma nem desenhando seus contornos, “permanecendo inconclusa por vocação constitucional, como vimos em Musil e Gadda”. O romance, relativamente recente como gênero, antecipa e condensa o espirito fragmentário e cosmopolita do nosso tempo composto de “uma rede crescente e vertiginosa de tempos divergentes, convergentes e paralelos”, enunciados em Borges, um autor da predileção de Calvino, fundador de uma tradição literária.

Franklin Jorge escreve nesta coluna aos domingos

Plural

Cartas do Leitor

FRANÇOIS SILVESTRE Escritor ▶ fs.alencar@uol.com.br

▶ cartas@novojornal.jor.br

Duas campanhas Em 1978, numa campanha sem chance de vitória, denunciamos o “acordo” da oposição local com a ditadura. O poder político e militar do regime começava a fazer água, mas ainda havia muita grana fácil para manipular resultados eleitorais. A prova disso foi o arranjo financeiro de uma multinacional, (Dow Chemical), via Golbery do Couto e Silva e Tarcisio Maia, para salvar uma empresa nacional, (UEB), em estado falimentar, que tinha na fachada o Gen. Albuquerque Lima e o ex-governador Aluízio Alves. Campanha inglória, mas bonita. O pouco que sobrou da resistência oposicionista, não cooptada pelo aluizismo, foi para as ruas e denunciou à exaustão o acordo espúrio. Até então, Aluízio Alves era o líder perseguido e eleitoralmente imbatível. Agora, por motivos não políticos e mal explicados até hoje, ele se rendia aos tradicionais inimigos e perseguidores contumazes. Seu discurso perdeu o rumo. E boa parte dos antigos aliados, que ele levou consigo para o outro lado, não vieram com ele quando refluiu e rompeu com os novos amigos. Mas a sua participação no “acerto” garantiu a vitória eleitoral do regime. A oposição autêntica ganhou em Natal, porém perdeu tão feio no interior que anulou a vitória da Capital. O líder imbatível que ajudou a derrotar o próprio partido pagou com a derrota pessoal na eleição seguinte. Em 1982, estávamos nós de novo noutra campanha desigual e fadada ao insucesso. Aluízio Alves não conseguiu o apoio dos novos aliados para voltar ao poder. Ainda lhe ofereceram o Senado. Ele apostou na fama de “invicto”, rompeu e saiu candidato. Onde foi buscar apoio? No mesmo lugar onde havia abandonado os aliados de outrora. Os que ele levou aos montes, trouxe de contar nos dedos. E se tínhamos feito uma campanha, em 78, espinafrando sua imagem; agora tentávamos em vão recuperar a imagem trincada irremediavelmente. De volta ao ninho do MDB, Aluízio encontrou guarida nas lideranças de Odilon Ribeiro Coutinho e Roberto Furtado. Dois grandes quadros humanos. Pequenos líderes eleitorais. O acordo espúrio de 78 e a armação casuística do voto vinculado levaram Aluízio Alves para sua primeira derrota eleitoral. Uma traulitada de cem mil votos. Dois imbatíveis do Nordeste derrotados. Aluízio Alves aqui e Marcos Freire em Pernambuco. O curioso é que Marcos Freire também vinha de um acordo impopular com Cid Sampaio, nas eleições anteriores para o Senado, em Pernambuco. Dois acordos sombrios, inexplicados, e uma tramóia jurídica armada pela cabeça do “democrata” Marco Maciel consolidaram a velha prática da politicagem nordestina. O que poderia ter sido uma mudança de hábitos políticos serviu de escola para manter a vocação de sesmaria hereditária deste belo e pequenino elefante. Té mais. François Silvestre escreve nesta coluna aos domingos

TIAGO LIMA / NJ

geral não tem despertado o interesse de outras publicações. Não fosse a sua curiosidade em investigar os fatos e o Foliaduto ainda estaria “dormindo” nos escaninhos do esquecimento. Márcio Tavares, Cidade Jardim

Academia de Letras

▶ Fernando Fernandes na berlinda Fernando Fernandes Muito mal contada essa história da dispensa de licitação para a construção da Arena das Dunas. O secretário Fernando Fernandes deu uma de presidente Lula: não sabe de nada. Difícil acreditar nele, o secretário da Copa. Os fatos estão aí, para reforçar a duvida sobre essa ação inteiramente despropositada, envolvendo milhões de reais! Tem coisa aí e cabe ao Ministério Público investigar com todo rigor que requer o caso que pinta como mais um escândalo numa sucessão de escândalos que acompanhamos impotentes, à espera da ação da justiça.O NOVO JORNAL tem prestado um grande serviço ao RN, trazendo ao conhecimento dos leitores informações que em

Li na internet que está sendo criada na cidade do Ceará-Mirim uma academia de letras. Nascida lá, mas residindo há muitos anos no Canadá, queria sugerir ao NOVO JORNAL que fizesse uma reportagem contando tudo sobre o assunto.O Ceará-Mirim tem uma grande tradição cultural. Já deu grandes nomes às letras literárias, históricas e jurídicas do País. Que me lembre, agora, Rodolfo Garcia – o primeiro potiguar a fazer parte da Academia Brasileira de Letras – e diretor da Biblioteca Nacional é uma referencia na historiografia, tendo se especializado na história administrativa, um gênero que não tem muitos cultores no nosso Brasil.Muitos outros nomes enriquecem o Verde Vale: Madalena Antunes, Edgar Barbosa, Nilo Pereira, Padre Jorge O´Grady de Paiva, Franklin Jorge, Sanderson Negreiros, Juvenal Antunes, Benilde Dantas, Francisco Vilar, Bartolomeu Correia de Melo, tantos que seria enfadonho enumerar. Não sei qual é a proposta dessa academia que está surgindo e se tem algum projeto voltado para os jovens, mas não seria oportuno dar a

conhecer os seus fundadores e patronos, para que todos saibam que o Ceará-Mirim tem uma cultura viva. Maninha Barreto

Copa na Escola A Escola Nossa Senhora das Graças, em Florânia, realizou grande gincana Cultural, onde os alunos pesquisaram e estudaram sobre os países que já conquistaram título em Copas do Mundo e o país sede da Copa 2010. Divididos em oito países, os alunos trocaram conhecimentos e curiosidades sobre o Brasil, Itália, Argentina, Alemanha, França, Inglaterra, Uruguai e África do Sul. Na abertura, a diretora da escola, profª Maria do Socorro Tavares, falou da importância da gincana na busca de conhecerem os aspectos culturais, sociais e econômicos dos países pesquisadores. O evento movimentou a Escola com torcidas organizadas, faixas, bandeirões e batucadas. A gincana proporcionou o envolvimento dos alunos em um aprendizado multicultural, conhecendo a grande diversidade de costumes e realidades sociais diferentes.Logo após a gincana, houve um passeio ciclístico cultural, onde alunos e professores percorreram as ruas de Florânia, conduzindo em suas bicicletas as cores do Brasil. Josimar Tavares de Medeiros, Florânia

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NATAL, DOMINGO, 4 DE JULHO DE 2010 / NOVO JORNAL /

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20 ANOS SEM BANDERN / LIQUIDAÇÃO / BANCO FECHADO EM 1990 FAZ FALTA, SEGUNDO LIDERANÇAS EMPRESARIAIS. TODOS SÃO UNÂNIMES, ENTRETANTO, AO LEMBRAR QUE INGERÊNCIAS POLÍTICAS DECRETARAM A EXTINÇÃO DA INSTITUIÇÃO

REPRODUÇÃO

HEVERTON DE FREITAS DO NOVO JORNAL

ERA UMA MANHÃ

ensolarada comum na primavera natalense e com o céu ainda mais azul numa cidade onde os arranha céus podiam ser contados nos dedos, quando uma notícia vinda de Brasília causou um enorme rebuliço. O Banco Central havia decretado intervenção no Banco do Estado do Rio Grande do Norte, o Bandern. Nesse cenário, há 20 anos, mais precisamente no dia 20 de setembro de 1990, a notícia foi recebida como uma bomba em meio a uma campanha política acirrada para o Governo do Estado que levou ao enfrentamento dois primos, aliados até então, mas que naquele ano estavam em campos opostos. De um lado, o senador Lavoisier Maia candidato apoiado pelo então governador Geraldo Melo, de outro José Agripino Maia, na época oposição ao PMDB do governador e candidato apoiado pelo governo federal do presidente Fernando Collor, eleito no ano anterior primeiro Presidente da República depois de 29 anos sem os brasileiros poderem escolher diretamente quem comandaria o país. Era, portanto, um presidente forte politicamente embora já desgastado pelas medidas do Plano Collor que, entre tantas sandices, confiscou a poupança causando revolta em quem tinha algum dinheiro guardado no banco e viu da noite para o dia suas reservas bloqueadas pelo governo federal. Foi nesse contexto que a notícia do fechamento do Bandern deixou ainda mais apreensivos milhares de correntistas, aplicadores e funcionários que se viram envoltos na incerteza sobre o que iria acontecer a partir dali. Apesar de bombástica, a notícia não era assim tão inesperada. O governo do Estado e boa parte dos políticos com trânsito em Brasília já sabiam que ela poderia ser tomada a qualquer momento. O banco já vinha enfrentando uma fiscalização do Banco Central. O que não se esperava era a decisão em meio a uma campanha política, mas o governo federal precisava de recursos do Fundo Monetário Internacional e tinha que seguir a cartilha da instituição que previa a privatização de estatais e o saneamento do sistema financeiro (veja box). Como não poderia agir sobre os grandes bancos estaduais, a exemplo do Banespa, pelo efeito que poderia ter na economia como um todo, a solução foi demonstrar que estava agindo decretando a intervenção em bancos de Estados pequenos. Nessa leva foram junto com o Bandern, o Banco da Paraíba, do Piauí e a Caixa de Depósitos de Goiás. Como não poderia deixar de ser o tema foi parar diretamen-

te na campanha política. De um lado, o marketing do candidato governista agiu para tentar evitar que a responsabilidade caísse no colo do Governador Geraldo Melo, aliado de Lavoisier, que também já tinha sido governador, ao mesmo tempo em que tentava responsabilizar o candidato do PFL, senador José Agripino, por ser aliado do governo federal, sob a justificativa de que havia saídas técnicas para o banco sobreviver. Na oposição, Agripino partiu para o ataque acusando o descalabro com as finanças do banco por parte do governo Geraldo Melo como causadora da intervenção promovida pelo Banco Central, inclusive levantando suspeitas de que recursos do banco estariam sendo usados na campanha governista. Como nas guerras e nas campanhas políticas a primeira vítima é sempre a verdade, prevaleceu durante o restante da campanha o debate sobre o banco, cada qual apontando suas armas para o adversário. Essa realidade ainda predominou durante praticamente todo o governo José Agripino, finalmente vitorioso nas eleições de 1990. Ele, durante a campanha, disse que tinha a chave para reabrir o banco e foi cobrado por isso durante praticamente todo o seu mandato por uma oposição forte existente na Assembleia Legislativa e que fazia reverberar seus discursos nos veículos de comunicação fundados por Aluízio Alves, em especial a TV Cabugi, ainda usada abertamente pelo PMDB.

Agência “drive in” do Bandern foi a primeira do gênero instalada no RN ARGEMIRO LIMA / NJ

LIQUIDAÇÃO

Independente da guerra política, o banco passou 18 anos sob intervenção e só foi efetivamente liquidado em 2008. Dele sobrou o desespero para algumas famílias de funcionários que se viram de uma hora para outra em dificuldades financeiras e o prejuízo assumido pelo Estado. Uma resolução aprovada pelo Senado em 1998 e assinada pelo presidente em exercício da Casa, justamente o senador Geraldo Melo, autorizava o governo do Estado a contratar um empréstimo de quase R$ 100 milhões para comprar a carteira de crédito imobiliário do Bandern, para pagar dívidas do BDRN ( fechado posteriormente) junto ao BNDES e para capitalizar a Agência de Fomento. Esse valor, no entanto, foi uma gota perto do prejuízo deixado pelos bancos estaduais. As 27 instituições públicas fechadas nessas duas décadas deixaram um prejuízo de R$ 90 bilhões, quatro vezes o que foi gasto com o Proer, o programa de socorro aos bancos privados, criado no governo Fernando Henrique para evitar uma quebradeira generalizada no sistema financeiro do Brasil. Grande parte desses R$ 90

▶ Ismael Benévolo Xavier

O QUE FECHOU O BANCO FOI A BAGUNÇA ADMINISTRATIVA E A INFLUÊNCIA POLÍTICA” Ismael Benévolo Xavier Ex-Diretor do Bandern

bilhões foi gasto em obras públicas. O problema é que o dinheiro saia dos bancos, mas quase nunca retornava. Sem falar no uso dos bancos pelos governadores para financiar os caixas estaduais. Na época, os principais credores dos bancos estaduais eram os próprios governos, que tomaram empréstimos diretos ou venderam suas letras. No Proes, programa criado pelo governo federal para socorrer os bancos estaduais, eram concedidos

financiamentos com juros subsidiados para os governos sanearem seus bancos. Investigações do Banco Central apontaram que, além de financiar os Estados, boa parte dos empréstimos concedidos pelos bancos estaduais era para beneficiar políticos e empresários amigos do governador de plantão, sem muitas vezes levar em conta as efetivas condições dos tomadores do dinheiro para honrar esses empréstimos. Aqui a realidade não era diferente e até mesmo quem defende o Bandern como uma instituição que ajudou a economia do Estado reconhece que houve desvirtuamentos ao longo de vários governos que levaram o banco a enfrentar uma situação financeira delicada. Por 34 anos trabalhando no Bandern, onde entrou aos 17 anos de idade, passando por diversos cargos e gerências de agências, até chegar a diretor de Operações, o bancário aposentado Ismael Benévolo Xavier não tem dúvidas: “o que fechou o banco foi a bagunça administra-

REPRODUÇÃO / ARGEMIRO LIMA / NJ

tiva e a influência política”. Para ele, o Bandern prestou importantes serviços para o Estado como o financiamento do projeto Cura, em que era responsável pelo repasse dos recursos do BNH para a construção de habitações, atuou fortemente no crédito rural e ajudou muito o comércio com a cobrança de juros menores para o pagamento de ICMS e outros tributos e o desconto de duplicatas, mas foi usado para atender pedidos de políticos sem levar em conta os aspectos gerenciais e financeiros. “O banco tinha lucro e tinha liquidez quando sofreu a intervenção, mas muitas vezes se abria agências deficitárias no interior para atender a pedidos de deputados e o Governo do Estado que era o principal acionista não fazia o aporte de capital que deveria para cobrir esse déficit”. Ismael Xavier conta que muitas vezes o Estado pegava os dividendos e usava o próprio dinheiro do Estado, que já estava depositado no banco, para fazer esse aporte. Ou seja, não havia entrada de recursos novos para capitalizar o banco e cobrir o déficit. “Muitas vezes saiam empréstimos por recomendação política que depois não voltavam mais e havia interferência na nomeação de gerentes que eram indicados politicamente”, admite. Ismael Xavier não cita nomes, mas as histórias vão desde a concessão de empréstimos sem observância mínima das garantias por indicação de um deputado estadual, pagamento de duplicatas a fornecedores de uma grande indústria ligada a um político sem os fundos necessários para o seu resgate, até a compra de um veículo pelo banco usado por um governador durante uma campanha política.

Publicidade do cartão Bandern

MUITAS VEZES SAIAM EMPRÉSTIMOS POR RECOMENDAÇÃO POLÍTICA QUE DEPOIS NÃO VOLTAVAM MAIS E HAVIA INTERFERÊNCIA NA NOMEAÇÃO DE GERENTES QUE ERAM INDICADOS POLITICAMENTE” Ismael Benévolo Xavier Ex-Diretor do Bandern

CONTINUA NA PÁGINA 8 ▶


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▶ ECONOMIA ◀

/ NOVO JORNAL / NATAL, DOMINGO, 4 DE JULHO DE 2010

CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 7 ▶

LÍDERES LAMENTAM FECHAMENTO NEY DOUGLAS / NJ

Toda essa situação só poderia resultar no fim do banco que ainda hoje os líderes empresariais apontam como um importante indutor do desenvolvimento no Estado, pelo menos enquanto funcionou com menor interferência. O presidente da Federação das Indústrias, Flávio Azevedo, por exemplo, considera que o Bandern foi fundamental para todo o setor produtivo enquanto funcionava. Ele lembra que o banco tinha um perfil completo que ia do crédito imobiliário, até o crédito rural e o financiamento para a instalação de novos empreendimentos atuando junto com o BDRN. “O Bandern oferecia aos empresários um cardápio completo de opções e seu fechamento foi um baque para a economia”, afirma. Para ele ainda hoje seria importante o Estado ter um sistema financeiro próprio por considerar que esse é um vetor para o desenvolvimento oferecendo crédito

D’LUCA / NJ

O BANDERN OFERECIA AOS EMPRESÁRIOS UM CARDÁPIO COMPLETO DE OPÇÕES E SEU

▶ Flávio Azevedo em melhores condições, o que a Agência de Fomento se propõe a fazer hoje em dia, mas com uma capacidade muito inferior a que o Bandern tinha. “Ter um banco estadual é muito importante desde que seja administrado visando impulsionar o desenvolvimento e também o lucro”. Para o presidente da Fiern, os bancos públicos, especialmente o Banco do Brasil, estão atu-

FECHAMENTO FOI ando na faixa deixada pelo Bandern, mas dependem muito de Brasília e há uma dificuldade de acesso do empresário local pelas normas muito rígidas que obedece. “Claro que um banco tem que ter segurança na hora que faz um empréstimo, mas são tantas as exigências que o empresário que consegue atender a todas praticamente não precisa de banco”. A opinião de Flávio Azevedo

UM BAQUE PARA A ECONOMIA” Flávio Azevedo Presidente da Fiern

é compartilhada pelo presidente da Associação Norte-rio-grandense de Criadores, Marcos Teixeira, para quem a existência de um banco local facilitava o aces-

so e o empresário tinha condições de negociar de acordo com a realidade local. “Com o Banco do Brasil muita coisa depende de entendimentos na direção geral, a burocracia é muito grande”. Marcos Teixeira também concorda que o Bandern faz falta à economia local. Ele lembra que o banco estava presente em todas as exposições de animais realizadas no Estado oferecendo crédito para a compra de reprodutores, de vacas leiteiras, ovinos e caprinos e ajudando a melhorar o rebanho estadual, mas admite que nos últimos tempos o Bandern não vinha mais atendendo a sua função. “O Bandern foi muito importante para a agropecuária, mas com o tempo a interferência política e o desmantelo administrativo foram tamanhos que na época da intervenção efetivamente o banco não estava mais cumprindo seus objetivos”. Quem também faz essa análise é o presidente da Federação do Comércio, Marcelo Quei-

▶ Marcelo Queiroz

madas operações de Antecipação de Receita Orçamentária, os famosos ARO. Com o Plano Collor, todo o sistema financeiro passou a apresentar dificuldades financeiras, com o bloqueio dos ativos financeiros. Da noite para o dia os brasileiros que tinham dinheiro depositado nos bancos viram seu dinheiro retido. É isso o que os economistas chamam de aperto de liquidez. O cenário macro-econômico levou os bancos estaduais a captarem recursos de curto prazo com custo mais elevado para conseguir o equilíbrio de uma carteira de longo prazo, aumentando seu risco financeiro. Para se ter uma idéia, 79% da dívida dos Estados estava nas mãos dos bancos estaduais através dos fundos da dívida pública e 70% desses títulos eram financiados por terceiros, principalmente pelo Banco do Brasil, através do overnight (operações de curtíssimo prazo). Em setembro de 1990, o Banco do Brasil deixou de financiar a compra dos títulos da dívida mobiliária estadual, o que levou os bancos estaduais a buscarem o Banco Central para se manterem. Foi ai que o governo federal resolveu promover a troca dos títulos estaduais por Letras do

Banco Central (LBC). Foi nesse contexto que o Banco Central decretou a liquidação extrajudicial dos bancos da Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí e Caixa Econômica de Goiás, em setembro de 1990, e em março do ano seguinte também do MinasCaixa. Com a queda de Collor, assume a presidência Itamar Franco que deu continuidade à estratégia federal de restringir a liberdade dos estados em utilizar os seus bancos, proibindo o socorro financeiro do Banco Central aos bancos estaduais. O objetivo do governo federal era evitar que os bancos estaduais continuassem a exercer pressão sobre a política monetária, dentro do ideário de obtenção de superávits fiscais e de contenção da base monetária. Os bancos estaduais continuaram sobrevivendo através de socorros sistemáticos até que fosse realizada a renegociação total das dívidas estaduais e o ajuste do sistema financeiro estadual dentro da estratégia de estabilização do Plano Real, com a privatização de estatais, entre elas os bancos públicos de grande porte. Não havia mais espaço para um banco estadual num estado pequeno e de economia ainda muito dependente do Poder Público.

roz. “A perda do Bandern - que deveria ter sido, durante toda a sua existência, um banco de fomento à atividade econômica e capaz de cumprir um papel social de suporte às classes menos favorecidas da população - foi ruim para o Estado. Infelizmente, ao ser fechado, o banco havia tido suas principais funções desvirtuadas. Até por isso, terminou liquidado”.

FECHAMENTO TEM BASE NA POLÍTICA MACRO-ECONÔMICA REPRODUÇÃO

Embora tenha servido de muita munição para campanhas políticas, de bate-boca entre governistas e oposicionistas da época, e resultado numa enxurrada de ações judiciais dos que foram prejudicados pela medida entre correntistas, investidores e funcionários, o fechamento do Bandern teve como causa e ao mesmo tempo foi conseqüência da política macroeconômica do país a partir da adoção de medidas chamadas à época de neoliberais pelos que se opunham a elas. Desde a década de 80, os bancos estaduais passaram de instrumentos auxiliares de promoção do desenvolvimento regional, através da intermediação de recursos direcionados para investimentos, para o papel de financiadores dos tesouros estaduais. Ou seja, os bancos estaduais foram na prática utilizados para socorrer o caixa estadual. Nos Estados maiores, os bancos estaduais tornaram-se os principais credores das empresas estatais ao honrar operações externas não pagas por essas empresas, das quais eram avalistas. Em sua tese de pós-graduação apresentada na faculdade de economia da Universidade Federal Fluminense, Claudio Tito Gutiérrez, constata que no caso do Banespa, o total de operações de

crédito com o setor público, que havia atingido 26% do ativo do banco em 1980 passou para 57% em 1988. A realidade dos bancos estaduais era similar em todo o Brasil. Alguns tinham uma situação pior, outros melhor, mas em geral todos apresentavam uma exposição em operações de risco que levaram esses bancos a recorrer à captação de recursos de curto prazo com altas taxas com o Banco Central, por meio dos chamados empréstimos de redesconto, operações nas quais o Banco Central atua como uma espécie de “banco dos bancos”, emprestando recursos aos bancos que não conseguem outra forma de obter dinheiro junto ao público ou aos seus acionistas. Para realizar a operação de redesconto é necessário entregar garantias ao BC, que serão utilizadas caso esses empréstimos não sejam honrados. Essa situação levou o governo federal a lançar o Programa de Recuperação Econômica e Financeira dos Bancos Estaduais – Proref - que estabelecia uma linha de crédito para os Bancos Estaduais. O programa atendeu 15 instituições estaduais, entre elas o Bandern. Esse programa, no entanto, teve um efeito temporário

▶ Edifício na Av. Tavares de Lyra foi projetado por Gentil Ferreira porque a causa do desequilíbrio continuava o mesmo: os governos estaduais usavam os bancos como apêndices do tesouro. Outra razão da crise dos bancos estaduais foi a redução da inflação e a consequente perda de receitas que eram obtidas com o float bancário (utilização de recursos em trânsito na aplicação em títulos públicos). Diante do tamanho da crise dos bancos estaduais, o Banco Central interveio em oito bancos comerciais estaduais utilizando o Regime de Administração Especial e Temporário, através do qual os estados perdem temporariamente o controle de suas instituições, administradas a

partir de então pelo Banco Central, que passou a tomar medidas de ajuste com fechamento de agências deficitárias, demissões, venda de ativos, entre outras, para recuperar financeiramente as empresas. Em 1988, o governo federal lançou um bóia de salvação para os Estados, que tiveram suas dívidas com os bancos estaduais renegociadas através de uma linha de crédito e de recursos do orçamento federal, com prazo de 15 anos para pagamento. Mais uma vez os Estados não cumpriram o pagamento das parcelas acertadas e ainda continuaram usando as instituições financeiras estaduais para fazer as cha-

BANCO SURGIU NA POLÍTICA REPRODUÇÃO

A primeira tentativa de se criar um banco que pudesse atuar no Rio Grande do Norte foi do governador Alberto Maranhão que em 1902 autorizou a criação do banco Natalense, mas por falta de interessados o empreendimento não saiu do papel. Só em 1905 é que o governador Augusto Tavares de Lyra aprovou na Assembleia Legislativa a lei que autorizava o Tesouro Estadual a subscrever cincoenta contos de réis do capital do banco que viesse a se instalar. Essa lei se concretizou em janeiro do ano seguinte com a aprovação da ata de Constituição da Sociedade Anônima Banco do Natal, tendo como primeiro presidente o coronel Olímpio Tavares, parente do governador. Um fato que chama a atenção e mostra como a mistura de interesses privados com o dinheiro público pelas famí-

lias que tradicionalmente mandam na política do Rio Grande do Norte vem de longe é que entre os 113 acionistas iniciais do banco, a maioria era das famílias Albuquerque Maranhão (17 acionistas) e Lyra (5 acionistas), cujos membros ainda eram parentes entre si por relações de casamento e representavam então a oligarquia política dominante no Estado. Quase todos os acionistas eram membros do Partido Republicano Federal no Rio Grande do Norte. O nome Banco do Natal prevaleceu até 1930 no governo de Juvenal Lamartine quando foi mudado para Banco do Rio Grande do Norte. O nome definitivo de Bandern veio já nos anos 70 quando o governador Cortez Pereira acrescentou a palavra Estado ao nome então existente. Segundo o livro Bandern – Origem e Evolução, escrito pelo

pesquisador Itamar de Souza em 1985, o banco que sempre foi usado como moeda política em diferentes governos e por diferentes partidos, já estava à beira da falência quando o governador Juvenal Lamartine tomou posse e ainda se chamava Banco do Natal. Já naquela época, em 1928, o próprio Juvenal Lamartine relatou em livro a situação que encontrou. Uma auditoria contratada por ele para verificar a situação do banco, segundo relata o governador, encontrou a escrita do banco dois anos atrasada, a existência no cofre do banco de letras descontadas sem avalistas, outras vencidas e não protestadas, algumas já prescritas e vales de funcionários e comprovantes de retiradas de dinheiro do banco. E o que fez o governador para cobrir o rombo encontrado? A

▶ Sede do Banco de Natal. Juvenal Lamartine mudou para Banco do RN receita clássica: aumentou impostos. Foi criada uma taxa por volume exportado cujo produto era recolhido ao banco para ser convertido em ações. Com um pouco mais de folga comprou um prédio na esquina das aveni-

das Tavares de Lyra com Duque de Caxias, construído e projetado pelo engenheiro Gentil Ferreira, tio do atual governado Iberê Ferreira. Só na década de 60, é que o banco começou uma política

de expansão com a abertura de agências no interior do Estado. O escritor Itamar de Souza faz um relato no seu livro da criação das novas agências e constata uma outra realidade que levou à liquidação dos bancos estaduais: a descontinuidade administrativa, que levava uma diretoria a autorizar a abertura de agências que já tinham sido autorizadas por diretorias anteriores, muitas vezes como forma de atender a pedidos de deputados. Só no governo Lavoisier Maia foram instaladas 25 agências. E assim foi até a sua liquidação, uma mistura de interesses políticos e econômicos que por diversas vezes levou o Tesouro Estadual a socorrer o banco até sua liquidação com o Estado assumindo seu passivo e seus funcionários, vários deles ainda hoje lotados em repartições públicas estaduais.


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