Ano 13 - No 54 outubro 2014
R$ 15,00
Blocos especiais de concreto fazem as curvas da Arena do Morro, em Natal. A obra e as peças de concreto são assinadas pelos arquitetos suíços do escritório Herzog & De Meuron
Arquitetura une beleza e inovação, com função social
nesta edição
54 10
concrete show/produtos
O maior evento da cadeia produtiva do cimento e do concreto da América Latina conseguiu, mais uma vez, ser bem-sucedido
14
entrevista
O arquiteto Fernando de Mello Franco, secretário de Desenvolvimento Urbano da Prefeitura de São Paulo, fala sobre a aprovação do novo Plano Diretor da capital paulista e de suas metas e conceitos, na busca de uma cidade mais humana e acessível
16 urbanismo
revista prisma soluções construtivas com pré-moldados de concreto www.revistaprisma.com.br publicação bimestral outubro 2014
O icônico bairro do Farol da Barra, em Salvador, é revitalizado com o uso de pisos intertravados de concreto e elementos arquitetônico-urbanísticos
20 arquitetura O complexo educacional-esportivo Arena do Morro, localizado no bairro popular Mãe Luíza, em Natal, foi erguido numa parceria da ONG suíça Ameroper com organizações locais, com projeto inovador do escritório suíço de arquitetura Herzog&De Meuron, que utiliza blocos vazados de concreto especialmente criados para o projeto
SEÇÕES
26 qualidade
6 agenda
Reportagem especial mostra o avanço na qualidade de produtos de cimento,
devido especialmente a iniciativas como os PSQs de blocos e pisos intertravados
32 profissional top
de concreto, o Selo de Qualidade para blocos e pisos, da ABCP, e o Selo de
50 destaque
Excelência, da Abcic
33 artigo Os pesquisadores Vanderley John, professor-associado da Poli-USP e membro do Conselho do CBCS, e Cláudio Oliveira Silva, explicam neste artigo como foi desenvolvido e quais as vantagens da Avaliação de Ciclo de Vida Modular (ACV-m) de blocos e pisos intertravados de concreto
43 mesa-redonda O 17º Fórum InterCement discutiu o mercado de argamassas industrializadas e seus principais desafios para atender ao mercado e ampliar o seu uso
7 curtas
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ABCP ABTC BlocoBrasil ISSN: 1677-2482
Na próxima edição Edifício Odebrecht, São Paulo Galpões industriais, Cotia-SP Avaliação de ciclo de vida As edificações e as patologias
editorial Qualidade é um tema recorrente na construção civil brasileira há mais de duas décadas. A intensificação dos esforços para a implementação desse conceito, porém, avançou bastante a partir do final dos anos 1990, com a implantação do Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade no Hábitat (PBQP-H), que buscava replicar em nível nacional de experiências bem-sucedidas, como o paulista Qualihab, por exemplo. De lá para cá, muita coisa avançou nessa área e, especificamente no setor de produtos de cimento, a expansão da qualidade aconteceu ancorada em programas como o Selo da Qualidade, da ABCP, voltado para blocos e pisos intertravados de concreto; o Selo de Excelência, da Abcic, que visa os fabricantes de pré-moldados de concreto; e os PSQs de argamassas colantes, blocos vazados e peças de concreto para pavimentação (pavers) e lajes pré-fabricadas de concreto, capitaneados pelo Sinaprocim/Sinprocim. Essas entidades, que representam os fabricantes de produtos de cimento, criaram, em conjunto com a BlocoBrasil e ABCP, o denominado Sistema Unificado da Qualidade, mostrando ao mercado a interrelação positiva do PSQ e do Selo de Qualidade de blocos e pisos de concreto. Hoje, são mais de duas centenas de empresas qualificadas por esses programas, que passaram a oferecer produtos de cimento de qualidade, fabricados em conformidade às normas da ABNT e que, portanto, conseguem fornecer insumos confiáveis ao mercado. Esse número de empresas qualificadas deve crescer exponencialmente, devido a alguns fatores indutivos, entre eles, ao fato de que importantes organismos financiadores da construção habitacional, como o FGTS, passaram a exigir que os programas habitacionais financiados com seus recursos utilizem obrigatoriamente produtos qualificados e em conformidade com as normas vigentes. Nesse sentido, o setor de blocos e pisos intertravados de concreto representado pela BlocoBrasil lançou em agosto último o Manual de Desempenho – Alvenaria de Blocos de Concreto – Guia para atendimento à Norma ABNT 15575 (norma de desempenho), com os resultados de ensaios realizados por universidades e laboratórios de renome, avaliando o atendimento do produto em itens fundamentais da norma. Esse manual comprova que as alvenarias com blocos de concreto possibilitam ao projetista o atendimento dos requisitos da NBR 15575, parte 4 – Sistemas de Vedações Verticais Internas e Externas. O manual encontra-se disponível para download no site da BlocoBrasil: www.blocobrasil.com.br. Boa leitura! 5
agenda CONSTRUIR – FEIRA INTERNACIONAL DA CONSTRUÇÃO - RIO 1o a 4 de outubro, no Rio de Janeiro
A Construir Rio, Feira Internacional da Construção, é o maior evento do estado do Rio no segmento da construção. Em sua 19a edição, o evento reúne profissionais do setor em um espaço aberto ao debate de tendências e apresentação de lançamentos.Aberta ao público em geral, tem como perfil de seus visitantes lojistas e atacadistas, arquitetos, engenheiros, administradores de condomínio, profissionais da construção em geral, designers de interiores, decoradores e paisagistas; construtores, empreiteiros e estudantes de áreas afins. Além da feira, ocorre também o Fórum Construir, um conjunto de mostras e palestras e workshops que trazem os assuntos mais importantes do momento para a construção civil e a sociedade. Informações: www.construirrio.com.br
56o CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO
de destaque nos países da América Latina, Espanha e Portugal para discutir as principais questões que envolvem a arquitetura contemporânea ibero-americana. Participarão do panorama de obras quatro projetos brasileiros. Já a arquiteta e urbanista Bianca Riotto, coordenadora de projetos de habitação de interesse social do Vigliecca & Associados, ministrará palestra no dia 15. Informações: http://ixbiaurosario2014.org
FEICON BATIMAT NE - SALÃO INTERNACIONAL DA COSNTRUÇÃO NORDESTE 22 a 24 de outubro, em Olinda-PE
O evento Feicon Batimat é reconhecido como o maior e mais qualificado salão da construção da América Latina. Além da imperdível exposição, acontecem dois eventos simultâneos: a Decor Prime Show – mostra diferenciada das tendências em arquitetura, decoração e design. E a Conferência, na qual importantes nomes do setor se reúnem para debates e apresentações. Informações: http://www.feiconne.com.br
7 a 10 de outubro, em Natal
O Instituto Brasileiro do Concreto (Ibracon) promove, de 7 a 10 de outubro, em Natal, no Rio Grande do Norte, o 56o Congresso Brasileiro do Concreto. Fórum de debates sobre a tecnologia do concreto e seus sistemas construtivos, o evento objetiva divulgar as pesquisas científicas e tecnológicas sobre o concreto e as estruturas de concreto, em termos das inovações de produtos e processos, melhores práticas construtivas, normalização técnica, análise e projeto estrutural e sustentabilidade. Pesquisadores de universidades, institutos de pesquisa e empresas do Brasil e do exterior estão convidados a apresentarem seus trabalhos técnicos e científicos sobre os temas: Gestão e Normalização, Materiais e Propriedades, Projeto de Estruturas, Métodos Construtivos, Análise Estrutural, Materiais e Produtos Específicos, Sistemas Construtivos Específicos e Sustentabilidade. Informações: http://www.ibracon.org.br/eventos/56cbc/
Bienal Ibero-Americana de Arquitetura e Urbanismo (BIAU) 13 a 17 de outubro, em Rosário, Argentina
Iniciativa do Governo da Espanha irá reunir experiências
17o ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA E CONSULTORIA ESTRUTURAL – ENECE 2014 30 e 31 de outubro, em São Paulo
Informações: www.abece.com.br
V JORNADAS PORTUGUESAS DE ENGENHARIA DE ESTRUTURAS 26 a 28 de novembro, em Lisboa Portugal
Informações: www.jpee2014.inec.pt
World of Concrete 2 a 6 de fevereiro de 2015, em Las Vegas (EUA)
O WOC é o evento internacional anual da indústria dedicada ao concreto e à construção com alvenaria de blocos de concreto, apresentando fornecedores líderes da indústria. Apresentarão também ferramentas inovadoras, máquinas e equipamentos de construção, cursos de formação de segurança e treinamento, tecnologias e oportunidades de networking ilimitadas para novas maneiras de sustentar e fazer crescer o seu negócio. Mais informações: www.worldofconcrete.com/
CURSOS ABCP • Produção Otimizada e com Qualidade de Blocos de Concreto Curso a ser realizado em São Paulo, ministrado pelo eng. Idário Fernandes em 4/11 • Laboratorista de Artefatos de Concreto Curso a ser realizado em São Paulo, ministrado pelo eng. Idário Fernandes, em 5/11 • Intensivo de Tecnologia Básica do Concreto Curso a ser realizado em São Paulo, de 11 a 13/11 • Intensivo de Revestimento de Argamassa Curso a ser realizado em São Paulo, de 20 a 22/11 • Básico de Alvenaria Estrutural com Blocos de Concreto Curso a ser realizado em São Paulo, em 28 e 29/11 Informações: www.abcp.org.br
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curtas Sudeste representa 62% da construção civil A Região Sudeste perdeu participação no total nacional do valor das incorporações, obras e serviços da indústria da construção em 2012, divulgou em setembro o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ainda com um peso de 62%, os quatro estados do Sudeste tiveram redução de 1,3 ponto percentual de espaço no setor, com o crescimento do Nordeste e do Sul, que expandiram suas fatias em 0,6 e 0,7 ponto percentual, respectivamente. Apesar de ter caído em termos relativos, o Sudeste também cresceu de 2011 para 2012, saltando de um valor total de R$ 183,3 bilhões para R$ 208,6 bilhões. No Nordeste, o valor total aumentou de R$ 39,2 bilhões para R$ 47,8 bilhões, enquanto, no Sul, o avanço
respectivamente, ainda que tenham apresentado
São Paulo, Minas Gerais, no Rio de Janeiro e
foi de R$ 36,4 bilhões para R$ 44,6 bilhões.
crescimento nos números absolutos. A Pesquisa
no Espírito Santo. O Sudeste concentra ainda a
O Nordeste é a segunda região com maior peso
Anual da Indústria da Construção também
maior parte das empresas ativas de construção,
na construção nacional, respondendo por 14,2%
comparou o pessoal ocupado nos anos de
com 51,2 mil das 104,3 mil contabilizadas em
do valor total de incorporações, obras e serviços.
2011 e 2012, e, nesse critério, o Sudeste ficou
todo o país. O Sul aparece em segundo lugar,
O Sul vem logo depois, com 13,3%. De 2011
praticamente estável, com 55,1% contra 55% no
com 27,4 mil, seguido pelo Nordeste, com
para 2012, Centro-Oeste e Norte mantiveram as
ano anterior. O total de trabalhadores da indústria
13,9 mil, pelo Centro-Oeste, com 8,1 mil, e
participações no total nacional, de 7,4% e 3,1%,
cresceu de 1,46 milhão para 1,55 milhão em
pelo Norte, com 3,5 mil.
Governo quer elevar subsídio no MCMV O governo estuda uma regra específica, que deverá mesclar subsídios mais elevados e limite de preço de imóvel, para ser aplicada na faixa de renda intermediária e que deverá ser implementada na terceira etapa do programa Minha Casa, Minha Vida, caso a presidente Dilma Rousseff seja reeleita. O ministro das Cidades, Gilberto Occhi, destacou também que negocia com o Tesouro Nacional o aumento do subsídio, atualmente de R$ 25 mil, para outras faixas de
Parque Capibaribe, no Recife Segue em consulta pública o documento de projeto e plano preliminar do Parque Capibaribe,
renda. Para o ministro, as adequações na terceira etapa do Minha Casa, Minha Vida têm como
uma grande intervenção urbana que transformará a capital pernambucana em uma cidade-parque,
objetivo atender o público de menor renda que
envolvendo 35 bairros. Planejado pela Prefeitura do Recife, com apoio da Universidade Federal
vive em grandes cidades, principalmente para
de Pernambuco, o projeto do parque pretende retomar a forte relação que a capital mantinha
famílias com rendimento mensal entre R$ 1,5 mil
com seus rios até os anos 1950, além de ampliar as áreas verdes da região. Hoje, a taxa de
e R$ 2,2 mil. Até o dia 15 de agosto, último
vegetação por habitante gira em torno de 1,2 m2. Espera-se que em 2037, quando o parque estiver
balanço disponível do programa Minha Casa,
2
implantado, essa relação alcance 20 m por habitante. Nesse estágio, o futuro parque terá cerca de
Minha Vida, que inclui a primeira e a segunda
30 km de extensão, com áreas de lazer, núcleos de cultura, rotas de caminhada, ciclovias e trechos
etapas, foram contratadas 3,56 milhões de
de navegação fluvial, além de áreas residenciais. O documento do projeto está disponível para
unidades habitacionais, valor próximo da meta de
consulta em http://parquecapibaribe.nuvebs.com/
3,75 milhões para o período.
curtas Blocos de concreto biológico
SindusCon-SP: 80 anos
Pesquisa iniciada pelo arquiteto
Com a presença de dezenas de autoridades e lideranças empresariais,
sueco Magnus Larsson poderá mudar
muita música e arte, o SindusCon-
profundamente o processo de produção de
SP festejou com evento na Sala São
peças para a construção de edificações.
Paulo, na capital paulista, seus 80
Trabalhando em projeto para o deserto do
anos de história. A comemoração foi
Saara, Larsson sugere a construção de
seguida da posse solene da Diretoria,
barreira contra as tempestade de areia
Conselho Fiscal e Conselho Consultivo
usando a própria areia. Em seu projeto,
da entidade. Na ocasião, tomaram posse os novos dirigentes e conselheiros do SindusCon-SP.
o arquiteto pretende usar como ligante a
Diretoria: José Romeu Ferraz Neto (presidente), Francisco Antunes de Vasconcellos Neto (vice-
bactéria Bacillus pasteurii, encontrada em
presidente Administrativo e Financeiro), Eduardo May Zaidan (vice-presidente de Economia),
terras úmidas. “É um micro-organismo que
José Batlouni Neto e Paulo Rogério Luongo Sanchez (vice-presidentes de Tecnologia, Qualidade
produz, por processo químico, a calcita, um
e Meio Ambiente), Mauricio Linn Bianchi (vice-presidente de Relações Institucionais), Odair
tipo de cimento natural”, afirmou o arquiteto.
Senra (vice-presidente de Imobiliário), Luiz Antônio Messias e Maristela Alves Lima Honda (vice-
Larsson teve a ideia de usar a bactéria a
presidentes de Obras Públicas), Ronaldo Cury de Capua (vice-presidente de Habitação Popular),
partir da pesquisa de equipe da Universidade
Haruo Ishikawa e Roberto José Falcão Bauer (vice-presidentes de Relações Capital-Trabalho e
Davis da Califórnia, que investigava o uso do
Responsabilidade Social), Luiz Claudio Minniti Amoroso e Eduardo Carlos Rodrigues Nogueira
micro-organismo para solidificar o solo em
(vice-presidentes de Interior). Representantes à Fiesp: Eduardo Ribeiro Capobianco, Sergio Porto,
áreas sujeitas a terremotos.
Cristiano Goldstein e João Claudio Robusti. Conselho Fiscal: Fabio Villas Bôas, André Gonzaga Aranha Campos e Márcio Escatêna (titulares), Luiz Eduardo de Oliveira Camargo; Fernando Augusto Correa da Silva e Fernando Rossi Fernandes (suplentes). Conselho Consultivo: Delfino Paiva Teixeira de Freitas (presidente), Alexandre Luís de Oliveira (1o vice-presidente) José Batista o
Ferreira (2 vice-presidente), André Alexandre Glogowsky, João Lemos Teixeira da Silva, Luis Gustavo Ribeiro, Luiz Alberto Matias Lucio Mendonça, Luiz Antonio Paiva dos Reis, Mauricio
Setor mapeará gasto energético e emissões O setor cimenteiro brasileiro fará durante
Monteiro Novaes Guimarães, Norton Guimarães de Carvalho, Renato Genioli Junior, Renato Tadeu
os próximos 15 meses, a partir de setembro
Parreira Pinto, Ronaldo de Oliveira Leme, Rosana Zilda Carnevalli Herrera e Salvador de Sá
último, o mapeamento de suas emissões
Campos Benevides. Permanecem no Conselho Consultivo os eleitos em 2011: Flávio Aragão dos
de gás carbônico e de sua eficiência
Santos, José Antonio Marsilio Schwarz, José Carlos Molina, José Edgard Camolese, José Roberto
energética. O objetivo do trabalho, feito em
Maluf Moussalli, Marcelo Pedro Moacyr, Marcos Roberto Campilongo Camargo, Paulo Brasil
parceria com entidades globais da área, de
Batistella e Renato Soffiatti Mesquita de Oliveira.
sustentabilidade e de energia, é identificar quais tecnologias podem ser adotadas no
Índíce Sinprocim/SP revela aumento de 1,62% De acordo com Índice de custos dos insumos
Mobilidade e infraestrutura terão R$ 7 bilhões
país para reduzir o consumo de energia e
O Ministério das Cidades publicou em 24
A expectativa da Agência Internacional de
contribuir para conter o aquecimento global.
do Sindicato da Indústria de Produtos de Cimento
de setembro, no Diário Oficial da União, a
Energia (IEA), do Sindicato Nacional da
do Estado de São Paulo (Sinprocim/SP), que
Instrução Normativa 21, que determina a
Indústria do Cimento (SNIC) e da Associação
acompanha a variação de preços dos principais
destinação de R$ 7 bilhões de recursos do
Brasileira de Cimento Portland (ABCP), que
insumos utilizados na fabricação dos produtos de
Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS)
estão envolvidos com o estudo, é terminar
cimento no estado, houve aumento de 1,62%,
para obras nacionais de mobilidade urbana.
até o fim do ano que vem. “Será interessante
portanto abaixo do IGPM, do período, que ficou
A verba será repassada pela Caixa Econômica
para indicar o que poderá ser feito no setor.
em 1,55%; do IPCA, que totalizou 4,02%; e do
Federal. Do total de recursos, R$ 1 bilhão será
Ainda mais agora que o Brasil enfrenta essa
INCC, que somou 6,05%. Nesse período todos os
destinado das carteiras administradas pelo
situação de seca e falta de energia, com
insumos tiveram aumentos. Pela ordem do maior
FGTS para ações de inclusão social por meio da
preços em alta”, diz Cecilia Tam diretora da
para o menor: aço, fibras e celulose, elementos
melhoria da mobilidade urbana e acessibilidade,
IEA. Ela coordena a área de tecnologia e
de enchimento, pigmento, aditivos, pedras,
enquanto R$ 6 bilhões serão direcionados a
demanda de energia da agência e trabalha
cimento, óleo diesel e areia. Já o Índice de preços
obras de infraestrutura urbana como construção
no mapeamento ajudando a aplicar modelos
dos produtos do setor, de janeiro de 2014 á
de metrôs, corredores exclusivos de ônibus,
desenvolvidos pela agência à realidade de
agosto de 2014, registrou crescimento de 2,87%.
terminais e Veículos Leves sobre Trilhos (VLT).
cada país estudado.
8
feira
8ª edição do Concrete Show eleva otimismo no setor da construção O Concrete Show, maior evento da construção civil do país,
Hugo, para a cadeia produtiva do concreto o momento é de
aconteceu de 27 a 29 de agosto. Mais de 31 mil visitantes
cautela, mas não de estagnação. “É impossível que um setor tão
passaram pelos pavilhões do Centro de Exposições Imigrantes,
pujante entre num ciclo longo de retração”.
em São Paulo, maior público registrado em oito anos de evento. Ao todo, mais de 600 empresas nacionais e internacionais
Curso Senai Durante o evento foi desenvolvido o Curso de
apresentaram seus lançamentos em soluções tecnológicas e
Assentamento de Bloco Estrutural de Concreto. Durante os três
serviços para obras de infraestrutura, residenciais e industriais.
dias da feira, 25 alunos foram orientados por três instrutores
Na avaliação de Claudia Godoy, presidente do Concrete Show, a
do Senai-SP, em aulas práticas que aconteceram ao vivo e
grande presença de público confirma o interesse crescente dos
acompanhados por forte curiosidade dos visitantes. “Essa foi
profissionais do setor em conhecer e utilizar novas tecnologias, que
uma aula-demonstração e, por isso, tivemos três instrutores.
contribuem tanto para a qualidade como para a produtividade nos
O normal é um instrutor para cada turma de 16 alunos”,
canteiros de obras pelo país. As empresas, por sua vez, marcaram
explica Abílio Weber, diretor da Escola Técnica “Orlando Laviero
presença no evento, pois sabem que vão receber visitantes
Ferraiuolo” do Senai-SP, localizada na zona leste paulistana.
qualificados, a maior parte deles, profissionais com poder de
Lançamento de Manual A BlocoBrasil lançou durante a
decisão e influência na compra de produtos.
feira o Manual de Desempenho Alvenaria de blocos de concreto
Otimismo, mas com cautela O bom volume de público foi
– Guia de atendimento à NBR 15575, publicação que traz os
motivo de comemoração entre os expositores. “A visitação da feira
resultados dos ensaios realizados por renomados laboratórios
superou todas as expectativas. Recebemos donos de construtoras
e universidades brasileiras para verificar o atendimento das
do Brasil e exterior. É uma sinalização que o mercado será aquecido
exigências norma pelos sistemas de paredes – estruturais e de
no segundo semestre de 2014 e primeiro semestre de 2015”,
vedação – feitos com blocos de concreto. Segundo o presidente
avalia Marcio Mazulis, proprietário da Novatreliça.
da BlocoBrasil, “os ensaios, cujos resultados são apresentados
Visão semelhante tem o diretor da RCO, Carlos Donizetti de Oliveira:
no Manual, mostraram que os blocos de concreto atendem às
“Ano passado participamos pela primeira vez do Concrete Show. Os
exigências da Norma de Desempenho”.
frutos colhidos na edição de 2013 colaboraram com o crescimento de mais de 60% em negócios no primeiro semestre de 2014.
PALESTRAS Aconteceram diversas palestras relacionadas à
Este ano o movimento da feira está ainda maior e o ambiente de
alvenaria estrutural, ministradas por especialistas, como o arquiteto
negócios está muito mais favorável”. Diretor de Comunicação
Carlos Alberto Tauil, da BlocoBrasil, e o engenheiro e pesquisador do
da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), Hugo
IPT Ércio Thomaz, entre outros. As palestras foram acompanhadas
Rodrigues afirma que não foi surpresa que a 8 edição do Concrete
por público numeroso, no miniauditório montado no estande da
Show estivesse tão movimentada, mesmo que a expectativas de
ABCP, que este ano convidou diversas entidades a partilharem o
crescimento econômico do país seja tímida no momento. Segundo
espaço e a ministrar palestras para os visitantes.
a
10
produtos CSM lança BP 850 para produção industrializada de blocos e pavimentos de concreto: A CSM, uma das maiores e mais importantes empresas brasileiras no desenvolvimento de máquinas para construção, fôrmas, sistemas construtivos e engenharia de movimentação, acaba de lançar a BP 850, um equipamento capaz de industrializar a fabricação de blocos e pavimentos de concreto. Com grande capacidade de vibração e prensagem, a BP 850 produz até 8.400 blocos estruturais ou 33.500 pavers por turno de oito horas. O equipamento também é flexível a ponto de produzir blocos e pavimentos de dimensões variadas. “A BP 850 conta com Interface homem-máquina para o controle simplificado das operações por meio de um painel de comando”, destaca Jefferson Tararan, diretor comercial da CSM. O sistema de produção automatizado controla a dosagem do concreto de acordo com o molde da peça a ser fabricada.
Moinho/Optimas: PlanMatic é uma régua para nivelar, com 2 metros de largura, totalmente automática, para minicarregadeiras e empilhadeiras. Utilizada para a preparação do solo, oferece sistema automático que realiza o nivelamento de forma segura, rápida e eficiente. É apropriada para grandes construções, como estradas, portos, aeroportos etc. Com moderno sistema automático de nivelamento, pode ser utilizada em movimentos para a frente ou para trás. A altura do solo é determinada automaticamente pelo sensor ultrassônico. Abas laterais automáticas economizam tempo de ajustes. A régua de nivelamento pode ser controlada automática ou manualmente. Para ver em ação: www.youtube.com/watch?v=AZMkZ-5NWKM
Nomad mostra Central Dosadora Móvel
Embu apresenta agregados para
Mills apresenta plataforma de
– A empresa teve como destaque no
construção – A Embu apresenta suas
trabalho aéreo: A Genie SX-180 chega
Concrete Show a Central Dosadora Móvel
soluções em areia para construção. Areia
ao mercado com a promessa de ser
Nomad. Com capacidade para produzir de
Prime: ideal para usinas de concreto, pois
a maior do gênero em operação na
30 a 40 m3/h de concreto ou argamassa,
quando combinada com areia de quartzo
América Latina. O equipamento possui
o equipamento tem como diferencial um
pode reduzir significativamente o teor de
braços telescópicos autopropulsados
menor tempo de instalação, sendo ativada
argamassa em concreto bombeado, com
e é capaz de atingir altura de quase
em apenas sete horas. Após a montagem,
boa redução de água por metro cúbico
56 metros, levando dois profissionais
basta conectar energia elétrica, água e
e consequente redução do consumo de
na cesta de trabalho. É movido a
aditivos para iniciar a operação. Outro
cimento. Possui teor de pulverulento
motor diesel. Entre os diferenciais:
diferencial da Central Dosadora Nomad é
ideal para bom acabamento no concreto
a plataforma pode girar 360° em
que ela pode ser montada por uma equipe
e para evitar exsudação em concretos
movimento contínuo, sem interrupção
reduzida, composta somente por duas
especiais. Areia de Brita Lavada:
do trabalho; comandos joystick com
pessoas, com o auxilio de um caminhão
indicada para pré-moldados de concreto,
efeito hall, totalmente proporcionais.
munck para movimentá-la. Isso é possível
principalmente por apresentar um teor
Devido à sua tecnologia de chassi
porque todos os acessórios – sistema de
de pulverulento baixo que possibilita
em X, seus eixos proporcionam maior
dosagem de água, balança de aditivos e
trabalhar com bons teores de argamassa,
estabilidade quando abertos para
compressores –, quando adquiridos, já
evitando-se falhas de concretagem,
trabalho.
saem montados de fábrica, bem como toda
principalmente em peças robustas e com
a parte elétrica, pneumática e hidráulica.
grande taxa de armadura. 11
produtos Menegotti lança nova máquina de blocos: A nova vibroprensa Menegotti se chama MBP-7.30, e como o próprio nome indica, tem mesa ampla, possibilitando a produção de sete blocos de 140 x 190 x 390 mm por ciclo, e de 30 pavimentos do tipo paralelepípedo 100 x 200 mm. Máquina totalmente automática, tem acionamento hidráulico e estrutura robusta. Seu projeto observa as normas de segurança vigentes e está totalmente de acordo com a NR-12. O novo equipamento também oferece vantagens para manutenção e ajustes, facilitando os acessos aos dispositivos da máquina, como moldes e vibradores. A compressão de 8 toneladas no contramolde aliado ao eficaz sistema de vibração possibilitam redução de cimento na composição do traço do concreto.
Metax mostra elevador de cremalheira e minigrua: O equipamento utiliza o sistema de pinhão e cremalheira acionado por motofreio de velocidade para elevação da cabine. Algumas características: velocidade de trabalho de 30 m por minuto; cabine robusta toda fechada em alumínio, com maior capacidade de 1.500 a 2.000 kg (14 a 18 passageiros); abertura de cancela utiliza motorização de 2 x 9,2 Kw (1.500 kg) ou 2 x 11 Kw (2.000 kg), e tensão de alimentação trifásica em 220V (acompanha autotrafo com saída de 380V e 440V, quando necessário). A minigrua da Metax tem capacidade de carga de 500 kg e lança de 6 metros. A operação é fácil, com funções básicas apresentadas na botoeira de comando.
Saur lança garra para movimentação de blocos de concreto. O equipamento traz como principais vantagens a segurança e a produtividade, pois dispensa a utilização de paletes. Por ser um acessório, depende de munk ou ponte-rolante para funcionar. A garra tem capacidade entre 1,5 Kg e 5 kg, abertura de 220 e 1.860 mm. Os braços são revestidos com borracha, aço e poliuretano.
Astra - Tubo Pex multicamadas para gás, ar-condicionado e coletor solar: Lançamento do grupo Astra, o Tubo Pex é composto por cinco camadas de polietileno reticulado, alumínio e um adesivo que proporcionam ao produto durabilidade e flexibilidade. O produto é maleável, assumindo a conformação desejada e inclusive mudando a direção sem a necessidade de conexões; tem alta resistência à corrosão. O acabamento externo e a capacidade
Braskem lança manta em poliéster expandido para pisos: As mantas de polietileno
de fazer curvas com precisão tornam
expandido proporcionam conforto acústico ao ambiente, por meio do sistema
o produto opção para instalações
de contrapiso flutuante. Além de atender à norma ABNT 15.575-3 tanto no nível
aparentes. Também é resistente
intermediário (5mm) quanto no superior (10mm), o material tem baixo custo e elevada
a impactos, à grande pressão e à
durabilidade. É resistente à água e à umidade. Sua fabricação não utiliza CFC para
temperaturas elevadas, em função
expansão, ou seja, não agride o meio ambiente, sendo reciclável.
da camada interna de alumínio.
12
entrevista
REPORTAGEM: Marcos de Sousa FOTO: Divulgação
Fernando de Mello Franco
CONSTRUIR UMA nova cidade Principal articulador do novo Plano Diretor Estratégico de São Paulo, o arquiteto e urbanista Fernando de Mello Franco comemora a recente aprovação do documento (Lei 16.050/14), que promete redirecionar a forma de ocupação da cidade. O objetivo é estimular o setor imobiliário a desenvolver novos modelos de edifícios, mais abertos, de forma a criar uma nova dinâmica no meio urbano: ocupar as ruas, criar praças e corredores verdes e estimular a construção ao longo dos corredores de transporte. Nesta entrevista, o atual secretário de Desenvolvimento Urbano de São Paulo comenta os principais avanços obtidos com o novo plano diretor.
A cidade, em especial São Paulo, é feita pelo mercado imobiliário? O que muda com o novo Plano Diretor? Não concordo com a ideia de que o mercado constrói a cidade. Ele tem um protagonismo importante, mas São Paulo é uma cidade muito complexa e há um conjunto de atores nesse processo de construção. Basta lembrar que 30% da cidade foram feitos à revelia do mercado formal e isso não é pouco. O maior mérito do Plano Diretor é que ele foi elaborado a partir de uma negociação para construir um pacto social bastante abrangente. Nesse processo não buscamos apontar os “culpados” nem os “anjos” . O texto final é a resultante de vários vetores de múltiplos agentes que atuam e interferem nos destinos da cidade. Quem saiu vencedor nessa negociação? Acho que 100% do envolvidos saíram insatisfeitos com o resultado final, o que é uma virtude. Se houvesse um, dois, ou três agentes satisfeitos, aí teríamos um problema. São Paulo não pode ser compreendida e administrada se nós não entendermos que a cidade é um complexo palco de disputas. A experiência do Plano poderá ser referência para outras cidades brasileiras? Já é. Temos recebido solicitações não apenas de cidades do interior de São Paulo, mas também de capitais para conhecer e discutir o assunto. E temos notícia de que, em Belo Horizonte, os representantes do mercado imobiliário haviam se afastado 14
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das discussões do plano diretor e que, após ver a aprovação do plano em São Paulo, eles voltaram para a mesa de negociação. Aqui nós conseguimos aprovar alguns pontos fundamentais, que são exemplares, como a conquista do Coeficiente Básico Um, que embora já estivesse na Reforma Urbana dos anos 1960 não havia sido colocado em prática: todo proprietário tem direito ao aproveitamento de uma vez a área do terreno; qualquer construção que exceda a essa área deve ser considerada como solo criado, cujo uso envolve o pagamento de outorga à prefeitura. E esse pagamento visa a distribuir o ganho obtido com essa obra excedente para a sociedade, na forma de recursos para o Fundurb, que é um fundo para a qualificação da cidade. O Plano Diretor estabelece um mínimo para a aplicação desses recursos em 30% para habitação e 30% para mobilidade urbana. Os restantes 40% ficam para as outras áreas. O Coeficiente Um é, sobretudo, um instrumento para direcionar o crescimento da cidade, permitindo que o poder público ofereça benef ícios aos empreendedores que investirem naquelas áreas consideradas estratégicas pela política urbana do município. Em vários momentos, o senhor tem falado que o Plano Diretor busca uma cidade mais humana, mais aberta para os pedestres, mais saudável. Que cidade poderia ser um bom exemplo? Qualquer grande cidade litorânea tem um calçadão, tem aquela faixa entre a cidade e o mar, que é um espaço público, de-
mocrático. Em São Paulo, não temos praia e todos os esforços têm de ser dirigidos para duas estratégias: o fortalecimento da rede de parques e espaços livres e, especialmente, restaurar a dignidade daquele espaço público mais básico, que é a rua. E o Plano Diretor tem a orientação clara para priorizar o transporte público e para favorecer o transporte não-motorizado, com a construção de ciclovias e ciclofaixas e a melhoria das condições de circulação para o pedestre, em detrimento do automóvel particular. O Plano Diretor procura estimular os empreendimentos privados construídos daqui para frente a considerar essas prioridades e não fiquem fechados dentro do lote. Eles não serão mais prédios isolados, mas parte integrante da cidade, abertos para o espaço público, com calçadas mais largas. Propomos que o mercado imobiliário repense as tipologias dos empreendimentos para adequação a esse modelo. O plano estabelece novos critérios para a construção de edifícios, com prioridade para os eixos de transporte. Essa verticalização tem sido vista com desconfiança por parte da população, que teme a perda da personalidade dos bairros mais horizontalizados. O plano vai significar um freio ou um acelerador para o mercado imobiliário? Desde o começo das discussões do plano defendemos a ideia de que adensamento e verticalização são conceitos muito distintos. O Real Parque, na zona sul da cidade é um conjunto de torres altas, mas de baixa densidade. O bairro de Paraisópolis, ali ao lado, tem altíssima densidade demográfica sem a verticalização. Defendemos o adensamento da cidade ao longo dos eixos de transporte, que serão os locais mais bem-dotados de infraestrutura de mobilidade – calçadas, ciclovias, arborização. A ideia é mudar a lógica do uso e da construção da cidade. Mas concordamos com inúmeros pleitos de associações de moradores que defendem a necessidade de preservação da memória da cidade. Então, nos miolos de bairros, estamos limitando o adensamento e restringindo a verticalização para o máximo de oito pavimentos. Isso tudo será detalhado na discussão do zoneamento. O Plano foi aprovado e as pessoas esperam que essas transformações venham logo. Mas como será o processo de regulamentação dessas diretrizes? Isso vai levar muito tempo? Uma das grandes diferenças do Plano Diretor atual é que partimos do princípio de que suas determinações sejam autoaplicáveis. Em grande parte, as medidas preconizadas já estão em vigor e dispensam uma regulamentação exterior. Uma das grandes diferen-
ças do Plano Diretor atual é que partimos do princípio de que suas determinações sejam autoaplicáveis. Em grande parte, as medidas preconizadas já estão em vigor e dispensam uma regulamentação exterior. Há algumas questões, como o parcelamento do solo, o zoneamento, que devem ser decididas nos próximos meses. A proposta para a Lei de Zoneamento já está disponível para consulta pública no site gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br. Calçadas são um problema e não apenas em São Paulo. Dentro dessa lógica de estimular a ocupação das ruas, há algum plano para a renovação das calçadas da cidade? No mundo ideal, a prefeitura deveria assumir a construção e manutenção das calçadas em todos os quase 18 mil km de ruas de São Paulo. Mas no mundo real, a situação é muito mais complexa. Isso significaria construir cerca de 36 mil m2 de calçadas, considerando apenas um lado de cada rua. Além disso, há o problema dos cabos, postes, a interferência com a arborização... Os novos corredores de transporte – nos últimos dias foi anunciada a contratação de 60 km – irão contemplar um conjunto de equipamentos, incluindo a calçada, ciclovia, paisagismo e iluminação. Como ficam os grandes planos urbanísticos da cidade? Estamos pensando São Paulo dentro de uma visão metropolitana e isso inclui a maneira como a cidade se relaciona com seu patrimônio hídrico e uma enorme área de antigas edificações fabris. O plano estabelece prazos, entre 2015 e 2016, para que os instrumentos – como a proposta do Arco Tietê, e a Operação Urbana Mooca-Vila Carioca – vinguem na forma de projetos urbanos, projetos em várias escalas, que podem ser realizados por pequenas empresas ou grandes grupos. É um processo que está demandando a estruturação de projetos urbanos, com suas modelagens jurídicas, financeiras e econômicas. É uma seleção de propostas que permitam o desenvolvimento dessas áreas ao longo de 20 anos, incluindo o desenvolvimento econômico da região, a geração de empregos, a oferta de moradias, a qualificação dos ambientes urbanos. E a operação Nova Luz? Consideramos que a proposta era insustentável do ponto de vista financeiro e muito criticada pela população – moradores e comerciantes. Estamos estudando alternativas para a transformação da região da Luz e esses estudos estão bem avançados. Tão logo eles sejam concluídos, abriremos um debate com a sociedade para definir o futuro da região da Luz.
Confira o texto completo do plano diretor no link http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/arquivos/PDE-Suplemento-DOC/PDE_SUPLEMENTO-DOC.pdf A proposta da nova Lei de Zoneamento está disponível no site http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/caderno-de-propostas-para-a-revisao-do-zoneamento/ 15
piso intertravado
A orla da praia da Barra, cartão postal da Bahia, acaba de ser requalificada com um projeto de uso compartilhado, que prioriza o pedestre. No piso, blocos intertravados de concreto
REPORTAGEM: Regina Rocha FOTOS: Divulgação/Mila Cordeiro
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A Barra, seu farol, público de volta à Turistas e soteropolitanos vêm retomando, desde agosto, o antigo costume de apreciar o por do sol no Farol da Barra. Agora, porém, com a comodidade e segurança que o emblemático local, por anos sem o merecido cuidado, vinha perdendo. Toda a orla da Barra foi requalificada por obras que duraram dez meses, envolveram investimentos de R$ 60 milhões, e transformaram a região num amplo cal-
çadão, onde o destaque é o piso intertravado com blocos de concreto. A Barra é um dos nove trechos que integram o ambicioso projeto da Prefeitura de Salvador de recuperação, até 2016, de toda a orla da cidade. Neste trecho, o projeto básico e executivo de arquitetura e urbanismo – incluindo especificações de materiais, mobiliário e paisagismo – é do arquiteto Sidney Quintela, que se baseou no projeto conceitual da prefeitu-
e o espaço às pessoas ra, assinado por Prado Valadares Arquitetos. Também de autoria de Quintela é o projeto do trecho Rio Vermelho, com obras que devem iniciar em novembro.
Piso compartilhado O principal atrativo do projeto é o piso compartilhado, conceito que prevê a não-separação do espaço de circulação de pedestres, bicicletas, skates ou patins. Em alguns trechos, o acesso aos
carros é permitido somente para moradores e comerciantes, e a velocidade máxima é 20 km/h. Os blocos de concreto foram usados também no ‘traffic calming’ (piso levemente elevado, sinalizando a travessia do pedestre) em ruas que cortam o calçadão. Além dessa estrutura, a segurança é reforçada por barreiras eletrônicas, piquetes e defensas que delimitam a zona dos veículos. “Tudo foi feito para promo17
piso intertravado
a opção pelo piso intertravado foi justamente para aproximar mais o ser humano da sua cidade
ver a convivência civilizada e harmônica entre os diversos usuários deste bairro agora compartilhado” , diz Quintela. A prioridade ao pedestre, marca conceitual do projeto, deve ser estendida a outros pontos da capital. Segundo o arquiteto, “a opção pelo piso intertravado foi justamente para aproximar mais o ser humano da sua cidade” .
Blocos de concreto Na pavimentação, foram usados blocos de concreto retangulares, com 8 cm de espessura e fck de 35 MPA, nas cores natural e vermelha, explica Luiz Antonio Cunha, gerente comercial da T&A, 18
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fornecedora do produto. Os intertravados são combinados ao granito cerrado e ao concreto polido. O piso é a base do conjunto que inclui ainda mobiliário urbano – bancos de alumínio fundido e madeira – e paisagismo de espécies nativas. “Estes elementos, combinados, conferem ao bairro um sentimento de praça” , observa o arquiteto. Foram implantados 23 mil m2 de piso intertravado, mais 16,9 mil m2 de calçada com piso podotátil, para orientar deficientes visuais. Além do piso tátil, há outros procedimentos de acessibilidade: “Não projetamos desníveis entre ruas e calçadas, por exemplo, e nos acessos à praia
FICHA TÉCNICA Obra: Requalificação da orla de Salvador – Trecho Farol da Barra Empreendimento: Prefeitura Municipal/ Secretaria de Desenvolvimento, Turismo e Cultura Projeto: Sidney Quintela (SQ+Arquitetos Associados) Execução: Construtora Odebrecht Fornecedor dos blocos de concreto: T&A Investimento: R$ 57.705.106,00 Tempo de obra: 10 meses Conclusão: agosto de 2014 Números do projeto: 50 mil m2 de pavimento total 23 mil m2 de piso intertravado
usamos rampas conforme a NBR, para garantir o deslocamento de cadeirantes e pessoas com dificuldade de locomoção” , afirma. As balaustradas (vigas de proteção) características da Barra foram preservadas, reconstruídas segundo o modelo existente. Os vergalhões de ferro da estrutura, oxidados, foram substituídos por novo material, de macrofibra plástica. A iluminação adota luminárias de LED, de acionamento remoto, para reduzir o consumo de energia. Toda a fiação elétrica, de iluminação e telecomunicações é enterrada, evitando a poluição visual. Também as lixeiras são enterradas,
por razões estéticas e de salubridade. A atividade turística em Salvador responde por 20% do PIB municipal. Daí a importância desta recuperação, diz o autor do projeto: “O bairro estava muito degradado, sem a infraestrutura apropriada para o destino de lazer e entretenimento esperado, quer para seus moradores, quer para visitantes” . E conclui: “Nosso projeto devolve a autoestima ao bairro e proporciona à cidade uma área com total infraestrutura, apta a servir à população com a prática de esportes, lazer e segurança, numa zona extremamente bucólica e contemplativa” .
6 mil m2 de granito 17 mil m2 de calçada com piso podotátil 1,3 km de balaustradas reconstruídas
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Peças especiais de concreto compõem as curvas assinada pelo escritório suíço Herzog & De Meuron. O projeto é o primeiro passo de um plano para a ordenação urbana da comunidade Mãe Luiza, em Natal
REPORTAGEM: Marcos de Sousa IMAGENS: Divulgação
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Uma nova vista para Mãe Luiza Mãe Luiza é um bairro localizado entre as dunas e uma região valorizada de Natal. Trata-se de uma área de beleza rara, com uma delicada relação com o ambiente natural. Agora, por uma iniciativa do Centro Sócio-Pastoral Nossa Senhora da Conceição e da Fundação Ameropa, instituição suíça de ajuda ao desenvolvimento, a comunidade ganhou uma obra de arquitetura assinada pelo escritório suíço de arquitetura Herzog & de Meuron, a primeira de um ambicioso projeto que pretende requalificar o tradicional bairro potiguar. O projeto para o ginásio Arena do Morro é o primeiro passo da proposta urbana “Uma visão para o bairro de Mãe Luiza” , desenvolvido pela equipe do Herzog & de Meuron, explicou o arqui-
teto Ascan Mergenthaler, encarregado da tarefa. O trabalho começou a ser desenvolvido em 2009, em conjunto com a fundação e o centro pastoral.. “Quando a possibilidade de trabalhar em Natal nos foi apresentada pela Fundação Ameropa, nós respondemos: ‘tudo bem’, mas que só assumiríamos o projeto se pudéssemos saber exatamente o que é o bairro, como funciona a comunidade e como olhar para os diferentes ingredientes da favela para transformá-la em algo novo. ” Mergenthaler lembra que a comunidade de Mãe Luiza cresceu sobre uma duna, em um ponto onde o solo seco e arenoso encontra o mar e essa paisagem conforma uma das características mais fortes da cidade de Natal. A localização privilegiada do bairro, lembra ele, foi um
dos fatores marcantes de sua urbanização: tudo começou como uma ocupação ilegal, que aos poucos se espalhou pelas dunas no entorno do farol, ainda hoje um dos principais pontos de referência da capital potiguar. “Ao longo do tempo, a força das relações comunitárias construiu um bairro diferente das favelas tradicionais. Apesar disso, no dia-a-dia, a vida ainda é severamente afetada pela criminalidade, e nossa primeira visita a Santa
Luiza revelou um entorno muito pobre, com uma infraestrutura completamente destruída” , lembrou Mergenthaler. Segundo o arquiteto da Herzog & de Meuron, de um lado, a beleza natural da área atrai interesses comerciais imobiliários, uma forte pressão que ameaça tanto o ambiente natural como o tipo de vida da comunidade. De outro, a proteção ao sítio natural, que propiciou um nicho confortável para a vida de seus habitan-
a comunidade ganhou uma obra de arquitetura assinada pelo escritório suíço de arquitetura Herzog & de Meuron, a primeira de um ambicioso projeto que pretende requalificar o tradicional bairro potiguar
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No total, a obra empregou cerca de 12 mil blocos de concreto em duas tipologias, uma com curvatura mais aberta, outra mais fechada, mas ambas com o mesmo centro geométrico
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tes, também restringe seu potencial de crescimento, especialmente em relação ao turismo. O primeiro objetivo do projeto urbanístico foi definir claramente os papeis da infraestrutura existente e hierarquizar as ruas principais e secundárias. O lado leste ficaria reservado para o comércio e pontos de transporte público, enquanto a parte oeste do bairro seria uma região para tráfego leve, com prioridade aos pedestres, uma possível zona mais silenciosa, propícia à observação da natureza local. A proposta urbanística contempla uma passarela que começa nas proximidades do farol, segue perpendicular à rua João XXIII (a principal do bairro) passa pela escola e suas quadras esportivas, margeia o casario e termina nas dunas. Esse boulevard, imaginam os arquitetos, poderá ser um novo tipo de espaço público em Maria Luiza, como uma praça linear coberta que organizaria a ocupação da área entre as dunas e o mar.
Edificação pioneira Um dos primeiros elementos dessa futura infraestrutura é a recém-inaugurada Arena do Morro, um espaço cultural e esportivo construído com uma grande cobertura metálica e curiosos volumes curvilíneos executados com blocos de concreto vazados, especialmente desenhados e fabricados para a obra. Mergenthaler explica que a gênese do projeto para a cobertura veio do antigo ginásio que ocupava parte da área. O projeto simplesmente ampliou e deu continuidade à projeção das linhas da antiga cobertura para estendê-la a todo o terreno.
Para evitar o “efeito estufa” da cobertura metálica, o projeto usou um truque, deixando pequenos espaços entre os paineis de telhado, de forma a permitir a ventilação e saída do ar quente. Mergenthaler explica que são telhas de formato padrão, fáceis de encontrar, e que não foram cortadas. “Nós simplesmente fomos mexendo no telhado, mudando as aberturas até encontrar uma posição que permitisse a entrada de luz e saída do ar, mas impedisse a entrada da chuva” .
Paredes duplas, curvas Sob essa grande tenda, os arquitetos desenharam um conjunto de volumes curvilíneos, que abrigam quadra esportiva com 420 assentos, vestiários, sanitários, sala de professores, duas salas multiuso, terraço e áreas de convívio, num total de 1.860 m2 distribuídos em dois pavimentos. “Sentíamos que as paredes curvas seriam importantes para criar um objeto divertido na paisagem, mas sabía mos que as fachadas não poderiam ser uma barreira, deveriam ser como membranas e permeáveis à luz e ao ar” , explica o arquiteto. Nasceu daí a ideia de construir paredes duplas, formadas por blocos de concreto dotados de aletas que dirigissem o ar, mas pudessem criar alguma barreira visual. Coube à arquiteta Mariana Vilela, brasileira que trabalha no Herzog & de Meuron, a tarefa de desenvolver localmente as peças para a construção. A demanda foi aceita com entusiasmo pelo engenheiro George Hilton Lemos Neves, diretor da empresa Pavblocos, que atua em Natal há oito anos. Ele lembra que logo ao receber o desenho proposto pelos arquitetos notou que a fabricação dos blocos seria impossível com os equipamentos existentes, e sugeriu algumas alterações. “A ideia era criar dois tipos de blocos curvos, que pudessem resultar em paredes vazadas, paralelas e
Implantação 1. Praça nas dunas - terraço nas dunas para atividades contemplativas e educação ambiental 2. Oficinas - área para atividades profissionalizantes 3. Quadra de esportes - atividades esportivas diversas 4. Lojas - atividades comerciais 5. Arena do morro - atividades esportivas e ensino de dança 6. Escola - atividades educacionais existentes e centro de ensino profissionalizante 7. Uma nova ligação - ligação entre as atividades propostas através de percurso térreo ou elevado 8. Cultura - atividades culturais de artes, música, dança e anfiteatro para espetáculos 9. Parque - recuperação da vegetação original e tratamento paisagístico conforme estudos do paisagista Roberto Burle Marx 10. Passarela do mar - integração entre o bairro e a orla marítima por meio de um percurso à beira-mar 11. Cobertura verde - passeio sombreado por vegetação na rua João XXIII
1. Entrada da Escola 2. Sala dos Professores 3. Vestiários 4. Quadra Esportiva e arquibancadas 5. Sala Multiuso I 6. Sala Multiuso II 7. Depósito 8. Sala Multiuso III 9. Entrada Pública 10. Sanitários 11. Saguão e Circulação 12. Obra de Arte de Flávio Freitas
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concêntricas, mas o desenho das aletas era inviável. Daí, a arquiteta acatou nossas sugestões e produziu uma nova proposta, com modelos feitos de resina plástica” , explica George Neves.
Desafios na fabricação O passo seguinte foi tentar fabricar artesanalmente as peças e experimentar a montagem em escala real, nas paredes. A experiência deu certo e meses depois Mariana Vilela retornou da Suíça com 24
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moldes e artefatos metálicos para permitir a produção dos blocos. “Para chegar ao resultado final tivemos que testar vários traços de concreto, porque o próprio processo de desforma exigia uma densidade específica da massa. Além disso, o projeto havia especificado um concreto de tonalidade clara, que teve de ser feito com cimento branco estrutural. Ao final, atingimos uma resistência de 4 MPa” , lembra o fabricante. A resistência obtida foi suficiente para
FICHA TÉCNICA Arena do Morro Local: Mãe Luiza, Natal-RN Realização: Ameropa Foundation Centro Sócio Pastoral N. Sra. da Conceição Área do terreno: 5.207 m2 Área construída: 1.861 m2 Ano do projeto: 2011-2013 Construção: 2012-2014 Projeto de arquitetura: Herzog & de Meuron Equipe de Projeto: Tomislav Dushanov, Mariana Vilela, Melissa Shin, Diogo Rabaça Figueiredo, Kai Strehlke, Edyta Augustynowicz e Daniel Fernández Florez Projetos complementares Executivo de arquitetura, estrutura, elétrica, hidráulica e paisagismo, e consultoria de sustentabilidade: Plantae-Planejamento Técnico em Arquitetura e Engenharia (arq. Lúcio Dantas) Obra de Arte: Flávio Freitas (Natal)
suportar as sobrecargas da construção, no caso, apenas o peso próprio das paredes, já que a cobertura é independente e apóia-se em pilares de concreto cilíndricos. “Mas, como a altura dessas paredes variava entre quatro e seis metros, a carga era relativamente alta” , conta o engenheiro. No total, a obra empregou cerca de 12 mil blocos de concreto em duas tipologias, uma com curvatura mais aberta, outra mais fechada, mas ambas com o mesmo centro geométrico.
O engenheiro George Neves avalia que o projeto significou um desafio importante para sua empresa, mas avisa que por enquanto não poderá comercializar os blocos, em função de contrato de exclusividade assinado com a Herzog & de Meuron. No entanto, as mesmas peças ainda serão aplicadas nas futuras obras previstas no plano urbanístico para a área. Em breve, aqui na revista Prisma.
Consultorias Qualidade do concreto: EEPC Engenharia (Natal-RN) Iluminação: Luminárias Projeto (São Paulo) Tráfego urbano: Ritur (Natal) Equipe da obra AR Construções (Engs. Roberto Antunes, Edma Medeiros e Antônio José) Fornecedores Pavblocos (Blocos de concreto) Revindústria (Piso e revestimento em granilite) Sherwin Williams (Pintura) Estrutura Metálica Vulcano (Montagens industriais)
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Programas amplos e abrangentes ajudam a elevar a qualidade de produtos de cimento oferecidos ao mercado; PSQs setoriais, Selo de Qualidade da ABCP e Selo de Excelência da Abcic envolvem mais de duas centenas de fabricantes em todo o país
REPORTAGEM: Silvério Rocha IMAGENS: Divulgação/Arquivo Prisma
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A qualidade como A falta de qualidade dos produtos e sistemas construtivos utilizados em muitas edificações na construção civil brasileira sempre foi um problema grave, que acabava prejudicando os usuários finais desses edif ícios. A notícia positiva para os compradores de materiais de construção e, especialmente, de produtos à base de cimento, como argamassas, blocos e pisos, lajes e pré-moldados estruturais, é que esses artefatos contam hoje com programas voltados para a qualidade, que recebem cada vez mais adesões de empresas à medida que os contratantes, públicos e privados, passam a exigir a comprovação da conformidade às normas da ABNT de seus fornecedores. Atualmente, a cadeia produtiva da construção civil brasileira conta com o denominado “Sistema Unificado da Qualidade” , que abrange o Selo de Qualidade para blocos e pisos intertravados de concreto e os Programas Setoriais da Qualidade (PSQs), inseridos no Programa
Brasileiro da Qualidade e Produtividade no Hábitat (PBQP-H), do Ministério das Cidades, e coordenados pelo Sindicato Nacional dos Produtos de Cimento (Sinaprocim/Sinprocim), que engloba os setores de argamassas colantes, blocos e peças de concreto para pavimentação e lajes pré-fabricadas de concreto. Os pré-moldados estruturais, estacas pré-fabricadas e placas arquitetônicas de concreto também contam com o seu sistema de garantia de qualidade, representado pelo Selo de Excelência da Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto (Abcic). Juntos, esses programas somam quase três centenas de empresas participantes, qualificadas e que produzem de acordo com as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Vantagens da qualidade “A construção civil brasileira está passando por um processo pelo qual a qua-
meta lidade e a certificação dos produtos são fundamentais” , avalia o engenheiro Ramon Otero Barral, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Blocos de Concreto (BlocoBrasil). Barral explica que o Sistema Unificado da Qualidade busca justamente atender a essa exigência, especialmente de construtoras, organismos financiadores da construção habitacional e dos programas habitacionais, como Caixa Econômica Federal e o Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV), do governo federal, e dos programas estaduais e municipais de ha-
Ramon Otero Barral, presidente da BlocoBrasil: “O mercado exige certificação e qualidade”
bitação, além do mercado imobiliário, ao ampliar o número de empresas qualificadas em todo o Brasil. A BlocoBrasil conta hoje com 83 fabricantes de blocos e pisos de concreto associados e tem como précondição para o ingresso na associação que o fabricante seja detentor do Selo de Qualidade da ABCP. O engenheiro Fernando Dalbon, coordenador do Selo de Qualidade da ABCP, concorda com Barral. Ele lembra que o Selo de Qualidade ABCP é uma qualificação voluntária para os fabricantes de blocos de concreto para alvenaria e pavimentação, que visa à melhoria dos produtos à base de cimento. “Para o mercado, esta qualificação prévia é a segurança de comprar de fabricantes que respeitam as normas técnicas e prezam pela qualidade final de seus produtos, gerando impactos positivos nos sistemas construtivos e no mercado como um todo.” O programa teve início mais restrito, em 2001, mas atualmente tem grande
Para o mercado, o Selo de Qualidade é a segurança de comprar de fabricantes que respeitam as normas técnicas e prezam pela qualidade final de seus produtos
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PSQ Blocos vazados de concreto e peças de concreto para pavimentação Mantenedor: Sindicato Nacional da Indústria de Produtos de Cimento (Sinaprocim), no âmbito do Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Hábitat (PBQP-H/Ministério das Cidades). Atende às regras da Portaria 570 do Ministério das Cidades, que deu nova redação ao Regimento do Sistema de Qualificação de Empresas e Materiais, Componentes e Sistemas Construtivos (SiMaC). Empresas participantes: cerca de 50 empresas, de todo o país, responsáveis por aproximadamente 60% do volume de produção nacional. Objetivo: aumentar a conformidade às normas técnicas da ABNT dos produtos comercializados no Brasil. Participação: voluntária, acessível a empresas de todos os portes. Gestão técnica: feita de forma independente por entidade gestora técnica credenciada pelo PBQP-H. O acompanhamento da conformidade às normas técnicas é realizado por meio da amostragem dos produtos nas unidades fabris ou até nos canteiros. Ensaios: realizados em laboratórios acreditados pelo Inmetro ou credenciados pelo programa. Classificação das empresas: A cada três meses, a Entidade Gestora Técnica do Programa elabora um relatório mostrando a situação do setor, a classificação das empresas participantes. Estes relatórios podem ser acessados por qualquer empresa ou consumidor brasileiro através do site do PBQP-H (http://www.cidades.gov.br/pbqp-h/ projetos_simac_psqs2.php?id_psq=60. Combate à não-conformidade: há diversas ações de combate à não-conformidade, tanto em obras públicas quanto privadas e de esclarecimento a prefeituras e órgãos públicos sobre a importância de utilizar produtos em conformidade com as normas técnicas. Mais informações: www.sinaprocim.org.br, pelo e-mail tecnologia@sinaprocim.org.br ou pelo tel. (11) 3149-4040.
Como obter o Selo de Qualidade, passo a passo Como solicitar: o fabricante preenche um cadastro na ABCP, efetuando download da ficha de solicitação cadastral pelo portal da associação e o encaminha para a Gestão do Programa, que fará uma análise preliminar. Auditoria: Na sequência será agendada a auditoria inicial na fábrica por auditores qualificados pela ABCP. Coleta de amostras: Posteriormente à auditoria, estando a empresa em conformidade com o Regulamento do Programa, é iniciado o processo de coleta das amostras para avaliação de conformidade, de acordo com os ensaios preconizados pelas normas da ABNT. As coletas são realizadas pela própria ABCP ou por laboratórios parceiros da associação. A qualificação inicial desses laboratórios e a manutenção dessa qualificação ocorrem pela realização periódica de programas de ensaios interlaboratoriais a fim de uniformizar e garantir a qualidade dos resultados dos ensaios realizados. Período inicial de avaliação: Durante o processo inicial de avaliação de um produto, os ensaios são realizados quinzenalmente. Concessão do selo: Após uma sequência de quatro aprovações, é concedido o Selo da Qualidade ABCP. A partir daí, os ensaios são realizados mensalmente e, após um ano, as amostras passam a ser analisadas trimestralmente. Quem recebe o selo: Quem recebe o Selo é o produto e não a empresa; as coletas são trimestrais e as auditorias anuais são realizadas enquanto a empresa possui produto qualificado. Penalidades: Caso a empresa não cumpra com as disposições do regulamento do Programa do Selo da Qualidade, ela estará sujeita a penalidades e até à suspensão do Selo da Qualidade. Todos os procedimentos, formulários, check-list de auditoria e relação de custos do Programa estão disponíveis no portal www.abcp.org.br, na seção de “downloads”. No site, há também a relação das empresas detentoras de produtos com o Selo de Qualidade ABCP. Fabricantes com Selo por Estado BA 2%
CE 2%
DF 3%
ES 7% GO 3% MG 5%
SP 39%
PR 10% RJ 8% SC 13%
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RS 8%
selo de Excelência Abcic As normas e regimentos do Selo Abcic estão disponíveis no site da entidade – www.abcic.org. br -para download: • Matéria Selo de Excelência • Proposta Setorial Orientativa IFBQ • Regimento R.01 Credenciamento, Manutenção e Descredenciamento da Planta de Produção • Regimento R.02 Atividades da Comissão e Conselho • Regimento R.03 Atividades do Avaliador • Norma N.01 Classificação da Planta de Produção • Norma N.02 Avaliação da Planta de Produção • Norma N.03 Emissão de Atestado e Uso do Selo • A1.N2 Anexo 1 da N.2 O processo de certificação é conduzido e operacionalizado pelo CTE (Centro de Tecnologia em Edificações), entidade subcontratada pela ABCIC visando assegurar eficácia, interdependência e isenção ao processo de certificação. O credenciamento do processo de certificação, comparável a um processo de acreditação do sistema, se dá pela Comissão de Credenciamento (Ccred). Trata-se de comissão voluntária, formada por representantes de outras entidades com interface no sistema construtivo que a Abcic representa. Entidades Membros da Ccred: ABCP, CTE, Ibracon, Asbea, IAB, ABNT-CB 18, Sinduscon –SP e Abece. Para elaboração dos Regimentos e Normas aplicáveis, especialistas do setor formaram um comitê. Tiveram como referências não só as normas de qualidade internacionais, mas também as normas técnicas ABNT aplicáveis ao produto. Outra referência adotada para a estruturação do Selo de Excelência foi o programa de certificação do PCI – American Precast/ Prestressed Concrete Institute. Referências Adotadas para o Selo de Excelência: • NBR ISO 9001 Sistema de Gestão de Qualidade • NBR ISO 14001 Sistema de Gestão Ambiental • OHSAS 18001 Sistema de Segurança e Saúde Ocupacional • ABNT NBR 9062 Projeto e Execução de Estruturas de Concreto Pré-Moldado e Normas Complementares • Norma Regulamentadoras do Ministério do Trabalho (NR 04, NR 05 etc.) • PNQ – Brasil Prêmio Nacional da Qualidade • Conceitos do PCI - American Precast Prestressed Concrete Institute
Empresa BPM Pré-Moldados Ltda. Cassol Pré-Fabricados Ltda. Cassol Pré-Fabricados Ltda. Cassol Pré-Fabricados Ltda. Cassol Pré-Fabricados Ltda. Cassol Pré-Fabricados Ltda. Cassol Pré-Fabricados Ltda. Construtora Viero Ltda. Engemolde Engenharia, Ind. e Comércio Ltda. Indústria Brasileira de Pré-Moldados IBPLC Pré-Moldados Indústria e Comércio S.A. Incopre Indústria e Comércio S.A. Leonardi Construção Industrializada Ltda. Pavi do Brasil Perville Construções e Empreendimentos S.A. Pré-Moldados Protendit Protendit Construção e Comércio Ltda. Proaço Indústria Metalúrgica Ltda. Precon Engenharia S.A. Preconcretos Engenharia S.A. Pré-Fabricar Construções Ltda. Premo Construções e Empreendimentos S.A. Premodisa Sorocaba Sist. Pré-Moldados Ltda. Rotesma Artefatos de Cimento Ltda. Sudeste Pré-Fabricados Ltda. T&A Pré Fabricados Ltda. T&A Pré Fabricados Ltda. T&A Pré Fabricados Ltda.
Planta / Cidade Criciúma / SC Araucária / PR São José / SC Monte Mor / SP Canoas / RS Serropédica / RJ Celso Ramos / SC Erechim / RS Maricá / RJ Cotia / SP Ibiúna / SP Jeperi / RJ Atibaia / SP Taubaté / SP Joinville / SC S.J. do Rio Preto / SP Cachoeira / SP Ituporanga / SC Belo Horizonte / MG Porto Alegre / RS Ibirama / SC Vespasiano / MG Sorocaba / SP Chapecó / SC Nova Odessa / SP Maracanaú / CE Igarassu / PE Itu / SP
Nível II II II II II II II I I I I I III I I III II II III II III III II I III I I I
(FU) x x x x x x x x
x
x x x x x x
x x
(AR) x x x x x x x x x x
(PR) x x x x x x x x x x
x x x x x x x x x x x x x x x x x
x x x x x x x x x x x x x x x x
(PA) x x x x x
(AL) x x x x x x
x
x
(TE)
(MO)
x x x x
x
x x x x
x x x x x x
x x x x x x x x x
x
x
x x x x
Fundação (FU), estrutura armada (AR), estrutura protendida (PR), painéis arquitetônicos (PA), peças alveolares (AL), telhas (TE), monoblocos (MO)
Por ser um programa específico direcionado e elaborado para o setor, avalia não somente a Gestão de Qualidade, mas também o efetivo atendimento da ABNT NBR 9062 - Projeto e Execução de Estruturas de Concreto Pré-Moldado. Trata-se de um programa evolutivo que busca a melhoria das empresas de acordo com o avanço nos níveis do selo, do Nível I ao Nível III. Escopos da Certificação: Elementos de Fundação, Elementos para Estrutura Armada, Elementos, para Estrutura Protendida, Painéis Arquitetônicos, Peças Alveolares, Telhas e Monoblocos
Mais informações: www.abcic.org.br, pelo e-mail: abcic@abcic.org.br ou pelos telefones (11) 3763-2839 ou (11) 3021-5733.
29
qualidade
abrangência, incluindo mais de 75% da produção de blocos de concreto no Brasil, das 97 empresas que detêm o Selo e 19 outras que estão em processo para a sua obtenção. Dalbon lista entre as principais motivações para o aumento da adesão ao Selo de Qualidade a obrigatoriedade de os fornecedores de insumos ao PMCMV terem certificação do Inmetro ou participação nos Programas Setoriais da Qualidade do PBQP-H, “além do forte estímulo de entidades como a BlocoBrasil e o Sinaprocim/Sinprocim” .
Programas Setoriais da Qualidade
Os ensaios e auditorias são fundamentais em programas como o PSQ
Íria Doniak, presidente executiva da Abcic: “O Selo de Excelência é um programa evolutivo que apresenta conceitos de controle, garantia e gestão integrada”
30
prisma
Os três PSQs relacionados a produtos de cimentos – dos 26 existentes hoje no PBQP-H – buscam a melhoria das argamassas colantes, blocos e peças de concreto para pavimentação e lajes pré-fabricadas de concreto em relação à conformidade com as normas da ABNT, explica o engenheiro Anderson Oliveira, do Sinaprocim/Sinprocim. “Buscamos incrementar a qualidade, visando a estabelecer a isonomia competitiva nas cadeias produtivas desses segmentos e a melhorar o nível dos produtos oferecidos ao mercado” , afirma. Ele lembra que, no setor de blocos vazados de concreto e peças de concreto para pavimentação, o índice inicial de conformidade, de 15%, teve enorme elevação, atingindo 60% atualmente. As 105 empresas qualificadas pelo PSQ têm seus produtos submetidos a ensaios periódicos: blocos e lajes pré-fabricadas de concreto a cada três meses e as argamassas quadrimestralmente, devido à maior complexidade dos ensaios exigidos. “A vantagem dos PSQs é que eles conseguem acompanhar o setor e o mercado com maior frequência, reduzindo assim os casos de não-conformidade” , explica o engenheiro Daniel de Luccas, da Associação Brasileira da Indústria de Lajes (Abilaje).
A filiação das empresas ao respectivo PSQ é voluntária e tem custo relativamente baixo, comparativamente aos benef ícios auferidos pelo fabricante. Entre eles, incluem-se a melhoria da qualidade; a possibilidade de vender seus produtos com o Cartão BNDES, que, para isso, exige a qualificação pelo PSQ, e a facilidade para a venda a construtoras que atuam em programas habitacionais. Isto porque o Siac/PBQP-H possui regulamentação que desobriga a construtora de qualificar seu fornecedor se este estiver qualificado pelo programa setorial de qualidade.
Selo de Excelência Abcic Criado em 2003 pela Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto (Abcic), o Selo de Excelência qualifica atualmente 26 das 54 empresas associadas à entidade. O Selo de Excelência Abcic é um programa de qualidade específico para as indústrias de pré-fabricados de concreto. O programa tem como objetivo fixar a imagem do setor com padrões de tecnologia, qualidade e desempenho adequados às necessidades do mercado e é válido também para plantas instaladas em canteiros de obras, desde que atendam aos regimentos e normas aplicáveis. Segundo a engenheira Íria Doniak, presidente executiva da Abcic, decisão recente da Assembleia Geral da associação definiu que todos os fabricantes associados terão de possuir o Selo de Excelência, concedendo o prazo de um ano para todos se adequarem. “O Selo de Excelência Abcic tem este nome por não se restringir somente à avaliação de requisitos de qualidade, mas engloba também aspectos de segurança e meio ambiente. Trata-se de um programa evolutivo que apresenta conceitos de controle, garantia e gestão integrada à medida que a empresa passa para um nível superior” , relata a presidente executiva da associação.
profissional top
De funcionário público a empresário bem-sucedido O empresário Lúcio Silva, mineiro de Belo Horizonte, traçou uma trajetória profissional pouco comum, até se tornar um dos maiores fabricantes de blocos de concreto de seu estado natal. Formado como técnico mecânico, ele prestou concurso em meados dos anos 1980 para o setor de informática da Prefeitura de Contagem, na Grande Belo Horizonte. Passou e resolveu aproveitar a vantagem de trabalhar apenas meio período (das 7h às 13h) na prefeitura para montar uma fábrica de blocos em Belo Horizonte. “Comecei de maneira muito simples, montando uma pequena fábrica num terreno de 200 m2, alugado”, conta Silva. Um ano e meio depois, ele e seus dois irmãos, que sempre atuaram em conjunto, compraram um terreno maior, de 2.400 m2, em área industrial de Belo Horizonte. “Foi um passo muito largo que demos, então”, recorda. “Compramos equipamento de ponta para a época, tudo automatizado.”
Lúcio Silva
Como parece ser um fio condutor de sua história profissional, Lúcio e seus irmãos
é empresário, sócio da Blocos Sigma, diretor da Regional Minas Gerais da BlocoBrasil, vice-presidente do Sinprocim-MG e diretor da Fiemg
atuavam também com transportes, chegando a ter uma frota de caminhões que prestava serviço para grandes empresas. Mas a produção de blocos de concreto falou mais alto. “Compramos outro terreno, de 1.400 m2, também em BH, e começamos do zero”, diz. “Montamos outra indústria, construímos o galpão e tudo.” Porém, depois de pronto, viram que o layout da fábrica estava errado. Não tiveram dúvidas: desmancharam o que estava feito e reconstruíram, corretamente. Nessa época, a área de transportes estava crescendo, com grandes clientes; “mas posteriormente resolvemos diminuir nossa atuação nesse setor, no qual atuamos por sete anos”. Venderam então a área de 2.400 m2 e compraram outra, com 16.500 m2, também no setor industrial da capital mineira e que já tinha as instalações de uma indústria de pré-moldados. Montaram ali duas empresas, uma para a fabricação de blocos, a Bloco Sigma, e outra, para produção de pavers, a Pav Sigma. “Estávamos querendo investir no setor de pisos e montamos essa outra empresa.” O setor de pisos, porém, ficou de escanteio até hoje, em virtude do crescimento da demanda por blocos, com o lançamento do Programa Minha Casa, Minha Vida, pelo governo federal. A Bloco Sigma, assim, cresceu e se tornou uma das principais fabricantes
PARA FALAR com Lúcio Silva, envie um e-mail para lucio@blocosigma.com.br ou ligue para (31) 8611-0198
de blocos de Belo Horizonte, atualmente. Mas a vontade de atuar também em pisos permanece e ”deve se tornar realidade talvez ainda neste semestre”, revela Lúcio. O empresário passou a atuar também nas entidades setoriais, primeiramente na BlocoBrasil, da qual é diretor regional, e ocupa ainda atualmente a vice-presidência do Sindicato da Indústria de Produtos de Cimento de Minas Gerais (Sinprocim-MG), além de ser diretor-adjunto da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg). “Quando penso nas condições em que comecei e na experiência que adquiri ao longo desses anos, também nas entidades de classe, penso que foi um caminho muito emocionante, excelente. Sou muito grato a Deus por tudo que obtive na vida.”
32
artigo
O Impacto da Aplicação da ACV e da Produção Mais Limpa em Pequenas e Médias Empresas de Artefatos de Cimento Cláudio Oliveira Silva e Vanderley M. John
RESUMO: O setor de cimento representa mundialmente cerca de 5% da geração de gases de efeito estufa e, embora os principais grupos cimenteiros já forneçam ao mercado cimentos com menor emissão de CO2, o mercado tem buscado maneiras de comparar a sustentabilidade de produtos e sistemas construtivos. Uma acirrada competitividade ambiental deve ocorrer entre setores concorrentes, porém, se não forem utilizadas as ferramentas corretas de mensuração de impactos ambientais, cada setor pode escolher o que apresentar ao cliente. Como alternativa a este cenário, este trabalho apresenta como a aplicação da Avaliação de Ciclo de Vida Modular (ACV-M), que propõe a mensuração apenas dos fluxos predominantes no processo de produção, reduzindo os custos de implantação e viabilizando sua aplicação em pequenas e médias empresas. A aplicação em um número significativo de empresas cria faixas de variação de indicadores, condição muito mais favorável para avaliar o impacto de determinado setor do que a adoção de valores médios normalmente utilizados em ACV’s completas, normalmente restritas às grandes empresas devido aos custos e prazos elevados. A ACV-M foi aplicada em um grupo de fabricantes de blocos de concreto, denotando a importância da divulgação das faixas de variação, pois foram encontradas diferenças significativas entre os fabricantes. Associada à obtenção dessas faixas e sua divulgação ao mercado, o estudo também demonstra como a adoção da metodologia de produção mais limpa, com o objetivo de melhorar o posicionamento de determinado fabricante dentro da faixa de variação, pode resultar em ganhos em escala de todo um setor de produção.
1. INTRODUÇÃO:
ferentes empresas, mesmo que utilizem rotas tecnológicas
A avaliação do ciclo de vida (ACV) completa, devido à
semelhantes, poderão apresentar diferentes visões empre-
sua complexidade e custos elevados, dificulta o acesso de
sariais e/ou culturais, podendo implicar em variações sig-
pequenas e médias empresas a esta importante ferramenta
nificativas de seus indicadores ambientais, sendo portanto
de desenvolvimento sustentável, fazendo com que a ACV
necessário comunicar ao mercado não apenas os valores
fique restrita às grandes corporações. Isto gera um número
médios de indicadores de impacto ambiental, mas sim as
limitado de indicadores que acabam por não ser represen-
faixas de variação dos indicadores escolhidos na avaliação.
tativos da diversidade industrial de muitos setores, pois di-
A falta de uma ferramenta de ACV de fácil acesso por 33
artigo parte de firmas pequenas e médias acaba por prolongar
ar focada nas ações que resultem na redução de emissões,
o uso do greenwashing entre empresas do mesmo se-
entretanto, mesmo com todo o esforço já despendido pelo
tor, que acabam se beneficiando de indicadores de um
setor em oferecer ao mercado cimentos de menor emissão
fabricante-líder com processos produtivos efetivamente
de CO2 e, muito embora o cimento Portland, como mate-
ecoeficientes e entre setores concorrentes, que através de
rial ligante utilizado em concretos e argamassas ainda não
associações de fabricantes tentam convencer o mercado
tenha um substituto com características de produção em
que basta a obtenção de um único indicador para rotular
alta escala e preço acessível, não significa que a crescente
todo um setor, muitas vezes composto por centenas de fa-
competitividade ambiental não possa afetar o desempenho
bricantes dos mais diferentes portes e níveis tecnológicos.
de crescimento da indústria cimenteira, pois esta competi-
Este trabalho tem como objetivo apresentar como a
tividade não se dá no material ligante e sim nos produtos e
aplicação, em um grupo de fabricantes de blocos de con-
sistemas construtivos.
creto, da ferramenta de ACV-modular, metodologia derivada
Desse modo, tem-se a compreensão da importância
da ACV completa, porém focada nos fluxos predominantes
de aumentar a competitividade ambiental dos produtos e
do processo produtivo, associada à aplicação da metodolo-
sistemas construtivos à base de cimento e não apenas
gia de produção mais limpa podem gerar impactos positi-
do cimento de forma isolada. Uma das formas de alcan-
vos em todo um setor produtivo.
çar este objetivo claramente é a otimização do consumo de cimento nos concretos e argamassas. Neste contexto,
34
prisma
2. A Produção de Cimento e o Setor de Artefatos no Brasil
a cadeia industrial que utiliza o cimento como principal insumo ganha importância, pois é o ambiente mais favo-
O setor de cimento é responsável por 5% das emissões
rável ao uso de tecnologias de otimização de consumo de
de gases de efeito estufa (GEE), devido a dois fatores intrín-
cimento, além é claro de poder-se aprimorar os processos
secos ao processo de produção do cimento Portland: a cal-
produtivos envolvidos.
cinação de matérias-primas e o consumo dos combustíveis
É com este foco na cadeia industrial que destacamos
necessários para manter as altas temperaturas do forno de
as mudanças no perfil da distribuição do consumo de ci-
produção de clínquer. Nos próximos anos, a expectativa é que
mento no Brasil na última década, demonstrando um ex-
a participação da indústria nas emissões de CO2 aumente à
pressivo crescimento da industrialização no uso do cimen-
medida que a demanda por cimento cresce, principalmente
to. Isto pode ser evidenciado através dos dados fornecidos
no países em desenvolvimento, onde a demanda por cimento
pelo Sindicato da Indústria do Cimento (Snic). Em 2002, o
deve subir a taxas significativas, aumentando a pressão am-
perfil de distribuição do cimento consumido no Brasil apre-
biental sobre o setor de cimento (WBCSD-IEA, 2009).
sentava o canal revenda com 70,1% do consumo anual
A redução significativa de emissões do setor de cimento
de cimento, sendo que em 2012 este número caiu para
pode ser alcançada por meio da aplicação de técnicas de
54%. Entre os setores da indústria que utiliza o cimento,
captura e armazenagem de carbono, porém, estas técnicas
destacam-se: as concreteiras com crescimento de 12,8%
demandam elevados investimentos e encarecem os custos
para 21% e o setor de artefatos de cimento que passou de
de produção (CAMIOTO, 2013) (WBCSD-IEA, 2009). Além
2,61% para 5% de participação no consumo anual de ci-
da captura e armazenamento de carbono, a indústria de
mento no mesmo período entre 2002 e 2012 (SNIC, 2014).
cimento tem adotado alternativas mais viáveis fomentadas
A Figura 1 apresenta o perfil de distribuição do cimento
pelo World Business Council for Sustainable Development
consumido no Brasil.
(WBCSD), como a eficiência térmica e elétrica, o uso de
O crescimento significativo dos últimos anos do setor
combustíveis alternativos e a substituição do clínquer por
de blocos de concreto foi possível devido à uma série de
outros materiais como a escória de alto-forno, cinza volan-
ações estruturantes promovidas para minimizar as deficiên
te, pozolanas e filer calcário (WBCSD-CSI, 2014).
cias internas do segmento, como o aumento da articulação
Neste contexto, o Brasil tem se tornado referência mun-
da cadeia produtiva através da criação da associação de
dial, com uma das taxa de CO2 por tonelada de cimento
fabricantes BlocoBrasil, melhoria nos processos de gestão
mais baixas do mundo. Em 2011 o Brasil apresentava indi-
dos principais fabricantes em diferentes regiões do país,
cador médio de 568 kg CO2/t de cimento enquanto que a
atualização do parque tecnológico, com aquisição de equi-
média mundial era de 629 kg CO2/t de cimento (WBCSD-
pamentos modernos de produção por parte desses fabri-
CSI, 2014). Ainda assim a indústria brasileira deve continu-
cantes, ações de divulgação dos sistemas construtivos,
Importação
1,0% 0,4%
Outros finais
1,0% 0,2%
Construtoras/ Empreiteiras
Desempenho Industrialização
12,0% 7,7%
Outros industriais
6,0% 6,3%
Artefatos
5,0% 2,6%
Concreteiras
2012 2002
Deficiências do setor Articulação da cadeia Gestão Processo Inovação
Sistemas concorrentes Associações de fabricantes Fabricantes
21,0% 12,8%
Revenda
54,0% 70,0%
Qualidade Sustentabilidade
0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0% 80,0%
Participação do canal no total de venda do cimento (%)
Figura 1 - Perfil da distribuição do cimento Portland consumido no Brasil em 2002 e 2012 (SNIC, 2014).
Figura 2 - Desafios do setor de blocos de concreto frente ao mercado. Fonte: autor.
entre outras. Além disso, a falta de oferta de qualidade,
(HOXHA et al, 2014). Os parâmetros para a realização de
anteriormente comum, foi superada em diversas regiões do
uma ACV estão estabelecidos na norma ISO 14040, que es-
Brasil por meio da atualização e ampla divulgação das nor-
pecifica quatro etapas analíticas distintas para a sua reali-
mas técnicas entre os fabricantes e consolidação das certi-
zação: definição de objetivo e escopo, criação do inventário
ficações de qualidade, que passaram a ser referência para
de ciclo de vida e interpretação dos resultados (ISO 2006).
os especificadores e compradores dos blocos de concreto.
Embora a ACV seja a melhor ferramenta para mensurar
O setor também se alinhou às demandas de racionalização
e comparar os impactos ambientais ao longo do ciclo de
e industrialização, fomentando o desenvolvimento de fer-
vida de produtos e serviços, sua complexidade e custos de
ramentas, componentes complementares e mecanização
implementação tornam seu uso bastante limitado, princi-
de processos, aumentando a produtividade dos tradicionais
palmente para pequenas e médias empresas (JOHN et al,
sistemas construtivos de alvenaria e pavimentação. A Figu-
2013). Com o objetivo de viabilizar o uso da ACV em peque-
ra 2 ilustra os desafios da indústria de blocos de concreto
nas e médias empresas, com redução de custos e prazos
para alvenaria e pavimentação.
de implementação, o Conselho Brasileiro da Construção
Atualmente, o novo e crescente desafio imposto pelo
Sustentável (CBCS) apresentou na conferência Rio+20 uma
mercado, e que deve atingir não só o setor de blocos de
proposta de desenvolvimento de ACV com características
concreto, mas todos os materiais e sistemas construtivos,
que respeitam as especificações da ISO 14040 e ao mes-
está ligado à sustentabilidade. Disto decorre a grande im-
mo tempo possibilitam o acesso de empresas de menor
portância que o setor de blocos de concreto tem apresenta-
porte de diferentes setores industriais.
do em relação a ferramentas como a Avaliação de Ciclo de
Este é um fator importante em comparação à ACV com-
Vida, cujo objetivo é mensurar os indicadores relacionados
pleta, pois possibilita a mensuração de impactos ambientais
aos impactos ambientais.
em um número maior de empresas de um mesmo segmento, criando parâmetros para um determinado produto em faixas
3. Avaliação de Ciclo de Vida
de variação e não apenas com um único valor médio, mui-
Em 2002, na cidade de Johanesburgo, África do Sul,
tas vezes obtido em bancos de dados internacionais, como
ocorreu o encontro mundial para desenvolvimento susten-
é prática comum na ACV completa, o que impossibilita de-
tável, no qual foram estabelecidos ferramentas, políticas e
monstrar as diferenças entre fabricantes de um mesmo setor
mecanismos de avaliação baseados na análise do ciclo de
e ainda distorce o comparativo entre setores concorrentes.
vida – ACV, a fim de promover padrões de produção e con-
A metodologia proposta pelo CBCS intitulada de ACV-
sumo e incrementar a ecoeficiência de produtos e serviços
modular (ACV-m), consiste em determinar os cinco fluxos
(HERTICH, 2005).
principais de um determinado processo produtivo. Esses
A ACV inclui todo o ciclo de vida de um produto, proces-
fluxos foram escolhidos com base nos seguintes critérios
so ou sistema, englobando desde a extração e processa-
(JOHN et al, 2013):
mento de matéria-prima, produção, transporte e distribui-
• fluxos predominantes, aqueles com maior relevância am-
ção, uso, reúso, manutenção, reciclagem e disposição final
biental; 35
artigo • facilmente mensuráveis pela própria empresa e conse-
normativas para os blocos de concreto e, mesmo assim,
quentemente de fácil auditoria;
observa-se grande variação em todos os fluxos avaliados
• não requerer grande quantidade de dados secundários
na ACV-m aplicada neste grupo de fabricantes.
de emissões; • serem baseados no conhecido conceito de “pegada”. Para os materiais de construção civil, os cinco fluxos
Deste modo, a mensuração dos indicadores propostos na ACV-m colocada em prática pelo CBCS no setor de blocos de concreto, quando solicitada pelos especificadores e
inicialmente escolhidos são:
consumidores para comparar o potencial de impacto am-
• Pegada de CO2
biental dos produtos especificados, pode acabar criando
• Consumo de energia
também um círculo virtuoso dentro do setor, no qual cada
• Pegada de água
fabricante, tendo conhecimento de seus indicadores e sua
• Pegada de resíduos
posição dentro da faixa de indicadores de ACV-m, acabe
• Intensidade de uso de matéria-prima
por buscar melhorar sua posição através da metodologia de
Conceitualmente, a ACV-m pode ser escalada até
produção mais limpa.
contemplar todas as análises de uma ACV completa, dependendo do porte da empresa e do produto, processo ou serviço avaliado. Isto torna a ACV-m uma ferramenta mais
O conceito de Produção Mais Limpa foi introduzido pela
flexível e apropriada à grande diversidade de empresas e
primeira vez pelo Programa de Meio Ambiente das Nações
segmentos dentro da cadeia da indústria da construção civil
Unidas (Unep), em 1989, como uma abordagem inovadora
(JOHN et al, 2013).
para a conservação e gestão ambiental de recursos. Pro-
A parceria entre ABCP, BlocoBrasil e CBCS possibilitou a
dução Mais Limpa é uma estratégia de gestão ambiental
implementação, no setor de blocos de concreto, do conceito
preventiva, que promove a eliminação de resíduos, antes de
de ACV-m. Esta ferramenta tem o objetivo de mensurar e
sua geração, reduzindo sistematicamente a poluição e me-
comparar os impactos ambientais ao longo do ciclo de vida
lhorando a eficiência da utilização de recursos (UNEP, 2001).
dos blocos de concreto para alvenaria e peças de concreto
O foco da metodologia é minimizar ou evitar a gera-
para pavimentação. A Figura 3 ilustra os fluxos de produção
ção de resíduos, reciclar os resíduos gerados, aumentar a
dos blocos de concreto avaliados nos fabricantes, tendo
eficiência na utilização das matérias-primas, água e ener-
como escopo apenas o fluxo até o portão da fábrica.
gia e de reduzir os riscos para as pessoas e para o meio
Os indicadores de impactos ambientais foram avaliados
ambiente (UNEP, 2002). O Programa de Produção mais
inicialmente em 33 fabricantes distribuídos por diferentes
Limpa traz para as empresas benefícios ambientais e eco-
regiões do Brasil. Deste modo, o setor de blocos de concreto
nômicos que resultam na eficiência global do processo
é o primeiro setor a utilizar o conceito de faixa de indicado-
produtivo (CNTL, 2003).
res em uma ACV. Os produtos avaliados nos 33 fabricantes
A ABCP, em parceria com a Rede de Tecnologia e Ino-
foram: blocos de vedação com resistência à compressão de
vação (Redetec) e com o Centro de Tecnologia Senai-RJ
2 MPa e dimensões normatizadas de 14x19x30 cm, blo-
Ambiental – CTS Ambiental, iniciou um projeto-piloto de
cos estruturais com resistências à compressão de 4 MPa,
implantação da metodologia de Produção mais Limpa em
6 MPa, 8 MPa, 10 MPa e 12 MPa, dimensões normatizadas
fabricantes de blocos de concreto. A metodologia foi aplica-
de 14x19x30 cm e peças de concreto para pavimentação
da em um fabricante do Estado do Rio de Janeiro.
no formato retangular e com dezesseis faces, com resis-
Durante o evento inicial de capacitação, o fabricante ava-
tência à compressão de 35 MPa e 50 MPa. Para ilustrar
liado estabeleceu como expectativas do programa em sua
a obtenção de faixa de variação de indicadores, a Figura 4
empresa os seguintes parâmetros (CTS Ambiental, 2012):
apresenta a variação de um dos indicadores mensurados.
• Aumento de produtividade
Os resultados parciais da ACV-m de blocos de concreto
36
prisma
4. Produção Mais Limpa
• Redução de desperdícios e de não-conformidades
apresentados na Figura 4 ilustram a importância da criação
• Qualidade dos produtos
das faixas de indicadores para cada produto, pois o grupo
• Menor impacto ambiental
de fabricantes avaliados utiliza a mesma rota tecnológica,
• Redução de produtos rejeitados
com equipamentos de produção similares e todos são cer-
• Diminuição de consumo de energia elétrica
tificados com o Selo de Qualidade ABCP, atestando que este
• Reaproveitamento de paletes
conjunto de fabricantes cumpre as mesmas especificações
• Redução de ruído
Matérias Primas Água e Energia
Areia
Pó-de-pedra
Pedrisco
Cimentos
Aditivos
Emissões e Resíduos
Pigmentos
Transporte Armazenamento
Transporte Água Energia
Dosagem / Mistura
Transporte
Mercado Consumidor
Transporte Energia
Emissões Atmosféricas
Prensagem
Transporte Água Energia
Resíduos Sólidos
Cura Efluentes
Energia Plástico
Transporte Embalagem
Pallets
Transporte Energia Pallets
Reciclagem
Descarte
Estocagem
Figura 3 - Fluxos de entrada e saída na produção de blocos de concreto (CBCS, 2012)
Bloco estrutural 4 MPa (%cimento / massa seca do bloco)
Porcentual de cimento na massa seca do bloco
12,0% Mediana
11,0%
Bloco estrutural de 4 MPa
10,0%
9,0%
8,0%
7,0%
6,0%
5,0%
4,0% 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33
Identificação do fabricante Figura 4 - Faixa de variação do indicador de consumo de cimento/massa seca de blocos estruturais de 4 MPa de resistência à compressão avaliado nos 33 fabricantes participantes do programa de ACV-M. Verifica-se a grande dispersão do consumo de cimento entre os fabricantes (CBCS, 2014). 37
artigo
No
Oportunidade
Benefício Ambiental esperado
Benefício Econômico estimado (R$)
Outros benefícios esperados
Obstáculos
R$ 5.500,00
Melhoria de saúde dos trabalhadores
Investimento: parada na produção
Recuperação parcial da perda de R$ 4.000,00/ ano
Imagem corporativa
Encontrar parceiros
R$ 5.000,00 (1%)
Melhoria da produtividade
Parada de produção
R$ 11.000,00 (10%)
Melhoria da produtividade; imagem
Investimento
R$ 33.000,00 (30%)
Melhoria da produtividade; imagem
Investimento; parada na produção
R$ 11.000,00 (10%)
Melhoria da produtividade; imagem
Investimento e resistência dos trabalhadores
Redução do consumo de pó-de-pedra e brita
01
Impermeabilização pisos na armazenagem de brita e pó-de-pedra
02
Otimização do uso de filme plástico
03
Melhoramento do layout de produtos
04
Redução dos custos de GLP na cura por uso de painel solar - pré-aquecimento da água
Melhoria da qualidade do ar no ambiente da empresa Redução do consumo de água de lavagem de pisos Redução do consumo e disposição final de plástico Redução do consumo de GLP Redução emissões CO2 Redução do consumo de GLP Redução emissões CO2
05
Redução do Redução dos custos consumo de GLP de GLP na cura por uso de painel solar uso de água a 80 oC em lugar de vapor Redução emissões CO2
06
Isolamento térmico das câmaras de cura de blocos
Redução do consumo de GLP Redução emissões CO2
07
Recuperação da água de chuva
Redução do impacto ambiental global da empresa
Não determinado
Imagem corporativa
Investimento e custos operacionais
08
Recuperação de pallets
Redução do consumo de madeira e de resíduos
R$ 5.700,00 (10%)
Imagem corporativa
Resistência dos usuários
09
Enclausuramento de prensas
Redução do ruído
Não determinado
Saúde ocupacional
Investimento, parada da produção, espaço
10
Substituição das embalagens de pigmentos e logística reversa
Redução dos resíduos a destinar
R$ 402,00
Produtividade
Resistência dos fornecedores
11
Compostagem do lodo de fossa
Redução dos resíduos a dispor
Imagem
Espaço e mão de obra
12
Contador de energia elétrica
Avaliação real de consumo de e.e.
ND
Investimento
ND
Figura 5 - Quadro resumo de oportunidade de produção mais limpa identificados em um fabricante de blocos (CTS Ambiental, 2012). 38
prisma
O Programa de Produção mais Limpa implantado pelo
cessário estabelecer os critérios de determinação dos flu-
CTS Ambiental segue a metodologia da Organização das
xos predominantes em cada um dos setores, devendo-se
Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Onudi),
definir uma padronização dos procedimentos de mensura-
sendo constituído por cinco etapas: (CTS Ambiental, 2012).
ção destes fluxos através de norma nacional, oficializando a ACV-m como ferramenta de entrada para elaboração de
Etapa 1 - Planejamento e Organização Etapa 2 - Diagnóstico ou Avaliação Prévia Etapa 3 - Estudos e Avaliações (Balanço de Massa e de Energia) Etapa 4 - Desenvolvimento de Projetos de Produção mais Limpa ou Estudos de Casos Etapa 5 - Implantação e Monitoramento dos Estudos de Casos A Etapa 1 envolve a capacitação da equipe da empresa com formação do ecotime que será envolvido no projeto. Na etapa 2 é realizado o diagnóstico da empresa com o detalhamento do fluxograma do processo produtivo e a quantificação de todas as entradas como matérias-primas, energia, água e insumos, assim como as saídas, como produtos e resíduos. Nas etapas seguintes os dados são consolidados no relatório do diagnóstico, os quais evidenciam as oportunidades de melhoria. De acordo com as prioridades da empresa, as oportunidades de melhorias são selecionadas e transformadas em estudos de casos. Por fim, são apresentadas as oportunidades de produção mais limpa e os benefícios estimados de cada implantação. A Figura 5 apresenta um quadro resumo das oportunidades de melhorias e benefícios econômicos apresentados ao fabricante estudado.
5. considerações finais O conceito de ACV-m permite a implantação em escala da ACV, podendo gerar um cenário favorável à indústria da construção civil, composta por um grande número de pequenas e médias empresas que encontram dificuldades em se diferenciar em termos de ecoeficiência em meio a um grande número de fabricantes. Para o consumidor, a ACV-m deve proporcionar indicadores de impactos ambientais mais próximos da realidade, facilitando a decisão de escolha de um fornecedor ou de determinado tipo de produto. Entretanto, para que a ACV-m possa ser utilizada nos diferentes segmentos dos materiais de construção, é ne-
indicador de impacto ambiental. Esta ferramenta poderá gerar uma competitividade ambiental saudável entre os fabricantes, gerando ganhos reais para a diminuição de impactos ambientais em determinados setores devido à busca por diferenciação. Incentivados pelo poder de escolha do consumidor, os fabricantes deverão se empenhar em reduzir os indicadores.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAMIOTO, F. C.; REBELATTO, D. A. N. Análise da contribuição ambiental da alteração da matriz energética do setor de cimento. XXXIII Encontro Nacional de Engenharia de Produção, Salvador, out. 2013. CENTRO DE TECNOLOGIA SENAI AMBIENTAL – CTS Ambiental. Diagnóstico de Produção mais Limpa. 2012. Diretoria de Inovação e Meio Ambiente. Sistema Firjan. Núcleo de Produção Mais Limpa do Estado do Rio de Janeiro. CENTRO NACIONAL DE TECNOLOGIAS LIMPAS – CNTL - SENAI-RS/UNIDO/UNEP. Implementação de Programas de Produção mais Limpa. Porto Alegre, 2003. CONSELHO BRASILEIRO DE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – CBCS. Apresentação do programa ACV-M de blocos de concreto, 2012, não publicado. CONSELHO BRASILEIRO DE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – CBCS. Relatório preliminar do programa ACV-M de blocos de concreto, 2014, não publicado. HERTWICH, E., G, Life Cycle Approches to Sustainable Consumption: A critical review. Vol, 39. N. 13, 2005. Environmental Science & Technology. HOXHA, E.; HABERT, G.; CHEVALIER, J.; BAZZANA, M.; ROY, R. L. Method to Analyse the contribution of material’s sensitivity in buildings’ environmental impact. Journal of Cleaner Production 66, p. 56-64, 2014. INTERNATIONAL STANDARDIZATION ORGANIZATION – ISO. 14040, 2006. Environmental Management Life Cycle Assessment Principles and Framework. ISO, Brussels, 2006. JOHN, V. M.; PACCA, S. A.; ANGULO, S. C.; CAMPOS, E. F. C; Strategies to escalate the use of LCA based decision making in the world-wide industry. CBCS, 2013. SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DO CIMENTO – SNIC. Relatório Anual 2002 e Relatório Anual 2012. Acesso em junho/2014 < http://www.snic.org.br/pdf/ relatorio_anual_2012-13_web.pdf> UNITED NATIONS ENVIRONMENTAL PROGRAMME (UNEP). Division of Technology, Industry and Economics. International Declaration on Cleaner Production. Implementation Guidelines. UNEP, 2001. UNITED NATIONS ENVIRONMENTAL PROGRAMME (UNEP). Division of Technology, Industry and Economics. Changing production patterns: learning from the experience of National cleaner production centres. UNEP, 2002. WORLD BUSINESS COUNCIL FOR SUSTAINABLE DEVELOPMENT – WBCSD. Cement Sustainability Initiative – CSI. Acesso em junho, 2014. http://www. wbcsdcement.org/index.php/key-issues/climate-protection/gnr-database. WORLD BUSINESS COUNCIL FOR SUSTAINABLE DEVELOPMENT – WBCSD; International Energy Agency – IEA. Cement Technology Roadmap 2009 – Carbon reduction up to 2050.
Autores Cláudio Oliveira Silva é mestre em engenharia na área de materiais de construção e pós-graduado em administração industrial na Escola Politécnica da USP. Engenheiro civil pela Universidade de Guarulhos, com especialização em marketing pela ESPM. É gerente da área de Inovação e Sustentabilidade da ABCP e representante da associação no CBCS. claudio.silva@abcp.org.br Vanderley M. John é é engenheiro civil pela Universidade do Rio dos Sinos; mestre em engenharia civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, doutor em engenharia civil pela Universidade de São Paulo e tem pós-doutorado no Royal Institute of Technology da Suécia. É professor-associado da Escola Politécnica da USP e membro da coordenação das Engenharias da Fapesp e do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS) 39
mesa-redonda
Participantes do 17o Fórum InterCement, que discutiu argamassas industrializadas
Argamassas industrializadas têm espaço para inovar em produtos e serviços O 17o Fórum InterCement, que aconteceu em São Paulo, em 25 de setembro, abordou os aspectos práticos das argamassas industrializadas; as características, os pontos de inovação em materiais e serviços e como ela se posiciona em relação à argamassa dosada em obra. O fórum foi mediado pelo jornalista Hermano Henning e contou com a participação dos engenheiros Erika Oliveira (Sanca Engenharia), Clóvis Massuda (Think Construtora), Denis Capela (Capela Engenharia), Ivan Moreira (Sanca Engenharia), Nelson Prandini (construtora Eztec), Reinaldo Martins (Construtora Camargo Corrêa), Rogério Zotarelli (Capela Engenharia) e Fernando de Oliveira (InterCement).
43
mesa-redonda
Clóvis Massuda (Think Construtora) – A argamassa industrializada hoje está consolidada. É possível fazer argamassa na obra e talvez seja até mais barato, mas diria que a argamassa industrializada, cada dia mais, ganha espaço, por conta da qualidade. E a argamassa industrializada, para nós, construtores, dá segurança maior. Nós utilizamos sempre a argamassa industrializada. Denis Capela (Capela Engenharia) – Somos uma empresa de consultoria de obras e de engenharia. Hoje creio que a principal questão é a de
Érika Oliveira
Ivan Moreira
custo. Há muitas construtoras que
44
optam por fazer a argamassa na obra
vantagens da argamassa industria-
não dê problemas, mesmo que o cus-
porque é mais barato. As construto-
lizada, como qualidade e prazo, são
to seja maior; queremos qualidade e
ras, ao fazerem as contas, verificam
percebidas.
topamos pagar por isso. Isto porque,
que ainda vale mais a pena fazer a
Rogério Zotarelli (Capela Enge-
se tivermos que refazer a fachada, o
argamassa na obra do que comprar
nharia) – Cada construtora tem sua
chapisco, lixar e refazer, perdemos o
a industrializada. Grandes constru-
cultura de obra, mas o custo é sem-
prazo e isto é muito problemático.
toras, como a Eztec, por exemplo,
pre fundamental. Acho que tem falta-
Reinaldo – Creio que é preciso um
usam argamassa industrializada, de-
do suporte técnico às construtoras
acompanhamento maior por parte do
vido às suas outras vantagens.
para aumentar e melhorar a utilização
fabricante da argamassa no dia a dia
Massuda – Utilizamos a argamas-
da argamassa industrializada.
da obra, vendo como o produto está
sa industrializada por ela diminuir os
Nelson Prandini (Eztec) – Acho que
se comportando, fazendo ensaios,
riscos de patologias, porque em obra
o ganho de escala que se tem é mui-
verificando a qualidade.
é difícil controlar o traço e qualquer
to bom. Há sete anos produzíamos
Denis – Quanto à qualidade da ar-
desvio pode gerar problemas.
a argamassa em obras e mudamos
gamassa virada em obra e a arga-
Reinaldo Martins (Camargo Cor-
para a argamassa industrializada, es-
massa industrializada, as argamas-
rêa) – Acredito que a argamassa in-
pecialmente nas fachadas. Quando
sas podem ser melhoradas sim, elas
dustrializada é boa por causa da qua-
partimos para a argamassa industria-
não podem estar niveladas por baixo;
lidade que oferece, de não apresentar
lizada, pensamos principalmente em
elas precisam ter um desenvolvimen-
patologias. O maior problema é o seu
logística e qualidade. A Eztec quer
to técnico. Como empresa de consul-
custo, mais elevado. Perde-se um
usar o melhor produto para a fachada
toria, não definimos argamassa A, B
pouco no custo, mas se ganha no
porque não queremos ter problemas,
ou C ou argamassa virada em obra.
prazo.
porque o cliente percebe essa quali-
Usamos o que a construtora deseja.
Ivan Moreira (Sanca Engenharia)
dade quando não tem problemas. E
E solicitamos todos os ensaios técni-
– A argamassa industrializada ofere-
a gente percebe que o produto é bom
cos para atender aquele material.
ce grande vantagem em relação ao
quando não temos problema. Na fa-
Massuda – Temos utilizado mais a
prazo.
chada, não podemos falhar. Não que-
argamassa industrializada, por garan-
Erika Oliveira (Sanca Engenharia) –
remos e não podemos ter surpresas
tia. Acho que os fabricantes de arga-
Quando a obra é feita para investido-
na fachada. Queremos que, do co-
massa precisam focar mais nas fases
res, eles querem saber o quanto vai
meço ao fim da obra, a qualidade se
pré, durante e no pós-obra.
custar, enfim, fazem as contas para
mantenha. Estamos buscando alter-
Hermano – O que falta para que
saber o custo final. Nem sempre as
nativas no mercado, um produto que
esse suporte maior aconteça?
finalizar a obra dentro do prazo. E sabemos que o engenheiro responsável pela obra tem diversas atribuições, e no final ficamos na grande dependência do aplicador. Tentamos fornecer o máximo de informações possível para a mão de obra responsável pela aplicação e muitas vezes, percebemos uma certa dificuldade na assimilação dessas informações. Todas as patologias, assim como os benefícios, estão diretamente relacionados à obediência àquilo que está especificado. Isto porque, no caso da argamassa Fernando Oliveira
Clóvis Massuda
industrializada, estamos falando de um produto que é mais sensível do
Nelson – Acho que falta mais agili-
Nelson – Em nossas obras, sim.
que uma argamassa virada em obra,
dade, mais especialistas para atender
Fazemos uma série de ensaios, dos
pois nas argamassas industrializadas
às construtoras nas obras.
produtos e da execução. Em facha-
temos tecnologia de aditivos embar-
Hermano – As construtoras têm
das especialmente, porque podem
cada, a qual só conseguimos obter
equipamentos para garantir a produ-
aparecer surpresas depois de a obra
quando
ção na obra?
estar concluída.
especificados. Precisamos entender
Nelson – Temos e utilizamos os me-
Fernando de Oliveira (InterCe-
o que fazer para que não haja esse
lhores equipamentos, misturadores,
ment) – Temos benefícios com as ar-
choque, e que o aplicador enten-
dosadores, usamos equipamentos
gamassas industrializadas que não
da que a responsabilidade dele não
perfeitos. É lógico que a mão de obra
se consegue com as argamassas
se limita à aplicação, a dar o acaba-
pode variar.
virada em obra. Entre elas, a veloci-
mento, mas fazê-lo com qualidade. E
dade, padronização, qualidade, logís-
a construtora também entender que
QUALIFICAÇÃO DA MÃO DE OBRA
tica, enfim, uma série deles. Entende-
a responsabilidade dela depende de
Ivan – Acho que a mão de obra está
mos que há fatores intervenientes na
terceiros, os quais precisam ser fisca-
até qualificada, mas hoje por que não
obra: o fornecedor, o contratante e
lizados.
haver treinamento? Com a falta exis-
o aplicador. O que teríamos de fazer
Nelson – No balancim, é o tarefei-
tente hoje no mercado, criar mais
hoje para conscientizar o aplicador,
ro, que fica o tempo todo nessa apli-
mão de obra apta é muito importan-
que, em última análise, é do trabalho
cação, mas é uma função que tem
te. E os fabricantes de argamassa de-
dele, da sua capacidade de colocar
rotatividade muito maior. O mercado
veriam participar de todo o processo,
em prática aquilo que foi passado,
hoje não está tão aquecido e é pos-
desde o seu início, na escolha da ar-
que resulta a qualidade final daquela
sível que consigamos selecionar me-
gamassa, ao acompanhamento da
etapa da obra. O fornecedor da ar-
lhor a mão de obra do balancim, da
obra e suporte técnico.
gamassa e o construtor prestam to-
aplicação. São duas coisas: primei-
Rogério – Creio que é fundamental
das as explicações e vemos que, em
ro, selecionar os melhores profissio-
que as empresas de argamassas par-
determinado momento, existe, por
nais; segundo, em toda obra fazer-
ticipem de todo o processo, do início
vários motivos, resistência do profis-
mos o treinamento constante. Lógico
da execução, acompanhamento da
sional em seguir aquelas instruções.
que, como há muita rotatividade, nem
obra até o fim, incluindo aí o suporte
Existe um choque entre quem forne-
sempre se consegue manter a quali-
para o treinamento da mão de obra.
ce, quem compra e quem aplica a ar-
dade da mão de obra. Mas precisa-
Hermano – É feito o controle de
gamassa. Obviamente, todos visuali-
ríamos também de uma argamassa
qualidade da obra?
zam o mesmo objetivo, que é o de
que aceite um desaforo maior. Hoje
seguimos
procedimentos
45
mesa-redonda
não há mais aquela preocupação: será que o aplicador vai colocar gesso na argamassa? Em geral, melhorou a qualidade da mão de obra. Mas acho que a argamassa precisaria ter um avanço, ter maior flexibilidade na aplicação, aceitar mais desaforos. Denis – Dentro desse contexto, creio que ficou bem claro que a metodologia de controle infelizmente não reflete a realidade do mercado. Sabemos que algumas construtoras trabalham buscando o máximo de controle de qualidade, mas sabemos também que isto infelizmente não reflete a rea
Denis Capela
Rogério Zotarelli
lidade das obras. Mas também veri-
46
fico que a maioria das construtoras
te, raciocina a partir de quanto vai ga-
NORMAS
não se atenta para fatores primordiais,
nhar, apesar de treinarmos os aplica-
Hermano – As normas existentes
de consultoria, de projeto, algumas
dores, muitos deles não entendem o
ajudam as construtoras?
construtoras até se preocupam com
que eles ganham por fazer o procedi-
Nelson – O problema das normas
esses fatores, mas num momento tar-
mento correto.
é que as faixas de classificação são
dio, quando essa etapa já aconteceu.
Hermano – Pagar por produção é o
muito grandes e aí temos argamas-
A obra toda é muito rápida. Acho que
melhor?
sas produzidas dentro das normas,
falta a compreensão da importância
Nelson – É perigoso, mas é a forma
na mesma faixa de classificação, que
desse profissional [do consultor].
com que o mercado trabalha. Quanto
não são as ideais.
Fernando – Vemos que hoje na
à mão de obra própria, é difícil, por-
Rogério – Realmente, as margens
construção civil brasileira temos uma
que as grandes construtoras seguem
de tolerância das normas de arga-
grande formação de empreendedo-
as leis, pagam “por dentro” e não
massa são muito grandes, e isso não
res, quando se fala da mão de obra
conseguem competir com muitos
é bom.
de aplicadores. Muitos profissionais
que pagam “por fora”. Então, é muito
Fernando – Em relação às normas,
entram nas construtoras, adquirem
mais caro para a construtora ter essa
temos tanto para a produção, como
um conhecimento básico e formam
mão de obra própria do que contratar
para aplicação e para projeto. Exis-
uma empreiteira. Até certo ponto,
um terceirizado. O prêmio ser incor-
tem pontos em que deveriam ser
vejo isso como uma coisa benéfica,
porado ao salário é a situação ideal.
mais claras, mais objetivas.
tanto em empreendedorismo quanto
Fazemos isso com nossos funcioná-
Ivan – Creio que o que falta é um en-
para disponibilizar mais empresas de
rios, mas para determinadas funções
tendimento melhor entre as partes
mão de obra ao mercado. Mas temos
não é viável. Carpinteiros, por exem-
que fazem as normas e, também, de
que voltar a formar novamente novos
plo, tínhamos mão de obra própria,
uma maior participação de quem uti-
profissionais
mas fomos obrigados a contratar ter-
liza os produtos.
Denis – Hoje, no mercado de facha-
ceirizados, por causa do custo traba-
Érika – Creio que falta mesmo uma
das, fazemos um treinamento prá-
lhista, mesmo porque muitos profis-
integração maior dos diversos as-
tico – não é teórico, é prático mes-
sionais não conseguem entender que
pectos da norma e a participação
mo. Explicamos todos os produtos,
os benefícios do registro, com direitos
de quem usa os produtos para que
a utilização das ferramentas, as arga-
a FGTS, aposentadoria etc., valem
as normas não tenham esses pro-
massadeira etc. A melhor didática é
mais do que ganhar por fora, sem os
blemas.
a prática.
descontos trabalhistas. Hoje, o mer-
Fernando – Como já foi dito, tudo
Nelson – A mão de obra, infelizmen-
cado adota os terceirizados mesmo.
começa pelo desenvolvimento de
de tempo para que isto aconteça também com a argamassa industrializada, mas é preciso mostrar as vantagens do produto, que pode ser usado também nas reformas de residências. Denis – O que acontece é que os produtores de concreto bombeado convenceram os construtores e autoconstrutores que é vantajoso utilizar esse produto. O que não aconteceu ainda com a argamassa industrializada. Não acho que o custo é o maior problema, porque o concreto bombeReinaldo Martins
Nelson Prandini
ado antes era mais caro – hoje é até mais barato.
uma cultura. Temos hoje um proces-
lhor utilizar a industrializada, porque
Nelson – Se colocar na ponta do lá-
so para a elaboração de normas que
se tem um controle muito maior do
pis, o bombeado é mais barato do
passa por consultas públicas e sabe-
que pelo método convencional. Mas
que o virado em obra. Mas acho que
mos que, infelizmente, a participação
aí entra a questão da mão de obra,
os principais argumentos seriam a fa-
de todos os envolvidos, de todos os
que não sabe usar a industrializada;
cilidade e a garantia que se teria com
interessados, é baixa. Gostaríamos
se a decisão ficar para o pedreiro,
a argamassa industrializada. Se isso
que as discussões fossem amplas,
ele vai para a argamassa virada na
acontecer, a construtora vai passar a
abrangendo todos os aspectos e
obra, porque é o que ele está acos-
usar a argamassa industrializada em
aparando as arestas, mas sabemos
tumado. Não adianta dar a ele uma
muito maior escala.
que, na hora da decisão, a participa-
Ferrari se ele só sabe andar de bi-
Hermano – O grande desafio então
ção é pequena.
cicleta.
é melhorar a qualidade?
Pergunta - O que falta para am-
Massuda – A decisão pela argamas-
Massuda – Melhorar a qualidade
pliar o uso da argamassa industria-
sa industrializada, nas grandes cons-
do produto significa também permitir
lizada?
trutoras, é pela questão técnica. As
que ele possa ser usado por aquela
Nelson – Custo menor, controle,
menores observam as grandes e al-
mão de obra menos qualificada e que
qualidade e cultura, também. Nas
gumas delas decidem copiar.
comete erros.
construtoras menores, o raciocínio
Nelson – É preciso haver uma mu-
Nelson – Como o concreto, que foi
é o de que sempre deu certo fazen-
dança cultural entre os pedreiros, os
evoluindo e, antes, usava-se 15 MPa
do assim, por que mudar? Algumas
que aplicam a argamassa. Enquanto
e hoje o mínimo é de 30 MPa.
viram vantagens, por questões tam-
a maioria dos pedreiros não enten-
Fernando – Creio que entramos na-
bém de qualidade, e partiram para a
der que a argamassa industrializada
quele cenário, de discussão de nor-
argamassa industrializada.
é melhor para eles, não adianta, eles
mas, de informações e de conceitos.
Hermano – O uso na autoconstru-
não vão usar.
Primeiro, como conceituamos de for-
ção, pela pessoa que vai fazer uma
Rogério – Creio que é necessá-
ma geral a patologia – na visão de um
reforma, por exemplo, é praticamente
rio que haja maior controle e supor-
é uma patologia, na de outro, não é.
zero, não?
te técnico por parte do fabricante ao
Esse choque deveria ser resolvido,
Nelson – Sim, mas deveria ser di-
construtor.
ter o voto de Minerva, pela norma,
ferente. É muito mais fácil usar a in-
Reinaldo – Antigamente, não vía-
que precisaria definir de forma bem
dustrializada, porque o estoque e
mos concreto bombeado na perife-
clara o que é uma patologia. E temos
o controle são mais fáceis, princi-
ria. Hoje já usam concreto bombe-
essa outra questão do relacionamen-
palmente numa casa, é muito me-
ado nesses bairros. É uma questão
to, de assistência técnica. Então vejo 47
mesa-redonda
48
que há a oportunidade, a necessida-
a estudar a projeção em fachada te-
nas periferias das cidades. E quan-
de, de discutir as normas de arga-
lada por fora, tendo o aplicador den-
to à norma, a minha crítica vai para
massas.
tro da tela?
a incoerência que existe e nas diver-
Nelson – Acho que o principal é o
Nelson – Já estudamos até o uso de
sas coisas mal definidas na norma. A
desafio de melhorar a qualidade da
balancim “telado”, que dá maior se-
norma de desempenho, por exem-
argamassa industrializada. Se melho-
gurança. Hoje, usa-se a tela mais fina,
plo, dá margem para diversas inter-
rar a qualidade do produto, ninguém
que exige retocar duas ou três vezes,
pretações e ficamos um pouco perdi-
vai discutir, vai usar.
porque com a tela mais fina o vento
dos. Muita gente não sabe até onde
Fernando – Quanto ao concreto
carrega mais e rasga mais. A partícu-
vai a responsabilidade de cada um,
bombeado, é comum ouvirmos “se
la é muito fina e passa pela tela. Hoje,
inclusive do consumidor final, pois
puser na ponta do lápis, é mais ba-
estamos fazendo uma obra com pro-
a parte pós-obra, de manutenção,
rato”. É difícil ouvirmos o mesmo da
jeção contínua, que tem melhor de-
é de responsabilidade dele. Quando
argamassa industrializada. Perce-
sempenho. Existe hoje uma marca no
se diz na norma em garantia de cinco
be-se que existe um esforço de pro-
mercado que foi feita para projeção
anos para o revestimento até enten-
var ao consumidor que o concreto
contínua, que dá muito bom resulta-
demos, mas qual o parâmetro para
bombeado é mais barato, enquan-
do. Ela tem dosagem automática de
esse revestimento, qual a espessu-
to não se percebe o mesmo quan-
água e o sarrafeamento é feito mole,
ra que deve ser aplicada? E há outra
to à argamassa. O concreto bom-
algo que, acho, tende a diminuir as
norma que fala de espessura, mas
beado traz benefícios palpáveis ao
microfissuras, que hoje são nosso
não fala de garantias.
consumidor – se ele puder optar en-
maior problema.
Nelson – O ponto crítico da cons-
tre um slump 100 ou outro de flow
Fernando - E a aceitação por parte
trutora é na fachada. Por isso, costu-
300, o consumidor vai querer o de
do aplicador, como é?
ma-se dizer que a construtora que-
300, mais simples, mais rápido. O
Nelson – Ele não gosta.
bra na fachada. Temos o registro
benefício é visível, não exige muita
Denis – Porque, para ele, é a mesma
de tudo, desde o chapisco à limpe-
conta para perceber isso. Já na ar-
coisa que alguém dizer para o ascen-
za da fachada, dos ensaios realiza-
gamassa, há certa dificuldade. Tal-
sorista que vai colocar um elevador
dos, enfim, do que foi feito. Então,
vez entre aí a tendência de usar a
automático e vai dispensá-lo. Vai tirar
quando ocorrem fissuras, sabemos
argamassa projetada. Tem-se maior
o emprego de seus colegas, porque
exatamente onde elas aconteceram
produtividade e garantia de qualida-
a projeção contínua só vale a pena
– nesta fachada houve fissura, nes-
de, perceptíveis para a construtora.
quando se reduz a mão de obra. Não
ta não, qual foi a argamassa e o lote
Mas creio que, quando a construto-
precisam trabalhar 20 ou 30 pedrei-
utilizado. Hoje, existe um controle
ra persegue maior produtividade e
ros numa fachada; o mesmo pedreiro
muito grande na obra, que antiga-
qualidade, prefere a argamassa in-
faz esse trabalho, porque é muito rá-
mente não existia. Só que, repito,
dustrializada.
pido. E só terá dois ou três mangotes
precisamos de uma argamassa de-
Nelson – Mas, se pudéssemos,
na projeção, no máximo. E aí é preci-
senvolvida para aceitar mais desafo-
usaríamos a argamassa projetada,
so diminuir a mão de obra e, então,
ro, que não dependa exclusivamente
que dá um resultado muito melhor,
o pedreiro começa a achar ruim, por-
da mão de obra. Quero uma arga-
mas não é possível utilizá-la em to-
que o colega dele foi mandado em-
massa que me dê garantia. Por isso,
das as obras. Depende do terreno,
bora.
uma argamassa que aceite desaforo
da sua localização, entre outras res-
Fernando - Então sempre acaba-
vai ajudar demais a construtora. Se
trições. Isto porque, na aplicação da
mos caindo no fator humano. Mas
os fabricantes conseguirem melhorar
argamassa projetada, o vento carre-
fico curioso, porque no concreto
a argamassa, garanto que ela será
ga partículas para o bairro inteiro. Isto
autoadensável aconteceu a mesma
muito mais consumida.
se o aplicador não errar a fachada,
coisa, com redução significativa da
porque, se isto acontecer, prejudica
mão de obra. E todos os números
o bairro inteiro.
mostram que o concreto autoaden-
Fernando – Mas a Eztec já chegou
sável está consolidado, até mesmo
Foto: Daniel Ducci Texto: Silvério Rocha
O edifício-sede da
Beleza e sustentabilidade
Organização Odebrecht em São Paulo causa forte impacto visual para quem o observa, mesmo à distância. Localizada à beira da marginal do rio Pinheiros, na zona oeste paulistana, a torre de 16 pavimentos se destaca no entorno pela verticalidade e beleza, contrastando com o embasamento, que assume a forma de um prisma emoldurado pelo branco que envolve os espaços verdes da edificação. A contraposição da verticalidade da torre à horizontalidade do embasamento, com elementos claramente destinados a realçar as funções e a incorporar uma espécie de jardim vertical, juntamente com a vegetação que rodeia o prédio, confere a ele a aparência de uma fina joia arquitetônica em meio a uma vizinhança degradada pelo trânsito pesado da marginal do rio Pinheiros. O edifício Odebrecht teve projeto arquitetônico desenvolvido pelo escritório Aflalo & Gasperini, com construção realizada pela empresa-sede, e utilizou concreto pré-moldado na estrutura e na fachada, piso drenante em diversas áreas e vários itens de sustentabilidade – o prédio tem certificação Green Building. Conheça melhor este projeto na próxima edição da Prisma.