Ano 14 - No 56 março 2015
R$ 15,00
O calçadão de Rio Preto, renovado A cidade de São José do Rio Preto-SP desenvolve ambicioso programa de revitalização de seu calçadão central, com pisos intertravados
nesta edição
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entrevista
O arquiteto Benedito Abbud fala sobre a importância do projeto para criar áreas mais verdes e de pisos drenantes, permeáveis, para a diminuição das ilhas de calor e a melhoria das cidades brasileiras
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alvenaria estrutural
Construtora ergue edifício The Wall, em Araçatuba-SP, com alvenaria estrutural de blocos de concreto, de baixo custo, com unidades de área útil acima do praticado no mercado
revista prisma soluções construtivas com pré-moldados de concreto www.revistaprisma.com.br publicação bimestral março 2015
SEÇÕES 7 agenda
8 curtas
10 produtos 34 destaque
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urbanismo
A cidade de São José do Rio Preto-SP desenvolve grande projeto de revitalização de seu calçadão central com pisos intertravados de concreto
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alvenaria estrutural
O edifício Prime Business Center, em São Bernardo do Campo-SP, adota de forma pioneira o sistema construtivo de alvenaria estrutural com blocos de concreto, oferendo grande versatilidade interna às unidades
27 caderno técnico Os pesquisadores Luciane Marcela Filizola de Oliveira e Márcio Roberto Silva Corrêa, ambos do Departamento de Estruturas da Escola de Engenharia de São Carlos, da USP, analisam a influência do detalhe de ligação no comportamento de paredes de alvenaria estrutural interconectadas em relação à resistência ao cisalhamento
EXPEDIENTE Prisma é uma publicação bimestral da Editora Mandarim www.mandarim.com.br DIRETORES
Marcos de Sousa e Silvério Rocha EDITOR RESPONSÁVEL
Silvério Rocha – MTb 15.836-SP EQUIPE TÉCNICA
Abdo Hallack, Cláudio Oliveira, Germán Madrid Mesa (Colômbia), Hugo da Costa Rodrigues, Kátia Zanzotti, Marcio Santos Faria, Paulo Sérgio Grossi, Rodrigo Piernas Andolfato e Ronaldo Vizzoni COLABORADORES
Texto: Diego Salgado, Felipe Castro, Marcos de Sousa e Regina Rocha Fotos: Patrícia Belfort PROJETO GRÁFICO
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ABCP ABTC BlocoBrasil ISSN: 1677-2482
Na próxima edição Pré-moldados em edifício escolar, em Campinas-SP Residência/estúdio fotográfico, em São Paulo Pavimento intertravado em praça, Camboriú-SC Fórum InterCement Blocos de Concreto
editorial A divulgação do índice relativo ao PIB brasileiro de 2014 pelo IBGE mostrou com números o retrato da crise econômica que vem atingindo o Brasil, com maior força desde 2014 e, especialmente, com os escândalos de corrupção na Petrobras, apurados pela operação Lava-Jato, da Polícia Federal. Assim, o ano de 2015 deve ser bastante dif ícil, do ponto de vista econômico. A expectativa é de que, se as medidas do ajuste fiscal em curso derem resultado, é possível prever melhoras apenas para 2016, se não acontecerem novos fatos negativos no cenário político-econômico. Nessa conjuntura, não dá para passar despercebido que o setor residencial, especialmente o mercado imobiliário e o programa Minha Casa, Minha Vida deverão ser os principais ativadores da atividade da construção civil brasileira neste ano. Nesse sentido, a construção do empreendimento The Wall, em Araçatuba, cidade de 191 mil habitantes e que é polo regional no Oeste paulista, é um exemplo de como a gestão, o foco no cliente e a utilização de um sistema construtivo adequado – no caso, a alvenaria estrutural com blocos de concreto – permitiu erguer unidades habitacionais com 74 m2 de área privativa de apartamento (excetuadas garagens e áreas comuns), a um custo de cerca de R$ 1.300,00 por metro quadrado. Nas palavras do presidente da construtora, engenheiro Rodrigo Andolfato, esse empreendimento é um exemplo que pode ser empregado no Minha Casa, Minha Vida e, boa parte desse sucesso, avalia ele, deve-se ao sistema construtivo em alvenaria estrutural com blocos de concreto. “Um sistema imbatível” , na definição de Andolfato. Da mesma forma, a alvenaria estrutural com blocos de concreto também foi o sistema construtivo escolhido pela construtora e incorporadora Absoluta, de São Bernardo do Campo-SP, para erguer um edif ício comercial. Com um diferencial: o projeto estrutural do prédio permite tal versatilidade de uso que as paredes internas podem ser derrubadas sem prejuízo para a integridade da edificação, possibilitando diferentes tipos de ocupação. Esses são apenas alguns exemplos das grandes vantagens possibilitadas pelo sistema construtivo com blocos de concreto estruturais, benef ícios esses que se tornam ainda mais atrativos em tempos de crise e de orçamentos apertados. Boa leitura! 5
agenda 11o Simpósio Brasileiro de Tecnologia das Argamassas 28 a 30 de abril, em Porto Alegre
O evento terá apresentação de palestras, trabalhos científicos e exposição de produtos e serviços, em que serão divulgados os mais recentes resultados de pesquisas das universidades e laboratórios e as inovações tecnológicas do setor. Informações: www.sbta2015.com.br
Seminário Norma de Desempenho e Novas Obrigações dos Profissionais da Construção Civil 29 de abril, em São Paulo
Organizado pela Pini, o evento reunirá especialistas e palestrantes do setor para discutir as novas obrigações dos profissionais da construção civil com a Norma de Desempenho (ABNT NBR 15.575). O seminário, que acontecerá no Milenium Centro de Convenções (R. Dr. Bacelar, 1043 - Vila Clementino), contará com a presença de aproximadamente 180 participantes. Informações: http://www.institutopini.pini.com.br/seminarios/norma-des-2015/evento-338000-1.asp
Feconati 28 a 31 de maio, em Atibaia-SP
A Feira de Construção Feconati é especializada no setor de construção sustentável e tem por objetivo promover atividades e apresentar produtos e ideias que busquem a minimização dos impactos ambientais negativos da indústria da construção. A feira atrai visitantes de todo o Brasil e tem como público-alvo arquitetos, engenheiros, designers de interiores, representantes de órgãos públicos e estudantes, além de lojistas e atacadistas. O evento acontecerá na Estação Atibaia (Av. Jerônimo de Camargo, 6308), em Atibaia-SP, das 9h às 19h. Informações: www.feconati.com.br
14o Simpósio Brasileiro de Impermeabilização (SBI) 15 a 17 de junho, em São Paulo
Promovido pelo Instituto Brasileiro de Impermeabilização (IBI), o evento reúne profissionais da indústria da impermeabilização para divulgar as inovações tecnológicas e discutir as tendências do setor, mantendo o foco na preservação do meio ambiente, nas soluções e tecnologias de ponta e qualificação para o atendimento da crescente demanda do mercado. O evento ocorrerá no Espaço Apas (Rua Pio XI, 1200 - Alto da Lapa), em São Paulo. Informações: http://www.ibibrasil.org.br/simposio2015/
52o Congresso Mundial da Federação Internacional de ArquitetosPaisagistas – Ifla 7 a 15 de junho 2015, em São Petersburgo, Rússia
A Federação Russa está experimentando um “crescimento real” no desenvolvimento da paisagem e da arquitetura paisagística. Em uma economia crescente, a profissão de arquiteto-paisagista vem se tornando cada vez mais importante. Assim, os elementos científicos, palestras e projetos serão apresentados e discutidos no Congresso. É a primeira vez que o congresso da Ifla ocorre na Rússia. Terá como temas o território da Rússia, com suas paisagens naturais e construídas. A “história do futuro” servirá para uma discussão em larga escala dos desafios e oportunidades do presente e do futuro para a arquitetura da paisagem e aos arquitetos-paisagistas: 1. Ocidental do Leste: métodos da integração e das inovações na arquitetura moderna da paisagem; 2. Paisagens naturais históricas e do século XXI: conservação, reconstrução e restauração; pesquisa para a integração na paisagem urbana e rural moderna; 3. Infraestrutura Green-blue e desenvolvimento urbano sustentável. Informações: http://ifla2015.com/en/
Concrete Show 2015 26 a 28 de agosto, em São Paulo
A maior e mais completa feira da América Latina que reúne toda a cadeia produtiva do concreto chega à sua 9a edição. Como novidade, este ano o Concrete Show apresentará o Espaço Manutenção e Peças, com tecnologias e soluções completas para a gestão de frotas e manutenção e maquinários de construção. A feira e o Concrete Congress, que ocorre em paralelo, deverão reunir mais de 30 mil profissionais da construção civil no Centro de Exposições Imigrantes, em São Paulo. Mais informações: Tel. (11) 4878-5990 ou pelo site www.concreteshow.com.br.
87o Encontro Nacional da Indústria da Construção (Enic 2015) 23 a 25 de setembro, em Salvador
Já está no ar o site do 87o Encontro Nacional da Indústria da Construção (Enic), que será realizado de 23 a 25 de setembro de 2015, em Salvador. Promovido pela CBIC e realizado pelo Sinduscon-BA e Ademi-BA, o evento terá como tema central “Brasil mais eficiente, País mais justo”. A expectativa é de que participem do encontro cerca de 1.800 pessoas com o objetivo de apresentar soluções e novos entendimentos para um setor em constante evolução. Durante a reunião do Conselho de Administração da CBIC, o vice-presidente Vicente Matos, destacou a importância do apoio das Comissões Técnicas para a definição dos temas para o evento. Informações: www.enic.org.br/
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curtas 11o Construbusiness: Antecipando o futuro Em março de 2015, o Departamento da Indústria da Construção da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (DeconcicFiesp) realizou, com a presença de mais de mil participantes, entre autoridades políticas, empresários, executivos e dirigentes de entidades de classe, o 11o Congresso Brasileiro da Construção (Construbusiness). A edição de 2015, intitulada Antecipando o Futuro, apresentou, como nos congressos anteriores, a publicação de mesmo nome que trouxe, além da análise sobre o papel da cadeia produtiva da construção e seu peso econômico, os cenários para o crescimento
responsável por importantes investimentos na
a expansão do sistema de geração, transmissão e
econômico, o desenvolvimento urbano e a
área de infraestrutura, pela geração de empregos
distribuição de eletricidade e R$ 96 bilhões para
expansão da infraestrutura econômica no período
e pela movimentação da economia brasileira”,
projetos de exploração, produção e distribuição
de 2015 a 2022.
afirmou Paulo Skaf, presidente da Fiesp.
de petróleo e gás.
O estudo avaliou um cenário em que o setor
De acordo com o estudo, a média anual de
Na área habitacional, o investimento soma
movimenta 9,1% do Produto Interno Bruto (PIB)
investimentos em infraestrutura econômica entre
R$ 202 bilhões por ano para novas moradias
nacional e responde por 52,5% da formação
2010 e 2014 foi de R$ 184,5 bilhões, cerca
e R$ 104 bilhões para reformas, ampliações e
bruta de capital fixo do país. E prevê que, para
de 3,8% do PIB nacional. Para Carlos Eduardo
construção de edificações comerciais.
que o Brasil chegue a um patamar positivo até
Auricchio, diretor do Deconcic, o impacto disso
2022, serão necessários investimentos anuais de
sobre a competitividade do país é enorme.
No déficit habitacional, de 2010 a 2013 observou-se uma queda anual de 4,4%, uma
Projeções 2015-2002
redução total de 873,4 mil famílias. Para atender
“Em suas diversas atividades, a cadeia
Na área de transportes, as necessidades de
às novas famílias, eliminar a precariedade e
produtiva tem empregado 13% da força de
investimentos somam R$ 45,5 bilhões por ano
reduzir a coabitação será necessária a construção
trabalho do país e é responsável por 10%
para rodovias, ferrovias, portos e aeroportos.
de 11,548 milhões de moradias, cerca de 1,448
de participação no PIB nacional. Ou seja, é
Além disso, são necessários R$ 47,4 bilhões para
milhão por ano, até 2022.
R$ 560 bilhões, cerca de 9,8% do PIB nacional.
PPP de habitação popular em SP Foi assinado o contrato referente à primeira Parceria Público-Privada de habitação social do Brasil. O acordo, firmado pelo Governo do Estado em parceria com a prefeitura de São Paulo e
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AMPLIAÇÃO COM ESTRUTURA DE CONCRETO PRÉ-FABRICADO A nova ampliação do Shopping Bahia, antigo
a iniciativa privada, prevê a implantação de 3.683 moradias na região central da cidade de São
Shopping Iguatemi, em Salvador está sendo
Paulo. “É uma PPP extremamente inovadora, porque estaremos aproximando as famílias, os
executada pela T&A Pré-Fabricados. A estrutura
trabalhadores e as trabalhadoras do emprego. Isso ajuda, também, a mobilidade urbana”, disse
será pela primeira vez pré-fabricada de concreto,
o governador Geraldo Alckmin, após a assinatura do contrato, que ocorreu em 23/3, no Palácio
com pilares, vigas e lajes alveolares de 21 cm
dos Bandeirantes. “Vamos repovoar o centro, que já tem emprego, transporte público, saúde e
e 26 cm. A ampliação, com área de 5.900 m2,
educação. O que precisamos é de gente lá, e essa é a maneira mais inteligente de levar”, declarou
é composta por térreo mais dois pavimentos
o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Para a implantação das unidades, foi realizada uma
e possui projeto estrutural assinado por
concorrência internacional. A empresa Canopus Holding venceu a disputa do Lote 1 (localizado
Consultest Consultoria Estrutural, com várias
na Barra Funda), tornando-se responsável pela produção de 3.683 moradias. O processo está
interfaces de estruturas moldadas no canteiro.
sendo conduzido pela Secretaria da Habitação, por meio da Casa Paulista. O contrato assinado
“Há vigas pré-fabricadas de concreto apoiadas
em março prevê a produção de 2.260 unidades destinadas a Habitação de Interesse Social, HIS
em cimbramentos metálicos para posterior
(para famílias com renda de um piso salarial do Estado de São Paulo e até seis salários mínimos)
consolidação com estrutura moldada no canteiro,
e 1.423 Habitações de Mercado Popular, HMP (para famílias com renda entre seis e dez pisos
pilares pré-fabricados com complementos
salariais). Além da prestação de serviços de desenvolvimento de trabalho técnico social de pré e
em concreto moldado in loco, lajes alveolares
pós-ocupação, de apoio à gestão condominial e manutenção predial. Nessa parceria, o Governo
apoiadas de um lado em viga pré-fabricada e de
é responsável por 100% das áreas destinadas à habitação de interesse social. Já à Prefeitura de
outro em estrutura moldada no canteiro”, explica
São Paulo cabe a aplicação de recursos e oferta de terrenos.
o diretor da T&A, Aquiles Ponte.
produtos TRITURADOR PARA RECICLAGEM CSM: A reciclagem de resíduos sólidos de construções, reformas e demolições, além de gerar menos impacto ao meio ambiente, também favorece a economia de recursos naturais e reduz a energia despendida para a fabricação de novos componentes para a construção civil. Uma solução da CSM foi desenvolvida especialmente para conter a geração de resíduos e livrar do descarte material que pode ser reaproveitado no próprio canteiro de obras. O equipamento é o TE 2 CSM, um triturador compacto capaz de processar até 2 m3 por hora, transformando o resíduo em material reciclável. Mais leve e projetado para trafegar em corredores de prédios, o TE 2 CSM pode ser locado por poucos dias, dando fim aos resíduos de obras de pequeno e médio portes. O entulho processado, no caso de concreto triturado, pode ter utilidade na própria obra, como agregado reciclado para concreto magro. Quando o resíduo inclui elementos cerâmicos, o resultado da moagem pode virar insumo no preparo de concreto não estrutural, usado como base para contrapiso e aterramento e nivelamento do terreno, entre outras aplicações. Informações: www.csm.ind.br
KREIOS PAR LED para iluminação de entretenimento: A Osram apresenta uma nova linha de luminárias para o mercado de entretenimento: a Kreios Par Led. Desenvolvida para ambientes de maior amplitude, os produtos se destacam em termos de performance, eficiência energética e longa durabilidade. Com emissão de luz
Quick-Step apresenta a Linha Impressive: A Linha Impressive, pisos
de 4200 lúmens, os lançamentos
laminados da marca Quick-Step, chega ao Brasil e se destaca no mercado com
possibilitam realçar tanto fachadas
dois grandes diferenciais: maior resistência à água e a incrível semelhança
de prédio e parques temáticos
com a madeira natural. A Linha Impressive tem maior resistência à água em
quanto cenários e palcos de shows.
função da camada repelente na área dos chanfros (junções entre réguas),
Concedem, ainda, até 16,7 milhões
assim não ocorre infiltração. A junção antiestática nos chanfros repele o pó
de opções de cores (dimerizáveis de
e evita o acúmulo de sujeira entre os vãos, o que também facilita na hora da
zero a 100%) com controles de mesa que funcionam
limpeza. Muito próximo à madeira natural, com design e textura incomparáveis, a linha Impressive traduz toda a delicadeza dos traços naturais da madeira
manualmente ou
em pisos laminados de alta qualidade. O acabamento é percebido até mesmo
através de uma
nos chanfros, os quais seguem as mesmas ranhuras e design da superfície
conexão DMX.
da régua. Graças às novas tecnologias, as variações de cores e texturas se
Informações:
misturam com os chanfros, como se fosse mesmo madeira natural. Disponível
www.osram.com.br e na
em seis opções de cores: Carvalho Bege, Carvalho Marrom Acinzentado,
fanpage www.facebook.com.osrambr.
Carvalho Areia Natural, Carvalho Natural Soft, Carvalho Marrom Clássico e Pinus Natural. Informações: www.quickstep.com.br
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entrevista
Benedito Abbud
REPORTAGEM: Marcos de Sousa FOTO: Divulgação
Jardins para conservar a água Conhecido nacionalmente por sua atuação no mercado imobiliário, o arquiteto-paisagista Benedito Abbud mostra nesta entrevista a relação entre a falta de água e a visível redução de vegetação nas cidades brasileiras. Abbud defende a necessidade de programas para arborização das vias e praças públicas e apresenta algumas soluções de pavimentos drenantes, que permitem a circulação da chuva até as reservas de água do subsolo. Por fim, alerta para o cuidado com o projeto e sugere projetos bem-detalhados, mesmo que a obra seja um simples jardim ou uma singela calçada Há alguma relação entre a crise da água e a falta de vegetação? Cinquenta anos atrás, as cidades brasileiras tinham grandes áreas arborizadas. Hoje, há muito mais área construída, com a consequente impermeabilização do solo e poucas áreas verdes. As árvores que restaram nas calçadas estão pavimentadas até o pescoço. Daí o fenômeno das ilhas de calor, que provoca mudanças importantes no clima das cidades. Em São Paulo, dentro da área urbana, há diferenças de temperatura de até 10 graus entre os parques e as regiões muito edificadas. É fundamental aumentar a quantidade de árvores nas cidades. Além de oferecer sombra e embelezar as ruas, elas retêm o calor nas folhas e usam essa energia em seu metabolismo. Ao contrário das áreas edificadas, as árvores não devolvem esse calor para a atmosfera, elas refrescam o vento e melhoram o conforto do ambiente. Mais ainda, suas raízes facilitam que a água das chuvas penetre pelo solo e alimente o lençol freático. Mas neste verão, em várias cidades, tivemos problemas com quedas de árvores, que provocaram danos e mortes... É verdade e eu já ouvi algumas pessoas dizendo que as prefeituras deveriam retirar as árvores das ruas por causa desses acidentes. Na verdade, é exatamente o contrário. Quando São Paulo tinha muito mais árvores, era conhecida como a “terra da garoa”, e agora virou a terra das tempestades. A falta de vegetação agravou 12
prisma
o problema das ventanias e temporais que acabam derrubando as árvores mais frágeis. E há também o problema da manutenção inadequada das árvores urbanas, que acaba fazendo com que as plantas sejam atacadas por fungos e cupins. As árvores não são nossas inimigas, é exatamente o contrário; precisamos cuidar delas, precisamos ter programas de conservação em cada município. Como melhorar esse paisagismo nas ruas e calçadas? Em primeiro lugar, hoje temos enorme variedade de materiais e técnicas que permitem a pavimentação sem a impermeabilização do solo. Podemos pegar a água da chuva e em vez de mandá -la por um tubo direto para a rede de águas pluviais, e dali para os rios, gerando enchentes, podemos controlar e conduzir essa água para realimentar as reservas subterrâneas de água. Mas não há soluções universais, nem espécies vegetais, que sirvam para qualquer lugar. É possível e recomendável a combinação inteligente entre pedras, madeira, placas de concreto, piso intertravado etc. Você quer dizer pisos de concreto poroso? Sim. Há alguns anos nós desenvolvemos um sistema de placas de concreto drenantes, que deixam a água penetrar no solo. O trabalho foi feito em parceria com uma empresa de pré-fabricados de concreto e já é aplicado em inúmeras obras do país. É um produto simples, que utiliza agregado graúdo, permitindo a
formação dos poros que deixam a água passar. Há também pisos de pavimentos intertravados fabricados com essa característica. Pisos drenantes podem ter vários formatos, em várias espessuras, para receber diferentes cargas. As peças drenantes de concreto devem ser assentadas sobre areia, mas com um filtro de brita embaixo, para permitir a passagem da água para o subsolo. Esses sistemas drenantes podem ser usados em qualquer situação? Insisto, não existem soluções universais. Cada lugar tem um tipo de solo, um certo nível de chuvas, clima diferente e também uma cultura específica. Cada solução precisa ser estudada em um projeto bem-detalhado. Uma calçada, por exemplo, parece ser uma construção simples, mas para se ter uma obra de boa qualidade, durável, é necessário estudar o solo, talvez incluir um sistema subterrâneo de drenagem, e eleger os tipos de pavimento que poderão ser combinados. É preciso um projeto. Projeto de calçada? Sim, um projeto bem-detalhado. Veja o caso daquelas rampas de garagens em ruas muito íngremes. Elas acabam gerando degraus, que dificultam a passagem de cadeirantes e carrinhos de bebês. Falta um projeto que defina como serão essas rampas, que resolva os problemas de drenagem, estabeleça a largura dos canteiros e defina a posição das árvores e eventuais mobiliários
urbanos. O projeto deve definir as faixas que serão pavimentadas com pavers, com pedras, as áreas a serem cimentadas e as formas de evitar que a água se acumule e atrapalhe as pessoas. Voltando ao tema dos jardins, existem plantas mais adequadas para esse período de seca? Não existe planta que “beba” pouca água. As cactáceas têm a vantagem de reservar água por mais tempo, mas plantas são seres vivos, que precisam de água. A melhor forma de racionalizar o uso da água em jardins é a automatização da rega. Até recentemente, a irrigação manual era o padrão, porque se achava que seria cara, mas hoje os sistemas automáticos estão cada vez mais baratos, então é possível usar a água de forma mais correta. Esses sistemas permitem que outros tipos de água possam ser usados numa edificação. Por exemplo, a maioria dos prédios construídos hoje tem de ter uma “piscininha”, aquele reservatório para conter a água da chuva e evitar enchentes. A ideia é reservar e, depois da chuva, ir jogando essa água para a rede de águas pluviais. Acontece que essa água é ótima para ser reutilizada na irrigação porque não tem cloro, e com uma simples filtragem pode ser aproveitada. Ou podemos usar as biocanaletas. Biocanaleta? É um tipo de infraestrutura verde: captamos a chuva e ajudamos essa água a penetrar no solo. Basta fazer pequenos canais plantados com espécies que ajudam a reter a umidade para irrigar as árvores, por gravidade. Em um estacionamento de supermercado, por exemplo: em vez de pavimentar tudo, é possível fazer essas biocanaletas cobertas com grelhas de metal ou de concreto. Claro que há a necessidade de fazer um estudo para verificar a característica do solo, de forma a evitar que a água fique parada. E aqui, novamente, vemos a necessidade de projetos. 13
alvenaria estrutural
Empreendimento residencial em Araçatuba-SP, desenvolvido pela construtora Tecnobens, utiliza a alvenaria estrutural com blocos de concreto e lajes pré-fabricadas para oferecer unidades com áreas privativas de bom tamanho e preços acessíveis
REPORTAGEM: Silvério Rocha IMAGENS: Divulgação
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prisma
Bom espaço e pre Conseguir resolver uma equação na qual as principais variáveis eram desenvolver um projeto de empreendimento residencial com unidades com áreas privativas relativamente generosas para os padrões atuais e obter um preço por metro quadrado compatível com a renda do público-alvo visado era o desafio da construtora e incorporadora Tecnobens, de Araçatuba, cidade de 200 mil habitantes situada a cerca de 470 km da capital paulista. A resposta foi dada com o projeto desenvolvido para o The Wall, no qual o fundamental foi o sistema construtivo adotado, a alvenaria estrutural com blocos de concreto. “O terreno está localizado quase na divisa entre Araçatuba e Birigui, cidade de 120 mil habitantes, em um bairro
habitado por moradores de baixa renda, porém geograficamente bem situado e próximo de áreas em que já atuávamos, nos padrões médio e médio-alto. A escolha foi também devido ao fato de um parceiro comercial ter oferecido permuta pelo terreno” , explica o engenheiro e doutor em engenharia Rodrigo Piernas Andolfato, presidente da Tecnobens. A resistência da área comercial da empresa à construção naquela área exigiu que fosse desenvolvido um projeto “imbatível, em termos de formatação, dimensões das unidades e, especialmente, preço” , revela Andolfato. “Criamos então um produto com preço de Minha Casa, Minha Vida, com todo o padrão de espaço e acabamento interno da Tecnobens, com elevador e ainda duas vagas
Criamos então um produto com preço de Minha Casa, Minha Vida, com todo o padrão de espaço e acabamento interno da Tecnobens, com elevador e ainda duas vagas de garagens cobertas. E assim nasceu o projeto The Wall
eço imbatível de garagens cobertas. E assim nasceu o projeto The Wall” , detalha o presidente da construtora.
Alvenaria estrutural O empreendimento adotou como sistema construtivo a alvenaria estrutural com blocos de concreto devido a uma razão básica: o já longo tempo que Andolfato tem contato, estuda e aplica o sistema construtivo em obras, de terceiros e próprias. “Meu primeiro contato com a alvenaria estrutural aconteceu em 1998, quando ainda era aluno de graduação na Faculdade de Engenharia da Unesp de Ilha Solteira-SP, quando conheci a disciplina e me apaixonei pelas infinitas possibilidades da aplicação da alvenaria estrutural. De lá pra cá, mestrado e dou-
torado feitos, o entendimento estrutural do sistema em alvenaria permitiu sempre o melhor aproveitamento desta solução construtiva, que em minha opinião será imbatível por muitos anos na construção civil. ” Assim, diz ele, todos os projetos residenciais da Tecnobens são desenvolvidos sob a premissa de serem executados em alvenaria estrutural. Os projetos partem de uma concepção de pensamento híbrido, o qual foca na concepção arquitetônica levando em consideração a estrutura mais eficiente e a futura execução. Ou seja, durante a fase de projeto do produto, trabalham juntos arquitetos, engenheiros de estrutura e engenheiros de obra. O The Wall foi concebido como um edif ício longilíneo, com 70 m de com15
alvenaria estrutural
Vencendo desafios Segundo Rodrigo Andolfato, “o maior desafio a ser vencido foi convencer a empresa que era possível”. “Somos todos afeitos a repetir sempre o que já sabemos. Quando disse que voltaria à área de projeto junto com a equipe para desenvolver um produto que deveria ter duas vagas de garagem cobertas por unidade, cada uma com mais de 70 m2 de apartamento, com dois elevadores e preço de venda de R$ 100 mil, a empresa inteira me taxou de insano. Foi um trabalho que comecei sozinho no computador de um estagiário da área técnica e, duas horas depois, todos já estavam ao meu redor, palpitando, discutindo, melhorando e, por fim, comprando a ideia. Assim, ao final do dia, tínhamos aquele que seria o projeto que cairia no gosto do ex-presidente Lula como uma saída verdadeiramente factível para fazer lares, em vez de cubículos, para o maior programa social de moradias do mundo, o Minha Casa, Minha Vida”.
16
prisma
primento e sem juntas de dilatação, algo tido como inusitado pelos especialistas, segundo Andolfato. O edif ício está apoiado sob uma placa de concreto com 20 cm de espessura. Esse radier já é o piso do pavimento-garagem, o primeiro da edificação. Nesse primeiro pavimento encontra-se uma sequência de paredes em alvenaria estrutural armada com blocos da família 19 x 19 x 39 cm e resistência de 6 MPa, todas paralelas entre si, que formam as garagens e suportam todo o edif ício. Cada conjunto de três garagens equivale à largura de um apartamento em planta. Assim, sobre três garagens, há três andares. Os três pavimentos-tipo acima das garagens contêm em cada lado oito apartamentos, totalizando 16 unidades por pavimento. “Desta forma, em 2.100 m2 de terreno, colocamos 48 unidades habitacionais, cada uma com 74 m2 de área privativa e duas vagas de garagem por apartamento. E, de quebra, colocamos dois elevadores” , contabiliza Andolfato. A Tecnobens, além de receber o laudo do fabricante e mapear o uso das cargas recebidas na edificação, tem sua área pró-
pria de qualidade, que coleta amostras para verificação rotineira e aleatória dos produtos utilizados.
Logística, planejamento e racionalização Para o presidente da construtora, a logística na execução do empreendimento é a maior responsável pelo sucesso da obra, que ocupava todo o terreno. Como a Tecnobens produz as lajes pré-fabricadas de concreto, componentes importantes no sistema construtivo, no canteiro, a logís-
Planta do apartamento Tipo 1. Todas as paredes em cinza são em alvenaria estrutural
Todos os empreendimentos da Tecnobens têm captação de água de chuva para reúso e painéis para captação de energia solar, itens de sustentabilidade
tica e o planejamento rigoroso foram essenciais “para que todo o processo rodasse como uma engrenagem de relógio suíço” . Além disso, o planejamento da obra teve como base a construção de metade de um pavimento por vez; assim, enquanto uma equipe está montando laje, outra equipe faz a modulação de um pavimento. “Esse procedimento é adotado visando dar maior agilidade à obra” , afirma o engenheiro Thiago Trentin, da Tecnobens. As lajes pré-fabricadas de concreto em canteiro integram o chamado Sistema Construtivo Tecnobens. O sistema de lajes é composto pela montagem das prélajes de concreto, formando um assoalho firme, que posteriormente recebe armaduras complementares, conforme a necessidade do projeto, e são concretadas com concreto autoadensável, conforme projeto desenvolvido pela construtora. A espessura total da laje no final do processo é de 15 cm e, segundo Andolfato, o concreto utilizado apresenta alto grau de estanqueidade e impermeabilidade, ao ponto de dispensar a utilização de produtos impermeabilizantes, até mesmo nas áreas molhadas de banho. O sistema
de esgotamento sanitário, águas pluviais, águas frias e quentes são todos projetados por equipe interna da empresa. Os projetos de elétrica, telefonia, proteção atmosférica e lógica são desenvolvidos em conjunto com a empresa que executa essas instalações.
FICHA TÉCNICA
Sustentabilidade
Construção e incorporação: Tecnobens Construções e Incorporações
Todas as obras da Tecnobens levam o assunto ecologia muito a sério, segundo Andolfato. “Procuramos manter o percurso natural da água até os aquíferos no subsolo através de pisos permeáveis. Captamos a água de chuva em caixas d’água que a armazenam para utilização nas descargas sanitárias. Todos os nossos produtos residenciais apresentam aquecedores solares individuais de água, o que garante qualidade nos banhos e o consumo responsável da água” . É também praxe da empresa plantar no mínimo três mudas de árvores nativas brasileira por unidade habitacional construída. “Desde nossa fundação, há seis anos, já plantamos mais de 3 mil mudas de ipês roxos, amarelos e cor-de-rosas.”
Nome da obra: The Wall Localização: Rua: José Coelho Júnior, bairro: Umuarama, Araçatuba-SP Área do terreno: 2.160 m² Área construída: 5.861,68 m² Arquitetura, projeto estrutural e Projeto de instalações: eng. Rodrigo Piernas Andolfato
Data do projeto: Fevereiro de 2013 Data de início/finalização da obra: Início: março de 2013; término: junho de 2014 Principais fornecedores: Esquadrias (Ebel – Portas e Janelas de Alumínio), elevadores (Atlas Schindler), concreto (JN – Terraplenagem e Pavimentação)
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piso intertravado
A cidade de São José do Rio Preto-SP começou a revitalizar as ruas do seu calçadão central com pisos intertravados de concreto
REPORTAGEM: Diego Salgado FOTOS: Guilherme Baffi/Divulgação/Emurb
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prisma
Novo calçadão pa São José do Rio Pr Uma revitalização esperada há 24 anos começou a mudar a paisagem do centro de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo. As obras no calçadão da cidade, que terá pisos intertravados ao longo de 64 ruas, foram divididas em quatro módulos, com previsão inicial de seis meses para a conclusão de cada etapa. Dos quatro módulos, apenas o primeiro foi finalizado De acordo com o projeto, haverá uma expansão do centro da cidade a duas avenidas, sem a eliminação da circula-
ção de veículos nas vias próximas. “Ele agrega o pedestre, o carro e a vitrine de forma pontual. Antes, o calçadão fechava duas artérias no trânsito leste-oeste. Era um grande obstáculo para a cidade” , disse Marcelo Pala, arquiteto responsável pelo projeto. Para ele, a revitalização, quando concluída, trará o conceito de shopping num centro urbano aberto. Na primeira etapa, foram revitalizados 11 quarteirões – sete da rua Tiradentes, dois da rua Jorge Tibiriçá e dois da rua Bernardino de
ra eto
Ao lado, ilustrações do projeto prevendo a implantação de diversos equipamentos públicos e urbanísticos como parte da revitalização
Campos. No total, 6.000 m2 de área. Entre as mudanças, incluem-se a troca da rede de água, a instalação de novas tubulações para as redes de energia elétrica, telefonia e TV a cabo, além da implantação dos pisos intertravados de concreto. A escolha dos pisos intertravados, segundo Marcelo Pala, se deu por questões técnicas. “Há facilidade na execução. Eles trazem resultado imediato” , afirmou. O arquiteto também ressaltou a importância da permeabilidade dos pré-moldados. 19
piso intertravado
Operários da Controeste executam as obras de assentamento dos pisos intertravados
O mercado já aceitou o piso intertravado, por ele trazer uniformidade e criar um ambiente mais limpo e sustentável do que com o concreto e o asfalto
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prisma
Na década anterior ao início de execução da proposta de revitalização, não havia a previsão do uso dos intertravados. Em 1987, o projeto apontava o uso do concreto armado, polido. A mudança ocorreu por conta da sustentabilidade. “As pessoas estão mais conscientes da importância do sombreamento. O piso também ajuda na condução das raízes” , afirmou Pala. Antes do início das obras, em 2011, 14 árvores foram retiradas. Até o término da revitalização, 140 novas árvores de quatro espécies serão plantadas. “A sustentabilidade foi prioridade do projeto. Haverá arborização especial, levando em conta o perfil da árvore” , explicou
Liszt Abdala, então presidente da Empresa Municipal de Urbanismo (Emurb) de São José do Rio Preto. A manutenção do piso também foi determinante para a escolha. “Num reparo pontual, remove-se a peça e põe outra. No asfalto, fica um remendo aparente” , explica Denner Beato, engenheiro civil responsável pelo Departamento Técnico da Constroeste e gestor pela primeira etapa da obra. Para Pala, não é preciso mais mão de obra de manutenção e, por isso, o mercado já aceitou o piso préfabricado, com a utilização do produto em diversas obras públicas. “Ele traz ainda uniformidade, cria-se um ambiente mais limpo do que com
o concreto ou asfalto” , disse o autor do projeto. A única dificuldade, segundo ele, está no manuseio, no corte. Entre os serviços feitos no local e fora dele, a obra contou com a participação de 80 operários. Segundo a Constroeste, o piso antigo foi quebrado e retirado até um metro abaixo do solo. O procedimento, iniciado nas ruas Jorge Tibiriçá, General Glicério, Tiradentes e Voluntários de São Paulo, terminou com o aterro, a compactação, a pavimentação e a construção do novo piso. O prazo para a conclusão do piso era de 45 a 60 dias a cada duas quadras. Nas outras três etapas, a Secretaria de Obras, atual responsável pela con-
tinuidade da execução dos serviços de construção na atual administração de São José do Rio Preto, pretende iniciar o processo licitatório para execução da segunda etapa do projeto de revitalização ainda este ano, sem precisar a data e os valores envolvidos. Assim, a previsão inicial de concluir as quatro etapas da revitalização até o final de 2014, ficou completamente superada pelo tempo. Os moradores de São José do Rio Preto certamente aguardam o reinício dos trabalhos de execução das obras necessárias; caso contrário, continuará a disparidade e a falta de unidade urbanística e arquitetônica no centro rio-pretense.
FICHA TÉCNICA Obra: Revitalização do calçadão central de São José do Rio Preto. Contratante: Empresa Municipal de Urbanismo (Emurb) de São José do Rio Preto-SP Projeto: Arquiteto Marcelo Pala Construção: Constroeste Fotos: Divulgação - Emurb
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22
prisma
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alvenaria estrutural
Construtora ergue, em São Bernardo do Campo-SP, prédio comercial recorrendo à alvenaria estrutural com blocos de concreto, garantindo versatilidade interna às unidades
No coração do ABC paulista, um prédio pioneiro REPORTAGEM: Felipe Castro IMAGENS: Patrícia Belfort/Divulgação
24
prisma
Na história da engenharia, prevaleceu ao longo dos anos a lenda de que o sistema de alvenaria estrutural com blocos de concreto não deve ser empregado em prédios comerciais, que exigem mais complexidade na composição das
salas e andares e flexibilidade para permitir a retirada de paredes – neste sistema, ao se erguer as paredes, a estrutura já está pronta. Pois a construtora e incorporadora Absoluta, de São Bernardo do Campo-SP,
topou o desafio de superar o preconceito e ncolocar em pé o Prime Business Center, edif ício comercial que será entregue em julho de 2015 no município do ABC paulista. O método construtivo? Alvenaria estrutural com pré-moldados de concreto, é claro. Para ficar encarregado dos cálculos, ninguém melhor do que José Luiz Pereira, engenheiro considerado o pai da alvenaria estrutural, que estima ter calculado dos anos 1970 até hoje mais de 700 projetos de alvenaria, alguns com até 300 repetições. Com o experiente engenheiro como calculista estrutural, a vida da construtora ficou mais fácil. “O ‘Zé’ peitou e bancou o uso da alvenaria estrutural. No início, conversando, perguntei a ele: “Dá para deixar um andar inteiro para o cliente?”. Ele disse que sim, então respondi: “Vamos fazer em alvenaria!”, relembra, aos risos, o engenheiro civil responsável pelo Prime Business Center, Leandro Seguedim.
Pioneirismo Em linhas gerais, o Prime Business Center é um edif ício com 16 pavimentos ou, vendo por fora, 12 andares. Isso porque são nove pavimentos-tipo com pé-direito de 3,20 m e três pavimentos dúplex, com 6,40 m. Cada piso pode ter oito salas comerciais. Os cálculos de José Luiz Pereira previram o uso de blocos de concreto com resistência de 20 MPa no primeiro andar, resistência essa que que diminui gradualmente até atingir 8 MPa no andar mais alto. As escadas e elevadores saem do terceiro subsolo, já com um reforço nas cargas para ajudar a suportar o prédio. Segundo Leandro Seguedim, trata-se do primeiro prédio comercial no país feito todo ele em alvenaria estrutural com blocos de concreto. O segredo? “Paredes duplas de fachada, que suportam as cargas do prédio e liberam as paredes internas, que são apenas de vedação” , con-
ta ele. Com isso, os futuros usuários dos escritórios podem quebrar paredes internas, maximizar o uso das salas e ter à disposição até mesmo um andar inteiro, sem que isso signifique comprometer a harmonia estrutural do edif ício. “A torre está enrijecida na periferia, nas extremidades, e no miolo. Assim, a pessoa pode ter tanto as oito salas por andar ou ficar com a laje de 365 m2 inteira para ela” , diz o engenheiro civil. Para a construtora, há vantagens na escolha do método também na hora de racionalizar recursos. “A taxa de aço por metro cúbico de concreto é bem razoável e também não geramos entulho, pois é alvenaria modulada” , diz. “Podemos dispensar os pórticos, há blocos de “n” tamanhos. Com os blocos vazados, as instalações elétricas também vêm embutidas, então não é preciso que rasgar tudo depois, evitando retrabalho. ” Mas não é só no “taco” do calculista José Luiz Pereira que a construtora responsável confiou para tocar em frente. Ela mesma, a Absoluta, fundada em 2004, conta já ter levantado oito prédios residenciais em alvenaria estrutural. Mas conjunto comercial com esse método, admite Seguedim, foi a primeira vez.
Com a alvenaria estrutural, não geramos entulho, pois a alvenaria é modulada, podemos dispensar os pórticos e, como os blocos são vazados, as instalações elétricas também vêm embutidas e não é preciso rasgar paredes depois, evitando retrabalho
Pós-ocupação Localizado em uma área nobre da cidade de São Bernardo do Campo, na esquina da rua Oman com a badalada avenida Kennedy, no bairro Jardim do Mar, o Prime Business Center já teve 90% das unidades comercializadas. O edif ício deve receber segmentos diversos do mercado, como consultórios médicos, dentistas e até escritórios de engenharia. Perguntado se o uso da alvenaria estrutural pode “assustar” clientes, Seguedim é seguro. “No momento da entrega, sempre fornecemos o manual do proprietário, explicamos para cada um os benef ícios e os cuidados. ” 25
alvenaria estrutural
FICHA TÉCNICA Nome da obra: Prime Business Center Localização: Avenida Kennedy, Jardim do Mar, São Bernardo do Campo-SP Arquitetura: Irineu Anselmo Júnior Projeto estrutural: José Luiz Pereira Engenharia e Projetos Projeto de instalações: HF Engenharia e Projetos Construção: Absoluta Construtora e Incorporadora Gerenciamento: Leandro Seguedim Área do terreno: 1.006,00 m2. Área construída: 8.461,08 m2 Data de início da obra: Julho/2012. Previsão de término da obra: Julho/2015. Fornecedores: Blocos estruturais e de vedação (Glasser), Elevadores (Atlas Schindler), Esquadrias (JVM Esquadrias de Alumínio) Aço (Gerdau), Revestimentos internos (Portobello), Revestimentos externos (Cerâmica Atlas)
Desafios e custos Ao construir em um terreno de 1.006,00 m2, em meio a densa vizinhança, a construtora Absoluta admite ter tido alguma dificuldade com a estocagem dos blocos e também para escorar as paredes bastante elevadas. O solo, por outro lado, não foi empecilho e a fundação não precisou de 26
prisma
estaqueamento: foi direta por meio de sapatas. Tomando por base o empreendimento anterior da construtora e incorporadora, a estimativa é que o custo do metro quadrado construído seja de R$ 1.100/m2. Para levantar a obra, a Absoluta desembolsou cerca de R$ 14 milhões.
Sistemas Industrializados de Concreto
Caderno Técnico Sistemas Industrializados de Concreto - CT28
CT 28
Artigos Técnicos podem ser encaminhados para análise e eventual publicação para alvenaria@revistaprisma.com.br
Influência do detalhe de ligação no comportamento de paredes de alvenaria estrutural interconectadas A ação estrutural monolítica de paredes interconectadas é dependente da resistência ao cisalhamento das interfaces verticais, que, por sua vez, depende do padrão de ligação entre elas. O presente trabalho apresenta uma investigação experimental do comportamento mecânico das interfaces verticais entre paredes de blocos de concreto conectadas por amarração direta e por amarração indireta, com grampos metálicos de 10 mm de diâmetro. Para compreensão do mecanismo de funcionamento das ligações, foram realizados ensaios de caracterização dos materiais, dos componentes e da alvenaria, além de ensaios de cisalhamento direto em duas séries de seis modelos de formato H, construídos em escala natural. A partir dos resultados obtidos, pôde-se concluir que todos os modelos romperam por cisalhamento da interface e não houve diferença significativa entre os dois tipos de ligação estudados em termos de resistência ao cisalhamento da interface no plano vertical de ligação entre a parede central e o flange. Para os modelos com amarração direta o mecanismo de ruptura foi a tração indireta dos blocos que interceptavam o plano de cisalhamento. Nos modelos com amarração indireta, a ruptura foi governada pelo escoamento das barras da armadura. A resistência ao cisalhamento vertical da interface foi avaliada em cada caso e comparada com algumas prescrições normativas, as quais, em sua maioria, apresentaram-se conservadoras.
Palavras-chave: Alvenaria estrutural; cisalhamento; interface; amarração direta; amarração indireta.
EXPEDIENTE O Caderno Técnico Sistemas Industrializados de Concreto é um suplemento da revista Prisma, publicado pela Editora Mandarim Ltda. ISSN 1809-4708 Artigos para publicação devem ser enviados para o e-mail alvenaria@revistaprisma.com.br Conselho Editorial: Prof. Dr. Jefferson Sidney Camacho (coordenador); Prof. Dr. Guilherme Aris Parsekian (secretário); Eng. Davidson Figueiredo Deana; Prof. Dr. Antonio Carlos dos Santos; Prof. Dr. Emil de Souza Sanchez Filho; Prof. Dr. Flávio Barboza de Lima; Eng. Dr. Rodrigo Piernas Andolfato; Prof. Dr. João Bento de Hanai; Prof. Dr. João Dirceu Nogueira Carvalho; Prof. Dr. Luis Alberto Carvalho; Prof. Dr. Luiz Fernando Loureiro Ribeiro; Prof. Dr. Luiz Roberto Prudêncio Júnior; Prof. Dr. Luiz Sérgio Franco; Prof. Dr. Márcio Antonio Ramalho; Prof. Dr. Márcio Correa; Prof. Dr. Mauro Augusto Demarzo; Prof. Dr. Odilon Pancaro Cavalheiro; Prof. Dr. Paulo Sérgio dos Santos Bastos; Prof. Dr. Valentim Capuzzo Neto; Profa. Dra. Fabiana Lopes de Oliveira; Profa. Dra. Henriette Lebre La Rovere; Profa. Dra. Neusa Maria Bezerra Mota; Profa. Dra. Rita de Cássia Silva Sant´Anna Alvarenga. Editor: jorn. Silvério Rocha (editor@revistaprisma.com.br) - tel. (11) 3337-5633
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Caderno Técnico Sistemas Industrializados de Concreto - CT28
Influência do detalhe de ligação no comportamento de paredes de alvenaria estrutural interconectadas 1. Introdução
dem ter um impacto sobre a capacidade de
ferentes tipos de ligações, o que indica que
Um problema comum enfrentado quando
cisalhamento na interseção e a integridade
o fenômeno envolvido na transmissão dessas
se projetam edifícios em alvenaria é a avalia-
estrutural da parede com flanges. Se a liga-
forças ainda não é suficientemente conhecido.
ção das tensões de cisalhamento que podem
ção entre a alma e o flange não é adequada-
De particular interesse a esta pesquisa são
atuar nas interfaces verticais das paredes in-
mente projetada para resistir às tensões de
os estudos direcionados à resistência ao cisa-
terconectadas. A ação estrutural monolítica
cisalhamento induzidas pelas forças de cál-
lhamento nas interfaces verticais das paredes
desse tipo de estrutura é dependente da re-
culo esperadas, então uma porção significa-
interconectadas e que visam quantificar esta
sistência ao cisalhamento da interface, que,
tiva da rigidez e da resistência das paredes
grandeza e analisar a influência do tipo de li-
por sua vez, depende do tipo de ligação entre
de cisalhamento é perdida. Esses fatos dei-
gação na transferência de solicitações. Dentre
as paredes.
xam claro que a resistência ao cisalhamento
eles, citam-se: Simundic (1997), Lissel et al.
da interface entre paredes interconectadas
(2000), Camacho (2001), Silva (2003), Mau-
pode ser um parâmetro crítico no projeto.
rício (2005), Capuzzo Neto (2007), Moreira
Segundo Drysdale et al. (2008), a adição de flanges em uma parede isolada é altamente eficaz para aumentar a resistência à flexão,
Apesar de alguns estudos que tratam do
mas o aumento de rigidez pode ocasionar
comportamento das ligações de paredes in-
um problema relacionado à concentração de
terconectadas já terem sidos realizados, eles
Visando contribuir para o entendimento do
tensões de cisalhamento nessa região. Des-
são bastante diversificados; cada um trata de
comportamento dessas ligações, a presente
sa forma, deve existir uma preocupação es-
pesquisas desenvolvidas para diferentes rea-
pesquisa aborda um estudo experimental dos
pecífica sobre o efeito de cisalhamento loca-
lidades de material, mão de obra e caracte-
mecanismos de transferência de solicitações
lizado resultante da súbita mudança de seção
rísticas ambientais. Além disso, ainda não há
na interface de paredes, particularmente o
no cruzamento flange-alma, pois os métodos
um consenso sobre os mecanismos de trans-
que se refere ao cisalhamento, buscando dis-
utilizados para ligar a alma e os flanges po-
ferência das forças cisalhantes diante de di-
cutir os valores de resistências estabelecidos
(2007), Drysdale et al. (2008), Bosiljkov et al. (2010) e Oliveira (2014).
pelas normas utilizadas para verificação das Tabela 1: Resultados dos ensaios de caracterização física dos blocos Dimensão (mm)
tensões produzidas nas interfaces das pare-
Área bruta (mm2)
Área líquida (mm2)
Aliq/A bruta (%)
Absorção (%)
54375,5
29777,0
54,76
6,92
390x190x140
des com amarração direta e com amarração indireta por meio de grampos.
Tabela 2: Resultados dos ensaios de caracterização mecânica dos blocos e da alvenaria Propriedade
Bloco
Pequena parede
Junta horizontal
Junta vertical
Resistência média à compressão (MPa)
10,21
5,16
4,88
-
-
Resistência característica à compressão (MPa)
8,68
3,82
4,13
-
-
Módulo de elasticidade - E (GPa)
9,92
8,17
8,50
-
-
Resistência média à tração indireta (MPa)
0,91
-
-
-
-
-
-
-
0,16
-
Resistência média à tração na flexão (MPa)
28
Prisma
Resistência característica à tração na flexão (MPa)
-
-
-
0,12
-
Coesão (MPa)
-
-
-
0,23
0,17
Coeficiente de atrito (tan j)
-
-
-
0,50
0,57
Rigidez da interface (MPa/mm)
-
-
-
21,97
-
Caderno Técnico Sistemas Industrializados de Concreto - CT28
2. Programa experimental 2.1 Caracterização física e mecânica dos blocos, da argamassa e da alvenaria A primeira etapa do programa experimental consistiu em ensaios de caracterização dos blocos, da alvenaria e da argamassa. Os ensaios realizados para a caracterização das unidades foram: análises dimensionais, determinação da área líquida, absorção, resis-
Figura 1: Modelo da Série I - (a) Parede central; (b) Flange
tência à compressão com determinação do módulo de elasticidade e resistência à tração indireta. A alvenaria também foi caracterizada pa por meio dos seguintes ensaios: compressão de prismas de três fiadas e de pequenas
990
como material compósito nesta primeira eta-
paredes, cisalhamento direto e aderência das juntas horizontais e verticais de argamassa. A argamassa foi caracterizada quanto à seguinte propriedade mecânica: resistência à compressão com obtenção do módulo de elasticidade. 390
A argamassa utilizada para juntas de as-
10
140
volume, cuja resistência média e módulo de
940
hidratada e areia, na proporção de 1:1:6, em
10
sentamento foi uma mistura de cimento, cal
390
elasticidade foram de 3,52 MPa e 6,80 GPa, respectivamente. Os modelos foram construí dos com argamassamento parcial das juntas
140
horizontais e curados em condições de labo-
810
140
Figura 3: Modelos da Série II (a) Parede central; (b) Flange
1090
ratório por 28 dias, no mínimo.
10
190
A Tabela 1 resume os resultados dos ensaios de caracterização física das unidades e
2.2.2 Série II – amarração indireta
terização mecânica dos blocos e da alvenaria
das por amarração indireta com grampos
obtidos na área bruta.
540
A Série II foi composta de paredes liga940
a Tabela 2 apresenta os resultados de carac-
metálicos (Figura 3). Os grampos utiliza-
Na segunda etapa do programa experimental foram realizados ensaios de cisalhamento
10
2.2 Ensaios dos modelos H
190
dos nessa série consistiam em barras de
140
810
140
1090
direto das interfaces verticais em duas séries de seis modelos em formato H. Os modelos foram compostos por três paredes ortogo-
2.2.1 Série I – amarração direta A primeira série consistiu em paredes liga-
das, cujo módulo de elasticidade foi de 198 GPa, e a deformação média a partir da qual se iniciou o escoamento da armadura foi de
Figura 2: Especificação geométrica dos modelos – Séries I – dimensões em mm (a) Vista frontal; (b) Fiadas 1, 3 e 5; (c) Fiadas 2 e 4
nais de cinco fiadas, nos quais variou o tipo de amarração entre elas.
aço CA-50 de 10 mm de diâmetro, dobra-
3,90%, correspondente a uma tensão igual a 572 MPa. Os grampos foram posicionados na interseção de cada flange com a parede
das com amarração direta, cuja configuração
central nas fiadas 2 e 4, totalizando quatro
é apresentada na Figura 1. A Figura 2 ilustra a
grampos por painel H (Figura 4). Segundo
disposição das fiadas e as principais dimen-
informações de projetistas, essa proporção
sões dos modelos.
de armadura é bastante usual em obras de 29
Observe-se também que o diâmetro da armadura é compatível com a espessura da
2.2.3 Instrumentação e esquema de ensaio dos painéis H A instrumentação das Séries I e II consistiu na colocação de transdutores para medi-
junta horizontal. O graute utilizado para solidarizar as ar-
ção dos deslocamentos verticais absolutos
maduras apresentou resistência à compres-
e relativos da parede central e dos flanges
são de 39,52 MPa, módulo de elasticidade de
(Figura 5).
35,81 GPa e resistência à tração indireta de
Para a série II, além dos transdutores de deslocamentos, a instrumentação também
3,45 MPa.
consistiu na colocação de extensômetros Grampos metálicos em furos grauteados
colados em cada grampo para a medição das deformações do aço na região da interface; ver Figura 6.
990
2.2.4 Procedimento de execução do ensaio Primeiramente, foi aplicada uma pré-compressão nos flanges para estabilizar os modelos e minimizar os efeitos locais de flexão. A intensidade da pré-compressão aplicada nos flanges foi de 0,6 MPa (na área líquida). Esse
10
190
valor foi obtido numericamente utilizando-se os resultados de caracterização dos materiais e dos componentes deste trabalho. Esse valor
340
também se mostrou próximo ao sugerido por Bosiljkov et al. (2010), de 0,5 MPa. 10
940
Caderno Técnico Sistemas Industrializados de Concreto - CT28
alvenaria estrutural com amarração indireta.
Em seguida, foi aplicado um carregamen-
390
to distribuído no topo da parede central com controle de deslocamentos. O modelo foi 140
810
apoiado apenas nos flanges com o objetivo
140
de favorecer a ruptura por cisalhamento da in-
1090
terface flange-alma. A configuração do ensaio está apresentada na Figura 7. A resistência média ao cisalhamento foi 10
390
considerada igual à razão da força de ruptura do modelo pela área das interfaces, conforme
Figura 5: Instrumentação externa para Séries I e II. a) Vista de topo; b) Vista frontal; c) Vista lateral
10
190
340
940
a Equação (1).
140
810 1090
Figura 4: Especificação geométrica dos modelos – Séries II – dimensões em mm (a) Vista frontal; (b) Fiadas 1, 3 e 5; (c) Fiadas 2 e 4
30
140
Equação 1, em que: τvert – resistência média ao cisalhamento
H
vertical da alvenaria; Frup – força de ruptura do modelo;
direta) ou altura útil do modelo
(amarração indireta);
Ainter – área da interface vertical;
e
– altura do modelo (amarração
– espessura da parede.
Ext. 3
Ext. 4
Força (kN)
Ext. 2
Figura 6: Instrumentação interna para Série II (a) Posição do grampo e do extensômetro; (c) Numeração dos extensômentros
H1 H2 H3 H4 H5 H6 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 Deslocamento vertical da parede central (mm)
5,0
200 180 160 140 Força (kN)
120 100
H1 H2 H3 H4 H5 H6
80 60 40 20 0
0
5
10 15 20 25 30 35 40 45 Deslocamento vertical da parede central (mm)
50
Figura 9: Relação força versus deslocamento da parede central dos modelos (a) Série I - Amarração direta; (b) Série II Amarração indireta
do um movimento de corpo rígido da alma. Figura 7: Esquema de ensaio de resistência ao cisalhamento vertical
Os gráficos com as curvas força versus deslocamento da parede central para cada
4. Resultados e discussões
Figura 8: Modo de ruptura dos modelos a) Padrão de fissuração dos modelos com amarração direta – Série I; b) Padrão de fissuração dos modelos com amarração indireta – Série II
Caderno Técnico Sistemas Industrializados de Concreto - CT28
Ext. 1
260 240 220 200 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 0,0
modelo da Série I são mostrados na Fi-
Todos os modelos da Série I romperam em
gura 9a. O trecho inicial da curva se mostrou
virtude do acúmulo de tensões nos blocos in-
linear até aproximadamente 75% do carrega-
terconectados, resultando no cisalhamento da
mento último.
interface flange-alma. A parede central apre-
Para os modelos da Série II, o trecho ini-
sentou grande deformação e muitas fissuras
cial das curvas força versus deslocamento da
antes da ruptura, a qual ocorreu de forma
parede central foi linear até próximo a 50% do
brusca com separação dos painéis, porém,
carregamento último e, após isso, houve au-
sem ocasionar a ruína do modelo, que foi es-
mento significativo da força de cisalhamento
tabilizado pela pré-compressão; ver Figura 8a.
ao longo do trecho não-linear (Figura 9b). O
Na Série II, a ruptura por cisalhamento da
efeito de pino do grampo de aço e o atrito por
interface também foi alcançada. No entanto,
cisalhamento ao longo da superfície de rup-
o comportamento das paredes foi caracte-
tura foram responsáveis pelo mecanismo re-
rizado por menores deformações da parede
sistente após a fissuração. Uma significativa
central, em comparação aos modelos da sé-
resistência ao cisalhamento foi mantida, mes-
rie anterior, e sem fissuras significativas an-
mo depois de haver grande deslizamento da
tes da ruptura, que ocorreu de forma dúctil.
parede central.
Na Figura 8b pode ser visto que a junta verti-
Os resultados da força última, da resistên-
cal da interface flange-alma falhou, originan-
cia média ao cisalhamento e da resistência 31
Caderno Técnico Sistemas Industrializados de Concreto - CT28
Série I - Amarração Direta Número do modelo
Frup (kN)
1
169,45
vert
Série II - Amarração Indireta
(MPa)
0,61
Frup (kN) 154,19
vert
(MPa)
e o efeito de pino estava presente. As resistências ao cisalhamento da inter-
0,70*
face obtidas neste trabalho foram compa-
2
174,57
0,63
165,55
0,75*
radas com os valores das normas brasileira
3
170,78
0,62
180,63
0,82*
(ABNT NBR 15961-1:2011), britânica (BS
4
228,45
0,83
170,84
0,78*
5628:2005), australiana (AS 3700:2001) e
5
207,07
0,75
161,02
0,73*
canadense (CSA 304-1:2004). A Figura 11
6
241,13
0,87
147,60
0,67*
Média
198,58
0,72
163,30
0,74
mostra os resultados característicos ( vk), e o
DP
31,54
0,11
11,80
0,05
CV (%)
15,88
15,88
7,23
6,13
-
0,60
-
0,63
Tvk (MPa)
* Referido a área vertical referente a quatro fiadas
resumo das provisões normativas. Para a série I, os valores normativos estão reduzidos em quase metade dos experimentais em praticamente todos os casos e apenas a norma australiana correspondeu ao obtido experimentalmente. Com relação à Série II, a
característica ao cisalhamento dos modelos
da após a ruptura. Percebe-se que tais gram-
norma brasileira não menciona nenhum limite
são apresentados na Tabela 3.
pos sofreram uma deformação considerável,
de resistência ao cisalhamento das interfaces
Pode-se observar que os resultados das
enquanto os blocos dos flanges apresentaram
verticais para ligações que diferem da amar-
duas séries de experimentos apresentaram
um esmagamento localizado provocado pela
ração direta e a norma canadense não é clara
valores médios e característicos de resistên-
concentração de tensões a que estavam sub-
quanto à sua verificação. Dessa forma, todas
cia ao cisalhamento muito próximos. Cabe
metidos. Cabe ressaltar que não houve sinais
as demais normas se apresentaram conser-
destacar que esse desempenho não é o mais
de ruptura por tração dos blocos dos flanges.
vadoras, principalmente a norma australiana,
comum para esse tipo de ligação e, de acor-
A seção grauteada desses modelos apresen-
quando se faz a verificação pelos conectores.
do com a opinião de alguns pesquisadores, a
tou resistência suficiente para dissipação de
colocação de grampos metálicos em vez da
energia do aço, o que pode estar associado
solução de amarração direta deveria reduzir
ao confinamento do graute e é extremamente
fortemente a resistência final do conjunto. No
favorável à ligação.
5. Conclusões Com relação à resistência ao cisalhamento máxima da interface das paredes, não houve
Dos 24 grampos utilizados nessa série, 12
diferença significativa entre os dois tipos de li-
se deformaram além do limite de deformação
gação estudados. Com isso, pode-se concluir
Na Figura 10 podem ser vistos os grampos
do escoamento do aço, indicando que os co-
que nem sempre a amarração direta supera
dos modelos da Série II na condição deforma-
nectores atuaram como elementos resistentes
a amarração indireta em termos de força de
entanto, esse fato não foi comprovado neste trabalho.
Figura 10: Grampos deformados – Série II
32
na ligação alma-flange dos modelos da Série II
Tabela 3: Resultados dos ensaios de resistência ao cisalhamento dos modelos H
Tensão de Cisalhamento (MPa)
0,9 0,8
Normas Valor característico - este trabalho
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15961-1: Alvenaria estrutural – Blocos de concreto. Parte 1: Projetos, Rio de Janeiro, 2011.
0,7 0,6
vk
AUSTRALIAN STANDARD. AS 3700 Masonry structures. Austrália, 2001.
0,5 0,4
BRITISH STANDARDS INSTITUTION. BS 5628 – Code of practice for structural use of masonry. Part 1. Unreinforced masonry. Londres, Inglaterra. 2005.
0,3 0,2 0,1 0,0
NBR
BS AS Normas
CSA
BOSILJKOV, V., PAGE, A. W., SIMUNDIC, M. S. G. e ZARNIC, R. Shear capacity of the Flange-Web Intersections of Brick Masonry Nonrectangular Sections, Journal of Structural Engineering, Vol. 136, No. 5, May, pp. 574–585. 2010.
1,0
Tensão de Cisalhamento (MPa)
0,9 0,8 0,7
Normas Valor característico - este trabalho
CAMACHO, J. S., RAMALHO, M. A. e ANDOLFATO, R. P.. An experimental study of the interaction among walls submitted to vertical loads, In: Amc – 6th Australian Masonry Conference, Adelaide: Griffith, Vol. 1, pp. 95-104, 2001
vk
0,6 0,5 0,4
CAPUZZO NETO, V., CORRÊA, M. R. S. e RAMALHO, M. A.. Shear strength of vertical interfaces of intersecting walls, In: 10th North American Masonry Conference, Saint Louis, Boulder, The Masonry Society, Vol. 1. pp. 872-883, 2007.
0,3 0,2 0,1 0,0
CANADIAN STANDARDS ASSOCIATION. CSA S 304.1-04. – Design of masonry structures. Canada. 2004.
NBR
BS
AS Normas
AS
CSA
AS* - Valores correspondentes à resistência calculada pelos conectores
Figura 11: Comparação com as normas – Série I e II (a) Série I; (b) Série II
ruptura. Esse comportamento da ligação com amarração indireta é bastante benéfico à estrutura, pois apresenta resistência correspondente à da amarração direta com a ductilidade de uma ligação com grampos. A tração indireta dos blocos foi a causa principal da ruptura das paredes com amarração direta, e, para as paredes com amarração indireta, a ruptura foi conduzida pelo efeito de pino promovido pelo grampo de aço. A maioria das normas mencionadas apresentou valores reduzidos em relação àqueles obtidos experimentalmente para as duas séries. É fato que as normas devem ser conservadoras, considerando-se que seus limites contemplam fatores de execução, os quais
DRYSDALE, R. G., EL-DAKHAKHNI, W. W.; KOLODZIEJSKI, E. A., Shear capacity for flange-web intersection of concrete block shear walls. Journal of Structural Engineering, 134-6, 947–960. 2008. LISSEL, S. L., SHRIVE, N. G. e PAGE, A. W.. Shear in plain, bed joint reinforced, and posttensioned masonry, In: Canadian Journal of Civil Engineering, Vol. 27 , No. 5, pp. 1021-1030, 2000. MAURÍCIO, R. M., Estudo teórico e experimental das ligações diretas contrafiadas entre paredes de blocos de concreto em escala real e reduzida 1:4. Ilha Solteira. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira, Universidade Estadual Paulista. 2005.
Caderno Técnico Sistemas Industrializados de Concreto - CT28
Referências
1,0
MOREIRA, E. M. S., Análise experimental em escala reduzida de ligações entre paredes de alvenaria estrutural de blocos cerâmicos submetidas a ações verticais. Dissertação, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. 2007. OLIVEIRA, L. M. F., Estudo teórico e experimental do comportamento das interfaces verticais de paredes interconectadas de alvenaria estrutural. Tese, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. 2014. SILVA, W. J., Estudo experimental de ligações entre paredes de alvenaria estrutural de blocos cerâmicos sujeitas a ações verticais. Ilha Solteira. Dissertação, Universidade Estadual Paulista, Ilha Solteira, São Paulo, Brasil. 2003. SIMUNDIC, G.. Diaphragm walls. M.S. thesis. Newcastle. New South Wales, Austrália, 1997.
têm grande variabilidade. No entanto, é importante que seja realizada uma avaliação racional dos limites normativos, baseada em estudos aprofundados para que projetos de alvenaria não se tornem antieconômicos e/ou menos competitivos em comparação com outros sistemas construtivos.
AUTORES Luciane Marcela Filizola de Oliveira é pós-doutoranda no Departamento de Engenharia de Estruturas da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC ), da Universidade de São Paulo, E-mail: filizola@sc.usp.br
Márcio Roberto Silva Corrêa É professor-associado no Departamento de Engenharia de Estruturas da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC ), da Universidade de São Paulo; E-mail: mcorrea@sc.usp.br
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Foto: Lauro Rocha Texto: Marcos de Sousa
Cores na nova escola Pré-fabricados e vedações de blocos de concreto fazem o novo edifício da E.E. Jardim Marisa, em Campinas-SP, obra dos arquitetos Helena Ayoub Silva e Cesar Shundi recém-construída nas imediações do aeroporto de Viracopos. Trata-se de uma “caixa” quase branca por fora, mas vigorosamente colorida nos ambientes internos. A grande surpresa é a composição de vazios realizada pela artista Mirella Marino com elementos vazados de concreto organizados de forma aleatória ao redor do principal pátio da escola. A obra conta com tanques para aproveitamento das águas pluviais e um sistema de resfriamento do ar por geotermia. Veja e saiba mais sobre esta obra na próxima edição de Prisma.