Prisma 58 | ago 2015

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Ano 14 - No 58 agosto 2015

R$ 15,00

O piso para cargas pesadas Empreendimentos de logĂ­stica utilizam cada vez mais o piso intertravado de concreto por suas vantagens tĂŠcnico-econĂ´micas e ambientais



nesta edição

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entrevista

O engenheiro Yorki Estefan,diretor de Engenharia da construtora Conx, fala sobre alvenaria estrutural e como a empresa planeja e executa suas obras para extrair o melhor do sistema construtivo

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logística

O Pátio Intermodal de Itatiaia-RJ une os modais rodoviário e ferroviário e seus 60 mil m2 de piso estão em execução com pavimento intertravado

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revista prisma soluções construtivas com pré-moldados de concreto www.revistaprisma.com.br publicação bimestral agosto 2015

alvenaria estrutural

A construtora Conx está erguendo um condomínio no bairro do Morumbi, em São Paulo, com quatro torres de 20 e 17 pavimentos, com alvenaria estrutural com blocos de concreto

26 logística Um porto seco em Varginha-MG está sendo construído com pavimento intertravado, num total de 250 mil m2 de piso

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pavimento intertravado

O DER/SP está concluindo a pavimentação de uma estrada-parque no Vale do Ribeira (SP) com pavimento intertravado de concreto,

SEÇÕES

especificado por exigências ambientais

6 agenda

7 produtos

9 curtas

31 profissional top 34 destaque



editorial

EXPEDIENTE Prisma é uma publicação bimestral da Editora Mandarim www.mandarim.com.br ISSN: 1677-2482 DIRETORES

Marcos de Sousa e Silvério Rocha EDITOR RESPONSÁVEL

Silvério Rocha – MTb 15.836-SP EQUIPE TÉCNICA

Abdo Hallack, Cláudio Oliveira, Germán Madrid Mesa (Colômbia), Hugo da Costa Rodrigues, Kátia Zanzotti, Marcio Santos Faria, Paulo Sérgio Grossi, Rodrigo Piernas Andolfato e Ronaldo Vizzoni COLABORADORES

Texto: Marcos de Sousa, Regina Rocha Fotos: Lauro Rocha, Patrícia Belfort PROJETO GRÁFICO

LuaC Designer DIAGRAMAÇÃO/Arte

Vinicius Gomes Rocha - Act Design Gráfico IMPRESSÃO

Van Moorsel Gráfica e Editora REDAÇÃO

Editora Mandarim Praça da Sé, 21, cj. 402, São Paulo, CEP 01001-001 - Tel. (11) 3117-4190 SECRETARIA e ASSINATURAS

Ilka Ferraz, tel. (11) 3117-4190, www.portalprisma.com.br ou pelo e-mail ilka@mandarim.com.br PUBLICIDADE

Diretor Comercial: Silvério Rocha silverio@mandarim.com.br Representantação Comercial: Rubens Campo (Act), (11) 99975-6257 - (11) 4411-7819 rubens@act.ppg.br

APOIO INSTITUCIONAL

Na próxima edição Piso permeável na Olimpíada 2016 Deque com piso permeável Edifícios em alvenaria estrutural-SP Tubos de concreto aeroporto/SP

A reconhecida necessidade de expandir os centros logísticos por todo o país faz com que uma grande quantidade de novos empreendimentos com estes equipamentos essenciais para a movimentação de cargas esteja em implantação ou com previsão de construção nos próximos anos. Nesta edição, apresentamos dois grandes empreendimentos logísticos que estão em fase final de finalização, ambos executados com pavimento intertravado de concreto. A estratégica localização da cidade de Itatiaia, no Sul do estado do Rio de Janeiro, às margens da Via Dutra e próxima a grandes indústrias automotivas levou o grupo Pátria Investimentos a investir na construção de um pátio intermodal, que une os modais rodoviário e ferroviário, com 60 mil m2 de piso intertravado de concreto, de alta resistência. O pavimento intertravado foi empregado por suas vantagens técnico-econômicas, como a resistência/durabilidade, facilidade de manutenção e até ambientais, na opinião do engenheiro Marcos Hesketh, gerente de Unidades – Negócios Privados, da construtora paulistana Passarelli, contratada para executar as obras do pátio intermodal. Da mesma forma, um macroempreendimento de logística em Varginha-MG, um porto seco com cerca de 1 milhão de m2, está sendo ampliado e modernizado com o uso do pavimento intertravado, especificado após visitas do proprietário do empreendimento a instalações congêneres nos Estados Unidos, Europa e Ásia, quando ele verificou a predominância do uso do pavimento intertravado nesses centros logísticos, por suas vantagens praticamente insuperáveis, especialmente nessa função. E as qualidades ambientais do pavimento intertravado em relação ao pavimento asfáltico levou os órgãos ambientais do estado de São Paulo a exigir a adoção desse sistema construtivo para pavimentar um trecho de 33 km da rodovia SP 139, trecho esse que passa pelo Parque Estadual Carlos Botelho, no Vale do Ribeira, no Sul do estado. O engenheiro florestal José Francisco Guerra, coordenador de Meio Ambiente do DER/SP resume os motivos pelos quais, após dois anos de estudo, o pavimento intertravado foi o escolhido: “O piso tem cor clara e dissipa menos calor ao ambiente e, além disso, é mais permeável do que o asfalto. E a aplicação dos materiais asfálticos poderia contaminar os cursos de água puríssimos que cruzam o parque”. Boa leitura. 5


agenda Concrete Show 2015 26 a 28 de agosto, em São Paulo

A maior e mais completa feira da América Latina que reúne toda a cadeia produtiva do concreto chega à sua 9a edição. Neste ano o Concrete Show apresentará o Espaço Manutenção e Peças, com tecnologias e soluções completas para a gestão de frotas e manutenção e maquinários de construção. A feira e o Concrete Congress, que ocorre em paralelo, deverão reunir mais de 30 mil profissionais da construção civil no Centro de Exposições Imigrantes, em São Paulo. Mais informações: Tel. (11) 4878-5990 ou pelo site www.concreteshow.com.br.

87o Encontro Nacional da Indústria da Construção (Enic 2015) 23 a 25 de setembro, em Salvador

Já está no ar o site do 87o Encontro Nacional da Indústria da Construção (Enic), que será realizado de 23 a 25 de setembro de 2015, em Salvador. Promovido pela CBIC e realizado pelo Sinduscon-BA e Ademi-BA, o evento terá como tema central “Brasil mais eficiente, País mais justo”. A expectativa é de que participem do encontro cerca de 1.800 pessoas com o objetivo de apresentar soluções e novos entendimentos para um setor em constante evolução. Durante a reunião do Conselho de Administração da CBIC, o vice-presidente Vicente Matos, destacou a importância do apoio das Comissões Técnicas para a definição dos temas para o evento. Informações: www.enic.org.br.

Congresso de Rodovias & Concessões 14 a 16 de setembro, em Brasília

De 14 a 16 de setembro, a Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR) realiza, em Brasília, o 9o CBR&C - Congresso Brasileiro de Rodovias & Concessões e a 9a Brasvias Exposição Internacional de Produtos para Rodovias. Durante o evento também será lançado o Fórum das Associações de Infraestrutura. O tema deste ano será Regulação e tecnologia: caminhos para o desenvolvimento, que será debatido pelo Ministro do TCU Benjamin Zymler, o Ministro Marco Aurélio Mello, parlamentares e representantes do BNDES, BID, de agências reguladoras e de outros órgãos relevantes para o setor de concessões em infraestrutura. O presidente do BID, Luis Alberto Moreno, foi convidado para realizar palestra magna no evento de abertura. Os temas setoriais e de regulação serão a base do evento, que também conterá com palestras técnicas importantes, como cobrança de pedágio por trecho percorrido, utilização de drones em levantamentos para obras rodoviárias, tecnologias embarcadas nos veículos e outros temas. Programação: www.cbrcbrasvias.com.br

Simpósio Brasileiro Construção Sustentável 22 de setembro, em São Paulo

Com realização do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS) e da Escola Politécnica da USP, a 8a edição do Simpósio Brasileiro de Construção Sustentável (SBCS15) convida o setor a debater o tema “Repensar a construção em tempos de rápidas transformações”. O evento será dia 22 de setembro de 2015, das 8h às 18h, no Auditório da Biblioteca Brasiliana - Cidade Universitária, em São Paulo. O Simpósio tradicionalmente cria um ambiente de integração dos agentes da cadeia em torno do tema sustentabilidade. Nesta edição busca fortalecer a compreensão sobre o papel da construção civil no atual contexto de disponibilidade de recursos e oportunidades de negócios no Brasil. Já estão confirmados o Prof. Dr. da USP José Goldemberg; o Prof. Dr. Ivanildo Hespanhol, fundador e presidente do Centro Internacional de Referência em Reúso de Água -Cirra/IRCWR; o Coordenador de Saneamento da Secretaria de Saneamento de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo, Eng. Américo de Oliveira Sampaio; a Presidente e CEO do World Council on City Data do Global Cities Institute - Vancouver, Canadá - Prof. Dra. Patricia L.McCarney; o Prof. Dr. Gil Anderi da Silva, Professor na Escola Politécnica da e membro do comitê gestor do Programa Brasileiro de Avaliação do Ciclo de Vida; o Eng. Ricardo Baitelo, coordenador da área de Clima e Energia do Greenpeace Brasil; o Eng. Edward Borgstein, líder do projeto de Desempenho Energético Operacional do CBCS; a eng. Iara Negreiros, associada CBCS e professora na Unip-Sorocaba; o conselheiro do CBCS Prof. Dr. Roberto Lamberts; o conselheiro do CBCS Prof. Dr. Vanderley John; o Conselheiro do CBCS e Presidente do CTE Roberto de Souza; o Conselheiro do CBCS Prof. Dr. Orestes M. Gonçalves; o coordenador do CT Urbano do CBCS Prof. Dr. Alex Abiko e a engenheira Iara Negreiros da USP. Inscrições: até 23 de agosto, com exclusividade aos associados do CBCS e Escola Politécnica da USP. Confira a programação completa e mais informações no site: http://sbcs15.cbcs.org.br

Feicon Batimat Nordeste, 3o Salão Internacional da Construção 21 a 21 de outubro, no Recife

O evento Feicon Batimat é reconhecido como o maior e mais qualificado salão da construção da América Latina. O evento, que acontece no Pavilhão Sul do Centro de Convenções de Pernambuco, reúne as principais empresas e profissionais da cadeia produtiva da construção do Norte e do Nordeste do Brasil. Além da exposição, acontecem dois eventos simultâneos: a Decor Prime Show – Uma mostra diferenciada e surpreendente onde as tendências em arquitetura, decoração e design encontram-se para te surpreender. E a, que reúne importantes nomes do setor para debates e apresentações, com a oportunidade de trocas de conhecimento e experiências. Informações: www.feiconne.com.br RECEBA MAIS INFORMAÇÕES pelo boletim PrismaNet. Cadastre-se no site www.portalprisma.com.br


curtas Inscrições abertas para o 3o Prêmio Saint-Gobain de Arquitetura O Grupo Saint-Gobain abriu, em 4 de agosto, as inscrições para o Prêmio Saint-Gobain de Arquitetura – Habitat Sustentável. Realizada pelo terceiro ano consecutivo, a iniciativa já conquistou a confiança dos profissionais e estudantes da construção civil por reconhecer projetos e conscientizar sobre a importância da sustentabilidade para o setor. Os interessados podem inscrever seus projetos no site www.premiosaintgobain.com.br, até 16 de outubro de 2015. O prêmio abrange trabalhos de arquitetura, urbanismo, arquitetura de interiores, infraestrutura, engenharia e tecnologias de construção civil que estejam focados em aspectos

Aprovada norma de pavimento permeável

econômicos, sociais e ambientais, além

As cidades brasileiras poderão contar com um

utilização dos sistemas permeáveis à base de

de apresentarem soluções e práticas

grande reforço contra as enchentes e favoráveis

cimento, que aumentam as áreas permeáveis

inovadoras. As propostas devem estar em

aos lençóis freáticos e ao reuso da água da

nas cidades, ajudando a minimizar a ocorrência

sinergia com a matriz de sustentabilidade

chuva. Em 30 de junho último, foi aprovada a

de enchentes ao eliminar a água de escoamento

do Grupo Saint-Gobain. A premiação é

norma da ABNT que estabelece os requisitos

superficial e permitir que as águas das chuvas

dividida em duas categorias, Profissional

e procedimentos de execução de pavimentos

possam se infiltrar no solo e abastecer os lençóis

e Estudante, com modalidades distintas

permeáveis de concreto, que inclui os pisos

freáticos. Esse tipo de pavimento também pode

de participação. Todos os trabalhos

permeáveis intertravados e as placas permeáveis

ser dimensionado para armazenar as águas

são julgados e premiados de forma

de concreto. A nova norma estava em discussão

pluviais, que podem ser usadas como água de

independente. A categoria Profissional terá

desde outubro de 2013 na Comissão de Estudo

reuso, na irrigação de jardins, lavagem de áreas

um vencedor em cada modalidade e os

de Pavimentos Permeáveis de Concreto (CE-

públicas e privadas, entre outros usos sanitários”,

primeiros colocados receberão R$ 20 mil,

18:600.10) do Comitê Brasileiro de Cimento,

explica Oliveira. A nova norma, que deverá ser

troféu e diploma. Já os segundos lugares,

Concreto e Agregados (ABNT/CB-18). Essa

publicada pela Associação Brasileira de Normas

serão contemplados com R$ 10 mil.

comissão contou com a participação intensa

Técnicas ainda neste mês de agosto, também

Na categoria Estudante, será escolhido

de órgãos públicos, de empresas, associações

promoverá a melhoria da qualidade dos projetos

apenas um projeto e o campeão levará um

setoriais, representantes de universidades e

e obras de pavimentos permeáveis de concreto,

MacBook Pro, troféu e diploma. O professor

profissionais da construção civil.

ao definir e detalhar os requisitos mínimos que

orientador receberá um iPad e diploma.

devem ser atendidos por esse tipo de pavimento,

Entre os primeiros colocados de todas as

de Indústria, Inovação e Sustentabilidade da

muito utilizado em calçadas e praças de áreas

modalidades, das categorias Profissional e

Associação Brasileira de Cimento Portland

públicas e privadas, em estacionamentos e em

Estudante, será escolhido o grande vencedor

(ABCP) e coordenador dessa comissão do CB-

vias de tráfego leve, entre outros. “Os projetistas,

do “Melhor dos Melhores”. O eleito será

18/ABNT, a nova norma veio preencher uma

arquitetos e engenheiros, têm agora todos os

premiado com viagem à França, onde terá

lacuna ao estabelecer os requisitos mínimos

parâmetros para desenvolver um bom projeto e

a oportunidade de conhecer o Centro de

exigíveis ao projeto, especificação, execução e

as construtoras, empresas e órgãos públicos que

Inovação da companhia.

manu¬tenção de pavimentos permeáveis de

contratam e executam esse tipo de pavimento

concreto, construídos com revestimentos de peças

passam a dispor de todas as definições para

de concreto intertravadas, placas de concreto ou

realizar uma boa obra”, avalia o engenheiro Ramon

pavimento de concreto moldado no local. “Esta

Barral, presidente da Associação Brasileira da

norma estabelece as diretrizes para a correta

Indústria de Blocos de Concreto (BlocoBrasil).

Segundo o engenheiro Cláudio Oliveira, gerente

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curtas

Mudança no rendimento do FGTS “é a morte do Minha Casa,”, diz Secovi O projeto que propõe a mudança da alíquota

(CBIC), José Carlos Martins, apresentou uma

os trabalhadores e não se aumentaria o custo

da remuneração do FGTS (Fundo de Garantia do

proposta alternativa a Cunha. “O setor da

do projetos habitacionais”, explica Prando.

Tempo de Serviço) de 3% para 6%, que ainda

construção é contra e apresentou alternativa,

Pelos cálculos do Secovi-SP, na hipótese de

estava para ser votado na Câmara dos Deputados

que não foi acolhida pelo Cunha. Isso demonstra

aprovação do PL, a taxa média a ser praticada

até o fechamento desta edição da Prisma, pode

uma grande irresponsabilidade e vai provocar um

pelo FGTS para as contratações das aplicações

representar “a morte do Programa Minha Casa,

desajuste nas contas do FGTS. Os empréstimos

em habitação, saneamento e infraestrutura

Minha Vida”, segundo o Secovi-SP (sindicato da

são de longo prazo e os que já foram contratados

deverá ser de 10,8%. Nas condições atuais,

habitação), além de o fundo perder sua função

têm de ser honrados com taxas de 4,5% até

para financiar um imóvel de R$ 100 mil em

social. O FGTS é utilizado como parte de fonte

6%, 7%. Subindo a remuneração terá de ser

360 meses pelo sistema de amortização SAC, o

financiadora do programa habitacional, que tem

feito um acerto nisso, pois as construtoras

comprador deveria comprovar renda de R$ 2 mil,

como foco famílias de baixa renda. Atualmente,

passarão pegar os novos recursos a juros de

receberia subsídio de R$ 16,8 mil e tomaria

os juros cobrados para financiamento da casa

6%. Isso tem um efeito escalonado no custo,

um financiamento de R$ 83,1 mil. A prestação

própria com recursos do FGTS vão de 4,5%

o que inviabiliza para o mutuário que utiliza o

seria de R$ 590,88. Nas condições propostas

até 7,5%. Já as empresas que constroem as

Sistema Financeiro da Habitação.” A proposta

no PL, o adquirente deverá apresentar renda de

casas também pegam parte desse fundo para

do sindicato é de que se divida os rendimentos

R$ 4,2 mil, não receberá subsídio e tomará um

financiar a obra pagando, em média, 3% mais a

do fundo com os trabalhadores. “A parcela da

financiamento de R$ 90 mil, que corresponderá a

taxa referencial (TR). “Se o projeto for aprovado

aplicação dos recursos do FGTS voltaria para

uma prestação de R$ 1,06 mil.

como está, prejudica milhões de trabalhadores, pois eles serão impedidos de ter acesso à casa própria, porque os juros irão aumentar substancialmente para uma aquisição que é

Terceira etapa do Minha Casa, Minha Vida será lançada em setembro A presidente Dilma Rousseff anunciou em 5/8, por meio de sua conta em uma rede social, que a

paga durante 20, 30 anos pelo mutuário”, explica

terceira etapa do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) será lançada no dia 10 de setembro.

Flávio Prando, vice-presidente de habitação

Com meta de construir três milhões de unidades residenciais até 2018, além de entregar 1,7 milhão

econômica do Secovi-SP. O autor do projeto de

de residências contratadas e em construção, a nova fase do programa deverá priorizar moradias

lei, deputado Paulo Pereira da Silva (SD/SP),

populares em cidades grandes. O ministro das Cidades, Gilberto Kassab, chegou a afirmar que, apesar

conta com o apoio do presidente da Câmara,

de a meta inicial do programa estar mantida, a contratação de novas unidades neste ano não estava

Eduardo Cunha (PMDB/RJ), para colocar o projeto

confirmada, pois ainda dependia de entendimentos com os ministérios da Fazenda e do Planejamento.

em votação. Segundo o Secovi-SP, o presidente

Nesse sentido, a secretária Nacional da Habitação, Inês Magalhães, também afirmou que seria pouco

da Câmara Brasileira da Indústria da Construção

provável que houvesse novas contratações em 2015.

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CEF: crédito imobiliário para empresa A Caixa Econômica Federal (CEF) lançou linha de crédito imobiliário, com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), para beneficiar construtoras e incorporadoras que produzem empreendimentos com unidades residenciais de até R$ 300 mil. O financiamento é de até 80% do valor da obra, limitado a 50% do valor total de vendas, com taxas de juros a partir de 8,5% a.a. Segundo o vice-presidente de Habitação da Caixa, Teotônio Rezende, o montante disponibilizado será no valor total de R$ 1 bilhão, direcionado a empresas da construção civil que possuam empreendimentos destinados a atender clientes de média renda. “O lançamento da linha reforça o foco da Caixa na habitação voltada para as operações com recursos do FGTS e do Programa Minha Casa Minha Vida”, afirma. A empresa interessada deverá apresentar o projeto de engenharia, além de documentação para análise de risco, que consta no sítio da Caixa: www.Caixa.gov.br, área de “Downloads”, opção “Documentos para Avaliação de Crédito – Empresas da Construção Civil”. Deverá ser comprovada, também, a comercialização de, no mínimo, 30% das unidades do empreendimento, até a data da contratação. A Caixa também disponibiliza, em condições similares, uma linha de crédito para empresas que viabilizam a construção de empreendimentos com unidades residenciais de até R$ 750 mil, nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Distrito Federal; e de até R$ 650 mil nos demais estados.

Financiamento de imóveis: reforço de 22 bi A complexa engenharia financeira que o Banco Central promoveu ao fim de maio para garantir uma fonte de financiamento para imóveis e para o setor rural já mostrou efeito. O saldo dos recolhimentos compulsórios de instituições financeiras relativos à poupança saltou de R$ 120,4 bilhões em maio para R$ 142,5 bilhões em julho, segundo dados da instituição divulgados no início de agosto. O aumento de R$ 22,1 bilhões de maio para junho está associado às mudanças feitas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 28 de maio para ampliar os recursos para financiamento da casa própria. A poupança, fonte principal para esses tipos de empréstimos, vem registrando volume de saques maior do que o de depósitos desde o começo do ano. Na ocasião do anúncio, o diretor de Política Monetária do BC, Aldo Mendes, calculou que se todos os bancos usassem as novas prerrogativas, o sistema de financiamento imobiliário deveria receber acréscimo de R$ 22,5 bilhões a partir de 1o de junho.

Custo da construção paulista sobe 0,26% em julho O Custo Unitário Básico (CUB) da construção civil do estado de São Paulo nas obras incluídas na desoneração registrou alta de 0,26% no mês de julho em relação a junho, segundo o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP). No período, o CUB representativo da construção paulista (RN-8) ficou em R$ 1.136,24 por metro quadrado. “Não houve variação na média dos preços dos materiais pesquisados, muito provavelmente em função da fraca demanda. Dois itens influenciaram a variação positiva na mão de obra, o aumento nos custos de alimentação e ainda o resíduo da aplicação das convenções coletivas de trabalho”, afirmou o vice-presidente de Economia do SindusCon-SP, Eduardo Zaidan. No indicador, os custos médios com materiais de construção se mantiveram inalterados em julho frente a junho. Já os custos administrativos aumentaram 0,50% e os de mão de obra subiram 0,43% na mesma base de comparação. No ano, a alta ficou em 4,43%. Em 12 meses, a elevação chega a 5,13%, com aumentos de 7,34% nos custos com a mão de obra, de 1,92% nos materiais e de 8,08% nos gastos administrativos. 9


curtas Vendas de materiais de construção melhoram em julho As vendas de material de construção cresceram 7% e 8%, respectivamente, nas regiões Nordeste e Centro-Oeste e 2% no Sudeste no mês de julho. Já o Norte e o Sul apresentaram retração de 9% e 7%. As lojas médias tiveram um ligeiro crescimento de 2% no mês, enquanto as grandes retraíram 2%. Os médios estabelecimentos apresentaram estabilidade no período. Os dados são do estudo mensal realizado pelo Instituto de Pesquisas da Anamaco com o apoio da Abrafati, Instituto Crisotila Brasil, Anfacer e Siamfesp. O levantamento ouviu 530 lojistas das cinco regiões do país entre os dias 28 a 31 de julho e a margem de erro é de 4,3%. No levantamento nacional, as vendas do setor tiveram desempenho estável em julho, na comparação com junho. Entre as categorias pesquisadas, os destaques foram para revestimentos cerâmicos e tintas, que cresceram 3% cada. Metais sanitários mantiveram o mesmo patamar de vendas de junho e os segmentos de cimentos e telhas de fibrocimento registraram retração de 6% e 4%. Cerca de 46% dos lojistas que participaram da pesquisa acreditam que devem ter aumento de vendas no mês de agosto. O estudo também indicou que o otimismo do setor

Volume de crédito imobiliário registra queda de 35,6% O volume de financiamentos para aquisição e construção de imóveis com recursos do Sistema

com relação às ações do governo federal cresceu ligeiramente (de 17% para 20%).

Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) somou R$ 5,9 bilhões em junho, representando

Já a pretensão de novos investimentos

crescimento de 5,1% em relação ao mês anterior e queda de 35,6% na comparação com o mesmo

cresceu 27% no mês, com destaque para o

período de 2014. Os dados foram divulgados em 5/8 pela Associação Brasileira das Entidades de

Centro-Oeste, onde 44% dos entrevistados

Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).

disse que pretendem investir nos próximos

No primeiro semestre do ano, foram destinados R$ 44,8 bilhões para a aquisição e construção

12 meses. Em 2014, o varejo de material

de imóveis, resultado 15,8% inferior ao apurado no mesmo período do ano passado. No acumulado

de construção registrou um faturamento

de 12 meses, foram R$ 104,4 bilhões, número 7,4% menor que o registrado nos 12 meses

recorde de R$ 60 bilhões.

imediatamente anteriores. Em termos de quantidade, 25,6 mil imóveis receberam financiamento em junho, 40,6% a menos do que o número de financiamentos em junho de 2014. Na comparação com maio de 2015, houve aumento de 26,3%. No acumulado do ano, foram financiadas 200 mil unidades, 22,1% a menos do que no primeiro semestre de 2014. Nos últimos 12 meses até junho, 481,5 mil imóveis foram financiados, o que representa queda de 11,1% em relação aos 12 meses precedentes. Segundo o levantamento, a captação líquida da poupança em junho ficou negativa em R$ 7,1 bilhões. Apesar das retiradas de recursos no primeiro semestre, o saldo aplicado em depósitos de poupança superou em 3% o de junho de 2014, encerrando o mês em R$ 503,8 bilhões. 10



produtos Revestimento cimentício: A Quadra lançou no Brasil uma linha de produção totalmente automática para fabricação de revestimento cimentício. Os equipamentos, de fabricação nacional, podem ser integrados em diferentes fases e permitem produção de piso, revestimento de parede e até muros pré-moldados. A tecnologia, desenvolvida na França, é utilizada nos EUA e permite redução importante dos custos e tempo de produção. A grande precisão da dosagem de concreto e dos pigmentos garante qualidade constante do produto final. Informações: www.quadra-america.com ou pelo tel. (24) 97402-7607.

Triturador de concreto: O triturador de blocos modelo TB020 da Permaq permite total aproveitamento dos entulhos de concreto no canteiro de obras ou em fábricas de pré-moldados. O equipamento trabalha com sistema de martelos e permite a passagem livre de blocos padrão 20x20x40 cm, que podem ser triturados até atingir a granulometria do pó de pedra. Segundo o fabricante, o equipamento é robusto, com motor de 5 HP de potência para acionar seus três martelos de aço. Dotado de peneira regulável, o triturador trabalha com qualquer tipo de entulho de concreto, desde que estejam livres de resíduos metálicos. Informações: www.permaq.com.br, tel. (11) 2918-9925.

Moldes para artefatos de concreto: atuante há 15 anos, a Brasformas é especialista em moldes para fabricação de artefatos de concreto, adequados para equipamentos nacionais e importados de qualquer porte. Destaque para os moldes fixos e desmontáveis para blocos de alvenaria (NBR 6136) e os moldes de aço maciço para pisos intertravados. A empresa oferece atendimento em todo o território nacional, com soluções avançadas em softwares de projeto, equipamentos de alta precisão para usinagem e solda, e para tratamento térmico especializado. Informações: www.brasformas. com.br, tel. (19) 3216-6553 ou 3246-1899.

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Pigmento com cor intensa : Ferrox Color é um pigmento inorgânico, feito à base de óxido de ferro sintetizado e pronto para consumo. Desenvolvido pela Camargo Química, o produto é destinado à dosagem em concreto e argamassas. O pigmento tem melhor poder de pigmentação e ótima dispersão, conferindo cores mais vivas e estáveis, segundo o fabricante. É também compatível com a alcalinidade do cimento e resistente aos raios solares. O Ferrox Color é oferecido nas cores vermelha, preta, marrom, amarela e laranja. Informações: www.camargoquimica.com.br, tel. (47) 3334-2435

Protetor para poço de elevador: Concebido e fabricado

Sensor portátil de umidade: A Condutiva, empresa especializada

pela Scanmetal, o protetor para poço

em sensores e controladores de umidade, apresenta o modelo

de elevador é utilizado durante as fases de construção e de preparação

SP1000A, equipamento portátil e de fácil operação, segundo a fabricante. As amostras são compactadas com o

para a instalação dos equipamentos.

sistema de compressão do dispositivo, permitindo

Segundo o fabricante, a instalação é

a medição de umidade em menos de 30 segundos,

simples, requerendo apenas três furos,

com alta precisão (± 0,3 %). Com essa análise

na soleira e sob a viga, o que elimina

rápida, a relação água/cimento pode ser ajustada

a necessidade de arremates depois do

até o valor desejado. O sensor pode ser

acabamento do gesso. Invertendo-se

utilizado em laboratório e em campo, já

o sistema tipo garfo, a proteção se

que opera com bateria recarregável

abre como uma porta. Nenhuma peça

com autonomia de dez horas.

de madeira é utilizada no sistema.

Informações: www.condutiva.com.br,

Informações: www.scanmetal.com.br,

tel. (19) 3032-1751 ou 3888-2738.

tel. (11) 2797-7226.

Escantilhão para alvenaria estrutural : Produzido pela Equipaobra, o escantilhão modelo ER 260 possui régua deslizante com 2 m de altura e graduações a cada 20 cm, o que permite a execução de dez fiadas de alvenaria, mudando-se somente a posição das linhas-guia. Escantilhões são acessórios que melhoram a qualidade e produtividade nas obras de alvenaria. Por meio de ajustes finos dos prumos nas duas direções, esses equipamentos garantem o prumo e nivelamento dos blocos. O produto pode ser fabricado com especificações especiais, de acordo com o projeto do cliente. Informações: www. equipaobra.com.br, tel. (11) 3322-7177.

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entrevista

Yorki Oswaldo Estefan

O currículo do engenheiro civil Yorki Oswaldo Estefan é diferente do usual entre seus colegas. Formado pela Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), Estefan trabalhou como estagiário na construtora Construarc e, posteriormente, foi sócio-fundador da Tecnum, em 1990. Em 2009, deixou a Tecnum e ativou a construtora Conx, da qual é sócio e diretor de Engenharia. É também membro do Comitê de Tecnologia e Meio ambiente do Sinduscon-SP. Estefan é um entusiasta dos conceitos e da aplicação de métodos de gestão, do controle da qualidade, da tecnologia e das inovações na construção. E também é adepto da construção com o sistema de alvenaria estrutural com blocos de concreto, que utiliza há mais de 15 anos. REPORTAGEM: Silvério Rocha FOTO: Divulgação

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prisma

“Acreditamos na alvenaria estrutural por suas vantagens técnicoeconômicas” Qual é a área de atuação da Conx? A Conx atua, desde 2009, em obras comerciais e residenciais. Nestas, a alvenaria estrutural com blocos de concreto é utilizada em 60% delas. A Conx é uma empresa que trabalha com o mercado. É desenvolvedora de negócios, faz a captação de terrenos, a venda e o marketing dos empreendimentos, além de incorporar e construir. Nós atuamos somente no estado de São Paulo, nas cidades de São Paulo, Campinas, Jundiaí e na Baixada Santista. Atualmente temos 14 canteiros, distribuídos por essas cidades e que integram um total de 34 empreendimentos que temos em carteira, em diferentes estágios. Por que a opção, na maioria de suas obras residenciais, pela alvenaria estrutural? Trabalho há 15 anos com alvenaria estrutural. E fazemos obras em alvenaria estrutural porque acreditamos no sistema construtivo do ponto de vista técnico-econômico. Mas, para isso, buscamos usar ao máximo, explorar no limite, as potencialidades da alvenaria estrutural já no projeto. Como é feita definição por um sistema construtivo? Cada projeto é analisado detalhadamente. Utilizamos nossas ferramentas para verificar diversas variáveis, que incluem desde o padrão do empreendimento, o comprimento dos vãos, entre outras, para definir qual o sistema construtivo que utilizaremos. Se couber a alvenaria estrutural, se ela se adequar à modulação do projeto, dos vãos, nós a utilizamos porque sabemos que, com ela, vamos ter vantagens técnico-econômicas. O partido arquitetônico e os vãos são os determinantes nessa equação. Outro limitador é o número de pavimentos. Normalmente, usamos a alvenaria estrutural em edif ícios com até 20 pavimentos. Só de partirmos de um projeto modulado, racionalizado, sabemos que teremos condições ténico-econômicas de desenvolver uma boa obra. Temos a garantia do conhecimento daquilo que va-


mos construir, graças aos procedimentos que desenvolvemos internamente, que atualmente constituem um banco de dados com 64 processos utilizados pela Conx. Procuramos extrair o máximo de cada processo. Quando a construtora utiliza a alvenaria estrutural, como isso é feito? Quando é possível, descemos a alvenaria estrutural até o baldrame. Quando não há essa possibilidade, erguemos com o concreto convencional até o pavimento térreo, até a transição para a alvenaria estrutural. Trabalhamos com a coordenação gerencial das obras. Nossa equipe própria envolve engenheiro, mestres-de -obra e controle de qualidade. Temos um cadastro de empreiteiros com os quais trabalhamos. São sempre os mesmos, porque já conhecemos a qualidade de seus trabalhos. Os funcionários desses empreiteiros são treinados como se fossem nossos operários. E como isso acontece? Trabalhamos no planejamento da obra desde a visita ao terreno. Parametrizamos o custo da obra, com margem de erro de 3%. Esses cálculos são feitos recorrendo a obras similares que já realizamos. Se essa ferramenta não funcionar, a empresa quebra. Cada fase, cada etapa da obra, é acompanhada pelo planejamento e pelo orçamento. Nossa equipe faz o estudo de viabilidade antes da apresentação do projeto de prefeitura e da aprovação. Na etapa de planejamento preliminar, já se faz o pré-planejamento da obra: com a logística definida, a equipe necessária e os equipamentos a serem utilizados. Como são desenvolvidos os projetos pela Conx? Temos os processos padronizados da empresa, que os projetistas incorporam ao projeto deles. Não acreditamos e não aceitamos que a obra altere o projetado. Só iniciamos a obra com o projeto executivo concluído e ele é muito bem-detalhado. Assim, detalhes sobre como, por exemplo, projetar e executar uma platibanda e de como prender o balancim na fachada constam desse projeto executivo. É um projeto muito limpo, sem perdas. As perdas em geral acontecem quando o projeto não está claro, não está muito bem-definido em suas etapas. E isto é feito internamente? Temos uma equipe de coordenação interna de projetos. Quando aprovamos o projeto na prefeitura, já avançamos no desenvolvimento do projeto executivo. É uma forma de ganhar tempo e ter projetos de qualidade, ao final. Desenvolvemos a capacitação de nossa equipe interna de projetos, com a Maria Angélica Covello, da consultoria NGI, visando ao aperfeiçoamento

e à atualização de nossa equipe interna. Quando começamos a obra, o projeto executivo e o orçamento executivo também já estão prontos. E como a empresa faz o controle de qualidade de suas obras? Temos uma programação semanal de serviços. Nosso departamento de planejamento parte para a obra com a programação e a discute com os empreiteiros. E esse planejamento é monitorado diariamente, verificando o que está sendo executado. Quando o projeto executivo está concluído, começamos a comprar materiais de um quadro de fornecedores cadastrados. Para blocos de concreto, por exemplo, exigimos do fornecedor o Selo de Qualidade da ABCP, como garantia de qualidade desses produtos, obviamente fundamentais na alvenaria estrutural. E buscamos parceria com nossos fornecedores. A maior delas é com a Votorantim Cimentos, com a qual temos reuniões semanais, visando a desenvolver nossos processos nas obras, em todas as etapas. Em argamassa, por exemplo, antes usávamos a virada na obra, mas agora utilizamos a industrializada. Temos acompanhamento técnico, pela Votorantim, para as obras, tanto do concreto quanto da argamassa. Acho que esse é o caminho: aproximar a indústria dos fornecedores. Cite exemplos de ações resultantes dessas parcerias. A parceria funciona, por exemplo, no controle tecnológico da alvenaria estrutural: fazemos os corpos-de-prova e a Votorantim Cimentos faz os ensaios de graute. Já nos blocos de concreto, recebo os ensaios das indústrias fornecedoras e faço os meus próprios ensaios, de bloco e de prisma. O que poderia ser melhorado pela indústria de blocos? Há uma diferença de custo entre o bloco e a família de peças que o compõe. O custo das demais peças é descompensado se comparado ao preço do bloco; não é proporcional ao custo de produção de cada peça. Sei que a indústria de blocos trabalha assim, mas isso é um limitador. E qual a contribuição que a indústria de blocos poderia trazer às construtoras? Creio que seria importante a indústria de blocos desenvolver, por exemplo, uma verga pré-fabricada, que não existe atualmente. Essa peça nos daria uma ótima solução, para evitarmos ter de moldar a peça na obra, com fôrmas, concreto etc. Seria um avanço na industrialização das obras e traria maior produtividade.

Leia a entrevista completa em www.portalprisma.com.br 15


logística

Construtora paulista Passarelli é contratada para construir o Pátio Intermodal do Itatiaia Dutra Business Park, que terá cerca de 60 mil m2 de piso intertravado de concreto de alta resistência, capaz de suportar as pesadas cargas de contêineres desta importante área de logística

REPORTAGEM: Silvério Rocha IMAGENS: Divulgação

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prisma

Carga pesada A cidade de Itatiaia, localizada no Sul do estado do Rio de Janeiro, próximo à divisa com o Estado de São Paulo e às margens da Rodovia Presidente Dutra (BR 116), foi a escolhida por sua posição estratégica e por contar com a proximidade de grandes indústrias automotivas (Hyundai, Renault, Peugeot, Michelin e, em breve, Jaguar Land Rover). O Itatiaia Dutra Business Park é um empreendimento do Pátria Investimentos, que contempla 170 mil m2 de área construída, com 43 galpões modulares, prédio administrativo, apoio de caminhoneiros, portarias de carros e pedestres, além de estacionamentos para automóveis, caminhões, motos e bicicletas. Integra ainda o condomínio o Pátio Intermo-

dal, que terá cerca de 60 mil m2 de área pavimentada com pisos intertravados de concreto de alta resistência, capazes de suportar as elevadas cargas dos contêineres que serão armazenados e movimentados nesse pátio. O empreendimento foi dividido em duas fases: a primeira delas envolve a construção do Pátio Intermodal e a segunda será composta pelos galpões logísticos. O Pátio Intermodal está sendo executado pela Construtora Passarelli, de São Paulo. “Nosso contrato compreende a construção dos 60 mil m2 de pavimento intertravado do pátio, da área de apoio aos motoristas, com cerca de 350 m2 de área construída e do desvio ferroviário de 1,5 km de extensão, uma derivação da li-


nha ferroviária operada pela concessionária MRS Logística e que completa a intermodalidade desse importante espaço logístico” , explica o engenheiro Marcos Hesketh, gerente de Unidades – Negócios Privados da Construtora Passarelli.

Lean CONSTRUction A necessidade de executar a obra num cronograma relativamente apertado – sete meses, no total – exigiu da construtora um planejamento rigoroso e estudos aprofundados ainda na fase de projeto. “Os projetistas traziam os conceitos, que eram analisados e discutidos até chegarmos à melhor solução para todos. Os processos foram desenvolvidos a quatro mãos. E, antes de começarmos os trabalhos de construção, reunimos todos os players da obra para discuti-la em

detalhes e afinar os procedimentos” , diz Hesketh. A meta, segundo o gerente da Passarelli, era acertar as metodologias de trabalho e, principalmente, sincronizar o ritmo das equipes das empresas terceirizadas responsáveis pelas principais atividades: terraplanagem, assentamento dos pavers e execução do desvio ferroviário. Também os projetos e levantamentos geof ísicos e planialtimétricos do terreno foram submetidos a uma revisão rigorosa, para evitar imprevistos ao longo da obra. “Encontramos problemas de solo em alguns pontos e propusemos soluções técnicas adequadas, como o aumento da quantidade de rachão na sub-base, para esses pontos” , lembra o engenheiro. Numa obra desse tipo, diz Hesketh, o importante era obter sincronicidade

Na foto superior, a execução do pavimento intertravado, com elevada produtividade de 1,3 mil m2/dia; abaixo, a construção do ramal ferroviário de 1,5 km

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logística

no desenvolvimento dos trabalhos, fazendo com que, à semelhança de uma produção industrial, cada etapa fosse continuada pela atividade subsequente, imprimindo uma cadência planejada e constante, explica ele. Para isso, também auxiliou a adoção da chamada Lean Construction (construção enxuta), que busca otimizar os recursos humanos, de materiais e de equipamentos, com a consultoria do especialista Antônio Sergio Itri Conte.

Pavimento intertravado

O pavimento intertravado de concreto de alta resistência foi especificado por sua grande capacidade de resistir a cargas elevadas E apresentar vantagens técnicoECONÔmicas, QUANDO comparado ao asfalto

A parte principal da obra a cargo da Passarelli é a execução dos 60 mil m2 de pavimento intertravado, “coração” do pátio intermodal e onde serão depositados e movimentados por empilhadeiras os milhares de contêineres recebidos e enviados pelos modais rodoviário e ferroviário. A utilização do piso intertravado de concreto de elevada resistência foi uma especificação que é cada vez mais comum em obras análogas a essa, pelas vantagens desse sistema de pavimento devido à sua grande capacidade de resistir a cargas elevadas, apresentar vantagens técnico-econômicas (durabilidade, facilidade de manutenção) ao longo de no mínimo 20 anos e ser menos agressivo ao meio ambiente, comparado ao asfalto, por exemplo. “O piso intertravado de concreto apresenta to-

dos esses benef ícios técnico-econômicos e ambientais” , afirma Hesketh. A execução do pavimento incluiu a preparação do terreno e o enchimento das “caixas” com rachão, bica corrida e BGS, numa atividade que demanda cerca de 60 viagens de caminhão por dia, em média. O controle dessa etapa, assim como de toda a obra, é meticuloso. O acompanhamento topográfico da obra também é detalhista. Um topógrafo faz a medição e checa os resultados dos serviços a cada fase concluída. Tamanho rigor se explica, segundo Hesketh, porque numa obra desse tipo, cujo pavimento precisa ter índice elevado de planicidade para acomodar pilhas de contêineres de elevada tonelagem por metro quadrado sem desníveis ou ondulações, o controle de qualidade dos serviços executados precisa ser obviamente preciso. A planicidade do pavimento e o caimento especificado – de 0,25% no sentido longitudinal e de 0,5% no transversal – têm de ser devidamente observados. O assentamento dos pavers acontece também no ritmo cadenciado e com a produtividade desejada. Os 60 mil m2 de pavimento foram divididos em três áreas distintas. Na primeira delas, de 52 mil m2 – 87% do total, onde ficarão os contêineres e que exige maior capacidade de resistência – as equipes da Pavcenter, empresa encarregada por essa etapa

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dos trabalhos, fazem o espalhamento da areia e, sobre ela, são assentados os blocos de 16 faces, 8 cm de espessura e 50 MPa de resistência em formato de espinha de peixe. Numa segunda área, a de manobra dos caminhões, com cerca de 7 mil m2 e menor necessidade de resistência às cargas, é utilizado o mesmo tipo de bloco, porém com resistência de 35 MPa. Já no terceiro trecho, destinado ao estacionamento, o bloco tem o mesmo formato, 6 cm de espessura e 35 MPa de resistência. A equipe da Pavcenter que executa o assentamento dos pavers é formada por operários e encarregado experientes nesse tipo de serviço (veja box). Os blocos são fornecidos pela Oterprem, de São Paulo e que detém o Selo de Qualidade da ABCP e é qualificada pelo Programa Setorial da Qualidade (PSQ),, do PBQP-H/Ministério das Cidades. A Passarelli contratou um empreiteiro local para construir a área de apoio aos motoristas, que está sendo erguida com pilares pré-moldados e alvenaria estrutural de blocos de concreto. O andamento dos serviços no pátio intermodal corre melhor do que o planejado, segundo o gerente da Passarelli. O planejamento e o controle estrito de todas as etapas da obra permitiu à construtora contar com cerca de 90% dos serviços de pavimentação concluídos, assim como nos trabalhos de construção do 1,5 km do ramal ferroviário, obra privada sob autorização da MRS Logística e da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). “Em junho, estávamos 5% adiantados em relação ao cronograma” , contabiliza Hesketh.

Industrialização Segundo o gerente da Passarelli, o planejamento prévio, com análise dos projetos, a discussão sobre a logística e a coordenação a serem empregadas nos

Os DOUTORES do assentamento de piso intertravado

A empresa Pavcenter, sediada em Santa Isabel, na Grande São Paulo, foi a escolhida pela Passarelli para realizar os serviços de assentamento do piso intertravado no Pátio Intermodal Itatiaia. Segundo o diretor da Pavcenter, João Batista Ferreira, houve uma discussão da logística a ser implementada na obra, conforme os procedimentos usuais da Passarelli, para que pudesse ser atingida a meta de assentamento de 1.300 m2 de piso por dia. “A construtora contratou uma empresa para acompanhar o cronograma operacional de cada terceirizado e cada uma tem sua responsabilidade. No nosso caso, sempre trabalhamos visando à rapidez e à qualidade no assentamento”, diz Ferreira. Segundo ele, o planejamento dessa obra foi tão rigoroso que “não tivemos nenhum problema que travasse os nossos serviços e os dos outros empreiteiros; tudo está indo 100% bem”. A Pavcenter foi fundada em 1997 e já executou mais de 1,2 milhão de m2 de assentamento de pisos. Informações: tel. (11) 4657-5115 ou www.pavcenter.com.br

trabalhos, a coordenação das equipes e do ritmo das atividades foram essenciais para permitir esse resultado. De acordo com ele, a palavra de ordem adotada nessa obra foi a da busca da industrialização na obra, como conceito e como busca de soluções pontuais. Ele cita como exemplo dessa metodologia a solução encontrada para fazer as fundações dos cerca de 70 postes altíssimos que iluminarão todo o pátio. Em vez de fazer os blocos das fundações dos postes em concreto convencional, com fôrmas de madeira, resolveram utilizar aduelas pré-fabricadas de concreto. “Colocadas as aduelas, bastava lançar o concreto e, posteriormente, inserir os postes utilizando guindaste”. “O ‘pulo do gato’ dessa obra está na gestão de suprimentos, da logística e do controle de qualidade. E equilibrar a produção em série dos trabalhos” , conclui Hesketh.

FICHA TÉCNICA Pátio Intermodal Itatiaia Localização: Itatiaia-RJ Área construída: 60 mil m2 de pavimento do pátio, 350 m2 área de apoio a motoristas, 1,5 km de ramal ferroviário Arquitetura: MV Escritório de Projetos Projeto de pavimentação: LPE Gerenciamento: Engineering Construção: Construtora Passarelli Fornecedores: Oterprem (peças intertravadas de concreto), Pavcenter (execução da pavimentação), Engemav (execução das instalações) Início e término da obra: março de 2015 e setembro de 2015 (previsão)

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alvenaria estrutural

Torres gêmeas A Vila Andrade, bairro paulistano situado na zona sul da cidade, na valorizada macrorregião do Morumbi, é uma das localidades de maior vitalidade no mercado imobiliário da capital paulista. Essas características levaram a construtora Conx, em parceria com a Living/ Cyrela na incorporação, a lançar nesse bairro dois condomínios de médio padrão, cada um deles com duas torres, que estão sendo erguidas com alvenaria estrutural com blocos de concreto. O público-alvo do empreendimento, segundo o engenheiro Yorki Estefan, diretor de Engenharia da Conx, é de classe média, compatível com o padrão dos empreendimentos. A análise dos terrenos, do padrão pretendido para o empreendimento, do projeto arquitetônico e dos vãos dos edif í-

cios, principalmente, definiram a opção pela alvenaria estrutural com blocos de concreto, procedimento usual na Conx, de acordo com Estefan (leia entrevista à pág. 8). A Conx utiliza a alvenaria estrutural com blocos de concreto em 60% de suas obras residenciais, de acordo com seu diretor de Engenharia. Assim, nesse empreendimento específico, que compreende os condomínios Reserva Morumbi e Tree Morumbi, esse sistema construtivo, que oferece grande eficiência do ponto de vista técnico-econômico, segundo Estefan, foi o escolhido. O empreendimento engloba dois lotes. O Reserva Morumbi ocupa um terreno de 12.012 m2, enquanto o Tree Morumbi acomoda-se em lote de 6.654 m2. A característica mais marcante dos dois edif ícios, em relação à alvenaria estru-

Construtora Conx recorre à alvenaria estrutural com blocos de concreto para erguer quatro torres, com até 20 pavimentos, em bairro nobre de São Paulo

REPORTAGEM: Silvério Rocha IMAGENS: Divulgação / Oterprem

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alvenaria estrutural

Utilizamos a alvenaria estrutural com blocos de concreto pelas suas vantagens técnicoeconômicas; e exigimos que os fornecedores dos blocos tenham o Selo de Qualidade da ABCP

tural, é a sua altura. O Reserva Morumbi tem 20 pavimentos no total e o Tree, 17 pavimentos. “O Reserva situa-se praticamente no estado-da-arte da alvenaria estrutural, com seus 20 pavimentos; é um edif ício muito alto” , avalia o engenheiro José Roberto de Andrade, do escritório JR Andrade e autor do projeto estrutural das quatro torres desse empreendimento. O projeto estrutural dessas torres, que na realidade são dois pares de edif ícios idênticos, correspondendo cada par a um condomínio, adota basicamente o mesmo conceito para todos os edif ícios, variando apenas as características dos 22

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blocos, argamassa e graute nos últimos andares. A estrutura dos três subsolos e do pavimento térreo – que faz a transição para a alvenaria estrutural, utilizada a partir do primeiro andar –, foi erguida com concreto armado. “A maior dificuldade no projeto de edif ícios de alvenaria estrutural reside na resolução da transição do concreto armado para a alvenaria estrutural, porque essa transição é que recebe toda a carga da alvenaria dos andares a partir dali” , explica Andrade. As cargas lineares que atuam sobre o pórtico da transição de cada edif ício variam entre 12, 15 e 20 toneladas. Segundo o projetista, essas cargas “caminham” para os apoios, concentrando as cargas nos cantos das paredes, produzindo o chamado efeito-arco. Assim, a estrutura da transição nesses edif ícios tem grande dimensão, variando entre 1 m e 1,20 m de altura. A Conx possui equipes internas que começam a desenvolver, antes mesmo da aprovação do projeto na prefeitura, os projetos de arquitetura e de estrutura/instalações, além de dar início ao planejamento da logística da obra. Assim, todos os processos são previamente ma-


peados e os projetos discutidos com seus autores, para incorporar as soluções desenvolvidas pela construtora e pelos seus diretores ao longo de sua atuação profissional. O projeto estrutural das duas torres do Reserva Morumbi, que tem três subsolos destinados às garagens, térreo e 20 pavimentos destinados às 328 unidades de dois a três dormitórios e com áreas privativas entre 54 m2 e 82 m2, segue o que é usual nos projetos de alvenaria estrutural com blocos de concreto. Nos três primeiros pavimentos, a partir do primeiro andar, o bloco estrutural tem resistência de 20 MPa, o graute 30 MPa e a argamassa, 14 MPa. No quarto e quinto pavimentos, o bloco é de 18 MPa, o graute de 30 e a argamassa 14 MPa. Essas resistências caem, à medida que a estrutura sobe, tanto no bloco (16, 12, 10, 8, 6 e 4 MPa), quanto

no graute (25, 20, 12 MPa) e na argamassa (10, 7 e 5 MPa). Nos prédios do Tree Morumbi, que têm apartamentos de um a três dormitórios e unidades com áreas privativas de 50 m2 a 64 m2, a lógica é a mesma, porém partindo de blocos de 16 MPa de resistência, que termina em 4 MPa nos últimos pavimentos, enquanto o graute parte de 25 MPa e termina com 12 MPa e a argamassa varia de 10 MPa a 5 MPa. De acordo com o engenheiro Ricardo Belini, responsável técnico pela obra, o uso da argamassa industrializada traz produtividade e qualidade aos trabalhos. “Adicionamos a quantidade de água recomendada pelo fabricante, batemos a argamassa no misturador mecânico e aplicamos. A vantagem é que o controle da água, que influencia a qualidade da argamassa, é muito grande, muito maior do que a da argamassa virada na obra” , diz Belini. 23


alvenaria estrutural

FICHA TÉCNICA Obra: Condomínios Reserva Morumbi e Tree Morumbi Localização: Vila Andrade, Morumbi, São Paulo Projeto de arquitetura: Trie Arquitetura Projeto de estrutura: JR Andrade Paisagismo: Marcelo Faisal (Reserva e Tree), Mariela Dumian (Tree) Incorporação: Conx e Living Construção: Conx Início/final das obras: Junho de 2014 / setembro de 2016 (previsão) – Reserva; abril de 2014/junho 2017 Tree (previsão) Áreas dos terrenos: 12.012 m² (Reserva), 6.654 m² (Tree) Áreas construídas: 27.647 m2 (Tree); 30.414 m2 (Reserva), totalizando 58 mil m2 de área construída Número de unidades: 328 (Reserva), 280 (Tree) Equipamentos de lazer/outros: Piscinas adulto e infantil, churrasqueira com forno para pizza, quadra recreativa, salão de festas, fitness, cine home, Espaço Teen, playground, salão de jogos, brinquedoteca e Espaço Gourmet (Reserva); Salão de festas, pergolado do salão de festas, playground, brinquedoteca, salão de jogos, salão de jogos juvenil, espaço teen, fitness, piscina adulto com raia de 20 m, piscina infantil, solário, minicidade, churrasqueira com forno de pizza, praça de convivência e quadra esportiva (Tree).

Além disso, a Conx utiliza nessa obra a laje zero nos apartamentos; revestimento com monocapa, aplicada por empresa terceirizada já cadastrada na construtora e com trabalhos em outras obras; batente metálico, “que elimina a necessidade de verga e contraverga” ; kit pronto para gabarito metálico e distribuição hidráulica do cavalete em Pex. A obra conta com uma grua e uma cremalheira para transporte vertical por torre. A logística utilizada no recebimento dos blocos, que são fornecidos nessa obra pela Oterprem, detentora do Selo de Qualidade da ABCP – “exigência que fazemos aos nossos fornecedores de blo24

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cos” , diz Yorki Estefan, diretor da Conx –, e qualificada pelo PSQ setorial, prevê que um funcionário confira os blocos e os classifique por cor, de acordo com a resistência, para evitar erros. “Recebemos três caminhões de blocos por dia, com entre 11 a 14 paletes cada, e um caminhão de lajes a cada três dias” , contabiliza Belini. Na avaliação do engenheiro responsável, o maior desafio nessa obra foi atender ao planejamento e atingir o ciclo de produção de uma laje a cada sete dias de trabalho. “Fazemos três lajes por mês em cada torre. É um ponto fora da curva” , avalia Belini.



logística

Porto seco reúne instalação aduaneira e parque logístico ao lado de aeroporto no Sul de Minas Gerais. No piso, serão 250 mil metros quadrados de pavimentação intertravada

PISO DE GIGANTES

REPORTAGEM: Marcos de Sousa IMAGENS: Lauro Rocha

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Varginha, no Sul de Minas Gerais, é um tradicional centro de processamento e exportação de café, de várias partes do país. A cidade está a cerca de 300 km de São Paulo, Rio e Belo Horizonte, no miolo de uma região com alto poder de consumo. E fica ao lado da rodovia Fernão Dias, um dos principais corredores de cargas do país. Essas condições levaram um empresário da região a vislumbrar, ainda nos anos 1980, a criação ali do primeiro porto seco do Brasil. A iniciativa se concretizou em 1993 e – de fato – di-

namizou a economia local. Atraiu novos negócios para o município, especialmente parques logísticos e levou o empreendedor a renovar por volta de 2008 a permissão para o Porto Seco Sul de Minas. Com a nova autorização governamental para a Estação Aduaneira de Interior (Eadi) de Varginha, o empreendimento foi transferido para uma área maior (cerca de 1 milhão de m2), ao lado do aeroporto local, construída em sintonia com os padrões internacionais de instalações aduaneiras. Visitas a instalações


Foto: divulgação

nos Estados Unidos, Europa e Ásia levaram à adoção do pavimento intertravado de concreto em todas as áreas de circulação, manobras de veículos e de armazenamento de contêineres. “O proprietário já tinha a experiência de pátios com asfalto e reclamava do calor que esse tipo de pavimento dissipava para o ambiente. Além disso, ele desejava um pavimento durável, com baixa manutenção. A área de empilhamento de contêineres, por exemplo, tem o tráfego de grandes empilhadeiras, com cargas que chegam a 90 toneladas por eixo e isso gerava grande desgaste no pavimento de asfalto” , explica Fernan-

do Rodrigues Ximenes, diretor da RX Construtora, empresa responsável pela pavimentação da obra. Logo na entrada do empreendimento, a larga pista pavimentada impressiona pela extensão e pela paginação dos blocos: pista central cinza e laterais em cor terracota. Mesmo a sinalização de demarcação das pistas foi realizada com blocos amarelos. Paginação distinta foi adotada na área de armazenamento, setor fechado e controlado pela Receita Federal. Nesse pátio, onde circulam grandes empilhadeiras, o piso foi desenhado em módulos quadrados, nas cores amarela e terracota. 27


logística

Área em execução: blocos de 35 MPa para receber carretas de grande porte Abaixo, guia-canaleta, uma das inovações da obra

Tratamento com soco-cal, revestimento com material asfáltico, camada de pó de brita e, finalmente, os blocos intertravados 28

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Mas, além da adoção do piso intertravado, o projeto buscou um equilíbrio entre áreas construídas e áreas livres: ao final, serão 250 mil m2 de áreas cobertas, 250 mil m2 de pavimento e 500 mil m2 de áreas verdes, segundo um estudo de arquitetura paisagística. Outro requinte, sob a terra, significará economia a longo prazo: toda a água recolhida pelas coberturas é armazenada em reservatórios subterrâneos para uso nos sanitários e na rega dos jardins.

Produtividade Fernando Ximenes já trabalhava com a fabricação e aplicação de pisos com blocos de concreto, mas lembra que foi a obra do porto que lhe deu o

grande impulso para investir em equipamentos, tecnologia e treinamento de seu pessoal. Na obra a RX mantém doze funcionários, incluindo um mestre de obras e uma engenheira, responsável pelo acompanhamento da qualidade. Em média, fazem 400 m2 de pavimento por dia. Até o momento (julho de 2015) já foram aplicados cerca de 80 mil m2 de intertravados, com blocos classe 35 MPa, nas cores cinza, preta, amarelo e terracota. A resistência – equivalente à carga de 350 kg por cm2 – suporta bem o tráfego de veículos do porto, afirma Ximenes, mas novos pátios de contêineres estão em construção, agora com blocos da classe de 50 MPa.

O proprietário já tinha a experiência de pátios com asfalto e reclamava do calor que esse tipo de pavimento dissipava para o ambiente. Além disso, ele desejava um pavimento durável, com baixa manutenção

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FICHA TÉCNICA Porto Seco de Varginha Local: Varginha (MG) Área do terreno: 1 milhão de m2 Área construída: 500 mil m2 Projetista responsável pela obra: Camila Paiva Construção: RX Construtora, Pavicam, Soma Construtora e Sifer Estruturas Metálicas Blocos intertravados: RX Construtora

Foto: divulgação

logística

Controle tecnológico Sob a superf ície dos blocos de concreto há um intenso trabalho de controle de compactação dos solos, como forma de evitar problemas futuros. Responsável por essa tarefa, o técnico Adenilson Batista explica que os solos da região são formados basicamente por argilas – com boa resposta à compactação – e siltes, um tipo de rocha que precisa ser isolada da umidade, “senão, absorve a água, expande e gera fissuras“ , explica Batista. A técnica de compactação é clássica, em camadas de 20 cm a 30 cm, com a retirada de amostras para ensaios de campo. O objetivo é alcançar uma resistência de solo CBR (índice de suporte califórnia) de 60%.

Inovações Mas há algumas inovações importantes, como o resgate da quase esquecida técnica de solo-cal para o reforço de solo, solução que se mostrou econômica para a região da obra. Além do refor30

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ço com cal, os trechos que receberão as cargas mais pesadas estão sendo finalizados com um filme de material asfáltico, como forma de impermeabilização. Sobre essa camada entram o pó de brita para o assentamento final dos blocos intertravados. A qualidade do pavimento resultante, explica Ximenes, é resultado de uma série de cuidados, desde a origem e a granulometria da areia e brita usadas na produção das peças de concreto, os ensaios diários com os materiais e solos e o treinamento cotidiano do pessoal que produz e assenta as peças no campo. A obra de Varginha já resultou na criação de dois novos componentes de concreto: um tipo de piso de pequeno porte, utilizado nos passeios de pedestres, e uma guia-canaleta, que cumpre o papel de conduzir as águas pluviais e, ao mesmo tempo o de contenção do pavimento. “O cliente sugere e nós vamos desenvolvendo aqui mesmo na obra”,  resume o modesto Ximenes.



pavimentação

Estrada-parque no Vale do Ribeira (SP) é a primeira obra rodoviária do país a receber pavimento intertravado de concreto. A técnica foi escolhida por gerar menor impacto ambiental à região, rica em águas, flora e fauna

REPORTAGEM: Marcos de Sousa IMAGENS: Divulgação DER SP

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Pise leve e aprove  Trinta e três quilômetros de pavimento intertravado de concreto serão entregues aos moradores, pesquisadores e turistas que frequentam o Parque Estadual Carlos Botelho (SP). A obra é administrada pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER/SP), deve ficar pronta em novembro próximo e vai beneficiar milhares de pessoas que circulam pela SP 139, rodovia que liga Registro, no Vale do Ribeira, a Itapetininga, já na região do Planalto. O trecho em obras cruza uma Unidade de Proteção Ambiental em plena Floresta Atlântica, região delicada, com

inúmeras nascentes e cursos d’água, mata exuberante e uma rica fauna, com várias espécies de animais de médio e grande porte, como antas, mono-carvoeiros (muriquis) e felinos, como a onça pintada, explica o engenheiro florestal José Francisco Guerra, Coordenador de Meio Ambiente do DER/SP. Ele explica que o licenciamento ambiental do projeto levou mais de dois anos e, após análises, o pavimento intertravado foi escolhido em função de seu menor impacto ao ambiente. “O piso tem cor clara e dissipa menos calor para o ambiente e, além disso, é mais


Acima: equipe de operários na frente de colocação do piso intertravado Ao lado: proteção para conter o carreamento de solo

ite a paisagem permeá­vel do que uma capa de asfalto. E a aplicação dos materiais asfálticos também poderia contaminar os cursos de água puríssima que cruzam o parque” , lembra Guerra. A estrada foi aberta ao tráfego em 1911 e já foi alvo de diversas propostas de pavimentação, todas indeferidas pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente. Em 1995, a secretaria resolveu instituir um Grupo de Trabalho, com representantes das diversas áreas técnicas da pasta e de outros órgãos oficiais, das prefeituras e câmaras municipais envolvidas, além de organizações não-governamen-

tais, para encontrar um plano de adequação. Nasceu daí o conceito de estrada-parque e a proposta de pavimentação com as peças de concreto. Ambientalistas e técnicos da Secretaria também indicaram esse tipo de pavimentação como forma de inibir a velocidade na pista. Explica-se: as juntas do pavimento intertravado geram mais ruído e funcionam como um freio psicológico para os motoristas mais afoitos. “O barulho também funciona para espantar os animais que eventualmente estejam na pista ou próxima dela” , acrescenta José Francisco Guerra. 33


pavimentação

O piso tem cor clara e dissipa menos calor para o ambiente e, além disso, é mais permeá­v el do que uma capa de asfalto. E a aplicação dos materiais asfálticos também poderia contaminar os cursos de água puríssima que cruzam o parque

FICHA TÉCNICA Obras e serviços de pavimentação ecológica na Estrada-Parque Dr. Carlos Botelho Local: Sete Barras e São Miguel Arcanjo Projeto e gerenciamento: DER/SP Extensão: 33 km Investimento: R$ 52,5 milhões Início: outubro de 2013 Previsão de Término: novembro de 2015 Construção: Lacon Engenharia

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prisma

Construção de muro de contenção no trecho de serra cuidado para evitar erosão

A obra avança em duas frentes, entre as cidades de Sete Barras e São Miguel Arcanjo, com a interdição total da via entre os quilômetros 45 a 78. Já são dois anos de trabalho em função das dificuldades do clima úmido da região e da técnica de pavimentação, inteiramente manual. Os trechos mais íngremes receberam vigas transversais de reforço e contenção para evitar o movimento dos blocos de concreto. O projeto também concebeu um sistema de drenagem, com a instalação de canaletas de concreto ao longo dos 33 km e escadas de água com dispositivos de dissipação de energia para evitar a erosão nos cursos de água. Para permitir a travessia segura dos animais silvestres, a estrada terá passagens aéreas, com cabos, nas rotas dos muriquis, bugios e macacos pregos, e também travessias sobre pequenas pontes, com cercas direcionadoras, para os animais terrestres. “Essas passagens estão sendo construídas em pontos identificados pelos biólogos como caminhos naturais dos animais” , explica o engenheiro.

Desafio da operação O engenheiro Guerra avalia que a escolha do método construtivo foi absolutamente acertada e acredita no sucesso na etapa de operação da nova estrada. Ao entrar na estrada o visitante será avisado sobre as condições para circulação na estrada: velocidade de 30 km/h na serra, 20 km/h nas curvas e 40 km/h no trecho de planalto, com limite de carga de 9 toneladas por eixo. Haverá também radares, mas a equipe do DER espera que os viajantes entendam a nova rodovia como um espaço de contemplação, de desfrute da natureza, sem pressa. Guerra acredita que a via será usada especialmente por visitantes do parque, ciclistas e romeiros a cavalo ou a pé. A pavimentação da SP 139 é a primeira experiência rodoviária com pavimento intertravado, mas há um projeto semelhante na SP 613, na região do Pontal do Parapanema, em São Paulo, além do trecho de serra da rodovia Cunha (SP) Paraty (RJ). Fora do Brasil, na Costa Rica, já há uma rede de estradas-parque pavimentadas com essa técnica.


profissional top

O mestre da reciclagem de resíduos Formado em arquitetura e urbanismo pela FAU/USP, o pesquisador Tarcísio de Paula Pinto desenvolveu seu mestrado na USP São Carlos sobre o tema de reciclagem de resíduos da construção e seguiu o mesmo caminho no doutorado em engenharia urbana, na Escola Politécnica da USP. Nesses mais de 20 anos de atividades no setor, Paula Pinto desenvolveu os primeiros estudos brasileiros sobre as perdas na construção civil, quando detectou que 25% a 30% dos materiais eram desperdiçados nas obras de todo o país. “O uso intensivo de pré-fabricados reduziu muito esse índice, exceto naquelas obras mais precárias, onde as perdas ainda são muito grandes”, lembra Tarcísio.

Tarcísio de Paula Pinto é urbanista e consultor em gestão de resíduos sólidos, especialmente para a construção civil.

Em 1999, o profissional criou sua empresa e passou a desenvolver projetos para o aproveitamento do grande volume de materiais de construção que saíam dos canteiros de obras como lixo e eram depositados nos aterros sanitários de quase todas as cidades do país. Naquele momento, todo o setor da construção tinha volumes enormes de materiais que eram descartados, especialmente madeira, Inicialmente, a ideia era reutilizar resíduos de concreto e cerâmica em obras urbana. Desde então, Paula Pinto tem implantado usinas de processamento de resíduos em várias cidades do país, ampliando as possibilidades de reúso desses materiais. “É possível obter percentuais de reutilização muito elevados nos resíduos mais comuns da construção, e isso tem se ampliado. No início, eram restos de alvenaria e de concreto, além da madeira, que era ‘um mico’, por conta das formas e cimbramentos, e do gesso”. Esse panorama mudou a partir do início dos anos 2000, quando o reaproveitamento dos materiais se tornou um importante nicho de mercado, com empresas especializadas em todo o país.

PARA FALAR com Tarcísio escreva para ietsp@uol.com.br ou ligue (11) 3742-0561. E conheça mais no site www.ietsp.com.br

Paula Pinto considera que hoje o concreto armado é um material plenamente reciclável, embora a norma brasileira, a NBR 15116, ainda limite o uso dos materiais reciclados em concretos estruturais a até 20% e apenas para resistências até 15 MPa. “Na Europa, eles fazem até concretos de alto desempenho, mas lá os processos são mais sofisticados”, explica o especialista. Quase como sequência natural de seus projetos de reciclagem, Paula Pinto passou a desenvolver estudos sobre todo o processo de gestão de resíduos urbanos, incluindo lixo orgânico, o que o levou a trabalhar em planos de gestão de resíduos das principais capitais brasileiras. Tarcísio avalia que boa parte do “lixo” que sai de casas, estabelecimentos comerciais escolas, indústrias e canteiros de obras pode ser reciclado ou transformado em composto orgânico, de forma a minimizar a necessidade de transporte e disposição em aterros sanitários.

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Foto: divulgação Texto: Silvério Rocha

Trabalhar com qualidade de vida Com projeto arquitetônico do escritório Forte, Gimenez & Marcondes Ferraz e incorporação e construção da construtora Idea!Zarvos, o edifício Coruja, situado na efervescente Vila Madalena, na zona oeste paulistana, tem um desenho refinado e de forte apelo estético. Com 5.880 m2 de área construída, o edifício abriga conjuntos para locação que podem assumir diversos tamanhos, a partir de 114 m2 até 725 m2. A publicidade da incorporadora e construtora, que se destaca pelos projetos arquitetônicos de alto nível, enfatiza as características singulares da Vila Madalena e do edifício, como o fato de trabalhar em um prédio horizontal, com jardins e ao lado de um pequeno parque, ressaltando a qualidade de vida e o fato de que é possível ir de bike para o trabalho. O edifício tem vestiário e bicicletário e o projeto utilizou sistemas construtivos mistos, entre eles, os pré-fabricados de concreto.




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