Tema 1. Antes de mim 1.1. A GenĂŠtica
PSICOLOGIA - Prof. Marina Santos
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1.1. Objectivos gerais
Caracterizar os agentes responsáveis pela transmissão das características genéticas. Explicar as influências genéticas e epigenéticas no comportamento. Analisar a relação entre a complexidade do ser humano e o seu inacabamento biológico.
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Conceitos essenciais (a definir):
ADN Cromossoma Gene Fenótipo Genótipo Hereditariedade individual Hereditariedade específica Neotenia Filogénese Ontogénese Epigénese Preformismo Inacabamento biológico 3
Genética
Ciência iniciada por Gregor Mendel, constitui um ramo da Biologia que investiga a hereditariedade e as suas variações.
Genética do comportamento
Ramo da Psicologia que estuda as influências hereditárias no modo de ser e reagir dos indivíduos.
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Porque ĂŠ que os filhos sĂŁo parecidos com os pais ?
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a) AGENTES RESPONSÁVEIS PELA TRANSMISSÃO GENÉTICA
HEREDITARIEDADE: Totalidade de características e comportamentos biologicamente transmitidos pelos progenitores à sua descendência.
NOTA: herdamos potencialidades que, em interacção com o meio, dão origem a determinadas características. =>«Hereditariedade não é destino» mas propensão para manifestar certos traços. traços
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O INÍCIO DA VIDA: A fertilização
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A cĂŠlula: unidade bĂĄsica da vida
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O que é um cromossoma? Estrutura em forma de filamento composta por genes. Reside no núcleo das células eucarióticas. As células humanas (c/ excepção das sexuais) contêm 23 pares, isto é, 46 cromossomas.
O que é um gene? Segmento de ADN de um cromossoma. Unidade de informação genética/ de hereditariedade que ocupa determinado locus de um cromosoma. Unidade biológica elementar que contem informação determinadora da constituição orgânica de um ser vivo. 10
O ADN Abreviatura de ácido desoxirribonucleico. Molécula filamentosa em forma de dupla hélice que existe ao longo da extensão de cada cromossoma. É composta por fosfatos, bases (A,C,G,T) e açucar. A sua sequência determina toda a informação genética transmitida pelos cromossomas. É a matéria própria da hereditariedade. 11
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Cariótipo
Cariótipo: Conjunto de cromossomas que constituem a informação genética de uma espécie.
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O que é o genótipo?
Conjunto de genes que constitui o património hereditário de um indivíduo. Aspectos hereditários que exercem uma influência causal no desenvolvimento de um indivíduo.
O que é o fenótipo?
Conjunto de características físiológicas e comportamentais que se manifestam como resultado da interacção entre o genótipo (influências genéticas) e o meio ambiente. Características observáveis de um 14 determinado organismo.
GENE
DOMINANTE
Caracteres
Dominante
Recessivo
Altura
normal
nanismo
Cabelos
.castanhos .ondulados
.louros .lisos
Lábios
grossos
finos
Olhos
.castanhos
.azuis
GENE
Orelhas
.longas .lobo solto
Aquele que produz efeito apenas quando está presente nos dois cromossomas do par.
.curtas .lobo aderente
Nariz
.grande .convexo
.médio/peq. .direito
Aquele que produz efeito mesmo que esteja presente apenas num dos cromossomas do par.
RECESSIVO
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Variaçþes na cor dos olhos e da pele (perspectiva actual)
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Doenรงas ligadas ao cromossoma X
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A interacção hereditariedade-meio
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ÁRVORES GENEALÓGICAS
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Duas hipóteses sobre o papel da genética na determinação dos traços individuais: 1. PREFORMISMO Tese segundo a qual o desenvolvimento individual prossegue um rumo pré-determinado, em virtude da programação inscrita no código genético. posição determinista do desenvolvimento: estrita obediência a um programa preestabelecido geneticamente, sem mudança.
2. EPIGÉNESE Tese segundo a qual o desenvolvimento do indivíduo se processa através da acção recíproca estabelecida entre a genética e o ambiente. posição construtivista do desenvolvimento: este resulta da combinação integrada de efeitos da maturação orgânica e da experiência adquirida no contacto com o meio. “para além da genética” – tese mais consistente e actual. 20
c) A complexidade do ser humano e o seu inacabamento biológico
O ser humano é um ser em evolução, evolução pelo que cada um é o resultado de uma longa história, cujo desenrolar fez com que nos tornássemos na realidade complexa que actualmente somos. O programa genético é aberto: não prevê de modo rígido e determinista o nosso comportamento. O Homem é um ser prematuro: nasce incompleto, necessitando de um longo desenvolvimento biosocio-cultural em que só pela aprendizagem com os outros seres pode tornar-se humano.
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Desenvolvimento ao nível da espécie
FILOGÉNESE
Origem e evolução das espécies, desde as formas mais elementares até ao aparecimento de seres mais complexos - como o ser humano. =>SELECÇÃO NATURAL Charles Darwin (1809-1882) Processo evolutivo de sobrevivência dos mais aptos e, consequentemente, eliminação dos seres vivos que carecem de qualidades para se adaptarem. Transmitidas às gerações vindouras, as capacidades adaptativas permitem a continuação da espécie.
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Desenvolvimento do indivíduo
ONTOGÉNESE
Desenvolvimento do indivíduo ao longo da vida, desde a fase embrionária à velhice: => sequência de alterações graduais no sentido do mais simples ao mais complexo; => diversos estádios de desenvolvimento; => maturação e socialização. O programa genético do Homem é aberto: - possui apenas uma programação biológica básica; - apresenta esquemas de comportamento não determinados e não especializados como os outros animais; - exibe sobretudo potencialidades e não uma programação estritamente orientada para a sobrevivência e adaptação.
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LEI DA RECAPITULAÇÃO ONTOFILOGÉNICA «A ontogénese
recapitula a filogénese»
Ernst Haeckel, investigador na área da biogenética, estabeleceu em 1866 uma determinada relação entre a ontogénese e a filogénese:
as fases de desenvolvimento do embrião humano reproduziriam as fases percorridas pelos organismos inferiores na escala filogenética (recapitulavam os estádios de evolução da vida das espécies).
lei que inspirou e foi aplicada no decurso do séc. XX em áreas como a psicologia infantil. 24
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«A ONTOGÉNESE RECAPITULA A FILOGÉNESE»: 1.Correspondência das etapas 2.Adição no término destas 3.Cortes na evolução
ONTOGÉNESE
FILOGÉNESE
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Contra a lei da recapitulação A crítica de Stephen Jay Gould (1942-2002): «A ontogénese
é a causa da filogénese»
(e não o contrário)
A filogénese é o resultado das transformações e processos adaptativos dos indivíduos (das ontogéneses).
A filogénese é uma sucessão de ontogéneses: as espécies sobrevivem e evoluem devido às mutações genéticas e à selecção natural que ocorre nos indivíduos.
A ontogénese integra, em cada um dos seus momentos, os efeitos combinados da maturação e da experiência, experiência das interacções genéticas e epigenéticas. epigenéticas 27
PREMATURIDADE E NEOTENIA NEOTENIA: - Manutenção de características juvenis na idade adulta. - Atraso no desenvolvimento do ser humano, provocando um desenvolvimento físico, biológico, psicológico, social e cognitivo mais lento e obrigando a uma maior dependência dos adultos. Reflecte-se no facto do adulto possuir alguns traços característicos da infância e da adolescência: caixa craniana em forma de ovo; fácies juvenil; cavidade occipital na base do crânio. 28
NEOTENIA:
A neotenia humana: no início, os crânios dos fetos do chimpazé e do ser humano são muito idênticos. A direcção da transformação dos ossos é a mesma (alometria negativa do crânio, alometria positiva da facee ). Mas o crânio dos adultos adquire uma configuração menos afastada da forma juvenil do que a do chimpazé adulto.
A: chimpanzé B: ser humano 29
PREMATURIDADE E NEOTENIA O desenvolvimento biopsicofisiológico processa-se lentamente => atraso na maturação e prolongada aquisição de competências necessária à assunção dos papéis adultos; A maturação nunca está completamente terminada => a pessoa continua a manter aspectos próprios da idade juvenil, sem a especialização própria dos outros animais (não há “instinto”); Quando adulto, a pessoa não se estratifica significativamente => continua aberta a novas aprendizagens, assimilando novos conhecimentos e respondendo às incitações socioculturais do meio.
«Os progressos da cerebralização são inseparáveis dos da juvenilização.» juvenilização. «A vida humana perpetua o traço característico da infância: a aprendizagem, a educação permanente.» (F. Savater) 30
INACABAMENTO BIOLÓGICO
O carácter inacabado do Homem subtrai-o à fixidez instintiva e torna-o apto a desenvolver uma multiplicidade de comportamentos que lhe permitem uma melhor adaptação ao meio. Foi esta plasticidade comportamental que possibilitou a sobrevivência da espécie, espécie tendo conseguido ultrapassar com sucesso as vicissitudes ao longo da filogénese. É a «abertura do programa genético» que, simultaneamente obriga e permite a aprendizagem. «A flexibilidade comportamental e cognitiva é talvez a maior vantagem adaptativa da espécie humana». A socialização permite ao Homem adquirir a experiência acumulada e o modo próprio de sobrevivência que os seus antepassados lhe deixaram como herança cultural. O carácter inacabado do ser humano não é, portanto, a sua fragilidade, mas a sua força. 31