Processos conativos

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Tema 2. A MENTE 2.3. PROCESSOS CONATIVOS

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Prof. Marina Santos

2007


A definição de “conação” Em psicologia, refere-se «à capacidade de aplicação de energia intelectual a uma tarefa, da forma necessária e ao longo do tempo, para que uma solução seja alcançada ou para que uma tarefa seja completada.» (R.REITAN, D. WOLFSON)  É o conjunto de processos que visam uma acção, movem e orientam um indivíduo para um objectivo.  É uma tendência consciente para agir. => impulso, desejo, vontade, motivação/tendência, intenção, empenho. 

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Conceitos essenciais 

INTENÇÃO: o porquê da acção.

Intencionalidade = relação entre a mente/consciência e o objecto para que está orientada. 

TENDÊNCIAS: o dinamismo da acção.

Tendência = conjunto de disposições internas de um organismo para efectuar determinadas acções ou facilitar a sua execução. 

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VONTADE: o poder de decisão do sujeito.

Vontade = instância que é chamada a intervir para gerir os desejos e controlar as tendências em oposição.


O processo conativo 

Actividade involuntária: de natureza automática, engloba uma série de actos como os reflexos simples, os que estão implicados no funcionamento dos nossos órgãos internos, bem como aqueles que praticamos habitualmente (sem reflexão).

Actividade voluntária:

actos cujo agente é o Homem, enquanto usa a sua racionalidade e liberdade para transformar o mundo e a si mesmo. As coisas que fazemos voluntária e intencionalmente, querendo realmente fazê-las.

Actos conscientes

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Actos intencionais

Actos reflectidos


Os momentos de um acto voluntário

1º CONCEPÇÃO da acção => projecto

2º PROCESSO DELIBERATIVO = escolha preferencial; preferência deliberada

3º DECISÃO

4º EXECUÇÃO

=> optar

comportamento  Desejo  Motivação  Objectivo  Intenção

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Os momentos de um acto voluntário 

1º momento : concepção da acção

- estabelecer conscientemente uma meta/fim a atingir; - esboçar os meios para alcançar esse objectivo  delinear um plano de acção/projecto, que está orientado para o futuro e antecipa possibilidades realizáveis (o que pressupõe ter em conta as circunstâncias e os condicionalismos/limites). 

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2º momento : deliberação

- analisar os motivos que nos levam a agir (ou não), a agir desta ou daquela maneira; - neste processo, intervém a nossa capacidade intelectual, pois temos de avaliar os “prós” e “contras” da realização do projecto concebido => ponderação de razões : que opção (ou opções) vale mais?


Os momentos de um acto voluntário 

3º momento : decisão

- entre as opções disponíveis, escolhemos uma delas; - decidir, é determinarmo-nos a agir => “corte” com as diversas possibilidades de acção ainda em aberto, optando definitivamente por determinado modo de agir  decidindo, tornamo-nos criadores - construímos uma obra nossa, ao afirmarmos : «faça-se»! 

4º momento : execução

- pôr em prática a decisão tomada; - realizar o acto que concebemos e temos vontade de concretizar => passagem da intenção ao acto (propriamente dito).

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TendĂŞncias

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A MOTIVAÇÃO Processo dinâmico constituído por um conjunto de factores (tendências) ou estados hipotéticos que actuam, sustentam e dirigem o comportamento para um objectivo. => 2 elementos: energético + direccional As tendências são as necessidades ou desejos que o comportamento orientado para um fim procura realizar. O comportamento motivado demonstram 3 factores: 1.A activação ou mobilização de energia – quanto maior for a mobilização de energia, tanto mais forte será a motivação; 2.A persistência – a reiteração do esforço, apesar de alguns insucessos; 3.A intensidade – a quantidade de esforço e de concentração investidos na prossecução do(s) 10 objectivo(s).


O ciclo motivacional 5 SACIEDADE 4 OBJECTIVO

1. 2.

3. 4. 5.

1 NECESSIDADE 2 PULSÃO 3 RESPOSTA

Necessidade: sinal de uma carência ou de um desequilíbrio; Impulso ou pulsão: o que move ou impele o organismo para a realização de um dado comportamento; Acção: actividade orientada para atingir um objectivo; Cumprimento do objectivo; Satisfação da necessidade. 11


Os 3 tipos de motivação/tendências 1.

Motivações primárias, fisiológicas ou inatas: necessidades não aprendidas, que nascem com o indivíduo e são de natureza homeostática

(sobrevivência e preservação do organismo). Ex. fome, sede. 2. Motivações secundárias, sociais ou aprendidas: necessidades que resultam da aprendizagem e da influência do meio sobre o indivíduo. São adquiridas no processo de socialização. Ex. afiliação, prestígio, sucesso. 3.Motivações combinadas: necessidades que resultam do efeito combinado de factores biológicos e socioculturais. Embora com génese biológica, desenvolvem-se e expressam-se em função da aprendizagem em contexto sociocultural. Ex. impulsos sexual e maternal.

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C/ origem em mudanças fisiológicas

Inerentes à estrutura do organismo

Visam a manutenção do equilíbrio interno

Ligadas à sobrevivência

MOTIVAÇÕES

C/ origem nas relações sociais

MOTIVAÇÕES

INATAS

COMBINADAS

.fome

.Comp. sexual

.sede

.Comp. maternal

Adquiridas por aprendizagem

MOTIVAÇÕES APRENDIDAS .afiliação .prestígio

Visam a adaptação ao meio social

.sucesso Idênticas em todos os indivíduos

Variam segundo os padrões culturais

Ligadas ao bem-estar psicossocial

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1. MOTIVAÇÕES PRIMÁRIAS  

 

São motivos ou necessidades inatas (nascem com o sujeito); são impulsos homeostáticos (visam a preservação/sobrevivência); são motivações fisiológicas (desencadeadas por carências orgânicas, visam repor o equilíbrio do organismo). Saliente-se o papel do hipotálamo nos processos biológicos da fome e da sede, bem como a glicose (nível de açucar no sangue) e a insulina (hormona segregada pelo pâncreas) na fome. HIPOTÁLAMO, o guardião do corpo: Estrutura encefálica (protencéfalo) que desempenha um papel fundamental no comportamento motivado, nas emoções e nas funções homeostáticas. Interage com o sistema nervoso autónomo e com o sistema endócrino. É lugar dos “centros de prazer”. No seu interior há grupos de neurónios que regulam grande parte das nossas necessidades biológicas (sede,fome,etc.).

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2. MOTIVAÇÕES SECUNDÁRIAS

PRESTÍGIO: necessidade de ser tido em elevada consideração ou estima pelos colegas ou comunidade.  Motivação para o SUCESSO: necessidade que leva as pessoas a empenharem-se em tarefas difíceis com vista a prosseguir objectivos que são por elas encarados como um desafio (procura da excelência ou da popularidade).  AFILIAÇÃO: necessidade de estabelecer e conservar relações positivas de afecto com as outras pessoas e de se sentir aceite e amado por elas. 15 


3. MOTIVAÇÕES COMBINADAS 

Os impulsos sexual e maternal resultam da interacção entre factores inatos e adquiridos:

Motivações Sexual e Maternal Estímulos Estímulos Estímulos socioculturais fisiológicos «Se se caracterizar o impulso homeostático como aquele que exige imaginados satisfação para o organismo sobreviver, então o sexo não o é, é evidentemente. (...) Se, porém, se descrevesse o impulso homeostático como aquele que se baseia em processos fisiológicos identificáveis que criam um estado de tensão, como é o caso da fome, da sede e da dor, o sexo classificar-se-ia assim.» assim (H. Kendler, Introdução à Psicologia)

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A motivação sexual

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B) TEORIAS SOBRE A MOTIVAÇÃO

1. A TEORIA PSICANALÍTICA de Sigmund Freud

2. A TEORIA HUMANISTA de Abraham Maslow 19


Uma teoria psicanalítica da motivação É o pai da Psicanálise

Sigmund Freud (1856-1939)

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As motivações que estão na base do nosso comportamento são em grande parte inconscientes. A nossa principal motivação é defendermo-nos da ansiedade criada pelas excessivas exigências pulsionais, instinti-vas, agressivas e ameaçado-ras do Id, bem como do perigo do Superego esmagar o Ego com sentimentos de culpa.


Conceitos psicanalíticos: LIBIDO: a energia, de natureza sexual e agressiva, que caracteriza as pulsões. PULSÃO: energia ou força endógena, de origem biológica,

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que se exprime procurando a redução de tensões. «o representante psíquico de uma fonte contínua de excitação proveniente do interior do organismo». Até 1920: pulsões sexuais (regidas pelo princípio do prazer) e pulsões de autoconservação (segundo o princípio da realidade); Após 1920: Eros (pulsão erótica, que integra as anteriores pulsões sexuais e de auto conservação) e Thanatos (pulsão de morte). CONFLITO INTRAPSÍQUICO: vivência perturbadora devida à oposição no interior do sujeito de forças pulsionais de sentido contrário: pulsões de vida vs. pulsões de morte; as pulsões sexuais e imorais do Id vs. as proibições e exigências morais do Superego.


O papel da energia psicossexual na motivação: REDUÇÃO DA TENSÃO

TENDÊNCIAS INSTINTIVAS

ENERGIA OU PULSÃO

LIBERTAÇÃO DA LIBIDO

SATISFAÇÃO

NÃO-LIBERT. DA LIBIDO

INSATISFAÇÃO

AUMENTO DA TENSÃO

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Constituição do aparelho psíquico: a 2ª tópica

Existem 3 instâncias na 2ª tópica de Freud, isto é, 3 regiões onde os fenómenos psíquicos têm lugar : Id, Ego e Superego.

A 2ª tópica acentua o carácter dinâmico do psiquismo humano: - A actividade do Id é exclusivamente inconsciente; - a do Ego é sobretudo consciente, embora parcialmente inconsciente; - a do Superego é predominantemente inconsciente. 23


Uma teoria humanista da motivação *

Abraham Maslow

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(1908-1970)

Teoria humanista: o Homem é naturalmente bom e racional, agindo motivado para o desenvolvimento das suas potencialidades =>realização pessoal. Os seres humanos não agem simplesmente motivados pelas necessidade de restaurar o equilíbrio fisiológico ou de evitar a frustração. => Contra Behaviorismo e Psicanálise =>Hierarquia das necessidades: as necessidades são representadas sob a forma de uma pirâmide.


Maslow e a hierarquia das motivações Hierarquia das necessidades: teoria segundo a qual a satisfação das necessidades mais básicas tem de estar relativamente assegurada para que as necessidades superiores (mais importantes) se tornem dominantes. Pressupostos da hierarquia das motivações: 1. As pessoas só atingem um nível superior de motivação se as necessidades do nível anterior estiverem satisfeitas; 2. À medida que se sobe na escala hierárquica das motivações, vai crescendo a diferença entre o que é comum aos animais e o que é específico do Homem; 3. As necessidades de nível inferior são sentidas pela totalidade das pessoas, enquanto as necessidades de nível superior surgem num número cada vez mais 25 reduzido de pessoas.


Necessidades deficitárias (aquelas que exibem desejo de suprir ou reduzir carências)

Necessidades de crescimento ou de ser (aquelas que traduzem um desejo de expansão do Eu).

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Auto-Realização No topo, está a necessidade de homem realizar todas as suas potencialidades como pessoa.

É a última necessidade psicológica, a qual surge quando as necessidades básicas físicas e psicológicas estão satisfeitas, bem como as de auto-estima.  À medida que se sobe na escala, mais esforço e competências são exigidos. Quanto maior for o vigor e a força de vontade, maior será o grau de êxito e de realização.  Uma das condições para a actualização das potencialidades latentes é a liberdade psicológica: 

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«É a permissão de ser livre e também de ser responsável. O homem é tão livre de recear uma nova aventura como de desejá-la ardentemente; livre para arcar com as consequências tanto dos seus erros como das suas realizações.»


Pessoas auto-realizadas

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Maslow estudou diferentes indivíduos realizados.

Pessoas como. . . – Abraham Lincoln – Eleanor Roosevelt – Thomas Jefferson – Gandhi – Madre Teresa


Algumas qualidades das pessoas realizadas:      

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Percepção adequada da realidade;  Sentido de oportunidade;  Força de vontade/iniciativa;  Compreensão/Centração nos  problemas;  Coragem para assumir riscos;  Aceitação (de si e dos  outros)

Ética & tolerância; Humildade & respeito; Autonomia; Sentido crítico; Criatividade; Reflexão e meditação; Abertura à mudança.


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