A Identidade

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Prof. MARINA SANTOS

2007

Tema 2. EU 2.4. A Identidade


Como é que ser humano dá sentido a si próprio e ao mundo? Identificar as dimensões biológicas e sociais dos processos mentais. Analisar o papel destes processos na vida quotidiana. Analisar a mente como um sistema de construção do mundo. Analisar a identidade como factor distintivo entre os seres humanos. 2


Jamie Lee como realmente é : sem luzes, maquilhagem ou retoques.

Uma glamorosa Jamie com ajuda. Photos: MORE magazine/September 2002

Jamie Lee Curtis quer que saiba a diferença entre a ilusão da celebridade e a vida real. 3


2.4.4. A IDENTIDADE A identidade é um factor distintivo dos seres humanos. Identidade pessoal: modo singular e idêntico de existir e de ser reconhecido pelos outros, resultante da interacção com as experiências vividas no decurso da história pessoal. 4


A identidade pessoal assegura a continuidade de quem somos (bem como que algo permanece apesar das mudanças):

“Eu sou a mesma pessoa�

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Identidade, Identidades. Identidade pessoal* => conjunto de percepções, sentimentos e representações que um indivíduo tem de si mesmo; inscrição mental das histórias de vida. Identidade sexual/de género: reconhecimento e aceitação de um papel sexual, ligado ao género feminino ou masculino. Identidade social: consciência e assunção dos nossos estatutos e papéis sociais, forjada nas interacções grupais e interpessoais. Identidade cultural: assimilação e reprodução dos padrões culturais. «O sujeito é uma entidade plural que integra diferentes identificações, por vezes contraditórias, retiradas dos diversos modelos propostos pelos múltiplos grupos de pertença.» (Z. Guerraoui)

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A Adolescência:  Período de transição entre a infância e a idade adulta, caracterizado por profundas transformações físicas, cognitivas e socioafectivas, que termina quando o indivíduo define a sua identidade e assume as responsabilidades inerentes aos papéis adultos.

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A Adolescência:  Começa com a puberdade: acontecimento biológico.  Termina com um acontecimento psicossocial: criação de autonomia e de identidade pessoal. pessoal PUBERDADE Criança

-Identidade -Autonomia

Adolescente Acontecimento biológico

Adulto

Acontecimento psicossocial

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«Entrar na adolescência é quase como entrar num país estrangeiro sem se saber a língua, os hábitos, os costumes ou a cultura, mas o pior é que os “viajantes” nem sequer têm um roteiro turístico» (Sprinthal)

Adolescência ou Adolescências? => não é um fenómeno universal: • Em certas culturas, não existe tal período de transição; • Noutras, não cria qualquer “fosso de gerações” entre os adolescentes e os pais; • Nem todos os adolescentes ocidentais passam por um período tempestuoso e emocionalmente conturbado.

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Comparação entre três teorias 4º estádio (a partir dos 11/12 anos): Operações Formais.  O pensamento deixa de estar limitado à experiência empírica de cada sujeito, sendo este capaz de raciocinar sobre situações hipotéticas: -Distinção entre o Real e o Possível; -Capacidade de pensar de modo hipotético-dedutivo; -Forma sistemática de resolução de problemas. 

Jean Piaget

5º estádio (após a puberdade): Genital.  A libido deverá reorganizar-se em torno dos órgãos genitais, passando de sexualidade auto-erótica a realisticamente orientada: a gratificação sexual mútua permitirá a interacção com o outro (amar e partilhar prazer).  A capacidade de sublimação dos impulsos do Id; a satisfação do desejo sexual de forma socialmente aceitável; a capacidade de amar e de cuidar. 

Sigmund Freud

5ª idade (12-20/25 anos): Identidade vs. Difusão/Confusão de papéis.  Marcada pela tarefa fundamental de construção/formação da Identidade pessoal e a busca de papéis sociais a desempenhar.  A virtude (qualidade e força do Ego) adquirida no final deste estádio: FIDELIDADE - a si próprio, às suas escolhas e compromissos. 

Erik Erikson

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As transformações da adolescência 1. Transformações fisiológicas O motor biológico da adolescência é a puberdade: - há um rápido crescimento muscular e orgânico; - um desenvolvimento de características sexuais primárias (maturação dos órgãos sexuais e capacidade reprodutiva) e secundárias (formas e proporções do corpo) ligadas ao sistema endócrino.  As transformações fisiológicas e o ritmo a que ocorrem podem ter efeitos significativos no modo como o adolescente é encarado pelos outros e como se vê a si próprio => são afectados psicológica e emocionalmente. => A nova imagem corporal afecta a auto-estima e, quando aliada a certos padrões culturais, exerce forte pressão psicológica sobre o adolescente, podendo conduzir a distúrbios de ordem emocional ( por ex., anorexia e bulimia). 11


2. Transformações cognitivas No estádio das operações formais, formais o jovem desenvolve o raciocínio lógico-dedutivo => o adolescente pensa a partir de hipóteses, é capaz de avaliar abstractamente dilemas e problemas e de argumentar. => idealismo e espírito crítico (discute princípios e valores). O egocentrismo adolescente: julga que os outros estão tão interessados nas suas ideias como ele próprio, considerando os seus pontos de vista mais verdadeiros que os dos outros.

Modalidades do egocentrismo: - Audiência imaginária: julga estar no centro das atenções de todos; - Fábula pessoal: crê nos seus sentimentos e convicções como únicos; - Ilusão de invulnerabilidade: acredita que o mal só acontece aos outros. 12


3. Transformações socioafectivas A construção da identidade pessoal é a tarefa fundamental da adolescência: Quem sou eu? O que quero ser? Que papéis assumirei? A busca de autonomia afasta o adolescente das relações preferenciais anteriores e ganha relevo a influência do grupo de pares: Progressivo declínio na dependência dos adultos para obter informação e juízos ético-políticos; - O grupo de pares torna-se apoio e modelo das decisões, até à assunção de novos papéis sociais.

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Auto-estima e Auto-conceito O mais importante é o modo como nos apreciamos.

AUTO-CONCEITO: conjunto de noções, pensamentos e sentimentos que cada um possui acerca se si como pessoa. 

AUTO-ESTIMA: o quanto gostamos de nós mesmos e que valor conferimos ao nosso poder de atracção, mérito e competências. Sentimento positivo ou negativo que resulta da avaliação que o sujeito faz de si próprio, com a ajuda dos juízos sociais que interiorizou a seu respeito. Uma elevada auto-estima desenvolve e mantém outros valores: 60% dos adolescentes americanos desenvolve e mantém um elevado sentido de auto-estima no decurso do ensino secundário; têm um bom desempenho escolar, desenvolvem amizades compensadoras, participam em actividades sociais, são descritos como bem-dispostos, assertivos, emotionalmente equilibrados e c/resistência à frustração. O auto-conceito está na base da auto-estima: É o resultado da avaliação da nossa personalidade.

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A construção da identidade

 1.

2.

Tarefa que tem as suas raízes na primeira infância e se torna central no período da adolescência, mas dura toda a vida. O “drama” da adolescência reside na crise de identidade, em que se conjugam exigência social e insegurança pessoal. O adolescente vive uma confusão de papéis => 2 desafios: Encontrar uma orientação para a vida que não traia a sua as suas aspirações e valores e que seja consistente com aquilo que os outros esperam de si; Construir uma identidade pessoal que exprima autonomia e independência em relação aos pais, sem romper definiti16


As fases da formação da identidade Segundo James Marcia (que aprofundou o legado de Erikson), existem 4 fases, embora não sejam necessariamente sequenciais: 1. 2. 3. 4.

Difusão da identidade => sem compromisso e sem crise. Moratória * => em crise, mas ainda sem compromisso. Identidade outorgada => compromisso e sem crise. Identidade construída => crise que conduz a compromisso.

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As fases da identidade

IDENTIDADE (Fase/ estilo de) Posição acerca dos papéis sociais:

Moratória Identidade Outorgada

Identidade Difusa

Identidade Construída

Crise Compromisso

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Andreia, Carina, Nicolau e Marco são alunos do 12º ano:

Marco ainda não faz ideia do que quer fazer, mas não está preocupado. Os pais são proprietários de um café e raramente o questionam sobre o seu futuro. Andreia também não sabe o que quer fazer, mas a família tem uma empresa de informática e considera tirar o curso de Gestão de Empresas que a mãe decidiu ser o melhor. Nicolau ainda não tomou uma decisão. Tem várias ideias e já ponderou sobre diversas alternativas. Pensa, contudo, que ainda é cedo para decidir, não quer precipitar-se, mas está relativamente preocupado. Carina reflectiu sobre os seus interesses e talentos e quer ser professora. Depois de ter pensado no curso de Direito, achou não possuir aptidões, apesar das sugestões dos pais. Marco: Difusão Ident.

Andreia: Ident. Outorgada

Nicolau: Moratória

Carina: Ident. Construída 19


Moratória psicossocial O termo deve-se a Erikson: «Por moratória psicossocial entendemos um compasso de espera em relação aos compromissos dos adultos. Mas não se trata de uma espera. É um período em que existe uma tolerância selectiva por parte da sociedade e uma actividade lúdica por parte do jovem.»

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Moratória psicossocial Fase da crise de identidade em que o adolescente explora diversas alternativas de vida, c/ o objectivo de se autodefinir de forma autêntica.  período de espera, experimentação e ajustamento aos papéis sociais. procura activa de alternativas, do que quer ser. construção de si mesmo como um ser único e singular. construção de um horizonte significativo, de um futuro em que se queira verdadeiramente habitar. pressupõe a existência de uma tolerância selectiva por parte da sociedade e uma actividade lúdica da parte do jovem. 21


«A moratória é, frequentemente, o resultado de uma decisão difícil e deliberada de dar uma trégua às preocupações habituais, tais como as da escola, da universidade ou do primeiro emprego. O objectivo consiste em fazer uma pausa, no sentido do indivíduo poder explorar, de um modo mais completo, quer o próprio eu psicológico, quer a realidade objectiva. A diferença aparente entre a moratória e a difusão pode parecer muito subtil; todavia, vistas bem as coisas, a diferença é bastante grande.» (N. SPRINTHALL; A. COLLINS)

Este «compasso de espera em relação aos compromissos adultos» deverá terminar com uma identidade adquirida: «confiança de que a sua capacidade de manter uma uniformidade e continuidade internas se ajusta à uniformidade e continuidade do significado que o próprio tem para os outros.» (Erikson) 22


“Adrian Mole na crise da adolescência” (excerto)

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A personalidade PERSONALIDADE: conjunto relativamente estável de aspectos de um indivíduo, que o tornam único e distinguem dos outros. Totalidade viva e pessoal, única e autónoma, que se vai construindo a partir do nascimento, por uma interacção dinâmica de factores orgâni-cos, intelectuais, morais, afectivos e sociais.

A nossa personalidade pode ser a máscara que usamos para enfrentarmos o mundo. 24


Características da personalidade 1. SINGULARIDADE: a personalidade constitui aquilo que o indivíduo realmente é, ou seja, a irredutível unicidade que o diferencia dos demais – cada homem é uno e único. 2. TOTALIDADE: é um conjunto dos diferentes aspectos (físicos, psicológicos, sociais, etc) integrados numa unidade coerente. 3. CONSISTÊNCIA: apesar da variabilidade das condutas, há um modo próprio e constante de comportamento do sujeito => relativa estabilidade das características e qualidades => previsibilidade dos comportamentos. 4. DINAMISMO: é um processo em construção, no qual as novas experiências são vivenciadas e interpretadas de forma pessoal e incorporadas no todo da personalidade => contribuem para a estruturação e reestruturação desta. 25


A natureza dinâmica da personalidade 1. É um processo em construção: a construção da identidade é, segundo Erikson, a tarefa essencial da adolescência. Contudo, há crises psicossociais ao longo de todas as etapas da vida =>o indivíduo tem de reorganizar, a cada momento, os elementos integrantes da sua personalidade. 2. É uma unidade interactiva: os aspectos orgânicos, motores, motivacionais, intelectuais, criativos e morais constitutivos da personalidade não são estáticos nem meramente justapostos =>interacções e interferências, de tal modo que alterações num elemento se repercutem nos demais. 3. Forma-se na interacção indivíduo-meio: a personalidade confi-gura-se como uma estrutura aberta e dinâmica, algo que se forma e transforma em função do espaço e do tempo, em constante acção e reacção ao meio ambiente. 26


A interacção indivíduo-meio

R = f (S

P)

1. Rejeita-se a precaridade do conceito de situação (S) objectivamente considerada, pois não existem “situações-em-si” mas “situações-para-um-sujeito”. A personalidade do sujeito projecta-se na situação, transfigurando-a em função do seu modo pessoal de ser e de estar no mundo. S

P

2. Nega-se o carácter simplista da personalidade (P) como algo isoladamente concebido e abstractamente definido, considerando-a uma totalidade dinâmica que se constrói no tempo, mediante a influência das situações do meio em que é colocada. S

P 27


Factores gerais que influenciam a personalidade 1. Influências HEREDITÁRIAS: o património genético recebido no momento da concepção define um conjunto de características fisiológicas, morfológicas e sexuais que tornam um indivíduo único e influenciam aspectos da personalidade que este desenvolverá, demarcando potencialidades. 2. Influências do MEIO: os diversos agentes de socialização influenciam a forma de ser, estar e pensar de cada indivíduo => a personalidade constrói-se e desenvolve-se num processo interactivo com o meio social em que o indivíduo vive. 3. Influência das EXPERIÊNCIAS PESSOAIS: as próprias experiências de cada indivíduo e o modo como este as vivencia deixam marcas na sua personalidade, sobretudo as vividas na infância e adolescência. 28


Factores gerais da personalidade

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Teorias Psicodinâmicas (Freud e outros) – A personalidade constrói-se a partir de dados inconscientes e das experiências infantis: • • • •

sexo & agressão id, ego, superego mecanismos de defesa experiências precoces

Teorias Behavioristas (Skinner e outros) – A personalidade nasce das influências do meio.

Teorias Socio-Cognitivas (Bandura e outros) – A personalidade é determinada, quer pelas consequências do nosso comportamento, quer pela percepção destas nos outros.

Teorias Humanistas (Maslow, Rogers e outros) – Os seres humanos agem segundo objectivos que visam o auto-aperfeiçoamento e afectam a sua personalidade. 30


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