Tema 4. Eu nos contextos
Prof. MARINA SANTOS 2007
OBJECTIVOS Qual é o papel dos contextos na vida dos indivíduos? •
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Caracterizar os diferentes contextos de existência dos indivíduos; Analisar as inter-relações entre os contextos; Analisar o papel dos contextos no comportamento dos indivíduos. 2
Uma visão holística da realidade
HOLISMO: Teoria segundo a qual o que existe, designadamente o ser humano e o seu comportamento, se compreendem como todos globais - e não como parcelas isoladas e desligadas umas das outras.
pretende-se abordar a temática do ser humano no mundo numa perspectiva global e integrada. 3
Modelo ecológico do desenvolvimento
ECOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO: DESENVOLVIMENTO Estudo científico das progressivas e mútuas interacções e acomodações estabelecidas entre o ser humano e o meio ambiente em mudança. Modelo proposto por Urie Bronfenbrenner (psicólogo de origem russa que trabalhou nos E.U.A.), entusiasta das ideias nucleares do Holismo. Em 1979, publica a obra “The Ecology of Human Development: Experiments by Nature and Design”. A abordagem ecológica privilegia os aspectos saudáveis do desenvolvimento; os estudos em meio natural; a análise da participação do indivíduo no maior número possível de ambientes e em interacção com outras pessoas.
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Modelo ecológico do desenvolvimento
A perspectiva ecológica do desenvolvimento distingue-se das concepções desenvolvimentais anteriores, que representavam o desenvolvimento como uma série de etapas préexistentes à vivência dos indivíduos.
Desenvolvimento humano: «conjunto de processos através dos quais as particularidades da pessoa e do ambiente interagem para produzir constância e mudança nas características da pessoa no decurso da sua vida.» (Bronfenbrenner, 1989)
=> Em vez de se limitar à análise dos processos psicológicos tradicionais (percepção, motivação, aprendizagem, etc.), Bronfenbrenner coloca a ênfase no modo como cada indivíduo percepciona, teme, pensa ou adquire os processos. 5
Modelo ecológico do desenvolvimento •
É importante saber quais são os contextos existenciais que afectam cada indivíduo, por forma a compreender o seu comportamento, a sua relação com outras pessoas e objectos, bem como os significados e símbolos sociais.
=> são os processos recíprocos de interacção nos diversos contextos que explicam o desenvolvimento humano. Existe uma acção recíproca, complexa, progressiva e duradoura do ser humano no meio; Existe uma multiplicidade de influências sociais interdependentes que influenciam o desenvolvimento e que se enquadram em vários níveis: Micro, Meso, Exo e Macrossistemas. 6
Do modelo ecológico ao bioecológico Em 1998, Bronfenbrenner e Morris reformulam o modelo ecológico do desenvolvimento humano.
Designam este novo modelo como bioecológico: realçam a vertente biopsicológica do indivíduo; introduzem o conceito de “processos proximais”; apresentam novos pressupostos multidireccionais inter-relacionados, que constituem a base do modelo PPCT: pessoa, processo, contexto e tempo.
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O modelo bioecológico do desenvolvimento •
Quatro núcleos da análise do desenvolvimento: pessoa, processo, contexto e tempo.
PESSOA: fenómeno complexo de constâncias e mudanças, características, qualidades e significações que o indivíduo atribui àquilo que o rodeia. PROCESSO: refere-se às ligações entre os diferentes níveis e é constituído pelas actividades quotidianas e papéis sociais do indivíduo. CONTEXTO: meio ambiente global em que o indivíduo está inserido e se desenvolve. TEMPO: diz-nos como ocorrem, num sentido histórico, as mudanças desenvolvimentais.
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Manual, p.211
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O modelo ecolรณgico
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a) Microssistema •
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É o 1º nível de ambientes/contextos, em que as interacções com o homem são imediatas e directas. Insere-se nas relações face a face com a família, o grupo de amigos, com os colegas da escola ou de trabalho, etc. No microssistema ocorre um conjunto de experiências interpessoais em que os papéis a desempenhar em cada ambiente de proximidade se organizam segundo padrões de actividade próprios desse ambiente. As interacções efectuadas ocorrem não apenas em relação a aspectos físicos da pessoa e do ambiente, mas também sociais e simbólicos. 11
b) Mesossistema Os microssistemas não têm existência isolada, antes funcionam em interacção com outros e influemciam-se. • O mesossistema é um sistema de relação, de interacções entre os microssistemas. • A família, os vizinhos, a igreja, o clube desportivo e a escola estabelecem conexões entre si. •
Ex: “interacções escola-indivíduo”: referimo-nos a um elemento do microssistema (a escola) que interage com os demais (a família, os vizinhos, os amigos, a igreja, etc).
Sempre que um indivíduo ingressa num novo ambiente, o mesossistema alarga-se, englobando o conjunto de todos os microssistemas em que cada pessoa se insere, bem como as relações que estabelecem entre si. 12
c) Exossistema •
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É um sistema de relação entre contextos, dos quais o sujeito pode ou não participar, mas que não afectam directamente o ser em desenvolvimento, em virtude de não serem frequentados por ele como elemento activo. Estes ambientes funcionam como suporte imprescindível para o desenrolar das actividades das pessoas que com ele interagem. Os centros de saúde, os parentes afastados, as direcções desportivas, os serviços religiosos ou as campanhas de solidariedade são exemplos de ambientes que ajudam a acção directa dos ele-mentos dos microssistemas que contactam com os indivíduos. O papel do exossistema é muito positivo, em especial quando o contributo é dado a pessoas que atravessam períodos difíceis. Ex. bolsas de estudo, seguros de saúde.
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d) Macrossistema •
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Todas estas relações que se desenham dentro de outras relações se inscrevem no interior de um macrossistema, constituído por uma determinada cultura em que vigoram valores, leis, crenças, ideologias, credos religiosos e costumes específicos, tal como se dispõe de determinados recursos técnicos e se possui instituições políticas, sociais e religiosas Ex: as políticas sanitárias, que afectam a qualidades do ambiente em infantários, escolas e outros espaços educativos. A sociedade em que os pais foram criados e os padrões culturais que transmitem aos descendentes condicionam o seu desenvolvimento
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e) Cronossistema Introduz uma nova dimensão, que enquadra os eventos ambientais e as mudanças ao longo da vida dos indivíduos. • Traduz a influência das condições socioculturais e históricas, na sua estabilidade e mudança. • Em termos individuais, a temporalidade mostra-se na importância e significados diferentes que são atribuídos aos contextos, consoante a idade da pessoa. incorporar uma dimensão temporal nas histórias de vida. Ver os efeitos da passagem do tempo e períodos críticos. • Exemplos: Na infância, a família assume maior importância, enquanto na adolescência é a influência do grupo de pares que predomina. Os efeitos disruptivos do divórcio tendem a agudizar-se um ano após o divórcio, com efeitos mais negativos para os filhos do sexo masculino do que para as filhas. 15 •
Os processos proximais •
Todos os contextos que referimos exercem influência no desenvolvimento de cada indivíduo. Porém, este contacta directamente com os microssistemas. PROCESSOS Formas duradouras de interacção no ambiente imediato. PROXIMAIS São como máquinas ou o motor do desenvolvimento.
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Segundo Bronfenbrenner, para que os processos proximais sejam eficazes no desenvolvimento, têm de se verificar simultaneamente:
1. As pessoas têm de desempenhar papéis participativos, comprometendo-se em actividades; 2. As influências entre pessoas e contextos têm de ocorrer em períodos regulares e não ocasionais; 3. As actividades devem ser progressivamente mais complexas; 4. É necessário haver reciprocidade nas relações interpessoais; 5. Os objectos e símbolos presentes devem dinamizar a atenção das pessoas, estimulando-as à exploração e manipulação.
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O jogo de futebol é um exemplo de uma situação facilitadora da ocorrência de processos.
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Efeitos dos processos proximais •
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Efeitos positivos: referem-se a competências. os processos proximais produzem efeitos de natureza positiva no desenvolvimento de habilidades, capacidades e conhecimentos em todos os domínios. A família e a escola são os elementos promotores da construção individual. Efeitos negativos: traduzem-se em disfunções. Os processos proximais produzem efeitos negativos nas dificuldades de controlo, de integração e de adaptação. Famílias disfuncionais, escolas permissivas, colegas indesejáveis e amigos agressivos podem conduzir à paralisação ou ao retrocesso no desenvolvimento. 18
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2. Inter-relações entre os contextos •
Segundo Bronfenbrenner, o desenvolvimento é um sistema contínuo de reciprocidades estabelecidas entre o Homem e o Meio: «conjunto de processos
através dos quais as propriedades das pessoas e o ambiente interagem, para produzir continuidade e mudança nas características da pessoa ao longo da vida.» • Tipos de interacção: 1. Interacção no interior de cada contexto; 2. Interacção entre os diferentes contextos; 3. Interacção entre o homem e os contextos de inserção. 20
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3. O papel dos contextos no comportamento dos indivíduos. •
Exemplos: Relações familiares; Famílias monoparentais; Papel das redes sociais de suporte na saúde física e psíquica dos indivíduos; A escola como contexto de desenvolvimento.
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Rede Social
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Rede social: configuração de vínculos e de relações entre pessoas ou subgrupos, no interior de uma estrutura ou grupo social mais alargado. Sistema de interdependências, organizado em torno de 3 vectores: Pessoas – isoladas ou integradas em instituições, são os elementos constitutivos da rede social. Funções – desempanham papéis sociais no interior de uma rede enquanto elementos activos. Situações – os papéis são mais ou menos úteis consoante os contextos em que as pessoas os desempenham. a rede social é muito útil para as pessoas, famílias ou outras instituições, por promoverem a melhoria da sua qualidade de vida. 23
Suporte Social •
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A nível do exossistema poderemos falar de suporte social, enquanto forma de diminuir o mal-estar das pessoas em crise, reduzindo deste modo as hipóteses de ocorrência de comportamentos desajustados=>apoio estatal, de ONGs, da paróquia,etc. Os apoios podem vir igualmente da família, amigos, vizinhos, etc. que contribuem material/financeiramente ou dão apoio moral. Os suportes/apoios sociais revelam-se particularmente úteis na ultrapassagem de períodos negativos na vida, típicas de épocas de transição e de instabilidade. Principais efeitos do suporte social:
1. Contribuem para a manutenção e melhoria da saúde mental; 2. Permitem criar defesas em situações penosas ou stressantes; 3. Promovem consequências benéficas nos processos ligados ao sistema endócrino, imunológico e cardiovascular.
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Suporte Social •
O apoio social pode ser instrumental ou emocional: O apoio intrumental pode ser uma ajuda financeira (bolsa de estudo), a realização de tarefas ou a partilha de responsabilidades ( o irmão mais velho ou um vizinho poderão levar o mais pequeno à creche). Poderá ainda consistir numa informação pertinente para a reposição da normalidade de funcionamente de uma instituição (Loja do cidadão). O apoio emocional remete para a amizade, o carinho, a preocupação, a simpatia e a compreensão com que algumas pessoas acolhem outras. Apesar das mudanças significativas que o apoio provoca, pode provir de pessoas ou instituições afastadas que não contactam directamente com a pessoa beneficiada. Ex: contributos para o Banco Alimentar contra a Fome; a Sociedade Protectora dos Animais; A.M.I., etc.
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O Homem, criador de contexto de vida
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A resiliência «É um processo dinâmico conducente a uma adaptação positiva no seio de um contexto de adversidade significativa.» «A Resiliência é o processo de boa adaptação face à adversidade, trauma, tragédia, traição, ou mesmo a fontes significativas de stress – tal como os problemas familiares e de relacionamento, graves problemas de saúde, aspectos financeiros ou ligados ao local de trabalho. Significa “descartar-se” das experiências difíceis.»
O risco ou privação tem de estar presente; • A resiliência só pode ser identificada após exposição à adversidade; • Os factores de protecção podem e devem ser identificados. •
Interacção dinâmica, positiva e adaptativa entre cada indivíduo e os contextos em que se insere. Processo activo: o indivíduo age no e sobre os seus contextos, de forma a proteger-se das consequências nefastas.
* Fontes: Luthar,Cicchetti & Becker, 2000; Discovery Health Channel 27 & APA, 2002.
Vantagens da resiliência •
Para o indivíduo: bom desempenho intelectual, boa disposição, auto-eficácia, elevada autoestima, talentos, fé, projecto de vida.
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Para a família: bom relacionamento com a figura materna ou paterna, estilo parental autoritário [zeloso, estruturado, grandes expectativas], vantagens socioeconómicas, ligação às redes sociais da família alargada.
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Para a comunidade: laços com adultos socialmente empenhados, ligações a organizações de suporte social, participação efectiva na escola.
A resiliência emerge da interacção entre factores ambientais, comportamentais e pessoais. 28
Relações entre o jovem, a família e a comunidade o d a m r Fi
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Comunidade Família 1
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Família
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Comunidade
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3
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Como promover a resiliência? - Problemas emocionais - Abuso de substâncias aditivas - Delinquência Temperamento do adolescente
• Reprovação Académica
& outras características pessoais
• Relação desajustada com os profs. • Grupo de pares desviante /gang
Problemas comportamentais
Problemas de Relacionamento entre Pais e Jovem
Características dos pais e estilo parental
• O modelo ecológico é holístico, tendo em consideração os contextos que têm impacto no jovem. • Os serviços de suporte social deverão recolher dados para a prevenção de comportamentos desviantes, intervindo cedo no apoio ao jovem, à família e à comunidade em que se inserem. => deverão identificar os factores de risco, bem como promover factores de protecção, fontes de rendimento / melhoramento; delinear o modo de abordagem de experiências traumáticas; implementar medidas de fortalecimento da resiliência: orientação profissional, esperança e optimismo.
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O papel dos contextos nas condutas individuais Cada pessoa vive em contextos, que partilha com outros, mas que se configuram únicos na influência que exercem sobre si. a posição que cada indivíduo ocupa é única e específica. posicionamo-nos no nosso contexto de vida, atribuímos significados próprios às situações que vivenciamos e participamos no meio, allterando-o com os nossas condutas. interagimos com o meio físico e social, ajustando-nos a este e ajustando-o a nós. a relação entre indivíduo e meio é dinâmica: um processo de ajuste que se vai tecendo ao longo do desenvolvimento individual, pela participação em contextos que nos vão construindo a nós e ao próprio mundo. •
=> somos seres simultaneamente situados e autónomos.
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