III.2. ARGUMENTAÇÃO e RETÓRICA
2.2. O discurso argumentativo: principais tipos de argumentos e de falácias informais. Prof. Marina Santos
Principais falácias informais FALÁCIAS INFORMAIS: argumentos em que as premissas não sustentam a conclusão, em virtude de deficiências de conteúdo. 1. Falácias da irrelevância.
As premissas não são relevantes (i.e., significativas) para poderem sustentar as conclusões.
2. Falácias da insuficiência de dados.
As premissas não fornecem dados suficientes para que seja garantida a verdade das conclusões.
3. Falácias da ambiguidade.
As premissas têm uma formulação ambígua, i.e., sujeita a diferentes interpretações. Prof. Marina Santos
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2 tipos de falácias 1.As falácias formais são erros de forma. Estes erros tornam o raciocínio inválido. 2.As falácias informais são erros de conteúdo. Na verdade, são sobretudo estratégias argumentativas, de cariz controverso ou mesmo duvidoso, que visam a adesão do auditório. Prof. Marina Santos
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1. FALÁCIAS DA IRRELEVÂNCIA
As premissas não são relevantes para as conclusões a que se chega.
Ad baculum Ad hominem Ad ignorantiam Ad misericordiam Ad verecundiam Ad populum Ex populum
2. FALÁCIAS DA INSUFICIÊNCIA DE DADOS
As premissas não fornecem dados suficientes para garantir a verdade das conclusões.
Falsa causa Falsa analogia Generalização precipitada Pergunta complexa Petição de princípio
3. FALÁCIAS DA AMBIGUIDADE
As premissas estão formuladas numa linguagem ambígua.
Composição Derrapagem Divisão Equivocidade Espantalho Falsa Dicotomia
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Como avaliar argumentos e evitar falácias? PONTO DE PARTIDA: Interpretação das premissas Interpretação da conclusão
1. O argumento está formulado em termos claros e inequívocos? SIM
NÃO
2. As premissas são pertinentes para apoiar a conclusão? SIM
NÃO
REJEIÇÃO: Falácias de ambiguidade REJEIÇÃO: Falácias de pertinência e outras
3. As informações fornecidas pelas premissas são claras e credíveis? SIM
NÃO
REJEIÇÃO: Falácias de dados insuficientes
4. O apoio das premissas à conclusão é, mesmo assim, relevante e persuasivo? SIM ACEITAÇÃO DO ARGUMENTO
NÃO
REJEIÇÃO: Falácias de relevância Prof. Marina Santos
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1. FALÁCIAS DA IRRELEVÂNCIA*
As premissas não são relevantes ou significativas para as conclusões a que se chega:
Ad baculum – recurso à força Ad hominem – contra a pessoa Ad ignorantiam – apelo à ignorância Ad misericordiam – apelo à misericórdia Ad verecundiam – apelo à autoridade Ad populum - populista Ex populum - demogógico Prof. Marina Santos
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Falácia ad baculum ou recurso à força* • Argumento que recorre a formas de ameaça (explícitas ou implícitas, físicas ou psicológicas) como meio de fazer aceitar uma opinião, conselho ou prescrição. Ex. Exigir “o dinheiro ou a vida” com uma arma apontada.
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Falácia ad hominem ou contra a pessoa* Argumento que pretende mostrar que uma afirmação é falsa, atacando e desacreditando a pessoa que a emite.
Lançar a dúvida sobre o saber e inteligência da pessoa. Lançar suspeitas sobre os verdadeiros motivos da pessoa. Denunciar interesses particulares, pondo em causa a boa fé. Desacreditar a família, a etnia ou grupo social, para atingir a pessoa. Denunciar o hiato entre as atitudes/ ideias e o comportamento da pessoa. Desculpar-se, apontado que «TU TAMBÉM...»
Ex. «O senhor não pode falar de educação porque não tem filhos»; «O senhor não pode ser presidente da associação do bigode porque tem uma barbearia»; «Tu também fumas!». 8 Prof. Marina Santos
Falácia ad ignorantiam ou da ignorância* • Argumento que consiste em refutar um enunciado, só porque ninguém provou que é verdadeiro; ou em defendê-lo, só porque ninguém ainda conseguiu provar que é falso. É usado no âmbito dos fenómenos psíquicos excepcionais. => violação das regras básicas do diálogo, pois transfere o ónus da prova para o auditório. Não se conseguiu provar a verdade de A. Logo, A é falso. Não se conseguiu provar a falsidade de A. Logo, A é verdadeiro.
Ex. 1) Não se conseguiu provar que os fantasmas existem. Logo, os fantasmas não existem. 2) Também não se provou que não existem. Logo, os fantasmas existem. Prof. Marina Santos
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Falácia ad misericordiam ou da misericórdia* • Argumento que consiste em pressionar psicologicamente o auditório, desencadeando sentimentos de piedade ou compaixão. => Uso da chantagem afectiva, sobretudo nas relações interpessoais.
Ex. «Os sacrifícios que tenho feito por ti! E agora fazes-me isto...»
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Falácia ad verecundiam ou da autoridade* • Argumento que pretende sustentar uma tese unicamente apelando a uma personalidade de reconhecido mérito. => Transferência do saber numa dada área (ex. craque no futebol), para uma outra área (finanças). Tudo o que X diz é verdadeiro. X diz A. Logo, A é verdadeiro. Ex. «No campo conto com uma grande equipa. Fora do campo faço o mesmo. Confio na Seur.» (Luís Figo) Prof. Marina Santos
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Falácia ad populum ou populista* • Argumento que cria um ambiente de entusiasmo e encantamento que propicia a adesão a uma determinada tese ou produto, cuja origem ou apresentação se devem à pessoa criadora de popularidade. => tenta-se conquistar a concordância popular. => cultivo do “mito popular”.
Ex. A atmosfera ideal de encantamento para comprar um produto anunciado: «Brasil, Brasil, férias de sonho...» anúncio do “cartão T”. Prof. Marina Santos
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Falácia ex populum ou demagógica* • Argumento que pretende impor determinada tese, invocando que esta é aceite pela generalidade das pessoas. => A força persuasiva deve-se à tendência para o conformismo e o ónus passar para quem discorda da maioria. => Dissuasão dos “desmancha-prazeres”.
Ex. -«Todos fazem isso! És parvo se não metes uma cunha!» -«Em Roma, sê romano!» -«Não vale a pena remar sozinho contra a maré...!» Prof. Marina Santos
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Verifique se compreendeu: 1) 2) 3) 4) 5) 6) 7) 8) 9) 10) 11) 12) 13) 14) 15) 16) 17) 18)
Invocar especialistas. Intimidar. Apelar ao “todos concordam”. Métodos de “mão dura”. Granjear popularidade. Ridicularizar. Utilizar meios coercivos. “Tu também”. Despertar compaixão. Insultar. Apelar à opinião de peritos. Lançar o descrédito. Apelar ao “todos sabem”. Culto do herói. Denegrir o orador. Despertar uma onda de entusiasmo. Explorar o conformismo. Transferir o ónus da prova.
Falácia ad verecundiam (autoridade). Falácia ad baculum (força). Falácia ex populum (demagogia). Falácia ad baculum (força). Falácia ad populum (populismo). Falácia ad hominem (contra a pessoa). Falácia ad baculum (força). Falácia ad hominem (contra a pessoa). Falácia ad misericordium (misericórdia). Falácia ad baculum (força). Falácia ad verecundiam (autoridade). Falácia ad hominem (contra a pessoa). Falácia ex populum (demagogia). Falácia ad populum (populismo). Falácia ad hominem (contra a pessoa). Falácia ad populum (populismo). Falácia ex populum (demagogia). Falácia ad ignorantiam (ignorância).
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2. FALÁCIAS DA INSUFICIÊNCIA DE DADOS • As premissas não fornecem dados suficientes para garantir a verdade das conclusões:
Falsa analogia. Falsa causa. Generalização precipitada. Pergunta complexa. Petição de princípio. Prof. Marina Santos
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Falácia da falsa causa Argumento que atribui a causa de um fenómeno a um outro fenómeno, sem que entre si exista qualquer nexo causal: “Non causa pro causa” (a não causa pela causa) Consiste em atribuir a causa de um fenómeno a outro, sem que exista qualquer relação causal entre ambos. “Post hoc, ergo propter hoc”(depois de,logo por causa de) Consiste em atribuir a causa de um fenómeno a outro, pela simples razão de o preceder. Ex. O fenómeno B (ter boa nota) ocorre a seguir ao fenómeno A (ter colhido um trevo de 4 folhas). Logo, A ( o trevo) é a causa de B ( a boa nota). Prof. Marina Santos
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Falácia da falsa analogia Argumento que consiste em tirar conclusões de um objecto ou situação para um outro semelhante, sem atender às diferenças significativas existentes entre eles: O fenómeno X apresenta a característica A. O fenómeno Y apresenta a característica A. Logo, X é igual a Y. Ex. Os peixes vivem no mar. A baleia vive no mar. Logo, a baleia é um peixe!? Prof. Marina Santos
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Falácia da generalização precipitada* Argumento que consiste em enunciar uma regra a partir de dados não representativos ou insuficientes: O fenómeno X ocorre em A1, A2. Logo, o fenómeno X ocorre em todos os AA. Enumeração incompleta: consiste em generalizar a partir de observações insuficientes. Ex. O António, a Maria e o Joaquim estão no 11º ano e têm 16 anos. Logo, todos os que frequentam o 11º ano têm 16 anos!?
Acidente convertido: consiste em tomar por essencial o que é apenas acidental; e, por regular ou frequente, o que é excepcional. Ex. O José estudou muito para o teste de Filosofia e só teve 10 valores; estudou pouco para o de História e teve 15. Logo, mais vale não estudar!? Prof. Marina Santos
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Falácia da pergunta complexa Argumento que consiste em aglutinar 2 perguntas ou em fazer uma pergunta que pressupõe uma resposta previamente dada, de modo a que o interlocutor fique numa situação embaraçosa, quer responda afirmativa ou negativamente : Aglutinar duas perguntas como se fosse apenas uma. Ex. Gostas de continuar a trabalhar no emprego e na lida doméstica? Formular uma pergunta que pressupõe que já tenha sido dada anteriormente. Ex. Fizeste bons investimentos com o dinheiro que recebeste das luvas? => Quer a resposta seja afirmativa ou negativa, é sempre desagradável para o interlocutor. 19 Prof. Marina Santos
Falácia da petição de princípio* Também chamada «falácia da circularidade», por conduzir a um círculo lógico do qual não se consegue sair.
Argumento que consiste em adoptar para premissa de um argumento a própria conclusão que se quer fundamentar: A é verdadeira. Logo, A é verdadeiro. Ex. Uma definição consiste em definir um conceito. Uma pessoa odeia as pessoas de outra raça porque é racista.
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Verifique se compreendeu: 1) Fazer regra do excepcional.
Falácia da generaliz. precipitada
2) Aglutinar duas perguntas numa só.
Falácia da pergunta complexa.
3) Usar premissas iguais ou c/ o mesmo significado da conclusão. Falácia da petição de princípio. 4) Esquecer diferenças significativas entre objectos ou pessoas.
Falácia da falsa analogia.
5) Fazer regras a partir de uma ou duas observações.
Falácia da generaliz. Precipitada.
6) Concluir a partir de semelhanças secundárias.
Falácia da falsa analogia.
7) Efectuar uma pergunta que pressupõe uma resposta anterior. Falácia da pergunta complexa.
8) Usar amuletos para ter sorte.
Falácia da falsa causa.
9) Crer que um fenómeno se deve a outro que o antecede.
Falácia da falsa causa.
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3. FALÁCIAS DA AMBIGUIDADE • As premissas estão formuladas de uma forma ambígua:
Composição. Divisão. Derrapagem. Equivocidade. Espantalho. Falsa Dicotomia. Prof. Marina Santos
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Falácia da composição Argumento que atribui a uma classe, como um todo, características presentes apenas nos elementos isolados dessa classe: Cada um dos elementos da equipa X é um bom jogador. Logo, a equipa X (o colectivo) joga muito bem.
=> admitir, erroneamente, que o todo é igual à soma das suas partes. Ex. Se os jogadores são bons, a equipa ganha sempre! (contudo, tal pode não acontecer: o colectivo jogará mal se não houver coordenação entre os jogadores.) Prof. Marina Santos
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Falácia da divisão Argumento que atribui aos elementos isolados uma propriedade que é pertença colectiva da classe em que esses elementos se integram: As afirmações, tidas como verdadeiras para o colectivo, podem ser falsas para alguns dos elementos desse conjunto. É o inverso da falácia da composição, admitindo também que o todo é igual à soma das suas partes. Ex. A Selecção nacional jogou muito bem no outro dia. O Ricardo é um elemento da Selecção. Logo, o Ricardo jogou muito bem nesse dia!? Prof. Marina Santos
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Falácia da derrapagem* Argumento que, introduzindo pequenas diferenças entre cada uma das premissas condicionais ou equivalentes, conduz a uma conclusão despropositada: Mau uso da equivalência A1 não é significativamente diferente de A2. A2 não é significativamente diferente de A3. ... E assim sucessivamente, até An. Logo, conclui-se que A1 é praticamente igual a An. Mau uso da implicação. Se ocorre A1, acontece A2. Se acontece A2, acontece A3. ... E assim sucessivamente, até An. Logo, se acontece A1, acontecerá An. 25
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Falácia da derrapagem* Ex. Se vou à escola, tenho de estudar. Se tenho de estudar, canso-me. Se me canso, fico debilitado. Se fico debilitado, adoeço. Se adoeço, posso morrer. Logo, como não quero morrer, não vou à escola. É um desvirtuamento do silogismo hipotético. Introduzir antecedentes não exactamente iguais aos consequentes que o precedem, pelo que o raciocínio se vai afastando do sentido original e começa a derivar até conduzir a uma conclusão despropositada. “efeito de dominó” ou “bola de neve”. 26 Prof. Marina Santos
Falácia da equivocidade Argumento em que se introduz um termo com duplo sentido (equívoco), conduzindo portanto a conclusões indevidas: também é denominada falácia do termo médio ou do quarto termo.
Ex. Os pés têm dedos e unhas. As mesas têm pés. Logo, as mesas têm dedos e unhas.
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Falácia do espantalho Argumento que consiste em atribuir a outrem uma opinião fictícia ou em deturpar as suas afirmações de modo a terem outro significado: Ex. - Não brinques com a Maria, que é uma medricas! - Como é que sabes? - Foi o João quem me disse. - O que disse ele? - O João contou-me que a Maria não gosta de sapos.
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Falácia da falsa dicotomia* Argumento que apresenta 2 alternativas como sendo as únicas existentes para determinado problema, ignorando ou omitindo outras possíveis: As únicas hipóteses admitidas na discussão são o “não” ou o “sim”... não se admitindo o meio-termo.
Ex. «Quem não está por mim, está contra mim».
Talvez NÃO
SIM Prof. Marina Santos
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Verifique se compreendeu: 1) Defender a tese de «ou tudo, ou nada».
Falácia da falsa dicotomia.
2) Distorcer as afirmações do locutor.
Falácia do espantalho.
3) Confundir contrário e contraditório.
Falácia da falsa dicotomia.
4) Confundir o indivíduo c/ a classe a que pertence.
Falácias da divisão/composição.
5) Fazer indiferentemente uso colectivo e distributivo. Falácias da divisão /composição. 6) Reduzir as alternativas apenas a duas.
Falácia da falsa dicotomia.
7) Introduzir antecedentes diferentes do consequente. Falácia da derrapagem.
Prof. Marina Santos
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