René Descartes A CONFIANÇA ABSOLUTA NA RAZÃO
Filósofo Filósofo francês. francês. Fundador Fundador da da filosofia filosofia moderna. moderna. Grande Grande matemático, matemático, foi foi um um dos dos fundadores fundadores da da geometria geometria analítica. analítica. Aplicou Aplicou oo modelo modelo do do saber saber matemático matemático àà filosofia. filosofia. Como Como racionalista, racionalista, considerou considerou que que aa ciência ciência deveria deveria ter ter um um fundamento fundamento metafísico, metafísico, aa partir partir do do qual qual todos todos os os demais demais conhecimentos conhecimentos seriam seriam deduzidos deduzidos com com ordem ordem ee rigor. rigor. Contra Contra oo cepticismo cepticismo da da sua sua época, época, constrói constrói um um sistema sistema científico científico sobre sobre bases/princípios bases/princípios firmes firmes ee indubitáveis. indubitáveis. René Descartes (1596-1650)
Obras Obras principais: principais: Discurso Discurso do do Método; Método; Meditações Meditações sobre sobre aa Filosofia Filosofia Primeira; Primeira; Regras Regras para para aa Direcção Direcção do do Espírito; Espírito; Princípios Princípios da da Filosofia. Filosofia. Prof. MARINA SANTOS 2011
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Descartes contra os cépticos • Descartes pretende combater o CEPTICISMO, cujo argumento é: Se há conhecimento, então as nossas crenças estão justificadas; mas as nossas crenças não estão justificadas; logo, não há conhecimento. • Descartes responde aos cépticos mostrando que não é verdade que todas as nossas crenças são justificadas com outras crenças. • Mas Descartes não quer apenas mostrar que o céptico pode estar errado: ele pretende mostrar que está, efectivamente, errado. • O seu principal problema pode ser formulado do seguinte modo: "Como garantir que o nosso conhecimento é absolutamente seguro?" Prof. MARINA SANTOS 2011
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As ideias Ideias INATAS*
Ideias ADVENTÍCIAS
Ideias FACTÍCIAS
Ideias que nasceram connosco, ou que são produzidas por nós, sem intervenção dos sentidos. Ex: ideias de Deus, Alma, Triângulo…
Ideias que provêm directamente dos sentidos. Representações do mundo com base na experiência, no hábito e na crença. Ex: O sol levanta-se e põese todos os dias.
Ideias que são elaboradas com base nas ideias que provêm da experiência e que resultam da associação destas. Ex: Uma sereia (junção: mulher e peixe)
Será que os 3 tipos de ideias nos dão igual garantia de veracidade? Ora, se só são indubitavelmente verdadeiras aquelas coisas que concebemos, na mente, com clareza e distinção…
Só as ideias inatas são verdadeiras, imutáveis e eternas. Prof. MARINA SANTOS 2011
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As ideias «Entre as ideias, umas parece-me que são inatas, que nasceram comigo; outras, que são adventícias e vieram de fora; outras, finalmente, que foram feitas e inventadas por mim. (...) Apercebo-me de coisas que estavam já no meu espírito, ainda que não tivesse pensado nelas. E, o que é mais notável, encontro em mim uma infinidade de coisas que não podem ser consideradas como um puro nada (...) embora tenha liberdade de as pensar ou não, elas têm uma natureza verdadeira e imutável. Como, por exemplo, quando imagino um triângulo, ainda que fora do meu pensamento talvez não exista em parte alguma do mundo uma tal figura (...) não deixa contudo de ter uma certa natureza ou forma, ou essência determinada dessa figura, a qual é imutável e eterna, que nunca inventei e não depende do meu espírito.» (René DESCARTES , Meditações Metafísicas) Prof. MARINA SANTOS 2011
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As ideias inatas • Ideias inatas: Deus e Alma estão na mente desde o nascimento e serão desenvolvidas pela razão, sem o apoio da experiência. são ideias claras e distintas, evidentes; a ideia de Deus é a marca que Este deixou na sua obra. Contrariamente às ideias adventícias (que provêm da experiência) e das ideias factícias (forjadas por mim), as ideias inatas são inerentes ao sujeito e basta que este analise a sua mente para as encontrar dentro de si.
Portanto, o conhecimento possível (contra cépticos) Prof. MARINA SANTOS 2011
verdadeiro
é 6
A atitude perante o saber
Prof. MARINA SANTOS 2011
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A dúvida metódica 1. Descartes não duvida por duvidar: fá-lo porque procura um conhecimento absolutamente seguro, que resista à dúvida mais obstinada. 2. Mas então é necessário começar por duvidar de tudo o que simplesmente possa parecer duvidoso => a dúvida cartesiana é metódica: usa um conjunto de regras/ procedimentos para encontrar o conhecimento certo; => a dúvida cartesiana é hiperbólica: explora todas as possibilidades de erro, mesmo as mais remotas. Claro que isto é um exagero: na maior parte do tempo, não temos razões para duvidar da maior parte das coisas.
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O carácter hiperbólico da dúvida: Ter como absolutamente falso o que for minimamente duvidoso; Considerar como sempre enganador aquilo que alguma vez nos enganar. A REGRA DA EVIDÊNCIA: «Nunca aceitar como verdadeira qualquer coisa sem a conhecer evidentemente como tal, isto é, evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção (pré-conceito ou pré-juízo); não incluir nos meus juízos nada que se não apresentasse tão clara e distintamente ao meu espírito que não tivesse nenhuma ocasião para o pôr em dúvida.» (DESCARTES, Discurso do Método)
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Os níveis de aplicação da dúvida 1º nível: A dúvida põe em causa os dados dos sentidos sobre as características dos objectos - se, por vezes, os sentidos nos enganam, então é como se nos enganassem sempre, pelo que não merecem confiança como fonte indubitável do saber. 2º nível: A dúvida atinge a crença do saber tradicional na existência das realidades físicas ou sensíveis – como distinguir o sonho da realidade? SONHO 3º nível: A dúvida recai agora sobre aquele que foi considerado o modelo do conhecimento verdadeiro, o conhecimento matemático – como garantir que o nosso entendimento não tenha sido criado “virado do avesso” por um génio maligno ou um deus enganador? GÉNIO MALIGNO Prof. MARINA SANTOS 2011
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«Uma vez, eu, Chuang-Tzu, sonhei que era uma borboleta, que revoluteava e me divertia. Não tinha a mais pequena ideia de ser Chuang-Tzu. Depois, de súbito, despertei e fui de novo Chuang-Tzu. Mas não consigo determinar se terei sido uma borboleta, ou uma borboleta que sonhara ser Chuang-Tzu. Todavia, alguma diferença deve existir entre Chuang-Tzu e uma borboleta! É a isto que chamamos a transformação das coisas.» «Quando sonhamos não sabemos que sonhamos e, no meio do sonho, interpretamos um sonho dentro dele; até despertarmos, não sabemos que estamos a sonhar. Só no derradeiro despertar saberemos que este era um sonho derradeiro.» Prof. MARINA SANTOS 2011
Taoismo, séc. IV a.C.
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O génio maligno • O génio maligno, que surge nas Meditações, é uma possibilidade muito remota; mas é uma possibilidade; logo, não podemos deixar de considerá-la. Mas quem é este génio maligno? • É uma espécie de deus: é génio, porque os seus poderes são, supostamente, superiores aos poderes humanos; mas, por ser maligno, não pode ser o verdadeiro Deus, uma vez que Este é bom (e veraz). • Este génio maligno tem uma obsessão: enganar-me. Induz-me a acreditar que tenho duas mãos, um corpo, que há uma realidade exterior a mim, ou que 2+3=5. Mas tudo isto pode ser falso. Todos os meus pensamentos podem ser um mero produto da acção maligna deste génio. Prof. MARINA SANTOS 2011
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O génio maligno • Isto não é tão implausível quanto pode parecer: é como supor que se vive numa realidade virtual. - Pode suceder que esteja enganado quanto ao meu corpo; talvez o meu corpo não seja aquilo que os meus olhos me dizem que ele é; talvez eu não tenha sequer um corpo — nem, se isso é verdade, olhos que me digam como ele é. -Talvez não seja senão um cérebro numa cuba (Putman), que um cientista perverso se entretém a estimular, de maneira que pense e tenha as sensações que ele quer que eu pense e tenha. Prof. MARINA SANTOS 2011
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O itinerário cartesiano • Descartes está aparentemente imerso num oceano de dúvidas: os sentidos, diz, enganam-me; a razão engana-me; e, para complicar tudo, pode suceder que um génio maligno não faça senão enganar-me. Então, é certo que duvido. • Mas, diz Descartes, para duvidar, é necessário que exista o sujeito que duvida. Logo, a existência do sujeito que duvida é uma verdade indubitável: “Cogito ergo sum” Eu duvido de tudo, mas não posso duvidar da minha existência como sujeito que, neste momento, está a duvidar de tudo. E, mesmo que um génio maligno persista em enganar-me, é, ainda assim, necessário que eu exista para ser enganado.
Prof. MARINA SANTOS 2011
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O cogito • A aplicação da dúvida metódica acaba por nos conduzir à primeira e absoluta verdade, ao primeiro princípio do sistema do saber: Cogito, ergo sum => esta verdade «Eu penso, logo existo» vai ser o critério/ modelo de toda e qualquer verdade posterior. «Notei que, enquanto assim queria pensar que tudo era falso, eu, que assim o pensava, necessariamente era alguma coisa. E, notando que esta verdade - eu penso, logo existo -, era tão firme e tão certa que todas as extravagantes suposições dos cépticos seriam impotentes para a abalar, julguei que a podia aceitar, sem escrúpulo, para primeiro princípio da filosofia que procurava.» (Descartes, Discurso do Método). Prof. MARINA SANTOS 2011
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«Agora, que resolvi dedicar-me apenas à descoberta da verdade, pensei que era necessário rejeitar como completamente falso tudo o que pudesse suscitar a menor dúvida, para ver se, depois disso, algo permaneceria nas minhas opiniões que fosse inteiramente indubitável. Assim, porque os nossos sentidos nos enganam algumas vezes, decidi supor que nos enganam sempre. E, porque há pessoas que se enganam ao raciocinar, até nos temas mais simples de geometria, fazendo raciocínios incorrectos, rejeitei como falsas, visto estar sujeito a enganar-me, como qualquer outra pessoa, todas as razões que até então me pareceram aceitáveis. Finalmente, considerando que os pensamentos que temos quando acordados nos podem ocorrer também quando dormimos, sem que, neste caso, qualquer deles seja verdadeiro, resolvi supor que tudo o que até então tinha encontrado acolhimento na minha mente não era mais verdadeiro do que as ilusões dos meus sonhos. Mas, logo em seguida, notei que, enquanto queria pensar que tudo era falso, eu, que assim o pensava, necessariamente era alguma coisa. E, notando que esta verdade, eu penso, logo existo, era tão firme e tão certa que todas as extravagantes suposições dos cépticos seriam impotentes para a abalar, julguei que a poderia aceitar, sem escrúpulo, para primeiro princípio da filosofia que procurava.» (Descartes, Discurso do Método, IV, Lisboa, Liv. Sá da Costa, 1988, pp. 27-28) Prof. MARINA SANTOS 2011
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A prova da Existência de Deus • Sei que sou imperfeito, porque duvido. Comparando as qualidades que possuo com aquilo que penso ser a perfeição, então posso dizer que sou imperfeito. A ideia de um ser perfeito corresponde àquele que não duvida, que sabe tudo (é omnisciente). Mas se esta ideia existe, existirá também um ser perfeito? Descartes considera que só o que é perfeito pode ser a causa da ideia de perfeição; logo, Deus existe.
«Depois disto, tendo reflectido sobre o que duvidava e que, por consequência, o meu ser não era totalmente perfeito, pois via claramente que é uma maior perfeição conhecer do que duvidar, lembrei-me de procurar de onde me teria vindo o pensamento de alguma coisa de mais perfeito do que eu; e conheci evidentemente que tal se devia a alguma natureza que fosse, efectivamente, mais perfeita.» (Descartes, Discurso do Método) Prof. MARINA SANTOS 2011
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Deus como garantia da verdade • Descartes suspeitara de que um deus poderia fazer tudo, mesmo enganar. Mas, enganar é sinal de fraqueza e imperfeição; e ficou provado que Deus é omnipotente e perfeito; logo, não nos pode enganar. • O papel da veracidade divina : 1. Deus é a garantia da validade das evidências actuais (aquelas que estão presentes na minha consciência); 2. Deus é a garantia das minhas evidências passadas. => Deus acaba por ser a «verdadeira raiz da árvore do saber», pois só a sua veracidade garante a verdade dos conhecimentos que o sujeito pensante vai construindo. Prof. MARINA SANTOS 2011
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Crítica: o círculo cartesiano • O cogito, só por si, dificilmente poderia constituir um fundamento sólido para o conhecimento. É a existência de Deus que garante a Descartes que não se engana quando pensa clara e distintamente. Mas parece que Descartes só pode saber que Deus existe porque compreende clara e distintamente a Sua existência. • Se este é o argumento, então é um argumento circular: para saber que as ideias claras e distintas são verdadeiras, tenho primeiro de saber que Deus existe; mas, para saber que Deus existe, tenho primeiro de saber que as ideias claras e distintas são verdadeiras. Prof. MARINA SANTOS 2011
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