II.3. Dimensões da ação humana e dos valores II.3.2. A dimensão estética - análise e compreensão da experiência estética
II.3.2.2. A criação artística e a obra de arte
Filosofia 10º ano - MARINA SANTOS
O processo criativo • O domínio dos materiais e das técnicas de produção;
• A sistematização da produção (esquema do processo);
• Conceção de uma obra singular e inconfundível;
• A própria obra de arte surge para ser objeto de fruição pelo espetador. Filosofia 10º ano - MARINA SANTOS
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A quem pertence esta selfie? Ao macaco ou ao fotógrafo? Em 2011, o fotógrafo britânico David Slater montou o seu equipamento fotográfico numa floresta indonésia, e um grupo de macacos encontrou-o e interagiu com ele. O resultado mais famoso dessa sessão fotográfica é um autorretrato tirado pelo macaco Naruto, conhecido como a "Selfie do Macaco". A quem pertence a imagem? Slater reivindica os direitos, mas há quatro anos que tem que se debater contra aqueles que acreditam que o copyright da fotografia é do macaco, ou não é de ninguém. A organização de defesa dos animais PETA (Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais, na sigla inglesa) entregou uma queixa num tribunal norte-americano por violação de copyright contra David Slater argumentando que a fotografia pertence a Naruto, que a tirou por iniciativa própria, e que Slater infringiu o direito ao publicar a fotografia num livro seu. Slater confessou-se entristecido com o processo em tribunal, visto que se considera um defensor dos animais. "Eu só queria que a minha filha de cinco anos se pudesse orgulhar do seu pai e herdar os meus copyrights, para poder beneficiar do meu trabalho e ter uma herança que lhe permita ir para a universidade", disse o fotógrafo. "Tenho muito pouco para lhe oferecer além disto". O fotógrafo afirmou que a sua profissão é muito dispendiosa e que poucas das fotografias que tira resultam em rendimentos. Defendeu ainda o seu direito à imagem por ter sido ele a montar o tripé e a deixar a câmara de forma a que os macacos a pudessem utilizar. A 2011 selfie that a PETA lawsuit charged was taken by gifted photographer Naruto, a crested macaque from Sulawesi, Indonesia. (Photo: Wikimedia Commons)
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A PETA não é a primeira organização, porém, a discordar de Slater nesta questão. O primeiro caso mediático de disputa do copyright da "Selfie do Macaco" aconteceu com a Wikipédia que incluiu a imagem na sua biblioteca de fotografias de uso livre, por considerar que como o fotógrafo não tinha carregado no botão, esta não lhe pertencia. Agora, a PETA espera criar um precedente legal para a concessão de propriedade a animais. "Seria a primeira vez que um animal não-humano é declarado proprietário de algo, em vez de ser ele próprio propriedade", disse um dos advogados da PETA. "A lei de copyright é clara: não importa de quem é a câmara, o que importa é quem tirou a fotografia". Fonte: http://www.dn.pt/globo/interior/a-quem-pertence-esta-selfie-ao-macaco-ou-ao-fotografo-4796577.html 3
O problema da definição da obra de arte «O facto de terem surgido novas formas de arte, tais como o cinema e a fotografia, e das galerias de arte terem exibido coisas como um monte de tijolos ou uma pilha de caixas de cartão, forçou-nos a refletir acerca dos limites do nosso conceito de arte. Dantes, o que contava como arte parecia estar mais claramente definido. No entanto, (…) parece que chegámos a uma situação em que tudo e mais alguma coisa pode ser arte. Se é assim, o que fará com que um certo objeto - um escrito ou uma peça musical – e não outro, seja digno de se chamar arte?» (N. Warburton, Elementos básicos de Filosofia) https://www.youtube.com/watch?v=-dWDma9Gzfk Filosofia 10º ano - MARINA SANTOS
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O problema da definição da obra de arte «Em 1917 Duchamp, já então artista consagrado, concorreu a uma exposição da Society of the Independent Artists com um urinol intitulado a “Fonte” e assinado com o nome de R. Mutt. A Society pugnava pela abertura a novas formas de arte e o fito de Duchamp era provocatório. Esperava, com esta obra, pôr em cheque os membros da sociedade colocando-os perante o dilema de aceitar ou não como arte um objeto que não tinha sido feito para ser arte. Era o próprio conceito de arte que estava em jogo. No entanto, a sua expectativa saiu frustrada, porque a Fonte não foi, nessa altura apresentada ao júri. Diz-se que os empregados da Society não identificaram aquele objeto como fazendo parte das obras de arte a serem apreciadas e arrumaram-no na cave. Hoje, a Fonte ocupa um lugar de destaque nos museus de arte contemporânea. Depois desta sucederam-se permanentemente situações em que o estatuto de obra de arte de um objeto é cada vez mais indeterminado. Em qualquer história de arte contemporânea são obrigatoriamente referidas. Do que se passou entre nós, referimos um exemplo. Em 1977, a exposição de Alberto Carneiro, na Galeria Quadrum, constava de uma única pedra rolada trazida de uma ribeira de Trás-osMontes. Depois da exposição, a pedra foi reposta na mesma ribeira. Enquanto esteve na exposição foi uma obra de arte, depois que foi reposta na mesma ribeira deixou de o ser.» (Carmo d’Orey, O que é a Arte? ou Quando Há Arte?, Análise, 14, p. 69, 199)
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«É irrelevante que o sr. Mutt tenha ou não feito a fonte com as suas próprias mãos. ESCOLHEU-A. Pegou num objeto vulgar do dia-a-dia, colocou-o de modo a que o seu significado útil desaparecesse sob o novo título e nova perspetiva – criou um novo pensamento para esse objeto.» (N. Warburton, O que é a arte?) 5
O problema da definição da obra de arte Em 1967, a Galeria de arte de Ontário pagou 10.000 dólares por um trabalho de Claes Oldenburg chamado “O Hambúrguer Gigante” (1967): um hambúrguer completo com pickles em cima, feito em tela de vela e preenchido com espuma de borracha, com cerca de 1,32 m de altura e 2,13 m de comprimento. Um grupo de estudantes de arte fabricou em cartão uma garrafa de Ketchup à mesma escala, e conseguiram pô-la ao lado do hamburger, o que fez as delícias da imprensa e aborreceu a direção do museu. O hamburger continua na coleção do museu mas a garrafa nunca mais foi vista. Este incidente aconteceu realmente. Como podemos avaliá-lo? Deve ser visto como um gesto de desrespeito a um artista eminente e a uma instituição digna, uma demonstração de falta de maneiras? Ou devemos olhá-lo unicamente como um comentário satírico da facilidade e superficialidade da arte “pop”, a arte da altura (como a arte “pop” era um comentário à arte “séria” da altura)? Era uma graça sem importância, deixando as coisas como estavam, sem qualquer dano estético? Ou houve um dano estético ou outro, pelo facto ser embaraçoso? Não passou de um grande erro? Será que os estudantes não compreenderam o objetivo do trabalho de Oldenburg e por isso estabeleceram a relação entre a garrafa de cartão e o trabalho cómico de Oldenburg tornando-o esteticamente sem interesse? Mais precisamente, poderíamos dizer que os estudantes criaram uma nova obra de arte própria, incorporando nela o trabalho de Oldenburg como parte? (Margaret P. Battin, John Fisher, et al.: Puzzles About Art: An Aesthetics Casebook, 1989) Filosofia 10º ano - MARINA SANTOS
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O problema da definição da obra de arte Deram-se algumas tintas e papel à Betsy, uma chimpanzé do Jardim Zoológico de Baltimore, com os quais criou vários produtos alguns dos quais podem chamar-se pinturas. Ainda que os trabalhos de Betsy não sejam obras-primas, são inegavelmente interessantes e, à sua maneira, apelativos. Foram expostos no Field Museum of Natural History em Chicago algumas peças selecionadas do trabalho de Betsy. Suponha que, no mês seguinte, aquelas mesmas peças são exibidas no Chicago Art Institute, e que nas duas exposições os trabalhos de Betsy foram muito admirados pelos visitantes. É arte o trabalho de Betsy? Será só arte em certas condições de exposição (por exemplo, no museu de arte, mas não no museu de história natural)? Se é arte (pelo menos algumas vezes) de quem é? Quando se procura decidir se uma peça é uma obra de arte, que tipo de considerações devemos ter presentes? Será importante que o criador seja humano? Será importante se o seu criador pretenda que seja recebida ou compreendida como arte? Será importante que o objeto em questão seja, segundo o nosso juízo ou o de outros, um objeto excelente do seu tipo? Será importante onde, quando e por quem seja visto, se o for por alguém? Se, por acaso, a Betsy criar uma composição que não se distinga de uma obra universalmente aceite como uma obra de arte, transformará isso o seu trabalho numa obra de arte? Que diferença fará se determinarmos que a composição de Betsy ou quaisquer outras coisas sejam obras de arte? Que alterações, se as houver, são necessárias no modo como tratamos e pensamos tais objetos quando fazemos esta determinação? (Margaret P. Battin, John Fisher, et al.: Puzzles About Art: An Aesthetics Casebook, 1989) Filosofia 10º ano - MARINA SANTOS
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«A literatura da estética está atafulhada de tentativas desesperadas para responder à questão O que é a arte? Esta questão, muitas vezes confundida com a questão O que é a boa arte? é particularmente viva no caso da arte encontrada – a pedra apanhada no caminho e exibida no museu – e posteriormente complicada pela promoção das chamadas arte ambiental e conceptual. Será um pára-choques amolgado de um carro numa galeria de arte uma obra de arte? E que dizer de algo que nem é um objeto nem é exibido em qualquer galeria ou museu – por exemplo, o escavar e voltar a tapar um buraco no Central Park, como Olderburg prescreve? Se estas são obras de arte, serão todas as pedras do caminho e todos os objetos e ocorrências, obras de arte? Se não são, o que distingue o que é uma obra de arte do que não é? O facto de um artista lhe chamar uma obra de arte? O facto de estar exposto num museu ou numa galeria? Nenhuma destas respostas é convincente. [...] Parte do problema resulta de se fazer a pergunta errada – não reconhecendo que uma coisa pode funcionar como uma obra de arte durante alguns momentos, mas não noutros. Em casos cruciais, a verdadeira pergunta não é ‘Que objetos são (permanentemente) obras de arte?’ mas antes Quando é um objeto uma obra de arte? – ou, mais sinteticamente, ‘Quando há arte?’» Nelson Goodman. “When is Art?” in Ways of Worldmaking. Indianapolis: Hackett. 1978. Filosofia 10º ano - MARINA SANTOS
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Teorias relativas à obra de arte Teorias da arte Teoria da imitação Teoria expressivista Teoria formalista
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Teorias da arte: 1) A arte como imitação As obras de arte são produções humanas que imitam a natureza ou a ação do homem • Reprodução da vida humana ou da natureza. • A qualidade artística depende do grau de fidelidade da reprodução.
ARISTÓTELES Filosofia 10º ano - MARINA SANTOS
«A poesia épica, a tragédia e a comédia, assim como a poesia e a maior parte da arte de tocar flauta e lira, são geralmente concebidas como imitações. Tal como há pessoas que, por arte ou por hábito, imitam muitas coisas com cores e formas, ou com a voz, o mesmo acontece com as artes atrás mencionadas: todas elas imitam, separadamente ou em conjunto, recorrendo ao ritmo, à linguagem e à harmonia.»
(Aristóteles, Poética) 10
Teorias da arte: 1) A arte como imitação
PPietá, de Michelangelo (1499)
Pietá, de El Greco (1592)
Pietá, de Van Gogh (1889)
Como saber se uma obra de arte imita o objeto ou a ação que pretende reproduzir? Poder-se-ia pensar que a Pietá de Michelangelo, por ser mais realista, será uma melhor imitação da realidade. No entanto, esta obra foi produzida cerca de 15 séculos após o acontecimento original. Logo, será difícil garantir que a obra imita o acontecimento tal como ele ocorreu. Filosofia 10º ano - MARINA SANTOS
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Teorias da arte: 1) A arte como imitação José Malhoa, O Fado (1910)
• TESE: a arte, sobretudo a pintura, imita ou deve imitar a realidade, constituindo-se como uma cópia ou espelho no qual os objetos são refletidos o mais fielmente possível.
• CRÍTICAS: Magritte, Clarividência, 1936
1. O artista não representa as coisas que vê, mas o modo como olha e imagina as coisas. O quadro aparentemente mais “realista” está condicionado na sua criação pela experiência do artista, pelos seus sentimentos, pela forma como avalia as relações sociais do seu meio, pelos ideais que, porventura, queira transmitir. 2. Esta conceção baseia-se numa visão ingénua da realidade. A realidade não se reduz aos objetos da nossa perceção imediata. Aquilo a que chamamos real não é evidente. Se olharmos para alguns quadros de Picasso podemos dizer que aquilo que mostra é tão pouco evidente como a realidade que os físicos se esforçam por compreender. 3. Na pintura abstrata, na música e na arte não-figurativa há obras que não imitam nada.
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Teorias da arte: 2) Teoria expressivista As obras de arte são expressão de emoções. • O criador tem a intenção de provocar uma emoção no recetor da obra de arte. • A qualidade artística depende da identidade emocional entre o criador e o espetador.
L. TOLSTOI Filosofia 10º ano - MARINA SANTOS
• O criador refina a emoção transformando-a numa emoção estética. • A obra de arte evoca no espetador uma emoção que lhe permite compreender melhor os seus sentimentos. R.G. COLLINGWOOG 13
Teorias da arte: 2) Teoria expressivista «A atividade artística é baseada no facto de uma pessoa, ao receber através da sua audição ou visão a expressão do sentimento de outra pessoa, ser capaz de ter a experiência emocional que motivou aquele que a exprime. Pegando num exemplo simples: uma pessoa ri, e outra que está a ouvir fica alegre, ou uma pessoa chora, e outra que está a ouvir sente pena. Uma pessoa exprime os seus sentimentos de admiração, devoção, medo, respeito, ou amor em relação a certos objetos, pessoas ou fenómenos, e os outros são contagiados pelos mesmos sentimentos de admiração, devoção, medo, respeito ou amor em relação aos mesmos objetos, pessoas e fenómenos.» (L. Tolstoi, O que é a arte?)
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Teorias da arte: 2) Teoria expressivista «Até um homem ter expresso a sua emoção não sabe ainda de que emoção se trata. O ato de exprimi-la é, assim, uma exploração das suas próprias emoções. Uma pessoa que expressa algo, ganha assim consciência do que está a expressar, e permite aos outros ganharem consciência da emoção que há em si e neles.»
Collingwood argumenta que: • a emoção sentida pelo artista não tem originalmente valor estético; • o valor artístico do criador reside na capacidade de, através da imaginação, refinar a emoção original, transformando-a numa emoção estética transmissível; • a emoção estética é evocada na consciência do recetor da obra, permitindo-lhe compreender melhor os seus sentimentos.
( R.G. Collingwood, Os princípios da arte)
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Teorias da arte: 2) Teoria expressivista • TESE: só é arte o que for a expressão adequada de um sentimento genuíno. Uma obra é tanto melhor quanto melhor conseguir transmitir intencionalmente uma emoção ao público.
• Críticas:
Van Gogh, Os comedores de batatas (1885)
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1. Há obras que não exprimem qualquer emoção, quer porque o autor não pretendeu fazê-lo ou foi aleatório ou fingido, quer porque o espetador não a sentiu. Grande parte da arte do séc. XX diz respeito a ideias, não a emoções; muita da arte destina-se a proporcionar prazer preceptivo e não a explorar possibilidades emocionais. 2. Mesmo que uma obra de arte provoque no espetador certas emoções, não se segue que essas mesmas emoções tenham existido no seu autor. 16
Teorias da arte: 3) Teoria formalista Pollock, Autumn Rhythm (1950)
As obras de arte são objetos produzidos por mão humana, com forma significante, a qual produz emoções estéticas.
• Qualidade artística da obra depende da forma significante (a arte como pura forma). • Presença de harmonia de linhas, formas e cores nos seus elementos.
CLIVE BELL Filosofia 10º ano - MARINA SANTOS
«A teoria de Bell é essencialmente a seguinte: alguns objetos, criados por mão humana, foram dotados com o poder de produzir uma emoção estética nos espetadores sensíveis. Enquanto obras de arte é irrelevante quem os fez, quando e porquê. O poder para produzir uma emoção estética é inerente à forma significante. Esta é uma combinação de linhas, formas e cores em certas relações. Nem toda a forma é significante; mas se um objeto tem uma forma significante, tem-na por causa das relações entre esses elementos (…) é “a única qualidade comum a todas as obras de arte visual”.» (N. Warburton, O que é a Arte?) 17
Teorias da arte: 3) Teoria formalista • TESE: As obras de arte são objetos produzidos por mão humana, com forma significante que deriva da própria obra (harmonia, equilíbrio da composição dos elementos), a qual produz emoções estéticas. • Para Bell, especificamente artístico é a forma da obra, pelo que deve ser esvaziada de qualquer conteúdo. A arte não deve ter qualquer preocupação temática ou transmitir uma mensagem. • A arte abstrata é o expoente máximo desta teoria, dado que manifesta de modo superior a autonomia da arte sem qualquer intenção ou exigência de representar a realidade.
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Teorias da arte: 3) Teoria formalista Críticas: 1. A noção de forma significante não é um critério suficiente para distinguir um objeto artístico dos demais a) Nas obras de Andy Warhol, e outros artistas dos “Ready Made”, os objetos comuns foram elevados à condição de objetos artísticos. Porém, a forma que possuem, como as latas Campbell’s (sopas) ou as caixas de Brillo (detergente), são iguais às dos objetos comuns do quotidiano; b) A ideia de forma significante pode aplicar-se às obras plásticas, mas não a obras de outras formas de manifestação artística.
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Andy Warhol, Brillo Soap Pads Box, 1964
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Teorias da arte: 3) Teoria formalista Críticas (continuação): 2. A teoria formalista de Bell incorre num erro de argumentação, pois contém um argumento circular: define a emoção estética utilizando a forma significante e define a noção de forma significante pela emoção estética. 3. O conceito de “forma significante” como a característica principal e distintiva de uma obra de arte é controverso (pois todas as pinturas têm linhas, cores e formas – por ex. anúncios). 4. É criticável o facto desta teoria apenas considerar a forma e ignorar o conteúdo da obra bem como outros aspetos (ex. autor, época, emoções, mensagem, etc.).
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Mª Helena Vieira da Silva , «A Poesia Está na Rua», 1975.. Guache sobre papel. 104,7x 75 cm, Museu Calouste Gulbenkian 20
Quando é que um objeto é uma obra de arte? (síntese) TEORIA DA IMITAÇÃO As obras de arte são produções humanas que imitam a natureza ou a ação do homem.
• Reprodução da vida humana ou da natureza. • A qualidade artística depende do grau de fidelidade da reprodução.
TEORIA EXPRESSIVISTA As obras de arte são expressão de emoções. • O criador tem a intenção de expressar uma emoção para o recetor da obra de arte. • A qualidade artística depende da identidade emocional entre o criador e o espetador.
• O criador refina a emoção transformando-a numa emoção estética. • A obra de arte evoca no espetador uma emoção que lhe permite compreender melhor os seus sentimentos.
TOLSTOI
COLLINGWOOG
ARISTÓTELES
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TEORIA FORMALISTA As obras de arte são objetos produzidos por mão humana, com forma significante, a qual produz emoções estéticas.
• A qualidade artística depende da forma significante. • Esta consiste na harmonia de linhas, formas e cores nos elementos da obra. CLIVE BELL 21
TEORIAS A ARTE COMO IMITAÇÃO (Aristóteles)
CARACTERIZAÇÃO A arte consiste numa representação que visa imitar/representar a realidade (natural ou humana). 1. A arte consiste na expressão das A ARTE COMO emoções do artista; a obra deve transmite EXPRESSÃO ao espectador o mesmo sentimento que o artista experimentou. (1.Tolstoi; 2. A Arte consiste, para o criador, na 2. Collingwood) transformação das emoções em emoções estéticas; para o espetador, deverá ser uma forma de auto-compreensão. A arte é toda a obra que possui uma A ARTE COMO forma significante, i.e., uma FORMA combinação de cores, linhas e formas SIGNIFICANTE capaz de provocar uma emoção (Clive Bell) estética no espectador.
OBJEÇÕES/ CRÍTICAS Existem obras de arte que nada imitam. Se a arte fosse mera imitação, as melhores obras seriam as mais realistas – o que não é necessariamente é verdade. Existem obras de arte que não visam expressar as emoções do artista. É difícil saber qual foi a verdadeira emoção que o artista quis transmitir, tal como se aquilo que o espectador sente corresponde àquilo que o artista sentiu ou quis transmitir.
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A noção de forma significante não é um critério suficiente para distinguir um objeto artístico dos demais. O conceito de “forma significante” como a característica principal e distintiva de uma obra de arte é controverso (todas as pinturas têm linhas, cores e formas - ex. anúncios). Esta teoria apenas considera a forma e ignora aspetos como o conteúdo da obra, o autor, a sua mensagem, a época, etc. A teoria formalista de Bell incorre num erro de argumentação: argumento circular.
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Conclusão • A questão da forma como identificamos as obras de arte constitui atualmente um imperativo para os filósofos desta área.
• Examinámos 3 teorias que visam explicar como identificamos obras de arte procurando critérios que sejam condições necessárias e suficientes(definição essencialista).
• Contudo, todas parecem limitadas e plenas de objeções, o que levou um grupo de filósofos
(neowittgensteinianos) a considerar que a obra de arte não se poderia definir na sua essência mas com base num método (o das semelhanças familiares) e a considerá-la um “conceito aberto”. Também este foi criticado, pois tudo poderia ser arte, e filósofos como George Dickie voltaram a definições essencialistas como a teoria institucional da arte - ou ainda uma definição histórica da arte.
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