II.3. Dimensões da ação humana e dos valores II.3.2. A dimensão estética - análise e compreensão da experiência estética
II.3.2.1. A experiência e o juízo estéticos
Filosofia 10º ano - MARINA SANTOS
Filosofia 10ยบ ano - MARINA SANTOS
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Estética Amadeo de Souza Cardoso, Saute du lapin, 1911
• ESTÉTICA: uma das disciplinas tradicionais da filosofia, que aborda um conjunto de problemas e conceitos bastante diferentes relativos ao belo, ao gosto e à arte.
• Evolução: teoria do belo >> teoria do gosto >> filosofia da arte (atualmente) • QUESTÃO: 3 formas de encarar a estética? Gostamos de coisas belas que também são arte, mas as coisas que consideramos belas, aquelas de que gostamos e as que são arte são distintas. Gostamos de coisas que não são belas nem são arte; assim como há obras de arte de que não gostamos nem consideramos belas. Beleza ≠ Gosto ≠Arte Filosofia 10º ano - MARINA SANTOS
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Doríforo, de Policleto 450/440 a. C
Estética A. Enquanto teoria do belo, a estética defronta-se com problemas como “O que é o belo?" e “Como chegamos a saber o que é o belo?”.
perguntas que Platão colocava no séc. IV a.C. e que só indiretamente diziam respeito à arte, pois a arte consistia, para ele, na imitação das coisas belas - razão pela qual Platão tinha uma opinião desfavorável à arte, ao contrário do seu contemporâneo Aristóteles, para quem a imitação de coisas belas tinha os seus próprios méritos.
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Estética B. Os filósofos do séc. XVIII, como Hume e Kant, consideraram que é no campo da
subjetividade que se encontra a resposta para o problema do belo => a estética transformou-se em teoria do gosto, cujo problema central passou a ser o de saber como justificamos os nossos gostos. O subjetivismo estético é a doutrina defendida por estes dois filósofos, embora com tonalidades diferentes.
C. As revoluções artísticas dos séc. XIX e XX alargaram o universo de objetos que passaram a ser considerados como arte e acabaram por despertar nos filósofos vários problemas que se tornaram o centro das disputas estéticas. Alguns problemas de filosofia da arte como “O que é arte?" e “Qual o valor da arte?”, entre outros. É o domínio da Filosofia da Arte.
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Estética • A estética pode ser uma de 3: teoria do belo, teoria do gosto ou filosofia da arte.
A fonte, de Marcel Duchamp
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A teoria do belo não exclui completamente do seu domínio muitas das obras de arte e a filosofia da arte não se desinteressa completamente de algumas obras belas, tal como a teoria do gosto se pode aplicar quer a objetos belos, quer a objetos de arte. • Mas não devemos confundir os 3 domínios, pois há obras de arte que não são belas, como o célebre Urinol, de Marcel Duchamp; há obras de arte de que não gostamos, como acontece comigo em relação aos filmes do Manoel de Oliveira; há coisas belas que não são arte, como um pôr-do-sol natural e a planície alentejana; e há coisas de que gostamos que não são arte nem são belas, como a nossa caminha e melão com presunto. • Isto significa que os objetos que fazem parte da extensão dos conceitos de belo, de gosto e de arte não são os mesmos, pelo que não estamos a discutir os mesmos problemas quando discutimos cada um desses conceitos. Fonte: Aires Almeida, in http://criticanarede.com/fil_tresteoriasdaarte.html 6
Joseph Vernet: Shipwreck, 1772
Estética
• ESTÉTICA: tem origem grega e significa “perceção” (capacidade de conhecimento do mundo através da informação proveniente dos sentidos). Baumgarten consagrou o conceito: área da filosofia que estuda a perceção dos objetos, nomeadamente os objetos naturais ou os produzidos pelo ser humano, geradores de agrado. «Estudo dos sentimentos, conceitos e juízos resultantes da nossa apreciação das artes, ou da classe mais geral de objetos considerados belos ou sublimes.» (S. Blackburn, Dicionário de Filosofia)
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«A noite é sublime, o dia é belo. As almas que têm o sentimento do sublime são progressivamente erguidas às mais elevadas sensações de amizade, de desprezo do mundo, de eternidade, pelo silêncio imóvel dum serão de Verão, quando a luz tremeluzente das estrelas trespassa a sombra morena da noite e a lua solitária se apoia no horizonte. O dia resplandecente insufla um fervor ativo e um sentimento de satisfação. O sublime toca, o belo encanta.» (Kant, Crítica da Faculdade do Juízo) 7
EXERCÍCIO: Formula um juízo estético para a imagem.
Pintura sem título de 1982 que constitui um autorretrato de Jean-Michel Basquiat vendida por US$ 57,3 milhões em maio de 2016 num leilão de arte contemporânea da Christie's em N. Iorque. Filosofia 10º ano - MARINA SANTOS
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A experiência estética Vhils /Pixel Pancho, Jardim do Tabaco, Lisboa
EXPERIÊNCIA ESTÉTICA: vivência de sons, ritmos, formas, movimentos e/ou cores, acompanhada de sentimentos de agrado e de prazer, sem qualquer preocupação prática ou teórica. CARACTERÍSTICAS: UNIVERSAL
PLURAL
• Todos os povos e culturas, desde as épocas históricas mais remotas, apresentam manifestações artísticas.
• A experiência estética assume diferentes formas consoante se dá a relação percetiva e emocional do sujeito com o objeto.
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DESINTERESSADA e CONTEMPLATIVA • A apreciação do objeto não tem nenhum outro fim, nenhuma outra utilidade, para além da experiência estética.
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A experiência estética https://www.youtube.com/watch?v=aHCUoDf7KGA
MODALIDADES da experiência estética: Contemplação da natureza e objetos do quotidiano
Criação artística
Contemplação de obras de arte
Produção de um objeto original com
Apreciação estética de um objeto, de uma
o
paisagem ou de uma obra de arte pela
objetivo
de
apreciação estética.
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produzir
uma
fruição desinteressada do prazer provocado.
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O juízo estético JUÍZO ESTÉTICO: proposição na qual o sujeito expressa uma experiência estética; atribuição duma propriedade a um objeto que sintetiza a emoção e o prazer resultantes da sua fruição estética. A paisagem do Douro é bela. Gosto da arte de Magritte. Filosofia 10º ano - MARINA SANTOS
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Deep Purple, “Smoke on the water” https://youtu.be/j2hbU7na1pw
O juízo estético
• Juízo: “Na lógica aristotélica, é o ato de estabelecer uma relação entre um sujeito e um predicado, que costuma simbolizar-se como "S é P"; por exemplo: "Sócrates é mortal".” • Juízo estético: Afirmações que fazemos acerca do que é belo ou feio, acerca do que gostamos ou não e acerca dos objetos de arte chamamos "juízos estéticos". Ex.: "este pôr-do-sol é belo”; "aquela dança tem ritmo e elegância“; “a voz de Ian Gillan é fabulosa”. Contudo, nem todos os juízos acerca da arte são estéticos. Por ex. "A Quinta Sinfonia de Beethoven tem quatro andamentos" ou “o cantor Ian Gillan pertenceu às bandas Deep Purple eBlack Sabbath não são juízos estéticos. Para KANT, os juízos estéticos não têm qualquer carácter prático e são subjetivos, ao contrário dos juízos de conhecimento. Por isso, os juízos estéticos são, para Kant, juízos de gosto - ponto de vista que muitos dos filósofos posteriores rejeitam. Filosofia 10º ano - MARINA SANTOS
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A natureza do juízo estético • Na
experiência quotidiana verifica-se que existem grandes diferenças relativamente à apreciação estética de um objeto.
Lucian Freud (1922–2011), Benefits Supervisor Resting, 1994. Oil on canvas. Sold for: $56,165,000 Filosofia 10º ano - MARINA SANTOS
• Se podem existir divergências tão
grandes quanto à forma como um objeto pode afetar esteticamente os indivíduos, o problema que se coloca é o de saber qual é a natureza dos juízos estéticos. 13
A natureza do juízo estético Questão: • Os juízos estéticos dependem apenas da subjetividade daquele que aprecia, da forma como sente e como reage a um objeto, independentemente das propriedades deste?
Ou
• Os juízos estéticos assentam em qualidades
intrínsecas, i. e., em propriedades que efetivamente existem no objeto e que podem afetar todos os indivíduos? Van Gogh, Campo de trigo com corvos, 1890
A obra é bela porque gostamos dela OU gostamos dela porque é bela? Filosofia 10º ano - MARINA SANTOS
Puccini, Turandot - ária “Nessun dorma” por Pavarotti https://www.youtube.com/watch?v=9fYvVRLPVcs 14
Posições sobre a natureza do juízo estético 1. Subjetivismo estético Os juízos estéticos são subjetivos (expressam o gosto ou os sentimentos daquele que emite o juízo)
Subjetivismo estético de Kant O juízo estético é, simultaneamente, um juízo de gosto subjetivo sobre o belo e um juízo que aspira à universalidade (reconhecimento, pelos outros, da beleza atribuída ao objeto)
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«Ao afirmar que o belo é “aquilo que apraz universalmente sem conceito”, Kant não quer dizer que de facto todos dizemos que são belas as mesmas coisas, mas que só chamamos belo ao que consideramos ter direito e mérito suficiente em si mesmo para ser reconhecido como tal por toda a gente, ao passo que tal exigência de universalidade não se verifica a respeito de outros tipos de gosto: seria de uma ridícula falsa modéstia dar a entender que algo é belo só para mim». (F. Savater, As Perguntas da Vida) => não há uma definição ou representação mental que nos permita identificar inequivocamente as coisas belas; e apesar do juízo estético depender da apreciação dos sujeitos, não é um juízo de gosto meramente pessoal, pois o sentimento de prazer deve ser experimentado e reconhecida por todos. 15
Posições sobre a natureza do juízo estético 2. Objetivismo estético Os juízos estéticos são objetivos (expressam as qualidades de um objeto e não apenas o gosto daquele que emite o juízo)
Objetivismo estético de Beardsley Os juízos estéticos assentam em 3 propriedades intrínsecas aos objetos: Intensidade, Complexidade e Unidade
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Segundo Beardsley: - Se os juízos estéticos fossem meramente subjetivos, não seria possível explicitar em que consiste a experiência estética nem determinar se uma obra tem valor estético; - A experiência estética tem origem nas características percebidas pelo sujeito no objeto da experiência estética, nomeadamente a intensidade, a complexidade e a unidade. A intensidade percebida num objeto de experiência estética deriva dos sons ou das cores, consoante se trate de uma peça musical ou de uma pintura; A complexidade deriva dos diversos recursos utilizados, por ex. numa escultura ou pintura poderão ser os materiais e formas; A unidade consiste na harmonia dos vários elementos que se encaixam num todo. 16
Dimensão estética da ação humana: síntese Experiência estética
Juízo estético
Modo específico de um sujeito experimentar objetos com sentimentos de agrado e de prazer, sem qualquer preocupação de natureza prática ou teórica.
Proposição na qual o sujeito expressa uma experiência estética. Natureza do juízo
Características
Modalidades
Universal
Criação artística
Plural
Contemplação de obras de arte
Desinteressada e contemplativa
Contemplação da natureza e objetos do quotidiano
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Os juízos estéticos dependem apenas das apreciações dos sujeitos?
Os juízos estéticos derivam da perceção de qualidades intrínsecas dos objetos?
Subjetivismo estético
Objetivismo estético
KANT
BEARDSLEY 17