O Emprismo de David Hume

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David Hume O Empirismo inglĂŞs

ProfÂŞ Marina Santos - 2011

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A Filosofia Moderna (de Descartes a Kant) RenĂŠ Descartes (1596-1650)

John Locke (1632-1704)

Baruch Espinosa (1632-1677)

Gottfried Leibniz (1646-1716)

George Berkeley (1685-1753)

David Hume (1711-1776)

Immanuel Kant (1724-1804)

http://faculty.uml.edu/enelson/modern07.htm

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Filósofo escocês famoso. Considerado um empirista radical, próximo de Locke e Berkeley. Contactou com os cartesianos e foi amigo de Rousseau. Obras principais:

David HUME (1711-1776)

Investigação sobre o Entendimento Humano, Diálogos sobre a Religião Natural e Tratado sobre a Natureza Humana. Profª Marina Santos - 2011

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O Empirismo de David Hume Para Hume, todo o conhecimento começa com a experiência => os dados ou impressões sensíveis são as unidades básicas do conhecimento. O conteúdo do conhecimento divide-se em 2 estados de consciência: Impressões: são os actos originários do conhecimento; os dados da experiência presente ou actual (sensações, paixões e emoções); Ideias: são as representações ou imagens debilitadas, as cópias enfraquecidas e menos vivas da impressão original. São como que as marcas deixadas na mente pela impressões. => Entre impressões e ideias há apenas diferença de grau. Profª Marina Santos - 2011

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A fonte/origem do conhecimento

SUJEITO

Objecto

ideia

impressĂŁo

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Impressões

SIMPLES COMPLEXAS

PERCEPÇÕES

Ideias

SIMPLES COMPLEXAS

«Todas as percepções da mente humana se reduzem a dois tipos dife-rentes, que denominarei impressões e ideias. A diferença entre ambos consiste no grau de força e de vivacidade com que incidem na mente e abrem caminho no nosso pensamento e na nossa consciência. Às percepções que se manifestam com mais força e vigor na mente podemos chamar impressões e incluo sob este nome as sensações, paixões e emoções tal como fazem a sua aparição na alma. Por ideias entendo as imagens débeis das impressões quando pensamos e raciocinamos. (...) As impressões são a causa das nossas ideias.» (David HUME, Investigação sobre o Entendimento Humano) Profª Marina Santos - 2011

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Tipos de conhecimento Relação de ideias (Relations of ideas)

Conhecimento de factos (Matters of fact)

Conhecimento tautológico, Proposições cujo valor de pois P diz implicitamente o verdade tem de ser testado mesmo que S. pela experiência. Análise do significado dos Verificação experimental elementos de uma proposição.  a posteriori. Na Lógica e Matemática, não há necessidade de recorrer às Este martelo impressões sensíveis pneumático => a priori é pesado! Ex: o triângulo tem 3 lados.

Ex: este martelo é pesado

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O PROBLEMA DA INDUÇÃO DEDUÇÃO

INDUÇÃO Parte de proposições particulares e conclui uma universal (generaliza). Particular geral - A conclusão vai mais além do que as premissas. - A verdade da conclusão não é garantida com

base na verdade das premissas. - Partem do conhecido para o desconhecido => Salto lógico.

A conclusão é apenas provável Profª Marina Santos - 2011

Baseando-se em 2 ou mais premissas, conclui uma nova proposição, que delas decorre necessariamente. Geral particular A verdade das premissas e o cumprimento de regras garantem a verdade da conclusão.

A conclusão é necessariamente verdadeira (se respeitarmos as regras) 8


O problema da causalidade CAUSALIDADE: ideia de que há uma conexão necessária entre dois ou mais acontecimentos. Ex: Quando o bardo Assuranceturix canta, começa a chover. Acontecimento A

Acontecimento B

EFEITO

CAUSA Profª Marina Santos - 2011

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O problema da Causalidade Ao observarmos que um evento A tem, até agora, sido sempre seguido pelo evento B, acreditamos que da próxima vez que ocorrer A sucederá B: que o futuro será igual ao passado.

a) b) c) d)

Da observação desta conjugação como formamos a ideia de causa? Haverá um poder secreto na causa que faz com que o efeito lhe suceda? Será pelo recurso à memória? Será através do raciocínio dedutivo? Será através do raciocínio indutivo?

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Exemplo Observação de um facto: duas bolas de bilhar que chocam. -Aparece uma impressão sensível A: «Vemos uma bola de bilhar imóvel em cima da mesa e outra bola que rapidamente se move em direcção a ela»; - Seguidamente, a impressão B: «as 2 bolas chocam e aquela que antes estava quieta adquire, imediatamente, movimento». - Se continuarmos a jogar, verificaremos uma conjugação constante entre A e B: que B sucede a A. Profª Marina Santos - 2011

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O problema da causalidade  Como consequência da conjugação constante/ sucessão

regular de A e B, forma-se na nossa mente a ideia de relação causal/conexão necessária: Sempre que se dá A acontece B. Ora, estamos afinal a predizer um facto futuro:  Ultrapassamos aquilo que a experiência (única fonte dos conhecimentos de facto) nos permite;  A ideia da relação causal, de uma conexão necessária entre dois fenómenos (“sempre foi assim, sempre será assim”) é uma ideia da qual não temos uma impressão sensível.

Para Hume, não há nenhuma impressão sensível de onde derive a ideia de causa e, daquilo que não há impressão sensível, não há conhecimento verdadeiro. Profª Marina Santos - 2011

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«Tenho frequentemente considerado qual poderia ser a razão pela qual toda a humanidade, embora tenha sempre e sem hesitação reconhecido a doutrina da necessidade em toda a sua acção prática e em todos os seus raciocínios, se manifesta, contudo, relutante em reconhecê-la em palavras, tendo antes mostrado, em toda a época, uma tendência para professar opinião contrária. O facto, penso eu, pode ser explicado da seguinte maneira: se examinarmos as acções dos corpos e a produção dos efeitos a partir das suas causas, veremos que nenhuma das nossas faculdades pode levar-nos mais longe no conhecimento desta relação que a simples constatação de uma conjunção constante entre objectos particulares, e de uma tendência de o espírito passar, por uma transição costumeira, do aparecimento de um para a crença no outro. Mas embora esta conclusão acerca da ignorância humana seja o resultado do mais cuidadoso exame sobre o assunto, os homens ainda mantêm uma forte tendência para acreditar que penetraremos mais profundamente nos poderes da natureza e que perceberemos qualquer coisa semelhante a uma conexão necessária entre a causa e o efeito. (…)» (David Hume, Investigação Acerca do Entendimento Humano, 1748)

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«A tese fundamental de Hume é que a relação entre causa e efeito nunca pode ser conhecida a priori, isto é, com o puro raciocínio, mas apenas por experiência. Ninguém, posto frente a um objecto que para ele seja novo pode descobrir as suas causas e os seus efeitos, antes de os ter experimentado e apenas ter raciocinado sobre eles. (…) Ora isto significa que a conexão entre causa e efeito, mesmo depois de ter sido descoberta por experiência, permanece privada de qualquer necessidade objectiva. (…) Que o curso da natureza possa mudar, que os laços causais que a experiência nos testemunhou no passado possam não se verificar no futuro, é hipótese que não implica contradição e que por isso permanece sempre possível. Nem a contínua confirmação que a experiência faz, na maior parte dos casos, das conexões causais muda o caso: porque esta experiência diz sempre respeito ao passado, nunca ao futuro. Tudo aquilo que sabemos pela experiência é que, de causas que nos parecem semelhantes, esperamos efeitos semelhantes. Mas precisamente esta suposição não é justificada pela experiência: ela é antes o pressuposto da experiência, um pressuposto injustificável.» (N. Abbagnano, História da Filosofia, Volume VII, Editorial Presença) Profª Marina Santos - 2011

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Conclusão A ideia de causa não deriva da observação de algo nos fenómenos, mas de um costume/hábito mental: Esperamos que B aconteça quando vemos A acontecer. Contraímos assim o hábito de, dado um facto, esperarmos outro. É apenas o hábito ou costume que nos permite sair daquilo que está imediatamente presente na experiência em direcção ao futuro.

O princípio da causalidade, considerado como um princípio racional e objectivo, nada mais é, para Hume, do que uma crença subjectiva, o produto de um hábito, o desejo de transformação de uma expectativa em realidade . Profª Marina Santos - 2011

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