Unidade I. Tema 1.3.
Marcos históricos: as grandes inovações. (1ª parte) Prof. Marina Santos
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PSICOLOGIA: Um longo passado e uma curta história... Psicologia pré-científica Até 1879
Psicologia como ciência
1879: Wundt, fisiólogo alemão da Universidade de Leipzig, funda o 1º laboratório de psicologia.
A Psicologia como ramo da Filosofia: estudo especulativo da psyché (alma ou mente), de que resulta um conjunto de teorias não submetidas a testes.
Após 1879
A Psicologia como disciplina autónoma: estudo científico do comportamento e dos processos mentais. Mediante métodos que envolvem a experimentação e a observação rigorosa, elabora um conjunto de teorias submetidas a testes empíricos.
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Tema 1.3. Marcos históricos: as grandes inovações. 1) Charles Darwin
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Autor
Charles DARWIN (inglês)
Corrente
Evolucionismo.
Objecto
Evolução e continuidade dos seres vivos: adaptação e selecção natural.
Método
Observação naturalista (recolha de dados sobre o comportamento dos homens e animais no seu ambiente natural).
Darwin não foi psicólogo, contudo influenciou muito a Psicologia: 1. A teoria da evolução e o seu mecanismo geral, a selecção natural (opera de modo permanente e universal). 2. A continuidade entre os seres vivos => o Homem é também um produto da evolução, pelo que o comportamento humano é semelhante ao dos outros animais em diversos aspectos (estudar os animais para melhor compreendermos o Homem). 3. O método da observação naturalista: o recurso à observação rigorosa e à descrição objectiva e sistemática dos factos será um dos métodos usados em Psicologia.
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Ideias inovadoras de Darwin: OBSERVAÇÃO NATURALISTA (metodologia) EVOLUÇÃO e Continuidade: Processo de mudança e de ligação entre todos os organismos.
ADAPTAÇÃO: Processo fundamental da vida.
Luta pela Sobrevivência: Vence o melhor adaptado ao meio.
SELECÇÃO NATURAL: Mecanismo da evolução.
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Variação/Diversidade: As espécies e os indivíduos apresentam diferentes características.
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Charles Darwin (1809-1882) Darwin foi um naturalista inglês. Integrou uma expedição científica a bordo do H.M.S. Beagle, entre 1831 e 1836, onde viajou na qualidade de naturalista, recolhendo diversas amostras das espécies autóctones desconhecidas. observou as diversas variações em espécies semelhantes ou relacionadas com as espécies já conhecidas de plantas ou animais que estiveram isolados uns dos outros em termos geográficos. Estas observações foram a base empírica para as suas ideias sobre a evolução – método: observação naturalista. O ser humano é visto como um ser da natureza, produto de uma longa evolução biológica e resultado dos processos adaptativos ao meio.
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A evolução 1. A Reprodução permite à descendência herdar as características dos seus progenitores; 2. A Variabilidade resulta de traços herdados: existem diversas espécies e indivíduos (mutação genética); 3. As Populações tendem a lutar pelos meios de subsistência, numa luta pela vida (Thomas Malthus); 4. Da selecção natural das variedades e das espécies, resulta a permanência de algumas espécies e a extinção de outras. “Então, da guerra da natureza, a partir da fome e morte (…) resulta directamente a produção de animais superiores.” (Conclusão de “The Origin of Species” ). O ser humano é visto como um ser da natureza, produto de uma longa evolução biológica e resultado dos processos adaptativos ao meio.
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A selecção natural Selecção natural: é o mecanismo através do qual as populações se adaptam ao meio e se desenvolvem. Está relacionado com as taxas de reprodução e mortalidade: aqueles organismos individuais que conseguem adaptar-se melhor ao ambiente, sobrevivem e reproduzem-se com maior sucesso, produzindo muitos descendentes também melhor adaptados. Após numerosos ciclos reprodutivos, os melhor adaptados dominam. A natureza eliminou os menos adaptados. É um simples mecanismo que provoca mudanças ao longo do tempo nas populações de seres vivos. 5 aspectos básicos: Variação; Hereditariedade; Selecção; Tempo; Adaptação. Prof. Marina Santos
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A evolução segundo Darwin
Árvore da vida: o 1º esboço de Charles Darwin que representa o processo evolutivo e as relações entre os diversos grupos de organismos. © Syndics of Cambridge University Library
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Darwin vs. Lamarck
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Tema 1.3. Marcos históricos: as grandes inovações. 2) Wilhelm Wundt
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Uma nova ciência O alemão Wilhelm Wundt emancipou a Psicologia do domínio da Filosofia.
Wilhelm WUNDT (1832-1920)
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Autor
Wilhelm WUNDT (alemão)
Corrente Associacionismo (ou Estruturalismo). Objecto
Consciência (os processos mentais conscientes)
Método
Instropectivo (introspecção controlada)
O ser humano é visto como o produto da experiência individual e colectiva.
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O Associacionismo (ou Estruturalismo) Escola da Psicologia, segundo a qual se podem identificar os elementos básicos da consciência e descobrir como se combinam. As sensações são os componentes da estrutura da mente, cujo estudo é efectuado através da introspecção controlada. Em 1879, Wundt funda em Leipzig o 1º laboratório de Psicologia experimental, segundo o modelo dos laboratórios das ciências da natureza. => tem necessidade de eleger um novo objecto de estudo, passível de ser observado e controlado experimentalmente, ou seja, um novo método. => a Psicologia dá o 1º passo em direcção à autonomia (aproximando-se da Fisiologia e afastando-se da Filosofia).
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Consciência: objecto da Psicologia O objecto de estudo é a consciência, isto é, processos mentais ou experiências conscientes do ser humano. a consciência fora já um tema estudado pela psicologia de cariz filosófico, como “alma” ou “espírito”. Mas Wundt quer agora elevar a Psicologia ao estatuto de ciência, tendo como modelo as ciências naturais: Realiza estudos em laboratório, criando e utilizando instrumentos rigorosos de medição; Tal como a Física ou a Química, “a Psicologia deve isolar elementos e descobrir as leis das suas combinações.” Para estudar a estrutura da consciência, Wundt decompõe-na até alcançar a sua unidade básica: as sensações puras. Prof. Marina Santos
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O método: introspecção controlada O método consistia em provocar pequenas sensações (visuais, sonoras ou tácteis) em observadores bem treinados, os quais deveriam analisar e descrever o que sentiam, cabendo ao psicólogo a tarefa de anotar e interpretar os resultados. Objectivo: analisar a “experiência consciente”. Procedimento: utilização de instrumentos de medição das sensações e de observadores treinados.
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O método: introspecção controlada AUTO-OBSERVA-SE
SUJEITO
Observador igual
DESCREVE o que sente
Observado
ANOTA o que o observador diz sentir
PSICÓLOGO INTERPRETA os resultados
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Limitações do método introspectivo Apesar dos fenómenos psíquicos serem analisados em laboratório, recorrendo a instrumentos, a introspecção obriga a que o sujeito seja simultaneamente observador e observado.
Limitações do método: a) Falta de rigor: o psicólogo não pode aceder directamente à mente do observador e, portanto, verificar a veracidade das afirmações do sujeito. b) Limites de aplicação: não se destina a factos fisiológicos (observáveis e objectivos), mas a estados interiores e subjectivos; não se pode aplicar no âmbito da psicologia infantil, patológica ou animal; a introspecção esquece os fenómenos inconscientes.
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Tema 1.3. Marcos históricos: as grandes inovações. 3) John Watson
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O Behaviorismo Watson é considerado o pai da Psicologia científica. John B. Watson considera que a consciência não pode ser cientificamente estudada, pois só o comportamento é directamente observável. A psicologia deverá ser a “ciência do comportamento” => encontrar leis explicativas do comportamento humano.
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John WATSON (1878 - 1959)
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Autor John Watson (norte-americano) Corrente Behaviorismo ou Comportamentalismo Objecto
Comportamento (directamente observável)
Método
Experimental
Watson considera que, no desenvolvimento, são determinantes os factores do meio (e não os factores inatos ou a personalidade). Os comportamentos são adquiridos segundo processos de condicionamento, sem interferência da hereditariedade (influência de Pavlov). Nós somos o que fazemos (reduz-nos aos comportamentos) e o que fazemos é o que o meio nos faz fazer (somos determinados pelo meio).
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O objecto da Psicologia: O comportamento
No artigo “A psicologia tal como o behaviorista a vê”, Watson considera que, com Wundt, a psicologia teve uma falsa partida: «Tratou de apegar-se à tradição com uma das mãos, enquanto que com a outra puxava para o lado da ciência». A intenção de Wundt de fazer da psicologia uma ciência esbarrou com a impossibilidade de tratar objectivamente o seu objecto de estudo - os fenómenos psíquicos ou de consciência -, pois estes são, por natureza, interiores ao sujeito e, portanto, inobserváveis do exterior por parte do psicólogo. Para ser uma ciência, a Psicologia terá de cortar com todo o seu passado - objecto e método - e constituir-se como um ramo objectivo e experimental da ciência. Prof. Marina Santos
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Behaviorismo ou Comportamentalismo Corrente
da Psicologia, segundo a qual só se pode conhecer, com rigor, o comportamento objectivamente observável, cujo estudo é efectuado através de um método científico: método experimental. Watson pretendia para a Psicologia o mesmo estatuto da Biologia: o psicólogo, tal como o cientista, deve trabalhar apenas com dados provenientes de observações rigorosas e objectivas,acessíveis a qualquer observador externo e imparcial. Watson elege, portanto, como objecto de estudo o comportamento (behavior) e só este. Como ciência do comportamento, a psicologia estuda o binómio situação-reacção (S-R).
R = f (S) A resposta (R) é função/depende da situação (S) Prof. Marina Santos
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A influência de Pavlov Ivan PAVLOV (fisiólogo russo): Pavlov procurou explicar o comportamento de forma objectiva e experimental, e descobriu que muitos dos comportamentos dos animais são aprendidos segundo as leis do condicionamento. Assim, seria possível desenvolver reflexos condicionados (respostas aprendidas que assentam na associação de estímulos). Watson procurou «aplicar ao estudo experimental do homem a espécie de métodos e o mesmo vocabulário descritivo que muitos pensadores julgam vantajoso no estudo dos animais inferiores».
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O condicionamento nos seres humanos As experiências de Pavlov deram a Watson a ideia de que poderia aplicar o processo de condicionamento ao Homem:
«Dai-me uma dúzia de crianças sadias, bem constituídas e a espécie de mundo que preciso para as educar, e eu garanto que, tomando qualquer uma delas ao acaso, prepará-la-ei para se tornar um especialista que eu seleccione: médico, comerciante, advogado, mesmo pedinte ou ladrão, independentemente dos seus talentos, inclinações, tendências e aptidões, assim como da profissão e raça dos seus antepassados»
=> nós somos o que fazemos; o que fazemos é resultado do meio: no desenvolvimento da criança, só o ambiente é importante (os comportamentos são adquiridos por condicionamento).
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Críticas à perspectiva behaviorista:
Watson tornou a psicologia objectiva, mas ignorou o Homem: O ser humano é uma máquina, certamente com uma mecânica extremamente complicada, mas cujo estudo é inteiramente possível mediante o uso exclusivo de métodos objectivos. Watson ignora que comportamentos mais complexos e especificamente humanos, como a linguagem, pensamento e emoções, não são redutíveis à fórmula proposta pelo behaviorismo (S -->R): não tem em conta a interioridade e personalidade humanas. Prof. Marina Santos
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Tema 1.3. Marcos históricos: as grandes inovações. 4) Sigmund Freud
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A Psicanálise A teoria psicanalítica foi criada por Sigmund Freud (judeu austríaco). A Psicanálise é, simultaneamente, - um método, método - uma teoria da mente - uma técnica terapêutica que se centra nos conflitos, motivos e defesas a nível do inconsciente. Prof. Marina Santos
Sigmund FREUD (1856-1939)
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A Psicanálise Autor
Sigmund FREUD (austríaco)
Corrente
Psicanálise
Objecto
O inconsciente
Método
Psicanalítico
A teoria de Freud foi muito controversa, porque: 1) se afastava da perspectiva behaviorista dominante; 2) enfatizava a vertente sexual e irracional do Homem, um tópico que os cientistas da época evitavam abordar. Prof. Marina Santos
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Ideias inovadoras Nova concepção do psiquismo; Concepção de uma natureza humana dominada por pulsões e motivações inconscientes; Afirmação de uma sexualidade infantil; Afirmação da importância da infância no comportamento adulto. Um conjunto de novas técnicas terapêuticas: a psicanálise. Prof. Marina Santos
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Teorias sobre o psiquismo humano Antes de 1920, Freud está centrado na exploração do inconsciente e na terapia de certas doenças (só mais tarde alargará a sua metodologia à análise de outros domínios - História da Humanidade, Religião e Arte). A mente é comparada a um icebergue, composta por Consciente, Subconsciente e Inconsciente. A partir de 1920, reformula-a e acentua o dinamismo do psiquismo: - Id: passa a representar a ancestralidade da espécie humana e é o motor de toda a energia psíquica (impulsos contraditórios de Eros-amor e Thanatos-morte). O inconsciente torna-se impessoal. Rege-se pelo princípio do prazer. - Ego: rege-se pelo princípio da realidade, o que convém ou não fazer. É o árbitro dos conflito entre Id e Superego. - Super-Ego: passa a representar a cultura, os valores sociais e familiares. Corresponde à consciência moral e ao Ideal de Eu. O Super-Ego é o responsável pela auto-repressão e censura, produzindo sentimentos de culpa e auto-crítica.
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As duas tópicas do aparelho psíquico
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A 1ª tópica (1900) Realização de actos voluntários e racionais
CENSURA
Pulsões de natureza sexual e agressiva
Os comportamentos e processos mentais são representados simbolicamente por um icebergue: o inconsciente é a dimensão mais vasta, situada nas profundezas do psiquismo mas que actua sem que nos apercebamos. A passagem dos impulsos e desejos inconscientes é controlada por um mecanismo: a censura – que recalca aquilo que é passível de perturbar-nos. Contudo, a censura não consegue impedir que as pulsões (sobretudo as sexuais e agressivas) se manifestem, pois estas encontram formas substitutivas e indirectas de manifestação.
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As manifestações do inconsciente No inconsciente, não há inocência nem arbitrário psíquico: tudo tem um sentido! Ao psicanalista cabe reconhecer e interpretar as manifestações do inconsciente, usando técnicas como: - Interpretação do sonhos; - Associações livres; - Análise dos actos falhados; - Análise da transferência.
Conflitos recalcados
TERAPIA: análise dos sonhos e outros meios de aceder ao inconsciente. Compreensão dos conflitos
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Resolução dos conflitos
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O paciente deve estar à vontade: deita-se confortavelmente num divã e o psicanalista senta-se fora do seu campo de visão, intervindo apenas o estritamente necessário.
Técnicas terapêuticas psicanalíticas: Associações livres
- O psicanalista pede ao analisado que diga tudo o que sente e pensa, sem qualquer omissão, mesmo que o assunto lhe pareça sem importância, desagradável ou absurdo. => manifestar-se-ão resistências, desejos e recordações que o analista interpretará.
Interpretação dos sonhos
- O psicanalista pede ao analisado que lhe relate os sonhos, que considera serem a realização simbólica e disfarçada de desejos recalcados. => O analista dará um sentido aos sonhos, distinguindo o conteúdo manifesto (o que é recordado e consciente) do conteúdo latente (o recalcado e censurado, inconsciente).
Análise dos actos falhados
- O psicanalista está atento a erros involuntários como trocar nomes, esquecer palavras ou fazer uma coisa quando queríamos fazer outra, pois mesmo os “deslizes” têm um significado oculto – são manifestações do inconsciente. => O psicanalista está atento a estes sinais e deve torná-los compreensíveis ao paciente.
- A transferência é um processo em que o analisado transfere para o psicanalista Análise da transferência os sentimentos de amor/ódio vividos na infância, sobretudo em relação aos pais. => O psicanalista anota, analisa e dá então a conhecer a sua interpretação.
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Ideias-chave da psicanálise : Grande parte da vida mental, incluindo pensamentos, sentimentos e motivos, é inconsciente – razão pela qual as pessoaspor vezes agem de um modo que nem elas próprias compreendem. A mente realiza muitas tarefas em simultâneo e portanto pode entrar em conflito consigo mesma. Os conflitos intrapsíquicos têm na sua base uma luta entre o Id e o Superego (entre a moralidade e desejos de cariz sexual). Os eventos da infância são importantes na modelação da personalidade do adulto, especialmente no que respeita aos estilos das relações sociais (vinculação). As relações estabelecidas com agentes significativos (como os pais) formam padrões que tendem a ser repetidos nas relações posteriores com outrem. O desenvolvimento psicológico envolve a passagem de um estado desregulado, imaturo e autocentrado para um estado mais cuidadosamente regulado, maduro e em que as relações c/ outros fora do círculo familiar se tornam mais importantes. (Weston, D., The scientific legacy of S. Freud: Toward a psychodyanically informed psychological science,1998)
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