Unidade 2. Processos cognitivos e emocionais.
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Objectivos do tema 2.2. • Objectivo geral: Adquirir uma perspectiva
do papel da emoção no comportamento. • Objectivos específicos: ... 26. Explicar o papel da emoção. 27. Analisar o papel das emoções na vida social. Profª MARINA SANTOS
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26. A) O que é uma emoção ?
Etimologicamente, emoção provém do verbo latino “movere” e do prefixo“e”, que significa mover para, para o que sugere movimento e exteriorização. «(…) as emoções, tal como o termo indica, referem-se ao movimento, ao comportamento exteriorizado, são determinadas cadeias de reacções a uma dada causa, num certo ambiente.» António Damásio (2000), The Feeling of What Happens: Body, Emotion and the Making of Consciousness, p.70
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•
As emoções desempenham um papel fundamental nos processos de adaptação e de comunicação dos seres humanos. Quer no desenvolvimento individual, individual quer no da espécie humana. As emoções correspondem a vivências de prazer e de dor, alertam-nos para o perigo, condicionam a tomada de decisões e contribuem para criar laços com os outros. As emoções são impulsos para agir. Profª MARINA SANTOS
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26. B) Qual é a diferença entre Emoções, Afectos e Sentimentos? • AFECTO: estado psicológico elementar que determina
sensações agradáveis ou penosas no indivíduo, em função dos sentimentos que nutre em relação a objectos. • EMOÇÃO: reacção curta e intensa do organismo a um acontecimento inesperado, que é acompanhada de uma tonalidade afectiva agradável ou desagradável. • SENTIMENTO: estado afectivo relativamente estável, de média intensidade e com papel moderador nas relações que o sujeito estabelece com a realidade. • Os afectos exprimem-se através de emoções e remetem para o passado. São organizados pelas experiências emocionais repetidas, pelo que se vão construindo e estruturando a vida mental do indivíduo. Profª MARINA SANTOS
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EMOÇÕES
progressão
SENTIMENTOS
Emoções geram sentimentos e estes, por sua vez, despertam as emoções, num ciclo contínuo.
Emoções
Sentimentos
O começo de um processo contínuo.
O final de um processo contínuo.
São públicas - observáveis pelos outros.
São privadas: não directamente observáveis pelos demais.
Processo transitório, brusco e agudo, Estado mental resultante da acompanhado de alterações somáticas. intelectualização das emoções (e dos afectos). Só em parte podemos controlar a Processo subjectivo e cognitivo, expressão das emoções, pois estas que requer consciência das desencadeiam respostas neuronais e emoções. fisiológicas predominantemente inconscientes e involuntárias. 7 Profª MARINA SANTOS
26. C) Quais são as componentes das emoções? • Componente fisiológica • Componente cognitiva • Componente social A emoção é um comportamento de início súbito que:
Envolve todo o organismo (componente Fisiológica); Altera o conhecimento que temos do mundo
(componente Cognitiva); Prepara-nos para a acção, comunicando com os outros (componente Social). Profª MARINA SANTOS
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A função biológica das emoções é dupla: • Visa a produção de uma reacção específica
para a situação indutora da emoção (fuga, ataque, imobilização, etc.) • Permite a regulação do estado interno do organismo, de modo a prepará-lo para essa reacção específica (aceleração dos ritmos cardíaco e respiratório, etc.) Profª MARINA SANTOS
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Emoção e Fisiologia O sistema nervoso autónomo controla as reacções fisiológicas: Divisão simpática (excita)
Divisão parassimpática (acalma)
Dilata pupilas
OLHOS
Decresce
SALIVAÇÃO
Transpiração
PELE
Aumenta
RESPIRAÇÃO
Acelera
CORAÇÃO
Inibe
DIGESTÃO
Segrega hormonas do
GLÂNDULAS
stress Profª MARINA SANTOS
Contrai pupilas Aumenta Seca Decresce Abranda Activa Decresce a segregação de hormonas 10
Estruturas fundamentais no processo emocional Córtex orbitofrontal: Parte da região frontal do encéfalo, ligada ao sistema límbico, particularmente importante no planeamento e coordenação de comportamentos destinados a atingir objectivos.
Amígdala: Complexo de massa cinzenta, em forma de amêndoa, localizado na região subcortical, próximo dos lobos temporais. Integra o sistema límbico e é um centro fundamental de controlo dos estados emocionais e condutas agressivas – medo e ira
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Um sinal segue 1º da retina para o tálamo. tálamo A maior parte dos dados segue então para o córtex visual, visual onde é recebida, analisada em termos de significado e resposta adequada; se essa resposta for emocional, envia um sinal para a amígdala, amígdala que activa os centros emocionais. Contudo, descobriu-se que uma pequena parte do sinal é enviada directamente do tálamo para a amígdala, amígdala permitindo uma resposta mais rápida. Profª MARINA SANTOS
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D) Existem universais independentes da cultura? • • •
Quantas emoções podemos experimentar? Será que, tal como as cores primárias se combinam para gerar outras cores, também o leque das emoções se obtém a partir de emoções primárias? Quais são, então as emoções básicas/primárias?
Darwin propôs uma lista de 6 emoções básicas ou primárias: alegria, tristeza, medo, surpresa, aversão e ira. São universais e resultam do processo evolutivo. Outros acrescentaram as emoções secundárias ou sociais: inveja, compaixão, culpa, vergonha, simpatia, etc. Estão associadas às relações sociais e aspectos culturais aprendidos. Damásio introduziu ainda os «sentimentos de fundo»: emoções que expressam o estado interior geral do organismo num dado momento – fadiga, energia, bem-estar, entusiasmo, letargia, instabilidade, etc.
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Para detectarem as emoções básicas, os psicólogos definiram alguns critérios: 1º As emoções básicas têm de ser praticamente as mesmas em todas as pessoas das diferentes culturas, obedecendo a uma espécie de padrão natural com tendência para a generalidade ou universalidade. Alegria e Tristeza.
2º As emoções básicas têm que aparecer muito cedo na vida do Homem. Assim, têm grandes hipóteses de assentar numa base inata, não dependendo da experiência da pessoa. => Medo e Ira. Profª MARINA SANTOS
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Universalidade e diversidade das emoções
• Emoções básicas: Há um conjunto finito de emoções universais. • Expressões faciais: alegria, espanto, medo, tristeza, ira, repulsa. • Dimensões da emoção: Valências (bom – mau); Despertar das emoções/ manifestação (forte - fraco). • Acções & Objectivos (aproximação / afastamento) Profª MARINA SANTOS
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Emoções primárias • As bases biológicas inatas, subjacentes aos processos
emotivos, bem como a congruência nas diversas culturas da expressividade emocional ligada às emoções primárias (alegria, tristeza, medo, ira, espanto e repulsa) evidenciam a dimensão universal dos processos emocionais. • Contudo, embora as emoções primárias pareçam ser expressas da mesma maneira em diversas culturas, as regras de manifestação emocional definem, em cada cultura, quando e como as emoções devem ou podem ser exibidas. Profª MARINA SANTOS
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Emoções secundárias • As
emoções secundárias, em que os aspectos socioculturais são mais acentuados (como a culpa ou vergonha), revelam a influência decisiva do processo de socialização e dos padrões culturais interiorizados. • As emoções secundárias não são universais, pois dependem em larga medida das variações socioculturais aprendidas e reproduzidas culturalmente. => As emoções são, portanto, processos adaptativos e autoreguladores complexos, de natureza biocultural. Profª MARINA SANTOS
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A cultura e a personalidade não anulam os mecanismos biológicos da emoção, mas exercem certa influência: Conferem uma forma individual àquilo que poderá constituir o estímulo de determinada emoção => há diversas percepções; Dão uma forma individual a alguns aspectos da expressão da emoção => há reacções diferentes a uma dada situação; Dão forma individual à cognição e aos comportamentos que se seguem à emoção => há interpretações diferentes dos dados. • As emoções primárias são inatas, correspondendo a um equipamento básico
necessário à sobrevivência, desencadeadas pelo sistema límbico. Estão já presentes nos bebés e crianças. • As emoções secundárias envolvem uma avaliação cognitiva dos acontecimentos, o que remete para aprendizagens e associações de estímulos. Exigem a actuação do córtex pré-frontal, sobretudo nas áreas do hemisfério direito. Profª MARINA SANTOS
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Teorias da emoção
O coração bate fortemente porque se tem medo? Ou Tem-se medo porque o coração bate fortemente? 19
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1. Perspectiva evolucionista (Darwin, Ekman) Darwin relacionou as emoções com a evolução das espécies: A obra A Origem das Emoções nos Homens e nos Animais, publicada em 1882, foi uma tentativa de perceber as bases biológicas do comportamento. O livro propôs a ideia de que as expressões que denotam as emoções humanas são universais; a sua existência e reconhecimento seriam independentes de fronteiras culturais, linguísticas ou geográficas; as expressões mais básicas são determinadas biologicamente e estão relacionadas com as dos animais. => as emoções possuem funções adaptativas e fazem parte do património genético da humanidade.
Paul Ekman estudou diferentes culturas e concluiu: As emoções são universais, independentes das culturas; As emoções humanas são comparáveis às de outras espécies; As emoções estão associadas a processos fisiológicos específicos; As emoções estão associadas a mecanismos automáticos de avaliação; As emoções desencadeiam um sistema coerente de respostas; As emoções são espontâneas, rápidas e de curta duração. Profª MARINA SANTOS
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2. Perspectiva fisiológica (Wiliam James) As emoções são desencadeadas por informações do corpo,
informações fisiológicas desencadeadas por estímulos do meio. James crê que sentimos medo porque sentimos os sinais corporais do medo: palpitações, tremores, suor, pernas a fraquejar... A emoção é uma sensação e sem a sensação física ela não existe: as emoções acontecem DEPOIS das reacções fisiológicas Estímulo/ Situação
Reacções Fisiológicas INATAS
Emoção (medo)
(palpitações)
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3. Perspectiva cognitivista As emoções são desencadeadas pelas interpretações que faze-
mos da situação, resultam de formas de pensar e avaliar o mundo. A intensidade e a qualidade das emoções depende sobretudo de processos cognitivos => ênfase no aspecto mental.
Visualização do carro
Palpitações (reacção fisiológica)
(percepção do estímulo)
Medo (emoção)
Avaliação cognitiva “Tenho medo” Profª MARINA SANTOS
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4. Perspectiva integrada (António Damásio) • Interacção entre os aspectos biológicos e mentais: CORPO
AFECTA
MENTE
• As emoções requerem 2 processos paralelos: - Processos cognitivos (representação constante do estímulo;
representação do estado do corpo; representação integrada de ambas); e - Sinais físicos das emoções, estados do corpo que nos informam da presença de uma emoção, permitindo-nos decidir o que fazer: os “marcadores somáticos” Estes modelam o estilo de raciocínio, o nível de eficiência e a velocidade de processamento da informação –a emotividade Profª MARINA SANTOS
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4. Perspectiva integrada (António Damásio) • «Os
marcadores somáticos são um caso especial do uso de sentimentos que foram criados a partir de emoções secundárias. secundárias Estas emoções e sentimentos foram ligados, ligados por via da aprendizagem, a certos tipos de resultados futuros ligados a determinados cenários. Quando um marcador somático negativo é justaposto a um determinado resultado futuro, a combinação funciona como uma campainha de alarme.» (A. Damásio, 1995) • Mecanismo automático que orienta a tomada de decisões. • O marcador somático informa o córtex cerebral sobre as decisões a tomar => a razão necessita da emoção para ser eficaz. A tomada de decisões depende de vias complementares: raciocínio e experiências emocionais anteriores. => interdependência entre processos cognitivos e emocionais. Profª MARINA SANTOS
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5. Perspectiva culturalista • As emoções são modeladas por processos de socialização e
dependem das características da cultura em que estamos inseridos. • São comportamentos aprendidos, transmitidos culturalmente num processo semelhante ao da linguagem: a emoção é uma construção social. Estímulo/ Situação
Reacções Fisiológicas APRENDIDAS
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Emoção (medo)
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27. A) Emoção e Interacção social • As emoções têm um papel importante na vida social. As emoções são moldadas pela cultura • Existe um conjunto de emoções básicas universais, mas muitas das
nossas experiências emocionais resultam da aprendizagem de normas culturais que orientam - como, quando e onde expressar as emoções As emoções são expressas por diferentes canais • Na interacção social, as expressões emocionais orientam as pessoas umas face às outras. • A voz e o rosto têm autonomia emocional, mas é o corpo na globalidade que transmite e exprime a fidelidade emocional. => os sinais corporais da emoção são uma linguagem compreendida por todos os seres humanos. • Contudo, existem situações enganadoras, em que os diferentes canais de comunicação das emoções expressam significados diferentes ou mesmo contraditórios. Profª MARINA SANTOS
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27. A) Emoção e Interacção social As emoções são comportamentos subjectivos • As emoções ligam-se a sistemas de crenças e a formas subjectivas de pensar: todos temos critérios para avaliar o mundo e são estes que nos permitem valorar uma situação como aceitável ou não. As emoções têm funções sociais • As emoções têm consequências sociais: alterem o pensamento e o comportamento, comunicam intenções e desejos, intervêm na avaliação de situações e nas decisões. • A tristeza é uma emoção curiosa: à partida, parece uma emoção a evitar; contudo, prepara-nos para evitarmos situações que podem ser prejudiciais. • As emoções podem modelar o comportamento futuro: promovem aprendizagens que orientam na escolha de respostas apropriadas • São funções sociais das emoções: preparação para a acção; modelação de comportamentos futuros; e regulação da intervenção social. Profª MARINA SANTOS
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Funções sociais das emoções • Dão informação sobre situações. 1 Individual • Preparam para responder às situações (mesmo sem a consciência
do que está a acontecer). 2 Relação dual
• Permitem-nos reconhecer as intenções dos outros.
3 Relação grupal
• Permitem identificar os membros do grupo e definir laços
4 Cultural
• Promovem a identidade cultural.
• Desencadeiam nos outros emoções complementares e recíprocas. • Incentivam ou bloqueiam o comportamento dos outros.
grupais. • Permitem definir estatutos e papéis. • Permitem a negociação entre membros do grupo. • Apoiam as práticas de socialização. • Concretizam e perpetuam ideologias e estatutos de poder. Profª MARINA SANTOS
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27. B) Emoção e Cognição As emoções produzem informação que se traduz em mais-valias
cognitivas: aliamos aquilo que sabemos àquilo que sentimos; e as emoções contribuem para o conhecimento. Um ser que tenha dificuldade em sentir emoções será sem dúvida um ser mais pobre nas suas relações com o mundo e os outros. No domínio da atenção, sabemos que as emoções tendem a concentrar-nos no objecto que as desencadeia. No campo da memória, qualquer situação que produza uma forte emoção, positiva ou negativa, é recordada com maior facilidade e mais detalhes. Mas como é que as emoções contribuem para pensar, quando são descritas como uma fúria sem razão? As emoções funcionam como guias, orientam-nos tal como um mapa que sugere itinerários possíveis para um caminho a percorrer. Profª MARINA SANTOS
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