Teorias sobre livre-arbitrio

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O PROBLEMA DO LIVRE-ARBÍTRIO O problema do livre-arbítrio consiste em saber se é possível afirmar ao mesmo tempo que:

• •

“tudo o que acontece é o resultado de uma causa” (determinismo) e “a ação humana é um acontecimento livre, não determinada por causas externas ou internas ao agente” (livre-arbítrio)

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TEORIAS SOBRE O LIVRE-ARBÍTRIO Teorias que negam o livre-arbítrio

Teorias que defendem o livre-arbítrio

Determinismo radical*

Determinismo moderado (Compatibilismo)

Indeterminismo*

Libertismo*

 Teorias compatibilistas: o livre-arbítrio é compatível com o determinismo. Posição que defende a tese que todos os acontecimentos são causados, mas, apesar disso, o homem tem a possibilidade de fazer opções que dependem da sua vontade. É o caso do determinismo moderado.  Teorias incompatibilistas: defendem que o livre-arbítrio não é compatível com o determinismo. É o caso das restantes teorias (*), as quais negam a liberdade da vontade e/ou o determinismo aplicado às ações humanas. HÁ LIVRE-ARBÍTRIO? Há liberdade de escolha e, portanto, responsabilidade? NÃO SIM HÁ DETERMINISMO? As ações são causadas?

SIM

-Determinismo radical*

- Determinismo moderado

NÃO

- Indeterminismo*

- Libertismo*

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LIVRE-ARBÍTRIO ?

DETERMINISMO ? S N I Ã M O

Compatibilismo

Determinismo moderado

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Libertismo

DETERMINISMO ? S N I Ã M O Determinismo radical

Indeterminismo

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DETERMINISMO •

Determinismo: tudo o que acontece é o efeito/resultado de um acontecimento anterior. Assim, os acontecimentos não ocorrem devido ao acaso, têm sempre uma causa que, ao ser conhecida, permite compreender a razão de ser dos factos => o acontecimento X causou o acontecimento Y (por exemplo: ao largar uma caneta, a existência da força gravítica é a causa da sua queda para o solo). => conhecido o nexo causal entre determinados fenómenos, é possível prever a sua ocorrência, pois supomos que há uma relação necessária entre a causa e o efeito: a presença de um conduz inevitavelmente à ocorrência do outro.

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DETERMINISMO VS. FATALISMO Há muitas histórias que sublinham que não podemos evitar o nosso destino. Eis uma delas: o discípulo de um sufi de Bagdade estava um dia sentado numa estalagem quando ouviu duas figuras conversarem. Compreendeu que uma delas era o Anjo da Morte. — Tenho várias visitas a fazer nesta cidade — disse o Anjo ao seu companheiro. Aterrorizado, o discípulo escondeu-se até que ambos finalmente se afastaram. Para escapar à morte, aparelhou o mais rápido cavalo que encontrou e cavalgou dia e noite até Samarcanda, uma distante cidade do deserto. Entretanto, a Morte encontrou o seu mestre, com quem conversou sobre diversos assuntos. «Onde está o teu discípulo?», perguntou a Morte. — Suponho que está em casa a estudar, como é o seu dever — disse o sufi. — É estranho — disse a Morte. Tenho-o na minha lista e vou amanhã visitá-lo a Samarcanda. O futuro será o que será. Todos os acontecimentos se encontram já inscritos na origem do tempo. Logo, nada faças. » FATALISMO

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DETERMINISMO VS. FATALISMO Determinismo é muito diferente de Fatalismo.

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Fatalismo: é a tese de que alguns acontecimentos são inevitáveis, independentemente do que possamos decidir ou fazer, i.e., as nossas decisões não têm eficácia causal. Os nossos desejos e crenças não fazem qualquer diferença relativamente às nossas ações e àquilo que nos acontece. Contrariamente, o determinismo, seguindo o modelo newtoniano, afirma que as nossas crenças e desejos não são impotentes: controlam causalmente aquilo que fazemos e, portanto, influenciam aquilo que nos acontece. De acordo com o fatalismo, não faz sentido tentar fazer seja o que for. Se está destinado alguém obter um 20 numa certa disciplina, então é isso que essa pessoa irá obter, quer se esforce para isso quer não; e se está destinado que alguém obterá um 7, será isso a acontecer, quer a pessoa tente evitá-lo quer não. Por outro lado, pensar que o nosso esforço influencia o que nos acontece — pensar que tentar faz diferença para a nota que se obtém — é rejeitar o fatalismo. (Eliot Sobber)

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DETERMINISMO VS. FATALISMO

“(…) voltando ao fatalismo, a verdade é que não há uma justificação racional ou filosófica de âmbito geral em que se apoie. O fatalismo corresponde a uma disposição, a um estado de espírito em que nos julgamos desprovidos de todo o controlo, a um sentimento de que somos apenas espectadores da nossa própria vida. Este estado de espírito nem sempre se justifica. (…) Se os nossos melhores esforços redundam em nada com alguma frequência, precisamos de consolo, e os pensamentos acerca de um destino infinito e inflexível são por vezes consoladores. Todavia, estes pensamentos não são apropriados quando se trata de agir. Não é seguro pensar, enquanto conduzimos um carro, que tanto faz virar o volante ou carregar nos travões. Não é verdade que os nossos melhores esforços redundem em nada.” (Simon Blackburn, Pense)

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1) INDETERMINISMO •

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O Indeterminismo teve origem nas teorias da física quântica de modo a explicar os fenómenos do mundo subatómico. => não é possível prever acontecimentos futuros pois não encontramos na realidade padrões regulares de causalidade. Se a realidade é indeterminada, então os efeitos são aleatórios e a realidade não é passível de ser conhecida.

Indeterminismo: “Conceção segundo a qual alguns acontecimentos não têm causas: limitam-se a acontecer e nada há no estado prévio do mundo que os explique. Segundo a mecânica quântica, os acontecimentos quânticos têm esta propriedade.” (S. BLACKBURN, Dicionário de filosofia)

Contudo, a ação humana e o processo de decisão exigem que se tenha algum conhecimento do que se está a escolher e das suas consequências para que a decisão tenha um mínimo de razoabilidade. Caso contrário, a escolha é impossível ou absurda. Não há livre-arbítrio (ou responsabilidade), nem causalidade necessária num mundo indeterminado. FILOSOFIA 10º ANO - MARINA SANTOS

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2) DETERMINISMO RADICAL •

Determinismo radical: esta conceção filosófica aplica a ideia do determinismo não só os fenómenos da natureza como também as ações humanas. Se admitirmos que as ações humanas são acontecimentos (efeitos explicáveis a partir de outros acontecimentos que os originaram - as causas, que podem ser fatores de ordem educacional, psicológica, genética, por exemplo), então não faz sentido defender a existência daquilo que cada um de nós julga experienciar muitas vezes em determinadas circunstâncias: a possibilidade escolher o caminho por onde queremos ir, i.e., não existe livre-arbítrio. Determinismo radical: Posição sobre o problema do livre-arbítrio segundo a qual a existência de sequências causais necessárias/ constringentes que estão na origem dos acontecimentos não é compatível com o livre-arbítrio. => Posição incompatibilista que assume a posição de que não há liberdade da vontade, uma vez que o ser humano está determinado por causas que escapam à sua vontade.

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DETERMINISMO RADICAL: ARGUMENTO DE ESPINOSA “A liberdade é uma ilusão. Os seres humanos creem que são livres simplesmente pela razão de que não têm consciência das suas volições e desejos, quando são completamente ignorantes em relação às causas pelas quais as suas ações são determinadas.” (Espinosa) Espinosa define um ser livre como aquele que se autodetermina. Tese: a mente humana não é livre porque a vontade do agente é determinada. Argumento: os seres humanos creem ser livres porque têm consciência dos desejos que estão presentes na sua vontade, mas ignoram as causas desses desejos e essas causas escapam à sua vontade. A prova disso, é que os homens agem segundo emoções e impulsos que não controlam e cuja existência ignoram.

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DETERMINISMO RADICAL: ARGUMENTO DE ESPINOSA “As ideias de Espinosa sobre o livre-arbítrio eram controversas. Era um determinista, o que significa que acreditava que qualquer ação humana resultava de ações anteriores. Uma pedra lançada ao ar, se pudesse tornar-se consciente como um ser humano, imaginaria que se movia por sua própria vontade, embora isso não fosse verdade. De facto, aquilo que a movia era a força do lançamento e os efeitos da gravidade. A pedra pensava que era ela que controlava o movimento e não a gravidade. O mesmo acontece com os seres humanos: imaginamos que escolhemos livremente o que fazemos e que temos controlo sobre as nossas vidas. Mas isto é porque, normalmente, não compreendemos a origem das nossas escolhas e ações. Na verdade, o livre-arbítrio é uma ilusão. Não existe qualquer ação livre espontânea.” (N. Warburton, Uma pequena história da filosofia) FILOSOFIA 10º ANO - MARINA SANTOS

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DETERMINISMO RADICAL Como se justifica que nos possamos arrepender das nossas ações, se não formos livres para escolhê-las? • O sentimento de arrependimento ou remorso parece perder o sentido. A responsabilidade moral perde validade. Se nas nossas ações somos tão determinados como uma pedra que cai ao ser solta no ar, faz tão pouco sentido responsabilizar uma pessoa pelos seus atos quanto faz sentido responsabilizar a pedra por ter caído.

•O

determinismo radical ao defender a inexistência do livrearbítrio nega, consequentemente, a possibilidade de atribuir responsabilidade moral àquele que praticou a ação: uma pessoa só pode responder pelas consequências das ações se estas resultaram da sua livre escolha. Quando a causa destas reside em fatores exteriores ao sujeito, que ele não domina (como por exemplo: a educação, as experiências anteriores, os fatores genéticos) e que o “obrigam”, sem que ele tenha consciência disso, a agir de um modo determinado, a atribuição do mérito ou da culpa deixa de fazer qualquer sentido. FILOSOFIA 10º ANO - MARINA SANTOS

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CRÍTICAS AO DETERMINISMO RADICAL • •

A rejeição do livre-arbítrio face ao determinismo é o determinismo radical. “Será que podemos viver com esta filosofia deprimente? Os filósofos têm de procurar a verdade, por mais difícil que esta seja de aceitar. Talvez o determinismo radical seja uma dessas verdades difíceis. Os deterministas radicais poderiam tentar «minimizar os estragos», argumentando que a vida sem liberdade não é tão má como se poderia pensar. A sociedade poderia ainda punir os criminosos, por exemplo. Os deterministas radicais têm de negar que os criminosos merecem punição, visto que os crimes não foram cometidos livremente. Mas podem dizer que a punição tem ainda uma utilidade: punir os criminosos afasta-os das ruas e desencoraja os crimes futuros. Ainda assim, aceitar o determinismo radical é quase impensável. Tão-pouco é claro que pudéssemos deixar de acreditar no livre-arbítrio ainda que quiséssemos fazê-lo. Se o leitor encontrar alguém que afirma acreditar no determinismo radical, eis uma pequena experiência a ensaiar. Dê-lhe um murro na cara com muita força. Depois tente convencê-lo a não o culpar. Afinal, segundo ele, o leitor não teve escolha senão esmurrá-lo! Prevejo que terá muita dificuldade em convencê-lo a praticar o que prega.” (Theodore Sider, Livre-arbítrio e Determinismo) FILOSOFIA 10º ANO - MARINA SANTOS

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CRÍTICA AO DETERMINISMO RADICAL • • •

1ª Objeção: a experiência empírica mostra-nos a possibilidade de livrearbítrio; as nossas ações diárias assentam sobre a convicção de que existem alternativas, vários cursos de ação possíveis e que podemos escolher efetivamente um. 2ª objeção: os deterministas radicais confundem sequência causal com sequência causal necessária. Assim, não está empiricamente provado que as causas que atuam sobre a ação humana o fazem de modo necessário, por ex. tal como a gravidade exerce uma força necessária sobre a pedra. 3ª Objeção: o sentimento de arrependimento ou remorso parece perder o sentido. Como se justifica que possamos arrepender-nos das nossas ações, se não formos livres para escolhê-las? A responsabilidade moral perde igualmente validade. Se nas nossas ações somos tão determinados como uma pedra que cai ao ser lançada, faz tão pouco sentido responsabilizar uma pessoa pelos seus atos quanto faz sentido responsabilizar a pedra.

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2) DETERMINISMO RADICAL - SÍNTESE • •

Tese: Posição sobre o problema do livre-arbítrio que afirma que a existência de sequências causais necessárias/constringentes que estão na origem dos atos humanos não é compatível com o livre-arbítrio. Argumentos: a) Todos os acontecimentos são o resultado de uma série infinita de causas e efeitos que tornam os acontecimentos previsíveis e que definem apenas um curso possível no mundo. b) O livre-arbítrio é a possibilidade de, perante as mesmas circunstâncias, escolher entre alternativas, criando vários efeitos possíveis. c) A liberdade é uma ilusão decorrente da ignorância sobre as verdadeiras causas que determinam a vontade e a ação. Objeções: a) O determinismo radical defende que o livre-arbítrio é uma ilusão decorrente da ignorância das verdadeiras causas da ação, mas esta posição não consegue eliminar a verdade indiscutível de que experienciamos a liberdade da vontade. b) Confundem sequência causal com sequência causal necessária. c) O sentimento de arrependimento ou remorso parece perder o sentido, tal como a responsabilidade moral perde igualmente validade. FILOSOFIA 10º ANO - MARINA SANTOS

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3) LIBERTISMO • • • •

O libertista defende que: 1. Temos livre-arbítrio; 2. Nega o determinismo, pois considera-o incompatível com o livre-arbítrio. O mundo ao nosso redor é causalmente determinado, mas as nossas decisões e ações escapam à determinação causal. Cada umas das nossas escolhas poderia ter sido diferente, mesmo que tudo o resto fosse igual. Mas, como sabemos que poderia ter sido diferente? Porque temos uma experiência direta do ato de escolher. O que é escolher? É dar início a uma cadeia causal, que não foi determinada por nada mais do que a nossa própria escolha. Sentimos que somos livres quando tomamos decisões e quando temos vontade de agir, pois podemos decidir sempre de outro modo ou agir de outra forma. Esta experiência é de tal modo direta que até para nos livrarmos da responsabilidade de escolher temos de escolher fazê-lo. Temos a experiência direta do ato de escolher. Escolher é inevitável – e é a manifestação do nosso livre-arbítrio. O libertista considera que a nossa experiência direta da escolha é muito mais forte do que quaisquer teorias que nos digam que tudo está determinado.

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3) LIBERTISMO “Os libertistas resolvem o conflito entre o livre-arbítrio e o determinismo rejeitando o determinismo. A sua ideia-chave é que as pessoas são especiais. A marcha da ciência, subjugando os fenómenos observados a leis sem exceções, está limitada ao domínio não-humano. Para os libertistas, a ciência é boa naquilo que consegue alcançar, mas nunca conseguirá prever completamente o comportamento humano. Os seres humanos, e só estes, transcendem as leis da natureza: são livres. (…) Alguns libertistas tratam este problema postulando um tipo especial de causalidade que só os seres humanos têm, a chamada causalidade do agente. A causalidade mecânica comum, o tipo de causalidade que se estuda na Física e nas outras ciências puras, obedece a leis. As causas mecânicas são repetíveis e previsíveis: se repetir a mesma causa, uma e outra vez, é garantido que o mesmíssimo efeito ocorre de cada vez. A causalidade do agente, por outro lado, não obedece a leis. Não há como dizer de que modo um ser humano livre irá exercer a sua causalidade do agente. A mesma pessoa em circunstâncias exatamente semelhantes pode, por causalidade do agente, causar coisas diferentes. Segundo a teoria da causalidade do agente, o leitor age livremente quando a sua ação não é causada no sentido comum, mecânico, mas é causada por si – por causalidade do agente.” (T. Sider, Livre arbítrio e Determinismo) FILOSOFIA 10º ANO - MARINA SANTOS

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3) LIBERTISMO - SARTRE

Jean Paul-Sartre (1905 - 1980), filósofo francês

Jean Paul-Sartre, um filósofo libertista, argumenta que a liberdade é possível pois “a existência precede a essência”: o Homem nada é senão aquilo que faz, como se constrói a si mesmo e ao mundo.

Sartre não nega que os seres humanos nasçam num determinado contexto histórico, político, social, cultural e que tenham um corpo que obedece a condicionantes químicas, físicas e biológicas. Contudo, para Sartre nenhuma destas condicionantes define as escolhas que vamos fazer e o tipo de pessoas que seremos em função dessas escolhas. FILOSOFIA 10º ANO - MARINA SANTOS

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CRÍTICAS AO LIBERTISMO •

1ª crítica: o libertista não tem bons argumentos a favor da sua tese de que o livre-arbítrio não é uma ilusão. Para o libertista, a experiência da livre escolha, porque é direta, não pode ser uma ilusão. No entanto podemos estar enganados... Imaginemos a hipótese de que não temos livre-arbítrio: Tal significa que sempre que escolhemos o caminho 2 não poderíamos ter escolhido o caminho 1 ou 3. Há alguma contradição nesta hipótese? Não. Se não temos livre-arbítrio, estamos determinados a escolher o caminho 2, mas temos a ilusão de que poderíamos ter escolhido 1 ou 3. Também continuaríamos a ter a ilusão de fazer escolhas livres. E porquê? Porque estar determinado a escolher o caminho 2 é muito diferente de alguém nos obrigar a escolher esse mesmo caminho. Assim, a dificuldade do libertista é não conseguir excluir a hipótese da nossa impressão de livre-arbítrio ser ilusória. • 2ª crítica: a teoria não inclui uma conceção plausível de escolha. Nietzsche é um grande crítico do libertismo, pois defende que as nossas escolhas não são possíveis se não forem determinadas por crenças e desejos, e acrescenta que crenças indeterminadas não são escolhas. Assim, escolher é ser determinado internamente pelas nossas crenças e desejos. FILOSOFIA 10º ANO - MARINA SANTOS

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3) LIBERTISMO - SÍNTESE • Tese libertista: O homem é livre por ter a possibilidade de escolher

e de ser o autor das suas ações. Nega o determinismo, por considerá-lo incompatível com o livre-arbítrio. Argumentos que sustentam o libertismo: a) Na natureza podem existir causas necessárias, que obrigam a um único desfecho possível do curso dos acontecimentos, mas, na ação humana, existem causas livres, que decorrem da vontade do agente, e que são suficientes para que a ação ocorra; b) Por autoanálise, o agente descobre-se como tendo várias alternativas de ação, podendo optar por uma; c) O homem não tem uma essência predeterminada; torna-se no que é pelas escolhas que realiza. Objeção ao libertismo: Ausência de provas de que o agente efetua o autocontrolo da sua ação, de que efetivamente é ele quem determina a ação e não uma causalidade externa que desconhece ou mesmo uma causalidade interna (desejos e motivos inconscientes). FILOSOFIA 10º ANO - MARINA SANTOS

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4) DETERMINISMO MODERADO

Os deterministas moderados (compatibilistas) defendem que, apesar das condicionantes, os seres humanos possuem margem de liberdade para agirem e que as suas decisões implicam escolhas entre opções possíveis. FILOSOFIA 10º ANO - MARINA SANTOS

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4) DETERMINISMO MODERADO • • • • •

Combina/ compatibiliza duas teses:  Existe determinismo;  Temos livre-arbítrio. Não afirma que tudo está determinado, mas que a ideia de causalidade é compatível com o livre-arbítrio. Agimos livremente quando as nossas ações resultam da nossa vontade, crenças e desejos. Se escolhemos fazer algo e se nada nos impede de o fazer, então estamos a exercer o nosso livre-arbítrio. A escolha é o resultado causal de ter certas crenças ou desejos que surgem por um processo natural (se a ação decorrer sob efeito de uma droga, doença ou de hipnose, as suas decisões não são livres). Então, desde que não sejamos obrigados ou forçados a escolher algo, e desde que a nossa personalidade seja formada de maneira natural, a nossa escolha é livre.

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CONDICIONANTES DA AÇÃO Os defensores do compatibilismo defendem que a o livre-arbítrio existe mas que não é absoluto, uma vez que a ação é condicionada, i.e., determinada por condicionantes. 1) Condicionantes fisíco-biológicas (2 níveis distintos mas interdependentes): 1.A) Condicionantes físico-biológicas da espécie: características que partilhamos com os indivíduos da nossa espécie, enquanto seres humanos, que constituem limitações derivadas do nosso ADN e que determinam a constituição fisiológica e a anatomia do nosso corpo (por ex. não temos asas, pelo que não podemos voar). 1.B) Condicionantes físico-biológicas individuais: características físicas e biológicas de um indivíduo (estatura, cor dos olhos, doenças hereditárias, etc.) ou de um grupo de indivíduos (formato dos olhos, cor da pele, etc.) 2) Condicionantes psicológicas: a personalidade de cada indivíduo condiciona o modo como atua e se relaciona com os outros. Características como a força de vontade, a timidez, o conformismo ou o pessimismo condicionam a ação, permitindo-nos prever qual será a conduta mais provável. 3) Condicionantes histórico-culturais: a época histórica e o meio sociocultural influenciam o nosso modo de ser, pensar e agir dos sujeitos.

Condicionantes da ação humana: Fatores externos à vontade do agente que, por um lado, orientam, limitam e restringem a ação humana e, por outro, são condições de possibilidade da ação. FILOSOFIA 10º ANO - MARINA SANTOS

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CRÍTICAS AO DETERMINISMO MODERADO O Determinismo Moderado considera que o determinismo e o livre-arbítrio são compatíveis. O desejo do agente é o último elemento de uma cadeia causal constituída por causas que o agente não controla, mas que não lhe tiram a liberdade. Desde que nenhuma coação imediata o impeça de agir de acordo com esse desejo, o agente é livre. A sua ação é simultaneamente determinada e livre. Mas como pode a ação ser, simultaneamente, causada por fatores externos ao agente e ser livre? A liberdade do agente pode ser ilusória, apenas por desconhecimento das causas que determinaram a escolha. Muitos críticos do Determinismo Moderado consideram que não. Argumentam que, para que se possa considerar que o agente foi livre ao realizar uma certa ação, é indispensável que tivesse possibilidades alternativas de ação – o que não sucede se todas as ações forem determinadas por causas anteriores. Assim, “Há possibilidades alternativas quando o agente no momento imediatamente anterior à sua decisão, tem ainda diante de si mais do que um curso de ação e a ação podia ter sido diferente do que foi mantendo-se todos os outros fatores inalterados. Ele disporia de alternativas reais se, e só se, a sua decisão pudesse ter sido outra, mantendo-se tudo o mais idêntico: as circunstâncias em que se encontrava, mas também a sua personalidade, as suas crenças e os seus desejos.” (Adaptado de: Paulo Ruas, “O Problema do Livre-arbítrio”, blog Crítica na Rede) FILOSOFIA 10º ANO - MARINA SANTOS

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4) DETERMINISMO MODERADO -SÍNTESE • Tese: É possível compatibilizar o livre-arbítrio e o determinismo.

Há causas que atuam mas a liberdade da vontade pode ser livre. Argumentos: a) Existe uma diferença entre causa necessária/constringente e a determinação causal da ação pelo agente. b) As condicionantes da ação podem determinar e limitar algumas ações, mas são também a condição de possibilidade de escolha e de realização de atos livres pelo ser humano. Objeção ao compatibilismo: um agente foi livre ao realizar uma certa ação caso tivesse possibilidades alternativas de ação – o que não sucede se todas as ações forem determinadas por causas anteriores. Ora os deterministas moderados não têm argumentos suficientemente fortes para justificarem que o livre-arbítrio não é uma ilusão – podemos apenas desconhecer as causas internas e externas que determinaram necessariamente a ação.

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SÍNTESE DAS TEORIAS SOBRE O PROBLEMA Temos livre-arbítrio? SIM

NÃO

INDETERMINISMO

O livre-arbítrio é uma ilusão, pois tudo é aleatório.

DETERMINISMO RADICAL:

O livre-arbítrio é uma ilusão, pois tudo está causalmente determinado.

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LIBERTISMO:

Somos livres e o universo não é determinado.

DETERMINISMO MODERADO:

Somos livres apesar de o universo ser determinado.

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SÍNTESE DAS TEORIAS SOBRE O PROBLEMA INDETERMINISMO

DETERMINISMO RADICAL

LIBERTISMO

DETERMINISMO MODERADO

Todos os acontecimentos são determinados por causas necessárias/ constringentes.

Rejeita

Aceita

Rejeita

Aceita

Há livre-arbítrio, i.e., liberdade da vontade.

Rejeita

Rejeita

Aceita

Aceita

O agente é responsável pelos seus atos.

Rejeita

Rejeita

Aceita

Aceita

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O PROBLEMA DO LIVRE-ARBÍTRIO Por que é relevante considerarmos os agentes livres? Se o determinismo radical (ou o indeterminismo)

for verdadeiro não faz sentido atribuir responsabilidade ao agente pelas consequências dos seus atos (não há mérito ou culpa).

• Porém, toda a ação humana nos domínios da ética, política

e direito, e todas as convicções e regras que temos nestes domínio, assentam na ideia de que o agente é dotado de liberdade da vontade e, portanto, pode ser responsabilizado pelas consequências boas ou más da sua ação. => só tem importância refletir sobre o melhor caminho e as melhores razões para agir se houver liberdade de escolha para o fazer. FILOSOFIA 10º ANO - MARINA SANTOS

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O PROBLEMA DO LIVRE-ARBÍTRIO • John • •

Searle, na obra Mente, Cérebro e Ciência discute o problema do livre-arbítrio e as várias posições existentes. Considera que ainda não há provas suficientes para sustentar de que forma estados mentais intencionais podem interferir com o mundo físico sem ser através de relações causais de tipo determinista. No entanto, também conclui que a inexistência dessa explicação não elimina uma auto-perceção fundamental dos seres humanos – a crença de que são livres. Nota: ler o texto complementar fornecido pela docente

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O PROBLEMA DO LIVRE-ARBÍTRIO “A experiência da liberdade é uma componente essencial de qualquer caso do agir com uma intenção. Não podemos abandonar a convicção de liberdade, porque essa convicção está inserida em toda a ação intencional e consciente. E usamos essa convicção para identificarmos e explicarmos as ações. Este sentido de liberdade não é apenas uma característica da deliberação, mas é parte de qualquer ação, seja premeditada ou espontânea.” John Searle, Mente, cérebro e ciência (adaptado).

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O PROBLEMA DO LIVRE-ARBÍTRIO «(...) Como muitos filósofos salientaram, se existe um facto da experiência com que estejamos familiarizados, é o facto simples de que as nossas próprias escolhas, decisões, raciocínios e cogitações diferem do nosso comportamento efetivo. Há toda uma série de experiências que temos da vida em que parece ser um facto da nossa experiência que, embora tenhamos feito uma coisa, temos a certeza de sabermos perfeitamente bem que poderíamos ter feito alguma coisa mais. E sabemos que poderíamos ter feito alguma coisa mais porque escolhemos algo em virtude de determinadas razões. Mas tínhamos consciência de que havia também razões para escolher outra coisa e, na verdade, poderíamos ter escolhido essa outra coisa. (...) A liberdade humana é precisamente um facto da experiência. Se desejarmos alguma prova empírica deste facto, poderemos sem mais aludir à possibilidade que sempre temos de falsificarmos algumas predições que alguém possa ter feito acerca do nosso comportamento. Se alguém prediz que vou fazer alguma coisa, posso muito bem não fazer essa coisa. Ora bem, este tipo de opção não está à disposição dos glaciares que se movem pelas montanhas abaixo ou das bolas que rolam em planos inclinados ou dos planetas que se movem em torno das suas órbitas elípticas.» John Searle, Mente, cérebro e ciência FILOSOFIA 10º ANO - MARINA SANTOS

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Análise do texto anterior:

• Tese: O livre-arbítrio é uma constatação empírica para o agente. • Argumentos apresentados pelo autor: 1º) vivenciamos a possibilidade de escolha (experienciar a liberdade é experienciar a possibilidade de escolha entre várias razões e vários cursos de ação, i.e., diversas alternativas de ação); 2º) vivenciamos a imprevisibilidade da ação (essa possibilidade de escolha torna o comportamento humano imprevisível, ao contrário dos restantes acontecimentos - que são previsíveis).

Objeções ao determinismo radical: Este defende que o livre-arbítrio é uma ilusão decorrente da ignorância das verdadeiras causas da ação, mas esta ideia não consegue eliminar a experiência e crença na liberdade da vontade.

• Conclusão:

o problema do livre-arbítrio mantém-se em aberto: Ainda que estes argumentos (possibilidade e imprevisibilidade da ação) não expliquem totalmente de que forma o agente livre se autodetermina, a experiência indiscutível da liberdade mantém o problema em aberto. FILOSOFIA 10º ANO - MARINA SANTOS

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CONCLUSÃO “Estamos perante um enigma filosófico característico. Por um lado, um conjunto de argumentos muito poderosos força-nos à conclusão de que a vontade livre não existe no Universo. Por outro, uma série de argumentos poderosos baseados em factos da nossa própria experiência inclina-nos para a conclusão de que deve haver alguma liberdade da vontade, porque a experimentamos a todo o tempo.” Jonh Searle (1987). Mente, cérebro e ciência. => O problema do livre-arbítrio é:

• Um

problema em aberto: apesar de haver argumentos fortes e relevantes que negam o livre-arbítrio, temos a experiência deste. Um problema filosófico relevante e com interesse prático: muitas convicções e regras nos domínios da ética, da política e do direito dependem da ideia de que o agente é livre e, portanto, pode ser responsabilizado pelas suas ações. FILOSOFIA 10º ANO - MARINA SANTOS

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