Maringá, Maringás... Um ensaio miudinho ao modo de prefácio
Vejam só. Bastam quinze minutos a consultar os dicionários, especializados ou não, para se descobrir que há muitas maneiras de se definir a palavra “cidade” e abordar seu conteúdo. Muitas e tão diversificadas que qualquer tentativa de listá-las está fadada, de antemão, ao fracasso. Contentemo-nos, então, com ir direto ao ponto. Miguel Fernando levou-nos para o mundo das imagens. A Maringá cujas memórias ele pretende desatar neste livro nos é apresentada como que numa galeria de pequenos quadros que contam enormes histórias. Portanto, é a cidade como visualidade, ou melhor, como representação visual e, principalmente, representação da representação visual, que me interessa comentar nestas linhas cheias de admiração e entusiasmo. Para levá-las adiante chamo como guias seguros o teórico literário francês Roland Barthes (1915-1980) e o arquiteto e designer italiano Renato de Fusco (n.º 1929). Em um de seus ensaios, muito lidos e influentes ainda hoje, Barthes afirmou crer, “[…] quiçá com uma certa presunção, na possibilidade de uma semiótica da cidade”. O que seria isso? Antes de mais nada, seria ver uma cidade, qualquer cidade, como um conjunto de sinais, como um emaranhado de mensagens que, com cautela, poderíamos tentar decifrar. Foi desse jeito que ele se encantou com Tóquio e nela enxergou um império do signo. Vamos imaginar o professor francês a fumar seu charuto percorrendo as ruas de Maringá. Vamos imaginar que estamos a seu lado, tímidos, reverentes, afoitos, assustados. Somos caçadores de mensagens. Ambicionamos transcrever o longo texto que a cidade escreve. Mas, sejamos sensatos, vamos nos limitar a tentar transcrever algumas sentenças e parágrafos. Já estará de bom tamanho. Na mesma época em que o teórico literário parisiense estava bem vivo e atuante, o napolitano Renato de Fusco propôs que compreendêssemos a arquitetura e, por extensão, o tecido urbano, como meios de comunicação de massa (mass medium). Ele também defendia que, ao encararmos os objetos construídos, devíamos nos deter em decifrar e transcrever o que eles nos dizem. Não apenas o que disseram seus criadores a respeito do que pretendiam ter criado, mas as vozes dos próprios objetos. É claro que as intenções contam. E como contam. No entanto, também contam os resultados não intencionais — e são estes que instigam a escuta dos barulhos e dos signos. Há cidades que, por diversos motivos, como, por exemplo, o traçado planejado de algumas de suas partes, a expressividade de seus monumentos ou a incidência de uma relação enfática — serena ou tensa, neste caso, tanto faz — entre meio ambiente e sociedade, exorbitam esse potencial de interpretação semiológica. Maringá é uma delas. 21