GESTÃO DO CAPITAL DE GIRO AULA 02 DETERMINAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO: O MODELO DINÂMICO.
AULA 02 - DETERMINAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO: O MODELO DINÂMICO.
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DETERMINAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO: O MODELO DINÂMICO Certamente, você já percebeu que o capital de giro e sua correta administração envolve um processo contínuo de tomada de decisões por parte dos administradores. Essas decisões são realizadas diariamente e diferem-se apenas pelo maior ou menor impacto no capital de giro disponível para a empresa. Um administrador consciente e sabedor de suas atividades deverá preservar a liquidez da empresa, assim como sua rentabilidade. Quando isso não acontece, não é difícil ocorrerem falências ou concordatas, até mesmo de empresas reconhecidamente grandes e fortes nos setores em que atuam. Invariavelmente, empresas que sofreram tais processos apresentaram um excesso de imobilizações, tornaram-se insolventes e perderam a capacidade de honrar seus compromissos por falta de capital de giro. No geral, tudo isso indica que recursos financeiros que deveriam financiar o capital de giro foram desviados para outras finalidades, que os planos de expansão não avaliaram devidamente as necessidades adicionais de recursos para financiar o giro das operações ou, ainda, podem ter ocorrido dispêndios financeiros com ativos que não diziam respeito à MISSÃO da empresa. Basicamente, o capital de giro corresponde às aplicações no ativo circulante e contempla também os passivos circulantes. A tabela a seguir apresenta uma demonstração das principais contas do ativo e passivo circulantes: Ativo Circulante Caixa Bancos com movimento Títulos e valores mobiliários Aplicações financeiras Duplicatas a receber Estoques de produtos acabados Estoques de matérias-primas Outros valores a receber
Passivo Circulante Duplicatas descontadas Empréstimos bancários de C.P. Fornecedores Salários a pagar Encargos sobre salários Impostos a pagar Dividendos a pagar Controladas e coligadas
Ativos Circulantes Nas contas do ativo circulante, ocorrem frequentes alterações (mutações). Uma empresa industrial, por exemplo, precisa transformar os estoques de matérias-primas em estoques de produtos em elaboração e, finalmente, em estoques de produtos acabados. Percebe-se que o simples processo de transformação alterou o saldo de três contas do
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ativo. Passivos Circulantes Os passivos circulantes podem ser classificados em passivos de funcionamento e passivos de financiamento. Os passivos de funcionamento são constituídos por fontes não onerosas de recursos, geradas espontaneamente pelas atividades operacionais, como: salários a pagar, encargos sociais, impostos a recolher, etc. Os passivos de financiamento são fontes onerosas de recursos por envolverem encargos financeiros, como: empréstimos bancários e duplicatas descontadas. Capital de Giro Líquido ou Capital Circulante Líquido (CCL) As empresas sempre viverão com uma situação real e que independe do ramo de atividade ou porte da empresa. Consiste no fato de que há exata determinação das épocas em que deverão ser efetuados os pagamentos relativos aos passivos circulantes, mas o mesmo não ocorre com as entradas de caixa provenientes das atividades de produção, vendas e cobrança. Qualquer empresa sofre com esse descompasso, pois precisa buscar nas fontes os recursos necessários à sua atividade. Isso gera compromissos com datas definidas para pagamento e os aplica em ativos que resultarão no produto ou serviço que ela comercializa. Normalmente, isso é feito concedendo prazo de pagamento aos seus clientes e assumindo o risco inerente das duplicatas a receber. Vejamos a seguinte demonstração: Ativo Circulante (AC) CCL’ Ativos não circulantes (RLP+AP)
Passivo Circulante (PC) CCL” Recursos de Longo Prazo e Permanentes (ELP+PL)
Observe que: CCL’ = CCL” e que podemos chegar às seguintes constatações: • CCL’ = AC – PC, ou seja, AC = PC + CCL”, demonstrando que o ativo circulante é financiado pelo passivo circulante e pelo capital circulante líquido. • CCL” = (ELP + PL) – (RLP + AP), demonstrando que o capital circulante líquido é o excedente dos recursos de longo prazo e permanentes sobre os ativos não circulantes.
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LIQUIDEZ Analisando pela primeira constatação acima (CCL’= AC-PC), podemos afirmar que o capital circulante líquido oferece uma situação financeira confortável para que a empresa possa liquidar seus compromissos de curto prazo. E então, concluímos que quanto maior for o CCL’, menor o risco de insolvência. Porém, devemos ter cuidado nessa análise para não corrermos o risco de fazê-la inadequadamente, de maneira a criar uma ilusão de que a empresa tem dinheiro disponível para seus pagamentos. Observe a participação dos estoques no saldo do CCL’ e verifique se, além de significativo, sua venda é demorada. Se tais verificações forem confirmadas, a leitura da capacidade financeira da empresa deve ser alterada. Empresas que possuem altos níveis de estoques merecem uma análise mais cuidadosa quando a questão é capacidade de pagamento de seus compromissos de curto prazo. Qual a garantia de que tais estoques sejam convertidos em dinheiro rapidamente? E, mais que isso, os recursos oriundos das vendas serão integralmente recebidos? E em que prazo? Outra análise a ser feita é a respeito do montante das contas a receber e a pagar. Exemplo: encontramos a situação de grande volume de duplicatas a receber com prazos superiores há 120 dias e as obrigações de curto prazo vencem em 60 dias. Nesse caso, a empresa vendeu seus produtos e/ou serviços a um prazo superior ao do pagamento de seus compromissos. Isso exige uma ação que resulte em saldo suficiente para pagamento das dívidas, como o levantamento de empréstimos bancários ou descontar antecipadamente parte das duplicatas a receber. Em contrapartida, o CCL’ baixo nem sempre significa problemas ou dificuldades financeiras. Um caso típico pode ser verificado em uma rede de supermercados que compra a prazo de seus fornecedores e gira rapidamente seus estoques através da venda à vista, obtendo grande volume de dinheiro correspondente às exigências ainda não vencidas. Ela aplica o dinheiro no mercado financeiro e obtém, no mínimo, bons lucros. Outros casos em que o CCL’ reduzido, ou até mesmo negativo, podem não representar situação dificultosa são as empresas de energia elétrica e de telefonia. Elas contam com elevado grau de certeza quanto às entradas de caixa, pois são serviços que o consumidor não pode deixar de pagar. Salvo as possíveis exceções, o CCL’ elevado constitui indicador de boa liquidez da empresa. Outras fontes importantes são os índices de liquidez, que, em regra geral, ao serem tomados isoladamente pela ótica da liquidez, quanto maior for o valor de um indicador, maior tende a ser a liquidez da empresa.
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Observe o quadro demonstrativo a seguir que demonstra os principais indicadores
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de liquidez de uma empresa. Tipo
Descrição
Liquidez corrente Liquidez seca Liquidez imediata CCL
Conceito R$ recebíveis em curto prazo Ativo Circulante Passivo para cada R$ exigível em curto Circulante prazo. R$ recebíveis em curto prazo Ativo Circulante – Estoques (exceto estoques) para cada R$ Passivo Circulante exigível em curto prazo. Disponível * Passivo R$ disponíveis para cada exigível Circulante em curto prazo. Total de R$ excedentes em AC - PC relação ao total de R$ exigíveis em curto prazo.
* Disponível = caixa + bancos + aplicações financeiras de liquidez imediata.
Fonte: VIEIRA, M.V. Administração Estratégica do Capital de Giro. São Paulo. Atlas, 2005.
LIQUIDEZ II Vamos analisar mais e melhor a questão liquidez com auxílio do balanço patrimonial na sequência: ATIVO Ativo Circulante Caixa/Bancos Aplic. Financ. Clientes Estoques Outras contas Realiz. L.P. Permanente Total Ativo
ANO 2003 4.450 100 1.660 1.140 1.200 350 450 5.500 10.400
ANO 2004 5.440 140 1.200 2.450 1.650 0 550 4.170 10.160
PASSIVO Passivo Circulante Inst. Financeiras Dividendos a pagar Fornecedores Salários/encargos Impostos Exig. L.P. Patrimônio Líquido Total Passivo
ANO 2003 4.250 700 100 3.100 350 0 150 6.000 10.400
ANO 2004 3.300 1.950 200 700 450 0 480 6.380 10.160
O cálculo dos indicadores selecionados - demonstrados anteriormente - indica que a posição da empresa no ano 2004 foi superior – os indicadores mais elevados nos permitem concluir que a empresa obteve melhor liquidez naquele ano:
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Descrição CCL Liquidez corrente Liquidez seca Liquidez imediata
Ano 2003 200 1,05 0,76 0,41
Ano 2004 2.140 1,65 1,15 0,41
Mas, observando mais atentamente as fontes e aplicações dos dois anos da empresa, verificaremos que, no ano de 2003, a empresa obteve seus recursos de curto prazo basicamente dos fornecedores (3.100) e possuía aplicações de curto prazo direcionadas basicamente para as aplicações financeiras. Já em 2004, a empresa obteve recursos de curto prazo na sua maior parte junto aos bancos e os utiliza para o financiamento aos clientes. A situação da empresa é diametralmente oposta: em 2003 obteve dinheiro dos fornecedores e aplicou nos bancos; em 2004 obteve dinheiro dos bancos e aplicou nos clientes. Então, agora, poderíamos concluir que, a partir dos valores assumidos pelos índices de liquidez, estes não refletem a realidade. Numa análise direta, afirmamos que a situação apresentada em 2003 é melhor, pois aplicar dinheiro dos fornecedores no mercado financeiro é melhor do que pegar dinheiro dos bancos e colocar nas mãos dos clientes. Isso tudo nos indica que há mais a saber sobre liquidez das empresas. Para tal, analisemos a seguinte questão: Quando uma empresa que vende R$ 1.000,00 por dia, concedendo 30 dias de prazo aos seus clientes e operando com inadimplência zero, terá à sua disposição o saldo dos valores registrados nas contas a receber de clientes para com eles realizar seus pagamentos?
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A resposta será dada através da seguinte demonstração: DIA 1 2 3
VENDAS 1.000 1.000 1.000
RECEBIMENTOS 0 0 0
CLIENTES 1.000 2.000 3.000
28 29 30 31 32
1.000 1.000 1.000 1.000 1.000
0 0 0 1.000 1.000
28.000 29.000 30.000 30.000 30.000
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50 51 52
1.000 1.000 1.000
1.000 1.000 1.000
30.000 30.000 30.000
Observe que o saldo da conta de clientes cresce até ficar estável no 30º dia de operações, pois a partir dele começa o vencimento do prazo concedido. A partir do 30º dia, o saldo de clientes não varia, pois ocorre venda e recebimentos de R$ 1.000,00. Portanto, a empresa não poderá contar com o saldo de clientes para pagar suas obrigações, pois o dinheiro não está com ela, e sim com os clientes. Tudo isso é necessário para que possamos compreender e avaliar o impacto das operações da empresa e sua liquidez. ATIVO Ativo Circulante Disponível Clientes (-) Duplicatas descontadas Estoques Outros valores a receber Realizável a L.P. Permanente Total do Ativo
R$(milhares) 67.084 7.693 44.245 (19.090) 30.989 3.247 6.672 27.944 101.700
PASSIVO Passivo Circulante Fornecedores Outras obrig. a pagar Exigível a L.P. Patrimônio Líquido Capital social Reserva de capital Lucros acumulados Total do Passivo
R$(milhares) 36.316 14.035 22.281 20.363 45.021 30.240 10.407 4.374 101.700
a)
Liquidez corrente: AC / PC = 67.084/36.316 = 1,85
b)
Liquidez seca: AC-Estoques / PC = 67.084-30.989 / 36.316 = 0,99
c)
Liquidez imediata: Disponível / PC = 7.693/36.316 = 0,21
d)
CCL’ : AC – PC = 30.768
Pelo índice da alternativa a), a empresa possui R$ 1,85 para cada R$ 1,00 de dívida. Quando excluímos os valores do Estoque, eles podem demorar para serem transformados em dinheiro. Na alternativa b), o resultado é de R$ 0,99 para cada R$ 1,00 de dívida. Finalmente, quando apanhamos apenas os valores que já estão disponíveis para uso, na alternativa c), o resultado é de apenas R$ 0,21 para cada R$ 1,00 de dívida.
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a)
Em geral, CCL’ elevado significa boa liquidez para empresas.
b)
Há considerável variação entre os resultados dos índices de liquidez.
c) Deve-se ter especial atenção quando uma empresa apresenta a conta de Estoques muito elevada. É importante destacar que a avaliação da liquidez com base no valor do CCL não é suficiente para conclusões mais definitivas, o que é explicado principalmente por seu volume depender das características operacionais de atuação da empresa - política de estocagem, prazo de produção e venda, etc. -, das condições de seu setor de atividade e da sincronização entre pagamentos e recebimentos. Na prática, é possível deparar com empresas que apresentam um CCL baixo ou, eventualmente, negativo, mas que convivem com boa liquidez de caixa. Ao contrário, também podem ser verificadas empresas com CCL mais elevado, mas que trabalham em situação de restrição de caixa - dificuldade financeira -, refletindo num nível desfavorável de sincronização entre os prazos de realização de seus ativos e pagamento de seus passivos circulantes. Empresas do mesmo porte e setor de atividade podem ainda apresentar volumes diferenciados do CCL em função de suas características operacionais internas e de suas posturas perante o risco. Nesses casos, pode-se concluir, de forma mais genérica e estritamente vinculada ao objetivo da liquidez, que aquela empresa que apresentar maior CCL será a de maior folga financeira. Deve ser acrescentado também que o crescimento absoluto ou percentual do CCL não fornece base totalmente adequada para conclusões a respeito da liquidez de uma empresa. É importante que se trabalhe complementarmente com índices financeiros de liquidez que relacionam também valores correntes compatíveis entre si.
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BALANÇOS E BALANÇOS O Balanço Patrimonial é uma demonstração contábil regulada por legislação e com objetivo de evidenciar a situação patrimonial de uma empresa em determinado período. A apresentação tradicional mostra o balanço como um quadro no qual as diversas contas encontram-se agrupadas de acordo com dois critérios de classificação. 1. O primeiro distingue, verticalmente, as contas do ativo das contas do passivo. Em sentido amplo, as contas do ativo representam aplicações ou usos de fundos, enquanto as contas do passivo representam as origens ou fontes dos recursos utilizados. 2. O segundo agrupa, horizontalmente, as contas do ativo e passivo, de acordo com os prazos das aplicações e das origens de fundos numa ordem de disponibilidade e liquidez decrescente. Embora a classificação tradicional apresente uma série de vantagens, ela se mostra inadequada para uma análise da liquidez, principalmente à luz da empresa no desenvolvimento normal das suas operações. Vale ressaltar as seguintes observações: • A contabilidade mantém historicamente um atraso, impossível de ser tolerado nos dias de hoje, em que a tomada de decisões exige uma dinâmica maior. • É conhecida a sonegação existente em inúmeros setores e seus efeitos não estão contemplados na contabilidade tradicional. • Os índices de correção dos balanços exigidos pela legislação do imposto de renda não são corretos ou suficientes para retratar, via contabilidade, as reais mutações do capital ao longo do tempo. • O formato de apresentação dos números nos balanços não é adequado para a tomada de decisões, mesmo que o empresário e seus executivos sejam contadores. O que fazer então? Nova classificação do Balanço Com o dia-a-dia de suas operações, a empresa realiza aplicações que têm por objetivo sustentar o giro dos seus negócios - lembrando que giro refere-se aos recursos de curto prazo - capazes de serem convertidos em caixa no prazo máximo de um ano. As contas relativas à atividade da empresa e ao ritmo das atividades operacionais são denominadas contas cíclicas do ativo, a exemplo dos estoques e de clientes. Do outro lado, encontram-se as contas cíclicas do passivo ou passivo cíclico que estão vinculadas às atividades operacionais da empresa, sendo utilizadas no financiamento das suas atividades. As contas de fornecedores e impostos a pagar sobre operações são
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exemplos do passivo cíclico. Ainda se tratando do circulante, apresentam-se as contas de curto prazo - do ativo e do passivo - que não estão diretamente ligadas às contas cíclicas ou operacionais. Normalmente, são contas de cunho financeiro resultantes de financiamento e investimento de curto prazo. Por esses motivos, essas contas são denominadas erráticas - errático do latim erraticu, errante, vadio, erradio, aleatório, andando fora do caminho - ou seja, implica a não-ligação dessas contas ao Ciclo Operacional da empresa. Apresentam movimento “descontínuo e errático”. São contas compostas pelo caixa, bancos e aplicações, duplicatas descontadas, etc., no chamado ativo errático e pelos empréstimos e financiamentos que compõem o passivo errático. As contas cíclicas são aquelas de natureza operacional e as contas erráticas são aquelas relacionadas aos aspectos táticos do curto e curtíssimo prazo administrados pela tesouraria. Novo padrão de classificação do Balanço ATIVO 1. Contas erráticas: são contas de curto prazo não necessariamente renováveis ou ligadas à atividade operacional da empresa. 1.1 Disponível: compreende os valores que podem ser utilizados livremente na movimentação dos negócios, assim como os valores de conversão imediata. Contas representativas desse grupo: • Caixa •
Bancos com movimento
•
Cheques em trânsito
•
Cheques a receber
•
Vales postais
•
Numerários em trânsito
•
Depósitos bancários à vista
1.2. Títulos negociáveis: abrangem as aplicações em valores mobiliários em curto prazo efetuadas com o objetivo de absorver excesso de caixa e obter lucro. Contas representativas dessas aplicações:
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•
Letras de câmbio
•
Letras imobiliárias
•
Certificados de depósitos
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•
Títulos e valores mobiliários
•
Títulos de livre circulação (open market)
1.3. Outros ativos de curto prazo: englobam os valores de curto prazo não classificáveis nos itens anteriores, tais como créditos concedidos a terceiros em transações não ligadas ao objeto social da empresa, desembolsos necessários, valores vinculados, etc. Contas representativas desses valores: •
Letras, títulos e valores a receber
•
Dívidas em liquidação
•
Bancos com vinculada
•
Contas correntes
•
Devedores diversos
•
Empresas coligadas
2. Contas cíclicas do ativo: são contas de curto prazo, renováveis e ligadas às atividades operacionais da empresa. 2.1. Clientes: incluem os créditos a receber de clientes pela venda de mercadorias, produtos ou serviços, objeto da atividade operacional da empresa. Contas representativas desses créditos: •
Contas a receber de clientes
•
Duplicatas a receber
•
Contas e títulos a receber
Os saldos das contas do passivo que representam estimativas de perdas futuras no recebimento de créditos concedidos a clientes são subtraídos dos valores correspondentes do ativo, a fim de se obter o valor líquido das contas desse grupo. Contas subtrativas desse tipo: •
Provisão para devedores duvidosos
•
Provisão legal para meios de crédito
•
Provisão para contas incobráveis
•
Provisão para perdas futuras
2.2. Estoques: compreende as mercadorias, produtos em elaboração e acabados destinados à venda, os materiais adquiridos para transformação no processo produtivo ou agregação aos produtos elaborados, além dos materiais de uso, consumo e reposição, necessários ao funcionamento técnico e administrativo da empresa. São contas representativas desses elementos: •
Mercadorias
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•
Produtos acabados
•
Produtos em elaboração
•
Matérias-primas
•
Embalagens
•
Combustível
•
Estoques
•
Material de expediente
•
Ferramentas
•
Almoxarifado
•
Mercadorias em trânsito
•
Adiantamentos a fornecedores
•
Importações em andamento
As contas Adiantamento a Fornecedores e Importações em andamento somente recebem a classificação indicada quando se referem a fornecimento e importação de bens componentes dos estoques. 2.3. Despesas pagas antecipadamente: englobam as despesas correspondentes a bens e serviços adquiridos pela empresa, mas ainda não utilizados na data do balanço. A sua apropriação como despesa somente ocorrerá no exercício seguinte. Contas representativas dessas despesas: •
Depósitos restituíveis (ligados às importações)
•
Aluguéis a vencer
•
Comissões pagas a vencer
•
Prêmios de seguros a vencer
•
Selos postais
•
Materiais de expediente
•
Impressos
•
Materiais de limpeza
Essas despesas, quando não renováveis e ligadas às atividades operacionais da empresa, deverão ser classificadas na seção “Outros Ativos de Curto Prazo”. 3.
Contas não cíclicas do ativo
São contas que representam aplicações por prazo superior a um ano.
3.1. Realizável em longo prazo: compreende os valores de prazo de conversão superior a um ano, não classificáveis nos itens 3.2. (Investimentos), 3.3. (Ativo imobilizado) e
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3.4. (Ativo diferido). Principais contas deste grupo: •
Letras a receber
•
Créditos com coligadas ou subsidiárias
•
Títulos e valores
•
Estoques vinculados
•
Devedores diversos
•
Créditos com diretores
•
Créditos com acionistas
3.2. Investimentos: englobam as aplicações permanentes em outras sociedades e os créditos de qualquer natureza, não oriundos da atividade operacional da empresa. Contas representativas deste grupo: •
Ações
•
Aplicações por incentivos fiscais
•
Investimentos em outras empresas
•
Participações em empresas coligadas e controladas
•
Terrenos (não destinados a fins operacionais)
• Valores a receber em longo prazo (relativos a operações não ligadas ao objeto social) •
Apólices e títulos de renda
3.3. Ativo imobilizado: abrange as aplicações permanentes em bens destinados à manutenção das atividades da empresa. Tais bens podem ser de natureza tangível (construções, equipamentos, máquinas, etc.) ou intangível (marcas e patentes, concessões e direitos etc.). Contas representativas do imobilizado: •
Instalações
•
Máquinas e equipamentos
•
Móveis e utensílios
•
Terrenos
•
Construções em andamento
•
Marcas de fábrica
•
Patentes
•
Nome comercial
•
Adiantamentos a fornecedores
•
Importações em andamento
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As contas “Adiantamentos a fornecedores” e “Importações em andamento” integram este item quando se referem a fornecimentos e importações de bens destinados ao ativo imobilizado. Os saldos das contas que indicam provisão para perda de valor de bens do ativo permanente devem ser subtraídos dos respectivos originais para se obter seu valor líquido. Contas típicas: •
Provisão para depreciação
•
Provisão para amortização
•
Provisão para exaustão
3.4. Ativo diferido: compreende as despesas relativas a bens e serviços adquiridos pela empresa, cujos benefícios se estendem a vários exercícios futuros. Sua apropriação como despesa deve correr durante esses exercícios, proporcionalmente, ao seu consumo ou período de utilização. Contas representativas dessas despesas: •
Salários e honorários antecipados
•
Juros pagos antecipadamente
•
Despesas pré-operacionais
•
Gastos de promoção e organização da sociedade
•
Gastos de reorganização e reestruturação
PASSIVO 1.
Contas erráticas do passivo
São contas de curto prazo não necessariamente renováveis ou ligadas à atividade operacional da empresa. 1.1. Duplicatas descontadas: compreendem o montante dos títulos a crédito da empresa, cuja posse e propriedade é transferida a instituições, através de endosso, em troca do valor dos títulos, após deduzidas as despesas incidentes sobre a operação. Contas usuais deste grupo: •
Duplicatas descontadas
•
Valores e títulos descontados
Apesar de sua posição como valor dedutível das contas a receber no balanço patrimonial, as duplicatas descontadas representam capital de terceiros na empresa, cuja remuneração compõe as despesas financeiras. 1.2. Obrigações de curto prazo – parte errática: englobam as obrigações de curto prazo não necessariamente renováveis ou ligadas à atividade operacional da empresa,
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tais como empréstimos bancários, emissão de títulos, distribuição de lucros, etc. Contas representativas deste grupo: •
Dividendos a pagar
•
Credores diversos
•
Financiamentos
•
Bancos com garantia
•
Imposto de renda a pagar
2.
Contas cíclicas do passivo
São contas de curto prazo, renováveis e ligadas à atividade operacional da empresa. 2.1. Fornecedores: compreendem as obrigações de curto prazo da empresa, provenientes da compra de mercadorias, matérias-primas, materiais, etc., utilizados na atividade operacional da empresa. Contas representativas deste grupo: •
Contas a pagar ligadas à produção
•
Fornecedores
•
Credores por financiamento
•
Duplicatas a pagar
2.2. Outras obrigações de curto prazo – parte cíclica: englobam as obrigações de curto prazo renováveis e ligadas à atividade operacional da empresa. Contas usuais: •
Impostos a pagar sobre operações
•
Salários a pagar
•
Contribuições sociais a recolher
3.
Contas não cíclicas do Passivo
São contas que compõem o passivo permanente da empresa.
3.1. Obrigações em longo prazo: englobam as obrigações cuja liquidação excede o prazo de um ano. Contas representativas deste grupo: •
Letras de câmbio
•
Credores no exterior
•
Financiamentos e empréstimos
•
Debêntures a pagar
•
Hipotecas
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3.2. Resultado de exercícios futuros: compreendem as receitas de exercícios futuros diminuídos dos custos e despesas a elas correspondentes. 3.3. Capital realizado: compreende o capital social da empresa constante dos estatutos registrados na junta comercial, quando totalmente integralizado. Se o capital social nominal não estiver totalmente integralizado, a parcela a integralizar, que consta do ativo do balanço patrimonial, deverá ser dele subtraída para se obter o valor do capital já integralizado. 3.4. Reservas de lucros: abrangem as reservas constituídas a partir do lucro líquido dos exercícios. Principais contas deste grupo: •
Reserva legal
•
Reserva estatutária
•
Reserva livre
•
Reserva para investimento
3.5.
Reservas de capital: englobam as seguintes contas:
•
Renda de partes beneficiárias e bônus de subscrição
•
Prêmio recebido na emissão de debêntures
•
Doações e subvenções para investimento
•
Correção monetária do capital realizado
3.6. Reservas de reavaliação: são aquelas provenientes de “novas avaliações” de bens do ativo baseados em laudos aprovados pela assembléia geral. Contas típicas: •
Reservas de reavaliação do imobilizado
•
Reservas de reavaliação de estoques
Acabamos de identificar as principais contas do Balanço Patrimonial sob uma nova ótica, a qual classifica as contas ao ritmo de suas atividades operacionais: cíclicas ou operacionais e erráticas, financeiras ou de curto prazo. Outra forma interessante e importante de fazermos a leitura do Balanço Patrimonial diz respeito à denominação Ativo e Passivo, terminologia contábil, que a partir de agora serão denominados de Aplicações e Fontes, respectivamente, numa terminologia que retrata melhor a natureza.
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GESTÃO DO CAPITAL DE GIRO
BASE DE DADOS NO FORMATO PARA ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA APLICAÇÕES
Ambientes
APLICAÇÕES ERRÁTICAS
TES
FONTES FONTES ERRÁTICAS
Caixa
Empréstimos bancários de curto prazo
Bancos
Empréstimos não bancários de curto prazo
Aplicações Financeiras de curto prazo
Descontos de duplicatas, vendor, etc.
APLICAÇÕES CIRCULANTES
N.C.G.
FONTES CIRCULANTES
Duplicatas a receber no curto prazo
Fornecedores a pagar
Adiantamentos a fornecedores
Salários e Encargos a pagar
Adiantamentos a funcionários e diretores
Impostos a pagar
Estoques
Dividendos a pagar
Impostos a recuperar
Adiantamentos de clientes
APLICAÇÕES PERMANENTES
C.D.G.
FONTES PERMANENTES
Aplicações Financeiras de longo prazo
Capital
Contas a receber de longo prazo
Lucros acumulados
Investimentos em outras empresas
Contas a pagar de longo prazo
Imobilizados
Empréstimos de longo prazo
Ambientes TES
N.C.G.
C.D.G.
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GESTテグ DO CAPITAL DE GIRO
O balanço patrimonial, comumente construído e divulgado pela contabilidade, reflete a posição financeira da empresa em determinado momento e tem por objetivo evidenciar sua situação patrimonial. Para tanto, utiliza-se de uma lógica de apresentação que estrutura as contas que representam bens e direitos no lado esquerdo da demonstração, compondo o ativo, enquanto as contas que representam obrigações da empresa se posicionam do lado direito, formando o passivo. Dentro de cada um desses grandes grupos, as contas são estruturadas em função da ordem decrescente de exigibilidade, do lado do passivo. Os grupos do ativo e passivo circulantes recebem atenção especial porque contêm as contas que representam valores de curto prazo. Eles irão afetar mais intensamente a capacidade da empresa em fazer frente aos seus compromissos financeiros, em condições de normalidade, portanto, de sua liquidez. Do ponto de vista financeiro, por outro lado, os valores posicionados no ativo representam as aplicações realizadas pela empresa nas contas de diversas naturezas, enquanto os valores posicionados no passivo representam as diversas fontes de recursos utilizadas pela empresa no financiamento das suas aplicações. Nesse contexto, o ativo circulante contém as aplicações de curto prazo efetuadas pela empresa, enquanto o passivo circulante contém as fontes de curto prazo das quais a empresa lançou mão para financiar suas operações. Foi constatado que, compondo o grupo do passivo e do ativo circulantes, se encontram contas que possuem natureza completamente distinta às demais, o que afeta de forma significativa a maneira de enfocarmos a situação financeira da empresa. São contas do ativo e passivo que se renovam constantemente à medida que se desenvolvem as operações da empresa e são muito importantes para a construção do seu balanço patrimonial gerencial. (Vieira, 2005)
AULA 02 - DETERMINAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO: O MODELO DINÂMICO.
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Classifique as contas do balanço patrimonial abaixo de acordo com as novas terminologias. ATIVO CIRCULANTE DISPONÍVEL Caixa Bancos c/ movimento Bancos c/ aplicação CRÉDITOS Duplicatas a receber (-)Duplicatas descontadas Adiantamentos a fornecedores Adiantamentos a empregados Adiantamentos a sócios Impostos a recuperar Outras contas a receber ESTOQUES Mercadorias Matérias primas Produtos acabados REALIZÁVEL EM LONGO PRAZO Empréstimos a sócios Investimentos temporários a LP Despesas antecipadas Outras contas a receber PERMANENTE IMOBILIZADO Imóveis Veículos TOTAL DO ATIVO
Fechamento
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GESTÃO DO CAPITAL DE GIRO
PASSIVO CIRCULANTE Fornecedores Obrigações Fiscais Obrigações Sociais e Trabalhistas Outras Contas a pagar EXIGÍVEL EM LONGO PRAZO Fornecedores a pagar Empréstimos bancários Outras Contas a pagar PATRIMÔNIO LÍQUIDO Capital Social Lucro do Exercício
= = = = = TOTAL DO PASSIVO
201.886,00
No próximo tópico, estudaremos os ciclos de uma empresa: o Ciclo Operacional, Ciclo Financeiro e Ciclo Econômico. Identificaremos, também, a importância de cada um desses ciclos e diferentes maneiras de administrá-los. Veremos, ainda, o conceito de Necessidade de Capital de Giro, seus impactos na organização e estratégias para reduzi-la.
AULA 02 - DETERMINAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO: O MODELO DINÂMICO.
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ASSAF NETO, A.; SILVA, César A. T. Administração do capital de giro. São Paulo: Atlas, 2002. BRAGA, Roberto. Fundamentos e Técnicas de Administração Financeira. São Paulo: Atlas, 1995. FLEURIET, M. et all. O Modelo Fleuriet – A Dinâmica financeira das empresas Brasileiras. Rio de Janeiro: Campus, 2003
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VIEIRA, M. V. Administração estratégica do capital de giro. São Paulo: Atlas, 2005.
GESTÃO DO CAPITAL DE GIRO