UNIDADE
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INFERÊNCIAS E IMPLÍCITOS
LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO
EXCELÊNCIA EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
INFERÊNCIAS E IMPLÍCITOS Na aula de hoje, vamos entender como as inferências e os pressupostos, bem como os subentendidos auxiliam no processo de interpretação de texto. Você verá também que ler nas entrelinhas faz de você um leitor proficiente e crítico. O QUE É UM MAPA MENTAL? Há algum tempo, a interpretação de texto tem feito parte do ensino de língua materna, uma vez que as aulas dessa disciplina se concentravam apenas no estudo das regras gramaticais, exigindo “decorebas” e formando cidadãos que não sabiam ou não conseguiam ser críticos e conscientes em seus discursos orais ou textuais. Parte-se então da premissa que as interpretações são automáticas e espontâneas à primeira vista, mas o texto tem outras intenções que devem ser levadas em consideração pelo leitor. Deste modo, inferências é o complemento que o próprio leitor faz ao texto. É a adição de informações que nos permite criar novas esferas de leitura e argumentação de forma cognitiva a partir de outros textos e outros conhecimentos que já obtivemos em diferentes momentos. As inferências também estão em outros elementos textuais, como imagens, gráficos ou ainda no momento em que o leitor consegue tirar suas próprias conclusões, designar sentido às palavras desconhecidas e relacionar contextos, abrindo as portas para a riqueza das interações que a palavra pode conter. Contudo, inferências não são apenas ligações que fazemos entre palavras na frase ou no parágrafo. Inferência é aquilo que buscamos em outros textos e em nossa experiência de vida, uma vez que não somos “rasos” nas áreas do conhecimento humano. Assim, “[...] processos cognitivos nos quais os falantes ou ouvintes, partindo da informação textual e considerando o respectivo contexto, constroem uma nova representação semântica” (MARCUSCHI, 2008, p. 249).
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Exemplo:
Observe o seguinte discurso:
- Andressa parou de fumar.
A informação explícita é “Andressa parou de fumar”. A informação que inferimos é “Andressa fumava antes”. Veja este outro exemplo:
- O marido de Ana perdeu o emprego.
A informação que temos é que o marido de Ana está desempregado e, logo, inferimos que Ana é casada. Logo: Inferências são conexões que as pessoas fazem quando tentam alcançar uma interpretação do que leem ou ouvem, isto é, o processo através do qual o leitor (ou ouvinte) consegue captar a partir do significado literal do que é escrito ou dito, o que o escritor falante pretendia veicular. A inferência estabelece uma relação entre ideias do discurso. (BROWN E YULE, 1997, p. 70)
Agora que você entendeu o que é uma inferência no processo de leitura e interpretação textual, vamos entender o que são pressupostos nesse contexto.
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ESTUDANDO OS IMPLÍCITOS: PRESSUPOSTOS E SUBENTENDIDOS O que são pressupostos? Conforme o dicionário da Academia Brasileira de Letras, pressuposto é a suposição feita anteriormente, ou seja, uma pressuposição. Dentro de um texto, os pressupostos estão contemplados nos enunciados claros, em que é fácil supor. Assim, os pressupostos necessitam de um enunciado para fazer sentido. Um dos aspectos mais intrigantes da leitura de um texto é a verificação de que ele pode dizer coisas que parecem não estar dizendo: além das informações explicitamente enunciadas, existem outras que ficam subentendidas ou pressupostas. Para realizar uma leitura eficiente, o leitor deve captar tanto os dados explícitos quanto os implícitos. (PLATÃO; FIORIN, 2000, p. 241)
Observe que, para que um pressuposto possa existir, deve haver palavras ou marcações textuais que nos indiquem tal ação, estando ligado ao raciocínio lógico. Porém, os pressupostos são exercidos pelos leitores proficientes, que já reconhecem as marcas linguísticas, enxergando sentidos outros por meio dos enunciados já ditos. É importante lembrar que não se ignoram as verdades do texto explícito, uma vez que não se pode supor o que não está explícito no texto. Exemplo:
-Será que Joana irá se atrasar desta vez?
Observe que, a partir desse enunciado, conseguimos supor que Joana costuma se atrasar com frequência e a marca discursiva que nos permite supor isso vem da locução adverbial “desta vez”.
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Veja estes outros exemplos:
-O tempo em Curitiba continua chuvoso, infelizmente.
Conseguimos entender nesse enunciado que agora está chovendo em Curitiba, mas conseguimos inferir que já chovia antes por meio do verbo “continua” e ainda conseguimos pressupor que o locutor não está feliz com o clima, uma vez que usou o advérbio “infelizmente. -Depois de meia de prova, metade da turma já havia saído da sala. Nesse caso, conseguimos inferir que o tempo de prova era maior que apenas 30 minutos, mas também conseguimos pressupor que deve ter acontecido algo diferente em tal ocasião, já que “metade já havia saído”. Aqui, pode-se concluir que a prova deveria estar muito fácil ou muito complicada, logo, os que saíram foram muito bem ou muito mal e desistiram de tentar. Agora, vamos ver outra possibilidade de interpretação, os subentendidos. O que são subentendidos? Enquanto as informações pressupostas estão marcadas no texto, as informações subentendidas não estão lá e não estão ligadas aos enunciados textuais. Deste modo, os subentendidos são sugestões que agregamos ao texto, são insinuações, as quais fazem com que o interlocutor tenha total responsabilidade por ele. O subentendido difere do pressuposto num aspecto importante: o pressuposto é um dado posto como indiscutível para o falante e par o ouvinte, não é para ser contestado; o subentendido é de responsabilidade do ouvinte, pois o falante, ao subentender, esconde-se por trás do sentido literal das palavras e pode dizer que não estava querendo dizer o que o ouvinte depreendeu. (PLATÃO; FIORIN, 2000, p. 244)
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Os subentendidos podem ser vistos por meio de análises profundas do discurso e não podem ser reconhecidos pela leitura “literal” de um texto. É necessário que o interlocutor tenha conhecimento dos pressupostos para que, então, possa tentar recuperar as intenções do autor, fazendo insinuações e ligações com outros textos. Exemplo:
Observe o enunciado a seguir.
- Está muito quente aqui dentro.
- Vou abrir a janela.
- Não. Não abra. O vento vai espalhar tudo aqui.
Veja que o locutor se referiu ao fato de que o lugar em que se encontra está quente e abafado. Logo, o interlocutor subentende que deve abrir a janela para que o ambiente possa ficar mais fresco, mas, ao fazer isso, o locutor pede para que ele não abra. O interlocutor ficará confuso, mas não foi feito um pedido explícito para que ele tivesse tal atitude. Vamos a outros exemplos:
- Você tem horas?
- Tenho sim. São 15h26min.
- Obrigada!
Nesse caso, o locutor perguntou se o interlocutor poderia dizer que horas eram a ele. Prontamente, ele olhou as horas no relógio ou telefone celular e o informou. Assim, o interlocutor subentendeu que aquela pessoa queria saber que horas eram, mas poderia, também, apenas dizer que “sim” e esperar pelo próximo passo.
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Ou ainda:
- Você vai à minha festa no sábado?
- Minha mãe está meio doente...
- Que pena. Melhoras para ela.
Aqui, percebemos que o locutor também subentendeu que, pelo fato da mãe de seu convidado estar doente, não poderia ir à festa para cuidar dela e ainda foi educado ao desejar melhoras. Contudo, alguns interlocutores poderiam dizer: “será que ela não melhora até lá?”. Observe a imagem a seguir.
Fig.01
Observe que, nesse caso, Manolito disse uma palavra que não tem valor pejorativo ao sentido gramatical. Se levado ao pé da letra, Mafalda se equivocou, mas, para um bom leitor ligado ao contexto político atual, política ganha novos sentidos e acaba por se tornar um palavrão. Aqui, fizemos a inferência do contexto, pressupomos que Manolito costuma falar palavrões e ainda subentendemos que a política hoje é uma palavra que tem valor pejorativo. Logo, precisamos nos tentar ao que está sendo dito e ao que “realmente” está sendo dito. Para que sejamos leitores mais eficientes, devemos perceber que devemos inferir conteúdo ao texto, como
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também pressupor e subentender aquilo que está nas entrelinhas, uma vez que esse exercício traz consequências para as novas construções de sentido. Chegamos ao final de mais uma aula. Na próxima, veremos o que são os gêneros textuais e como estamos cercados por eles o tempo inteiro, em todos os nossos discursos. Até lá! LISTA DE IMAGENS Fig.01: http://alunosonline.uol.com.br/ BIBLIOGRAFIA BROW, Gillian e YULE, George. Analisis del discurso. Madrid: Visor Libros, 1993. FERREIRA, Sandra P. A.; DIAS, Maria da Graça B. B. A leitura, a produção de sentidos e o processo inferencial. Psicologia em estudo: Maringá. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pe/v9n3/v9n3a11>. Acesso em: 13/07/2016. MARCUSCHI, L. A. Processos de compreensão. In: ______. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. 2. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2008. p. 226-281. SAVIOLI, F. P.; FIORIN, J. L. Para entender o texto: leitura e redação. 7. ed. São Paulo: Ática, 2000.
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