FUNDAMENTOS CONTÁBEIS AULA 03 ESCRITURAÇÃO (REGISTRO DAS OPERAÇÕES)
AULA 03 - ESCRITURAÇÃO (REGISTRO DAS OPERAÇÕES)
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MECANISMO DO DÉBITO/CRÉDITO Para simplificar as ilustrações, explicações e resoluções de problemas, utilizaremos uma representação gráfica de conta bastante simples, denominada Conta em T ou, simplesmente, Razonete. A forma gráfica, cujo funcionamento explicaremos a partir de agora, é a seguinte:
O lado esquerdo de uma conta é chamado de lado do Débito e o lado direito de lado do Crédito. Um lançamento no lado esquerdo de uma conta é chamado lançamento a débito ou, simplesmente, débito; um lançamento no lado direito de uma conta é chamado lançamento a crédito, ou, simplesmente, crédito.
(Título da Conta) (lado do débito) (lado do crédito) Os leigos em Contabilidade, geralmente, são levados a pensar que débito significa algo desfavorável e crédito algo favorável. Na realidade, isso não ocorre, pois tais denominações são, hoje em dia, simplesmente convenções contábeis, com uma função específica em cada conta, de acordo com a sua natureza. A diferença entre o total de débitos e o total de créditos feitos em uma conta, em determinado período, é denominado saldo. Se o valor dos débitos for superior ao valor dos créditos, a conta terá um saldo devedor. Se acontecer o contrário, a conta terá um saldo credor.
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Lançamentos a Débito e a Crédito das Contas Como já vimos até então, as operações ocasionam aumentos e diminuições do Ativo, do Passivo e do Patrimônio Líquido. As contas possuem dois lados (esquerdo e direito), o que faz com que os aumentos possam ser registrados em um lado e as diminuições no outro. A natureza da conta irá determinar o lado a ser utilizado para os aumentos e o lado para as diminuições. Contas do Ativo Os elementos que compõem o Ativo figuram no lado esquerdo do balanço. Em coerência, as contas de Ativo (Bens e Direitos) sempre devem apresentar saldos devedores, isto é, no lado esquerdo. Convém sempre notar que a empresa possui ou não bens e direitos,ou seja, não existem bens negativos e tampouco direitos. Portanto, as contas de Ativo possuem saldo devedor ou nulo. Para que uma conta de Ativo (Bens ou Direitos) tenha saldo devedor, é necessário que os aumentos e as diminuições nela ocorridos sejam assim registrados: QUALQUER CONTA DE ATIVO DÉBITO CRÉDITO $ Aumentos $ Reduções
Contas de Passivo e de Patrimônio Líquido • De Passivo: Desde que as contas do Passivo apareçam sempre no lado direito do balanço, deve acontecer com elas o inverso do que acontece com as do Ativo, isto é, os aumentos e diminuições do Passivo (obrigações) devem ser registrados da seguinte maneira: QUALQUER CONTA DE PASSIVO DÉBITO CRÉDITO $ Reduções $ Aumentos
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• De Patrimônio Líquido: Desde que o Patrimônio Líquido ocupe o lado direito do balanço, o funcionamento das suas contas será igual ao funcionamento do Passivo. Quando o Patrimônio Líquido, em seu valor total, for negativo, estará no lado esquerdo do balanço, junto com o Ativo, ou subtraído do passivo (lado direito) do balanço, sem o saldo devedor. Aumentá-lo com o sentido de melhorá-lo significa diminuir esse saldo devedor, o que só pode ser feito mediante um lançamento a crédito. Logo, segue-se que qualquer aumento em Patrimônio Líquido, seja este positivo ou negativo, num determinado momento, será regido por crédito e qualquer diminuição, por débito. Logo: QUALQUER CONTA DE P.L DÉBITO CRÉDITO $ Reduções $ Aumentos Observações: 1.
Uma empresa possui ou não Passivo (obrigações), não existem dívidas negativas.
2. O Patrimônio Líquido (Ativo – Passivo), entretanto, pode ser positivo, nulo ou negativo. Resumo do mecanismo de Débito e Crédito
Contas De Ativo Passivo Patrimônio Líquido
Efetua-se um lançamento a: Débito Para Aumentar Diminuir Diminuir
Crédito Para Diminuir Aumentar Aumentar
Partidas Dobradas A essência do método, universalmente aceito, é que o registro de qualquer operação implica que um lançamento a débito, em uma ou mais contas, deve corresponder a um crédito, equivalente em uma ou mais contas, de forma que a soma dos valores debitados seja sempre igual à soma dos valores creditados. Não há débito(s) sem crédito(s)
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correspondente(s). Críticas ao Método Permite apenas a verificação (prova real) da manutenção do equilíbrio da equação fundamental do PL. Não dá credibilidade quanto à retidão do lançamento efetuado, pois, desde que tenhamos efetuado um débito e um crédito no mesmo valor, ou melhor, mantenhamos os débitos iguais aos créditos, atendemos ao método.
Ocorre um fato: pagamento de fornecedores, em dinheiro, no valor de R$ 1.000,00. Se lançarmos: Capital Social a Estoques........................1.000 Atendemos ao método, porém, o lançamento está completamente errado, pois não analisamos o fato e não interpretamos corretamente as contas movimentadas por ele.
Livro Razão Neste livro, são registradas, individualmente, as operações ocorridas em cada conta contábil pertencente ao patrimônio de uma entidade. Assim, podemos, Por exemplo, verificar a movimentação completa da conta “Caixa”. Ao observarmos o Razão desta conta, veremos todas as entradas e saídas de valor ocorridas durante um período (um ano, um mês, etc.). Exemplos de Registro de Operações no Razão Para ilustrar a função do débito e do crédito nas contas, passaremos a considerar algumas operações de uma empresa. Procuraremos analisar cada ocorrência para verificar quais lançamentos a débito e a crédito seriam necessários para o registro desses aumentos e diminuições. Para simplificar a demonstração, usaremos razonetes (redução
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do razão), nos quais colocaremos unicamente as quantias a débito e a crédito. Para auxiliar a identificação dos lançamentos, o débito e o crédito de cada operação terão a mesma numeração. Vamos então ao exemplo prático: 1. Diversas pessoas resolveram, em 20/07/2014, fundar uma sociedade anônima, com o capital totalmente integralizado no ato de $ 17.000 dividido em 1.700 ações de $10 cada uma. Com a entrada do dinheiro para a Sociedade, o Ativo CAIXA foi AUMENTADO (debita-se CAIXA) e o Patrimônio Líquido também foi AUMENTADO (credita-se CAPITAL). CAIXA
CAPITAL
(1) 17.000 17.000 (1)
Registro no Livro CONTA: Caixa DATA 20/07/2014
CONTA: Caixa DATA 20/07/2014
OPERAÇÕES DÉBITO A Capital 17.000
CRÉDITO
COD: xxxxxx D/C D
COD: xxxxxx
OPERAÇÕES DÉBITO A Caixa
CRÉDITO 17.000
SALDO 17.000
D/C C
SALDO 17.000
2. Compra de Terrenos – A empresa, ao planejar a construção de um edifício para suas instalações, adquire dois lotes de terrenos, em 22 de julho, por $ 3.100 cada um, pagando à vista. Resulta daí que:
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•
O Ativo terrenos foi aumentado
•
O Ativo caixa foi diminuído
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TERRENOS CAIXA (2) 6.200 6.200 (2)
3. Venda de Terrenos – O gerente resolveu vender um dos lotes ao Sr. Silva, em 27/07/2014, por $ 3.100, isto é, pelo mesmo valor que havia custado à empresa. Nenhum dinheiro foi recebido do Sr. Silva nesta data, porém, a empresa adquiriu o direito de cobrar $ 3.100, do Sr. Silva. Consequentemente: •
O Ativo TERRENOS ficou reduzido
•
O Ativo ficou aumentado pelo aparecimento de um direito. TERRENOS TÍTULOS A RECEBER (2) 6.200 3.100 (3) (3) 3.100
Balancete de Verificação Já estudamos o Balanço e a Demonstração de Resultado do Exercício. Vamos ver agora como chegamos a eles pelo processo contábil. Verificação da Exatidão dos Lançamentos Contábeis Periodicamente (diariamente, semanalmente, quinzenalmente, mensalmente...), os responsáveis pela Contabilidade deverão verificar se os lançamentos contábeis realizados no período estão corretos. Uma técnica bastante utilizada para se atingir tal objetivo é o “Balancete de Verificação”. Esse instrumento, embora de muita utilidade, não detectará toda a amplitude de erros que possam existir nos lançamentos contábeis, como veremos mais à frente. A Técnica do Balancete O Balancete de Verificação tem como base o método das partidas dobradas: não haverá débito(s) sem crédito(s) correspondente(s). Portanto, ao somarmos, por um lado, todos os débitos e, por outro, todos os créditos, deveremos ter o mesmo total. Assim, “verificamos” se os lançamentos a débito e a crédito foram realizados adequadamente.
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O total do Débito será igual ao total do Crédito Para simplificar o processo, em vez de utilizarmos todos os débitos e créditos, trabalharemos apenas com os saldos (Devedores ou Credores) de cada conta. Podemos identificar, pelo exemplo a seguir, que é indiferente estruturar balancete com todas as operações ou pelos saldos (método simplificado). Exemplo de Balancete de Verificação
A Cia. Universal apresenta os seguintes lançamentos no mês de janeiro de 20XX:
(Dados iniciais: Caixa e Capital $ 1.500.000). Caixa Capital (SI) 1.500.000
500.000 1.500.000(SI)
300.000 Móveis e Utensílios Estoques 300.000 500.000
Contas
Lançamentos de Débito 1.500.000
Caixa Capital Móveis e Utensílios Estoques Total
300.000 500.000 2.300.000
Lançamentos de Crédito 800.000 1.500.000
2.300.000
Balancete de duas colunas
Poderíamos apresentar o Balancete pelo método simplificado, isto é, utilizando os saldos:
Caixa
Capital
1.500.000 500.000
300.000
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1.500.000
Móveis e Utensílios
300.000
Estoques
500.000
BALANCETE DE VERIFICAÇÃO EM 31-1-20XX Cia. Universal Balancete Simplificado Contas Caixa Capital Móveis e Utensílios Estoques Total
Devedor
Saldos 700.000
3.000.000 500.000 1.500.000
Credor 1.500.000
1.500.000
Tanto pelo primeiro balancete (analítico) como pelo segundo (simplificado), identificamos que os lançamentos estão corretos (o mesmo total). Todavia, em uma quantidade muito grande de operações, seria inviável trabalhar pelo método analítico. Portanto, desenvolveremos, daqui para frente, o balancete pelos saldos das contas (simplificado). Os Erros Se a soma dos débitos (ou saldos devedores) não for igual à soma dos créditos (ou saldos credores), há indícios claros de que os registros contábeis não estão corretos (primeiro devemos verificar com atenção se não houve erro na soma das colunas do balancete). O contador, por sua vez, irá averiguar onde está o erro, O que nem sempre é uma tarefa fácil, Ao contrário, é um trabalho de pesquisa a ser feito junto aos lançamentos contábeis já realizados. É importante destacar que, havendo diferenças no balancete, não se deve prosseguir o trabalho contábil. Balancetes Diários Podemos depreender, também, que quanto menor for o período de abrangência do balancete, mais eficiente será a Contabilidade. Os bancos, por exemplo, levantam balancetes diários em razão da grande quantidade de lançamentos, não passando erros de um dia para o outro. Grande parte das empresas verifica a sua Contabilidade por meio
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do balancete mensal. O que não podemos recomendar são os balancetes anuais, uma vez que, na constatação de erros, precisaríamos pesquisar a Contabilidade do ano todo (o que se torna inviável). Erros que o Balancete não detecta Se, no exemplo anterior, a conta de Móveis e Utensílios corresponder à compra de Computadores, mas o contador, na contabilização, debitasse indevidamente a conta de Máquinas e Equipamentos, teríamos as seguintes contas:
Caixa
Capital
1.500.000
500.000
300.000
Máquinas e Equipamentos
Estoque
500.000
300.000
1.500.000
BALANCETE DE VERIFICAÇÃO EM 31/08/20XX Cia. Universal CONTAS Caixa Capital Máquinas e Equipamentos Estoques Total
DEVEDOR
SALDOS 700.000
3.000.000 500.000 1.500.000
CREDOR 1.500.000
1.500.000
Os totais do balancete são idênticos. A princípio, poderíamos concluir que os lançamentos estão corretos. Dessa forma, o balancete não evidenciou o débito em conta errada. Inversão no Lançamento Contábil Outro tipo de erro que o balancete não evidenciará é a inversão num lançamento, de débito por crédito e de crédito por débito, simultaneamente. Em uma operação em que o contador deveria debitar Caixa e creditar Receita, ele inverte: credita Caixa e debita Receita. Os totais do Balancete serão os mesmos, mas o lançamento está invertido.
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Podemos, portanto, concluir que o Balancete de Verificação nem sempre detectará os erros nos registros contábeis. Embora de grande utilidade, o Balancete de Verificação é bastante limitado no que tange à identificação de erros nos lançamentos. Balancetes mais sofisticados - Balancete de mais colunas O balancete, dependendo da necessidade da empresa, pode ter a forma simples de uma fita de máquina calculadora, de duas colunas (como estudamos até o momento), de quatro colunas, seis e até oito colunas. Quanto mais colunas existirem, maior será a quantidade de dados oferecidos ao usuário do balancete. Por exemplo, o balancete de seis colunas apresenta os saldos do balancete anterior, os movimentos de débitos e créditos do período em análise e os saldos atuais: Balancete de Seis Colunas Balancete de Verificação Cia. “J”
mês... /...
Discriminação Saldos do mês anterior Movimentos do mês Movimentos do mês das Contas Devedor Credor Débito Crédito Devedor Credor Caixa 100.000 200.000 50.000 250.000
A APRESENTAÇÃO DO BALANCETE Balancete em Grupos Homogêneos de Contas É interessante apresentarmos os balancetes destacando as Contas de Balanço das Contas de Resultados. Conforme vimos no início deste capítulo, o Balancete comporta todas as contas movimentadas no período que possuem saldo no final de um período qualquer. Essas contas podem ser patrimoniais (de balanço) ou de Resultados (receita despesa). A apresentação do balancete separa esses dois grupos de contas distintas (sem separar em dois relatórios) e concentra em forma de grupo de contas, puxando o subtotal (circulante, permanente, despesas operacionais, despesas não operacionais). Assim, ele contribui, sensivelmente, como um instrumento para tomada de decisão (veja os tópicos seguintes).
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O mesmo Balancete Estruturado de Maneiras Diferentes BALANCETE DE VERIFICAÇÃO DA “BARBEARIA DO ISMAIL LTDA.” Janeiro/20XX CONTAS Caixa Equipamentos Capital Instalações Contas a Pagar Receita Despesas de Salários Despesas de Aluguel Total
SALDOS DEVEDORES 200.000 200.000
CREDORES
400.000
150.000
100.000 200.000
50.000 100.000 700.000
700.000
O mesmo balancete apresentado de forma mais adequada à “Barbearia do lsmail Ltda.” CONTAS ATIVO Caixa Equipamentos Instalações
SALDOS DEVEDORES 200.000 200.000 150.000 550.000
PASSIVO E PL Contas a Pagar Capital
550.000
RECEITA DESPESAS OPERACIONAIS
100.000 400.000 500.000 200.000
Salários Aluguel
50.000 100.000 150.000 700.000
Total
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CREDORES
FUNDAMENTOS CONTÁBEIS
700.000
O Balancete, a DRE e o BP - Papel de Trabalho Observamos que, embora não se tenha apurado o resultado (lucro) do mês, tornase fácil calcular o resultado das operações. O Balancete de Verificação é bastante útil na preparação da Demonstração do Resultado do Exercício e do Balanço Patrimonial. Ele tem um papel de trabalho para a preparação daquelas demonstrações, como veremos mais a frente. O Balancete como Instrumento de Decisão Dada a necessidade de se levantar Balanço em períodos mais curtos, o Balancete tem se tornado um poderoso instrumento de base para decisões. Assim, por meio de Balancetes mensais, por exemplo, a administração da empresa terá um resumo de todas as operações, bem como de todos os saldos existentes no final do período. Dessa forma, o “poder decisório” conhecerá o resultado financeiro e econômico da empresa no final de determinado período sem a necessidade de se estruturar um Balanço. Esses dados, sem dúvida, são fundamentais para a tomada de decisão. Ressaltamos, entretanto, que, quanto maior for o grau de detalhamento (sofisticação) do Balancete, mais subsídios haverá para as tomadas de decisão. Assim, um Balancete com duas colunas não terá o mesmo grau de utilidade para as tomadas de decisão que um Balancete de seis colunas.
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Mecanismo do Débito e do Crédito R A Z O N E T E Nome da Conta Lado do Débito
A NATUREZA DA CONTA é que irá determinar o lado a ser utilizado para os aumentos e o lado para as diminuições
Qualquer Conta de Ativo $ Aumentos
Lado do Crédito
$ Reduções
Qualquer Conta de Passivo Contas
Efetua-se um lançamento a: Débito
Crédito
De
Para
Para
Ativo
Aumentar
Diminuir
Passivo
DiminuirA
umentar
Patrimônio
DiminuirA
umentar
$ Reduções
$ Aumentos
Líquido
Balancete de Verificação Conta Caixa Fornecedores Total
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Método das Partidas Dobradas
Total Débito
Total Crédito
100
-
-
100
100
100
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Para todo DÉBITO deve haver pelo menos um CRÉDITO de igual valor.
DEPRECIAÇÃO, AMORTIZAÇÃO E EXAUSTÃO DEPRECIAÇÃO A maior parte dos Ativos Imobilizados (exceção feita a terrenos e obras de arte) tem vida útil limitada, ou seja, serão úteis à empresa por períodos finitos, também chamados de períodos contábeis. À medida que esses períodos forem decorrendo, darse-á o desgaste dos bens, que representam o custo a ser registrado. O custo do Ativo Imobilizado é destacado como uma despesa nos períodos contábeis em que o Ativo é utilizado pela empresa. O processo contábil para esta conversão gradativa do Ativo Imobilizado em despesa chama-se depreciação. A depreciação é uma despesa porque todos os bens e serviços consumidos por uma empresa são despesas. Poderá ser computada como custos (despesas), em cada exercício, a importância correspondente à diminuição do valor dos bens do Ativo Imobilizado resultante dos desgastes pelo uso, ação da natureza e obsolescência. Depreciação Perante o Imposto de Renda Para efeito de Imposto de Renda, a depreciação não é obrigatória. É interessante que a empresa a faça para apuração do Lucro Real do Exercício (pagando menos imposto de renda), apresentando um lucro mais próximo da realidade. Contudo, se o contribuinte deixar de depreciar num exercício, não poderá, no exercício seguinte, fazêlo acumuladamente, em virtude do princípio legal da independência dos exercícios (ou competência dos exercícios). A depreciação efetuada fora do exercício em que ocorreu a utilização dos bens do Ativo, bem como a depreciação calculada de forma maior que as taxas permitidas, não são dedutíveis como custos ou encargos para fins do imposto de renda. Para se depreciar o valor gasto na aquisição de um bem, é preciso atender a algumas exigências legais, principalmente, o tempo de vida útil do bem. Isso ocorre porque os bens não duram eternamente, eles têm um tempo de vida útil e, desgastados pelo uso em função da natureza ou mesmo por cair em desuso, deixam de ser úteis para a empresa. Então teremos: • O desgaste pelo uso: quando compramos um veículo, em cinco ou seis anos, se for usado diariamente, não terá o mesmo rendimento que tinha quando era novo; • Pela ação do tempo: o mesmo veículo citado anteriormente, se ficar muito exposto a chuva e sol, sofrerá desgaste; • Pela obsolescência: antigamente, existiam as calculadoras manuais, grandes, de difícil manejo e transporte. Atualmente, temos calculadoras muito mais eficientes e bem menores.
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É correto que se incorpore aos custos de cada exercício uma parcela do valor desses bens, ao longo do período estimado de sua vida útil. Com isso, as empresas procedem, no final de cada exercício social, à depreciação dos Bens materiais constantes do ativo imobilizado. Taxa Anual de Depreciação Para o cálculo da taxa anual de Depreciação, é necessário estimar a vida útil do bem, isto é, quanto tempo ele vai durar, levando em consideração as Causas Físicas (o uso, o desgaste natural e a ação dos elementos da natureza) e as Causas Funcionais (a inadequação e a obsolescência, considerando o aparecimento de substitutos mais aperfeiçoados). Então, a taxa anual de depreciação é estabelecida em função do prazo de vida útil do bem a depreciar. Assim, se um bem pode ter a duração de cinco anos, admitese uma taxa anual de 20%, pois a taxa anual corresponde à divisão de 100% pelo número de anos do prazo de vida útil do bem. Taxas de Depreciação Anual Fixadas pela Legislação do Imposto de Renda Grupos de Bens do Imobilizado Edifícios Máquinas e Equipamentos Instalações Móveis e Utensílios Veículos Sistema de Processamento de Dados Ferramentas Tratores
%a.a. 4 10 10 10 20 20 20 25
Métodos de Depreciação Na literatura contábil, encontram-se muitos métodos de depreciação, dos quais podemos mencionar os seguintes:
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•
Método linear ou em linha reta;
•
Método da soma dos dígitos;
•
Método de saldo decrescente;
•
Método de taxas fixas;
•
Método de taxas variáveis;
•
Método de cole;
•
Método de horas trabalhadas;
•
Método de unidades produzidas;
•
Métodos especiais.
FUNDAMENTOS CONTÁBEIS
Depreciação Linear O mais usado é o método linear ou em linha reta, o qual consiste em aplicar taxas constantes durante o tempo de vida útil estimado para o bem. Por exemplo, se o tempo de vida útil de um bem foi determinado em dez anos, a taxa anual de depreciação será de 10%. O método de depreciação em linha reta pode ser anual ou mensal. Será anual quando for calculada e contabilizada uma única vez ao ano e o valor da quota anual será obtido ao aplicarmos a taxa normal de depreciação sobre o valor do bem. E será mensal quando calculada e contabilizada mensalmente e o valor da quota mensal será obtido ao dividirmos o valor da quota anual por 12. Essa quota poderá ainda ser normal ou acelerada. A diferença é tão somente em relação à taxa aplicada, que poderá variar conforme o número de turnos de utilização do bem a ser depreciado, uma vez que cada turno corresponde a um período de oito horas. Assim, se o bem for utilizado em um único turno, a ele será aplicada a taxa normal; se utilizado durante dois turnos será aplicada a taxa multiplicada por 1,5 e, se utilizado durante três turnos, será aplicada a taxa multiplicada pelo índice de 2,0. TURNO DE 8 HORAS Um Dois Três
COEFICIENTE 1,0 1,5 2,0
Ao calcularmos o valor da quota de depreciação da conta Móveis e Utensílios, sabendo que o saldo da conta é de R$ 50.000,00 e a taxa é de 10%, teremos: Taxa x valor do bem = Quota de depreciação
100
Vejamos os cálculos: 10 x 50.000 = R$ 5.000,00 100
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Contabilização
A depreciação é contabilizada mediante lançamentos de:
•
Débito - Em uma conta de Despesa com Depreciação.
• Crédito - Em uma conta de Provisão para Depreciação ou Depreciação Acumulada, cujo saldo credor deve aparecer no ativo, deduzindo o saldo devedor da conta de ativo a que se refere. Se a depreciação fosse creditada diretamente na conta do ativo, no decorrer do tempo, o custo seria perdido de vista. Considerando o fato de que a depreciação é somente uma estimativa, ao se creditar essa provisão em uma conta específica, pode-se, a qualquer tempo e com facilidade, verificar o acerto da estimativa.
A Cia. SWPA é proprietária de um torno automático especial EXL “P”, que constava em seu ativo permanente, com os seguintes valores: Máquinas
R$ 40.000,00
Valor contábil
R$ 40.000,00
Neste ano, houve uma depreciação no valor de R$ 12.000,00. Obs.: Os lançamentos abaixo são anuais, porém a maioria das empresas os fazem por regime de competência, ou seja, apropriando 1/12 avos ao mês. Assim, ao final dos 12 meses, podem ser obtidos os valores a seguir: Lançamentos Pela depreciação: D-
Despesas com depreciação
C-
Depreciação Acumulada R$ 12.000,00
Pela baixa de depreciação acumulada:
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D-
Depreciação Acumulada de Máquinas
C-
Máquinas R$ 12.000,00
FUNDAMENTOS CONTÁBEIS
Pelo encerramento do exercício:
A conta de despesa deverá ser encerrada como as demais contas de resultado.
D-
Resultado do exercício
C-
Despesas com depreciação R$ 12.000,00
Depreciação Acelerada As taxas de depreciação fixadas pela Legislação do Imposto de Renda são para uma jornada normal de trabalho (turno de 08 horas). Portanto, quando ocorre, comprovadamente, a utilização dos bens móveis por 02 ou 03 turnos de 08 horas, poderão ser adotados os coeficientes de aceleração de 1,5 para 02 turnos e de 2,0 para 03 turnos. Isso porque é admissível que o uso intensivo do bem reduza a sua vida útil. BEM MÁQUINAS FERRAMENTAS MÁQUINAS FERRAMENTAS
TURNO 2 2 3 3
TAXA NORMAL 10% 20% 10% 20%
X
COEFICIENTE TAXA ACELERADA 1,5 15% 1,5 30% 2,0 20% 2,0 40%
Contabilização •
DEBITAR = DESPESAS COM DEPRECIAÇÃO (DRE)
•
CREDITAR = DEPRECIAÇÃO ACUMULADA (ATIVO)
Amortização Corresponde à perda do valor do capital aplicado em ativos intangíveis. Assim, são amortizáveis os ativos permanentes intangíveis de duração limitada, ou seja: Fundo de Comércio, Ponto Comercial, Direitos Autorais, Patentes, Direitos de Exploração.
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Cálculo da Amortização Amortização do Período
=
Valor do Direito
Nº Períodos de Apuração
Contabilização: •
DEBITA = DESPESAS COM AMORTIZAÇÃO (DRE)
•
CREDITA = AMORTIZAÇÃO ACUMULADA (ATIVO)
Efeitos da Amortização Os efeitos são semelhantes aos da Depreciação, porém são usadas contas próprias, como Despesa de Amortização (resultado) e Amortização Acumulada (AP). Não devemos confundir a Amortização do Intangível (perda no valor do Ativo Intangível contabilizada como despesa) com a Amortização de Financiamentos (pagamento de parcelas de dívidas). Exaustão Corresponde à perda do valor decorrente da exploração de direitos, cujo objeto são recursos minerais ou florestais ou bens aplicados nesta exploração. Cálculo da Exaustão A Exaustão do período é calculada de modo semelhante à amortização, assim como os seus efeitos e demais considerações também aqui se aplicam. Se for previsto algum valor residual, este fato deve ser considerado, como já foi explicado no caso da depreciação. O cálculo do montante deve levar em conta: • Os princípios de depreciação, como base no custo de aquisição ou na proporção dos recursos minerais corrigidos monetariamente;
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•
O volume de produção do ano;
•
A razão entre o potencial conhecido da mina e o volume de produção do período;
•
O prazo de duração do contrato, se preferida pela empresa essa base.
FUNDAMENTOS CONTÁBEIS
Preço pago pela Cia. W. pela pedreira com o terreno = R$ 12.900.000,00 – Valor estimado do terreno por ocasião da compra = R$ 2.500.000,00 – Prazo estimado para esgotamento total da pedreira = 7 anos Exaustão Anual = 12.900.000,00 – 2.500.000,00 = R$ 1.485.714,00 7 Contabilização •
DEBITAR = EXAUSTÃO (DRE)
•
CREDITAR = EXAUSTÃO ACUMULADA (ATIVO)
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No próximo conteúdo, vamos estudar os Princípios Fundamentais de Contabilidade que fazem parte da espinha dorsal dos ensinamentos contábeis. Eles trazem normas referentes aos registros contábeis e facilitam sua padronização. Você sabe o que quer dizer Princípio Fundamental de Contabilidade? Por que essas regras devem ser seguidas por todos os que praticam a Contabilidade? Quem estabelece o teor destes princípios? Para responder a essas questões, estude a próxima aula....
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FUNDAMENTOS CONTÁBEIS
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AULA 03 - ESCRITURAÇÃO (REGISTRO DAS OPERAÇÕES)
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