Métodos Dinâmicos de Análise Financeira - aula 03

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MÉTODOS DINÂMICOS DE ANÁLISE FINANCEIRA AULA 03 PREPARAÇÃO PARA ANÁLISE

AULA 03 - PREPARAÇÃO PARA ANÁLISE

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FLUXO DE FUNDOS E AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS BÁSICAS EMPREENDIMENTO DE RISCO Antes de mergulharmos na análise patrimonial de empresas, é necessário compreender de forma adequada o que representam as demonstrações contábeis no processo gerencial de um empreendimento. Referimo-nos, aqui, no processo gerencial, porque analisar essas demonstrações significa obter informações e subsídios para o gerenciamento do empreendimento, seja para confirmar o sucesso das estratégias adotadas, seja para tomar novos rumos, seja para corrigi-los. Em primeiro lugar devemos lembrar que qualquer empreendimento se inicia na ideia ou no ideal do empreendedor que, certamente irá iniciá-lo com uma parcela de capital próprio ao qual chamaremos de capital próprio de risco de empreendimento. Não podemos nos esquecer que qualquer tipo de empreendimento representa risco. Assim sendo, o empreendedor irá naturalmente buscar parceiros de capital interessados em compartilhar o risco do seu empreendimento. Esses parceiros são também empreendedores que buscam nessas parcerias de risco maximizar os resultados dos seus negócios.

Os banqueiros e os fornecedores estabelecem o que chamamos de “parceria direta”, já que disponibilizam recursos na forma de dinheiro (bancos) e na forma de estoques (fornecedores). Estes últimos, ao venderem seus estoques com promessa de pagamento por meio de duplicatas, emprestam uma parcela do seu capital de giro, estabelecendo uma parceria de risco. Ainda como “parceria direta”, podemos citar os clientes que adiantam recursos para a obtenção posterior dos seus produtos. Isso ocorre, principalmente, em empresas que produzem bens de capital (equipamentos e máquinas) e que frequentemente operam sob encomenda. Temos ainda as “parcerias indiretas” estabelecidas por meio dos créditos operacionais espontâneos (valores a pagar), gerados pela atividade da empresa, tais como salários e encargos a pagar, impostos a pagar e contas a pagar que não de fornecedores. São denominados créditos porque, a partir do momento que a empresa reconhece que deve os salários aos seus empregados, contabilizando-os em Salários a Pagar, ela os utilizará em seu Fluxo de Fundos até o dia que, por lei, deverá pagá-los, isto é, o quinto

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dia útil. Enquanto a empresa não paga os salários ela usufruirá desses recursos até o dia em que terá de desembolsá-los. Isso ocorre com Impostos, Adiantamentos de Clientes, entre outros. Falamos até agora dos itens que representam os parceiros de risco de curto prazo. Os bancos, no entanto, são parceiros mais agressivos. Apresentam-se dispostos a parcerias de mais longo prazo, isto é, compartilham recursos que podem ser utilizados em investimentos na infraestrutura física da empresa (máquinas, equipamentos, imobilizações, etc.). Organizando-se esses recursos na ordem de prazo, teremos aqueles compartilhados no curto prazo, no longo prazo e, por último, o capital de risco do empreendedor que é, na verdade o lastro/referência para todas as parcerias de risco estabelecidas. Devemos observar que nenhum parceiro de risco estará disposto a compartilhar mais recursos do que o empreendedor do negócio. A criação de um empreendimento, bem como as parcerias de risco que se estabelecem são realizados espontaneamente e, portanto, requerem uma grande reflexão sobre os riscos envolvidos, como também sobre as possíveis garantias que os parceiros possam reivindicar. Diante disso, pode-se constatar uma postura comum tanto do empreendedor como de seus parceiros de risco: a passividade. Todos os envolvidos na parceria de risco o analisam, avaliam suas possibilidades em relação aos lucros que pode obter. Concedem o recurso e aguardam. O empreendedor aguarda o lucro, o banqueiro espera a devolução do principal e juros e o fornecedor a parcela do seu capital de giro. Todos assumem uma postura passiva diante do risco após a concessão do capital. Assim, quando analisamos o PASSIVO de uma empresa na forma de registros contábeis, erramos ao classificá-lo como o “retrato” das dívidas da empresa. Na verdade, ali estão identificados todos os recursos compartilhados e que, ao serem aplicados em Bens e Direitos (ATIVO), permitem que o empreendimento seja estruturado física e operacionalmente.

A ESTRUTURAÇÃO DO EMPREENDIMENTO O primeiro momento de um empreendimento, isto é, quando se torna uma pessoa jurídica é a integralização do capital inicial. Isto se dá pela disponibilização de um montante de recursos no CAIXA (entenda-se Caixa como a junção de recursos do caixa e bancos, também denominado disponibilidade).

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Tendo recursos disponíveis, o empreendedor irá iniciar a estruturação física do negócio mediante a aquisição de patrimônio imobilizado, tais como máquinas, equipamentos, instalações, etc. Porém, o empreendedor já irá, neste ponto, buscar sua primeira parceria de risco. Irá verificar e analisar a disponibilidade de linhas de financiamento a longo prazo junto à comunidade bancária. Ao contratar essas linhas, ele poderá então partir para a formação da estrutura física do empreendimento.

Estruturada fisicamente, a empresa deve iniciar o processo de construção do seu capital de giro. Em primeiro lugar deve avaliar a capacidade do seu Caixa e em seguida adequá-la a suas necessidades de giro. Essa adequação consiste em “ampliar a capacidade do Caixa”, mediante a contratação junto a instituições de linhas de crédito pré-aprovadas tais como limites para desconto de duplicatas, conta empresarial entre outros. Essas linhas são indispensáveis para socorrer o Caixa na ocorrência de imprevistos como falta de pagamento de duplicatas com valores expressivos, desembolsos imprevistos, etc. Vejamos como ficará o fluxo de fundos do empreendimento agora:

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Completando a estruturação de financiamento do giro, a empresa irá buscar linhas de crédito para compra de matérias-primas e outros bens de produção. Essas linhas serão concedidas pelos próprios fornecedores os quais, após fazerem uma análise de risco de crédito, estabelecerão linhas de crédito chamadas “limites de compra”. Essa análise, passa por um processo parecido com o do bancário denominado “crédito comercial” e que ocorre exclusivamente entre empresas. Esse processo exige uma análise da capacidade de pagamento, da idoneidade, das condições econômicofinanceiras, etc. Aprovado o limite de compras, a empresa passará a receber as mercadorias para a produção, dando como garantia a duplicata emitida e aceita, a qual deverá ser paga dentro do prazo estabelecido. Observemos como fica o fluxo de fundos agora.

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Note que os recursos provindos dos fornecedores não são disponibilizados no Caixa já que os mesmos são fornecidos como bens de produção, isto é estoque. A partir de agora o empreendimento tem condições de entrar em processo de produção. Os estoques de matéria-prima entram em elaboração utilizando o equipamento o qual se deprecia à medida que vai sendo utilizado na transformação dos produtos, mediante a utilização de mão de obra direta e gastos gerais de fabricação (água, luz, etc.). Nesse estágio, os estoques transformam-se de matéria prima para produtos em elaboração. Pronto o produto, ele irá para o estoque de produtos acabados onde aguardará a sua venda. Vejamos como se altera o nosso fluxo de fundos:

Como os estoques são bens da empresa que não se auto-realizam, é preciso criar um esforço de vendas. Esse esforço estará aos cuidados do departamento de vendas, as quais serão realizadas basicamente de dois modos: à vista e a prazo. As vendas à vista representam ingresso imediato de recursos no caixa, já àquelas realizadas a prazo deverão aguardar o pagamento na carteira de duplicatas a receber. Tão logo sejam recebidos, os recursos serão encaminhados para o caixa. Devemos destacar que o processo operacional de vender é pago pelos recursos do caixa. Vamos observar como se estrutura agora nosso fluxo de fundos:

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Como podemos notar, os recursos ingressaram na empresa, em sua maioria via Caixa, entraram no processo operacional transformando a matéria-prima por meio da mão de obra direta e gastos gerais de fabricação e chegou ao produto acabado. Esse produto foi realizado, isto é, transformado em dinheiro pelas vendas à vista e pelas vendas a prazo com o pagamento das duplicatas. Agora os recursos estão de volta ao Caixa e este deverá providenciar o pagamento dos bancos, dos fornecedores e remunerar o capital do empreendedor pagando dividendos. Observe o Fluxo de Fundos.

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INTERPRETAÇÃO GERAL DO FLUXO DE FUNDOS Observe que do lado direito do fluxo estão colocados todos aqueles agentes que “fornecem” recursos para a empresa: • O empreendedor que arrisca seu capital em um empreendimento de risco e que, após fazer análises relativas à relação risco x retorno, “cede” seu capital para o empreendimento/empresa, fica no aguardo da remuneração (dividendos/lucro) do capital cedido. • Os banqueiros, por sua vez, vão realizar um processo de análise de risco de crédito, avaliando as reais necessidades de crédito da empresa, sua capacidade de pagamento, idoneidade e após constatar que a mesma terá condições de devolver o principal e atender ao serviço da dívida ( juros), irá liberar o recurso e aguardará a quitação do empréstimo. • Os fornecedores também farão uma análise de risco, ponderando a capacidade de realização dos estoques e prazo de pagamento, sem deixar de avaliar a idoneidade da empresa e administradores. Emitirá a duplicata e aguardará sua quitação na data estabelecida. Observe que todos esses agentes econômicos, “fornecedores” de recursos, assumem uma postura comum e totalmente passiva após analisarem o risco: aguardam. Olhando o restante do fluxo, verificamos que ali está representado todo o processo produtivo da empresa, isto é, toda a atividade da mesma. A estocagem, a produção, as vendas à vista e a prazo, de maneira que os recursos cedidos pelos capitalistas/ empreendedores, pelos bancos e pelos fornecedores estarão aplicados no imobilizado, nos estoques, nas contas a receber e no caixa. Note que o caixa está no centro do sistema e representa, sem dúvida, o centro nervoso da empresa, de tal forma que os recursos fluem por meio do processo operacional da empresa, passando em quase sua totalidade pelo caixa e a ele retornando no final do processo. De volta ao caixa, os recursos passam a ser “distribuídos”, isto é, passam a fluir do caixa para os credores (bancos, fornecedores) e para o pagamento de outras contas, impostos, salários, etc., sem, contudo, afetar o processo de financiamento da atividade produtiva que ocorre ininterruptamente. É por isso que se costuma verificar que uma empresa jamais “quebra” por excesso de endividamento, mas quando faltam recursos no caixa para pagar suas contas, isto é, quando a empresa não possui mais credibilidade para captar recursos que forneçam sustentação à sua atividade. Para que possamos avaliar se a gestão financeira da empresa está ocorrendo dentro de padrões adequados, necessitamos fazer perguntas e avaliações. A empresa

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está estocando demais? Imobilizando demais? Dando muito financiamento a clientes? Endividando-se demais? As respostas, quase sempre, podem ser obtidas com uma adequada análise econômico-financeira, isto é, uma análise das demonstrações financeiras. DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS BÁSICAS Balanço Patrimonial Para iniciarmos a análise, é necessário identificarmos um momento no qual possamos “fotografar” a situação patrimonial da empresa. Esse momento é o do balanço patrimonial e que ocorre na maioria dos casos no dia 31 de dezembro de cada ano, quando então se encerra o ano fiscal. Assim, se tirarmos uma foto nesse dia do fluxo de fundos anteriormente apresentado, obteremos uma situação estática na qual identificaremos, inicialmente, a estrutura acima: Note que a empresa tem apenas duas opções para obter recursos; ou ela obtém junto ao sócio/acionista (patrimônio líquido) ou recorre aos agentes econômicos externos como bancos e fornecedores, contraindo obrigações para com terceiros. Assim, podemos afirmar que as origens de recursos, observadas sob uma visão estática, encontram-se todas no Passivo. Por outro lado, na aplicação desses recursos, a empresa possui apenas duas opções: ou adquire bens ou adquire direitos. Não há outra alternativa. Observe o esquema a seguir e verifique como é a estrutura fundamental do balanço patrimonial de qualquer empresa. ATIVO APLICAÇÕES DOS RECURSOS BENS DIREITOS

PASSIVO ORIGENS DOS RECURSOS OBRIGAÇÕES PATRIMÔNIO LÍQUIDO

Se apurarmos mais a nossa visão sobre essa “foto”, identificaremos uma subdivisão tanto na tomada como na aplicação dos recursos, verifique. Conforme você deve ter percebido, separamos as obrigações em dois subgrupos (verifique o esquema a seguir): PASSIVO CIRCULANTE: estão contabilizadas todas as obrigações de curto prazo, isto é, que deverão ser pagas num prazo de até 360 dias.

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• Fornecedores, •

Salários e Encargos,

Impostos a Pagar,

Empréstimos Bancários,

Adiantamentos de Clientes e

Impostos de Renda.

EXIGÍVEL A LONGO PRAZO: temos o registro de todas as obrigações de longo prazo as quais deverão ser pagas num prazo superior a 360 dias. Financiamentos,

Impostos Parcelados,

Com relação às aplicações dos recursos em bens e direitos, separamos em: ATIVO APLICAÇÕES DOS RECURSOS ATIVO CIRCULANTE REALIZÁVEL A LONGO PRAZO ATIVO PERMANENTE

PASSIVO ORIGENS DOS RECURSOS PASSIVO CIRCULANTE EXIGÍVEL A LONGO PRAZO PATRIMÔNIO LÍQUIDO

ATIVO CIRCULANTE: bens e direitos que deverão se realizar, isto é, se transformar em dinheiro no prazo de até 360 dias, ou seja, no curto prazo.

Caixa e Bancos,

Aplicações Financeiras,

Duplicatas a Receber e

Estoques. REALIZÁVEL A LONGO PRAZO: temos os bens e os direitos cuja realização (transformação em dinheiro) deverá se dar num prazo superior a 360 dias (longo prazo).

Créditos a Coligadas e Controladas,

Depósitos Compulsórios.

No grupo Patrimônio Líquido temos os recursos próprios, isto é, recursos pertencentes aos sócios/ acionistas.

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No grupo Permanente temos bens imobilizados que servem à atividade operacional

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da empresa (máquinas, equipamentos, imóveis, veículos, etc.). Classificação das Contas É interessante notar que a colocação dessas contas no balanço patrimonial respeita uma regra lógica. No Ativo os bens e os direitos são classificados segundo seu grau liquidez, isto é, velocidade de conversão em dinheiro. É por isso que quando consultamos qualquer balanço patrimonial, a primeira conta que aparece é Caixa e Bancos, ou seja, o próprio dinheiro disponível. Em seguida, são elencadas as contas que se transformarão em dinheiro no curto prazo (estoques, contas a receber), as que se realizarão no longo prazo (empréstimos a coligadas) e, por fim, a última coisa realizável na empresa, seu patrimônio imobilizado. O dia que a empresa precisar realizar esse patrimônio, estará encerrando suas atividades. No Passivo, as obrigações e o Patrimônio Líquido são listadas segundo seu grau de exigibilidade, ou seja, na ordem de prioridade de pagamento. Assim, quando examinamos o Passivo, primeiro aparecem listadas as obrigações que deverão ser pagas no curto prazo (até 360 dias) como fornecedores, impostos, contas a pagar, salários e encargos sociais. Em seguida, teremos as contas que deverão ser pagas num prazo superior a 360 dias, ou seja, a longo prazo. Por último vem o Patrimônio Líquido, a última coisa exigível da empresa. O dia em que o patrimônio líquido for exigido por seus sócios/acionistas, a empresa encerrará suas atividades. A principal função do Balanço Patrimonial na análise financeira é permitir a avaliação da situação patrimonial. Com eles podemos responder à pergunta “A empresa está saudável financeiramente?”. Por outro lado, se quisermos avaliar o desempenho econômico da empresa, utilizaremos as informações da Demonstração de Resultados do Exercício – DRE. DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS DO EXERCÍCIO - DRE A Demonstração de Resultados mostra o total da receitas e despesas incorridas no exercício fiscal. Diferentemente do Ativo e Passivo, que mostram os saldos de cada conta, a Demonstração de Resultados é feita com o objetivo de mostrar os resultados econômicos, isto é, lucro ou prejuízo. Para isto, somam-se as receitas e diminuem-se as despesas, obtendo-se assim os resultados. A informação mais importante da Demonstração é, sem dúvida, o resultado final. Quanto maiores os lucros que uma empresa puder obter, maior será sua capacidade de

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investir em seus ativos, utilizando seus recursos próprios.

Muitas empresas não conseguem sobreviver ou expandir suas atividades, exatamente porque geram lucros extremamente baixos ou até prejuízos. Empresas que têm prejuízos constantes exigem maior atenção. O prejuízo exige uso de recursos para pagá-los e as alternativas que uma empresa têm para isso é desfazerse de ativos ou buscar recursos de terceiro, aumentando assim suas dívidas. É fundamental observar que a Demonstração de Resultados do Exercício – DRE deve ter suas contas encerradas ao final de cada exercício contábil para que se apure o resultado, lucro ou prejuízo. Encerrar as contas significa simplesmente tomar o total das receitas e dele deduzir o total das despesas. É claro que existe uma sequência lógica para isso.

Observe a estrutura básica de uma DRE.

(-)

Impostos, Descontos, Devoluções.

(=)

Vendas Líquidas

( -)

Despesas com Custo de Mercadoria Vendida (CMV)

(=)

LUCRO BRUTO

( -)

Despesas Operacionais (administrativas, gerais, financeiras, depreciação, etc.).

(=)

LUCRO OPERACIONAL

( -)

Provisão para Imposto de Renda

(=)

LUCRO LÍQUIDO DO EXERCÍCIO

DEMONSTRATIVOS CONTÁBEIS DAS MICROEMPRESAS As micros e pequenas empresas têm seus demonstrativos contábeis efetuados por mera necessidade fiscal. Boa parte dos volumes de negócios gerados não é registrada nos livros fiscais e os recursos são canalizados para os sócios. Desta forma, os demonstrativos financeiros representam apenas uma parcela do movimento do negócio como um todo. A parte não registrada são recursos que ficam com os sócios.

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Assim, a análise financeira destas empresas tem um peso e importância relativa.

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LUXOS DE FUNDOS Revela de onde vêm os recursos e pra onde eles são direcionados

BALANÇO

DRE

ANÁLISE A DRE permite Revela o valor e o Revela o desemconcluir sobre tipo dos recursos penho econômico, a lucratividade obtidos (próprios ou isto é, se ela obteve da empresa e o de terceiros) e como lucro ou prejuízo no balanço patrimonial eles foram aplicados período. sobre a situação (bens e direitos) patrimonial

TÉCNICAS GENÉRICAS DE ANÁLISE As técnicas servem para facilitar o trabalho de análise, auxiliar na visualização rápida e fácil dos valores financeiros e, sobretudo, para simplificar e agilizar a decisão de crédito. No Brasil, quando os índices inflacionários eram altos e as mudanças na moeda constantes, era praticamente impossível analisar Balanços sem o uso de alguma técnica. As técnicas, porém, não são perfeitas. Elas podem conter distorções. Portanto, tão importante quanto utilizar a técnica, é fundamental que se conheça seus eventuais defeitos e distorções. As técnicas genéricas são fundamentais para uma espécie de “reconhecimento” da empresa com que vai desenvolver o trabalho. Elas permitem visualizar de forma ampla as principais características, deficiências e virtudes da empresa. O passo seguinte é a construção do Panorama Econômico-financeiro que veremos no próximo tópico. RECLASSIFICAÇÃO DOS BALANÇOS Antes de aplicar qualquer técnica de análise, é preciso fazer alguns ajustes nos balanços. É importante lembrar que cada empresa possui critérios específicos para apresentar suas demonstrações e isto pode afetar a análise. Depois, o balanço de uma S.A. tem características diferentes do de uma Limitada e isto precisa ser observado pelo analista. Claro que não poderíamos refazer os balanços, mas devemos fazer uma reclassificação das demonstrações para que possamos dar um tratamento de análise mais coerente. Temos alguns procedimentos básicos:

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• A postura do analista deve ser sempre “conservadora” assim a conta Duplicatas Descontadas que aparece subtraindo a conta Duplicatas a Receber no Ativo, deverá ser transferida para o Passivo Circulante, afinal são duplicatas que ainda não foram pagas pelo cliente. Esse procedimento irá de alguma forma “pressionar” o endividamento da empresa, mas quaisquer ressalvas serão feitas no parecer. • As contas relativas aos estoques (matéria-prima, produtos em elaboração e produto acabado, almoxarifado) deverão ser somadas e denominadas apenas “estoques”. Isto facilita a interpretação sem qualquer prejuízo à qualidade da análise. No modelo de Análise Dinâmica isto não é feito por algumas características do modelo que iremos ver adiante. • A conta Aplicações Financeiras de Liquidez Imediata, quando aparecer e forem muito significativas, deverão ser incorporadas à conta Caixa, uma vez que ambas representam disponibilidades de recursos. • As contas agregadas (diversas contas agrupadas na conta “outros”) quando representarem mais de 10% do valor do Ativo/Passivo, deverão ser desmembradas. Isto só será possível com informação obtida junto ao departamento de contabilidade. • As contas do Imobilizado (máquinas, veículos, imóveis, instalações, etc.) deverão ser somadas e denominadas simplesmente “Imobilizado”. Esse valor deverá se apresentar “líquido”, isto é, já deduzido do valor da conta Depreciação Acumulada. TÉCNICAS GENÉRICAS As Análises Vertical e Horizontal visam estudar as tendências de performances das empresas. Alterações de procedimentos contábeis causados pela legislação comercial, fiscal e tributária, além das altas taxas de inflação com as quais o Brasil conviveu anos atrás, são motivos que dificultaram o uso mais intenso da Análise Vertical e, principalmente da Horizontal. Este trabalho consiste em se estabelecer comparações entre diversos números de uma demonstração com outros números da mesma demonstração, no caso da análise vertical ou ainda comparar um número da rubrica de uma demonstração com o número da mesma rubrica na demonstração do exercício anterior, fazendo a análise horizontal. Análise Vertical É uma técnica muito simples. É, porém, a mais completa de todas e a que permite uma visão global de toda a situação financeira. A análise vertical mede proporções entre os valores e a BASE, possibilitando observar as contas de maior valor e de maior importância na análise.

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Mede também as mudanças que existem entre estas proporções na medida em que comparamos uma sequência histórica de balanços, permitindo a visualização rápida das contas que tiveram alterações.

Permite ainda que se faça a análise da Estrutura de Capital.

É muito importante observar que a análise vertical mede tão somente proporções. Desta forma, não podemos falar em aumento ou diminuição dos valores, uma vez que ela não tem como objetivo avaliar tendências.

Duplicatas Estoques Total do Ativo

2001 $ 500 $ 500 $ 1.000

% 50 50 100

2002 $ 1.000 $ 3.000 $ 4.000

% 25 75 100

Note que as Duplicatas representavam 50% em 2001 e representam 25% em 2002. Não houve, no entanto, redução do valor das duplicatas, pelo contrário. O que ocorreu foi uma redução relativa ao total do Ativo. Em outras palavras, as Duplicatas no ano de 2002 passaram a ser menos representativas no Ativo da Empresa, cedendo espaço para os Estoques.

Cálculo da Análise Vertical

Para o cálculo da análise vertical, devemos identificar primeiramente a BASE.

BASE para ATIVO

-> TOTAL DO ATIVO = 100%

PASSIVO -> TOTAL DO PASSIVO = 100% DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS -> VENDAS LÍQUIDAS ou RECEITAS LÍQUIDAS DE VENDAS = 100% BASE = 100%

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Fórmula para o Cálculo Antes de iniciar os cálculos, observe: 1.

Elas não são importantes na análise.

2.

Não use casas decimais.

Quanto mais simples for o resultado, melhor.

3.

Não calcule contas de pequeno valor.

Não some os cálculos.

Esta soma conterá erros de arredondamento e valores acumulados.

Utilizando Calculadora Comum: Valor em $ de cada conta x 100 BASE Arredonde os resultados. Não use casas decimais. Utilizando a calculadora HP 12 C

O programa abaixo irá facilitar muito os cálculos da análise vertical. O que é feito eliminar casas decimias arquivar a BASE cálculo recuperação da BASE

ETAPA 1

ETAPA 2

Dados

Aperte a tecla f0

valor da BASE (R$) valor da conta (R$)

Para fazer todos os cálculos, utilize apenas a Etapa 2.

Quando for necessário trocar a BASE, volte para Etapa 1.

ENTER %T R

Análise Horizontal

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A Análise Horizontal avalia, horizontalmente, conta por conta das demonstrações

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financeiras, indicando a variação período a período de cada uma delas. Com essa informação pode-se verificar a evolução de cada conta em uma sequência histórica de demonstrações. Cálculo da Análise Horizontal A BASE é a demonstração mais antiga e é a partir dela que se estabelece a base de comparação. A fórmula a seguir é aplicável para todo tipo de calculadora. Valor em $ da conta em 19X2 x 100 Valor em $ da conta na BASE Arredonde os resultados. Não use casas decimais

Calculemos a Análise Horizontal para a demonstração dada a seguir:

Duplicatas Estoques Total do Ativo

$ 1.000 $ 3.000

2002/2001 % 100 20

$ 1.500 $ 4.400

2003/2001 % 200 76

$ 4.000

33

$ 5.500

83

2001

2002

$ 500 $ 2.500 $ 3.000

2003

Observe que as Duplicatas representaram a maior evolução no período em análise (2001 a 2003) com 200% de evolução, no entanto, essa evolução não se refletiu plenamente no total dos Ativos que cresceram apenas 83% no mesmo período. Isso se deve à menor evolução dos estoques que apresentaram uma evolução de 76%.

Preparação para Análise

Técnicas Genéricas

Etapa necessária para termos coerência e objetividade na análise.

Fornecem uma visão geral dos pontos fortes e de risco da empresa.

Análise Vertical e Horizontal Transformam demonstrações em percentuais, permitindo conclusões gerais direcionando o foco da análise.

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Para interpretar de forma adequada os demonstrativos financeiros é preciso uma compreensão da estrutura, organização e conteúdo dos mesmos. O analista deve saber o que significa o item “custo de mercadorias vendidas”, em que lugar de um demonstrativo financeiro pode ser encontrado, como é calculado, como é afetado pela escolha dos métodos de avaliação de estoques e assim por diante. Em suma, deve estar familiarizado com a linguagem empregada nos demonstrativos financeiros. Ele também deve ser capaz de avaliar as mudanças numéricas e percentuais de uma conta, ao longo do tempo, é o conceito de tempo e de espaço o qual permite ao analista avaliar a empresa através do tempo analisando uma sequência histórica de demonstrações (mínimo três) e comparando-os com os demonstrativos de empresas do mesmo ramo e porte, ou seja, avaliando qual o espaço que a empresa ocupa em seu mercado. O analista deve sentir-se à vontade ao trabalhar com números e saber como usá-los para avaliar o desempenho financeiro de uma empresa. Entretanto, somar, subtrair, multiplicar, comparar e extrapolar números é a parte braçal da análise financeira. É preciso “ir além” dos números e não apenas considerá-los tal como se apresentam. Não “ir além” dos números na análise financeira é como estar embriagado buscando o caminho de casa, você anda, anda, anda e nunca consegue chegar. Quando se trabalha com números, existe sempre o perigo da centralização num resultado final enquanto outras considerações necessárias são excluídas. A análise financeira envolve um alto grau de interpretação, portanto, raramente se pode chegar a conclusões absolutas. Ela deve ser encarada apenas como um meio de identificar os pontos fortes e os pontos fracos de uma empresa e de fazer previsões elaboradas quanto à sua capacidade futura em relação ao pagamento das dívidas. A análise financeira não é uma bola de cristal que permite ao analista contemplar o futuro e predizer com certeza o que irá acontecer. Existem sempre elementos de incerteza como a economia que pode sofrer sérias reviravoltas e entrar em crise, um concorrente bem financiado pode instalar-se na mesma região, os clientes de uma empresa podem deixar de pagar suas contas, etc. A análise financeira naturalmente envolve muito mais do que o simples exame do valor de ativos e passivos circulantes e estoques das características do segmento, por exemplo, do mercado de confecções. Todo demonstrativo deve trazer à tona inúmeras questões relativas a todos os aspectos referentes ao desempenho financeiro. Autor: Paulo Schulz

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CONCLUSÃO Caro aluno! Você já deve estar percebendo que essa área é uma das mais nobres e interessantes da área de finanças empresariais! Pois então, não perca tempo! Passe para o próximo módulo, pois agora nós vamos começar a construir panoramas econômico-financeiros com indicadores e outras técnicas e, o mais importante, concluir sobre eles.

Você terá a oportunidade de responder a questões como as que seguem:

Por que a empresa se endividou tanto?

Ou. •

Qual o motivo da melhora da rentabilidade em relação ao ano anterior?

Ou ainda.

• Será que a empresa manterá sua capacidade de pagamento para o próximo período?

É só começar! Sucesso!

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ASSAF N., Alexandre, Finanças Corporativas e Valor, São Paulo, Editora Atlas, 2004. GITMAN, Lawrence, Princípios de Administração Financeira, Lisboa, Editora Harbra. 2002. JOHNSTON, Kenneth, Contabilidade e Administração; São Paulo, Editora MacGraw-Hill, 1991. RUTH, George, Análise de Crédito, São Paulo, Editora IBCB, 1994. WESTON, Fred, Fundamentos de Administração Financeira, São Paulo, Editora Makron, 2003.

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