GESTÃO DE CAPITAL DE GIRO AULA 06 DETERMINAÇÃO DO CAPITAL INVESTIDO
AULA 06 - DETERMINAÇÃO DO CAPITAL INVESTIDO.
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ESTUDO SOBRE O CAPITAL INVESTIDO NUM NEGÓCIO Se você refletiu sobre a afirmação: “O lucro advém da posse do bem e não da sua propriedade”, é provável que deva estar se perguntando: “Como assim? ” ou, até mesmo, concordando com tal afirmação e acrescentando, “É óbvio”. Ao longo de meus anos como profissional e como professor em cursos de graduação e pós-graduação, sempre que inicio a abordagem desse assunto e lanço a mesma afirmação, provoco reações de indignação de meus alunos. Essas reações são extremamente normais. São fruto de uma prática secular que, de repente, vê-se contrariada ou desafiada. Refiro-me ao fato de que, na maioria esmagadora dos casos, o empresário adquire bens de toda ordem e natureza em nome da empresa e para a empresa sem o devido estudo sobre a serventia, benefício, tempestividade ou necessidade. Ele precisa ser dono de bens. Chego a pensar que a origem de tal comportamento remonta da pré-história, quando o homem desenvolve a capacidade de raciocinar, aprende a enfrentar os animais e conquista o que precisa para sobreviver. Imagino, até que, se o pudesse, colocaria na entrada da caverna que acabara de conquistar, ao expulsar o animal que a ocupava, uma placa com a inscrição: “Propriedade do Homus Erectus. ” Portanto, minha analogia - sem nenhuma base científica, é verdade - é de que o sentimento e a necessidade de propriedade são antropológicos. Daí uma possível explicação da dificuldade em mudarmos tal comportamento. Faça uma nova reflexão e verifique se também lhe ocorre a mesma certeza: O empresário brasileiro precisa ser dono, não se contenta em ter a posse e usufruir dos benefícios do negócio. O importante não é ser dono, mas explorar o negócio e obter resultados. Estamos estudando o capital de giro ao longo de todas as aulas e ficou evidente a necessidade e a importância de cuidarmos dos recursos financeiros da empresa, aplicando-os com sabedoria e parcimônia, a fim de garantirmos maiores possibilidades de sucesso para nossas empresas. É preciso compreender sérias questões em relação ao Capital investido e a investir num negócio.
Vejamos algumas premissas básicas:
• Toda empresa, de fim econômico ou não, depende do capital disponível para que tenha a sua viabilidade garantida. • Nos projetos ou empreendimento de fins econômicos, o capital terá de ser remunerado, pois disso dependerá a sobrevivência da atividade em questão. •
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A taxa interna de retorno (TIR) ou o Retorno do Investimento (ROI) que medem
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a remuneração do capital investido e a remuneração do patrimônio líquido deverá ser, no mínimo, igual à que o mercado financeiro estiver pagando (ganho real ao ano) considerados, alternativamente, os fatores de presença no mercado, estratégicos, políticos, e de outra ordem que justifiquem uma remuneração inferior, sendo por esses fatores compensada. • Como Custo de Capital, entende-se o preço que a empresa paga pelos fundos obtidos junto às suas fontes de capital. Ele constitui o padrão para a tomada de decisões de investimentos na medida em que, aplicando recursos com retorno superior ao custo de capital, a empresa encontrar-se-á no caminho da maximização dos resultados, para os que nela investiram. Também deve ser considerado como a taxa mínima que os projetos de investimento devem oferecer como retorno. • Como CMPC (Custo Médio Ponderado de Capital), entende-se o resultado da ponderação das várias remunerações exigidas pelas fontes de capital sobre os saldos devedores desses capitais.
Numa determinada empresa, encontrou-se a seguinte composição de fontes de capital: FONTES DE RECURSOS Empréstimo para Capital de Giro Desconto de Duplicata Salários a pagar Fornecedores a pagar Impostos a pagar Capital Social Lucros Acumulados CMPC
Saldo Devedor
Custo da Fonte (%am)
Custo de Capital Mensal
1.000,00
5%
50,00
2.500,00 500,00 5.000,00 2.000,00 10.000,00 5.500,00 26.500,00
4% 0% 3% 0% 1,88% 1,88%
100,00 0,00 150,00 0,00 188,00 103,40 591,40
2,23% am
• Como capital, entende-se o Ativo Real ou Aplicações (bens mais direitos) alocados no negócio. • Sabemos que a empresa pode ser representada por uma esfera cujo centro é formado pelo capital mais a inteligência a ele integrada. Esse conjunto forma o embrião
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empresarial do qual decorrerão todas as atividades ligadas ao empreendimento. • É também conhecida a tendência natural no Brasil - capitalista pero no mucho -de mal se aplicar o capital disponível e da despreocupação com o retorno respectivo. No entanto, o capital está no “centro” da atividade empresarial e merece, por isso mesmo, toda a atenção do investidor que não deveria renunciar ao retorno compatível com o mercado, ou seja, se determinada aplicação de capital estiver remunerando em “x” por mês, o mesmo capital aplicado a uma empresa deveria proporcionar, no mínimo, o mesmo rendimento. Caso contrário, essa empresa será antieconômica e o investimento estará sub-remunerado devendo preocupar os investidores que poderão decidir pela extinção do empreendimento - o capital como bem móvel e volátil, navega ao sabor da rentabilidade. • Na empresa, conforme já exposto, o capital será considerado como toda aplicação ou ativo da empresa, visto que não interessa qual a sua origem, mas o que foi feito com ele para o fim a que se destina a empresa. • O dinheiro como tal, não tem valor para o empreendimento, só lhe interessa os bens que esse dinheiro adquiriu ou poderá adquirir, pois deles dependerá a materialização dos objetivos da companhia ou o cumprimento de sua missão. • O capital está escasseando e, por conseguinte, ficando cada vez mais caro, o que redunda em maior demanda de retorno para compensar o seu custo. Isso poderá dificultar a viabilização da empresa como tal. O que fazer então?
A resposta é óbvia; a sua execução, nem tanto:
“O capital deverá ser reduzido sem prejuízo da atividade para a qual se destina, ou seja, a missão do empreendimento não deverá enfraquecer”. Nesse ponto, inicia-se o trabalho de apurar em quanto e onde o capital poderá ser reduzido, mantendo-se a atividade em mesmo nível de importância. É sabido que o capital estático não produz. O que o faz, é o giro do capital, portanto, seu movimento. Se assim é, quanto mais girar esse capital, mais ele produzirá em termos de retorno. O fator interveniente para a aceleração do giro do capital é a inteligência, definidos como todos os atos que visam facilitar, racionalizar, elevar a produtividade, substituir tecnologias, etc., enfim, a elevar a produção sem maior valor agregado de capital. A introdução do fator inteligência ao processo de uso do capital não tem limites, pois a cada passo novas ideias serão aplicadas ao processo que é dialético por natureza. Implantada uma forma de aceleração do capital, a nova situação gerará demanda de ajustes que exigirão novas ideias e, assim, o processo caminhará indefinidamente - a
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tese provocará a antítese que gerará a síntese que se transformará em nova tese. Os japoneses denominam de Kaizen, ou melhoria contínua, o que pode ser aplicado em qualquer processo. Neste estudo. o Kaizen presta-se ao processo financeiro e econômico.
O exame prático do caso sugere:
1. K0 (K zero): é todo o capital inicial alocado ao empreendimento. Toda e qualquer empresa é possuidora de um conjunto de Aplicações (Ativo) desde a sua fundação. Essas Aplicações sofrem mutações, acréscimos ao longo da vida da empresa. Podemos citar como exemplo prédios, instalações físicas, máquinas e equipamentos, veículos, terrenos, aplicações diversas, etc. Teremos, entre os ativos nos quais está investido, com certeza, algum necessário à atividade ou à missão empresarial e, outros, não tão necessários ou até ociosos. 2. K1: é todo capital que está ocioso, alocado indevidamente no negócio. Imagine-se realizando uma inspeção em sua empresa com a finalidade de identificar ativos que não respondem à Missão da empresa, que estejam sem uso, ociosos ou até mesmo que não estejam dando o retorno necessário que justifique sua aquisição e permanência na empresa.
É necessário que o empresário faça uma criteriosa revisão a respeito dos ativos de sua empresa, deixando de lado o sentimentalismo e, diante de todo ativo, reflita sobre as seguintes questões:
a) Este ativo tem relação com a Missão da empresa? Para mantê-lo, é necessário que a resposta seja SIM.
b) Este ativo está retornando financeiramente o que deveria? Para mantê-lo, é necessário que a resposta seja SIM.
c) Se eu vender este ativo, ele fará falta? Se a resposta for não, então ele é K1 e deve ser transformado em dinheiro.
É a partir desse ponto que normalmente começam as resistências. O sentimento de propriedade, enraizado em nossa cultura, quer falar mais alto e impedir que façamos a “faxina” na empresa.
3. K: é o capital adequado, necessário e justificável à Missão da empresa. Após a identificação do K1 e sua devida transformação em dinheiro, dispomos de ativos que atendem à Missão da empresa, retornam financeiramente, e não podem ser vendidos em razão de suas utilidades. 4. ROI: Retorno sobre o Investimento. Uma maneira segura e eficiente para análise de investimentos.
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5. I: é a inteligência aplicada na gestão dos negócios, dos recursos à disposição da empresa, inclusive o capital. Deve ser muito bem “explorada” pelos gerentes ou proprietários de empresas que necessitam de sabedoria e inteligência para bem gerirem seus negócios.
Com tais elementos, pode-se tecer algumas considerações:
• Se (K = 0), o empreendimento, quando possível na prática, deverá ser desenvolvido somente com o apoio da inteligência (I). Nessa hipótese, a TIR (Taxa Interna de Retorno) será infinita, pois o autofinanciamento gerado pela atividade da empresa, dividido por zero (0), produzirá retorno infinito (qualquer número dividido por zero terá quociente infinito). À medida que (K0 - K1) for maior do que zero (K0 - K1 > 0), o fator de inteligência só será necessário, à primeira vista, se o capital for suficiente para a atividade empresarial. Entretanto, essa é só a aparência inicial, pois se verifica logo em seguida que, se o capital disponível dispensa o fator inteligência, estará, com certeza, superdimensionado. Se o fator inteligência pudesse ser dispensado para reduzir o capital em uso (aplicações totais) seria, por outro lado, necessário para mantê-lo. Explica-se: o capital, se não tiver estímulos para a manutenção ou aceleração de seu giro irá diminuir, perdendo-se a margem de rentabilidade, o que pode ser figurado como ENVELHECIMENTO DA EMPRESA. Resulta que o fator inteligência será sempre necessário, em maior ou menor grau, quer para reduzir a demanda por capital, quer para mantê-lo rentável. Um fenômeno detectável nessa composição de capital e inteligência é de que o fator “I”, quando aplicado além da medida de mera compensação ou substituição de K 1, gera um “capital virtual”. Ou seja, o crescimento do fator inteligência (I), na composição do ativo investido, poderá ser medido na proporção da “SOBRA” de capital decorrente do ROI > que o esperado ou acima da necessidade de reinvestimento para manter o ativo inicial ou manter K0. Essa parcela adicional de capital estará espelhada no aumento de rentabilidade, isto é, com “um mesmo capital”, estará produzindo muito mais sem elevação dos recursos disponíveis - mais lucro e caixa estarão sendo gerados. Sendo assim, partindo-se do princípio de que o capital é essencial para a atividade, será justo supor que um “capital invisível ou virtual” terá sido criado pela interferência do fator inteligência, multiplicando-se os benefícios desse empreendimento.
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Nessa hipótese, a sua representação será (K + I) > 1.
A hipótese contrária, ou -> (K + I) < 1, significará que o fator de inteligência (I) não está sendo aplicado na medida correta. Sendo (K) inalterável em razão do retorno imposto pelo projeto, ao qual estiver alocado, somente o fator de inteligência (I) poderá sofrer incremento e, nesse aspecto, deverá se concentrar a gerência. Essa aferição dará o sinal de alerta para a revisão dos processos e métodos, além da estratégia, tecnologia, sinergia e demais fatores “I” em uso, que apontará onde e quais são as falhas a corrigir.
Depois de toda abordagem sobre o capital e da necessidade de mantermos apenas ativos relacionados com a Missão da empresa, pergunto: -
Um banco precisa ser dono do imóvel que ocupa para realizar suas atividades?
Obviamente que não. Mas essa já foi a ideia durante muitos anos e os bancos mantinham em suas Aplicações (Ativos) um volume extraordinário de recursos financeiros em imóveis: eram donos das agências. A missão de um banco não é explorar o mercado de imóveis e, por isso, atualmente, os bancos já venderam suas agências e negociaram com o novo proprietário um aluguel de longo prazo. O banco transforma aquele ativo em dinheiro - que é a missão do banco - e o coloca no capital de giro. Por outro lado, há um feliz proprietário de imóvel com aluguel garantido por muitos anos. Na sua empresa, é necessário que se faça o mesmo, ou seja, identifique todo e qualquer ativo que não tenha pertinência com a Missão da empresa ou que se enquadre nas demais situações citadas, e classifique-o como K1. Transforme todo K1 encontrado em recursos financeiros e aplique-os no capital de giro da empresa ou empregue-os em ativos classificados como K.
Uma determinada empresa solicitou que você, especialista em finanças, realizasse um trabalho de maximização da riqueza da empresa. As informações iniciais, de acordo com os registros contábeis, apresentaram a seguinte situação:
K0 (capital total alocado ao negócio) = R$ 1.510.265,00
K1 (capital alocado indevidamente no negócio, em excesso):
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•
Sede própria
R$ 0
•
Frota de veículos
R$ 135.000,00
•
Estoques
R$ 191.369,00
•
Terrenos sem uso
R$ 30.000,00
•
Informática
R$ 150.000,00
•
Investimentos em outras empresas
Subtotal
a)
O valor médio mensal das vendas é de R$ 300.000,00
b)
As despesas variáveis de venda são de 22,65% sem vendas brutas
c)
O lucro bruto esperado sem vendas líquidas é de 22%
R$ 6.532,00
R$ 512.901,00
Responda: 1)
Você concorda com a classificação de K1 para os ativos acima?
Para auxiliar na resposta, vamos fazer algumas considerações:
1º A empresa não possui sede própria, ou seja, não empregou recursos em prédios. Sempre que possível, devemos buscar essa situação, pois o montante que seria usado para comprar um imóvel dará melhores resultados se aplicados na Missão da empresa. Lembre-se de que o capital precisa ser remunerado e se estiver alocado em instalações físicas isso não será possível. 2º Ao ser proprietária de uma frota de veículos, a empresa disponibilizou de um montante considerável de dinheiro para adquiri-los e continuará disponibilizando para o pagamento de seguro, manutenção, combustível, licenciamento, etc. Devemos considerar, ainda, a responsabilidade civil e criminal em casos de sinistros, a contratação de motoristas e demais profissionais. Sempre que possível, deve-se terceirizar a frota. 3º. Estoques custam dinheiro e por isso mesmo devemos manter o mínimo necessário às operações da empresa. Precisaremos calcular o nível ótimo de estoques. 4º. Terrenos, assim como outros imóveis, geram despesas mensais, como IPTU e limpeza. Muitos empresários acreditam que ao adquirirem terrenos estão realizando um investimento e esperam uma valorização de mercado para justificar o investimento. Mas, por mais que isso possa acontecer, será que tal valorização será maior e/ou melhor que investir o recurso na própria empresa?
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5º Equipamentos de informática também exigem um montante de dinheiro para serem adquiridos que são extremamente significativos, por mais baratos que tenham se tornado nos últimos anos. Softwares e hardwares são atualizados quase que diariamente e mantê-los atualizados também exige alto investimento. Sugere-se que as empresas terceirizem seus equipamentos e softwares a empresas que os tenham como missão, transferindo toda responsabilidade pela atualização e manutenção à empresa terceirizada. 6º Investir em outras empresas deve ser, salvo raras exceções, opção para pessoas físicas. Uma empresa fará, certamente, melhor opção ao investir nela própria e não em outras empresas em que não sabemos de que forma os investimentos serão geridos. 2)
Qual o nível ótimo de estoque?
K1 será o excesso dos estoques e para calculá-lo deve-se fazer a DRE, conforme a seguir: Vendas brutas mensais (-) Desp. Variáveis de vendas – 22,5% = Vendas Líquidas (-) CMV* = Lucro Bruto (22%)
300.000,00 67.950,00 232.050,00 180.999,00 51.051,00
O CMV - custo das mercadorias vendidas - é o valor dos estoques transferidos no momento da venda e, nesse caso, é o estoque necessário para 30 dias de venda, mas não é necessário manter 30 dias de venda em estoque. Na prática, o número de dias depende do prazo de entrega dos fornecedores. Então, calcula-se o estoque necessário para 10 dias de venda:
CMV = Vendas líquidas – lucro bruto
CMV = 232.050,00 – 51.051,00
CMV = 180.999,00
Estoques = 180.999,00 / 3 = 60.333,00
Portanto, o nível ótimo de estoques é R$ 60.333,00 e o restante é excesso e deve ser classificado como K1. 3) Qual o valor do capital investido na empresa após o expurgo de K1?
Se concordarmos com a classificação de K1 estabelecida anteriormente, teremos o seguinte:
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K= K0 – K1
K= 1.510.265, 00 – (512.901 – 60.333)
K= 1.057.697,00
4) Que LAJIR anual este negócio deve produzir para que o ROI (ROI% = LAJIR / K0 x 100) seja no mínimo igual a 20%a.a.?
Resposta: R$ 1.510.265,00 x 20% = R$ 302.053,00
K0 - K1 = K + K1 = 1 - K1 = 1 -K= K0 K1 K ROI I I
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K 1 (Capital total inicialmente necessário) K I, então I ≈ K1 (I semelhante a K1) Capital alocado ao empreendimento (TOTAL DAS APLICAÇÕES); Capital alocado indevidamente, por excesso (ativo ocioso) ou em ativo inadequado (de baixo retorno); Capital adequado ao empreendimento considerando-se o retorno desejado (mix de aplicações x retorno ideal); Retorno sobre o investimento total; Inteligência aplicada ao processo de uso do capital; OU Meios que aceleram o giro e otimizam a margem do K investido ou substituem a sua necessidade (substituem K1)
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ADMINISTRAR O CAPITAL DE GIRO E CRIAR VALOR Criar valor é hoje a principal meta para uma parcela significativa das empresas. Como unidade de medida do desempenho empresarial, esse indicador tem produzido efeitos nos mecanismos empregados pelos analistas para a determinação do preço justo de uma ação e nos processos internos de tomada de decisões de investimento, financiamento e crescimento. Várias empresas têm adotado planos de remuneração, nos quais uma parte do valor variável pago aos empregados está vinculada a metas de criação de valor. Para criar valor, a empresa precisa alcançar e superar seu custo de capital. Quando isso acontece, significa que os resultados operacionais produzidos pelos investimentos realizados foram mais do que suficientes para cobrir o custo dos capitais próprios e de terceiros utilizados no seu financiamento. Caso os resultados operacionais não consigam pelo menos atingir o custo de capital, a empresa terá destruído valor. É interessante observar que os acionistas compõem o grupo que é beneficiado ou penalizado pelo desempenho da empresa, já que as despesas financeiras são essencialmente fixas em relação ao resultado alcançado.
Há duas ideias fundamentais relacionadas com a criação de valor:
1ª. O resultado operacional produzido a partir dos investimentos realizados e o custo dos capitais utilizados no seu financiamento compõem os dois lados de uma mesma moeda. São, portanto, indissociáveis e não podem ser abordados isoladamente. 2ª. O resultado operacional é repartido entre o custo de capital e a criação de valor. Isso significa que deve ser uma meta permanente da organização reduzir o seu custo de capital, e a diminuição do risco – no nosso caso, risco financeiro – é um dos instrumentos para alcançar essa meta.
Recordando, sabemos que:
Criação de Valor = Resultado Operacional – Custo de Capital
E também que:
Criação de Valor = (ROI – C) x Investimento
Em que ROI = retorno sobre o Investimento (%) e C = custo médio do capital (%).
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Resultado Operacional R$ % 250 25,00% 300 30,00% 350 35,00% 400 40,00% 450 45,00% 500 50,00%
Custo de Capital R$ % 200 20,00% 200 20,00% 200 20,00% 200 20,00% 200 20,00% 200 20,00%
Criação de Valor 50 100 150 200 250 300
Quando são adotadas medidas visando reduzir o ativo econômico, como a diminuição do ciclo financeiro ou do imobilizado, acontecem modificações que alteram o montante de criação de valor. Resultado Operacional R$ % 250 31,25% 300 37,50% 350 43,75% 400 50,00% 450 56,25% 500 62,50%
Custo de Capital R$ % 160 20,00% 160 20,00% 160 20,00% 160 20,00% 160 20,00% 160 20,00%
R$ 90 140 190 240 290 340
Criação de Valor Variação $ Variação % 40 80% 40 40% 40 27% 40 20% 40 16% 40 13%
Com redução do ativo econômico para R$ 800,00 e manutenção do resultado econômico nos níveis anteriores, ocorre um aumento do retorno do investimento (ROI). Em paralelo, o valor do custo de capital diminui para R$ 160,00 e a criação de valor aumenta de um montante fixo igual a R$ 40,00, o que significa acréscimo percentual decrescente. Custo de capital e criação de valor Quando, na situação original, ocorre um aumento do custo médio de capital para 22% ao ano, devido a uma maior utilização relativa dos recursos do CDG em virtude da transferência de fontes antes cobertas por T, acontece um aumento no valor do custo de capital com redução da criação de valor. Essa redução é de valor fixo igual a R$ 20, representando percentuais decrescentes em relação aos valores anteriores. Observe que os impactos tributários dessas alterações não estão sendo explicitamente considerados ou então que os valores apresentados já incorporam seus eventuais efeitos.
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Resultado Operacional R$ % 250 25,00% 300 30,00% 350 35,00% 400 40,00% 450 45,00% 500 50,00%
Custo de Capital R$ % 220 22,00% 220 22,00% 220 22,00% 220 22,00% 220 22,00% 220 22,00%
R$ 30 80 130 180 230 280
Criação de Valor Variação $ Variação % (20) -22% (20) -14% (20) -11% (20) -8% (20) -7% (20) -6%
AE = 1.000 Ativo econômico, custo de capital e criação de valor Deve ser reconhecido, no entanto, que, para a maior parte das empresas brasileiras, a queda na utilização relativa de T em favor do CDG como fonte de financiamento produz uma redução do custo médio de capital. Isso pode acontecer devido às altas taxas de juros cobradas nos empréstimos de curto prazo e porque empresas muito carregadas de recursos de curto prazo característicos de T acabam tendo que se curvar às exigências dos bancos nas constantes renegociações da dívida que se tornam necessárias. A tabela a seguir procura contemplar essa possibilidade. Ela também reflete uma redução do ativo econômico e fornece uma visão do que aconteceria caso o custo médio de capital caísse, por qualquer outro motivo. Resultado Operacional R$ % 250 31,25% 300 37,50% 350 43,75% 400 50,00% 450 56,25% 500 62,50%
Custo de Capital R$ % 144 18,00% 144 18,00% 144 18,00% 144 18,00% 144 18,00% 144 18,00%
R$ 106 156 206 256 306 356
Criação de Valor Variação $ Variação % 76 253% 76 95% 76 58% 76 42% 76 33% 76 27%
AE= 800 Como era esperado, a criação de valor melhora de um valor fixo de R$ 76 em relação à posição original, devido à redução do ativo econômico e à diminuição do custo de capital. Em seguida, nova tabela sintetiza os efeitos causados por modificações nas principais variáveis do modelo dinâmico. Estão indicadas alterações no valor do ativo econômico, no ROI (%), no custo médio de capital (%), na liquidez e na criação de valor. As fontes de variação consideradas são a NCG, realizável em longo prazo, permanente, T
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e o CDG. Descrição NCG AE
ReLP PERM T CDG
Variação
AE
ROI %
Aumenta Diminui Aumenta Diminui Aumenta Diminui Aumenta Diminui Aumenta Diminui
A D A D A D
D A D A D A
Custo de Criação capital Liquidez de valor % D D A A D D A A D D A A D D A A A D A A D D D A
A= aumenta D= diminui As relações apresentadas são aquelas que seriam esperadas em condições normais. Para o caso brasileiro, no qual, em certas condições já mencionadas, as taxas de juros dos empréstimos de curto prazo sejam proibitivas, tem-se uma inversão nas relações de causa e efeito, na parte assinalada da tabela: Descrição NCG AE
ReLP PERM T CDG
Variação
AE
ROI %
Aumenta Diminui Aumenta Diminui Aumenta Diminui Aumenta Diminui Aumenta Diminui
A D A D A D
D A D A D A
Custo de Criação capital Liquidez de valor % D D A A D D A A D D A A A D D D A A D A A A D D
Nessas situações, ocorre uma inversão da relação risco-retorno, não havendo recompensa pelo maior risco assumido. Esse ponto deve ser considerado adequadamente, à luz das reais condições de uma empresa específica, por ocasião da tomada de decisão sobre a melhor estratégia de financiamento a ser adotada. As alternativas que envolvem maior participação relativa de T e, portanto, maiores riscos financeiros devem ser avaliadas
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com cuidado.
A experiência de uma parcela significativa das empresas brasileiras parece indicar que o maior risco assumido através de maior utilização do saldo de tesouraria não tem
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refletido em melhor desempenho na criação de valor para o acionista.
Vamos apresentar algumas informações sobre a empresa Céu Azul, com objetivo de verificar como modificações introduzidas em suas características financeiras afetam a liquidez e a criação de valor: Ativo circulante
7.600
Disponível
200
Clientes Estoques Outros operacionais Realizável a longo prazo Permanente
4.500 2.600
TOTAL DO ATIVO
16.200
Receita líquida/ ano CPV Lucro Bruto Desp. Operacionais Vendas Adm. e gerais Financeiras Lucro operacional NCG CDG T T/NCG AE T/AE CF
16
300 200 8.400
18.000 10.400 7.600 5.800 3.100 1.600 1.100 1.800 3.600 200 (3.400) (0,9444) 12.200 (0,2787) 0,2000
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Passivo Circulante Instituições financeiras Fornecedores Impostos Outros operacionais Exigível em longo prazo Patrimônio líquido TOTAL DO PASSIVO Custo de Empréstimo CP Custo do ELP Custo do PL
7.400 3.600 3.200 450 150 2.800 6.000 16.200
15% 20% 25%
= 4.500+2.600+300-3.200-450-150 = 6.000+2.800-200-8.400 = 3.600-200 = (3.400)/3.600 = 3.600+200+8.400 = (3.400)/12.200 = 3.600/18.000
CF (dias) Lucro oper. Antes DF ROI (%) Custo de Capital Custo de Capital (%) Criação de Valor
72,0 2.900 23,77% 2.600 21,31% 300
= 0,200 x 360 = 1.800 + 1.100 = (2.900/12.200) X 100 = 3.600x0,15+2.800x0,2+6.000x0,25 = (2.600/12.200) = 2.900 – 2.600
Verificamos que a empresa criou valor de R$ 300 no período analisado, mas seus indicadores de liquidez são muito ruins. Os valores de T/NCG e de T/AE atingiram (0,9444) e (0,2787), respectivamente. Simulando os efeitos de uma redução do ciclo financeiro de 72 dias para 62 dias, temos os seguintes resultados (para fins de simplicidade, não foram considerados os efeitos tributários): NCG CDG T T/NCG AE T/AE CF CF (dias) Lucro oper. Antes DF ROI (%) Custo de Capital Custo de Capital (%) Criação de Valor
3.100 200 (2.900) (0,9355) 11.700 (0,2478) 0,1722 62 2.900 24,79% 2.525 21,58% 375
= 18.000 x 0,1722 = 6.000 + 2.800 – 200 – 8.400 = 3.100 –200 = 2.900/3.100 = 3.100 + 200 + 8.400 = (2.900)/11.700 = 62/360 = 72 –10 = 1.800 + 1.100 = (2.900/11.700) x 100 = 3.100 x 0,15 +2.800x0,2+6.000x0,25 = (2.525/11.700) = 2.900 – 2.525
Devido à redução do ciclo financeiro, a NCG reduziu para R$ 3.100, o que, por sua vez, reduziu o valor de T para R$ 2.900. O ativo econômico diminuiu por causa da redução da NCG e os indicadores de liquidez melhoraram. O ROI aumentou por causa da redução do AE e o valor do custo de capital diminuiu por causa da redução de T. Como a participação relativa do ELP e do PL aumentou, o custo médio de capital (%) elevou. A redução do custo de capital e a manutenção do lucro operacional antes das despesas financeiras aumentaram a criação de valor em R$ 75. Em síntese, a diminuição do ciclo financeiro motivou a melhoria da liquidez e da criação de valor.
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GESTテグ DE CAPITAL DE GIRO
TIJOLO QUE VIRA PAPEL – Empresas vendem seus imóveis e começam a modificar o mercado financeiro nacional. “Até pouco tempo atrás, a única forma de investir em imóveis no Brasil era comprar uma sala comercial ou um apartamento e alugá-lo, uma estratégia que deixa o investidor sujeito a sérios riscos operacionais e jurídicos – prova disso são as agruras por que passa qualquer pessoa que já tenha tentado despejar um inquilino inadimplente. Esse é, porém, um mercado que vem passando por profundas mudanças – para melhor. Empresas e instituições financeiras estão criando novas alternativas de investimento imobiliário, o que deve servir de motor para o desenvolvimento desse setor. “O Brasil está dando os primeiros passos para entrar num novo estágio”, diz Glauber Santos, sócio da Rio Bravo, empresa de gestão de recursos. “O mercado imobiliário vai crescer muito nos próximos meses. ” O ponto de partida dessa transformação é a disposição das empresas de negociar os imóveis que ocupam. “Elas descobriram que é mais vantajoso vender a sede, pagar aluguel e usar o dinheiro empatado num imóvel no crescimento de seu negócio”, diz Alberto Horn, responsável pela área de investimentos imobiliários do banco português Banif Primus. No Brasil, empresas de diferentes setores, como IBM, Petrobrás, Renault e Unilever, optaram, recentemente, por reduzir o capital aplicado em tijolos e cimento. O mesmo ocorre no setor financeiro. Desde 2002, os dez maiores bancos do país diminuíram de 50% para 30% seu índice de imobilização, isto é, o peso dos imóveis em seu patrimônio total. Além dessa disposição de se desfazer de imóveis, outra novidade é a forma de venda das sedes. No passado, a única opção disponível era encontrar um investidor disposto a comprar todo o prédio – algo nem sempre fácil. Nos últimos tempos, surgiram novos produtos financeiros para empresas que queiram se desfazer de imóveis. Dois se destacam: o Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI) e o fundo imobiliário. Nos dois casos, os imóveis funcionam como lastro de aplicações vendidas a diversos investidores. Esses instrumentos injetaram novo ânimo no mercado. As emissões de CRIs, por exemplo, aumentaram 181% nos últimos dois anos, para 403 milhões de reais. O mercado ainda tem muito que avançar. O volume total de ativos financeiros imobiliários no país é inferior a 10 bilhões de reais, ou menos de 1% do produto interno bruto (PIB). Nos Estados Unidos, esses produtos ultrapassam 50% do PIB. Para as empresas, a vantagem é conciliar o desejo de levantar recursos e a necessidade de continuar usando os prédios que ocupam por meio de contratos de aluguel de longo prazo. O aluguel não é pago diretamente ao comprador, mas ao administrador do fundo ou do título, que repassa o valor a quem investiu nos papéis. Tome-se o exemplo da Petrobras. A estatal era proprietária de um edifício de 36 andares localizado no centro do Rio de Janeiro. No ano passado, o imóvel tornou-se o lastro de um fundo imobiliário de 30 milhões de reais lançado pela Caixa Econômica Federal. O fundo foi vendido para milhares de pessoas físicas, já que o valor mínimo para comprar uma cota era de apenas 1.000 reais. ” Fonte: NAPOLITANO, Giuliana. Exame, n. 17, p.96 , agosto. 2005.
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1) Uma determinada empresa solicitou que você, especialista em finanças, realizasse um trabalho de maximização da riqueza da empresa. As informações iniciais, de acordo com os registros contábeis, apresentaram a seguinte situação: K0 = 1.210.156,00 K1 alocado no negócio: •
Sede própria R$ 85.000,00
•
Frota de veículos R$110.000,00
•
Estoques
R$ 142.400,00
•
Terrenos
R$ 30.000,00
•
Informática R$ 45.000,00
a)
O valor médio mensal das vendas é de R$ 270.000,00
b)
As despesas variáveis de venda são de 22,65% sem vendas brutas
c)
O lucro bruto esperado sem vendas líquidas é de 25%
Responda: 1)
Qual o nível ótimo de estoque?
2)
Qual o valor do capital investido na empresa após o expurgo de K1?
3) Que LAJIR anual esse negócio deve produzir para que o ROI (ROI% = LAJIR/ K0 x 100) seja no mínimo igual a 20%a.a.?
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GESTÃO DE CAPITAL DE GIRO
CONCLUSÃO Ao encerrarmos nosso estudo sobre gestão do capital de giro, você deve ter adquirido conhecimento suficiente para que possa gerenciar melhor as finanças de uma empresa. Observe sempre as complexidades envolvidas nos negócios do dia-a-dia e aplique o aprendizado aqui adquirido para ser um solucionador de problemas financeiros.
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ASSAF NETO, A.; SILVA, César A. T. Administração do capital de giro. São Paulo: Atlas, 2002. BRAGA, Roberto. Fundamentos e Técnicas de Administração Financeira. São Paulo: Atlas, 1995. FLEURIET, M. et all. O Modelo Fleuriet – A Dinâmica financeira das empresas Brasileiras. Rio de Janeiro: Campus, 2003. VIEIRA, M. V. Administração estratégica do capital de giro. São Paulo: Atlas, 2005.
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