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Bruno Seabra retoma a sua habitual

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Dossier

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Objetiva Clínica

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Bruno Seabra

Médico dentista e fotógrafo. Formador na área da fotografia em Medicina Dentária. Diretor do Light Up Studio, com sede no Lumiar (Lisboa). fotografia@maxillaris.com

Qual a importância da escolha da lente correta?

Ao contrário do que muitos poderão pensar, em fotografia, a lente (ou objetiva) é a parte mais importante e nobre de todo o equipamento fotográfico que usamos.

É nela que recaem aspetos importantes na fotografia, como o foco e a nitidez da imagem, possíveis aberrações cromáticas, a forma como a luz reflete ou difracta na sua superfície, a vinheta no limite das fotografias e até a maior ou menor distorção da imagem.

São estes aspetos que definem o nível de qualidade de uma lente e estão diretamente relacionados com a qualidade dos vidros utilizados na sua construção. Desde a sua forma, a sua lapidação, o seu polimento, até à sua luminosidade. É por essa razão que existe uma discrepância tão grande no preço das lentes, mesmo dentro da mesma marca, pois quanto melhor for a qualidade dos elementos utilizados, mais cara se torna essa lente.

Como posso distinguir as objetivas?

As objetivas distinguem-se principalmente pelas suas distâncias focais e abertura de diafragma máxima. São informações que vêm impressas na objetiva e que nos permitem saber qual temos em mãos (fig. 1). Existem ainda outros pormenores que as distinguem, não tão importantes, e que também vêm descritos, nomeadamente se a lente é macro (e assim permite aproximar mais próximo dos objetos para focar – caso da lente usada em Medicina Dentária), se tem estabilizador de imagem – cada marca tem sua sigla, por

Fig. 1. Esquema correspondente à informação importante descrita em cada lente e que as classifica e diferencia.

Fig. 2. Diferença entre uma lente prime (de 50 mm) e lente zoom (24-70 mm).

exemplo: CANON - IS (Image Stabilizer); NIKON - VR (Vibration Reduction); SIGMA - OS (Optic Stabilizer) –, e até tipo de motor de focagem, a título de exemplo: CANON - USM (Ultra Sonic Motor); SIGMA - HSM (Hyper Sonic Motor).

Que tipos de lentes principais existem?

Uma das principais divisões que existem entre os diferentes tipos de lentes é a sua distinção pelo facto de serem lentes zoom, em que podemos variar as distâncias focais, ou lentes prime ou fixas, com uma distância focal fixa (fig. 2). Em Medicina Dentária usamos geralmente uma lente com distância focal fixa, que pode ter 100 mm de distância focal.

O que é a distância focal?

A distância focal de uma lente pode definir-se como a distância entre o centro ótico da lente (onde a imagem fica focada) e o plano focal (que corresponde ao local onde está o sensor de imagem) quando focada no infinito (fig. 3).

É a distância focal que define o campo de visão (ângulo de visão) de uma lente. Podemos ter desde distâncias focais pequenas, com grande ângulo de visão (lente grande-angular) ou por outro lado grandes distâncias focais, com pouco ângulo de visão (lente teleobjetiva) que nos permite aproximar de objetos que estão muito afastados (fig. 4).

Fig. 3. Esquema explicativo da distância focal e a sua relação com ângulo de visão.

Fig. 4. Esquema da relação que existe entre distância focal e ângulo de visão.

Porque é importante controlarmos a abertura da lente?

Outro aspeto muito importante das lentes é a sua abertura, que se relaciona diretamente com o diafragma, que está no seu interior, e que controla a quantidade de luz que entra para formar uma imagem. A abertura do diafragma vai controlar também a profundidade de campo existente, que é um dos fatores mais importantes a considerar na fotografia em Medicina Dentária. Podemos ter muita profundidade de campo e ter toda a boca focada ou ter pouca profundidade de campo e aí só o nosso modelo fica com foco, ficando o plano para cá e para lá desse modelo pouco definido.

Para um bom registo de casos é essencial que saibamos como selecionar a abertura correta para obtermos profundidade de campo suficiente para termos os dentes focados desde o incisivo até ao último molar (fig. 5).

Fig. 5. Imagem clínica com os settings ƒ22 1/125 ISO 100, com bastante profundidade de campo onde se veem focados todos os dentes da imagem (realizada durante o curso The ART Behind Dental Photography 2020).

Fig. 6. Imagem artística com os settings ƒ8 8” ISO 100, com pouca profundidade de campo onde só se veem focadas as cúspides e algumas zonas da folha e da pedra basalto. (Imagem realizada durante o curso The ART Behind Dental Photography 2020).

Por outro lado, nas fotografias mais artísticas, pretendemos salientar o nosso modelo/objeto e, dessa forma, trabalharmos com pouca profundidade de campo pode tornar a imagem mais interessante (fig. 6).

Porque é que não podemos usar qualquer lente em Medicina Dentária?

As lentes que utilizamos em Medicina Dentária que se acoplam às câmaras reflex ou até mirrorless que temos, permitem controlar uma série de parâmetros essenciais à fotografia na nossa área.

Em primeiro lugar, como vimos, controlam a qualidade final da imagem através da qualidade dos seus elementos de construção. Em segundo, por terem no seu interior o diafragma, é a lente que controla também a profundidade de campo.

Depois, pelo facto de serem lentes macro permitem-nos selecionar a ampliação que queremos na nossa imagem (rever fig. 2). Se queremos mais ampliação, iremos ter de nos aproximar mais da boca do nosso paciente e, por essa razão, as lentes também estão relacionadas com a distância de trabalho a que estamos a fotografar. Nesse sentido, vão controlar também a distorção resultante, uma vez que se a distância de trabalho for menor para a mesma ampliação, teremos mais distorção.

Com estas bases sobre as lentes será fácil percebermos quais as lentes mais indicadas para a Medicina Dentária, o porquê da sua utilização, como tirarmos maior proveito delas e o risco de escolhermos lentes incorretas.

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