5 discos para extravasar em casa, por thunderbird — pág. 05
inspire-se com as ilustrações magníficas de fabrizio lenci — pág. 08
nina silva e o transformador movimento black money — pág. 11
the biggest smallest cultural platform
MECAJournal Distribuição g ratuita
Número #29 — Junho, 2020
bnegão encontra caymmi O rapper conta porque interpretar músicas do mestre Dorival Caymmi inspirou uma nova fase na carreira pág. 07
mesa e reinvenção ESPECIALISTA — Barbara Soalheiro dá dicas de como podemos lidar com desafios e transformações em nossas vidas (pessoais e) profissionais — pág. 09
arte em movimento —
Como o Covid-19 fez a arte analógica migrar para novas tecnologias e colocou a arte digital em evidência — pág. 12
o que estamos sentindo? PESQUISA — Estudo realizado pelo MECA e pela Talk Inc mostra os sentimentos e hábitos da nossa comunidade diante do isolamento social — pág. 06
O poder do Ho’oponopono em tempos de crise pág. 14
www.meca.love
projetos solidários meca radar lugares que amamos lançamentos culturais
WELCOME
Carta ao leitor Oi, Espero que vocês estejam todos bem. Se cuidando, cuidando das pessoas que vocês amam, das suas famílias, dos seus amigos e de todos que vocês puderem cuidar. Também espero que vocês estejam sendo cuidados por alguém. Porque é disso o que o mundo está mais precisando agora. Depois de dois meses tentando entender o que está acontecendo no mundo e ter as nossas vidas e o nosso negócio impactados diretamente pela pandemia, escolhemos tomar uma decisão difícil mas importante: aceitar que ainda não é possível saber o que vai acontecer no futuro próximo. Por isso, decidimos pausar o MECA e ficar “offline” até setembro. Assim, poderemos estar presentes no agora, focar em nós mesmos e mergulhar numa jornada interna para desconstruir nossos vícios, repensar nossas escolhas, ressignificar nossas verdades e refletir sobre o nosso propósito. Queremos deixar pra trás tudo o que não vale mais a pena ou o que não faz mais sentido. Garantir que a nossa energia esteja sendo colocada no lugar certo. E tentar ter ainda mais clareza na busca das respostas para as perguntas abaixo: Quais foram as escolhas que fizemos no passado que nos trouxeram pra onde estamos? O que já aprendemos ou ainda podemos aprender com elas? E, mais importante de tudo, quais escolhas queremos fazer a partir de agora que irão definir como será o nosso futuro? Essa não é a primeira crise que a gente enfrenta, nem será a última. Mas certamente é a mais complexa até hoje e provavelmente será uma das maiores. Não vai ser fácil, mas vamos encontrar um caminho e seguir pra frente. Mas é muito importante saber o que é possível e melhor pra cada um. Não existe fórmula pronta. Esse não é o momento de se cobrar demais ou de ser duro consigo mesmo e com os outros. Ninguém estava preparado para o que está acontecendo e todos estão passando por algum tipo de dificuldade. Tentem ser compreensivos e, se possível, generosos. E seja, principalmente, gentil e cuidadoso com você próprio. Vai ser muito bom reencontrar todos vocês quando pudermos fazer isso com responsabilidade e segurança pra todo mundo. Fiquem bem, se cuidem e em breve estaremos juntos de novo.
Com amor, _/|\_ Rodrigo
CEO e fundador do MECA
MECACrew Andrea Soares, Bruck Nogueira, Carla Mayumi, Débora Stevaux, Felipe Seffrin, Flavia Andreucci, Kim Olivier, Maíra Miranda, Piti Vieira, Rose Santana e Rodrigo Santanna. Colaboradores: André Alves, Dimas Henkes, Helder Ferreira, Letícia Ippolito e Lucas Liedke. Fale com o MECA: contato@meca.love
FOTOS CAPA: [A] FELIPE DINIZ ;[B] MANUEL NOGUEIRA; [C] FERNANDO SCHLAEPFER
Já estamos com muita saudades.
MECAInhotim Nova data: 25 a 27 de junho de 2021 <3
MECAInhotim 25 a 27 de junho de 2021 www.mecainhotim.com
PATROCÍNIO
APOIO
REALIZAÇÃO
IDEIAS QUE AMAMOS SÃO PAULO (SP)
LISTICLE
Carinho e coragem
4 novidades para refrescar olhos, ouvidos, mente e alma
DECORAÇÃO —
A união faz a força!
“Mundo Novo”, de Mahmundi A cantora carioca lança seu terceiro álbum de estúdio, dois anos após o sucesso de “Para dias ruins”, e se firma como um dos grandes talentos da nossa música. e feito com muito carinho, em um processo que reaproveita e ressignifica o que a
natureza deixou para trás. Os bancos custam R$ 130 mais o valor do frete para a cidade
de São Paulo. As vendas são feitas por direct no Instagram. @betobancos
BELO HORIZONTE (MG)
DRINK IT
Queridinha e apetitosa
Red Collins: o drink da designer Bruck Nogueira e da jornalista Débora Stevaux.
RESTAURANTE — Querida Jacinta
entrega sabor inebriante em casa A comida caseira do restaurante mineiro Querida Jacinta deixa qualquer um pedindo mais. Se delicie com coxa-creme, sanduíche de pernil, parmegiana ou maionese de mandioca. O menu traz ainda tostada
[A]
“Amamos misturar chás e gim. Fica uma delícia topshow!” Ingredientes • 50 ml de gim Tanqueray • 30 ml de chá concentrado de hibisco • 25 ml de suco de limão • 20 ml de xarope de açúcar • Água com gás Preparo Coloque tudo na coqueteleira com gelo, exceto a água com gás. Agite levemente. Faça a coagem dupla para um copo com gelo e complete com água com gás. Decore com hortelã e limão.
de avocado com pastrami (foto) e panqueca de doce de leite com frutas. Acompanhe o Expressinho da Jacinta nas redes sociais para ver qual é o cardápio da semana para delivery. @queridajacinta
“Luz no fim da quarentena” O podcast é uma coprodução da revista Piauí com a rádio Novelo, e aborda estudos científicos e novidades a respeito da pandemia do Covid-19 de forma didática.
[B]
FIQUE EM CASA
Pétalas culturais
Formas de desabrochar a mente com a atriz Maria Flor A carioca Maria Flor compartilha dicas culturais para esta quarentena:
“Estou lendo ‘Cem anos de Solidão’, do Gabriel Garcia Marquez, um livro maravilhoso e
FIQUE EM CASA
O futuro é pra já
Edgar compartilha três obras pra fincar os pés no futuro O incrível rapper guarulhense Edgar recomenda obras para quem quer estar sempre adiante: “Quem ler ‘Caos, Terrorismo Poético e Outros Crimes Exempla-
res’, de Peter Lamborn, percebe que a revolução está guardada no âmago de cada um. ‘Westworld’ é uma ficção-científica sobre inteligência artificial, que fala sobre
importante. Indico também ‘Três Mulheres’, da Lisa Taddeo, e ‘Americanah’, da Chimamanda Ngozi Adichie. Como dica de cinema, recomendo ‘Parasita’. Se você ainda não viu, veja! ‘Roma’ é
um filme igualmente imperdível. Além disso, acabei de assistir a série ‘Fleabag’ e ela é muito engraçada. É uma ótima forma de se desligar das notícias ruins.” @mariaflor31
a auto-atualização das máquinas e que o ser humano não é o único ser em evolução na Terra. E ‘Nomade Orquestra’ é música instrumental que teletransporta para diversos cenários, pela mistura étnica dos instrumentos e temas que proporciona.” @novissimoedgar
“Sergio”, na Netflix Wagner Moura dá vida ao diplomata Sergio Vieira de Mello em um filme baseado no livro “O homem que queria salvar o mundo”, de Samantha Power.
[C]
[D]
“Diversidade”, de Mario Sergio Cortella” O filósofo brasileiro escreve sobre preconceito e intolerância, para reafirmar a importância da união.
4
TEXTO: DÉBORA STEVAUX | [A] CLEU OLIVER / SUPER CAMERA; [B] JORGE BISPO/DIVULGAÇÃO ; [C] VICTOR SCHWANER; [D] THÁSYA BARBOSA; [F] REPRODUÇÃO INSTAGRAM; [G] DIVULGAÇÃO/ FESTIVAL GRLS; [H] ANDRESSA GUERRA; [I] INGÁ
Em tempos de isolamento social, comprar do pequeno empreendedor e ficar em casa são atitudes conscientes e revolucionárias.
Os banquinhos do Beto são um verdadeiro achado. Roberto Nascimento trabalhava como jardineiro, pintor e caseiro seis dias por semana e, no sétimo dia, buscava troncos e pedaços de madeira pelo caminho. Talentoso e sempre de bom humor, Beto passou a fazer banquinhos com o material encontrado e, com a quarentena, vender os móveis virou sua única fonte de renda. Cada banco é único
IDEIAS QUE AMAMOS BRASÍLIA (DF)
[F]
Cores extremas
BELEZA — Vouchers que fortalecem na Que Beleza! Esmalteria Pra quem gosta de cuidar das extremidades físicas e espirituais, a Que Beleza! Esmalteria é um lugar perfeito. Para atravessar a quarentena, a esmalteria está
FORTALEZA (CE)
Mordida tropical
[F]
BAR — Hey Joe
Food ‘n’ Bar enche sua casa de sabor
[G]
BRASÍLIA (DF)
playlist
by Thunderbird — O músico e ex-VJ, prestes a lançar seu primeiro álbum solo, “Pequenas Minorias de Vândalos”, lista 5 discos para extravasar em casa, mas sem perder a ternura jamais:
Calanga do Cerrado
MODA — Conheça a exuberante BABALONG
Enquanto a gente não pode curtir plenamente o terraço aconchegante do Hey Joe Food ‘n’ Bar, em Fortaleza, podemos receber em casa algumas entradinhas e hambúrgueres de aguar qualquer paladar. Peça a entradinha de falafel com molho cremoso de tahine, iogurte e vinagrete picante. Se a fome for grande, vá de Chicken Rule, com um suculento frango, molho de queijo fundido, bacon, maionese da casa e cebola caramelizada no brioche. Para os goles, a soda italiana de hibisco. @heyjoefoodnbar
Esta é uma marca calango-baiana para você contemplar o cerrado brasiliense. A exuberante BABALONG — idealizada por Débora Alencar Pinto e Heitor Alencar Pinto — transparece nas roupas todo o frescor que uma marca moderninha precisa ter e faz crescer os olhos do pessoal mais jovem de espírito. A mistura de flores, frutos, folhas e formas nas estampas brilhantes constrói, fio a fio, a identidade de blusas, calças, croppeds, jaquetas, saias, shorts e SÃO PAULO (SP)
Delicada reconexão
ACESSÓRIOS — Ruta Cerâmica enfeita a Cidade Maravilhosa embelezam aquele que fortalece o pequeno empreendedor. Por enquanto, as peças podem ser retiradas apenas no ateliê no Rio. Mas, assim que a quarentena acabar, voltam as entregas para todo o país. @rutaceramica
“DOGREL” — Fontaines DC
“Banda neo-punk irlandesa que alimenta o gênero com um disco forte e uma coleção de videoclipes espetaculares.”
“MAN ALIVE!” — King Krule
“Rapper inglês que traz sofisticação na produção deste que considero o seu melhor disco.”
ENTERTAINMENT — Gang of Four “Disco de estreia da banda que mais ouvi nos últimos tempos. Um clássico do póspunk. Tudo tão simples é genial.”
“Tenho ouvido bandas no wave como James Chance e dancepunk como ESG o tempo todo. Esse disco é espetacular!”
Tectonica serve café com muito afeto
RIO DE JANEIRO (RJ)
acessórios belíssimos. Divertida, colorida, alto astral e confortável, a marca caiu como uma luva na rainha paraense Gaby Amarantos (foto), por exemplo, em uma de suas melhores apresentações do ano, no começo de 2020, no Festival GRLS!. Acesse o site e as redes sociais, e aproveite a entrega dos produtos para todo o Brasil. No site, os produtos disponíveis estão na aba “Quarentena”. @babalong.co
LIQUID LIQUID — Liquid Liquid
CAFETERIA —
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[H]
[I]
Placas do paladar
A marca carioca Ruta Cerâmica esbanja delicadeza e beleza nos brincos, colares, incensários e cinzeiros feitos de cerâmica. Tons terrosos, azulados e pastéis, modelados pelas mãos cuidadosas de Camila Oliveira,
vendendo vários vouchers com pacotes especiais para serem usados quando o charmoso salão rosa e verde — que também é bar e brechó — reabrir.
Raiane, Cleidiana, Alice, Julia, Bruna, Joilma, Elana e Eliana estarão a postos para tratar os seus dedinhos das mãos e dos pés com o maior carinho do mundo e, é claro, com muita cor e formas divertidas. Os pacotes custam a partir de R$ 25. @quebeleza esmalteria
A Tectonica vai mexer com as placas do seu paladar. Com delivery em São Paulo, a cafeteria afetiva inunda de sabor quem ama um bom café da manhã – ou da tarde. Os combos vêm com manteiga de amendoim que derrete na boca, bolo salgado de abobrinha, gorgonzola e hortelã, homus de beterraba e banana bread vegano com chocolate 70% cacau. Para beber, experimente o marcante Café Tectonica – de Catuaí amarelo ou Catuaí vermelho. @tectonica.sp
EGE BAMYASI — Can
“Outra influência direta do meu disco solo. Avantfunk, experimental, modular, eletrônico e orgânico. Nesse disco tem Vitamin C. Dance à vontade.”
Mais do que ondas sonoras. Música é uma experiência completa, para ser sentida e cantada a plenos pulmões em qualquer lugar. Com Heineken, buscamos projetos e pessoas que vivem a música de um jeito especial. #HeinekenBR.
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PESQUISA (COVID-19)
quando o futuro nos tira para dançar
André Alves e Lucas Liedke, da consultoria de cultura, comportamento e estratégia Float, fazem uma análise dos depoimentos coletados na pesquisa “Como você está se sentindo?”, promovida pelo MECA e pela Talk Inc REFLEXÃO —
A analogia com a dança é mais que pertinente. Por um lado, há altas expectativas de que muitos vão sair relativamente ilesos dessa situação e poderão fazer uma grande festa, um novo carnaval. Mas também há a crescente hipótese de que os comportamentos derivados do isolamento e do distanciamento irão se tornar novas normas sociais. Como consequência, as pessoas irão tomar mais precauções com relação a contato físico e aglomerações. De novo, os extremos servem apenas para nos situar no mapa; tendência e contratendência andam sempre de mãos dadas. Como disse um dos respondentes
pandemia que foram lidas por milhões de pessoas, a estratégia de supressão que a maioria dos países implementou tem dois momentos: o martelo e a dança. O martelo, a primeira etapa, é o choque de medidas extremas como o fechamento dos aeroportos, escolas, isolamento e quarentenas. E, até que uma vacina ou um tratamento eficiente sejam implementados, viveremos a dança. Na dança, algumas partes da economia e da sociedade são abertas novamente e, caso as taxas de infecção aumentem, medidas severas serão tomadas novamente. Resumindo, voltaremos a dançar, mas em alguns momentos teremos de evacuar a pista.
da pesquisa, “afeto faz falta”. Não sabemos se vamos nos tornar mais coletivos ou mais alienados na nossa individualidade. Ironicamente, nunca estivemos fisicamente tão separados, mas também tão mentalmente conectados. O novo é mesmo uma ciranda com o absurdo. O que sabemos é que a esperança também é uma forma de resistência. Muitos participantes deram a simples dica para seu futuro eu: “VIVA!”. Quando o futuro nos tira pra dançar, seguir a música talvez seja a melhor escolha; e como dizia a coreógrafa Pina Bausch, “dance, dance, dance, senão estaremos perdidos”.
E quando o presente nos estimula a criar Dentre as muitas sensações reveladas pela pesquisa realizada com a comunidade MECA, o despertar criativo é uma das menções recorrentes. O refúgio escapista da inventividade é comprovado por projetos que nasceram na quarentena, como o colaborativo @mas.corona, ou por artistas inquietos como Fernando Schalpfer, que tem compartilhado nas redes sua investigação em fotografia e vídeo inspirada no surrealismo do belga René Magritte.
@mas.corona
[A]
O projeto de fotografia dos designers mineiros Rita Davis, Filipe Costa e João Emediato, nasceu por acaso. Rita postou uma máscara inspirada no artista Saul Steinberg e veio a ideia de desafiar amigos a ressignificarem o uso das máscaras. Dois meses depois, já são quase 200 mascarados. “O projeto traz uma enormidade de significados para as máscaras. Elas simbolizam sensações, desejos, angústias. Todas as máscaras são, de certa forma, um canal para abstrairmos da realidade ou para chamarmos atenção para a realidade que vivemos. Cada pessoa tem uma interpretação diferente sobre o que é arte e o que significa esse momento de isolamento que estamos vivendo”, contam.
“AS MÁSCARAS SIMBOLIZAM ANSEIOS, DESEJOS, ANGÚSTIAS” — Rita Davis, criadora do desafio
[C]
[B] [E]
[F]
[D]
@anendfor
Quando o fotógrafo carioca Fernando Schlaepfer notou que a quarentena duraria semanas, deu um jeito de criar um projeto pessoal para continuar fotografando todos os dias. Inspirado no surrealismo do belga René Magritte, ele tem postado autorretratos e vídeos fantásticos diariamente em sua conta no Instagram. “Gosto de fotografar gente, mas não tem outras pessoas comigo na quarentena. Então, ‘se não tem tu, vai tu mesmo’, como diria minha vó. E está sendo muito maneiro. É o momento mais legal do meu dia: quando eu paro, penso, presto atenção em mim, boto alguma ideia pra frente”, compartilha Fernando.
[G]
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TEXTO: ANDRÉ ALVES E LUCAS LIEDKE | FOTOS: [A] @SANDRA LEAOLEAO; [B] @EXAUSTAVILELA; [C] @NEYZONA; [D] @GABRIEUALGUSTO; [E] @FABIANATOME; [F] @LUISFILIPEA; [G] @ANENDFOR
2020 sempre apareceu em projeções e relatórios de tendências como um grande ano. Mas nenhum especialista, acadêmico ou pesquisador poderia prever o que estamos vivendo. O sistema grandioso e complexo que levamos séculos construindo, aquele que jamais poderia mudar do dia pra noite, colapsou. Grande pausa, grande recomeço ou o fim de tudo — chame como quiser. A pandemia do novo coronavírus é, definitivamente, um desses momentos históricos. 2020 é a falha na matrix. Como pesquisadores de cultura e comportamento, nunca vimos algo assim. E é surpreendente viver um momento em que tantos pensadores e pesquisadores tentam dar conta do presente ou do que está por vir. Talvez os músicos tenham sido mais assertivos em suas previsões. Letrux acertou: estamos aos prantos. Vivemos dias em que todo dia parece o mesmo dia e, ao mesmo tempo, tudo está mudando muito rápido. Afinal, o que isso significa? Fomos convidados a analisar o que cerca de 500 MECA Lovers escreveriam em um bilhete para seus EUs futuros, com a ideia de traduzir o que as pessoas estão sentindo nessa hora. O que descobrimos? Alguns recados tendem a se concentrar em ideias de renascimento completo — “2020 foi a revolução”, enquanto outros falam de “futuros incertos e sem poesia”. Pensamentos utópicos e também distópicos. Em épocas tão intensas, faz sentido trabalharmos com cenários extremos. Mas o tempo nos mostra que geralmente tendemos às combinações. Daqui pra frente, nem distopia, nem utopia; o futuro é incerto demais para escolher um único lado. Muitos inclusive misturam os dois sentimentos: “Espero que em Marte vocês tenham empatia”. Afinal, a vida é mesmo uma sucessão de contradições: “Em 2020, o silêncio reinou. Mas a internet lotou.” Alguns participantes mandaram mensagens para o futuro que, na verdade, referem-se ao presente. São inúmeros pedidos para cuidarmos do planeta, dos outros, dos animais, da nossa mente. Segundo os respondentes, são muitas as lições que esse vírus veio nos ensinar: interdependência, liberdade, gratidão, empatia, coletividade e a luta contra a desigualdade. Uma ciranda de incongruências que nos leva a questionar os tópicos mais complexos — “o capitalismo não funcionou né, minha filha?!” Seria ingênuo e irresponsável afirmar que tudo que estamos vivendo é um grande mal necessário pelo qual tínhamos que passar. Mas o futuro só nasce mesmo do conflito de forças. Uma dança de possibilidades e impossibilidades que necessariamente teremos que dançar nas próximas semanas, meses, anos. De acordo com Tomas Pueyo, engenheiro e autor das previsões sobre a
QUEM TE INSPIRA
dorival abre corações
O cantor e compositor carioca BNegão veleja entre passado, presente e futuro, navegando em uma existência reflexiva e pujante que, em novos rumos, revisita a obra do grande compositor baiano Dorival Caymmi
ENTREVISTA —
A maresia musical de Bernardo Santos sempre oscilou entre música brasileira, eletrônica, soul, hip-hop e punk. Cantor e compositor carioca de 47 anos, mais de 20 deles publicamente sintonizados pela frequência do som, BNegão tem a intensidade como matéria-prima de toda letra ou batida que já criou. Força, reflexão e versatilidade audível sempre o acompanharam, da descoberta da música na escola ao Planet Hemp, consagrado em 1993 com o disco “Usuário”, uma ode à cannabis. Mais tarde, as ondas sonoras do letrista e vocalista se projetaram junto aos Seletores de Frequência. “Enxugando Gelo” (2003) é um dos mais incríveis discos da música negra universal, mesclando com maestria hip-hop, jazz, samba, funk e afrobeat. Agora, ele flui tudo o que transborda do seu peito no projeto que rearranja em voz e violão as músicas do pródigo baiano Dorival Caymmi. Em entrevista à repórter Débora Stevaux, BNegão fala sobre o isolamento social, o movimento do mar e do tempo, sobre nadar contra a corrente e sobre o que nos toca nas nossas regiões mais abissais.
“HÁ ALGO QUE SÓ OS SONS DE DORIVAL ME TRAZEM” — BNegão
Como encontrar a paz em dias difíceis de isolamento social? Agora é a hora do mestrado da vida. Faça ioga ou outra prática. Escreva, reflita. Desligue tudo para não ficar ligadão o tempo todo e perder a saúde mental. Para ler, indico todos os livros do professor Hermógenes de Andrade Filho, como “Yoga para Nervosos” e “Autoperfeição com Hatha Yoga”, livros que salvam vidas. Tome bastante chá, consuma muitos produtos naturais e orgânicos. Alimente-se física, espiritual e mentalmente.
TEXTO: DÉBORA STEVAUX | FOTO: FELIPE DINIZ
É possível ser revolucionário mesmo dentro de casa? Ser politicamente ativo é estar ligado no que está acontecendo. Dá pra fazer ativismo digital. Postar, dar visibilidade às causas, comentar, ajudar no que for possível. Sempre fiz isso e estou fazendo ainda mais. Transmutação é a palavra-chave para abrir quais portas? O poder de transmutação, consciente ou inconsciente, é a única chance de sobrevivermos neste planeta muito louco. É a chave transformarmos as coisas negativas e sinistras que aparecem pelo caminho. Recebemos só notícia complicada e vamos afundar se não mudarmos energeticamente esse aspecto. Você dedica “Essa É Pra Tocar no Baile” a quem faz a sua microparte para que alguma microcoisa no mundo mude. Quem está nesse baile? Parece que está tudo uma merda, mas tem gente pra dedéu se movimentando pelo bem. Gente deixando de comer carne porque a parada é treta para além da
Se o som de BNegão tivesse uma textura, qual seria? Se tivesse uma textura seria como a água. Pode ser algo que vai salvar, que vai refrescar ou dar um caldo [risos]. Tudo pode acontecer. O mistério das águas está na minha música.
própria saúde: é sobre a saúde do planeta. Gente batalhando, fazendo ações afirmativas antirracismo, anti-homofobia, antipreconceitos. Eles que estão no meu baile. Quais são os seletores de frequência que precisamos ativar? Temos o poder de selecionar as frequências que chegam até nós. Podemos focar nas coisas boas ou ruins. Só não podemos nos alienar. A parada hoje é um grande “aqui e agora”, baseado no medo. A política do medo está em todo lugar, principalmente no [governo do] Bozo. Bizarraço, fascistoide. Por isso, é importante não entrar em frequências vampirescas e gananciosas. Se você tem amor-próprio, não faça isso.
Quais são as suas voltas nesse mergulho na obra do músico baiano? Sempre pensei a vida e a música entre passado, presente e futuro. E nesse projeto, com voz, violão e imagens em 16 mm, encontro o que procuro. Cantando as músicas de Dorival faço um teletransporte energético de todo mundo que está ali, de outra época para o agora, e a coisa bate até hoje da mesma forma. Vejo muita
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gente se emocionar. Lançamos “Morena do Mar”, “Canção da Partida” e “Rainha do Mar”, todas bem diferentes do original. Os costumes e as tradições do povo baiano e da comunidade afro-brasileira inspiraram a obra de Dorival. O que significa retomar essas narrativas? Regravei Dorival por uma questão pessoal. Me emociono com a sua obra. É algo especial e único. Há algo que só esses sons me trazem. Acredito que o projeto tem o poder de retomar as narrativas antigas. As pessoas estão numa busca espiritual maior neste mundo materialista. Faz bem para mim e para quem está em volta. Dorival abre corações.
INSPIRE -SE
a cura pelo traço
O olhar atento sempre funcionou como bússola na caminhada de Fabrizio Lenci até aqui. Ilustrador e animador paulistano, ele faz do desenho a sua ferramenta mais preciosa e medicinal ILUSTRAÇÃO —
As principais referências do ilustrador Fabrizio Lenci “Ela é minha companheira há 6 anos e me incentiva a viver do desenho. Com ela, pude descobri o lado mais doce da vida.” @lenamattar
“Um artista brasileiro maravilhoso e super gente boa. Seu trabalho é muito inspirador e forte, com uma linguagem única e brasileira.” @willian_santiago
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“Clube de ciclismo de São Paulo que teve papel fundamental na minha vida, tanto na formação do meu caráter quanto para curar feridas.” @fugacc
TEXTO: DÉBORA STEVAUX | ARTES: FABRIZIO LENCI
As formas inconstantes e a vivacidade das cores do trabalho do ilustrador e animador paulistano Fabrizio Lenci, 32 anos, impressionam. O traço foi algo natural desde a infância e o acompanha pelos caminhos mais densos da sua história. “Minha primeira memória é desenhar numa tira de papel de impressoras antigas deitado no chão da sala durante as Olimpíadas de Barcelona em 1992. Eu tinha 4 anos”, relembra. Celebrar as diferenças é o mote do trabalho de Fabrizio. “Nada é mais prazeroso do que a diferença. Gosto de explorar lugares pouco conhecidos da cidade. O desenho me leva a olhar coisas que nunca parei para contemplar e me ensinou que preciso respeitar o tempo”, pontua o arquiteto, formação que buscou para entender a pulsação frenética da capital paulista. “Aprendi muito sobre desenho e valores importantes que vou carregar para sempre.” Uma das maiores lições que a arte traçou em sua vida foi a superação de uma depressão. Ele lembra das horas desenhando anatomia ao lado do pai, médico e sua fonte de inspiração “Foram anos difíceis e minha recuperação aconteceu em paralelo com o descobrimento do desenho. Me ajudou muito. Guardo com carinho as horas andando de bicicleta a procurar lugares na cidade para desenhar.” @falenci
PALAVRA DE ESPECIALISTA
a ordem é se reinventar
Criadora da Mesa, empresa com um método de trabalho único para resolver problemas complexos, Barbara Soalheiro compartilha aprendizados adquiridos ao longo dos 8 anos enfrentando desafios empresariais NEGÓCIOS —
LISTICLE Bárbara indica 3 livros para mergulharmos nas profundezas da natureza humana: CONFIRA A ENTREVISTA COMPLETA EM MECA.LOVE/ MECAJOURNAL
Amada, de Toni Morisson “É um choque de realidade e, por isso mesmo, tão relevante: precisamos apreender a realidade se queremos transformá-la.”
TEXTO: HELDER FERREIRA | FOTO: MANUEL NOGUEIRA
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Uma mesa com um líder na cabeceira, uma pequena equipe e uma missão a ser cumprida em até cinco dias de imersão — assim se resume a Mesa, o sistema de trabalho criado há oito anos pela jornalista mineira radicada em São Paulo Barbara Soalheiro. O método já foi aplicado mais de uma centena de vezes, a pedido de diferentes empresas, como Google, Natura, Adidas, Nestlé e Gerdau — e chamou a atenção até mesmo de personalidades como a lenda do basquete Kobe Bryant e o diretor Fernando Meirelles. Mas o que fazer, diante da pandemia de Covid-19, quando não temos respostas concretas para questões básicas e o principal serviço oferecido por sua empresa se baseia na reunião presencial de 20 desconhecidos? A resposta da empreendedora pode ser resumida em uma única palavra: reinvenção.
AJA RÁPIDO Lidar o mais breve possível diante dos desafios ou problemas é fundamental. No método da Mesa, a agilidade vem através de uma fórmula básica: um líder na cabeceira da mesa para destravar o potencial máximo das pessoas, uma equipe pequena com todo o conhecimento e habilidades necessárias para resolver
um problema e uma missão — um ponto de chegada claro, com que todo o time se compromete. “O que a Mesa faz é criar um tempo/ espaço em que todo mundo que precisa estar junto está ali e está disposto a tomar decisões, então não há como não resolver um problema”, comenta Barbara. “A missão é sempre algo tangível, o que nos permite tirar as pessoas do modo ‘encontrar obstáculos e debater infinitamente’ e colocá-las rapidamente no modo ‘encontrar soluções’.”
PARTA DA IDEIA DE QUE VOCÊ ESTÁ EM BUSCA DE REINVENÇÃO COMPLETA “Há oito anos, a gente é treinado na Mesa para resolver problemas para os quais não existem benchmarks (fórmulas prontas, que podem ser apenas copiadas ou adaptadas). E isso é exatamente a habilidade que todos nós precisaremos de agora em diante”, destaca. Com a pandemia do Covid-19, ela precisou aplicar esse conceito na própria empresa. Até o início de
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março, o formato mais frequente e bem-sucedido na Mesa eram sessões presenciais de cinco dias, com um grupo de 16 pessoas juntas numa única sala. “Estamos no meio da criação de algo novo, um produto que entregue a mesma excelência em resolver problemas, em um novo formato.”
Seminário dos Ratos, de Lygia Fagundes Telles “O conto-título do livro mistura realidade e fantasia, e faz uma crítica social a um Brasil atravancado por burocratas, onde nenhuma decisão é tomada levando em consideração o povo.”
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MOVA-SE COLETIVAMENTE Ainda que as orientações de distanciamento físico e social imponham dificuldades, agir coletivamente costuma ser mais eficaz do que iniciativas isoladas. Afinal, duas cabeças pensam mais que uma. No método criado por Barbara, cinco etapas fundamentais levam à resolução dos problemas: download de conhecimento (1); compromisso com o ponto de chegada (2); escolha de caminhos (3); construção, interação, construção (4); e, por fim, tomada de decisão (5). “Componentes bastante humanos são essenciais nesse processo — superpresença, inteligência coletiva e conexão real das pessoas com as pessoas.” Na prática, a mesma lógica se aplica para qualquer problema, do mais simples ao mais complexo. @mesa.company
O Senhor das Moscas, de William Golding “Um grupo de garotos é obrigado a sobreviver em uma ilha deserta. Os acontecimentos são um soco no estômago de quem pensa na infância como uma fase de total inocência.”
CUIDE DE TODOS SÃO PAULO (SP)
Verde-fé
Cindy Carbonari, diretora da organização sem fins lucrativos Base Colaborativa.
NATUREZA —
Adote Uma Planta pra crescer melhor
[A]
[A]
em charmosos vasinhos de barro. O frete está incluso no valor e você pode tanto se
presentear quanto presentear alguém que mora no seu coração. Vibrações altas de vida
BRASIL
Mapear para ajudar PROJETO — Fortaleça o
Mapa Corona nas Periferias Favela em Pauta, Instituto Marielle Franco e Twitter Brasil lançaram o “Mapa Corona nas Periferias”, uma ferramenta de
mapeamento de iniciativas de solidariedade. O projeto reúne inúmeras ações espalhadas pelas periferias brasileiras, da
atraem outras vibrações, igualmente preciosas. Participe. @movimento90
distribuição de alimentos e kits de higiene a campanhas de conscientização. Colabore com quem precisa de uma força ou cadastre seu projeto. Mais informações em: bit.ly/mapacorona-nasperiferias
[B]
SÃO PAULO (SP)
Lava uma mão
AÇÃO — Apoio e empatia sobre duas rodas
Se você já viu uma trupe animada rodando por São Paulo com bicicletas tocando “Lavar As Mãos”, música do Castelo Rá-TimBum e de Arnaldo [D]
Antunes, o sistema cintilante do Bike System te pegou. Além de conscientizar a população sobre a importância de hábitos de higiene, o projeto
distribui garrafas de água, sabão e máscaras para pessoas em situação de vulnerabilidade pelo centro da capital. @bikesystem
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BRASIL
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Cor e forma pelo bem
ARTE — Designers arrecadam fundos para vítimas do Covid-19 Frases como “Vai ficar tudo bem”, “Seja seu melhor abrigo”, “Lave as mãos”, “Não existe longe para quem mora dentro” e “Um mundo melhor espera por nós” nos dão coragem e esperança
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para seguir em frente. As mensagens combinadas com imagens singelas foram todas idealizadas por designers brasileiros talentosíssimos por meio do projeto CoviDesigners.
Está sendo um dia de cada vez, é verdade, mas com carinho, afeto, cooperação e empatia iremos [C] passar por tudo isso e seguiremos mais fortes. Acompanhe o perfil do projeto no Instagram e participe do financiamento coletivo para ajudar quem contraiu o vírus e precisa de apoio. @covidesigners
Qual a área de atuação da Base? “Temos mais de 10 projetos em diferentes áreas, de educação socioemocional pra crianças no Capão Redondo (SP) a assessoria para empreendedores das favelas. Cocriamos projetos de inovação social e oferecemos conteúdo educacional para lideranças conscientes.” Por que precisamos despertar uma consciência coletiva ? “Não podemos transformar um sistema sem alterar nossa consciência. Perceber que estamos interconectados aumenta nosso potencial para lidar com os desafios. É por estarmos desconectados do todo que adoecemos individual e coletivamente.” Como é o mundo melhor que você imagina? “Desejo um mundo em que todos percebam a influência que têm e participem dele com mais intencionalidade. Onde as pessoas se relacionem através do sentir e da vulnerabilidade compartilhada como potência de evolução das relações. Um mundo onde os recursos são abundantes e cada um é livre pra ser o que quiser.” @base colaborativa
TEXTO: DÉBORA STEVAUX | [A] REPRODUÇÃO INSTAGRAM; [B] LUCA MEOLA; [C] ANDY FALCONER/UNSPLASH; [D] @PRISCILACZUKA; [E] @ XJADIX
Em meio ao contexto da pandemia, a solidariedade e a criatividade dão o tom e a luz ao nosso 2020. Que ações como essas nos inspirem sempre:
A campanha #AdoteUmaPlanta, idealizada pelo Movimento 90o, apoia trabalhadores do Ceagesp — fechado por tempo indeterminado —, e não deixa várias plantas sem destino apropriado. Ao participar, você recebe em casa lindas plantas, excelentes companhias em tempos de isolamento e com o poder de transformar qualquer ambiente. A operação segue todas as recomendações de higiene e cada exemplar vem
COOL PEOPLE BEHIND COOL PROJECTS
“NÃO PODEMOS ESPERAR QUE QUEM NOS OPRIMIU VÁ NOS SALVAR” — Nina Silva
a cor do dinheiro
TEXTO: HELDER FERREIRA | FOTO: LUIZ BROWN
A carioca Nina Silva, CEO do Movimento Black Money e do Black Bank, está transformando a economia e as perspectivas empreendedoras de uma comunidade afrobrasileira que enfrenta tantas barreiras para obter crédito e manter o próprio negócio Se hoje a empreendedora carioca Nina Silva é uma das 20 mulheres mais poderosas do país segundo a revista “Forbes” e uma das afrodescendentes mais influentes do mundo de acordo com a ONU, foi porque jamais aceitou que não houvesse lugar para mulheres pretas na mesa de uma diretoria. Depois de uma longa carreira no mercado de tecnologia, ela criou em 2017 o Movimento Black Money — um hub de inovação para a transformação do ecossistema empreendedor negro no Brasil. “Vamos além da estética e da reafirmação identitária. Fazemos com que pessoas pretas tenham real autonomia e liberdade, por meio da tecnologia e de serviços financeiros”, explica Nina. O foco é incentivar que as pessoas consumam e invistam dentro da comunidade afro-brasileira, iniciativa inspirada em práticas da comunidade afro-americana e de populações judaicas e asiáticas. “A gente não pode simplesmente esperar que políticas públicas sejam feitas.
Não podemos esperar que quem nos oprimiu vá nos salvar.” No início, o intuito era lançar serviços financeiros como linhas de crédito, mas Nina e o cofundador Alan Soares perceberam que primeiro era necessário um trabalho de comunicação. “Se você procurasse por ‘black money’ no Google há dois anos, encontraria resultados ligados a dinheiro sujo”, lembra. “A gente ressignificou isso e hoje estamos no topo dos resultados.” Além da comunicação, o projeto atua nas áreas de educação e finanças, outros gargalos para o empreendedor afrodescendente. Ressignificar é um dos objetivos da iniciativa que reitera que pretos podem e devem, sim, ocupar todos os espaços na sociedade e nas empresas. O movimento organiza lives com empreendedores e especialistas e, antes da pandemia, realizou eventos presenciais de sucesso em diversas capitais, conectando empreendedores e fornecedores da comunidade negra.
A pandemia, aliás, mostrou a força do Movimento Black Money. A campanha “Impactando Vidas Pretas”, lançada na plataforma Benfeitoria e em parceria com o Fundo Colaborativo Enfrente, tinha o objetivo de apoiar 40 famílias em situação de vulnerabilidade, em especial as lideradas por mães solteiras e por afro-empreendedores. A meta era arrecadar R$ 30 mil, mas até o fechamento desta reportagem a campanha já havia obtido R$ 64 mil. Já o braço educacional, o Afreektech, oferece cursos gratuitos, como marketing digital, programação básica , branding e modelagem de negócios com design thinking, que ensinam como usar a tecnologia para hackear o sistema. “As pessoas precisam de combustível para competir em pé de igualdade e oferecemos isso”, destaca Nina. Mas difundir conhecimento não basta em um país que nega crédito bancário três vezes mais a empreendedores negros do que brancos. Nina conta ainda que, apesar
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de a comunidade representar 53% das micro e pequenas empresas do país, menos de um terço consegue empregar uma segunda pessoa. As razões vão da dificuldade de financiamento à falta de acesso a gestões empreendedoras de qualidade. “A maioria empreende por necessidade, por sobrevivência, e não consegue pensar no negócio como um gerador de oportunidades futuras para si e para quem está ao redor.” Vem daí o braço de serviços financeiros do movimento, o D’Black Bank, que lançou no final do último ano a Pretinha, uma maquininha de cartão com taxas menores já utilizada em sete cidades do país. E este é só o começo. Os próximos passos são um marketplace, um canal direto para a prática de black money e comercialização de produtos de empreendimentos negros, além de um serviço de contas digitais e a concessão de linhas de crédito. “Queremos que o empreendedor negro seja protagonista e não tenha mais que passar pelo que tantos de nós já passamos, que é comprovar até mesmo que seu dinheiro é seu dinheiro”, afirma Nina, que sonha em expandir seu movimento para todo o Brasil, o segundo país em população negra no mundo, e para outros lugares do globo. “Queremos mostrar que novas formas de negócio e novas formas de empoderamento são reais e possíveis.” movimentoblackmoney.com.br
ESPECIAL: ARTE DIGITAL
Revolução artístico-digital A arte revela seu caráter transformador e sua capacidade de adaptação: enquanto expressões artísticas analógicas flertam cada vez mais com novas tecnologias, em um processo sem volta ampliado pela pandemia, a arte digital se difunde, se multiplica e nos convida a ampliarmos nossos horizontes
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Em tempos analógicos – ou nem tanto assim –, o poeta baiano Waly Salomão cunhou: “Agora, entre meu ser e o ser alheio, a linha de fronteira se rompeu.” A singela frase do poema Câmara de Ecos, de 1993, é uma representação da vida, das relações humanas e da arte. Vivemos paradoxalmente em um mundo de fronteiras invisíveis e em uma sociedade hiperconectada – ainda mais durante a pandemia do Covid-19 –, onde tecnologia e expressões culturais se fundem, confundem, entrelaçam e transbordam. Como no mais apertado dos abraços que por ora não podemos dar. Se a indústria cultural foi uma das mais afetadas com o coronavírus, a mesma cultura serviu de refúgio para todos nós. E a arte digital, que sempre foi meio avessa a
rótulos e fronteiras, —e que o galerista e estudioso alemão Wolf Lieser conceituou como “obras que por um lado têm uma linguagem visual especificamente mediática e, por outro, revelam as metacaracterísticas do meio”—, ganhou novo significado. Na internet, o número de buscas por “museu virtual” aumentou 1300% nos últimos três meses em inglês – e 1000% em português. Com o contato físico restrito a vídeo-chamadas e muitas atividades limitadas a algumas paredes, a cultura reassumiu seu papel relevante no espetáculo da humanidade em versão mais tecnológica. “A arte pode nos iluminar, trazendo beleza e alegria, ou apertar nossos botões mentais, nos tirando do conforto das nossas ideias e ideais. A arte faz crescermos co-
mo seres humanos questionadores e esclarecidos”, enaltece a artista digital franco-israelense Vanessa Louzon. Mesmo pensamento tem a artista plástica paulistana Gisela Motta: “Acredito que a arte é uma linguagem necessária e essencial, que consegue mover as pessoas ao falar de forma mais direta, política e poética, sobre a vida.” E se a arte analógica já flertava com o digital, a pandemia veio para acelerar transformações culturais e tecnológicas. A porosidade das fronteiras Foi no Japão que surgiu, há dois anos, o primeiro museu de arte digital do mundo. O Mori Building Digital Art Museum nos transporta para um universo mágico de luzes e cores através de projeções, espelhos,
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holofotes, câmeras 3D, realidade aumentada e outras combinações tecnológicas. “Queremos que os visitantes entendam como a tecnologia digital pode expandir a concepção de arte e como essas técnicas podem liberar a arte de um sistema de valores baseado apenas em materiais físicos”, compartilha o teamLab, grupo interdisciplinar responsável pelas exposições. Em seu primeiro ano de existência, o museu recebeu 2,3 milhões de visitantes. “Acreditamos que o domínio digital pode expandir as capacidades da arte e que a arte digital pode criar novos relacionamentos entre as pessoas, a natureza e o mundo”, afirmam os criadores do teamLab, por meio do diretor de relações públicas Kazuna Takahashi. Não por acaso, o museu ado-
TEXTO: DÉBORA STEVAUX | FOTOS: [A] DIVULGAÇÃO/ MORI BUILDING DIGITAL ART MUSEUM, NO JAPÃO; [B] DIVULGAÇÃO / TEUN VONK; [C] REPRODUÇÃO INSTAGRAM / KRISTIN MCWHARTER; [D] GISELA MOTTA E LEANDRO LIMA; [E] @FURMIG; [F] @CARMELACALDART; [G] @EDUDEBARROS_
REPORTAGEM —
ESPECIAL: ARTE DIGITAL ta o conceito “borderless” (sem fronteiras). Por lá, as linhas de Waly Salomão também se romperam. E a iniciativa japonesa inspirou novos museus digitais pelo mundo, como o Atelier des Lumières, em Paris, e o MIS Experience, em São Paulo. Multiplicar o acesso ao acervo de mais de 2 mil museus, desafiando os limites entre analógico e digital, é uma das missões da plataforma Google Arts & Culture. “Queremos criar maneiras novas e surpreendentes de interação com arte e cultura. Já atraímos milhões de pessoas com experiências interativas, museus em realidade aumentada ou dinossauros em realidade virtual”, destaca Fernanda Guzzo, gerente de comunicação do Google Brasil. Entre as preciosidades da coleção digital estão o projeto “Portinari: o Pintor do Povo”, dedicado ao modernista brasileiro, e um tour virtual pelo Museu Nacional antes do trágico incêndio de 2018. Outras instituições recorreram ao digital por novos laços com o público. O Museu da Imagem e do Som de SP (MIS) está compartilhando seu riquíssimo acervo no YouTube, a centenária Pinacoteca de SP abriu sua primeira exposição online de filmes e vídeos, e o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) digitalizou sua mostra sobre o Egito Antigo. Expressões artísticas como música e teatro também migraram para o digital, das plataformas de streaming às peças na íntegra na internet. Pelo revés do tempo, nossa memória cultural se fortifica através dos pixels. O digital como extensão humana Para Paula Perissinotto, cofundadora e organizadora do Festival Internacional da Linguagem Eletrônica (FILE), há 21 anos em São Paulo (SP), a tecnologia é uma extensão social, política, econômica e artístico-cultural da humanidade. “Assim como as pessoas a partir dos anos 1990, muitas obras de arte já nasceram digitais. Com a rapidez dos processos tecnológicos, diversos artistas fazem um uso transgressor dessas ferramentas”, destaca. Já a artista multidisciplinar norte-americana Kristin McWharter destaca a porosidade dessa sociedade digital. “Vemos várias performances físicas, do teatro às reuniões corporativas, adaptando-se a um formato virtual. Me impressiona como o virtual nos mantém juntos neste momento. Dificilmente conseguiríamos coordenar trabalho e entretenimento com a mesma eficácia sem webcams.” Mas Kristin vai além: “Esse mundo cada vez mais digital também expõe uma retórica enganosa sobre o que queremos dizer com ‘conexão’. A adaptação do formato físico para o formato online me parece um feito atlético. As mesmas desigualdades estruturais que nos separam no mundo físico afetam nosso acesso online – e são ocultadas pelo design e branding das redes que mediam nossa vida virtual.” Conscientemente ou não, estamos em meio a uma revolução digital e ainda é cedo para apontar resultados. Acelerada pela pandemia, a arte analógica migrou para o online e a arte digital se instalou em nossas casas. Em um cenário onde o contato físico nos deixa vulneráveis, o digital assumiu protagonismo nas águas cíclicas da história. E, nesse mar de infinitas possibilidades, o caráter inventivo e democrático da arte é o nosso grande amuleto.
Múltiplos caminhos
A arte digital pode assumir inúmeras facetas: Bioarte e genética A artista alemã Diemut Strebe já recriou a orelha de Van Gogh a partir de genes da família e produziu uma boca robótica de silicone, criada com inteligência artificial e que rezava sem parar, exposta no Centro Georges Pompidou, na França, antes da pandemia.
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1 - Exposição interativa e sensorial no Mori Building Digital Art Museum, no Japão. 2 - Instalação “Sense of Gravity”, no FILE, realizado há 21 anos em São Paulo. 3 - Obra interativa “Scope”, de Kristin McWharter, exposta no FILE. 4 e 5- Obra “Calar”, da dupla de artistas . brasileiros Gisela Motta e Leandro Lima.
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Ancestralidade e política Comunicador indígena fundador da Rádio Yandê, Anápuáka Tupinambá idealizou a exposição “RePangea”, uma experiência sensorial tecnoxamânica em Realidade Virtual que nos instiga a repensar nossa relação com a Terra e entre nós, que esteve em cartaz no Museu do Amanhã no ano de 2019. CriptoArte O mercado de arte aderiu ao blockchain, tecnologia de registro e comercialização de criptomoedas, para dar mais segurança às transações. Pessoas que não querem deixar seus Bitcoins na rede podem comprar obras físicas com QR codes especiais e que funcionam como carteiras offline para o armazenamento de valores.
Flerte revival: iniciativas brasileiras de arte com um crush digital A reinvenção, a solidariedade e a celebração da cultura guiam projetos surgidos durante a pandemia [E]
Arte por Solidariedade Servidores e estudantes do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE) em Olinda criaram um leilão
virtual pelo Instagram para vender obras de arte em vários formatos e ajudar famílias em situação de vulnerabilidade na região. São obras em diversas técnicas e estilos, de artistas que cederam talento e cores para o bem. @artepor solidariedade
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Museu do Isolamento Primeiro museu brasileiro online criado para difundir arte em tempos de isolamento social. Idealizado pela
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relações públicas paulistana Luiza Adas, o projeto divulga e reverbera o trabalho de diversos artistas prejudicados pela pandemia, além de inspirar e comover quem, como nós, ama arte . Para participar, basta se inscrever. @museudo isolamento
[G]
“CROPPED”, de Edu Barros, O artista carioca saiu da favela da Rocinha para pintar afrescos na Sé Galeria, em São Paulo. Mas, dois
dias depois de ele chegar lá, o isolamento começou. Diante da galeria fechada e da mostra física cancelada, Edu, O Profeta, transformou-a na mostra digital “CROPPED”, com a transmissão online do seu processo revolucionário e pós-apocalíptico. @edudebarros_
FIQUE BEM
ho’oponopono: sabedoria ancestral
Técnica milenar havaiana pode ser utilizada para controlarmos a ansiedade em períodos de transformações sociais e emocionais, na busca por um equilíbrio maior entre corpo e mente
AUTOCONHECIMENTO —
4 frases poderosas: Como o mantra do Ho’oponopono impacta nossos sentimentos e ações
SIN|TO MUITO Com esta frase, assumimos responsabilidades sobre a nossa situação atual e reconhecemos que algo (físico, mental ou emocional) aconteceu no passado e se firmou na memória. ME PERDOE Pedimos perdão a nós mesmos e ao Criador, para nos perdoarmos por essas memórias negativas que se repetem em nosso sistema.
za sobre como nossas vidas podem ser tocadas pela leveza do seu entendimento. Gratidão, amor, perdão e responsabilidade são pontos chaves para a paz, a prosperidade e para a saúde”, valoriza Paulo. “Com a pratica do Ho’oponopono, tudo se ilumina. A sua visão se expande, o coração se acalma e a mente clareia.” Em um cenário de pandemia, medo e incertezas nos unem e nos fazem lembrar da nossa natureza vital. O Ho’oponopono e práticas de meditação e autoconhecimen-
to proporcionam uma passagem menos turbulenta por esse caos. Somos sensíveis ao vírus e aos sentimentos negativos que a pandemia ou a quarentena instigam, mas não precisamos ser prisioneiros dessa bad vibe toda. Siga as recomendações dos órgãos de saúde, como o uso de máscaras e o distanciamento físico e social, ao mesmo tempo em que dê ouvidos aos seus anseios internos. Aproveite este período para desenvolver sua resiliência. Fique em paz, que isso vai passar.
Prática da filosofia havaiana Huna, o Ho’oponopono pode ajudar na busca de equilíbrio e mais inteligência emocional
EU TE AMO Não há nada mais potente que magnetizarmos o amor para permitir que ele retorne a nós. Dizer que amamos nossas memórias é sermos gratos por libertálas e nós mesmos. O amor é a nossa melhor forma de reconexão com o Divino e de transformação de toda energia bloqueada. SOU GRATO A gratidão é sinônimo de fechamento de ciclos e de certeza e confiança na ação do Criador, independentemente de como você o identifique.
Cuide de si e de quem você ama, sempre.
Enquanto vivemos este turbilhão de sentimentos e sensações, conheça três contas no Instagram com foco em autoestima, autocuidado e autoconhecimento – para valorizarmos mais essas pessoas incríveis que somos @natalyneri Vida consciente, autonomia intelectual, reflexões e beleza sustentável sem crueldade.
@umsorvete nacasquinha Saúde mental, autoestima, autocuidado e superação.
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@sobreautoestima Já se amou hoje? Conteúdo sobre amor-próprio, com frases inspiradoras.
TEXTO: KIM OLIVIER | FOTO: JARED RICE /UNSPLASH
O Ho’oponopono é uma das técnicas mais populares da filosofia Huna, surgida entre os povos ancestrais havaianos no fim do século 19. Em seu modo mais superficial, ele é um poderoso mantra com a finalidade de restaurar a harmonia interior e nas relações interpessoais por meio da repetição das frases “sinto muito”, “por favor, me perdoe”, “eu te amo” e “sou grato”, coordenada com movimentos respiratórios e práticas de reflexão. “A maior virtude que uma pessoa pode desenvolver dentro de si por meio do Ho’oponopono, e que a ajudará a passar pelo momento que vivemos, é o autoconhecimento e a auto-observação diária dos pensamentos e sentimentos”, recomenda Vandré Toledo, mestre em programação neurolinguística e fundador do Ho’oponopono Center, maior portal sobre o assunto no Brasil. “O Ho’oponopono pode ser um grande aliado na manutenção da saúde do corpo e da mente. Mas devemos também cuidar dos nossos hábitos, sejam eles alimentares ou físicos”, complementa. Vandré recomenda a repetição dos mantras regularmente ou após a identificação de qualquer padrão de pensamento negativo, como medo, tristeza, nervosismo ansiedade – ou seja, tudo aquilo que estamos enfrentando nesta pandemia. “Peça para Deus, o Universo, Oxalá, o Divino Criador ou Aquilo que você acredita, dentro de sua fé ou religião, para purificar esse pensamento.” A prática pode ser uma importante ferramenta na restauração do equilíbrio emocional e, de quebra, trazer reflexos positivos no foco e na criatividade. Estamos mais ansiosos e em permanente estado de tensão. É difícil encontrar alguém que não tenha sido impactado emocionalmente na pandemia do Covid-19: uma pesquisa do MECA apontou que cuidar da saúde emocional é o principal desafio dos entrevistados e um estudo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) com 1,5 mil pessoas de todo o país identificou 80% de aumento nas crises agudas de ansiedade e estresse, e o dobro de casos de depressão entre os participantes. Enquanto o fim da pandemia não chega, as pessoas têm buscado diferentes alternativas para cuidar, equilibrar e tranquilizar a mente. E muitos encontraram na técnica milenar do Ho’oponopono uma ferramenta poderosa neste momento de instabilidades. É o caso da assistente virtual paulistana Camila Matos, de 37 anos. “O Ho’oponopono tem me ajudado bastante, principalmente em relação à ansiedade e para cortar padrões de pensamentos prejudiciais. Me deixa mais calma, me traz para o presente”, valoriza Camila. Biomédico, psicanalista e autor do livro “Ho’oponopono – O Segredo Havaiano Para A Saúde”, Paulo Valzacchi pratica a técnica há mais de 20 anos e recomenda ainda mais o mantra em tempos de pandemia. “A filosofia havaiana é realmente transformadora e nos dá uma plena clare-
RADAR
artistas brasileiros para você conhecer O curador musical Dimas Henkes indica quatro artistas brasileiros promissores que estão se destacando no cenário cultural do país ao romper padrões e usar linguagens musicais disruptivas, cada um à sua maneira
OUÇA NOSSAS PLAYLISTS. ACESSE O SPOTIFY E PROCURE POR MECALOVEMECA
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JLZ (Distrito Federal)
VENTURA PROFANA (Minas Gerais)
Um pedaço promissor do futuro da música brasileira está nas mãos do cantor brasiliense. Com batidas aceleradas e um ritmo de rave, JLZ cria uma atmosfera poderosa, misturando rap, macumba e funk em suas produções autorais e remixes. Já colaborou com Linn da Quebrada, DJ Lycox e carimbou seu nome no Boiler Room em São Paulo. Suas múltiplas experiências se refletem em diferentes produções, da sarrada romântica em “Pra Você” ao baile funk de “Uh Uh Balançou”. @jlzmusic
Profetizando a vitória de um corpo transexual em um mundo machista, a mineira se inspira no gospel para transmitir uma mensagem poderosa de fé e esperança. Com a colaboração de Jhonatta Vicente, produtor musical mineiro, a cantora dá o pontapé inicial em uma carreira promissora. A voz aguda de Ventura prende nossa atenção e faz a gente imergir em um culto à vida da cantora. “Resplandescente” é um anúncio prévio da vitória do seu corpo em um mundo hostil. @venturaprofana
TEXTO: DIMAS HENKES | FOTOS: [A] FERNANDA TINÉ; [B] RAFAEL KENNEDY; [C] FREDERICO SANTIAGO; [D] RONCCA
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RICARDO RICHAID (Rio de Janeiro)
NEGO BALA (São Paulo)
O cantor e compositor carioca é sobrinho-neto de Carmen Miranda e reinventa a música popular brasileira com guitarras e sopros, autointitulando sua obra de “tropicalismo industrial”. Seu recente e primeiro disco, o inteiramente autoral “Travesseiro Feliz”, conta com participações especiais de Ana Frango Elétrico e mistura jazz com psicodelia. “Largado Nu” e “O Velho Cai” são músicas que deixam nossos ouvidos molhados e fazem nossos corpos remexerem. @ricardorichaid
Criado na Cracolândia e com passagens pela Fundação Casa, Nego Bala driblou o futuro incerto e aportou na música para se expressar com palavras verdadeiras de amor. Ele mistura funk com jazz, blues e maracatu, e traz letras de consciência sobre passado e presente, denunciando injustiças e trilhando um caminho de luz. O documentário “Da Boca do Lixo”, dirigido por Danilo Arenas e com roteiro do próprio artista, mostra suas origens caóticas. Ouça o quanto antes a música “Cifrão In’Pé”. @negobalamc
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Produzimos os eventos que a gente gostaria de ir. Geramos o conteĂşdo que a gente gostaria de consumir. ConstruĂmos os lugares que a gente gostaria de frequentar. Criamos os produtos que a gente gostaria de comprar. Investimos nos negĂłcios que a gente gostaria de participar. Aproximamos as pessoas com quem a gente gostaria de conviver. Conectamos as marcas que a gente gostaria de trabalhar. Simples assim. Celebrando, desde 2010