Revista MedAtual

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EDITORIAL

SUMÁRIO Caro Leitor, PATOLÓGICAS 2 ATUALIZAÇÕES Nova droga para a asma 3 ALERTA Dengue 4 MEDICAMENTOS Venda de antibióticos no Brasil 5 ACONTECE Pará apresenta novo surto de doença de Chagas DE DESTAQUE 6 PROFISSIONAIS Entrevista: Vladimir Cláudio Cordeiro de Lima PAUTA 8 EM Bebida e direção: mistura explosiva 11 CERTIFICAÇÕES Contenção de erros MERCADO DE TRABALHO

em dor e reabilitação 12 Especialista Médicos da juventude

Com alegria e satisfação, apresentamos a 4ª edição da Revista MedAtual. Sabemos das dificuldades enfrentadas pelos médicos e da enorme concorrência que enfrentam, desde o vestibular para medicina até o ingresso na profissão, passando pela residência médica e pelas demais especializações. Por isso, nesta edição trazemos informações sobre o mercado de trabalho para quem acaba de concluir a residência. Nossa matéria especial trata das dificuldades dos médicos em lidar com a morte e a maneira de encarar e respeitar os familiares. Na seção Em pauta, alertamos para o risco de misturar bebida e direção e apontamos as principais polêmicas envolvidas no novo projeto de lei que, se aprovado, não permitirá aos motoristas nenhum nível de bebida no sangue. Agradecemos as mensagens de sugestões e incentivo recebidas e continuamos a contar com a colaboração de todos os leitores para as próximas edições. Boa leitura! Editores

14 MULTIDISCIPLINAR Música que salva HUMANITÁRIA 16 ATUAÇÃO O difícil diagnóstico da endometriose

EXPEDIENTE

RADIAÇÃO

alerta sobre o risco do aparelho celular 17 OMS causar câncer

EM DEBATE

ganham 10% de pontuação 18 Recém-formados adicional em prova de residência

20 ESPECIAL O fim da vida HOSPITAIS

com a medicina - Hospital 23 Compromisso Universitário João de Barros Barreto

DE CAPA 24 MATÉRIA O que fazer após a residência médica? ÚTIL E AGRADÁVEL

medicina está entre as profissões que mais 27 Aconsomem café

HISTÓRICOS 28 FATOS Cirurgia videoassistida MEDICIN@

sociais e a relação entre profissionais 29 Mídias de saúde e pacientes

CURIOSIDADES

Jobs e a luta contra o câncer 30 Steve Como surgiram as luvas cirúrgicas 31 VERDADE E MITOS CULTURAL 32 CRÍTICA Nosso lado Sherlock Holmes 33 CRÔNICA Nome e CRM

Diretores: Atílio Barbosa e Sandriani Caldeira Produção Editorial: Fátima Rodrigues Morais Conselho Editorial: Dra Flávia Fairbanks Lima de Oliveira Marino – mestre em Ginecologia e especialista em Endometriose e Sexualidade Humana pelo HC-FMUSP; Dr Marcos Laercio Pontes Reis – especialista em Hematologia pela Casa de Saúde Santa Marcelina e mestre em Transplante de Medula Óssea pela UNIFESP; Dr Eduardo Bertolli – especialista em Cirurgia Geral pela PUC-SP e em Cirurgia Oncológica pelo Hospital do Câncer A. C. Camargo; Dra Fernanda Antunes – graduanda em Medicina pela Faculdade de Medicina de Santo Amaro Jornalista Responsável: Fátima Rodrigues Morais - MTB 48447 Reportagens: Paula Maria Prado Colaboração: Dr Antonio Bomfim Marçal Avertano Rocha, Dr Durval Alex G. e Costa, Diego Palmieri e Andressa Schpallir Revisão: Alessandra Barbosa Valença, Fabricio José Fernandes e Henrique Tadeu Malfará de Souza Serviços Editoriais: Denis de Jesus Souza e Tatiana Takiuti Assistentes Administrativos: Daniel Del Fiore, Juliana Ferreira e Milena Patriota Projeto Gráfico e Diagramação: Jorlandi Ribeiro Artes: Martha N. F. Leite, Carla Mancini, Luciane Sturaro, Mark Yukio Watanabe, Thiago Eduardo Vanderlinde e William Lopes Capa: R2 Criações Fotos: Martha N. F. Leite Marketing e Publicidade: Camila Miquelim Agradecimentos: Dra Denize Borges Pedretti, Dr Leandro Faustino, Sara de Oliveira e Hospital Universitário João de Barros Barreto Tiragem: 50.000 exemplares Periodicidade: Semestral Circulação: Nacional Distribuição: Gratuita MedAtual Avenida Paulista, 1776 - 2º andar www.medatual.com.br medatual@medatual.com.br (11) 3511 6182

A Revista MedAtual é gratuita. Solicite seu exemplar, cadastrando-se em nosso site: www.medatual.com.br. Envie suas opiniões e sugestões pelo e-mail medatual@medatual.com.br.


Atualizações Patológicas

Nova droga para a asma Solução à base de veneno de peixe promete livrar asmáticos de efeitos colaterais de medicação

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epois de mais de uma década pesquisando uma droga contra a asma sem os efeitos colaterais dos remédios tradicionais, os profissionais do Instituto Butantan, em São Paulo, desenvolveram uma substância, à base de veneno de peixe, promessa de ser um grande alívio para quem sofre da doença, que atinge cerca de 16 milhões de pessoas em todo o país, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). A solução foi descoberta durante um estudo sobre um dos peixes mais venenosos do Brasil, o niquim, encontrado no Norte e Nordeste. Ao ser ameaçada, a espécie levanta dois espinhos que liberam um líquido muito forte para provocar ferimentos em seu suposto predador. Em seguida, o peixe se esconde na areia, com o objetivo de se camuflar. A pneumologista Marina Alemita de Oliveira, do Hospital Total Core, em São Paulo, acredita que “a droga é um sonho”. “A gente precisa de um remédio que não tenha efeitos colaterais. Porque os disponíveis no mercado, com base em corticoide, tanto os inaláveis quanto os de forma oral, podem causar várias complicações à saúde, como o desenvolvimento da catarata, o aumento da taxa de glicose e os ataques ao metabolismo ósseo”, analisa. Segundo Álvaro A. Cruz, coordenador do Núcleo de Excelência em Asma da Universidade Federal da Bahia (UFBA), dificilmente uma única medicação irá resolver o problema, embora haja muito interesse em novos medicamentos com

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efeito anti-inflamatório. “Os cuidados individualizados para evitar exposição a fatores do ambiente que agridem o aparelho respiratório são indispensáveis”, explica. Novas pesquisas Ainda de acordo com Cruz, outro núcleo de brasileiros está em busca de novas medicações. Desta vez, há uma cooperação entre Europa e Brasil. Como em outros estudos, o objetivo é permitir que o paciente viva sem qualquer restrição, exceto as relacionadas à prevenção da exposição a agentes que provocam os sintomas. “Há medicações muito eficazes e seguras que permitem o controle da doença. O tratamento e a sua duração devem ser definidos de acordo com as características do paciente”, completa o especialista. No caso do Instituto Butantan, a substância encontrada no peixe serviu apenas como referência para os pesquisadores chegarem ao remédio, sintetizado em laboratório. A droga já foi patenteada no Brasil. Mas, antes de virar remédio, a substância terá de ser testada em humanos. Se tudo der certo, o medicamento poderá chegar às farmácias em, no máximo, três anos.

As nadadeiras do niquim ligam-se a glândulas de veneno

Paula Maria Prado | Diego Palmieri | Da redação


Alerta

Dengue Realidade cíclica de uma infecção atual

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vírus da dengue encontra em países tropicais todas as condições para seu progresso, incluindo facilidade de desenvolvimento de seu vetor. Clima quente, períodos longos de chuva e aglomeração urbana representam combinação bombástica a epidemias sempre recorrentes. A perpetuação do Aedes aegypti ainda é facilitada por baixas condições sanitárias e de cultura da população, com presença de vários criadouros mantidos. O mosquito tem hábitos urbanos (não habita facilmente florestas) e ainda diurnos (mas pode se adaptar à noite), se alimentando de sangue humano, facilitando a transmissão da dengue. Além disso, o ovo do Aedes aegypti pode durar até um ano sem eclodir e sem a presença de água, o que transforma o vetor em ameaça constante. No Brasil, quanto mais quente e úmida a região, maior o risco de epidemias. Apesar de o Aedes aegypti também ser o transmissor da febre amarela, não ocorrem surtos urbanos de febre amarela, ao contrário dos surtos da dengue. Isso se deve à ecologia do mosquito (hábito urbano) e do vírus da febre amarela (reservatórios silvestres), e também ao perfil do vírus da dengue. O vírus da dengue possui quatro sorotipos, e se sabe que cada vez que uma infecção ocorre, imunidade específica é gerada àquele sorotipo, e, portanto, as epidemias deveriam acabar com os anos. Mas não é o que ocorre. Surtos de dengue são descritos desde o início do século passado. A razão deste fato é que os sorotipos raramente estão todos juntos em uma única região. O exemplo mais recente é do sorotipo DEN 4. Após 28 anos, em 2010 novamente relatos de casos de dengue com sorotipo DEN 4 foram encontrados no estado de Roraima (oriundos da Venezuela) com disseminação para toda a região Norte e posteriormente com casos no Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste. Como a população brasileira não tinha contato com este sorotipo há 28 anos, a maior parte da população não tem imunidade contra ele, facilitando nova epidemia. No estado do Amazonas, em fevereiro de 2011, ocorreu uma situação inédita: a presença dos quatro sorotipos na mesma época e região. A hiperativação imune após uma primeira infecção aumenta o risco de vasculites e sangramentos a partir da segunda infecção. Isto torna novas epidemias mais graves quanto maior o número de sorotipos em conjunto na mesma região. Como o combate ao vetor se torna muito difícil pelos diversos fatores apresentados, um foco de esperança surge no desenvolvimento de uma vacina eficaz contra o vírus da dengue. No ano de 2011, uma vacina contra dengue ganhou a oportunidade de ser testada em humanos em cinco capitais brasileiras, além de outros países latino-americanos e asiáticos. No entanto, as promessas de uma vacina eficaz giram em torno de cinco anos. Os estudos com vacinas ainda estão caminhando a passos lentos e uma proteção de pelo menos 70% das pessoas após as três doses da vacina testada deve ser considerada para que ela seja eficiente.

Enquanto as políticas de saúde não se preocuparem em medidas preventivas no combate à dengue, a adoção de rotinas de tratamento não passará de medidas de prevenção secundárias pouco eficazes na diminuição de ciclo histórico de morbidade e mortalidade desta doença. A educação preventiva da população, a melhora das condições de moradia e de aglomeração populacional são medidas lentas. Tais medidas não garantem voto por não terem vitrine na imprensa, e por este motivo se perpetua a negligência frente à doença tão grave. Fontes: www.dengue.org.br - www.fiocruz.br

Durval Alex G. e Costa Doutorando em Doenças Infecciosas pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e Médico Infectologista do Hospital Estadual Mário Covas, Santo André, SP MedAtual

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Medicamentos

Venda de antibióticos no Brasil Resolução da ANVISA estabelece que substâncias antimicrobianas poderão ser vendidas somente com apresentação de receita médica

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esde outubro do ano passado, os brasileiros que costumam fazer seus tratamentos médicos com antibiótico estão aprendendo uma nova postura para adquirir a medicação: levar ao farmacêutico e deixar com ele uma via da receita médica. Semelhante ao tratamento destinado às drogas de tarja preta, essa medicação, de sinalização vermelha, só deverá deixar as prateleiras mediante a apresentação da prescrição médica. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), os documentos têm dez dias de validade e devem ser escritos com letra legível e sem rasuras. Além disso, precisam informar: nome do medicamento ou da substância prescrita sob a forma de Denominação Comum Brasileira (DCB); dosagem ou concentração; forma farmacêutica; quantidade e posologia; nome completo do paciente; nome do médico; registro profissional; endereço completo; telefone; assinatura e marcação gráfica (carimbo); identificação de quem comprou o remédio; e data de emissão. As medidas valem para mais de 90 substâncias antimicrobianas, que abrangem todos os antibióticos com registro no país, com exceção daqueles de uso exclusivo no ambiente hospitalar. O objetivo da ANVISA, ao ampliar o controle sobre esses produtos, é contribuir para a redução da resistência bacteriana na comunidade. “O abuso de antibióticos sempre foi uma grande preocupação para todos nós, profissionais de saúde, e entidades médicas de classe e científicas”, conta Oscarino dos Santos Barreto Junior, médico de família e diretor de comunicação da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC). Em sintonia com a legislação de outros países, o Brasil passa a ter postura semelhante à dos Estados Unidos, por exemplo. Lá, “há décadas, o uso de antibióticos requer pres-

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crição médica”, revela Maria Eugenia Valias Didier, médica infectologista e coordenadora da CCIEH do Hospital Felício Rocho, em Belo Horizonte. Com práticas rígidas para a venda de medicação, os Estados Unidos dividem os medicamentos em duas categorias: Over-the-Counter (OTC) e prescription drugs. Na primeira, estão os que não precisam de prescrição médica e podem ser comprados facilmente. Ao contrário desse, o segundo grupo só sai dos estabelecimentos comerciais mediante a apresentação da receita. Em ambos os casos, as drogas precisam ter sido aprovadas pelo U.S. Food and Drug Administration (FDA), órgão análogo à ANVISA.

Perigo iminente Maria Eugenia ainda chama a atenção para os riscos que os antibióticos oferecem. Além de não permitir observar os reais sintomas, eles apresentam diversos efeitos adversos. “Trabalhos recentes têm mostrado o efeito negativo do uso de antibiótico sobre a microbiota (flora), que reside em nosso organismo e contribui para a manutenção da nossa saúde. Esses estudos mostram que crianças que usaram antibiótico na infância são mais propensas a terem asma, obesidade e doenças inflamatórias do intestino, como a doença de Crohn”, revela a especialista. Já Oscarino ressalta a questão da resistência bacteriana, no caso do uso da medicação sem uma correta supervisão médica. “Em meus 26 anos de profissão, tive a oportunidade de presenciar e vivenciar alguns problemas dos mais impactantes e graves da prática médica: a resistência bacteriana. Deparei-me com vários pacientes adotando a chamada ‘automedicação’ como uma opção ‘rápida e prática’”, alerta o médico. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que mais de 50% das prescrições de antibióticos no mundo são inadequadas. Só no Brasil, o comércio desses medicamentos movimentou, em 2009, cerca de R$ 1,6 bilhão, segundo relatório do instituto IMS Health. Paula Maria Prado | Diego Palmieri | Da redação


Acontece

Pará apresenta novo surto de doença de Chagas Contaminação via oral é responsável pelo aumento no número de casos

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região amazônica, e em especial, o Estado do Pará, apresentou no último ano um aumento no número de casos de doença de Chagas, causada pelo parasita Trypanosoma cruzi. O surto da doença tem como característica a diferença na forma de transmissão. Se antes era majoritariamente vetorial, hoje a maior parte dos casos da região é transmitida via oral, através da ingestão de alimentos contaminados, como açaí e caldo-de-cana. Segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (SESPA), o número de casos confirmados até 31 de outubro de 2011 era 97, 37 em Belém. Para Carolina Lázari, médica infectologista, esse aumento é eventual e não representa uma epidemia. “O termo epidemia não é adequado porque o aumento de número de casos restringe-se a áreas geográficas bem definidas e, em geral, a um curto período de tempo. O correto, portanto, é classificar as ocorrências como surtos”, explica. O fato de a transmissão via oral ser a causa dos surtos explica a característica geográfica da doença. Tanto o Pará quanto o restante da região Norte do país são produtores de açaí, e a fruta, que é altamente consumida pela população, muitas vezes é processada sem que se observem os padrões de higiene e qualidade. Para a infectologista, “a predominância da transmissão nesses estados relaciona-se ao ambiente e aos hábitos alimentares da região, e à carência de controle de qualidade de alguns alimentos produzidos artesanalmente”.

O açaí e a cana, que pode contaminar através do caldo, costumam abrigar barbeiros em suas folhagens. Se forem moídos sem passar por um processo de higienização correto, corre-se o risco de algum barbeiro ocasionalmente infectado se misturar ao produto final. “As fezes repletas de formas infectantes do parasita contaminam a polpa ou o caldo que, quando posteriormente ingeridos, são fontes de infecção aguda”, afirma Carolina. O T. cruzi permanece vivo no alimento por horas ou dias, de acordo com o grau de calor e a umidade. Temperaturas baixas podem aumentar sua durabilidade para semanas. Para eliminar o parasita, o mais seguro é pasteurizar o alimento. Segundo a Secretaria de Vigilância Sanitária, o Brasil recebeu das Organizações Panamericana e Mundial de Saúde, em 2006, a certificação internacional de interrupção da transmissão vetorial da doença de Chagas, e desde então o número de casos tem permanecido estável. “Ainda existe transmissão vetorial esporádica, porém a infecção ocorre fora da residência do indivíduo”, explica a médica. Segundo a infectologista, a doença de Chagas é considerada pela OMS como uma doença negligenciada pela carência de pesquisa clínica e desenvolvimento de novos medicamentos. “Não há drogas lançadas recentemente para o tratamento, e as disponíveis, como o benzonidazol, têm adversos efeitos importantes e são difíceis de se obter no mercado”, conclui.

Paula Maria Prado |Andressa Schpallir | Da redação MedAtual

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Profissionais de Destaque

Entrevista: Vladimir Cláudio Cordeiro de Lima Formado em medicina pela Universidade Federal da Paraíba e doutor em Oncologia pela Fundação Antonio Prudente, Vladimir Cláudio Cordeiro de Lima é um dos nomes da área da Oncologia Clínica, com ênfase em tumores de mama, pulmão e hematológicos. Atualmente, trabalha no hospital paulistano A.C. Camargo e divide-se entre a atuação médica e a pesquisa, participando de projetos como “a interação entre a célula neoplásica e componentes da resposta imune inata e do microambiente tumoral”, com interesse especial “nos macrófagos e no endotélio”. Ainda ministra palestras sobre o assunto em diversas partes do país. Como arranja tempo para tudo isso ele conta para a MedAtual. MedAtual: Por que o senhor escolheu a medicina como profissão? Vladimir Cláudio Cordeiro de Lima: Na minha família não tinha médico. Na época do cursinho vestibular preparatório, fiquei entre duas áreas de formação: a medicina e a biologia. Sempre gostei de biologia, e o que me atraiu até mesmo na medicina foi o conhecimento biológico. No colégio, me interessavam áreas incipientes ainda no país, como biologia humana, celular e genética. No entanto, a medicina parecia uma área mais fácil para ingressar no mercado de trabalho. Por isso, optei por ela. MedAtual: Desde o início da universidade o senhor é pesquisador? Lima: O que eu gostava na ciência era da possibilidade de experimentação e de descobertas. Sempre gostei muito de ler e tinha até um laboratório em casa, onde fazia minhas experimentações. Na faculdade, fiz monitoria em bioquímica e iniciação científica em citogenética animal – minha orientadora, aliás, não era da área de medicina, era de biologia. Essa convivência na área acadêmica era muito interessante. Até hoje é, embora, atualmente, não trabalhe no meio propriamente acadêmico. MedAtual: E foi por causa da iniciação que escolheu a Oncologia como especialidade? Lima: Na verdade, não. Terminei a faculdade e, antes de fazer a especialização, optei por trabalhar. Foi quando vim para São Paulo, como médico de família. Não sabia, na épo-

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ca, de qual especialidade gostava. Mas eu gostava de câncer – não exatamente do tratamento de doentes, o que me atraía era a doença, seus processos biológicos. Fiz primeiro Clínica Médica, período em que passei a fazer várias outras coisas, como Patologia, Reumatologia, e terminei optando por Oncologia. MedAtual: Ainda hoje o senhor é pesquisador. Como arranja tempo para conciliar a carreira médica com as pesquisas e as palestras que ministra? Lima: (Risos) Na verdade, eu gosto. E clinicar é preciso, não é? É daí que tiro o meu sustento. Mas, ao mesmo tempo, gosto da pesquisa e do ensino. E ambas as coisas faço sem remuneração. Tenho uma dedicação muito grande. Acho bem interessante o contato com quem está se formando e ter acesso a novas informações. Como gosto, acabo arranjando tempo. (Risos) MedAtual: Seu tempo é cronometrado? O senhor tem tempo para dormir?! Lima: (Risos) Às vezes, não durmo mesmo! (Risos) Mas a medicina é uma área muito boa, pela qual se deve abrir mão de muita coisa. Principalmente no que diz respeito aos assuntos pessoais e ao tempo de lazer. É uma profissão rígida. Não ter muito tempo não é uma situação nova para mim. Estar sempre ocupado é uma consequência de tudo o que faço. Claro que, às vezes, tenho que me organizar, então acabo falando alguns “nãos” para manter as coisas em ordem, principalmente os relacionamentos pessoais... Aliás, deveria


Profissionais de Destaque falar mais “nãos”. (Risos) É preciso fazer cronogramas. Meu senso de compromisso com as pessoas é muito grande, por isso sou muito exigente. Espero que tenham o mesmo ritmo que eu, e quando não me atendem me frustro. MedAtual: Como o senhor avalia a pesquisa no país? É incipiente? Lima: Acho que poderíamos ter um efetivo ainda maior. Trabalho em uma instituição privilegiada, onde o histórico de pesquisas é muito forte. Mas, de fato, não é fácil conseguir apoio. Às vezes, por exemplo, o material para pesquisa é importado, e essa importação é demorada. A pesquisa no país não é algo simples. Melhorou muito, mas ainda estamos a anos-luz de países europeus e de asiáticos, por exemplo.

quem se beneficiará com quais tipos de tratamento. Tenho confiança na imunoterapia, que é quando fazemos uso do sistema imunológico do próprio indivíduo para combater o tumor. É uma área incipiente, porém alguns ensaios têm nos trazido boas expectativas. Aposto que o grande avanço será nessa área. Espero também, claro, que as pessoas se conscientizem e tenham boas posturas que possam evitar ou, ao menos, diminuir os riscos do aparecimento da doença. O cigarro é o principal exemplo, e acho que podia ser considerado uma droga ilícita, de tão mal que faz. Pode parecer presunção, mas gostaria que todos tivessem bons hábitos de convivência com o meio ambiente e o próprio corpo.

MedAtual: Os estudos produzidos no exterior chegam até nós... Lima: A informação chega. A aplicação, na verdade, depende de vários fatores, inclusive de quanto dinheiro se tem. Mas a pesquisa chega. A São Paulo, por exemplo, com a quantidade de informação disponível e com o crescimento da tecnologia, chega mais rápido do que a vários outros lugares do país. Há pesquisas já aplicadas no exterior há dois ou três anos, não chegaram ainda aqui e, provavelmente, demorarão a vir. MedAtual: E o Brasil tem produzido bastante pesquisa? Lima: Temos excelentes pesquisadores em todas as áreas, porém muita gente vai para o exterior e não volta mais. Hoje, o conhecimento e a transferência de informações são tão rápidos nas mídias voltadas para a academia, que é até difícil acompanhar. O volume de informações lançadas nos meios de comunicação científicos é muito alto. MedAtual: E como estão os estudos sobre o câncer? Haverá “cura”? Lima: Na verdade, acho que não. As pessoas acham que erradicaremos o câncer como se erradicou a varíola, mas acho que isso não acontecerá... MedAtual: Por quê? Lima: Primeiro, porque estamos vivendo mais. E o câncer é uma doença associada ao envelhecimento. Segundo, porque, no Brasil, o consumo de cigarro tem aumentado, a camada de ozônio diminuído, o nível de poluentes também aumentado... Além de que, como vivemos mais, as chances de transmitirmos os genes da doença aumentam, o que em teoria também contribui com o crescimento das possibilidades de câncer. MedAtual: Quais são seus prognósticos? Lima: Acho que as técnicas serão mais eficazes. Conseguiremos tratar a doença com mais eficiência e selecionar melhor

A escolha de muitos pesquisadores brasileiros por carreira no exterior retarda o desenvolvimento de pesquisas no país

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Em Pauta

Bebida e direção: mistura explosiva

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Uso do bafômetro, exames clínicos e perícia ainda causam polêmica

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e atualmente a chamada Lei Seca, modificada em 1996, determina que dirigir sob a influência do álcool constitui infração gravíssima cujas penalidades são multa e suspensão do direito de dirigir por 12 meses, em novembro do ano passado a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou a “política do álcool zero”. O projeto torna a infração crime. Outro debate, que está sendo promovido na Câmara dos Deputados, pretende modificar a penalidade aplicada ao motorista e o valor da multa. Se aprovada, nenhum nível de álcool será permitido no sangue. “Hoje o valor da multa [para quem dirige sob o efeito do álcool] é de aproximadamente R$ 950. Mas existe um limite de tolerância de 0,6g/L”, explica a advogada Maira Fuzii. “Outras políticas também foram implementadas por essa lei. É proibida a venda varejista ou o fornecimento de bebidas para consumo no local na faixa de domínio de rodovia federal ou em terrenos contíguos a esta, com acesso direto à via. A previsão para esse tipo de infração é de multa, que poderá ser aplicada em dobro e culminar com a suspensão da autorização de funcionamento do estabelecimento, em caso de reincidência pelo prazo de um ano”, acrescenta. No entanto, a principal polêmica gerada pela lei diz respeito à nova redação do artigo 277, que permite que outras provas, como uso do bafômetro, exames clínicos e perícia, sejam usadas pelo agente de trânsito para evidenciar os sinais de embriaguez, que determina que a recusa do condutor a qualquer um desses procedimentos sofrerá com a aplicação das penalidades previstas na lei.

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“Apesar de não ser expresso no texto constitucional, segundo o artigo 8º, inciso II, “g”, da Carta Interamericana de Direitos Humanos, ‘ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo’. Assim, no que tange ao bafômetro, tem-se que a obrigatoriedade de se submeter a ele não procede em face ao princípio da autoincriminação”, afirma Maira. Segundo reportagem da Folha de São Paulo, o número de recusas a fazer o teste, somente em São Paulo representou, em 2011, 19% do total no país. De acordo com levantamento da Polícia Militar paulista, o número de pessoas flagradas com álcool no organismo em quantidade que se caracteriza como crime teve crescimento de 32% em 2011 em relação a 2010. Dados colhidos pela Associação Brasileira de Educação de Trânsito (Abetran), nas rodovias federais, mostra que houve cerca de 14,5% de diminuição do número de mortes logo no primeiro ano em que a lei foi aplicada e fiscalizada (2008). No entanto, caso o motorista não aceite o teste, ele pode ser levado a uma delegacia, onde fará um teste clínico no IML. “A constatação do estado de embriaguez do motorista pode ser realizada por meios, como exames clínicos, que permitem averiguar alterações na capacidade psicomotora do condutor, sem que configure inconstitucionalidade”, alerta a advogada. A polêmica em torno do assunto ilumina uma preocupação resultante de dados estatísticos. Em 1997, a Associação Brasileira de Detrans (Abdetran) realizou uma pesquisa nas


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capitais Brasília, Curitiba, Salvador e Recife. De acordo com os dados, 61% das pessoas envolvidas em acidentes de trânsito tinham ingerido álcool. Ainda segundo o estudo, os jovens são as maiores vítimas, e a maioria dos acidentes fatais acontece nos finais de semana. Em 2003, o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) revelou que um acidente de trânsito (não necessariamente relacionado ao estado de embriaguez do condutor) sem vítimas tem custo médio de R$ 3.262; já com ferido, o custo sobe para R$ 17.460; caso haja uma morte, o valor passa para R$ 144.143, o que, obviamente, gera impacto econômico ao país. “O álcool traz três grandes problemas. Em um primeiro momento, ocorre a morte de neurônios; depois, são afetados o aparelho digestivo e o pâncreas, causando cirrose e pancreatite crônica. Em casos mais graves, pode ainda ser afetado o coração, gerando insuficiência cardíaca”, afirma Ricardo Fittipaldi, membro da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG) e da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SOBED).

rência de episódios isolados de consumo excessivo de álcool por vários dias ou épocas. “O modo como a bebida alcoólica atua no cérebro de quem a usa se assemelha ao uso dos anestésicos gerais. Assim, diferente do que se pensa, ela não funciona como um estimulante do cérebro, e sim como um depressor”, afirma o neurologista. “A excitação no início do ato de beber, com a tagarelice, a agressividade e o excesso de movimentação, entre outros efeitos, deve-se à inibição de estruturas sob o córtex cerebral, que controlam a atividade cortical do cérebro e as ações do indivíduo, liberando-o então dos controles que precisa ter no convívio do dia a dia”, completa Tolomelli. Não existe, na verdade, um consenso inquestionável sobre a quantidade de consumo de bebida que permita ao indivíduo dirigir. “Depende de fatores genéticos, tolerância individual, costume de ingerir bebida alcoólica e outros”, explica o médico. Na opinião do doutor, o ideal seria não dirigir desde que se tivesse feito uso de um mínimo. Vale ressaltar que, aproximadamente, 90% do álcool consumido são absorvidos em uma hora, mas a eliminação leva entre seis e oito horas. Bebidas estimulantes não curam a ressaca. E, após beber, o correto é aguardar ao menos 12 horas antes de retornar ao volante. “Sabe-se ainda que o cérebro é capaz de adaptar-se após a ingestão de álcool por curtos períodos. Mas, quando se ingere grande quantidade, muito rapidamente, a intoxicação é mais grave. Ainda não se tem um conceito unificado do papel dos neurotransmissores na produção de intoxicação ou tolerância do álcool”, complementa Tolomelli. De acordo com dados do Departamento da Polícia Rodoviária Federal (PRF), quando a vítima de desastre de trânsito está embriagada resiste menos tempo aos ferimentos, pois as hemorragias são fatais. Segundo o Centro Internacional para Políticas sobre o Álcool (Icap), o Brasil está entre os 20 países que possuem a legislação mais rígida sobre o tema.

Tolerância individual Segundo o neurologista Álvaro Tolomelli, o alcoolismo é o conjunto de alterações biológicas, psicológicas e sociais causadas pelo uso “persistente”, “excessivo” e “incontrolável” de bebidas alcoólicas. Já o abuso do consumo é o hábito de ingeri-las, mas sem sinais de abstinência quando o indivíduo fica sem beber. Por fim, embriaguez significa a ocor-

O álcool não é um estimulante, mas um depressor do cérebro

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Em Pauta

Paula Maria Prado | Da redação


Certificações

Contenção de erros House M. D., 1ª temporada, episódio “três histórias”, onde, em caso de cirurgia ou amputação, o membro correto era marcado

Segurança do paciente é um projeto mundial para redução do dano desnecessário ao paciente; a grande dificuldade é a mudança de hábitos já comuns em clínicas e hospitais

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odos os dias, milhares de pessoas morrem em decorrência de falhas no cuidado à saúde. Segundo o estudo To Err is Human, do Instituto de Medicina dos Estados Unidos (IOM), publicado em 2000, mais de 98 mil pessoas morriam por ano no país por erros na assistência médica. Tais erros poderiam ter sido evitados se houvesse uma política de segurança do paciente, que é a implantação de intervenções que evitem eventos adversos, além da promoção de uma cultura de segurança que envolva todos os profissionais da saúde com a intenção de diminuir os erros e as falhas de assistência. Segundo dados do Hospital Israelita Albert Einstein, referência brasileira em segurança do paciente, houve a redução de 48% dos índices de infecção hospitalar após a implantação do projeto “Positive Deviance: uma nova estratégia para aumentar a aderência à higiene das mãos”. Constitui-se de ações simples como a mudança do dispensador de álcool gel para locais mais acessíveis, como perto dos leitos, o que quase triplicou a utilização do gel por mês. Além dessas ações, outras iniciativas estão sendo implantadas no sistema de saúde. É o caso do Instituto Nacional de Cardiologia do Ministério da Saúde, no Rio de Janeiro. Segundo Bárbara Caldas, médica sanitarista do local, o hospital conta com uma Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), que também está implantando o uso da pulseira de identificação do paciente, o checklist da Cirurgia Segura e a Gerência de Risco, que avalia eventos ou quase-eventos indesejados na tentativa de implantar soluções. Porém, segundo a médica, a eficiência dessas ações só é real a partir de uma mudança na cultura organizacional da instituição. “Se o hospital compra as pulseiras, o setor de internação deve preenchê-las com as informações adequadas e colocá-las no paciente antes de sua ida para o quarto. Depois, a enfermeira deve conferir o nome antes de lhe dar o remédio. Caso não haja essa verificação, a utilização da pulseira de identificação não será capaz de evitar um possível erro”, explica. “Essa é a parte mais difícil, porque não mudamos hábitos, valores e crenças de uma semana para

outra. Esse é um trabalho contínuo e, para ser bem sucedido, deve ser consistente”, conclui.

Metas e desafios A Aliança Mundial para Segurança do Paciente, criada pela OMS em 2004, definiu desafios mundiais para Segurança do Paciente. Dentro dos desafios destaca-se a iniciativa Cirurgia Segura Salva Vidas, de 2007, que foca a utilização de um checklist identificando o sign in, antes da indução anestésica; o time out, antes da incisão na pele; e o sign out, antes de o paciente sair da sala cirúrgica. Todas essas fases da cirurgia devem ser procedidas pela confirmação das tarefas especificadas nessa lista, evitando, assim, erros como operar o paciente ou o lugar errado. Segundo estudo realizado em nove cidades de diferentes continentes e publicado, em janeiro de 2009, no New England Journal of Medicine, o uso do checklist reduz em 37% as complicações perioperatórias e em 42% a mortalidade decorrente de complicações de cirurgia. Além da Cirurgia Segura, foram definidos como desafios a higienização, com o projeto “Cuidado Limpo é Cuidado Seguro”, e a prevenção de infecções, sob o tema “Enfrentando a Resistência Microbiana”, além das Metas Internacionais de Segurança do Paciente, que têm a intenção de solucionar problemas comuns na assistência à saúde (veja no quadro). Metas Internacionais de Segurança do Paciente – OMS 1) Identificar os pacientes corretamente. Evitar erros graves como a administração de medicamentos e cirurgias em pacientes errados. 2) Melhorar a efetividade da comunicação entre os profissionais da assistência. 3) Melhorar a segurança de medicações de alta vigilância, que devem, ainda, ser claramente identificadas. 4) Assegurar cirurgias com local de intervenção, procedimento e paciente corretos. Utilizar recursos como marcação do local de intervenção; fazer a verificação pré e pós-operatória, sempre em voz alta. 5) Reduzir o risco de infecções associadas aos cuidados de saúde. A medida primária preventiva é a boa higiene das mãos. 6) Reduzir o risco de lesões ao paciente, decorrente de quedas.

Paula Maria Prado | Andressa Schpallir | Da redação

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Especialista em dor e reabilitação

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Fisiatria tem o objetivo de restabelecer a qualidade de vida do paciente, restaurando as suas funcionalidades em todas as esferas

fisiatra é um médico clínico que não atua cirurgicamente. Ele prescreve o tratamento adequado a cada paciente, que pode ser composto por medicamentos, infiltrações, acupuntura, toxina botulínica e tecnologia robótica. Dependendo do caso, ainda pode indicar órteses ou próteses e dar orientações ergonômicas e funcionais”, explica o fisiatra Ricardo J. R. Ferreira, membro da Sociedade Brasileira de Neurofisiologia Clínica (SBNC). Ainda é comum durante o tratamento do paciente a indicação de terapias, como Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Psicologia e Fonoaudiologia. “A vantagem do fisiatra é que, além do conhecimento clínico, ele detém todas as etapas da reabilitação, facilitando o trabalho multidisciplinar”, afirma Laís M. R. Rodrigues, fisiatra da Associação Brasileira de Medicina Física e Reabilitação.

Reconhecimento A Medicina Física e Reabilitação surgiu na década de 1930, com o tratamento de distúrbios musculoesqueléticos e neurológicos. Após a II Guerra Mundial, quando diversos combatentes retornaram com graves lesões físicas, a área de atuação da especialidade ampliou-se. Até que, em 1947, foi reconhecida pelo Conselho Nacional de Especialidades Médicas Americano. No Brasil, a fisiatria só foi reconhecida em 1954, com a fundação, no Rio de Janeiro, da Associação Brasileira de Medicina Física e Reabilitação, órgão filiado à Associação Médica Brasileira (AMB).

Formação profissional De acordo com Sociedade Paulista de Medicina Física e Reabilitação, a Residência Médica na área tem duração de três anos. Segundo o Conselho Nacional de Residência Médica, deve conter ao menos 20% da carga horária anual em Centro de Reabilitação, 20% em Unidade de Internação ou Hospital-dia, 30% em Unidade Ambulatorial, 5% em Laboratório de Eletrofisiologia e 5% em Oficina Ortopédica. Depois de formado, o profissional da área pode atuar tanto em centros de reabilitação quanto em hospitais e consultórios médicos. “É uma área que está em franco crescimento, principalmente, por causa do aumento da expectativa de vida da população”, afirma Ferreira. “São inúmeros os campos de abrangência da especialidade, quer nas áreas diagnósticas quer nas terapêuticas, o que permite alternativas para lesões adquiridas transitórias ou permanentes”, completa.

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“A fisiatria praticada no país é de excelente qualidade e está atualizada com a literatura internacional sendo extremamente respeitada”, garante Laís. “No entanto, a diferença em relação aos países desenvolvidos é o suporte financeiro, que permite o uso de medicações de custos elevados e de novas tecnologias em materiais e aparelhos para reabilitação que, em nosso país, ainda não é possível a todos os pacientes”, lamenta. Doenças mais frequentes tratadas pelos fisiatras Dores na coluna Tendinites Bursites LER/DORT Artroses Osteoporose Síndromes miofaciais Fibromialgia Hérnias de disco Dores neuropáticas Reabilitação de fraturas, entorses, hemiplegias, paraplegias, amputações, enfisema, paralisia cerebral, miopatias e infarto Alguns exames usados na especialidade Eletroneuromiografia Potenciais evocados Urodinâmica Análise de marcha Baropodometria Estudo da imagem do sistema neuromusculoesquelético Avaliação isocinética Ergoespirometria Fonte: Associação Brasileira de Medicina Física e Reabilitação Instituições que oferecem residência em Medicina Física e Reabilitação GO - Goiânia - Centro de Reabilitação e Readaptação Dr Henrique Santillo – CRER RJ - Rio de Janeiro - Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro RJ - Rio de Janeiro - HUCFF - Hospital Universitário Clementino Fraga Filho – UFRJ RJ - Rio de Janeiro - HUPE - Hospital Universitário Pedro Ernesto – UERJ RS - Porto Alegre - HCR - Hospital Cristo Redentor RS - Porto Alegre - Hospital de Clínicas de Porto Alegre – HC RS - Porto Alegre - Hospital São Lucas – PUC-RS SP - São José do Rio Preto - Faculdade de Medicina de S. José do Rio Preto – FAMERP SP - São Paulo - Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP SP - São Paulo - Hospital Universitário – USP SP - São Paulo - Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo

Paula Maria Prado | Da redação


Mercado de Trabalho

Médicos da juventude Pediatras que se aprofundam no estudo sobre o tratamento dos adolescentes, os hebiatras aprendem a lidar com questões relacionadas ao ambiente familiar, amoroso, social e sexual do jovem

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urgida na década de 1950 nos Estados Unidos e na Inglaterra, a hebiatria – nome inspirado em Hebe, deusa da mitologia grega que tem como característica a juventude eterna –, passou a ter importância no Brasil 20 anos depois, quando a mortalidade de jovens teve um aumento significativo no país em virtude do uso de drogas e acidentes automotivos, entre outros problemas. No entanto, a especialidade só foi reconhecida pela Associação Médica Brasileira em 1998. O profissional de medicina do adolescente tem especialização em Pediatria e cursa mais um ano em hebiatria. Atualmente, há cerca de 200 profissionais no mercado para cerca de 40 milhões de adolescentes, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “É um campo muito promissor no país, principalmente por não haver tantos médicos especialistas na área”, afirma Maurício de Souza Lima, hebiatra da Unidade de Adolescentes do Hospital das Clínicas de São Paulo, vice-presidente do departamento de Adolescência da Sociedade de Pediatria de São Paulo e autor do livro “Filhos crescidos, pais enlouquecidos” (ed. Landscape). A hebiatria é basicamente clínica. “Para quem pensa em se especializar, é importante que goste da área e tenha a capacidade de ouvir o outro. Só assim estará apto a partir para a ação”, explica o médico.

O trabalho Quando o jovem se sente crescido demais para ir ao pediatra, mas ainda não quer procurar orientações de um especialista como ginecologista, urologista e endocrinologista, entre outros, entra em cena o hebiatra. “É preciso entender o universo do jovem, como o primeiro beijo, as relações sexuais, curiosidades em relação às drogas e consumo de bebidas alcoólicas. Há uma série de orientações que devem ser feitas como forma de prevenir, por exemplo, doenças sexualmente transmissíveis e transtornos alimentares”, afirma o médico. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a adolescência vai dos dez aos 19 anos e 11 meses. “O hebiatra deve ficar atento ao crescimento e ao desenvolvimen-

Entender o universo do jovem é fundamental ao hebiatra

to físico do paciente. É importante verificar o aumento de colesterol, a prática de exercícios físicos e a qualidade do sono”, explica Lima. “Na consulta, devemos ouvi-lo e, a partir do que ele falar, intervir focando nesses pontos do diálogo. É preciso paciência e explicar ao jovem o que está acontecendo com o seu corpo, assim há chances de ele mudar algum comportamento inadequado”, completa o médico. Principais problemas avaliados pelo Centro de Apoio Psicológico ao Adolescente, da UNIFESP:       

Baixa autoestima Dores crônicas Obesidade Problemas ginecológicos Problemas familiares Queixas urinárias Dificuldades escolares

FONTE: “Perfil e principais queixas dos clientes encaminhados ao centro de atendimento psicológico ao adolescente”, estudo do Centro de Apoio Psicológico ao Adolescente, da UNIFESP

Paula Maria Prado | Da redação

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Multidisciplinar

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Música que salva Musicoterapia ajuda na recuperação do equilíbrio corporal do paciente

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resente em todos os momentos de nossa vida, a música é um poderoso antídoto contra a depressão, a demência, a dor, a ansiedade e as tensões do dia a dia. Estudada pelos profissionais de musicoterapia, seu uso medicinal auxilia na recuperação física, mental e emocional do paciente, promovendo o equilíbrio do corpo por meio de sons e ritmos. De acordo com documento do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo, a primeira utilização da musicoterapia foi relatada, em 1859, pela enfermeira Florence Nightingale. Mais tarde, Isa Maud Ilsen, também enfermeira e musicista, observando que a inserção de músicos amadores e de profissionais nos hospitais dos Estados Unidos e de vários países da Europa aumentava o bem-estar, na ocasião, de soldados veteranos das duas grandes guerras, tornou-se responsável pela Associação Nacional de Música nos Hospitais.

Os estudos científicos se iniciaram na década de 1940. No Brasil, a musicoterapia foi pela primeira vez oferecida, como especialização, em 1970, na Faculdade de Educação Musical do Paraná, atual Faculdade de Artes do Paraná. Já em 1972, foi iniciado, no Rio de Janeiro, o primeiro curso de graduação na área, no Conservatório Brasileiro de Música. Entre as universidades federais, a UFG foi pioneira, abrindo o curso em 1999. O currículo da graduação mescla disciplinas das áreas de música e neurociências e inclui o aprendizado de alguns instrumentos, que serão utilizados no atendimento aos pacientes. Também fazem parte da formação do musicoterapeuta o conhecimento da anatomia e da fisiologia humana, psicologia, filosofia e noções de expressão artística, expressão corporal, dança, técnicas grupais e métodos de educação musical. Esse profissional pode trabalhar em clínicas, em psicoprofilaxia (prevenção de problemas emocionais) e na reabilitação.

Tratamento O musicoterapeuta pode acompanhar qualquer idade e em qualquer estágio da doença, inclusive na fase terminal. De acordo com a musicoterapeuta Fabiana de Fraga Bergamo, cada um reage e interage de forma única com os sons. “Um exemplo disso é que podemos ouvir a mesma música e relatar sentimentos completamente diferentes.

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Multidisciplinar Um som pode ser muito agradável e trazer uma sensação de bem estar para mim e para você ser um tédio, angustiante”, explica. Os sons usados são estímulos sonoros, como sons cotidianos, da natureza, vozes humanas e música propriamente dita. “Também há improvisações e composições musicais desenvolvidas pelo próprio musicoterapeuta e construídas em conjunto com o paciente”, conta Cristiane Amorosino, professora da graduação e da pós-graduação do curso de Musicoterapia das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). Um ponto importante a ser explorado nas sessões é a desatenção. “Devemos interagir de forma que o paciente se interesse pelo som, pelo instrumento ou por alguma atividade musical, assim sua atenção se voltará para algo prazeroso e ela conseguirá se concentrar melhor. Por isso, devemos ser muito criativos e ter a sensibilidade para ouvir a resposta ou o silêncio de cada paciente”, explica Fabiana. Segundo Cristiane, há uma abordagem sistematizada para iniciar o tratamento. “Inicialmente, é realizada uma entrevista com o próprio paciente ou seu responsável. Depois é feita uma reunião com os outros profissionais que atuam com esse indivíduo, análise do prontuário, avaliação musicoterapêutica para averiguar as potencialidades e as limitações para que se possa traçar um plano de trabalho adequado ao quadro clínico apresentado”, explica. Reavaliações são feitas com frequência para averiguar os resultados do trabalho desenvolvido. “Para determinar o melhor tratamento, o musicoterapeuta deve ter conhecimento, principalmente, sobre o mecanismo da doença que acomete o paciente e suas necessidades psicossociais e educacionais, associado ao conhecimento musical”, afirma Tereza Raquel de Melo Alcântara-Silva, coordenadora do curso de musicoterapia da Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás (UFG) e presidente da Sociedade Brasileira de Musicoterapia Neurológica. Todos os procedimentos, da avaliação até a alta, ocorrem em níveis sonoro e musical. “Cada sessão dura de 30 a 50 minutos. No caso de grupos, pode ter entre 90 e 120 minutos.

Como qualquer tratamento, não há como prever o resultado, pois ele depende de vários fatores, como apoio familiar”, afirma Tereza. Há apenas uma contraindicação. “O caso mais conhecido e relatado na literatura é o da epilepsia musicogênica. Todavia, o profissional deve estar atento a qualquer reação adversa que o doente venha a manifestar, considerando a fadiga”, alerta Tereza. “A música pode causar danos, principalmente quando usada por profissionais não habilitados. O cérebro reage aos estímulos musicais de várias maneiras. Pesquisas mostram que cada parâmetro musical, como melodia, harmonia, timbre e ritmo ativa uma região cerebral diferente. Assim, é preciso que o musicoterapeuta tenha conhecimentos neurofisiológicos relacionais aos estímulos musicais para que possa propor intervenções adequadas”, finaliza.

Improvisos e composições podem ser criados junto com o paciente

Influências da musicoterapia  Estimula a plasticidade neuronal, propiciando a formação de caminhos sinápticos  Mascara a dor (desvio da atenção)  Estimula o sistema nervoso central de forma global, ativando várias áreas ao mesmo tempo (o simples ato de ouvir uma música)  Estimula o processamento auditivo, a percepção auditiva, a cognição (associação de ideias – pensamento, memória, linguagem) e o equilíbrio e a locomoção  Proporciona a sensação do movimento para preceder sua execução, se possível (em níveis neurológico e dinâmico)  Possibilita a substituição psicológica do movimento mediante a música  Estimula a noção espaço-temporal (Fonte: professora Cristiane Amorosino, docente da graduação e pós-graduação do curso de Musicoterapia das Faculdades Integradas Metropolitanas (FMU)).

Paula Maria Prado | Fátima Rodrigues | Da redação MedAtual

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Atuação Humanitária

O difícil diagnóstico da endometriose IAPE tem o objetivo de ajudar pessoas que sofrem desta doença

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riado em 2005, pela pedagoga Cláudia Vasconcellos, o Instituto de Apoio e Pesquisa à Endometriose (IAPE) – instituto sem fins lucrativos – nasceu para ajudar outras pessoas que talvez tenham o mesmo problema que Cláudia teve [endometriose]. O objetivo do IAPE é fornecer conhecimento sobre a doença e informações sobre onde e como realizar tratamentos adequados. “Estima-se que 15% das mulheres em idade reprodutiva (cerca de 30 milhões de mulheres) tenham endometriose no mundo. No entanto, alguns países do continente africano, por exemplo, não têm informações sobre a doença. Então, esse número tende a ser ainda maior”, lamenta Claudia. “Queremos encontrar empresas parceiras na divulgação, buscamos ampliar o mapeamento dos hospitais e clínicas de Ginecologia que tenham condições de realizar o diagnóstico preciso e campanhas junto aos jovens nas escolas e nas universidades, confeccionando cartilhas informativas”, enumera. No site do IAPE (www.iape.org.br) ainda há artigos de profissionais de saúde sobre terapias alternativas, infertilidade, nutrição e aspectos psicológicos da doença.

Doença da mulher moderna Se antigamente a mulher menstruava menos (aproximadamente 40 vezes ao longo da vida), atualmente, ela tende a ter 400 menstruações. Isso ocorre porque, antes, ela engravidava mais, ficando, assim, menos exposta à doença. Entre as outras possíveis causas do aparecimento da doença, estão os restos embrionários, metaplasia celômica, menstruação retrógada, disseminações linfática, hematogênica e iatrogênica, alterações na imunidade celular e fatores familiares e genéticos. O processo inflamatório, com o tempo, pode desencadear a formação de aderências ao redor dessas células endometriais, unindo estruturas vizinhas. Isso, além de causar dor, pode culminar na esterilidade do indivíduo. De acordo com a pesquisa “Endometriose: aspectos atuais do diagnóstico e tratamento”, publicada pelos ginecologistas Sérgio Podgaec e Maurício Simões Abrão, da Universidade de São Paulo (USP), dentre as mulheres que procuraram pelo setor de endometriose do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP), a dismenor-

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reia esteve em 54,9% dos casos, a dor pélvica crônica em 22,6% e a infertilidade em 13,8%.

Sem cura Segundo explicação do ginecologista e obstetra Maurício Simões Abrão, presente no texto de abertura do IAPE, a endometriose tem tratamento, não cura. Os procedimentos podem ser clínicos para portadoras da doença em estado inicial, e cirúrgicos com a possível retirada de um cisto e cauterização de focos da doença. Em alguns casos, é necessário, ainda, por meio de medicação, bloquear temporariamente o funcionamento do ovário, o que impede novas inflamações. “Uma de nossas preocupações é não fazer alarde. Até porque o sistema público de saúde não tem condições de resolver muitos casos. Nosso objetivo é que a mulher portadora de alguns dos sintomas procure por um médico”, afirma. “A situação é delicada. Sempre salientamos que cólicas fortes não são sinônimo de endometriose, e que a doença não atinge somente os órgãos reprodutores. Conheço pessoas que tiveram o problema no intestino, por exemplo”, conta Claudia. Segundo dados do Sistema Único de Saúde, de 2004, a endometriose atinge cerca de 17 mil mulheres no país. As regiões Sudeste, com 6.698 mulheres, e Nordeste, com 5.666, são as mais afetadas. Ainda segundo a pesquisa, aproximadamente 27% das mulheres, entre 34 e 36 anos de idade, são portadoras da doença no Brasil. “É uma doença que não deve ser preocupação apenas do ginecologista. Outras especialidades devem se atentar a ela”, alerta a fundadora do instituto. Levando em conta as estatísticas e o difícil diagnóstico, a pedagoga terá muito trabalho pela frente, mas está no caminho certo. Sintomas da endometriose  Cólicas menstruais severas (mesmo tomando remédio, não passa)  Dor na relação sexual, que se intensifica no período pré-menstrual  Obstipação  Dor ao evacuar  Diarreia  Sangramento intestinal  Sangramento na urina Paula Maria Prado | Da redação


Radiação

OMS alerta sobre o risco do aparelho celular causar câncer Anúncio foi feito baseado em estudos científicos; no entanto, a declaração causou polêmica entre os profissionais de saúde e engenheiros

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Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer (IARC, sigla em inglês), órgão da Organização Mundial da Saúde (OMS), anunciou, em maio de 2011, que a radiação eletromagnética dos telefones celulares pode causar glioma, um tumor maligno no cérebro. Segundo o documento, a radiação foi classificada em 2B em uma escala de risco que varia de um a quatro, em que quatro indica ausência de riscos. O estudo divulgado foi feito com um grupo composto por 31 cientistas de 14 países. O resultado de “possivelmente carcinogênico para humanos” colocou os telefones celulares no mesmo nível de perigo de gases automotivos, chumbo e clorofórmio. “É uma questão nebulosa. Existe ainda uma dúvida muito grande a respeito do assunto. No entanto, algumas evidências populacionais mostram que realmente pode haver ligação entre os tumores e o sistema nervoso central”, afirma Hezio Jadir Fernandes Jr., oncologista clínico e diretor do Instituto Paulista de Cancerologia (IPC). “O celular é como um miniforno de micro-ondas. E, aparentemente, nas pessoas que usam o celular em uma frequência muito grande e com o aparelho próximo da cabeça, ocorre um aquecimento da região. E é esse aquecimento que poderia estar relacionado ao câncer”, explica. A grande dificuldade em firmar a posição de cancerígeno ou não, se deve à relação de causa e efeito no que se refere à radiação celular. Por isso, são necessárias décadas de exposição para determinar o risco que as ondas podem causar à saúde. De acordo com o cientista Jonathan Samet, da Universidade do Sul da Califórnia, presidente do grupo de trabalho da IARC, ainda que o risco não seja quantificado, entre os estudos analisados, um deles apresentou risco de 40% para gliomas entre as pessoas que usavam celulares por cerca de 30 minutos diários ao longo de dez anos. O engenheiro Gláucio Lima Siqueira, professor de Engenharia da PUC-Rio, especialista em ondas eletromagnéticas, acredita que o anúncio da OMS só alerta os pesquisadores de que é necessário continuar os estudos na área. “Nenhum

fato novo foi comprovado, não há uma descoberta nova”, garante. “A classificação demonstra apenas uma suspeita. O celular possui uma onda eletromagnética não ionizante, e esta foi colocada nesta categoria porque a ciência ainda não conseguiu explicar como ela poderia causar danos celulares”, diz. Segundo Siqueira, os aparelhos celulares do mercado possuem a quantidade de radiação regulada por lei e esta é muito baixa para causar danos. “O efeito térmico existe, mas até que ponto ele é maléfico, a ciência não explica. Deve haver pessoas mais ou menos sensíveis a ele. No entanto, pela quantidade de usuários de telefone que temos no mundo, cerca de 5 bilhões, já teríamos diversos casos de câncer na cabeça, e não há”, explica. Ubirani Otero, médica e chefe da área de câncer ocupacional do Instituto Nacional de Câncer (INCA), concorda que a classificação não deve haver alarde. “Não há comprovação científica. Há estudos que acharam riscos e outros que não acharam risco algum. O que se pede é parcimônia no uso do aparelho celular. Na incerteza científica adotamos o princípio da precaução”, afirma. A GSMA, que representa os interesses das operadoras de celular em todo o mundo, comentou em nota o anúncio da IARC e reiterou que o perigo no uso dos telefones celulares é possível, mas não provável. Recomendações sobre o uso do celular:  Não utilize por longos tempos  Não use de um só lado da cabeça  Crianças e adolescentes devem evitar o seu uso  Mantenha o aparelho distante, no mínimo dois metros de você (não o deixe na mesa de trabalho e não o use como despertador)  Use fones de ouvido ou deixe-o no viva-voz  Evite falar quando o sinal estiver fraco Paula Maria Prado | Da redação

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Em Debate

Recém-formados ganham 10% de pontuação adicional em prova de residência Iniciativa do governo federal gera discussão no meio médico

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partir deste ano, os egressos do curso de medicina que optarem por atuar em municípios de extrema pobreza e em periferias de grandes metrópoles por, no mínimo, doze meses, terão um novo benefício: 10% de pontuação adicional na nota final de provas de residência. Lançada em setembro do ano passado pelo Ministério da Saúde, em parceria com o Ministério da Educação, a ação faz parte do Programa de Valorização dos Profissionais na Atenção Básica (Provab), que pretende oferecer duas mil vagas no país, apesar das controvérsias sobre sua eficácia. A iniciativa, que entrou em funcionamento a partir de fevereiro, com disponibilização dos pontos aos participantes já em novembro, ainda prevê oferta de moradia, quando necessária. Tudo isso sob a supervisão de universidades e acesso ao sistema de educação continuada, presencial e a distância, o que poderá oferecer a esses profissionais um aprimoramento contínuo de suas habilidades e o acúmulo de experiência profissional, com o suporte do Programa Telessaúde Brasil e da Universidade Aberta do SUS. De acordo com o Ministério da Saúde, essa é mais uma iniciativa com o objetivo de atrair médicos para atuar em Uni-

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dades Básicas de Saúde (UBS), em cidades onde há carência de profissionais. “Consideramos que essa é uma das maneiras mais efetivas de disponibilizar, de forma rápida, médicos para ampliar a assistência à população”, revelou Mozart Sales, chefe de gabinete do Ministério da Saúde, no lançamento. Apesar de festejada por alguns, a medida não recebe aprovação unânime da própria área médica. Para Rodrigo Biondi, médico e diretor técnico do Hospital Anchieta, em Taguatinga (DF), há profissionais querendo barrar a iniciativa com medidas legais. “Corre-se o risco de gerar questionamento e insatisfação por parte de vários segmentos. Os coordenadores de programas de residência, que são um dos maiores formadores de especialistas no Brasil, estão, em sua maioria, indignados. Há movimentos até para reverter essa decisão na Justiça”, confessa. Uma das questões para a revolta seria a interferência do governo federal na prova de residência. “O teste é um concurso extremamente difícil, e fornecer esse ‘atalho’ pode atrair exatamente aqueles candidatos menos preparados para que no ano seguinte tenham mais chances”, analisa. No entanto, Biondi reconhece a importância de iniciativas


Em Debate como o Provab. “A intenção é boa, somente a forma é que poderia ser mais bem pensada. Programas que incentivem a interiorização baseados numa remuneração justa e boas condições de trabalho fariam muito mais diferença e seriam bem mais justas.” Na visão de Alexandre Fenelon, médico do Centro de Quimioterapia Antiblástica e Imunoterapia (CQAI), em Belo Horizonte (MG), a questão também é delicada. “Parece-me perfeitamente razoável que o médico que faça a opção por trabalhar em cidades de pequeno porte, independente da especialidade, tenha uma recompensa, que pode ser na forma de um plano de carreira diferenciado, ou melhor remuneração. E inclusive é necessária a criação de programas de residência em saúde da família. Esse é o caminho correto. Agora, distribuir pontos extras na residência para quem faz PSF significa, em termos práticos, definir a medicina de família como atividade de segunda classe, cuja utilidade é meramente a servir de ponte para outras especialidades”, analisa. Para o governo federal, a intenção é valorizar, na prova de residência, o profissional que ganhou experiência prática, atuando na Atenção Básica, área estratégica na atenção à saúde pública. O Ministério da Saúde, por meio de nota divulgada à MedAtual, acredita que, ao participarem desse programa, os jovens profissionais estarão fazendo uma enorme contribuição social, no sentido de permitir que todos os brasileiros sejam, verdadeiramente, cidadãos. Em 2012, além das duas mil vagas para médicos, mil para enfermeiros e 700 cirurgiões-dentistas serão convocados para um contrato com duração de um ano. Cerca de 70 instituições deverão ser envolvidas.

Pacote de medidas O incentivo à atuação de profissionais na Atenção Básica também foi alvo de outra estratégia lançada em agosto de 2011. O programa de abatimento da dívida do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES) contempla 2.282 municípios com carência de profissionais na Atenção Básica e dá aos médicos que ali atuam abatimento de até 100% da dívida, caso fiquem um ano e cem meses no local (o equivalente a pouco mais de nove anos). Depois do primeiro ano nos municípios, cada mês de trabalho dá aos profissionais 1% de abatimento na dívida do FIES. Apesar de algumas iniciativas para universitários não serem tão recentes, como aquela da década de 1960 que permite médicos, farmacêuticos, dentistas e veterinários a adiar a prestação de serviço nas Forças Armadas ao entrarem na faculdade, ainda não há estudos que comprovem seus impactos na sociedade. O Ministério da Saúde está desenvolvendo maneiras para mensurá-las. Tabelar os dados em estatísticas também é uma das tarefas do serviço voluntário em saúde. Além do Brasil, diversos países adotam o serviço civil como uma das formas de provimento de profissionais em áreas de necessidade. Em alguns casos, as ações são frutos de programas de voluntariado que, para Biondi, são complicados de serem mensurados. “Sabemos que temos 25% da população voluntária. A imensa maioria está fazendo o trabalho perto de suas casas. Mas é difícil ter o impacto num indicador de saúde da população. Um exemplo é a Pastoral da Criança, que reduziu muito a mortalidade infantil. Mas, ao mesmo tempo, o Brasil melhorou sua distribuição de renda, programas contra a miséria, entre outros. Então não podemos dizer que a redução foi apenas desta ou daquela atividade. Todas são importantes”, ressalta.

O que é a Atenção Básica? O programa de Atenção Básica, do Ministério da Saúde, baseia-se em um modelo de atendimento proativo, que investe em ações de promoção e prevenção. As equipes, compostas por médicos, dentistas, auxiliares de enfermagem e agentes comunitários, são responsáveis por uma comunidade específica e monitoram a saúde daquela população. Munindo as famílias de informação em saúde e prevenção de doenças, as equipes podem reduzir a ida delas aos hospitais e evitar internações. De acordo com o governo federal, a Atenção Básica pode resolver mais de 80% dos problemas de saúde das pessoas.

Iniciativa busca recompensar médicos que optam por cidades pequenas

Paula Maria Prado | Diego Palmieri | Da redação

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Especial

O fim da vida A dificuldade dos médicos em lidar com a morte, a prática da distanásia e como encarar a morte e o respeito à dor dos familiares que perderam o ente querido

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inda que toda a sociedade aprenda que a morte é um fenômeno natural e única certeza da vida, lidar com ela ainda constitui um “tabu”. Os avanços tecnológicos na área médica, trouxeram a crença de que as doenças que levam à morte podem ser curadas e que, com o tempo, esta deixaria de existir. Nessa realidade, o término das funções vitais passa a ser considerada falha da área médica, e não parte integrante da vida. “Antes de ser médico, o profissional é um indivíduo da sociedade. Assim como a maioria das pessoas, ele sofre com o medo de ficar doente, da perda da sua autonomia, do sofrimento físico intenso, além de ter as suas questões religiosas envolvidas. E, na universidade, o futuro médico não possui

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carga horária suficiente para trabalhar essas questões, o que resulta na crença de que o importante é manter o paciente vivo. Entra em cena a distanásia, praticada ‘a rodo’ no país”, explica o geriatra Franklin Santana Santos, autor do livro “Cuidados paliativos: discutindo a vida, a morte e o morrer” e presidente da Sociedade Brasileira de Tanatologia. “No Brasil, diferente dos outros países, geralmente, o médico decide o melhor tratamento sem consultar o paciente. Na Europa, por exemplo, as decisões são tomadas em conjunto com o paciente. Ele pode, por exemplo, optar por não fazer quimioterapia caso tenha câncer. Nesses casos, cabe ao médico a ortotanásia, com cuidados paliativos aos sintomas, evitando o sofrimento do doente, permitindo


Especial a evolução natural da doença e uma morte digna”, explica o geriatra. Segundo Santos, é importante entender que a doença pode vencer. Isso evita que o médico se sinta frustrado, fracassado e até mesmo culpado, quando ocorre a perda de um paciente. “Deve-se procurar desenvolver uma relação de respeito e confiança. O paciente tem o direito de saber o que está acontecendo consigo mesmo. Há raras exceções em que essa regra não é aplicada, como na suspeita de que o paciente cometa suicídio ao saber o seu prognóstico”, afirma. “No entanto, observamos que os profissionais da Medicina pouco sabem lidar com as evidências da própria finitude, quanto mais dos seus pacientes”, enfatiza. O estudo “A Atitude dos Profissionais de Saúde Diante da Morte”, realizado pela médica intensivista Rachel Duarte Moritz e pela pesquisadora Silvia Modesto Nassar, da Universidade Federal de Santa Catarina, publicado em 2004, pela revista Brasileira de Terapia Intensiva, concluiu que os profissionais de saúde ficavam angustiados diante do assunto morte ainda que acreditem ser necessário debater o tema. Segundo o resultado, “o profissional da saúde, treinado para curar e salvar vidas, sente-se angustiado ao reconhecer que a sua profissão o obriga a conviver com a morte”. A pesquisa evidenciou ainda que muitos médicos submetem os seus pacientes, que estão criticamente doentes, a “tratamentos mais extensivos do que eles próprios escolheriam para si”. Outro estudo chamado “O estudante, o médico e o professor de medicina perante a morte e o paciente terminal”, publicado em 1998, pela revista da Associação Médica Brasileira, evidenciou a dificuldade dos profissionais em lidar com o tema. “Vimos várias vezes que não há uma orientação formal, teórica ou prática, de como o profissional deverá tratar o tema morte com os pares ou com a família de seus pacientes. Assim, resta a ele a improvisação, retirando suas conclusões de experiências pessoais e de outros colegas”, afirma o cirurgião oncologista Hilton Piccelli, responsável pelo estudo junto do médico André Vianna. Segundo os dados, coletados a partir de questionários respondidos por estudantes das fases pré-clínica e clínica, médicos e professores da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília (UNB), “um número considerável de médicos e professores permanece com muita dificuldade para tratar do assunto, chegando mesmo a evitá-lo”. Além disso, já vivenciaram com frequência a morte de pacientes terminais, “entretanto, a maioria deles relatou que nunca discutiu o assunto com tais pacientes, e que teria grande dificuldade para tratar do tema com um indivíduo portador de doença terminal”. Já entre os estudantes, “dentre aqueles que nunca vivenciaram a morte de outrem, na sua maior

Aceitar que a doença pode vencer evita frustrações e culpas por parte do médico

parte alunos da fase pré-clínica do curso, percentagem elevada tem medo que isso venha a ocorrer”.

Seres finitos De acordo com a psicóloga Angelita Corrêa Scardua, mestre em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo (USP), é preciso ter a consciência de que somos finitos. “Quem aprende a aceitar a própria mortalidade tem a chance de redimensionar os próprios valores, concentrando-se mais nas experiências afetivas do que naquilo que deixará para trás quando se for”, explica. A reação de cada paciente durante o processo terminal varia de acordo com a sua personalidade. Além disso, o nível de satisfação que ele tem em relação à sua própria vida, suas crenças e experiências também contam. Todos passamos por estágios na hora de enfrentar a morte. Estes variam de acordo com o indivíduo. “Primeiro ocorre a negação, que acontece mais intensamente em pacientes que recebem a notícia de forma abrupta e prematura. Depois vem a raiva, quando o doente já assimilou o seu diagnóstico e prognóstico, e se revolta com o destino. É comum, nessa fase, a busca por culpados. Deve-se respeitar e entender o momento emocional do paciente, encarando suas explosões de humor como uma manifestação do medo e da frustração”, explica a psicóloga.

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Especial A terceira fase diz respeito à negociação. “Muito embora a pessoa já aceite o fato de que vai morrer, ela tenta adiar a morte com tratamentos alternativos e promessas, por exemplo. O ideal é ajudar o paciente, lhe permitindo acesso a algum tipo de orientação psicoterápica e espiritual, para que este possa lidar com a angústia”, sugere. Em sequência, acontece a fase da depressão, caracterizada por um comportamento mais recluso e silencioso. “É quando o paciente faz uma revisão da vida. A presença de entes queridos e de figuras de suporte, profissionais ou não, é essencial”, afirma. Por fim, ocorre a aceitação. Ainda há a esperança da sobrevivência, mas espera-se a evolução natural do quadro clínico. “É nesse momento que a maioria dos pacientes terminais procura ‘acertar as suas contas’. Ela se prepara efetivamente para morrer”, finaliza.

A triste notícia Quanto mais o profissional se sentir tranquilo cognitiva e emocionalmente em relação ao tema morte, mais fácil será para ele gerenciar os efeitos na rotina hospitalar. O profissional que estabelece ainda uma relação de confiança com o paciente e os seus familiares, consegue transmitir a notícia mais facilmente. Por isso, é essencial que todos saibam desde o primeiro contato sobre o quadro clínico do paciente, sua condição, os riscos e os procedimentos adotados. “O profissional de medicina deve se esforçar sempre para lembrar de que um dia ele estará do outro lado da conversa, e de que, quando isso acontecer, ele também desejará ser ouvido e acolhido com dignidade”, finaliza Angelita.

Orientações para reduzir o sofrimento dos familiares Baseado na literatura, esse roteiro deve ser repassado mentalmente antes de comunicar aos familiares o óbito de um paciente, principalmente em ambiente de atendimento de emergência, onde o relacionamento com os familiares deve ser construído de forma rápida e firme. 1 – Chame e informe pessoalmente os familiares, caso não tenham sido avisados, sobre a gravidade da situação (a informação NUNCA deve ser dada por telefone). 2 – Obtenha tantas informações quanto possível sobre as circunstâncias que cercaram o evento do paciente através de prontuário ou história de acompanhantes. 3 – Revise passo a passo os eventos que aconteceram durante o atendimento/internação do paciente antes de falar com a família. 4 – Idealmente, converse com os familiares em área reservada. Apresente-se e dirija-se ao familiar com o grau de parentesco mais próximo. 5 – Descreva brevemente as circunstâncias que levaram à morte. Repasse aos familiares os eventos que aconteceram durante o atendimento do paciente. 6 – Utilize linguagem objetiva, como “óbito”, “falecimento” ou “morto”; evite eufemismo como “ele nos deixou” ou “ele foi descansar” (pode parecer frio e agressivo, mas essa clareza de palavras é necessária para a compreensão dos familiares nesse momento). 7 – Permita um tempo para os familiares absorverem a informação. Seja presente e não perca o contato visual. Toque fisicamente e compartilhe as emoções dos familiares. Expresse seus sentimentos como “meus pêsames” e não diga “me desculpe” (os familiares precisam perceber o quanto você se importou com o paciente e com eles; não fuja da situação, pois começarão a duvidar das suas palavras). 8 – Verifique a possibilidade de o paciente vir a ser doador de órgãos (córnea, ossos e pele podem ser doados após a morte); futuramente, o fato da família ter autorizado a doação é reconfortante para os familiares.

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9 – Demore o tempo que for necessário para esclarecer dúvidas; repasse os eventos várias vezes para certificar-se da correta compreensão do evento pelos familiares (não deixe dúvidas sobre a situação). 10 – Permita que os familiares vejam o seu parente (a maioria dos familiares se sente melhor após a despedida). 11 – Saiba antecipadamente os passos burocráticos e os procedimentos a serem seguidos até a liberação do corpo; saiba quem irá preencher o atestado de óbito. 12 – Solicite o auxílio de um assistente social ou de um religioso para orientar os familiares após a comunicação do óbito. 13 – Coloque-se à disposição para entrar em contato com o médico da família ou outro profissional que cuidou do paciente, e para auxílio/esclarecimento durante o período de luto no hospital. Colaboração: José Paulo Ladeira, médico plantonista das Unidades de Terapia Intensiva do Hospital Sírio-Libanês e do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Paula Maria Prado | Da redação


Hospitais

Compromisso com a medicina I

Hospital Universitário João de Barros Barreto passa por séria dificuldade financeira, mas consegue manter o alto padrão no atendimento a pacientes da região Norte do país

naugurado em 1957, como Sanatório de Belém, o atual Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB) é referência no Estado do Pará e na região Norte. No entanto, ao contrário do que se imagina, a excelência no tratamento deve-se muito mais à força de vontade dos profissionais e à administração eficiente do local do que a verba recebida pelo hospital. “Encontramos muitas dificuldades, sobretudo de recursos humanos e financeiros”, afirma o neurocirurgião Eduardo Leitão, diretor-geral do hospital. A crise financeira que se instalou nos 46 hospitais universitários do país está sendo duramente sentida no HUJBB. A dívida, de cerca de R$ 6 milhões, tem aumentado a cada mês, já que os recursos destinados ao hospital são insuficientes para pagar os fornecedores. Caso não haja ajustes no orçamento, congelado há 6 anos, corre-se, inclusive, o risco de restringir os serviços de saúde que a instituição presta à população. Para que o hospital permaneça com o seu quadro de funcionamento completo, é necessário um ajuste de 65% no valor recebido do Ministério da Saúde. “Esse impasse precisa ser resolvido. Precisamos buscar alternativas, aumentar metas e a contratualização”, declara Leitão.

Eduardo Leitão, diretor-geral do hospital, trabalha para que a falta de verba não interfira na qualidade do atendimento

Importância regional Com um importante papel no controle de doenças da região Norte do país, como a malária, a hepatite, a dengue e a leishmaniose, entre outras, no hospital também são tratados casos de doenças sexualmente transmissíveis, como a AIDS. Todos os pacientes recebem atendimento gratuito pelo SUS. Cerca de 50% dos usuários assistidos são de Belém, 40% são do interior do Estado e 10% vêm de outros Estados da Região Amazônica. Segundo dados do HUJBB, em 2010, foram realizadas mais de 150 mil consultas e quase 5 mil internações. Ainda foram contabilizados cerca de 721 mil exames. Para superar as dificuldades, o hospital busca soluções através de pesquisas junto ao MEC, que geram conhecimento e recursos financeiros e tecnológicos. “Temos apresentado projetos para obter recursos de outras áreas”, explica o diretor-geral do hospital.

Paula Maria Prado | Da redação

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Matéria de Capa

O que fazer após a residência médica?

A

Terminada a especialização, há uma gama de possibilidades; saber o que fazer depois da formação varia de acordo com a especialidade escolhida e o mercado de trabalho

residência é fundamental para que qualquer médi- para lidar com as necessidades do mercado de trabalho e co recém-formado adquira experiência e acumule conheci- da sociedade”, afirma. “A vida do residente dentro de um mentos. Segundo definição da Comissão Nacional de Resi- hospital serve tanto para abrir quanto para fechar portas. dência Médica, de 17 de maio de 2006, dentre as atividades As pessoas que investem, demonstram interesse, estudam, do profissional em treinamento devem constar sessões cuidam de um bom relacionamento, seguramente têm um anatomoclínicas, discussão de artigos científicos, sessões caminho mais fácil”, garante. clínico-radiológicas, sessões clínico-laboratoriais, cursos, Ao sair da residência, o especialista está preparado para palestras e seminários, com temas lidar com diversas situações na sua relacionados a Bioética, Ética Médica, área, dos pontos de vista teórico e práMetodologia Científica, Epidemiologia tico. “Mas, como em todas as profise Bioestatística. Também se recomensões, a experiência vem com o tempo”, da a participação do Médico Residente explica a pediatra Erika Veruska Paiva em atividades relacionadas ao controOrtolan, coordenadora do Conselho le das infecções hospitalares. de Residência Médica da Faculdade de Para Fernando Neuenschwander, Medicina de Botucatu da Universidade coordenador da Residência Médica de Estadual Paulista (Unesp). A principal cobrança costuma vir do próprio residente Cardiologia e presidente da Comissão Para ela, não há melhor opção sode Residência Médica do Hospital Vera Cruz, o treinamento bre o que seguir ao sair da residência. “Depende do perfil do em serviço não deve ser tratado como emprego e sim como médico residente. Se a intenção for seguir carreira universiinvestimento, em que o ganho é o conhecimento. “A dedi- tária, é importante fazer pós-graduação e tentar continuar cação, o zelo, a vontade, o engajamento devem ter como na faculdade, aproximando-se dos docentes e dos médicos retorno aprendizado e experiência para se obter o preparo de sua especialidade”, opina.

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Matéria de Capa Vida de residente

Retrato*

Devido à elevada carga horária e à complexa gama de sentimentos com que o residente deve lidar, como insegurança, desejo de curar e a descoberta do limite entre as suas identidades pessoal e profissional, é uma época de grande estresse. “Acho que o principal desafio é fazer uma boa residência. São necessários estudo e dedicação para o melhor conhecimento, e é preciso conciliar isso com o excesso de trabalho com várias horas dedicadas à residência e muitas cobranças por parte dos docentes e da nossa vida pessoal”, afirma Andresa Figueiredo, pediatra especialista em puericultura, atualmente no último ano de Endocrinologia Infantil, na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP.

Atividade no setor público: principal fonte de emprego no país, em hospitais, postos de saúde, laboratórios e ambulatórios. Geralmente, os profissionais dedicam até 40 horas semanais, e a atividade corresponde a 50% ou menos do ganho mensal. A maioria considera as condições de trabalho regulares ou boas.

A supervisão diuturna é um dos pilares de uma residência produtiva

Mercado de trabalho É limitado o número de médicos que não exerce a profissão no Brasil. Uma pesquisa realizada por Maria Helena Machado, em 1996, indicou que, na época, cerca de 0,8% estava desempregado, e 0,9%, inativo. Para Erika, algumas especialidades são rapidamente absorvidas pelo mercado, enquanto outras exigem, no início, plantões em prontos-socorros, por exemplo. “Os desafios principais acontecem no serviço público, que já são bem conhecidos, como excesso de pacientes, poucos profissionais, falta de recursos materiais, não acesso às melhores tecnologias disponíveis”, afirma. Faltam profissionais no serviço público, por isso começar na área escolhida depende da especialidade. A residente Andresa faz parte dos profissionais que ficaram na dúvida sobre o que fazer. Antes determinada a abrir um consultório e manter vínculo com a faculdade, na reta final da especialização viu-se insegura. “Na verdade, podemos perceber que o campo de trabalho está bem difícil. E, para termos uma vida confortável, devemos trabalhar muito, principalmente porque, atualmente, a remuneração para os médicos é baixa”, afirma a residente, que, além da insegurança em montar um consultório, pensa ir para o exterior assim que encerrar a residência.

Atividade em consul- Conciliar os estudos com a extensa carga horária da especialização é um dos tório: é o segundo setor desafios do residente mais importante de atuação de médicos no Brasil. A maioria tem estabelecimento próprio, individual ou em grupo, alguns são sócios de cooperativas ou possuem algum convênio. A dedicação ao consultório consome até 20 horas semanais e representa cerca de 50% dos rendimentos mensais. Atividade no setor privado: em instituições com convênios exclusivos com planos privados de saúde e de convênios com o SUS. Os médicos costumam dedicar 20 horas semanais e representam menos do que 50% de seus rendimentos mensais. As condições de trabalho são consideradas boas e excelentes pela maioria. Atividade docente em Medicina: poucos profissionais se dedicam em regime integral à docência, e a maioria a divide com o exercício da profissão. Os ganhos completam 50% da renda. As condições de trabalhos são consideradas regulares e boas. *Fonte: Pesquisa realizada em 1996 por Maria Helena Machado, publicada pelo Portal Médico

A concorrência na área médica tem início no vestibular, passa pela aprovação na residência e continua na conquista do espaço no mercado de trabalho

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Matéria de Capa Ingresso no setor público Médicos, enfermeiros, farmacêuticos e outros profissionais da área de saúde possuem boas oportunidades no setor público. Embora o volume de como o Judiciário e de concursos não se compare a setores em busca de especiacargos administrativos, o mercado está listas, devido à defasagem do setor. estrutura física e o Existem, porém, dificuldades como a ersidades, que muiinvestimento de alguns hospitais e univ anda atendida. tas vezes são insuficientes para a dem algumas vantagens a Optar pelo setor público apresent trabalho. As mais eviem relação ao mercado privado de e remunerações medentes são a estabilidade do emprego profissão. lhores para quem está começando na

Atuação no próprio consultório Com a competição em alto grau, todo planejamento é necessário para tornar o consultório uma instituição bem-sucedida. dedicar um tempo considerável ca signifi sala Abrir uma principalpara cuidar de diversos detalhes indispensáveis e, aluguel, to, imen atend como mente, assumir novos custos, o de salári luz, e condomínio, IPTU, taxas de telefone, água ais ment secretária, faxineira etc. Outros aspectos funda amensão localização, espaço físico, investimento, equip to. imen atend e tos, pessoal, clientes, serviços estabeSão necessários ainda alvará de licença para lecomo lecimento e Imposto Sobre Serviços (ISS), bem o de Bomgalização junto à Vigilância Sanitária e ao Corp beiros.

Ingresso na atividade docente Para quem deseja voltar-se para a pesquisa e a vida acadêmica, é imprescindível cursar mestrado e doutorado. A pós-graduação também está em s ascensão, e a atualização por meio da leitura de revista bui contri ssos congre em especializadas e da participação

para a qualificação profissional. O MEC (Ministério da Educação) exige mestrado e doutorado para quem pretende trabalhar como professor e/ ou pesquisador, mas só o doutor pode assumir a “cadeira do curso”. Ingresso no setor privado O ingresso costuma acontecer de forma tradicional: cadastro de currículos e entrevista. Além da contratação como do médico como celetista, tem sido comum a contratação mento de menos profissional liberal, o que permite o paga lhistas. impostos e a liberação dos encargos traba cies de cooperaespé Alguns hospitais têm optado por nenhum víntivas, pelas quais se contratam médicos (sem ida entre eles. culo empregatício) e a remuneração é divid instituições O aluguel de salas ou de consultórios em nhecimenreco e s statu renomadas permite a obtenção de tempo em mo to profissional mais rapidamente, ao mes que consultórios. que o hospital recebe mais pacientes do ém tem sido Ser funcionário de um plano de saúde tamb um consulem os ciad opção. Nesse caso, atende-se aos asso recebe um se e e tório de propriedade da empresa de saúd Lei), com registro fixo mensal (e os benefícios previstos por nem sempre o em carteira profissional. O problema é que icos. méd ns mercado privado é acessível aos jove

Outras possibilidades ares – conjuntos de consultórios, geralTambém se pode trabalhar nas chamadas clínicas popul a população de baixa renda e muitas vezes mente localizados em bairros de periferia, voltados para l. Lá o iniciante trabalha por comissão. administrados por um médico mais experiente e com capita iros sem um único médico. Há alternativas no interior, com vários municípios brasile

Paula Maria Prado |Fátima Rodrigues | Da redação

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Útil e Agradável

“Um cafezinho, por favor!” A medicina está entre as profissões que mais consomem café; o excesso de cafeína pode provocar insônia, dores de cabeça e náuseas, entre outros malefícios

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m uma pesquisa realizada com 4,7 mil trabalhadores norte-americanos pela rede de cafeteria Dunkin’ Donuts, os médicos ficaram em sexto lugar dentre os profissionais que mais consomem café. Entre os primeiros lugares, configuram na lista “cientistas e técnicos de laboratórios” em primeiro, e “administradores de instituições de saúde” em quinto. Ainda que a pesquisa não seja nacional, o Brasil não fica atrás no consumo da bebida. Apesar de não termos dados de quais profissões mais a ingerem, como um todo, entre 2010 e 2011, o consumo no país cresceu em 3,11%, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC). Além da cafeína, diversos compostos estão presentes no café. “No processo de torrefação ocorrem diversas reações químicas, onde esses compostos se degradam ou formam outros. Há nutrientes como o potássio, o zinco, o ferro e o magnésio, entre outros minerais. A bebida possui ainda aminoácidos, proteínas, lipídios, açúcares, polissacarídeos e antioxidantes”, afirma Margarida Nakamura, nutricionista da rede de franquias de padarias express Uno&Due, no Rio de Janeiro. Benefícios:  Estimulação do sistema nervoso, o que mantém ativa a atenção e melhora o humor  Aumento da concentração e diminuição do sono  Efeito termogênico, o que aumenta o metabolismo basal  Melhora de quadros depressivos  Efeito neuroprotetor para demências, como a doença de Alzheimer, e para doenças do tipo Parkinson Malefícios (alto consumo – entre 600 e 800mg/dia):  Possível taquicardia, palpitação, insônia, ansiedade, tremores, dores de cabeça e náuseas  Possível piora de quadros gástricos, como refluxo e gastrite, quando consumido em jejum  Possível intervenção no processo de absorção de cálcio, levando a osteoporose Quantidade de cafeína em 130g de café:  Descafeinado: de 1 a 5mg  Expresso: de 250 a 300mg  Feito em cafeteira: de 100 a 180mg  Coado tradicional: de 75 a 170mg  Solúvel: de 65 a 120mg Fonte: Margarida Nakamura, nutricionista da rede de franquias de padarias express Uno&Due, no Rio de Janeiro

A ingestão moderada vai de 300 a 400mg de cafeína por dia, o que equivale a entre três e quatro xícaras da bebida coada. “Vale lembrar que o expresso possui o dobro de concentração de cafeína, portanto tem maior probabilidade de elevar o colesterol no sangue, se comparado ao coado e instantâneo, devido à ausência do processo de filtragem, alerta a endocrinologista Claudia Chang. Uma pesquisa realizada pela Universidade de Cingapura mostrou que beber café moderadamente pode reduzir o nível de açúcar no sangue em diabéticos do tipo 2. Mas os seus antioxidantes não reduzem a inflamação. “Há ainda um fator protetor para doença coronariana, provavelmente o mesmo mecanismo anti-inflamatório que diminuiria o risco de diabetes”, afirma a endocrinologista. “Contudo tal proteção se inverteria em caso de consumo elevado”, contesta. Dicas para garantir a qualidade da bebida:  Fique atento à data de fabricação. Quanto mais recente a torra, mais sabor o café terá  Armazene o café moído em recipiente bem vedado na geladeira  Prepare somente a quantidade que consumirá imediatamente ou, no máximo, durante a hora seguinte  A água utilizada deve ser apenas aquecida – não fervida. A temperatura ideal é de 90°C  Nunca reutilize a borra  Não armazene a bebida já adoçada  Prefira xícaras de porcelana  Se preferir filtro de papel, espalhe o pó uniformemente por ele. Não compacte nem aperte a camada de café  Para um café bem quente, escalde o bule ou a garrafa térmica pouco antes de preparar a bebida  O tempo de contato entre água e café deve ser de quatro minutos para montagem fina, de quatro a seis minutos para a média e de seis a nove minutos para a grossa Fonte: Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC)

Paula Maria Prado | Da redação MedAtual

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Fatos Históricos

Cirurgia videoassistida A quebra de um dogma

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á uma frase muito conhecida nas escolas cirúrgicas que diz: “Grandes cirurgiões, grandes incisões”. Essa frase adquiriu fama no final do século XIX e no início do século XX, a partir do momento em que as medidas anestésicas recém-descobertas possibilitaram cirurgias inimagináveis para a época e consagraram cirurgiões que se tornaram capazes de operar com amplas incisões. O grande problema era que essas “grandes incisões” traziam com elas (e ainda trazem) alguns inconvenientes, como dor no pós-operatório, infecções de feridas cirúrgicas, deiscências e hérnias incisionais. Porém, com essas complicações cirúrgicas, na mesma época começaram a surgir descobertas que hoje constituem a base da cirurgia videoassistida. Em 1805, surge o cistoscópio e, ao longo do século XIX, observa-se a evolução das lentes, fontes de luz e instrumentais endoscópicos. Foram os ginecologistas que deram os primeiros passos no campo da cirurgia por vídeo. Já no século XX, o alemão Kurt Semm (1927-2003), além de desenvolver o insuflador automático, foi o primeiro a realizar uma anexectomia laparoscópica. Apesar de quase ser banido da Germany Physician Society por praticar essa cirurgia, o trabalho de Semm foi extremamente valorizado nos Estados Unidos e serviu de base para a elaboração de diversos equipamentos utilizados nos dias atuais. Na cirurgia geral, a laparoscopia inicialmente era utilizada para permitir biópsias hepáticas sob visão direta. Em 1987, Philippe Mouret (1938-2008) foi o responsável pela primeira colecistectomia por vídeo em Lyon, e hoje, quase 30 anos depois, é a cirurgia laparoscópica mais realizada no mundo.

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Hoje os procedimentos por vídeo fazem parte do arsenal terapêutico de diversas especialidades cirúrgicas. Desde a correção de hérnias até procedimentos extremamente complexos, como a esofagectomia, podem ser realizados por laparoscopia e/ou toracoscopia. Entre os benefícios, há uma menor permanência hospitalar e o retorno precoce das atividades normais, trauma cirúrgico menor, menos dor pós-operatória e efeito estético superior. Tão importante quanto falar do passado da cirurgia por vídeo é falar das perspectivas nesse campo. A cirurgia robótica já é uma realidade, mas seu crescimento só foi possível graças aos recursos de câmeras e instrumentais que surgiram com a laparoscopia. O chamado NOTES (Natural Orifice Translumenal Endoscopic Surgery ou cirurgia endoscópica transluminal por orifícios naturais) é uma área em crescimento, que promete uma cirurgia ainda menos invasiva. Talvez o ponto que mais careça de discussão nos próximos anos é como treinar os novos cirurgiões a utilizar todas essas tecnologias, sem deixar de lado os princípios básicos de Clínica Cirúrgica. Para os entusiastas da técnica, sem dúvida ainda há muito mais a ser escrito na história da cirurgia videoassistida.

Eduardo Bertolli Cirurgião pela PUC-SP e Cirurgião Oncológico pelo Hospital do Câncer A. C. Camargo


Medicin@

Medicina 2.0 Mídias sociais e a relação entre profissionais de saúde e pacientes

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om o aumento expressivo do uso da internet para comunicação interpessoal, surge entre médicos e pacientes um novo tipo de contato: as mídias sociais. Por intermédio do Twitter, Orkut, Facebook e Blogs, os pacientes se sentem mais próximos dos profissionais da saúde, extrapolando, muitas vezes, a tênue linha que separa a relação profissional de assuntos pessoais. Para Gérson Zafalon Martins, Segundo Secretário do Conselho Federal de Medicina (CFM), o médico nesta situação deve ter o mesmo comportamento que teria frente a frente com seu paciente, inspirando-lhe confiança. No caso de dúvidas e perguntas feitas por meio das mídias sociais, o que deve sobressair é a orientação do Código de Ética Médica, que veda consulta, diagnóstico ou prescrição em meios de comunicação de massa. “Isso não significa que o médico não possa orientar seu paciente”, afirma Martins. “Mas ele não deve descuidar jamais do sigilo profissional”, alerta.

Relação médico-paciente O fato é que o uso das mídias sociais pode trazer uma potencial mudança no relacionamento entre médicos e pacientes. Afinal, ao criar um perfil no Facebook, por exemplo, o médico passa a se sujeitar a requisições de relacionamentos por parte de pacientes. Foi o que aconteceu com o oftalmologista Dácio Costa, coordenador da Residência de Oftalmologia no Hospital Geral de Fortaleza. “Eventualmente posso adicionar um paciente como amigo, mas apenas se a convivência se tornou tão intensa que a barreira profissional foi transposta para a pessoal. Um paciente com quem só tive contato no consultório e não em outros locais não adiciono como amigo”, diz. Para ele, esta é a postura que muitos médicos adotam. “Observo que os médicos utilizam as redes sociais de duas maneiras: alguns, como meio de autopromoção e outros, como meio de encontros sociais com família e amigos”, explica. A possibilidade de acesso a dados pessoais e fatos particulares da vida do médico pode interferir na visão que o paciente tem do profissional. Para Costa, a postura profissional e social por parte do médico pode aumentar a confiança do paciente. “Acredito que o melhor a fazer é não se expor a desconhecidos”, pondera. Vale ressaltar que o uso da internet com a finalidade de autopromoção para obter pacientes, bem como a promessa de curas de doenças e divulgação de procedimentos que coloque o profissional em posição superior aos seus colegas, é proibido pelo Código de Ética Médica. É vetada ainda, pelo CFM, a assistência médica a distância, como via internet ou telefone. Paula Maria Prado |Andressa Schpallir |Da redação MedAtual

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Curiosidades Steve Jobs e a luta contra o câncer Gênio, polêmico, perfeccionista, autoritário, louco, inovador. São vários os adjetivos que podem ser utilizados para descrever Steve Jobs (1955-2011). Adorado por alguns, odiado por outros, o fato é que Jobs cunhou seu nome no século XXI como o “maior criador de novas necessidades do terceiro milênio”. Steve Jobs lutou contra um câncer no pâncreas, diagnosticado em 2003. Tratava-se de um tumor neuroendócrino, tipo mais raro e de menor gravidade se comparado ao adenocarcinoma de pâncreas. Entretanto, num primeiro momento, Jobs recusou-se a realizar o tratamento, que consistia em cirurgia para a retirada do tumor. Durante nove meses, recorreu a tratamentos alternativos com dietas, acupuntura e fórmulas naturais. Depois de muita insistência de parentes e amigos, aceitou ser submetido a uma cirurgia, em julho de 2004. Infelizmente, durante a intervenção foram encontradas metástases hepáticas, o que obrigou a sequência do tratamento com quimioterapia. Como consequência da biologia molecular desse tipo de tumor, associado aos efeitos colaterais da quimioterapia, Jobs começou a manifestar sinais de insuficiência hepática e pancreática que toda a mídia acompanhava (e fazia diversas especulações a respeito) a cada lançamento de produtos da sua empresa. Em março de 2009, Steve Jobs se submeteu ao transplante hepático, tratamento aceito somente nesse tipo de câncer pancreático. Mesmo em um pós-operatório turbulento, não deixou de lado seu apego às inovações e à tecnologia. Em sua biografia, registra-se que certa vez se recusou a utilizar uma máscara de oxigênio, pois não gostava de seu desenho, e pediu que lhe trouxessem opções para que pudesse escolher o design que mais lhe agradasse. Jobs ainda lançou, em 2010, o primeiro tablet da indústria, mais uma de suas invenções prontamente aceitas pela sociedade. E, em 5 de outubro de 2011, faleceu em sua casa, na Califórnia. Por mais controverso que fosse em vida, o mundo todo sentiu a perda de um grande gênio contemporâneo.

Como surgiram as luvas cirúrgicas O uso rotineiro de luvas cirúrgicas de borracha popularizou-se, nos hospitais, a partir da I Guerra Mundial (1914-1918), mas sua história surgiu muitas décadas antes, quando se atribuíram ao Dr. William Stewart Halsted (1852-1922) a sua criação e utilização em procedimentos cirúrgicos, no Johns Hopkins Hospital, em Baltimore, EUA, em 1889. Consta que o Dr. Halsted era auxiliado nas cirurgias por Caroline Hampton, a enfermeira do centro cirúrgico, que começou a desenvolver uma dermatite de contato em mãos e braços pelo uso constante da solução de ácido carbólico (fenol), utilizada para antissepsia antes dos procedimentos. Para solucionar esse problema e ter de volta o auxílio da enfermeira, o Dr. Halsted procurou a empresa Goodyear Rubber Company, solicitando que fabricasse luvas finas de borracha para a proteção das mãos e que não levassem à perda da sensibilidade e da sutileza do ato cirúrgico. Com a utilização das novas luvas de borracha, a equipe cirúrgica verificou que houve diminuição das infecções pós-operatórias. Caroline não mais desenvolveu dermatite de contato, e não só pôde voltar a auxiliar o Dr. Halsted nas cirurgias como também foi pedida em casamento por ele, em julho de 1890. Eduardo Bertolli Cirurgião pela PUC-SP e Cirurgião Oncológico pelo Hospital do Câncer A. C. Camargo Fernanda Antunes Graduanda em medicina pela Faculdade de Medicina de Santo Amaro

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Verdades e Mitos Ingerir azeite antes do consumo de bebidas alcoólicas evita a ressaca.

Chocolate diminui sintomas da TPM. Verdade. O chocolate estimula a produção de hormônios, que causam a sensação de bem-estar na mulher, diminuindo os sintomas da TPM. Rita de Cassia Lopes, Endocrinologista

Homens têm mais dificuldade em realizar duas tarefas ao mesmo tempo do que as mulheres. Mito. A mulher realmente possui a habilidade de realizar diversas funções concomitantes com muito mais competência do que o sexo masculino, no entanto não existem bases neurofisiológicas que justifiquem esse comportamento. Existe um fundamento evolutivo adquirido por milhares de anos, em que o homem dirigia a sua atenção para a obtenção do alimento, por meio da caça. Para tanto, eram necessários força, velocidade e foco na presa. Por outro lado, era a mulher quem cuidava do habitat. Eram necessários a ela atenção para observar o mundo ao redor e seus perigos, cuidar da prole, obter alimentos, como frutas e pequenos animais. Isso explica a sua capacidade maior de aproveitamento da visão periférica em relação ao homem. Vale ressaltar que essas características, que parecem exclusivas das mulheres, podem ser aprendidas pelos homens. Herbert Hideyoshi Kai, Neurologista

Mito. Entende-se como ingestão alcoólica excessiva uma ingestão ocasional de 1,5g/kg de álcool (aproximadamente, de 5 a 6 doses para um homem de 80kg) e de 3 a 5 doses para uma mulher de 60kg. O tipo da bebida alcoólica (fermentada/ destilada), assim como o seu teor alcoólico e a associação de outras substâncias alcoólicas durante o processo de fermentação/destilação, parece também contribuir para a ressaca. De fisiopatologia ainda não completamente estabelecida, a ressaca parece estar associada a múltiplos fatores, como desidratação (decorrente da inibição pelo álcool da ação do hormônio antidiurético), alterações hormonais (aumento da aldosterona e da renina), acidose metabólica (aumento do lactato e de corpos cetônicos) e alterações imunológicas com aumento da produção de citocinas pró-inflamatórias (IL-12 e interferon-gama). Popularmente, são conhecidas algumas medidas que atenuariam a absorção do álcool evitando a ressaca, dentre elas o consumo do óleo de oliva antes da libação. Mônica Hissa, Nutróloga

Entrar na piscina depois do almoço faz mal. Verdade. A realização de atividades físicas após as refeições pode, sim, provocar algum efeito indesejável em alguns pacientes porque, nesse momento, o fluxo sanguíneo é dirigido para a região esplâncnica (região estômago e intestinos), com o objetivo de favorecer a digestão e, principalmente, a absorção dos alimentos. Se você pratica atividade física, neste momento, é necessário fluxo de sangue para a musculatura, e pessoas com alguma predisposição poderão ter diminuído o suprimento sanguíneo para o cérebro, podendo apresentar convulsão ou tontura. Giovanni Faria Silva, Clínico

Comer antes de dormir engorda. Mito. Não existem evidências científicas de que comer pela manhã ou antes de dormir faça diferença em relação ao engordar. Na realidade, engordar ou emagrecer depende fundamentalmente do balanço energético. Se um indivíduo ingerir mais calorias do que gasta, engordará, se consumir menos calorias do que gasta, emagrecerá. Evidentemente, há pessoas que engordam com mais facilidade que outras.

Ouvir música em fones de ouvido prejudica a audição.

Mito. Essa condição é causada, na maioria das vezes, por traumatismo ocular ou alta miopia. Entretanto, o hábito não é recomendado, pois, devido ao excessivo esforço para manter as palavras focadas, o paciente pode ter sintomas como dor ocular, náuseas, cefaleia e lacrimejamento.

Verdade. Desde que a intensidade do volume esteja elevada. A exposição a sons acima de 85 decibéis por oito horas diárias pode causar lesão nas células ciliadas da orelha interna, ocasionando a redução da capacidade auditiva. A perda induzida por níveis elevados de pressão sonora depende da suscetibilidade individual; uma vez lesionadas as células ciliadas, não existe cura. Alguns países criaram leis que obrigam os fabricantes de tocadores de música a não ultrapassarem o limite máximo para uma audição saudável. Como referência do limite de intensidade razoável da música no fone de ouvido, tem-se a manutenção da percepção do som externo. Se a pessoa deixa de escutar o som ao seu redor, se deixa de ouvir alguém a chamando ou um carro buzinando é porque a música está acima do limite aceitável, o que pode prejudicar a audição.

Fábio Marques do Nascimento, Oftalmologista

Norimar Hernandes Dias, Otorrinolaringologista

Ildemar Cavalcante Guedes, Endocrinologista

Ler em um veículo em movimento pode causar descolamento de retina.

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Crítica Cultural

Nosso lado Sherlock Holmes

H

Séries de TV com detetives médicos fazem cada vez mais sucesso

á tempos que a medicina foi descoberta por Hollywood como tema para séries de TV de sucesso, como o pioneiro E.R. e os mais recentes e premiados House e Grey’s Anatomy. Admito que assistia muito ao programa E.R. quando jovem e aspirante à carreira médica. Porém, após ver meu sonho se tornar realidade – e ao mesmo tempo ter o choque de verificar quão difícil pode ser o nosso cotidiano –, inegavelmente passei a fugir de programas médicos. Dr. House e seus diagnósticos mirabolantes não me cativam e, a despeito de todos me dizerem que Grey’s Anatomy é uma série sensacional, também não me rendi aos seus dramas e reviravoltas, pelo simples fato de não querer ver, em casa, durante meu repouso limitado, situações de estresse, dramas familiares por doenças e óbitos ou sofrimentos em geral. Ou seja: ver na tela da TV a minha realidade profissional. Por isso mesmo escrever sobre Medicina Legal em séries de TV me pareceu inicialmente tão abominável quanto assistir a alguns reality shows sobre mulheres endinheiradas ou pessoas confinadas em ranchos ou casas chiques bancadas pelo Irmão Maior. Entretanto, admito que, após alguns episódios, abri meu coração para as grandes séries de sucesso que reforçam o papel dos médicos detetives. A Medicina Legal é a especialidade que, através de todos os artifícios fornecidos pela ciência atual (Biologia, Física, Química, entre outros), auxilia na análise criminalística de um ato. Assim, os detetives médicos das séries de TV, não diferentes da realidade, são peças-chave nas resoluções dos mais variados e misteriosos crimes, entre assassinatos, suicídios e todo o rol de loucuras que um ser humano pode fazer a si mesmo e a outrem. Independente de qual profissão exercemos, somos fascinados pela metodologia indiciária – ou seja, aquela em que se analisam indícios simples para uma conclusão acertada. Nesse quesito, os profissionais da saúde talvez exerçam um pouco mais esse método; todos nós, entretanto, gostamos de tentar olhar aquele detalhe que passou despercebido por todos – afinal, todos queremos exercer o nosso lado Sherlock Holmes... Elementar, meu caro leitor!

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E nisso o médico legista pode se orgulhar de ser mestre: analisar mínimos detalhes como formas e angulações de ferimentos por projéteis de arma de fogo, avaliar minuciosamente posições de cadáveres e de objetos numa cena de crime (na TV, obviamente sempre haverá um policial incauto que mexerá em algum detalhe daquela cena), realizar análises toxicológicas (sério que aquela mãe tímida e recatada do início do episódio é uma viciada disfarçada?) são alguns exemplos de métodos técnico-científicos usados por esses fascinantes profissionais tanto na vida real quanto na ficção. A verdade verdadeira (e não conte pra ninguém) é que essas séries são catalisadoras de nossas próprias aspirações: queremos ver justiça (o cara culpado sempre é preso no final) e ser nossos próprios médicos detetives para avaliar pequenos detalhes de nossas vidas que possam ajudar a resolver nossos problemas. Infelizmente, nem sempre a vida imita a arte, e regularmente não conseguimos solucionar nossos próprios mistérios do mundo real; mas não é por isso que vemos esses programas, exatamente para fazer uma pausa da realidade? Atualmente existem várias séries no ar, algumas das quais experimentei e destaco: CSI e suas várias versões, a qual acompanha o dia a dia de uma equipe de investigadores, em que sempre há a figura de um médico legista; Body of Proof, que retrata uma ex-neurocirurgiã que, após um acidente de carro, torna-se médica legista; e finalmente a série Medical Detectives, que, num tom mais documental, mostra vários casos reais em que a Medicina Legal foi essencial para a resolução do crime. Enfim, continuo muito mais fã das piadas politicamente incorretas de Os Simpsons ou das eternas reprises de Friends... mas posso dizer, despudoradamente, que já me sento na frente da TV para ver alguma dessas séries de detetives médicos. E digo mais: consigo descobrir primeiro que você quem matou o vizinho gente boa lá do subúrbio americano... Vamos apostar? Marcos Laercio Pontes Reis Hematologista Especialista em Transplante de Medula Óssea


Crônica

U

Nome e CRM

m pronto-socorro movimentado é um ambiente geralmente hostil. As pessoas se conhecem em um momento não muito propício para novas amizades. Os médicos geralmente estão cansados devido ao excesso de trabalho, já sofrendo pelo dia seguinte, imaginando que terão de trabalhar mesmo após uma noite inteira em claro. O pessoal de enfermagem sofre com a falta de paciência dos pacientes e de muitos médicos, além do cansaço já citado, que também os aflige; e, finalmente, TODOS os pacientes têm a firme convicção de que o seu problema é o mais grave do Universo, por mais evidente que isso não seja verdade. Tal convicção se acentua de forma indelével quando o indivíduo, antes de ir ao pronto atendimento, resolve terminar com todo o estoque de bebidas alcoólicas do bairro em que reside. Se você tem o mínimo de imaginação, perceberá que essa é uma combinação inventada para tirar qualquer pessoa do sério, por mais tranquila que seja. E é aí que entra o meu amigo Lucas. Lucas é um exímio neurocirurgião, de origem oriental, fala mansa, educado, uma flor de pessoa, diriam alguns. Nunca, em minha singela existência, imaginaria um ato de rispidez partindo de tal criatura. Pois foi exatamente isso que me gerou tamanho espanto ao saber da história que relatarei agora, que tomou proporções de lenda em um dos maiores Hospitais-Escola do Brasil. Sexta-feira à noite. O pronto-socorro do Hospital parecia a sala de entrada do inferno. Dezenas de pessoas acidentadas com variados graus de gravidade, muitos com real risco de vida. No meio desse cenário dantesco estava Lucas, na condição de residente do primeiro ano de neurocirurgia. Como era de imaginar, essa história tem o tal bêbado impertinente: trajava um terno escuro, uma gravata de nó semidesfeito, barba bem aparada, cara de quem tinha acabado de sair do happy hour. O que motivara a sua ida ao PS fora uma queda em um bar na Vila Madalena, que lhe ocasionara um corte de menos de 1cm na testa, a qual não estava mais sangrando. Logo, em uma escala de gravidade, seu caso seria um dos últimos a ser resolvido. Porém, o distinto cidadão começou a reclamar os seus direitos, aos berros: — Ninguém vem me atender nessa merda? Tá todo mundo dormindo? Médico é mesmo tudo vagabundo... Lucas, com toda a sua paciência de oriental, tentou explicar a situação para o distinto cavalheiro: — Meu amigo, tenha um pouco de paciência! Você está vendo todas essas pessoas em macas? São todos pacientes, muitos deles graves, e têm prioridade de atendimento. — Não me interessa, eu pago os meus impostos e quero ser atendido agora! — Entenda, não posso parar o atendimento que estou fazendo para cuidar do senhor. Mas, se tiver um pouco de paciência, já o atendo. — E virou as costas e voltou ao serviço.

Argumentar com bêbado é uma das coisas mais improdutivas que existem! Minutos após o cliente voltou a bradar, a plenos pulmões: — Eu vou chamar a polícia! Alguém me atende, senão vou falar com a imprensa!!! Bando de vagabundo... Todas essas ameaças são velhas conhecidas de quem trabalha em pronto-socorro, mas aquele cidadão era, realmente, muito chato. Então, os residentes decidiram que o único jeito de se livrar daquela situação seria inverter a prioridade de atendimentos e verificar o que tanto incomodava o barulhento paciente. Sobrou para o Lucas... — Pois não, meu amigo, vamos ao seu caso. O que aconteceu? — Porra, tô há uma hora aqui e ninguém vem me ver. Eu sou advogado... — Meu caro, não quero saber a sua profissão, quero saber o que aconteceu para poder prestar um atendimento adequado. — Quem é você? — Doutor Lucas, médico residente da neurocirurgia! — Não quero ser atendido por residente nessa merda! — Amigo, infelizmente é uma norma do hospital. Você será primeiro avaliado por um residente e, se houver necessidade, passaremos seu caso para um assistente. — Você não vai tocar em mim, seu açougueiro! Quero seu nome e CRM, que eu vou fazer uma queixa na polícia! — Ah, você quer os meus dados? Espere um segundo que vou fornecê-los para o senhor... Então, para a surpresa de todos, nosso calmo Lucas retirou seu carimbo do jaleco, cerrou-o em sua mão e deu uma cinematográfica carimbada na testa do impertinente cidadão. Com a força do golpe, o sujeito caiu de costas no chão, totalmente surpreso. Há de se imaginar que a relação médico-paciente ficou altamente prejudicada com esse episódio! Então, antes mesmo de o cliente se levantar, os outros residentes partiram para cima dele e o encaminharam para fora do PS, com a orientação de não mais retornar àquele nosocômio. Todos refeitos do momento de agitação, a rotina do pronto-socorro deveria continuar. E nosso recomposto oriental reordenou as fichinhas de atendimento e anunciou calmamente o próximo paciente: — Sr. João? Sr. João Maria? — Seu Manoel? Seu Manoel? Inexplicavelmente, ninguém respondia aos chamados do nosso herói japonês. Não sei se eu responderia também, após presenciar seu método pouco ortodoxo de se apresentar com mais detalhes! Antonio Bomfim Marçal Avertano Rocha Cirurgião Oncológico do Hospital Saúde da Mulher – Belém, PA

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O MedAtual, uma empresa do Grupo CBB, é um portal que abrange cursos preparatórios para residência médica e provas de títulos, além de cursos de atualização e especialização, congressos e palestras. Com atuação desde 2008, realizando cursos ministrados pelos mais renomados especialistas do Brasil, o MedAtual, só em 2011, realizou mais de 20 cursos em parceria com os departamentos de hospitais de São Paulo como HC-FMUSP e UNIFESP. Nas próximas páginas, reunimos cursos direcionados a acadêmicos, residentes e médicos de todas as especialidades. Além dos aqui apresentados, novos cursos serão disponibilizados no site no decorrer do ano de 2012.

Ao vivo, via internet, para todo o Brasil

Reprise online até o final do ano

André Machado Luiz Carolina Lázari Amorim

Material didático impresso enviado no início do curso

Material didático na versão eletrônica para iPad (e-Books)

Melhores professores do Brasil

* Itens de acordo com o curso.

Presencial em São Paulo


Assista às aulas no dia e ao horário em que julgar melhor. Com as reprises você administra seu tempo, nunca perde uma aula e não quebra a sequência necessária para os seus estudos. Telas modulares

5 qualidades de transmissão

vídeo slides

tópicos da aula

sincronizador de slides

Tenha os livros digitais no iPad Você obtém o mesmo conteúdo dos livros impressos de uma forma muito mais interativa, tornando a leitura mais agradável, além da vantagem de possuir todos os livros em um único aparelho, evitando assim o transporte pesado dos mesmos. Anotações: possibilitam fazer lembretes e anotações que ajudam a memorizar o conteúdo com mais facilidade. Marcações: com o deslizar do dedo, você pode marcar os trechos mais importantes do livro.

Carlos Alberto Pastore Nelson Samesina Rafael Munerato

ABC do ECG

Adriana Padro Lombardi Eduardo Bertolli Germano E. Conceição Souza Glaucylara Reis Geovanini

Habilidades Médicas

André Machado Luiz Carolina Lázari Amorim

Luíz Antônio Tobaru Tibana Paulo Aguiar Kuriki Marcos Cortenaro

atlas de

radiologia


André Caroli Machado na Lá zari A Luiz morim

guia

Curso de Antibioticoterapia

antibio ticoter apia

Mês: abril Horário: das 20h às 22h Carga horária: 15h/aula Material didático: Guia de Antibioticoterapia

Objetivo Oferecer ao aluno o conhecimento da classificação e indicação dos principais antimicrobianos, considerando seu espectro de ação, o tipo de atividade antimicrobiana, o grupo químico ao qual pertencem e o mecanismo de ação.

Conteúdo Programático* Módulos Temas 1º

Introdução ao uso de antimicrobianos e microbiologia clínica

Penicilinas

Cefalosporinas, carbapenêmicos e monobactam

Glicopeptídios e quinolonas

Macrolídeos

Lincosamidas e cloranfenicol

Aminoglicosídeos e polimixinas

Tetraciclinas e sulfamídicos

Antifúngicos

10º

Resolução de questões de ATB

* Sujeito a alteração.

Aulas ao vivo, via internet Reprise 24h/dia até o final do ano Material didático disponível na versão eletrônica para iPad (e-Books) Corpo docente HC-FMUSP Use o cupom revistamedatual e ganhe 5% de desconto nesse curso

Mais informações www.medatual.com.br (11) 3511-6182/6183


Luíz A

ntônio Tobaru Paulo Tib A Marco guiar Kurik ana i s Cort enaro

Curso de Radiologia Mês: maio Horário: das 19h às 22h Carga horária: 21h/aula Material didático: Atlas de Radiologia

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e

radiol

ogia

Objetivo Direcionar o aluno ao conhecimento do diagnóstico e interpretação de imagens radiológicas, desenvolvendo suas habilidades por meio de casos e exercícios complementares.

Conteúdo Programático* Módulos Temas 1º

Introdução a métodos de imagens

Princípios de neuroimagem

Diagnóstico por imagem no tórax

Diagnóstico por imagem no abdome

Diagóstico por imagem em cabeça e pescoço

Geniturinário e Ginecologia e Obstetrícia

Diagnóstico por imagem de mama e de sistema musculoesquelético

Casos radiológicos

* Sujeito a alteração.

Aulas ao vivo, via internet Reprise 24h/dia até o final do ano Material didático disponível na versão eletrônica para iPad (e-Books) Corpo docente UNIFESP Use o cupom revistamedatual e ganhe 5% de desconto nesse curso

Mais informações www.medatual.com.br (11) 3511-6182/6183


Carlo s Alb Nelso erto Pasto n re Rafae Samesina l Mun erato

Curso de Eletrocardiograma

ABC do ECG

Mês: junho Horário: das 19h às 22h Carga horária: 18h/aula Material didático: ABC do ECG

Objetivo Possibilitar ao aluno adquirir os pré-requisitos para a análise vetorial do eletrocardiograma normal e patológico e caracterizar interfaces desse exame com os outros métodos, facilitando a sua interpretação clínica.

Conteúdo Programático* Módulos

Temas

O ECG normal e suas variantes

Sobrecargas atriais e ventriculares

Bloqueios de ramo direito e esquerdo e fasciculares

Bloqueios atrioventriculares

Síndromes isquêmicas

Taquicardias sinusal e atrial

Flutter atrial e fibrilação atrial

Taquicardias supraventriculares e ventriculares

* Sujeito a alteração.

Aulas ao vivo, via internet Reprise 24h/dia até o final do ano Material didático disponível na versão eletrônica para iPad (e-Books) Corpo docente InCor / HC-FMUSP Use o cupom revistamedatual e ganhe 5% de desconto nesse curso

Mais informações www.medatual.com.br (11) 3511-6182/6183


Curso de Emergências Cirúrgicas Mês: julho Horário: das 19h às 22h Carga horária: 18h/aula

Objetivo Abordar os principais temas cirúrgicos ocorridos na urgência e na emergência, propiciando maior interação, agilidade de raciocínio e habilidades técnicas desde o atendimento inicial à resolução do caso.

Conteúdo Programático* Módulos Temas 1º

Atendimento inicial ao politraumatizado – ATLS / Trauma de pescoço e face / Trauma torácico

Trauma abdominal e pélvico / TCE / Trauma de coluna vertebral e trauma raquimedular

Resposta metabólica e endócrina no paciente cirúrgico / Acesso a vias aéreas (IOT, crico e traqueostomia) / Acessos venosos centrais

Derrame pleural, pneumotórax, drenagem pleural, toracostomia / Queimaduras / Abdome agudo inflamatório, obstrutivo e hemorrágico

Abdome agudo perfurativo e isquêmico / Hemorragia digestiva alta e hemorragia digestiva baixa / Pancreatites aguda e crônica

AAA, dissecção de aorta e TVP / Suporte nutricional ao paciente cirúrgico / Abordagem do paciente oncológico na emergência

* Sujeito a alteração.

Aulas ao vivo, via internet Reprise 24h/dia até o final do ano Corpo Docente HC-FMUSP, AC Camargo e FMABC Use o cupom revistamedatual e ganhe 5% de desconto nesse curso

Mais informações www.medatual.com.br (11) 3511-6182/6183


Curso de Emergências Clínicas Mês: agosto Horário: das 19h às 22h Carga horária: 24h/aula

Objetivo Abordar as patologias e síndromes clínicas mais frequentemente encontradas nas unidades de emergências dos principais hospitais do Brasil e promover a atualização sobre os temas que possuem novas recomendações, consensos e estudos publicados.

Conteúdo Programático* Módulos

Temas

AVC isquêmico, AVC hemorrágico, Acidente Isquêmico Transitório (AIT) / Intoxicações, meningites e meningoencefalite / Crise epiléptica e rebaixamento do nível de consciência

Ressuscitação cardiopulmonar (ACLS) / IAM com supra-ST e IAM sem supra-ST / Arritmias na sala de emergência e síncope

HAS / Insuficiência Cardíaca (IC) / Tromboembolismo pulmonar

Insuficiência respiratória / Asma e DPOC / Pneumonia

Pancreatite aguda e encefalopatia hepática / Ascite e peritonite bacteriana espontânea / Hepatite e síndrome hepatorrenal

Distúrbios hidroeletrolíticos / IRA / Choque e sepse

Cetoacidose diabética e estado hiperglicêmico hiperosmolar / Crise tireotóxica / Crise adrenal

Diarreia e desidratação / Anemia / Reações alérgicas e choque anafilático

* Sujeito a alteração.

Aulas ao vivo, via internet Reprise 24h/dia até o final do ano Corpo docente HC-FMUSP Use o código revistamedatual e ganhe 5% de desconto nesse curso

Mais informações www.medatual.com.br (11) 3511-6182/6183


Curso de Terapia Intensiva Mês: setembro Horário: das 19h às 22h Carga horária: 18h/aula

Objetivo Abordar a identificação e a solução dos casos mais frequentes em unidades de terapia, apresentando os aspectos conceituais e práticos que envolvem a evolução da patologia, desde a sua instalação até o tratamento dos pacientes, buscando, assim, a melhor prática profissional da Medicina Intensiva.

Conteúdo Programático* Módulos Temas 1º

Monitorização hemodinâmica e perfusão tecidual / Suporte circulatório no choque e uso de drogas vasoativas / Manejo das síndromes coronarianas na UTI

Pneumonia na comunidade e nosocomial / Doenças infectocontagiosas na UTI / Infecções hospitalares

Acidose e alcalose metabólica / Distúrbios de sódio e potássio em paciente na UTI / Indicação e realização de diálise na UTI

Terapia antitrombótica / Terapia transfusional no paciente crítico / Distúrbios de coagulação na UTI

Abordagem aos problemas neurológicos e alterações de consciência na UTI / Manejo da dor na UTI, sua avaliação e tratamento / Analgesia, sedação e bloqueio neuromuscular

Antimicrobianos e seu uso racional na UTI / Terapias nutricionais enteral e parenteral / Medidas e cuidados paliativos na UTI

* Sujeito a alteração.

Aulas ao vivo, via internet Reprise 24h/dia até o final do ano Corpo docente HC-FMUSP Use o código revistamedatual e ganhe 5% de desconto nesse curso

Mais informações www.medatual.com.br (11) 3511-6182/6183


Cursos de Atualização Rápida Nesta página, reunimos apenas alguns cursos que serão realizados no decorrer de 2012. Com carga horária de, no máximo, 10h/aula, os cursos de atualização rápida abordam diferentes temas de interesse dos acadêmicos, residentes e médicos de todas as especialidades.

Alguns cursos são gratuitos! Acesse o site.

Envie-nos a sua sugestão! Desenvolveremos um curso específico para atendê-lo.

Testes de Função Pulmonar

Insulinização no DM2

Interpretação de Exames

Ventilação Mecânica Neonatal

Suporte Ventilatório em Neonatologia e Pediatria

Tireoidopatias

Doenças Endócrinas na Gestação

Gestação de Alto Risco

Olhos Vemelhos

Algoritmo na Suspeita de Apendicite Aguda

Aulas ao vivo, via internet * Reprise 24h/dia até o final do ano Use o código revistamedatual e ganhe 5% de desconto nesse curso * Exclusivo para determinados cursos.

Mais informações www.medatual.com.br (11) 3511-6182/6183


Curso de Suporte Avançado de Vida em Cardiologia (ACLS) Horário: das 8h às 17h Carga horária: 16h/aula Certificação: American Heart Association

Objetivo Apresentar aos alunos, na prática, o manejo do paciente com dor torácica, infarto do miocárdio e PCR, reproduzindo a realidade de um ambiente público ou de um pronto-socorro, por meio de manequins.

Turmas abertas constantemente site Acesse o site.

Conteúdo Programático Temas Reconhecimento das arritmias cardíacas Controle invasivo das vias aéreas e terapia elétrica Suporte básico de vida e manejo do desfibrilador externo automático Emergências respiratórias Estação de bradicardia, assistolia e atividade elétrica sem pulso Estação de taquicardias ventriculares e supraventriculares, estáveis e instáveis Síndrome coronariana aguda Acidente vascular encefálico Estação de fibrilação ventricular e taquicardia ventricular sem pulso

Curso prático exclusivamente presencial em São Paulo Use o código revistamedatual e ganhe 5% de desconto nesse curso

Mais informações www.medatual.com.br (11) 3511-6182/6183


Cursos Preparatórios para Residência Médica Conteúdo programático: atualizado anualmente, é baseado em estatísticas de provas, preparando o aluno para o que efetivamente é abordado nos concursos. Corpo docente: composto pelos mais experientes e renomados doutores, mestres e especialistas das mais prestigiadas instituições médicas do Brasil, como HC-FMUSP, UNIFESP, STA. CASA/SP e UERJ. Material didático: enviado no início do curso, é constituído por textos didáticos, ilustrações, resumos, provas na íntegra e questões comentadas. Disponível impresso e na versão eletrônica para iPad.

Extensivo

Intensivo

Data: de janeiro a novembro Horário: das 9h às 16h

Data: de agosto a novembro Horário: das 9h às 18h

Coleção Extensivo (29 livros)

O aluno que realizar o Extensivo ganha o Intensivo

Coleção Intensivo (4 livros)

Aulas presenciais em São Paulo e ao vivo, via internet Reprise 24h/dia até o final do ano As aulas já realizadas estão disponíveis via internet a qualquer dia e horário Material didático disponível na versão eletrônica para iPad (e-Books) Use o código revistamedatual e ganhe 5% de desconto nesse curso

Mais informações www.medcel.com.br (11) 3511-6161/6182


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Pediatria

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gia Nesse curso, o aluno adquire apenas as especialidades que deseja reforçar, priorizando suas maiores dificuldades e estudando o que realmente é necessário.

As especialidades são disponibilizadas em módulos e possuem o seu material didático incluso. Medicina Intensiva | Cardiologia | Endocrinologia | Cirurgia do Trauma | Pediatria Epidemiologia | Ginecologia | Obstetrícia | Reumatologia | Dermatologia | Ortopedia Psiquiatria | Nefrologia | Pneumologia | Neurologia | Infectologia | Hematologia Gastroenterologia | Cirurgia Geral | Urologia | Cirurgia Vascular | Otorrinolaringologia Oftalmologia

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Aulas ao vivo, via internet * Reprise 24h/dia até o final do ano Material didático disponível na versão eletrônica para iPad (e-Books) Use o código revistamedatual e ganhe 5% de desconto nesse curso *Exclusivo para determinados módulos.

Reta Final SUS/SP Mês: dezembro Horário: das 13h às 22h Material didático: Guia de Bolso Na semana que antecede a prova do SUS/SP, o curso realiza uma semana de total imersão, com o objetivo de oferecer uma última oportunidade de revisão e preparação para esse concurso altamente concorrido.

Programação O conteúdo é baseado nas provas dos últimos 4 anos, e os professores focam nos temas estatisticamente mais prováveis de serem cobrados. Além de um conteúdo teórico, as aulas são repletas de exercícios para que o aluno pratique e entenda o estilo das questões que serão cobradas.

Aulas presenciais em São Paulo e ao vivo, via internet. Reprise 24h/dia até o final do ano Use o código revistamedatual e ganhe 5% de desconto nesse curso

Mais informações www.medcel.com.br (11) 3511-6161/6182


Curso de Habilidades Médicas Mês: setembro Carga horária: 20h/aula Material Didático: Guia de Habilidades Médicas

Adriana Pad ro Lom Eduardo Ber bardi tolli Germano E. Conceição Sou Glaucylara Reis Geovan za ini

Habilidades Médicas

Objetivo Apresentar como são as provas práticas de Residência Médica, mostrando as técnicas corretas de como realizar os procedimentos ambulatoriais e emergenciais, por meio de manequins simuladores e casos clínicos.

Conteúdo Programático* Módulo Clínica Médica Miscelânea de CM partes I, II e III / Reconhecimento e primeiro atendimento à PCR / Cuidados pós-PCR

Módulo Clínica Cirúrgica Pontos e suturas, procedimentos torácicos, acessos venosos, princípios de instrumentação e paramentação cirúrgica, abdome agudo, apendicite aguda, risco cirúrgico e estado físico, anestesia, complicações pósoperatórias, suporte ventilatório não cirúrgico / atendimento inicial ao politraumatizado, trauma torácico, TCE, cirrose, hipertensão portal, litíase biliar, câncer gástrico, aneurisma da aorta e ortopedia adulto

Módulo de Ginecologia e Obstetrícia Câncer de mama, moléstia inflamatória pélvica aguda, planejamento familiar / ultrassonografia obstétrica nos sangramentos vaginais, gestação ectópica, partograma e assistência pré-natal

Módulo de Pediatria Reanimação do recém-nascido, ressuscitação pediátrica, intubação endotraqueal / manobra de Barlow, manobra de Ortolani, TB na infância, choque séptico em pediatria, obesidade e HAS

Módulo de Epidemiologia Vigilância epidemiológica, prevenção e promoção à saúde / medicina legal e ética médica, declaração de óbito e atestado de óbito * Sujeito a alteração.

Aulas ao vivo, via internet Reprise 24h/dia até o final do ano Material didático disponível na versão para iPad (e-Books) Use o código revistamedatual e ganhe 5% de desconto nesse curso

Mais informações www.medcel.com.br (11) 3511-6161/6182


Treinamento para Prova Prática Turmas: em junho, setembro, outubro, novembro e dezembro Horário: das 8h30 às 18h Carga horária: 30h/aula

Vagas limitadas. Descontos especiais nas primeiras turmas.

Com um treinamento rigoroso de 3 dias, os alunos, divididos em pequenos grupos, passam por mais de 70 cenários, todos montados com manequins simuladores de última geração e atores especializados. O curso é baseado nas provas da USP, UNIFESP, UNICAMP, UNESP, STA. CASA e UFRJ, e suas questões são apresentadas de forma exclusiva pelo Medcel, permitindo que o aluno conheça as particularidades, aprenda e saiba executar cada uma delas. Para um treinamento mais eficiente e produtivo, as estações são divididas em 2 modalidades:

Simulação de Prova Para aprimorar competências médicas, integrando conhecimento, atitude, ética e habilidades, o aluno realiza a simulação de prova e é analisado em todos os aspectos pelo professor, que interpreta o avaliador observando o conhecimento, a execução do check-list e o comportamento. São mais de 50 cenários que abordam todas as especialidades médicas, tais como: Condutas em casos de dor precordial | Broncoespasmo | Crise hipertensiva| Pancreatite | Apendicite | Comunicado de óbito

Treinamento Prático Os alunos são subdivididos em grupos de 1 a 3, o que proporciona maior grau de aprendizado e aproveitamento individual. É a oportunidade de aprimorar habilidades médicas treinando em manequins específicos. Os procedimentos mais executados são: Cenário ACLS | Vias aéreas | Ausculta cardíaca | Ritmos cardíacos | Acessos venosos | Drenagem de tórax | Nós e suturas | Paracentese | Sondagem gástrica e vesical | Cricostomia | Instrumentação cirúrgica| Palpação de apresentação fetal e fórcipe | Coleta de papanicolaou | Nódulos de mamas

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Mais informações www.medcel.com.br (11) 3511-6161/6182


R3 Clínica Médica e R3 Clínica Cirúrgica Data: de fevereiro a novembro Horários: das 9h às 12h (CM) das 14h às 17h (CC) Conteúdo programático: atualizado anualmente, é baseado em estatísticas de provas, preparando o aluno para o que efetivamente é abordado nos concursos. Corpo docente: composto pelos mais experientes e renomados doutores, mestres e especialistas das mais prestigiadas instituições médicas do Brasil, como HC-FMUSP, UNIFESP e STA. CASA/SP. Material didático: enviado no início do curso, é constituído por textos didáticos, ilustrações, resumos, provas na íntegra e questões comentadas. Disponível impresso e na versão eletrônica para iPad.

Aulas presenciais em São Paulo e ao vivo, via internet Reprise 24h/dia até o final do ano As aulas já iniciadas estão disponíveis via internet a qualquer dia e horário Material didático disponível na versão eletrônica para iPad (e-Books) Use o cupom revistamedatual e ganhe 5% de desconto nesse curso

Mais informações www.medcel.com.br (11) 3511-6161/6182


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