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Mercado e FInanças
Ethiopian airlinEs comEça Em Julho a sobrEvoar moçambiquE
A companhia não promete passagens baratas, mas assegura que vai praticar tarifas que possibilitem a “um cada vez maior número de moçambicanos o privilégio de voar”. A crescente concorrência no sector da aviação civil anima o empresariado nacional, que prevê o alívio dos custos de fazer negócios pelo país
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a entrada da gigante africana ethiopian airlines (por diversas vezes eleita a melhor companhia aérea de África e uma das que tem registado maior ritmo de crescimento ao nível operacional) no mercado interno, marca o início de uma nova era da aviação comercial em Moçambique. A da abertura ao mundo do espaço aéreo moçambicano que, ao longo dos 42 anos da independência foi dominado pelas Linhas Aéreas de Moçambique, a companhia de bandeira nacional. O primeiro vôo está marcado, oficialmente, para 1 de Julho próximo, confirmando o início da exploração das 108 rotas atribuídas à Ethiopian Airlines no ano passado pelo regulador do mercado, o Instituto de Aviação Civil de Moçambique (IACM). Tratou-se então, de uma medida histórica, por criar espaço para que, pela primeira vez, uma companhia estrangeira explorasse as rotas do mercado doméstico. Em entrevista à E&M, o director-geral da companhia em Moçambique, Daniel Tsige, “assume os esforços feitos no sentido de que comecemos em Julho de 2018. Garanto que estamos cada vez mais próximos de começar as nossas operações em Moçambique. E a meta é, claro, começarmos na data planeada”, insistiu. Nesse sentido, a Ethiopian Airlines admite haver “alguns pequenos detalhes por acomodar,” principalmente no que diz respeito à contratação de pessoal para completar o quadro de funcionários já posicionados nos diferentes sectores que compõem a operação em território nacional: “creio que tudo o que ainda falta fazer estará resolvido antes da data do início efectivo das operações”, disse o responsável pela companhia. Daniel Tsige não deixa de elogiar “o clima de cooperação saudável com o re-
gulador moçambicano (o IACM) e com as autoridades aeroportuárias (a empresa Aeroportos de Moçambique), sinónimo de que a Ethiopian Airlines está (obviamente) à altura das exigências destas entidades a diversos níveis, sobretudo no que diz respeito à segurança.” E prossegue: “Já progredimos muito relativamente aos procedimentos para explorarmos o mercado moçambicano. Estamos na última fase de preparação e a mais importante é a que se segue: o início das operações”, assegura Tsige. O IACM não conseguiu, em tempo útil, fornecer à E&M os dados actualizados sobre o processo de abertura do espaço aéreo e a entrada de novos operadores, incluindo a Ethiopian Airlines. Mas em Setembro do ano passado, aquando da atribuição da licença à companhia etíope, o Presidente do Conselho de Administração da instituição, o comandante João de Abreu manifestava uma natural “satisfação com este grande avanço”, que considerava “essencial para o sector, bem como para toda a economia nacional.”
Ethiopian não será low cost Pode, para muita gente, ser uma desilusão. Mas, a verdade, é que ao contrário do que tem sido veiculado desde o anúncio da entrada da Ethiopian no mercado, dando conta de que as passagens seriam de baixo custo, a Ethiopian Airlines revela à E&M que efectivamente “não será assim”. O que a companhia admite, é que “as tarifas serão competitivas”, dentro dos valores que o mercado pratica actualmente. “Não iremos aplicar tarifas baixas, mas também não vamos fazer os preços que são praticados pelas operadoras nacionais, quer na classe económica quer na executiva. Queremos praticar preços acessíveis ao poder de compra da maior parte dos moçambicanos e criar condições para que mais pessoas tenham a possibilidade de viajar de avião”, explicou o director-geral da companhia. Outra promessa para os consumidores é a aposta da companhia na oferta de “serviços premium com um standard de qualidade de acordo com o que a Ethiopian Airlines tem oferecido em todos os destinos e mercados em que opera.” Para se instalar em Moçambique, a companhia aérea teve de recrutar técnicos formados fora, sobretudo na Etiópia. Segundo o director-geral da companhia, há um tipo específico de tarefas cujas qualificações ao nível das exigências da Ethiopian Airlines não existem em Moçambique. “Para essas tarefas específicas temos estado a contratar trabalhadores estrangeiros, provindos da Etiópia e de outros países em que temos operações. Mas posso garantir que o nosso principal objectivo era contratar quadros moçambicanos porque a contratação estrangeira sai mais cara e queremos efectivamente poder contar cada vez mais com quadros nacionais”, assume Daniel Tsige, referindo-se principalmente a pilotos e técnicos de manutenção. A Ethiopian Airlines diz ser esta “uma das suas agendas, “a formação de moçambicanos para gradualmente substituir a mão-de-obra estrangeira utilizada no arranque da operação. Temos essa experiência que já foi levada a cabo com sucesso noutros mercados em que operamos como o Malawi, Zâmbia, Togo.” Nesse sentido, prossegue, “iniciaremos a operação com mão-de-obra mais experiente e com profundo conhecimento técnico que já trabalha connosco há muito tempo. Por exemplo, queremos pilotos capacitados para operar os modelos de aeronaves que a companhia utiliza mais habitualmente. O mesmo deve-se passar em relação aos técnicos de manutenção. Quanto às outras funções, estamos empenhados em realizar curtas acções de treinamento porque já existe um grau de especialização elevado no mercado interno”, explica Tsige. Quanto à frota, a companhia irá operar quatro aeronaves, um Boeing 737 e três da marca Bombardier Q400, que entende serem adequados para a configuração geográfica de Moçambique, por assegurarem eficiência no transporte de passageiros e de carga para curtas e longas distâncias. Para já, a licença da Ethiopian para o espaço aéreo nacional concede-lhe o direito de exploração comercial de 108 rotas que ligam todas as dez províncias nacionais. No entanto, a Ethiopian Airlines irá, numa segunda fase, submeter o pedido de autorização para que, a partir de Maputo, possa começar a voar para outros destinos no exterior, fazendo de Moçambique um hub regional.
ReceitAs A AumentAR…
A receita da empresa tem registado aumentos sucessivos devido ao crescente reinvestimento na aquisição de equipamento e na internacionalização das operações para novos mercados
O crescimento do número de passageiros (e também do volume de carga) justifica, em grande medida, o crescimento de todos os indicadores de desempenho
Em resultado do constante investimento, a Ethiopian tem vindo a aumentar o quadro de pessoal. Em dois anos, a companhia contratou cerca de 4 000 profissionais
em milhões de dólares
2016 2017 2 400 2 700
… pAssAgeiRos tAmbém
em milhões 2016 2017 7,5 8,8
cRescimento geRou mAis postos de tRAbAlho
número de trabalhadores
12 100
2016 16 000
2017
100 destinos internacionais
Companhia etíope voa para mais de uma centena de destinos, nos cinco continentes
É a frota anual da companhia etíope que prevê crescer para 140 aeronaves até 2025, por forma responder aos planos de expansão de médio-prazo
98 aviões
fonte ethiopian Airlines menos custos e maior eficiência nos negócios Há muito que se faz notar a insatisfação de muitos eventuais consumidores (particulares e empresários) em relação aos elevados custos de passagens aéreas, bem como pelas limitações impostas pela insuficiência de meios das companhias nacionais para responderem à procura
mercado e finanças
daniel tsigue, director-geral da ethiopian: “vamos ser competitivos”
do mercado interno. A concorrência, pela razão óbvia, ajudará a baixar os preços das tarifas e a melhorar a qualidade dos serviços prestados, trazendo consigo um maior grau de eficiência. É dos livros de economia esta lógica, e só pode ser boa para tornar o mercado mais competitivo, a todos os níveis. Por isso não é de admirar a satisfação do empresariado com a entrada da Ethiopian Airlines no mercado, mesmo sabendo que esta não irá operar numa lógica de segmento low cost. Ouvido pela E&M, o vice-presidente da Confederação das Associações Económicas (CTA), Castigo Nhamane, sublinha este aspecto e entende que haverão vantagens: “a LAM cobra muito alto pelas passagens, aplica muitas taxas, algumas das quais não se sabe para que servem. Creio que até para a própria LAM será benéfica esta competitividade interna.”
lam mais forte A CTA aponta mesmo o elevado custo das passagens como uma “barreira decisiva para o desenvolvimento do turismo” e chama atenção para que a LAM se prepare técnica e financeiramente para enfrentar a Ethiopian Airlines, pois de contrário irá perder o mercado. “Todos acreditamos que o conseguirá fazer. Para o consua levar a cabo para nos robustecermos ainda mais perante a abertura à concorrência”, revelou a fonte da direcção da companhia aérea nacional preferindo não avançar mais detalhes. Não se conhecendo em detalhe o conjunto de medidas para o fortalecimento da estratégia de acção da LAM no mercado, há dados que permitem avaliar esse posicionamento. Nomeadamente, na área das rotas de baixo custo. Foi público, por exemplo, o memorando assumido em Março deste ano com a companhia aérea Fast Jet, que opera no mercado doméstico low cost desde Novembro de 2017. Esse documento prevê uma lógica de cooperação comercial “abrangente e de longo prazo com vista à optimização de sinergias nas operações de vôos para destinos comuns e complementares, bem como a cooperação em outras actividades comerciais, carga, engenharia e manutenção”, estando actualmente em avaliação, ao que apurámos, um aprofundamento desta parceria por parte das companhias lideradas por António Pinto (LAM) e Nico Bezuidenhout (Fastjet). A mesma fonte próxima da direcção da LAM, adianta alguns desses caminhos: “por exemplo, o excedente de passageiros que procuram a LAM pode ser canalizado para a nossa parceira, mas os moldes de compensação devem ser devidamente estudados porque a Fastjet não dispõe de técnicos de manutenção de equipamentos (incluindo aeronaves). O mesmo sucederá em relação aos serviços de check in partilhados”, adianta. Durante vários anos, a lógica que dominou o mercado da aviação civil demonstrava relutância em relação à concorrência, apesar de Moçambique até ser signatário do tratado de Yamoussoukro (Costa de Marfim) de 1999, que preconiza a abertura do espaço aéreo para promover a cooperação económica. E se os efeitos desse fechar de portas foram de facto prejudiciais ao mercado, também o terão sido para a própria companhia nacional, que procura recuperar as milhas aéreas entretanto perdidas. Um facto reconhecido pelo próprio Presidente Filipe Nyusi, quando visitou a empresa recentemente e admitiu que era preferível “abrir espaço para novos operadores, porque senão, teria de se começar a pensar na sua privatização.”
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rotas domésticas Foram atribuídas à Ethiopian airlinEs pElo instituto dE aviação Civil dE moçambiquE, E vão pErmitir ligação a todas as Capitais provinCiais
midor final, será bom, certamente.” A E&M procurou saber que medidas a LAM está a levar a cabo para enfrentar uma concorrência da dimensão daquela que Ethiopian prometer oferecer. Um dos representantes da instituição assumiu alguma inquietação internamente e garantiu que a companhia de bandeira nacional “já realiza uma série de acções” para se fortalecer, bem como à sua posição no mercado: “como companhia aérea e instituição que opera no negócio da aviação civil consideramos bem-vinda a concorrência. Mas não vamos divulgar a estratégia que estamos