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Macro
Carvão alCança reCorde e reanima a eConomia naCional
Pela primeira vez desde 2012, a Vale apresenta resultados positivos da exploração de carvão em Moçambique, com a facturação a bater recordes numa actividade adormecida pelas condições do mercado internacional dos últimos anos. Resta saber se esta tendência se irá manter por muito tempo.
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em cinco anos, as actividades de extracção e exportação de carvão foram acumulando prejuízos para a Vale, uma das maiores mineradoras em todo o mundo. Ao mesmo tempo que, no Brasil, a empresa (através de algumas das suas subsidiárias) se via envolvida em investigações e num processo de mudança da sua estrutura accionista, em Moçambique (e em muitos mercados em que opera) a rentabilidade das operações, estava longe das expectativas iniciais. Olhando para o mercado nacional, se nos primeiros anos, a operação da Vale teve menos altos que baixos, o que se justifica pelos avultados investimentos iniciais de suporte ao início das actividades (em Moçambique esse valor andará perto dos 6 500 milhões de dólares), e pelo abrandamento industrial na China, Japão e Estados Unidos, que levou os preços do carvão no mercado internacional a bater no fundo. O que complicou, e de que maneira, as contas da Vale e dos restantes operadores do mercado nacional. Recuando no tempo, no auge da crise dos preços internacionais do carvão de coque, em 2015, as empresas mineiras chegaram a despedir mais de 4 000 funcionários em todo o mundo. Naquele ano, o preço do carvão metalúrgico (aquele que é utilizado na produção de aço, e que representa o principal negócio da Vale), chegou a cair para os 80 dólares por tonelada, depois do pico de 291 dólares por tonelada, que se registava em 2011. Mas, em Agosto de 2016, os preços começaram a recuperar até atingirem um valor próximo dos 200 dólares
por tonelada, em finais do mesmo ano. Actualmente na casa dos 139 dólares, a recuperação do preço do carvão reanimou a extracção de carvão e abre boas perspectivas para a reanimação do sector que, de há ano e meio a esta parte, tem finalmente dado sinais de pujança. E é precisamente essa alteração de fundo que os resultados apresentados no relatório e contas da Vale Moçambique reflectem, e que não se fica pelo mercado nacional. No Brasil, onde fica a sede da empresa, só em Abril deste ano a Vale foi a que mais valorizou no mercado bolsista de São Paulo, cerca de 100 milhões de dólares em apenas 30 dias. Em Moçambique, o mercado reergueu-se e os resultados do ano passado já demonstram um impacto significativo do carvão no desempenho da economia no seu todo (1,6 mil milhões de dólares de exportação). Para ter uma noção, só a exportação de carvão da Vale corresponde a 72% das exportações do sector extractivo e 36% do volume global de exportações do país, tendo inclusivamente ultrapassado a líder crónica nacional, no que a exportações diz respeito, a Mozal. Por outras palavras, se excluirmos o carvão, o país vende muito pouco ao exterior, mas ainda assim, o carvão ajudou a economia, quando ela mais precisava.
Primeira vez com lucro Segundo o relatório de contas da empresa, que reporta ao exercício económico de 2017, a produção de carvão da mina de Moatize totalizou 11,2 milhões de toneladas, um crescimento de 101% em relação às 5,6 milhões de toneladas produzidas em 2016, um salto que reflecte a operacionalização da segunda mina da Vale, designada de Moatize II. O EBITDA (resultado antes dos impostos e da depreciação), atingiu pela primeira vez um valor positivo desde a entrada da Vale em operações, em Março de 2012. Um salto de 162% (mais 15 mil milhões de meticais) em relação a 2016. Já as receitas, aumentaram 122%, algo que a mineradora explica “pela melhoria do preço do carvão no mercado internacional”, impulsionada pela crescente fiscalização e restrição da produção das minas na China, bem como pela entrada em funcionamento do corredor logístico Moatize-Nacala (que liga a mina em Tete ao porto de Nacala, numa extensão de 912 Km), e que permitiu o escoamento da produção. Outra razão que explica o desempenho
30
milhões de dólares É o valor que a mineradora prevê pagar em impostos ao estado atÉ ao final do ano, se os preços no mercado internacional não voltarem a cair
PReço do caRVão RecuPeRou
Depois do pico de 2012, o preço do carvão de coque no mercado internacional caiu a pique e só começaria a recuperar em Agosto de 2016
em dólar por tonelada
300 270 240 210 180 150 120 90 60 30 0 139
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
fonte Vale positivo da operação de Moatize é a apreciação do metical em relação ao dólar. Se em 2016 a moeda norte-americana atingiu a casa dos 80 meticais, no ano passado a moeda nacional recuperou para próximo dos 60 meticais. Pelas mesmas razões, o resultado líquido também cresceu consideravelmente, atingindo 66 000 milhões de meticais, depois de registar avultados prejuízos nos anos anteriores (ver gráfico da página seguinte), que levam a que, em termos acumulados (desde o início das suas operações), a empresa continue a apresentar um resultado líquido negativo de 380 000 milhões de meticais. Outra boa notícia para a Vale, tem a ver com o volume de investimentos que tem vindo a cair. Em 2017, ele caiu para metade (de 10 000 milhões para 5 000 milhões de meticais) face ao período homólogo, porque em 2016, a empresa concentrou esforços na finalização da mina Moatize II, que duplicaria a capacidade de produção, com impacto nos resultados deste ano. E o volume do investimento de 2017 ilustra bem essa realidade, uma vez que a empresa apenas teve de assegurar a continuidade das operações bem como as acções sociais, o que naturalmente absorveu recursos bastante menores.
optimismo moderado No entanto, se o carvão “aqueceu” a economia nacional quando ela estava a esfriar, o optimismo não pode ser exagerado. Porquê? Porque existem muitas contas a ajustar enquanto as condições actuais do mercado (interno e internacional) se mantiverem, fruto de anos de produção insuficiente. Em relação aos impostos a pagar ao Estado e graças à melhoria dos indicadores de desempenho, a Vale prevê canalizar até 30 milhões de dólares (aproximadamente 1.8 mil milhões de meticais) para a Autoridade Tributária. Trata-se de um número muito acima do que foi pago quando a Vale enfrentou prejuízos avultados em 2016 e teve de pagar apenas 10 milhões de meticais (o câmbio estava muito depreciado e volátil). A este nível, fonte da empresa faz questão de dizer que os principais impostos pagos pela Vale ao Estado são mesmo em royalties (impostos pagos pelo direito de exploração do carvão). Aproveitando a onda favorável do mercado, a Vale está a investir em acções de sondagem, para investigar outras áreas disponíveis na sua concessão de Tete.
Macro
Moatize, tete: em 2018 a Vale prevê um crescimento de 33,9% da produção de carvão, para os 15 milhões de toneladas
A aposta da Vale, deve-se ao reconhecimento de que o carvão de Tete é de qualidade, internacionalmente reconhecida de resto, para a indústria metalúrgica, e que a Vale considera “tratar-se de um produto premium” e uma opção forte que tem ganho quota de mercado, num mercado concorrencial dominado pela Austrália, maior competidor externo (e maior produtor mundial), que fornece carvão aos grandes compradores mundiais (Estados Unidos, China e Índia). No mesmo documento, a Vale garante ainda que Moçambique “apresenta outras vantagens” para rivalizar com a Austrália e que justificam a sua aposta neste mercado, apontando a “localização geográfica privilegiada em relação a alguns dos principais mercados mundiais, nomeadamente a Índia e o Brasil”. Como desvantagem, neste aspecto, apresenta-se o factor-distância em relação a outros mercados asiáticos como o Japão, Coreia, Taiwan ou a Europa (face à Austrália). Ainda assim, esta desvantagem é, lê-se no relatório e contas, “compensada pela facilidade logística no acesso de navios de grande porte que carregam o carvão a partir do porto de Nacala, o que acrescenta valor à competitividade da empresa na operação moçambicana.”
volatilidade de preços e incerteza No entanto, se o presente é de algum optimismo e desafogo (ainda para mais se olharmos à previsão de aumento da produção de 33,9% este ano), a verdade é que no mercado do carvão, o que hoje parece, amanhã pode não ser. Ao contrário de outras commodities cujos valores de mercado podem ser mais facilmente previsíveis a médio-prazo, o preço do carvão pode apresentar
a exportação de carvão da Vale corresponde a 72% de todas as exportações do sector extractivo e a 36% do volume global de vendas ao exterior. Já ultrapassou o alumínio da Mozal
PRodução seMPRe a auMentaR
O ano de 2017 fechou com um crescimento de produção na ordem de 101% face ao ano anterior, atingindo um recorde de 11,2 milhões de toneladas. Em 2018, prevê-se um crescimento de 33,9%, para os 15 milhões de toneladas
em milhões de toneladas
5 5,6 11,2 15 (1)
2015 2016 2017 2018
(1) Previsão para 2018 fonte Vale
grandes variações num curto espaço de tempo. Porque a fixação dos preços está dependente de um sem-número de condicionantes. Que vão da ocorrência de fenómenos climáticos extremos com impactos na cadeia de produção na Austrália (como aconteceu com o ciclone Debbie, há um ano, gerando uma inflação imediata de 8% no preço) às políticas macroeconómicas (nomeadamente industriais) nos principais mercados compradores. É por estas razões que, de acordo com o que apurámos junto da Vale, não existe segurança plena nesta curva de estabilidade que se verifica, e principalmente não se arrisca demasiado em previsões optimistas de que ela tenha chegado para permanecer. Até porque a ‘lição’ de 2015 e 2016, tornou, de uma forma geral, os operadores de mercado (não só em Moçambique) mais cautelosos na realização das suas contas e nas projecções para o futuro. Temendo que os preços possam voltar a cair, a Vale não está assim em condições de projectar o volume de investimentos que vai realizar nas suas concessões, nem assegurar quanto irá desembolsar em impostos para o Estado nos próximos anos, uma vez que esses, são números que dependerão de condicionantes que têm a ver com o preço de venda do carvão nos mercados internacionais. Ou seja, os curtos ciclos de variação de preços, deixam a companhia sem capacidade de planificar o volume de exportações e de receitas que poderá realizar nos próximos anos, o que deixa algum espaço de preocupação, essencialmente pelo peso que o sector ganhou nos últimos 16 meses na balança comercial (ao nível das exportações e da entrada de dólares na economia), sendo hoje, efectivamente essencial no quadro macro-económico nacional. Um pequeno exemplo disso aconteceu recentemente, quando o Governo admitiu rever em baixa as previsões de crescimento económico de 5,3% para cerca de 3%, baseando-se, principalmente, nas projecções da Vale, que reduziu também ela as metas de produção de 2018 de 16 milhões de toneladas para 15 milhões devido às enxurradas que se abateram sobre as províncias de Nampula e Tete, dificultando a actividade produtiva e o transporte. Ainda assim, será o carvão a principal alavanca do crescimento esperado para este ano. Só que é preciso assegurar o que possa vir por aí de negativo.
Receita: a funcionaR cada Vez MelhoR
O crescimento do volume de produção e a recuperação do preço do carvão, foram determinantes para o crescimento expressivo da receita, também empurrado pela redução da dívida com os accionistas graças à recuperação das taxas de câmbio
em milhões de dólares
2015 2016 2017 200 732 1 619
Resultados: PositiVos Pela PRiMeiRa Vez
Os resultados financeiros foram positivos pela primeira vez, devido ao aumento do volume de produção e à melhoria dos preços do carvão no mercado internacional
em milhões de dólares
-115 -293 -335
2017 2014 2015 2016
1 001
1 001 milhões de dólares
O resultado líquido da Vale em Moçambique em 2017
inVestiMento: cai PaRa Metade
A redução do volume de investimentos evidencia a finalização da fase de expansão da mina de Moatize II. A partir de 2017, investimentos serão direccionados para a manutenção, acção social e sondagem de novas bolsas de carvão
em milhões de dólares
2016 2017 166 83
fonte Vale Olhando de novo para a conjuntura global, ela parece não estar do lado da evolução positiva do preço do carvão nos mercados, algo que alimenta os receios da Vale. E existem várias leituras para esse facto, expressas por analistas de commodities de todo o mundo que olham a chegada de Donald Trump à Casa Branca, com o seu discurso de reactivação da indústria norte-americana, como factor catalisador que levou os outros grandes players mundiais, nomeadamente a China, o Japão e a Índia a reforçarem a actividade industrial, fomentando a produção interna de uma matéria-prima entretanto já banida em muitos países, como o Reino Unido). No entanto, isso criou um micro-ciclo de aumento do valor das commodities (nomeadamente o petróleo que anda há semanas acima dos 75 dólares por barril) o que, por arrasto, pode ser favorável para o carvão.
diversificação “é urgente” No entanto, se a quebra do preço do carvão pode, por enquanto, não passar somente de uma previsão que pode ou não concretizar-se, as incertezas da Vale são interpretadas como factor potenciador de eventuais constrangimentos na actividade económica de forma mais global, em Moçambique. À E&M, o economista Constantino Marrengula, docente da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), levanta a velha questão da necessidade de “diversificar a economia” para escapar aos efeitos negativos de uma eventual quebra de receitas da venda de carvão, ou de um potencial (e até expectável) abrandamento do sector extractivo. Reconhecendo que a diversificação económica de que tanto se fala não se concretiza “num curto espaço de tempo”, o professor considera ainda assim urgente “desenhar prioridades políticas no sentido de criar uma linha de coordenação entre as instituições públicas, em busca de resultados práticos, que tenham visibilidade e peso na economia, em poucos anos.” A economia nacional até pode ter tido um balão de oxigénio com o aumento da receita proveniente das exportações de carvão mas, é preciso fazer o trabalho de casa, para não ficar exclusivamente dependente desta matéria-prima.
macro
ImobIlIárIo cresceu em altura, caIu no preço, e agora parece estabIlIzar
Depois do pico de preços e investimentos de 2013, o sector imobiliário foi acompanhando a evolução da economia, e abrandando até quase parar. Cinco anos depois, o mercado estará no entanto mais realista e, havendo ainda poucos novos investimentos, a verdade é que a oferta melhorou, e até já há novos negócios no horizonte
o mercado imobiliário é, sem dúvida,
um grande indicador da saúde de qualquer economia. Recordemos que foi por aí, como sabemos, que começou a grande crise de 2008, com o rebentar da bolha imobiliária nos Estados Unidos, que se viria a alastrar a todo o mundo, com consequências que foram muito para além de um segmento de mercado basilar e que se estenderam à banca, fizeram cair governos, e obrigaram o mundo mergulhar numa crise que, ainda hoje deixa resquícios em economias de todo o mundo. Olhando para Moçambique, com o início do crescimento acima dos 7% do início da década, o sector imobiliário foi dos que mais cresceu. Depois, viria o abrandamento económico e, de novo, o imobiliário foi o que deu os primeiros sinais desse novo tempo mais austero, que se notou (e ainda nota) no mercado desde 2014, quando se iniciou a queda abrupta dos preços no mercado imobiliário (residencial, escritórios e retalho), com destaque para as cidades de Maputo, Beira, Nampula e Pemba. E os preços continuam a cair, na exacta medida em que a oferta continua a subir, numa das mais lógicas leis essenciais da economia real. É exactamente por isso que um conjunto de especialistas ligados ao ramo imobiliário ouvidos pela E&M descartam qualquer “crise” no mercado mobiliário, e falam sim, “do reajuste de um sector que foi construído numa base especu-
lativa”.Luís Coimbra, director-geral da AVANCE, uma empresa especializada em administração de infra-estruturas em Moçambique, considera a crise económica que devasta o país desde 2015, “a causa fundamental para acabar com o nível de especulação que vigorava no mercado imobiliário.” Mas algo de positivo pode ser construído mesmo em cima de uma má base. “De facto, sabemos das más consequências para o mercado imobiliário, mas o fenómeno acabou por trazer algo de bom. É preciso ver que o mercado imobiliário nacional foi construído numa base especulativa onde qualquer empreendimento tinha preços completamente desnivelados face à realidade, independentemente da qualidade, localização ou finalidade da obra. E isso accabou”, justifica Luís Coimbra.
economia não ajudou A mesma opinião é perfilhada por Nuno Tavares, director-geral da REC, empresa de consultoria no ramo imobiliário, a trabalhar no mercado moçambicano há cerca de 18 anos. “A crise acabou por servir um pouco de lição para os investidores do ramo que estavam a seguir um caminho errado, onde apenas se construía para a classe alta e que qualquer coisa valia um milhão de dólares ou mais. Há muito que o país precisava de corrigir o sector imobiliário, porque há um sindrome que impede uma actuação harmoniosa entre os investidores do sector.” Depois, há o excesso de oferta que se verifica um pouco em todos os segmentos (residencial, retalho, e escritórios). “Sim. O mercado imobiliário é de reacção lenta, ou seja, entre a aprovação do investimento, a construção e a entrada do stock para o mercado, podem passar dois, três anos. E o que aconteceu, foi que o mercado mudou. Os investimentos foram baseados numa perspectiva e com uma determinada conjuntura que mudou. E, se no retalho o potencial de crescimento ainda é grande e a maioria da oferta até já está construída (com o Baía Mall e o Novare Matola a ocuparem a grande fatia da área construída), essa realidade nota-se sobremaneira no segmento dos escritórios em que, face à situação de contracção económica há, por um lado, excesso de oferta (que advém da entrada no mercado de muitas novas unidades) e por outro a saída de muitas empresas do mercado de procura. E isso reflecte-se nas taxas de ocupação e nos preços pedidos, onde se verificam quebras entre 30 a 40%”, aponta. Se há três ou quatro anos, no segmento dos escritórios, um metro quadrado era negociado por 40 dólares, agora, a tendência é de fechar o contrato a 22 ou 26 dólares, quase metade do valor, face ao que acontecia há quatro anos”, complementa. Se olharmos ao stock residencial existente a situação é um pouco diferente, uma vez que o número de unidades em construção (muitas delas abrandaram o ritmo de construção, ou chegaram mesmo a parar nos últimos anos, à espe-
rEsiDEnCial: ofErta ainDa vai auMEntar
Quando o stock em construção estiver finalizado representará um aumento de 50% face à oferta actual
em mil metros quadrados
stock existente
stock em construção
26,3
dólares por m2 1 889
1 429
EsCritórios E rEtalho: Maioria já EM utilização
Grande maioria dos projectos já está em funcionamento, o que se reflecte numa quebra de preços de quase 40%
em mil metros quadrados
Escritórios
237,2 26,3
dólares por m2
Retalho
150,4 17,5
dólares por m2 25,1
1,9
Stock Existente Em Construção
FONTE REC | Real Estate Consulting ra de melhores dias) represnta praticamernte 50% em relação ao stock já finalizado. Uma situação que leva Nuno Tavares a demonstrar preocupação pela saturação da oferta. “Só na cidade de Maputo, existem cerca de 1 889 unidades vagas ou devolutas de apartamentos contra 1 429 unidades ainda em construção, e algumas delas, se calhar, já não podemos chamar de novos, porque estão lá há dois ou quatro anos sem utilização”, revela. Aliás, o excesso do stock em todos os segmentos, mas especialmente no residencial é, por esta altura, “preocupante, pois mostra que o mercado é pouco sustentável visto que ainda se observa uma baixa taxa de ocupação dos principais empreendedimentos de Maputo, de cerca de 30%”.
boas consequências Há pouco mais de quatro anos, com a economia a crescer acima dos 7%, e com a previsão de chegada de um cada vez maior número de quadros expatriados e de empresas multinacionais e com a probabilidade que, parecia então mais do que certa, de uma aceleração imparável da economia assente na massificação da descobertas de gás, carvão e outros recursos minerais, a procura de apartamentos, escritórios e espaços para compra e arrendamento decorria a uma velocidade estonteante. Os preços, em dólares (na altura com um câmbio muito favorável para o lado do metical) ‘alimentavam’ um mercado com uma oferta reduzida no volume de metros quadrados e nos padrões de qualidade dos imóveis. Tudo isso mudou, já se percebeu. A começar precisamente por ai. Pela mudança do sistema de pagamento de compras, vendas e arrendamentos, agora feitos em meticais. Para quem nos lê, talvez este tenha sido um dos bons efeitos da crise. Os preços baixaram, e baixaram em meticais, quando tinham subido em dólares. “É verdade. A ‘meticalização’ do mercado imobiliário é uma realidade incontornável, num mercado que funcionava, quase por inteiro, em dólares. E quando comparamos uma renda que pagamos hoje em meticais com a que era praticada há dois ou três anos, também verificamos essas quebras em torno dos 40% a 50%.” E há exemplos concretos dessa realidade. Há quatro anos, um apartamento T3, na zona da Polana Cimento, seria facilmente alugado por um valor a rondar os 2 000 a 2 500 dólares, cerca de 120 a 150 000 meticais ao cambio de actual, mas agora, esses apartamentos são arrendados
macro
por valores a rondar os 50 000 meticais, o que corresponde a 800 dólares, hoje em dia. É uma verdade incontornável, esta, mas que não se verifica em todos os segmentos. “No segmento escritórios, ainda continua a predominar, sobretudo nas zonas de edifícios de classe “A”, situados em zonas prime, preços pedidos em dólares, que depois são convertidos em meticais”, revela Nuno Tavares.
o que vem aí? A resposta surge ainda hesitante para grande parte dos agentes do sector, mas há já quem anteveja alguns indícios de retoma. Elsa Santos, da Investe Imóvel é dessa opinião. “Teremos ainda por mais algum tempo uma fase de estabilização em baixa, uma vez que a correção foi muito abrupta no tempo e ao nível da quebra de valores.” No entanto, um regresso ao passado, àqueles primeiros anos da década, em que o imobiliário (e outros sectores económicos) viveram um período de ebulição gastadora no qual tudo parecia repentinamente demasiado bom para ser verdade, não é de todo expectável. “Sim, isso não voltará a acontecer. Mesmo que não se possa voltar a registar o pico de oferta e procura como o registado em 2013, o que prevemos que suceda a partir de 2020, é o mercado voltar a merecer destaque na economia nacional. Mas os preços não voltarão a sofrer essa escalada, acima de tudo porque a oferta será mais ampla e comportará de outra forma a procura que se antevê”, afiança.
Quem casa quer casa. só que não pode “Moçambique está num caminho de retoma ainda lenta, mas que começa a notar-se em alguns indicadores. Continuo a afirmar que fora da cidade de Maputo haverá espaço para erguer novos empreendimentos de habituação e retalho essencialmente para segmentos B e C, e daqui a cinco anos vamos começar a ter um mercado imobiliário mais maduro, mais diverso e substancialmente mais estável.” O ano de 2020, é assim o ano da retoma, dizem os especialistas. “Os ciclos deste sector são de dez anos e acreditamos que a partir desse momento, as coisas possam começar a melhorar, e voltaremos a ter um mercado muito competitivo, mas talvez só em 2023 voltaremos a registar uma oferta igual ou superior à procura”, acrescenta. Do lado do investimento, a oportunidade para comprar irá estender-se por No fim de contas, para além da baixa de preços de compra e arrendamento, do aumento do volume de construção para quem mais precisa, o solavanco por que passou o sector imobiliário levou ainda ao surgimento de um curioso sub-segmento: o aluguer de curta e média duração através de plataformas como o Airbnb ou o Booking.com, que são hoje utilizadas por alguns agentes imobiliários do mercado, que alugam apartamentos que não foram ainda vendidos (como os do Olimpic Terrace ou os das Torres Rani, entre muitos outros), em modalidades que compreendem um conjunto de serviços ‘chave-na-mão’ (Internet, empregados, e contas incluídas) que, por ora, conferem rotação a apartamentos que, de outra forma, não teriam ocupação. Caso para dizer que, se entreabrem janelas onde há poucos meses haviam demasiadas portas fechadas.
abrandamento da economia colocou travão a fundo nos investimentos do sector imobiliário. no entanto, o mercado reestruturou-se e há novos segmentos a surgirem no mercado
alguns anos. Mas, do lado da procura, o dilema está no facto de a oferta ter sido construída, quase na sua totalidade para um target premium. Que existe, de facto, mas é muito mais volátil do que o target B e C, e que representa a grande maioria da população nacional que continua a debater-se com sérios problemas para conseguir ter habitação própria. Assim, se por um lado se verifica a estagnação do sector imobiliário direccionado para as classes de maiores rendimentos, por outro, nota-se o surgimento de projectos imobiliários com o foco num outro segmento de mercado: a classe média. “É difícil quantificar, mas existem nos últimos dois anos, muitos investimentos em projectos autónomos, de privados, nas zonas limítrofes do centro de Maputo, como o Alto Maé, Malhangalene ou Amílcar Cabral. É um tipo de investimento que é difícil de quantificar, mas que apresenta alguma dinâmica. E se somarmos tudo isso, a expressão económica é capaz de ser interessante e elevada”, explica Nuno Tavares.
Números em conta
Nova poNte. uma obra graNde, em quase tudo
assim é. Especialmente se olharmos ao números envolvidos em toda a obra da ponte da Katembe: dos milhões do investimento, aos quilómetros de extensão, passando pelos metros de altura. Assim, depois de quase uma década de discussão e com mais de um ano de atraso, aquela que é a maior ponte suspensa de África, e a 53ª a nível mundial, tem inauguração prevista para este mês (dia 25), servindo de ícone de celebração dos 43 anos da independência nacional. O design e a construção ficaram a cargo da China Road and Bridge Corporation (CRBC), a terceira maior empresa de construção a nível mundial, com sede em Pequim, enquanto o controlo de qualidade foi efectuado pela GAUFF Engineering. Mas, foram muitos os intervenientes que participaram numa obra que promete mudar a própria economia da capital do país. Com um vão principal de 680 metros sobre a baía de Maputo e uma altura de pilão de 141 metros, a Ponte Maputo-Catembe oferece aos visitantes uma vista imponente, que se foi erguendo na linha do horizonte da cidade. Após o asfaltamento e outros trabalhos finais, como pinturas e sinalização, não é ainda certo, ao que a E&M apurou, que a obra seja aberta ao tráfego após a cerimónia de inauguração, dado ainda existirem linhas de transporte de energia por recolocar e comerciantes por transferir na zona onde estão a ser construídos os acesso-norte, mas é certo que, dentro de algumas semanas, será possível conduzir entre as duas margens de Maputo.
800
milhões de dólares
É o valor final da obra. a maior ponte suspensa (área de tabuleiro) em toda a áfrica, e representa tambÉm o maior investimento infra-estrutural do país em toda a sua história
3 041
metros
É o comprimento total da ponte. com quatro faixas de rodagem, a secção em betão armado pré-esforçado corresponde a 1,1 quilómetros sobre a margem norte e outros 1,2 sobre a margem sul, cabendo 680 metros ao vão central.
200
quilómetros
será a extensão dos acessos, (entre os quais outras cinco pontes-viaduto de pequena dimensão), e as estradas para a fronteira da ponta do ouro e a ligação boane-bela vista.
3 000
postos de trabalho
o número de trabalhadores envolvidos na obra ao longo dos 3 anos é semelhante, por exemplo, aos da construção da ponte 25 de abril, em portugal.
60
metros
a colocação dos pilares de betão foi precedida da instalação de 24 estacas com 100 metros de profundidadee 2,2 metros de diâmetro em cada uma da margens, sobre as quais foram posteriormente erguidas as torres.
57
blocos
o tabuleiro que vai ligar a capital ao sul do país é como se fosse um jogo de peças de encaixe: 57 blocos de aço gigantes fabricados na china foram transportados num cargueiro pelo mar índico até à capital moçambicana. se as fundações das duas torres principais da ponte chegam aos 100 metros de profundidade, a altura do tabuleiro (60 metros) vai permitir o tráfego de navios de grande porte para o porto de maputo.
137
metros de altura
130
toNeladas
mesmo sendo oco, cada um dos blocos pesa 130 toneladas. foram içados do cargueiro que os transportou desde a china por uma grua especial que os colocou em posição, encaixados uns nos outros.
680
metros
É a área de tabuleiro suspensa (a maior em áfrica) sobre a baía, com pilares numa e noutra extremidade, nomeadamente na zona do porto de maputo e do lado da catembe.
as maiores poNtes suspeNsas do muNdo
1Akashi-Kaikyo, Japão 2 Xihoumen, China 3 Great Belt, Dinamarca
Localizada no estreito de Akashi, no Japão, é a ponte com o maior vão suspenso do mundo, 1 991 metros. Inaugurada em 2007, está em Zhoushan, a segunda maior ponte suspensa do mundo com um vão de 1 650 metros. Liga as ilhas da Zelândia e Fiónia atravessando o Grande Belt. Tem o terceiro maior vão livre do mundo com 1 600 metros.