Entrevista Manuel Gameiro fala do singificado da adesão da hcb à bolsa de valores Especial inovação ensino em áfrica regista crescimento rápido de plataformas e-learning
moçambique
especial covid-19 a díficil escolha entre a prevenção e a sobrevivência nos mercados de maputo
lá fora em que medida a pandemia piorou o índice de pobreza dos informais em angola?
QUANTO VALE O MERCADO DE CAPITAIS? A E&M analisa os números e o desempenho do mercado de capitais e das principais cotadas na Bolsa de Valores de Moçambique
edição NoVEMBRO - dezembro 15/11 a 15/12 • ano 03 • no 31 2020 • Preço 250 MZN
Sumário 6
Observação
A segunda vaga Europa vive segunda vaga da pandemia, o retorno dos confinamentos e o recolher obrigatório
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Radar
Panorama Economia, Banca, Finanças, Infra-estruturas, Investimento, País
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65 ócio
58 Escape Uma viagem a Pomene, Inhambane 60 Gourmet Como a pandemia inspirou a mudança no Mirazur, o melhor restaurante do mundo 61 Adega Um brinde aos vinhos libaneses 63 Arte “Instinto de Sobrevivência”, uma homenagem artística às vítimas do cancro de mama 64 Ao volante Do AirCar, o veículo da KleinVision que o levará ao céu
Especial covid
Os mercados de Maputo O difícil equilíbrio entre a busca do sustento e o cumprimento de regras impostas pelo covid-19
24 nação O mercado de capitais 24 Crescimento A evolução dos indicadores da Bolsa de Valores de Moçambique desde a sua criação há 21 anos 30 BVM Salim Valá fala dos factores críticos da rápida mudaça que se verificou nos últimos quatro anos 34 HCB Manuel Gameiro analisa a histórica operação que levou a HCB à Bolsa de Valores de Moçambique 36 Bolsas africanas Análise aos impactos da pandemia e todos os pontos fracos das principais praças
45 esPECIAL INOVAÇÃO Tecnologia As grandes tendências da Inovação em Moçambique e no continente africano
www.economiaemercado.co.mz | Julho 2020
36 lÁ fora Angola Pandemia endureceu ainda mais o custo de vida de quem vive de pequenos negócios na capital Luanda e na periferia
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Editorial
Mercado de capitais quer chegar à maioridade e começar a crescer como gente grande
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Celso Chambisso • Editor da Economia & Mercado oçambique, como qualquer economia fraca, com empresas pouco competitivas, sem liquidez e um empresariado, grosso modo, a carecer de “lições” no que diz respeito às boas práticas, sobretudo ao nível da gestão, não tem requisitos substanciais para criar um mercado de capitais robusto e que cumpra com o seu papel como fonte alternativa ao crédito tradicional. O mercado moçambicano de capitais conservou por muito tempo esta pálida imagem, quando o conceito “Bolsa de Valores de Moçambique” passava ao lado de quase toda uma sociedade, incluindo os mais instruídos em assuntos económicos, que vezes sem conta questionaram a pouca utilidade deste instrumento na economia. Foram 16 anos de um “anonimato” que ficou para trás em apenas quatro. Os últimos quatro anos. Hoje, o mercado de acções continua modesto. Mas já deu passos ambiciosos, que revelam a vontade de construir uma praça de negociação de títulos e obrigações mais a sério. As empresas já a conhecem e querem-na como aliada dos seus negócios. É, por isso, a principal proposta da presente edição da E&M. Sem deixar, claro, de olhar para o futuro, a E&M traz uma análise profunda sobre a evolução dos números da capitalização bolsista e toda a acção que desconstruiu a ideia de que um mercado de capitais forte só se faz com pressupostos macroeconómicos saudáveis. E porque a Covid-19 está com cada vez mais força na sociedade moçambicana, o “Especial Covid” traz um tema que deve inspirar a atenção e sensibilidade de todos: o drama vivido por pessoas que têm de procurar sustento em condições de restrições que vão além da própria pandemia, passando a agregar os pressupostos de mercado e as regras da postura municipal.
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MÊS ano • Nº 01 propriedade Executive Mocambique Liquatis nienis doluptae velit et magnis enis necatin nam fuga. Henet exceatem seque cus, sum nis nam iu Qui te nullant adis destiosse iusci re in prae voles sant laborendae nihilib uscius sinusam NOVEMBRO 2020 31 rehentius eos resti• Nº dolumqui dolorep reprem vendipid que ea et eumque non DIRECTOR Pedro Cativelos nonsent quiEXECUTIVO officiasi pedro.cativelos@media4development.com lorem ipsum Executive Mocambique EDITOR EXECUTIVO Celso Liquatis nienis doluptae velitChambisso et magnis JORNALISTAS, Freire,exceatem Elmano enis necatin namCristina fuga. Henet Madaíl, Ricardo Lopes, Rogério seque cus, sumDavid nis nam iu Qui te nullant Macambize, Ruiiusci Trindade, Yanavoles de Almeida adis destiosse re in prae PAGINAÇÃO José Mundundo sant laborendae nihilib uscius sinusam FOTOGRAFIA Mariano Silva rehentius eos resti dolumqui dolorep REVISÃO Manuela Rodrigues dos Santos reprem vendipid que ea et eumque non área Comercial nonsent qui officiasi Nádia Pene nadia.pene@media4development.com lorem ipsum Liquatis nienis doluptae conselho CONSULTIVO velit et magnis enis necatin nam fuga. Alda Andreia HenetSalomão, exceatem sequeNarigão, cus, sumAntónio nis nam Souto; Bernardo Deniseiusci Branco, iu Qui te nullant Aparício, adis destiosse re in Fabrícia de Almeida Henriques, Frederico prae voles sant laborendae nihilib uscius Silva, Hermano Juvane, Iacumba Ali Aiuba, sinusam rehentius eos resti dolumqui João Gomes, Narciso Matos, dolorep reprem vendipid queRogério ea et Samo Gudo, Salim eumque nonCripton nonsentValá, qui Sérgio officiasiNicolini ADMINISTRAÇÃO, REDACÇÃO lorem ipsum Liquatis nienis doluptae E PUBLICIDADE Media4Development velit et magnis enis necatin nam fuga. Rua Ângelo Azarias Chichava nº 311nis A— Henet exceatem seque cus, sum nam Sommerschield, – Moçambique; iu Qui te nullant Maputo adis destiosse iusci re in marketing@media4development.com prae voles sant laborendae nihilib uscius IMPRESSÃO E ACABAMENTO sinusam rehentius eos resti dolumqui Minerva - Maputo - Moçambique dolorep Print reprem vendipid que ea et Tiragem 4 500 exemplares eumque non nonsent qui officiasi Propriedade dO Registo lorem ipsum Liquatis nienis doluptae Executive Moçambique velit et magnis enis necatin nam fuga. Exploração Henet exceatemEditorial seque cus, esum nis nam Comercial emadis Moçambique iu Qui te nullant destiosse iusci re in Media4Development prae voles sant laborendae nihilib uscius Número de Registo sinusam rehentius eos resti dolumqui 01/GABINFO-DEPC/2018 dolorep reprem vendipid que ea et eumque non nonsent qui officiasi
www.economiaemercado.co.mz | Abril 2019
observação Europa, 2020
A Segunda vaga dos novos confinamentos Quando tudo indicava que a curva ascendente de novas infecções começava a ‘achatar’, quase todos os países europeus voltam a sentir nova vaga da pandemia a ganhar fôlego. Os especialistas da saúde acreditam que o desconfinamento a que se assistiu nos últimos meses contribuiu em grande medida para o fenómeno. Com efeito, na última semana do passado mês de Outubro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estimava que o número de mortes diárias no continente tinha aumentado quase 40% em relação à semana anterior, elevando as estatísticas para mais de 255 mil mortes em 8,78 milhões de casos. Para tentar travar a progressão da doença, vários países voltaram a apertar nas medidas. Até 28 de Outubro, a França e a Alemanha tinham anunciado novo confinamento, ainda que menos restritivo do que em Março e Abril passados, enquanto vários outros países recorrem ao toque de recolher obrigatório como medida de contenção. Enquanto isso, e sem se saber ainda muito bem e de forma conclusiva porquê, o continente africano continua a ser aquele em que a situação é menos má. Na última semana de Outubro, a taxa de propagação caiu 15%, embora o número de novos contágios tenha crescido 12% para mais de 74,5 mil. fotografia D.R
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www.economiaemercado.co.mz | Novembro 2020
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RADAR EIU PREVÊ RECESSÃO EM 2,3% ESTE ANO E RECUPERAÇÃO EM 2021 em Moçambique A consultora Economist Intelligence Unit (EIU) prevê que a economia moçambicana tenha um crescimento negativo de 2,3% este ano devido aos impactos da pandemia de covid-19, recuperando para 1,2% em 2021. “Em 2021, assumindo que a pandemia está sob controlo, o PIB real deve aumentar 1,2%, a seguir a uma contracção estimada de 2,3% em 2020”, lê-se numa nota sobre as perspectivas de Moçambique. No relatório, os peritos da unidade de análise económica da revista britânica The Economist consideram que “a produção de carvão vai recuperar porque a exploração acelera gradualmente, depois de estar quase parada em 2020 devido à queda na procura de energia a nível mundial, e o sector da agricultura mantém-se forte, assente nas condições meteorológicas favoráveis”.
ECONOMIA
Recuperação. O Standard Bank prevê que a economia moçambicana supere a recessão durante o segundo trimestre de 2021, segundo uma nota de análise do economista-chefe daquela entidade bancária divulgada este mês. “Perspectivamos que a economia supere a recessão apenas durante o segundo trimestre de 2021, podendo alcançar um crescimento médio de 2% para o ano como um todo, que contrasta com a previsão, para este ano, de uma contracção de 1,3%”, referiu Fáusio Mussá. Segundo a análise, a actividade económica e a confiança nos negócios em Moçambique continuam deprimidos e a sofrer as consequências negativas decor-
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rentes da pandemia de covid-19, dos desafios relacionados com a insegurança e do alcance limitado das políticas monetária e fiscal que visam promover a recuperação. Dívida interna. O Ministério da Economia e Finanças (MEF) fixou o final de Novembro como data limite para a reclamação de dívidas do Estado contraídas entre 2007 e 2017, anunciou em comunicado. “O Governo decidiu fixar o prazo de 30 de Novembro do corrente ano como limite para a remessa das reclamações de fornecedores de bens e prestadores de serviços relativos ao período de 2007 a 2017”, lê-se no documento. A Inspecção Geral de Finanças está a realizar desde 2018 “auditorias para validação das dívidas contraídas pelas instituições do Estado” naquele período, restando “a validação de novas dívidas não declaradas durante as fases anteriores”. Apoio financeiro. A cooperação alemã aplicou mais de 17 milhões de euros em Moçambique para mitigação do impacto da pandemia de co-
vid-19. “O Governo alemão já disponibilizou mais de 17 milhões de euros em prol da mitigação dos efeitos do covid-19, através dos projectos já em curso no País à luz da cooperação alemã nas áreas de educação, boa governação, desenvolvimento económico sustentável, energia e biodiversidade e através do Programa Mundial para a Alimentação”, referiu em comunicado. Entre as medidas, encontra-se o financiamento do rendimento mínimo garantido para cerca de 130 mil pessoas durante um período de três meses, apoio aos salários de guardas-florestais por dez meses e criação de 400 empregos em dez meses na área de conservação transfronteiriça do Grande Limpopo.
Distinção. O empresário moçambicano Salimo Abdula venceu o prémio Euroknow-
ledge 2020, um dos maiores reconhecimentos anuais a individualidades que se destacam nas suas realizações e que deram uma contribuição significativa e impactante nos sectores empresariais e desenvolvimento humano, tais como saúde, educação, ambiente liderança e responsabilidade social corporativa. A cerimónia de entrega de prémios decorreu recentemente de forma virtual a partir de House of Lords, de Londres, e houve ainda espaço para uma mesa-redonda que discutiu liderança e filantropia com homens de negócios de todo o mundo. Para Salimo Abdula, presidente da Confederação Empresarial da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CE- -CPLP), “o prémio eleva o nome de Moçambique, a marca CPLP e das diversas entidades a que estamos ligados”, disse Salimo Abdula. Orçamento do Estado. A Assembleia da República (AR) aprovou, recentemente, o Orçamento do Estado rectificativo de 2020, que baixa de 2,2% para 0,8% a previsão de crescimento www.economiaemercado.co.mz | Novembro 2020
para este ano. O documento foi aprovado com os votos a favor de todos os 145 deputados da Frelimo, partido no poder, presentes na sessão. A Renamo, principal partido da oposição, com 44 votos, e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceiro partido, com apenas seis assentos, votaram contra o Orçamento do Estado rectificativo. Na declaração de voto, a Frelimo justificou a sua posição a favor do instrumento com a necessidade de adaptar as contas do Estado à evolução ditada pelo covid-19 e pelos conflitos armados no norte e centro de Moçambique.
Revista Índico. A revista Índico, da Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), é a vencedora do prémio “Melhor Revista de Bordo da Região de África”, edição 2020, cujos resultados foram divulgados no passado dia 09 de Novembro de 2020, pela World Travel Awards. Produzida pela Executive Moçambique, a Índico obteve o maior número de votos dos leitores, que são, principalmente, passageiros, profissionais e especialistas dos sectores de aviação e turismo. A propósito da conquista do prémio, o Director Geral da LAM, João Carlos Pó Jorge, expressou satisfação e gratidão a todos os apreciadores da revista. “Um feito desta natureza, mostra o quão é vital a estabilidade que os accionistas conferem à companhia, sendo esse factor a força www.economiaemercado.co.mz | Novembro 2020
motriz para os profissionais darem de si o melhor que podem à empresa”, avançou, orgulhoso, o gestor.
EXTRACTIVAS Receitas do Gás. Cerca de 50% das receitas resultantes da exploração do gás da Bacia do Rovuma serão destinados ao Orçamento do Estado e os restantes ao Fundo Soberano, até ao vigésimo ano de actividade, segundo uma proposta de utilização dos recursos apresentada recentemente pelo Banco de Moçambique. Falando num encontro organizado pelo Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD), Jamal Omar, administrador do Banco de Moçambique, justificou que a definição dos 50% visa permitir um equilíbrio entre a poupança, rentabilização do Fundo e resolução dos problemas actuais como investimento e satisfação de outras necessidades que o País tem ou vier a ter. Coral Sul. A petrolífera ENI
anunciouß a montagem do último dos 13 módulos de produção da plataforma coral Sul FLNG, actualmente em construção na Coreia do Sul. Um documento da empresa refere que a montagem, que marca o fim do fabrico dos módulos onshore que compõem toda a planta de tratamento e liquefacção de gás, está dentro do programa e em linha com a saída da plataforma do estaleiro em 2021 e início da produção do gás em 2022. O director-geral da ENI Rovuma Basin, Robert Dall´Omo, considera o acto uma grande conquista para os parceiros da área 4 da bacia do Rovuma, em Cabo Delgado, não obstante as dificuldades impostas pela pandemia do novo Coronavírus.
OPINIÃO
A revisão laboral e os desafios impostos pela actual conjuntura
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Ana Berta Mazuze • HRA Advogados & Paula Ribeiro Farinha • Morais Leitão
m 2018, o Governo iniciou o processo de auscultação para a revisão da Lei n.º 23/2007, de 1 de Agosto, que aprovou a Lei do Trabalho e que está em vigor há mais de dez anos. O processo de auscultação, que envolveu vários intervenientes, desde empresas públicas e privadas, sindicatos de trabalhadores e associações económicas, culminou com a elaboração da proposta de lei, submetida em Março do presente ano para aprovação pela Assembleia da República. Esta proposta tem sido fortemente contestada pelas associações empresariais, com fundamento em que a mesma não teve em conta as contribuições do sector privado e em que, sendo aprovada, poderá ter um efeito adverso no que se refere aos avanços alcançados com a implementação da actual Lei do Trabalho. Entre os motivos de tal efeito encontram-se a previsão da diminuição dos benefícios concedidos às pequenas e médias empresas, o agravamento do regime das indemnizações e das condições de contratação de cidadãos estrangeiros, a suspensão da contagem de prazos de prescrição de direito, o excesso de formalismo na condução de processos disciplinares e a ausência de previsão da conexão entre o processo disciplinar e o processo crime. A revisão laboral e a respectiva proposta de lei não tinham já tido o alcance esperado por diversos dos intervenientes nas relações laborais individuais e colectivas, ficando, pelo contrário, aquém das expectativas destes. Sucede que o processo de auscultação para a revisão laboral, assim como a preparação da respectiva proposta de lei, são anteriores ao actual contexto de pandemia que atingiu Moçambique e todo o mundo em 2020, contexto que não só alterou por completo o normal curso dos trabalhos, como evidenciou a premente necessidade de regulação de outras matérias no âmbito das relações jurídico-laborais. Com efeito, com o cenário pandémico provocado pela Covid-19, muitos países se viram obrigados a aprovar medidas restritivas como forma de conter a propagação da doença. Estas medidas e o próprio contexto da conjuntura internacional representam, desde o início, uma ameaça para
as empresas dada a iminente crise financeira que pode afectar todo o sector económico-empresarial. Mas revelam igualmente a necessidade de dotar os empregadores de medidas e recursos de combate a situações de crise empresarial evitando a solução drástica de ruptura dos vínculos laborais. Uma das principais preocupações dos empregadores tem sido a racionalização e redução de custos para garantia da sustentabilidade dos seus negócios, o que conduz inevitavelmente a despedimentos e consequente aumento das taxas de desemprego. Num contexto de pandemia e de crise financeira, a suspensão de contratos de trabalho mostra-se, entre as possibilidades legalmente previstas, como uma opção viável, uma vez que permite ao empregador, nessas circunstâncias, reduzir temporariamente o salário dos trabalhadores, desde que apresente os fundamentos para recurso a esse mecanismo. Em Moçambique, nas primeiras duas semanas após a entrada em vigor do Estado de Emergência, o Governo anunciou que cerca de 6400 (seis mil e quatrocentos) trabalhadores terão visto os seus contratos suspensos e que se verificava uma tendência para o aumento destes números. Contudo, embora constitua alternativa adequada à redução temporária dos encargos com salários, o regime da suspensão do contrato de trabalho actualmente em vigor dispõe que, mantendo-se os fundamentos findo o prazo de três meses, o empregador pode acordar com o trabalhador a cessação do contrato de trabalho mediante o pagamento da indemnização legal, não prevendo qualquer alternativa para o caso de manutenção dos fundamentos da suspensão, mas em que o empregador pretenda ainda manter os postos de trabalho. Com efeito, hipóteses como a possibilidade de prorrogação da suspensão, desde que verificados os seus fundamentos, poderiam evitar, findo o período de três meses, a cessação imediata dos vínculos laborais, o pagamento do encargo com a indemnização e o aumento do desemprego. Por outro lado, tal como se encontra previsto, o regime tem suscitado muitas dúvidas sobre os direitos e opções de gestão licitamente ao dispor do empregador
O actual contexto pandémico tem sido frutífero em revelar as insuficiências da legislação laboral, sobretudo a falta de meios ao dispor dos empregadores para fazer face a situações excepcionais
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A pandemia de covid-19 vem trazer todo um conjunto de novos desafios à actual legislação laboral em Moçambique
durante o período de suspensão. Em face do exposto, várias empresas procuraram encontrar mecanismos legais que lhes permitissem fazer cortes salarias sem necessariamente suspender os contratos de trabalho, o que se tem revelado tarefa de extrema dificuldade no contexto laboral actualmente em vigor. Um dos mecanismos explorados por alguns empregadores foi o da alteração das condições de trabalho por acordo com os trabalhadores, o que é permitido em caso de alteração das circunstâncias ou força maior, entre outros, desde que se mostre necessário para a subsistência da relação de trabalho ou contribua para melhor a situação da empresa, através de uma mais adequada organização dos seus recursos. Todavia, trata-se de um mecanismo que não permite, em caso algum, a diminuição da remuneração ou da posição hierárquica do trabalhador, o que constitui séria limitação a que as empresas a ele recorram em circunstâncias de crise. Apesar de a protecção da posição do trabalhador ser o motivo subjacente ao regime acima descrito, à semelhança do que sucede em tantas outras matérias do regime jurídico laboral, o cenário da pandemia veio suscitar a questão da necessidade de flexibilização de algumas limitações legais e a de previsão de mecanismos especiais de alteração das condições de trabalho em circunstâncias absolutamente excepcionais, temporárias e devidamente comprovadas, passíveis de controlo pelas autoridades e eventualmente subsidiadas pelo Estado. Esta e outras medidas poderiam ser avaliadas, pensadas e implementadas, de modo a dotar as entidades empregadoras de medidas e recursos adequados ao combate à crise empresarial de natureza excepcional e temporária, impondo limitações para evitar a utilização abusiva desses www.economiaemercado.co.mz | Novembro 2020
mecanismos, mas permitindo que os empregadores possam dispor de medidas conservatórias dos vínculos com os seus trabalhadores em contextos de crise severa, como a que presentemente vivemos a nível mundial. Paralelamente, o contexto da pandemia tornou ainda claro que outras matérias carecem de urgente regulação, tais como a prestação em regime de teletrabalho, que, diferentemente de outras jurisdições, em Moçambique ainda não se encontra regulado, e que trouxe a lume tantas outras questões com ele relacionadas, designadamente os meios e instrumentos de trabalho, horário de trabalho, segurança no trabalho e privacidade do trabalhador. O facto de o regime jus-laboral moçambicano não prever o regime do teletrabalho conduziu a que a realidade se tivesse imposto ao legislador e o tivesse ultrapassado. A prestação do trabalho em regime remoto deve ser urgentemente regulada, de modo a acautelar as inúmeras questões, dificuldades e consequências que traz a nível das obrigações e direitos das partes da relação laboral. O actual contexto pandémico tem sido frutífero em revelar as insuficiências da legislação laboral, sobretudo a falta de meios ao dispor dos empregadores para fazer face a situações excepcionais e de profunda crise empresarial, mas também a falta de flexibilidade para que, em situações excepcionais e acautelado o abuso, as partes possam, com determinados limites, acordar alterações temporárias das suas condições laborais. Todas estas inquietações que o mundo jus-laboral tem vivido em resultado do contexto pandémico constituem manifestação de que muito se poderia avançar neste campo em termos legislativos, para o que a revisão da Lei do Trabalho poderia contribuir enormemente.
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Especial
O ‘corona’ está forte, mas há mais medo da fome Uma ronda por quem vende nos mercados reflecte um País mais pobre. Tudo por causa de um vírus temido, mas não mais que a miséria que arrasta. Hoje há vendedores à espera de compradores que nunca chegam, jovens que perderam a fonte de rendimento para ir à escola e portas que se fecham na cara. Ainda assim, ouve-se que “isto vai passar”
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Texto Estevão Chavisso • Fotografia Luísa Nhantumbo & D.R., * Serviço especial da agência Lusa para a E&M
arlota mondlane, 59 anos, passou os últimos dois anos a vender limão porta a porta nos subúrbios de Maputo para fugir da fome. Mas desde que o novo coronavírus chegou, há sete meses, falta-lhe dinheiro para pôr comida na mesa, porque os clientes não querem mais receber visitas de “estranhos”. “As pessoas pararam de abrir-me as portas. Eu batia e ninguém atendia. Têm medo da doença”, lamenta a comerciante informal, enquanto reorganiza os seus produtos na sua pequena banca improvisada no meio da Praça da Juventude, nos subúrbios de Maputo. Com as portas a fecharem-se na sua
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cara, hoje, Carlota Mondlane preferiu sentar-se num ponto específico e adicionou à sua pequena banca limão, tomate, repolho e cebola, tudo na ambição de conseguir sustento para os filhos e o seu marido, antigo militar desempregado. Mas nada corre bem. “Desde que a vida mudou, com a entrada da doença, não consigo fazer nada. Tenho sete filhos e eles têm de ter alguma coisa para comer. Este negócio é a única forma que eu tenho para garantir comida na mesa e agora não está a dar nada”, conta a comerciante. Os desafios que Carlota Mondlane enfrenta não são uma novidade nos subúrbios de Maputo, onde mais do que
em meras abstracções numéricas o impacto da crise provocada pelo novo coronavírus reflecte-se na falta de comida no prato para as famílias mais vulneráveis. Com parte considerável das pessoas a viverem na miséria ou no seu limiar, o recurso ao comércio informal para fugir da pobreza é comum em mercados da periferia de Maputo. Mas mesmo assim a “vida não está fácil” na capital moçambicana. “Nós estamos sem o que comer”, reclama Mónica Macuácua, outra comerciante ambulante que há 10 anos “foge” da polícia municipal, no interior do mercado Grossista do Zimpeto, com os seus sacos de feijão e amendoim à cabeça. “Esta situação está muito difícil. www.economiaemercado.co.mz | Novembro 2020
covid-19 sempre batatas e cebolas frescas, ressentiram-se do impacto das restrições provocadas pelo novo coronavírus, tendo em conta que o mercado interno não consegue alimentar um dos principais pontos de abastecimento da capital moçambicana. Num momento em que as previsões de crescimento para este ano foram revistas de 2,2% para 0,8%, a reabertura total das fronteiras com África do Sul é apontada pela Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), maior organização patronal, como fundamental para a retoma da economia pós-covid-19 no País, mas até agora tudo é uma incógnita, com a situação da pandemia na maior economia regional a oscilar. “Nós somos dependentes da África do Sul na importação de produtos. Quando há restrições na entrada daqueles, as nossas bancas ficam vazias ou somos obrigados a aumentar os preços e isso afugenta os clientes”, alerta Mónica Macuácua. Ao lado de Mónica, Lígia Amade, 42 anos, também luta para ganhar a vida vendendo “palha de aço”, entre o medo de contrair o novo coronavírus ou perder os seus produtos para a polícia municipal. “Deste negócio de venda de palha de aço consegui erguer um pequeno salão de beleza em casa, mas a pandemia chegou e nem consegui terminar a obra. Agora, nesta condição, nem consigo colocar comida na mesa. Pior é
lando, 38 anos, tem na sua pequena banca várias roupas usadas que esperam por clientes que nunca chegam. “Antes do coronavírus, eu conseguia vender 50 pares de meias usadas por dia. Era suficiente para garantir sustento em casa. Hoje, fico dois dias sem clientes. Por outro lado, no local onde nós compramos as roupas para revender aqui, os preços dispararam”, lamentou. Tal como Zaida José, Horácio tinha os olhos na sua formação, mas com o impacto do covid-19 nas contas, teme pelo seu futuro devido à falta de dinheiro para custear os estudos, além do facto de a sua escola estar ainda encerrada. No âmbito das medidas que o Governo tem vindo a tomar face à conjuntura imposta pela prevenção e combate à pandemia de covid-19, os alunos do 7.º, 10.º e do 12.º anos já retomaram as aulas, enquanto os das classes sem exame beneficiaram de passagens automáticas para o nível seguinte. A escola de Horácio ainda não reuniu condições para o reinício das aulas, mas essa preocupação é menor. O mais importante para ele agora é garantir que haja dinheiro para sustentar a família e as despesas da escola. “Eu estou a estudar porque quero aprender uma nova profissão. Mas a minha escola depende deste negócio e as coisas não estão boas. A minha sorte é que a minha escola ainda não abriu as portas porque ainda não reuniu as
“Não consigo fazer nada. Tenho sete filhos e eles têm de ter alguma coisa para comer. Este negócio é a única forma que tenho para garantir comida e agora não está a dar nada” Primeiro, nós não somos queridos aqui dentro. Nós somos retalhistas e a polícia municipal aqui apenas quer os vendedores a grosso. Na procura pelo pão para as nossas famílias, temos de fugir da polícia para ganhar o pão de cada dia, estamos sempre a ser corridos”, declarou Mónica Macuácua. Os três filhos de Mónica Macuácua dependiam todos deste “pequeno negócio arriscado e ingrato”, mas nos últimos meses a “situação ficou muito mais complicada”, principalmente com as restrições na fronteira com a África do Sul. Um mundo mais fechado As bancas do mercado grossista do Zimpeto, famosas por terem quase www.economiaemercado.co.mz | Novembro 2020
o medo de apanhar a doença no meio desta multidão”, afirma Lígia Amade. Escola é um sonho adiado As contas estão apertadas para Zaida José, 24 anos, com uma pequena banca de verduras no esquecido Mercado Dálo, no interior do Bairro de Laulane, nos subúrbios de Maputo. Teve até de atrasar o sonho de voltar à escola porque não há dinheiro para custear os estudos. “Eu estou a juntar dinheiro para voltar à escola, mas está difícil com a pandemia. Terei de esperar mais um pouco e infelizmente perder mais um ano sem tentar realizar o meu sonho, que é de ser médica”, declarou. Não muito longe de Zaida, Horácio Or-
condições exigidas”, declarou o jovem comerciante. Enquanto os “sonhos esperam” e as portas se fecham-se devido ao impacto económico da doença, as projecções do Ministério da Saúde mostram uma “relativa estabilização” no mês de Outubro em Moçambique, segundo a mais recente análise epidemiológica publicada pelo Instituto Nacional de Saúde (INS). “Sei que isto vai passar” Desde o anúncio do primeiro caso, a 22 de Março, Moçambique viveu por duas vezes o Estado de Emergência, com prorrogações, até à declaração de situação de calamidade pública, nunca tendo chegado a um
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Distanciamento social é missão impossível Na azáfama do Mercado Grossista do Zimpeto, apesar de quase todos terem máscaras, o distanciamento social é uma ilusão e na luta pelo cliente vale tudo. Há tímidas iniciativas de prevenção, que incluem a lavagem obrigatória das mãos para quem entra no mercado, mas a proximidade entre as comerciantes contraria as recomendações relativas à prevenção da doença, assim como a falta de cuidado com o dinheiro que circula de mão em mão. Sob um olhar visivelmente desinteressado das dezenas de pessoas que entram e saem do mercado, Aida Nhampossa, 28 anos, promove aos berros pequenos gelos num balde no meio de outras dezenas de comerciantes que deambulam pelo mercado. “Não há distanciamento aqui, nós até temos medo da doença do Coronavírus, mas esta é a única forma que tempos de ganhar o nosso pão. Temos de estar aqui todos os dias, não há outra maneira” desabafou a vendedeira.
Pouco se sabe sobre o real impacto do alívio das medidas de restrição, tendo em conta que a maior parte do povo sempre viveu na miséria e a situação agora tende a agravar-se “lockdown”. Mantêm-se, no geral, as medidas de prevenção que o País adoptou desde Março, com destaque para o uso obrigatório de máscaras e a proibição de aglomerações, a par de um alívio de restrições, com realce para o regresso dos alunos das classes com exame e o fim da quarentena para quem chega ao País com um teste negativo para o covid-19. Por um lado, as medidas foram aplaudidas pela Confederação das Associações Económicas de Moçambique, que considerava que a medida de quarentena obrigatória especificamente constituía um “empecilho à retoma adequada da actividade económica”. Por outro lado, o Fórum de Monitoria do Orçamento (FMO), uma coligação da sociedade civil moçambicana, considerou “precipitado” o alívio das medidas impostas face ao Covid-19, apontando
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para uma alegada impreparação do Sistema Nacional de Saúde, nomeadamente das escolas. Na rua, pouco se sabe sobre o real impacto do alívio das medidas de restrição, tendo em conta que a maior parte do povo sempre viveu na miséria e a situação agora tende a agravar-se. O exemplo claro da situação é Florentina Jaime Langa, que do cantinho humilde da sua banca de verduras no Mercado do Dálo, no interior do bairro de Laulane, pouco sabe sobre as medidas adoptadas pelo Executivo moçambicano, mas sente fome. “Eu ajudei a fundar este mercado. Fui uma das primeiras vendedoras aqui e nós, a partir deste negócio, educamos os nossos filhos e compramos casas. Mas nunca vimos nada igual ao que hoje está a acontecer. O negócio parou e ninguém está a comprar nada”, afirma.
Como tantas outras mulheres moçambicanas, embora acossada pela pobreza de décadas, Florentina Jaime Langa, 60 anos, não perde a esperança. “Sei que isto vai passar, é apenas um período mau. Eu vivi muitas coisas e sei o que é a miséria. Sobrevivi à guerra dos 16 anos e à crise da década de 1980. Continuo aqui. Não vai ser uma doença que vai derrubar a minha esperança”, afirma a comerciante, enquanto reorganiza as verduras na sua humilde banca em Laulane. A pandemia de covid-19 foi declarada há sete meses e Moçambique caminha agora para a casa dos 100 mortos, entre um total acumulado de mais de 13 mil casos, 82% dos quais já recuperados. As projecções do Ministério da Saúde mostram uma “relativa estabilização” no mês de Outubro em Moçambique, segundo a mais recente análise epidemiológica publicada pelo Instituto Nacional de Saúde (INS). A epidemia está concentrada na zona da capital, Maputo, referem os dados. Facto preocupante é o relato de mortes todos os dias, embora longe dos números divulgados pelo mundo fora. www.economiaemercado.co.mz | Novembro 2020
OPINIÃO
A digitalização como alavanca de sustentabilidade na indústria de Oil & Gas Bruno Dias • EY Partner, Business Consulting & Iara Silva • EY Manager, Business Consulting
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e o delorean do filme “regresso ao futuro” nos fizesse voltar a Novembro de 2019, e uma previsão para 2020 apontasse para preços de petróleo negativos, soaria a uma piada ou a um outro filme de ficção científica. O facto é que a recente pandemia trouxe este elemento num prato cheio de realidade e este abalo mundial levou a que se registasse a menor média dos preços do barril de petróleo dos últimos 18 anos - WTI $ 36,98 negativos a 20 de Abril de 2020. A este facto juntamos o encerramento de fronteiras, a restrição da circulação de pessoas e uma redução drástica de níveis de produção e consumo de energia. Um “Annus Horribilis” para a Indústria – continuando a haver incertezas significativas sobre quando os efeitos da pandemia terão o seu desfecho e com que rapidez a actividade económica e a procura de energia se recuperarão. Neste período, a sobrevivência corporativa tem sido a maior prioridade, com foco na melhoria da liquidez e na redução de custos. As empresas têm utilizado medidas tradicionais de sustentabilidade como as reestruturações de capital, a renegociação da dívida e a revisão dos portefólios de activos. Mas, complementarmente, a digitalização de processos tem ocupado um lugar de destaque na nova realidade imposta pela pandemia, quer a nível de melhoria da eficiência operacional, quer ao nível da interacção entre colaboradores e entre os vários elementos da cadeia de valor. As soluções digitais eliminam ineficiências, removendo custos desnecessários ou o tempo necessário para comunicar informações em toda a organização, o que é especialmente importante em processos complexos, como o pla-
neamento corporativo, a programação da manutenção, a integração logística e o trading. Complementarmente, temos visto as barreiras da distância e da presença física ser eliminadas. O dogma do 9-5 no escritório terminou, e todos, de forma rápida e até surpreendente, nos habituámos a reunir e partilhar informação em ambiente virtual. É encorajador pensar que estamos perante um sector que sempre esteve na dianteira da adopção de soluções digitais para optimizar as suas operações. São exemplo disso soluções digitais para monitorização remota das operações e a utilização de aplicações mobile para tomada de decisões operacionais. Existem também vários exemplos bem sucedidos de automatização de processos utilizando tecnologias de Robotic Process Automation (RPA), inteligência artificial e Internet of Things (IoT). A situação actual é um catalisador que acelera o processo de adopção de soluções digitais e estamos certos de que serão uma realidade nos investimentos previstos em Moçambique. A viragem para o digital exige uma capacitação intencional e coerente da força de trabalho. Será necessário embeber o digital nos planos de desenvolvimento do conteúdo local em Moçambique e apostar nas competências digitais da camada jovem. Não nos enganemos: as empresas que ignoram esta alavanca digital em favor das soluções de sustentabilidade mais tradicionais podem muito bem surgir na economia pós-pandémica em desvantagem substancial para concorrentes mais ágeis.
A situação actual é um catalisador que acelera o processo de adopção de soluções digitais e estamos certos de que serão uma realidade nos investimentos previstos em Moçambique
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Números em conta Em que valores, de facto, acreditamos? os nossos valores básicos podem revelar ideais, interesses, preferências políticas, opiniões ambientais, e mesmo escolhas de carreira. Com dados que abrangem meio milhão de inquéritos em 152 línguas, a Valuegraphics identificou 56 valores que influenciam o comportamento humano. Embora não seja surpreendente que a família surja como o valor mais importante a nível mundial, é interessante notar que uma série de outros va-
lores de “conectividade” — tais como relações e comunidade surjam entre os mais destacados, assim como os valores de lealdade, religião/espiritualidade. E se respeito e compaixão também têm pontuações elevadas, por outro lado, riqueza e dinheiro estão quase no fim da lista, o que não deixa de surpreender. De acordo com a Valuegraphics, aqui estão alguns dos principais valores que mais valorizamos nas nossas culturas.
Família
Comunidade
Central / South North Middle America America East Média mundial África Resultados apurandos utilizando 401 métricas e 370 perguntas sobre como é que todos os 56 valores Fonte Valuegraphics
Europe
China
Rest Pacific/ of Asia Oceania
Como este valor é relevado em comparação com outros 5 das 9 regiões assumem ser o valor mais importante
Central / South North Middle America East Média mundial África America
China
Rest Pacific/ of Asia Oceania
Europe
China
Rest Pacific/ of Asia Oceania
China
Rest Pacific/ of Asia Oceania
China
Rest Pacific/ of Asia Oceania
Como este valor é relevado em comparação com outros 5 das 9 regiões assumem ser o valor mais importante
Liberdade de Expressão
Lealdade Média mundial
Europe
Central / South North Middle África America America East
Europe
China
Central / South North Middle África America America East
Rest Pacific/ of Asia Oceania Média mundial
Na Ásia e Pacífico, a Lealdade teve a pontuação mais elevada, seguida da segurança financeira
Na Ásia e Pacífico, a Lealdade Na Ásia e Pacífico, a Lealdade teve a teve a pontuação mais elevada, pontuação mais elevada, seguida da seguida da segurança financeira segurança financeira
Respeito
Educação
Central / South North Middle África America America East
Europe
China
Central / South North Middle África America America East
Rest Pacific/ of Asia Oceania
Média mundial
Média mundial
Na América do Norte a Educação tem um ranking bastante mais baixo do que a média mundial
Tem a sua pontuação mais elevada em África e na América Central e do Sul
Autoridade
Responsabilidade
Central / South North Middle África America America East
Europe
China
Central / South North Middle África America America East
Rest Pacific/ of Asia Oceania
Média mundial
Europe
Média mundial A China fica pouco atrás da América do Norte e do Médio Oriente.
A China tem um ranking de importância sobre este valor quase no máximo.
Independência
Religião Central / South North Middle África America America East
Europe
China
Central / South North Middle África America America East
Rest Pacific/ of Asia Oceania
Média mundial
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China
Rest Pacific/ of Asia Oceania
Média mundial Relativamente a outras regiões a Europa tem o pior ranking na Tradição e na Religião/Espiritualidade
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Europe
África, China e Ocânia têm pouca consideração por este valor.
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OPINIÃO
OS DESAFIOS DO MERCADO DE CAPITAIS EM MOÇAMBIQUE
o
Capranzine Hunguana • Head of Treasury Execution Services do Absa Bank Moçambique s primeiros passos com vista à promoção e organização do mercado de capitais em Moçambique foram dados quando o Governo criou, em 1997, a Comissão Instaladora da Bolsa de Valores de Moçambique, com a missão de criar as estruturas institucionais e assegurar a existência de um ordenamento jurídico necessário para a prossecução das actividades bolsistas tanto ao nível de mercado primário como ao nível de mercado secundário. Este passo culminou na aprovação de vários instrumentos legais pelo Governo, com destaque para o Regulamento do Mercado de Valores Mobiliários e a criação da BVM. Destaca-se ainda a aprovação pela Assembleia da República da Lei n.º 15/99 de 1 de Novembro (Lei das Instituições de Crédito), que veio permitir a actividade de participação em emissões e colocações de valores mobiliários e prestação de serviços correlativos aos bancos e às sociedades corretoras e sociedades financeiras de corretagem. A supervisão do mercado de valores mobiliários ficou reservada ao Banco de Moçambique. O quadro legal que abrange o mercado de capitais já sofreu algumas mudanças e espera-se que continue a evoluir. Volvidos mais de 20 anos de existência do mercado bolsista, o volume de capitalização bolsista continua a ser dominado por Obrigações do Tesouro (OT), contrariamente aos mercados mais evoluídos, onde as Acções são responsáveis pela dinâmica do mercado de capitais. A oferta pública de venda (OPV) da CDM, em 2001, foi, de facto, o ínicio do mercado accionista na bolsa, e os títulos da CDM permaneceram as únicas acções na bolsa até à OPV da CMH, em 2008, e hoje temos apenas 11 acções listadas. O volume de capitalização bolsista situa-se actualmente em cerca de USD 1,4 mil milhões de dólares norte-americanos, o correspondente a cerca de 15% do PIB. Porém, o rácio Capitalização Bolsista das Acções Cotadas/PIB, métrica frequentemente usada para comparar a importância do mercado bolsista entre as economias, situa-se em apenas 3,88% contra 54,7% na Zona do Euro e 145,5% na América do Norte. A África do Sul apresenta um rácio de 300,6%, enquanto que o Quénia, as Mauricias e as Seycheles apresentam rácios de 26,2%, 60,8% e
66,9%, respectivamente, segundo dados do Banco Mundial. A breve comparação do nosso mercado bolsista a outros mercados sugere que Moçambique ainda não possui um mercado de capitais com o peso desejável na economia. A ligação entre o sistema financeiro e o crescimento económico já foi objecto de inúmeras pesquisas, e está assente que o desenvolvimento do mercado de capitais está positivamente correlacionado com o crescimento económico. Os mercados de capitais em bom funcionamento garantem que as empresas e os investidores obtêm ou recebem preços justos pelos seus títulos. As empresas podem financiar-se de forma mais barata emitindo acções ao público e os investidores podem aceder a uma alternativa de investimento com um perfil de risco/retorno mais apetecível comparativamente aos depósitos a prazo e outros instrumentos de renda fixa. O Governo tem sido o principal promotor da actividade no mercado de capitais, quer através do endividamento interno por via de OT para financiar o défice orçamental, quer através de OPV’s de empresas detidas pelo Estado. No entanto, as acções do Governo, por sí só, ainda não foram suficientes para catapultar o nosso mercado bolsista para um patamar de importância relevante em relação a vários países do continente. A 4ª edição do Absa Africa Financial Markets Index (Afmi), um índice que é elaborado pelo Absa Group Limited em parceria com o Official Monetary and Financial Institutions Forum (OMFIF), permite-nos fazer uma análise comparativa de vários indicadores para o desenvolvimento do mercado financeiro. O Afmi é o ranking de 23 países de África de acordo com a avaliação de seis pilares. Em 2020, Moçambique desceu dois lugares para a 17ª posição no ranking, tendo obtido uma pontuação de 43 (44 em 2019), a mesma pontuação obtida pela Costa do Marfim que subiu dois lugares. Os editores do Afmi referem que Moçambique assistiu a um crescimento da Bolsa de Valores em 2019/20 e que o ambiente fiscal é favorável às empresas cotadas em Bolsa. Quais são os motivos que concorrem para a pontuação de Moçambique nestes níveis de “meio da tabela”? O gráfico que se segue mostra a pontuação alcançada por Moçambique em cada um dos seis Pilares. A pontuação mais baixa foi no Pilar 4 que avalia a capacidade dos investidores locais. Os países que obtiveram as pontua-
A escassez de produtos disponíveis no mercado de capitais reduz a possibilidade dos potenciais investidores acederem ao mercado e de desinvestirem de forma rápida quando necessário
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Falta de transparência é o problema comum dos mercados bolsistas africanos
ções mais elevadas, a Namíbia, as Maurícias e a África do Sul, destacam-se por possuirem activos detidos por Fundos de Pensões (FP) per capita superiores a US$ 1.000,00, enquanto que países como Moçambique possuem activos detidos por FP per capita inferiores a US$ 100,00. Os FP e outros investidores institucionais podem desempenhar um papel significativo no desenvolvimento do mercado de capitais. Além de se tornarem grandes fontes de capital, o seu horizonte de investimento de longo prazo permite que se afastem de títulos do Governo e depósitos a prazo para investimentos em Acções. Por outro lado, as políticas que fomentam a inclusão financeira e incentivam
Pilar 1 – Profundidade do mercado Pilar 2 – Acesso a moeda estrangeira Pilar 3 – Transparência do mercado, ambiente fiscal e regulamentar Pilar 4 – Capacidade de investidores locais Pilar 5 – Oportunidade macroeconómica Pilar 6 – Legalidade e aplicabilidade dos acordos padrão dos mercados financeiros
a poupança de longo prazo ajudam a fortalecer a capacidade de capital interno disponível para investimento e contribuem para os mais amplos objectivos de desenvolvimento económico. O crescimento das empresas, acompanhado de uma maior abrangência dos planos de previdência social e de seguros, terão o potencial para impulsionar o mercado de capitais. A adopção de um quadro regulamentar que torne vinculativos o Global Master Repurchase Agreement, o ISDA Master Agreement, e outras regras de compensação ou de netting de operações, é essencial para uma subida de Moçambique no Pilar 6 (Legalidade e aplicabilidade dos acordos padrão dos mercados financeiros). O alinhamento com os padrões legais e contratuais reconhecidos internacionalmente ao nível dos merdados de capitais ajudam a mitigar riscos e aumentam a www.economiaemercado.co.mz | Novembro 2020
confiança dos investidores. Ademais, as empresas devem aderir às Normas Internacionais de Relato Financeiro (NIRF’s) e esforçar-se para divulgar, com maior regularidade, os resultados das suas actividades, contribuindo assim para uma maior transparência. A problemática da transparência afecta quase todos os países africanos e apenas a África do Sul, a Nigéria e as Maurícias é que têm mais de dez empresas com notação corporativa da Fitch, Moody’s ou Standard & Poors. O factor transparência faz parte do Pilar 3 (Transparência do mercado, ambiente fiscal e regulamentar) e é onde as nossas empresas podem obter ganhos significativos no mercado financeiro. A escassez de produtos disponíveis no mercado reduz a possibilidade dos potenciais investidores acederem ao mercado e de desinvestirem de forma rápida quando necessário. A situação do acesso a moeda estrangeira em Moçambique complicou-se com o aumento do risco soberano devido ao escândalo das dívidas e agravou-se mais recentemente com a queda do preço do carvão. A pandemia da Covid-19 acelerou a queda dos preços do petróleo e gás, resultando no adiamento da decisão final de investimento para a Área 4 da Bacia do Rovuma, colocando em espera o investimento estimado em US$ 30 mil milhões e as receitas de exportação do gás natural (GNL). O risco do País, a avaliar pelo junk status atribuído pelas principais agências de notação, dificulta a capacidade do mercado bolsista moçambicano em atrair investidores estrangeiros. Moçambique poderá subir a pontuação nos Pilares 1 e 2, através de políticas e acções que promovam a facilidade de acesso ao mercado accionista, o recambiamento de capital e dividendos para o exterior e o rating do País. A pandemia provocou a contracção da maioria das economias do globo nos primeiros nove meses de 2020. O vigor com que cada economia irá sair da recessão vai depender de vários factores sendo que as que são menos dependentes das exportações de commodities ou do turismo global poderão recuperar mais rápido. No Pilar 5, Moçambique vai melhorar a sua pontuação com o ínicio da exploração do GNL nos próximos anos, mas há espaço para melhorar a sua posição na gestão da dívida pública, padrão e qualidade dos dados de estatística macro-económica, e na diversificação dos produtos de exportação. O Afmi apresenta-nos os factores que determinam o posicionamento dos 23 países no ranking, e no caso de Moçambique pode-se concluir que o crescimento e a maior transparência na gestão das empresas nacionais acompanhadas por uma maior abrangência dos planos de previdência social e de seguros... poderão impulsionar o desenvolvimento do mercado de capitais em Moçambique a médio e longo prazo.
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Nação
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Mercado de capitais
não é um mito, é um mercado de capitais. E é nosso A Bolsa de Valores de Moçambique já conta com 11 acções e várias emissões de empresas para negociar, apesar de ainda ser dominada pelas Obrigações do Tesouro. Há muito a fazer para que empresas e famílias vejam no mercado de capitais uma boa alternativa de financiamento e poupança. Mas já há opções: não é um mito. É realidade!
q
Texto Ricardo David Lopes • Fotografia D.R.
uando a 2 de Agosto de 2019, a Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) se tornou na nova cotada da Bolsa de Valores de Moçambique (BVM), não faltou quem visse no sucesso da operação o fôlego que faltava para o nascimento, no País, de um mercado de capitais ‘democrático’, ao alcance de todos. Grandes e pequenos. Havia motivos para esse optmismo. A operação, que dispersou em bolsa apenas 2,5% do capital da eléctrica, captou cerca de 19 mil ofertas de mais de 16 mil investidores, sobretudo individuais, de 92% dos distritos do País. O recurso às tecnologias deu um impulso decisivo na ‘democratização’ no acesso à bolsa, com os canais remotos (USSD e APP) representando mais de um terço das ordens de compra recebidas, que no total superaram em 2,2 vezes a oferta de acções disponíveis. A operação, coordenada pelo Banco BIG e pelo Banco Comercial e de Investimentos (BCI), ambos ‘repetentes’ na montagem de operações no mercado de capitais nacional, colocou Moçambique no radar dos investidores internacionais, e deu dinheiro a ganhar a muitos – ou pelo menos alguns - investidores. Sobretudo, os que venderam em alta (ver gráficos nestas páginas): a acção entrou em bolsa a 3 meticais, e no início de Novembro valia mais do dobro (6,56 meticais). De então para cá, já com a pandemia da Covid-19 a causar danos, tem vindo a perder valor, até ter batido no ‘fundo’, em Julho deste ano, em 1,88 meticais. O mercado de capitais de Moçambique, como o de quase todos os países da região (ver tabela sobre bolsas em África), não está imune. O papel da eléctrica recuperou entretanto para 2 meticais, ou seja, quem comprou e não vendeu em alta, está agora a perder dinheiro – ainda que o potencial de recuperação exista. O balanço, ainda assim, é positivo, garante o Chief Financial Officer (CFO) do Banco BIG, Pedro Noronha, para quem esta foi “provavelmente a mais emblemática transacção de sempre” da BVM. “Esta operação foi particularmente desa-
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fiante, na medida em que existiam objectivos específicos de inclusão financeira, que levaram ao desenvolvimento de métodos alternativos de comunicação e distribuição de acções, num mercado em que a literacia financeira e o nível de bancarização, especialmente em zonas não urbanas, são ainda muito baixos”, lembra o gestor. O CFO do BIG destaca que uma Operação Pública de Venda (OPV) como esta é “um processo complexo e que exige tempo de preparação e aconselhamento profissional, particularmente quando o público-alvo são investidores de retalho”. Mas a prática “demonstrou também que é possível em Moçambique implementar operações de mercado com reconhecimento internacional, quando estes processos são estruturados adequadamente, conduzidos de forma transparente e com a participação e alinhamento de interesses de todos os participantes”. Fonte oficial do BCI assina por baixo e também sublinha o “desafio adicional de promover o alcance e a inclusão desta OPV junto do maior número de moçambicanos possível, independentemente da sua localização geográfica, estrato social ou nível de bancarização”. “Outra forma de balanço são as externalidades positivas geradas com este IPO, e o que verificamos é uma movimentação de empresas que procuram o mercado de capitais como alternativa de financiamento e a própria BVM, que reconhecendo essa tendência abriu o terceiro mercado”, uma espécie de antecâmara, ou incubadora, de empresas com intenções – mas ainda sem condições – de se financiarem via mercado de capitais em detrimento das fontes tradicionais – a banca. Ano dourado Também em Agosto de 2019, o ano em que a BVM cumpriu 20 anos de existência, uma nova operação veio criar ainda mais ânimo aos responsáveis da BVM: a Cervejas de Moçambique (CDM), a mais antiga cotada moçambicana (desde 2001), lançou
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Capitalização bolsista em alta... Em Moçambique, a capitalização bolsista subiu, de Janeiro a Dezembro de 2019, graças a novas admissões à cotação. Capitalização (mil milhões meticais)
115,4 113,1 112,9
102,4 98,8
89,2
102,1
96
94,5
92,8 85,5
85,3
Variação 2019= 21,2%
Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
... com mais transacções... Este ano, o volume de transacções tem subido de forma significativa em valor Capitalização (mil milhões meticais)
107.7
1.9
107.8
I Trimestre
3.9
II Trimestre
Capitalização
103.1
5.3
III Trimestre
Volume de trasacções
... mas com menos peso das Acções Na nossa bolsa, as acções têm um peso ainda não dominante na capitalização: as Obrigações do Tesouro (OT) pesam quase dois terços do total Peso (%)
4.4
9.3
Obrigações corporativas
HCB
2.1
21.2
CDM
CEIA
TOTAL
100
1.3
CMH
0.7
MATAMA
0.3
Zero Invest.
0.1 60.6
Obrigações de Tesouro
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EMOSE
o seu segundo aumento de capital, pela emissão de novas acções colocadas junto de accionistas, captando, naquela que foi a maior operação de financiamento via bolsa, quase oito mil milhões de meticais, mais de 125 milhões USD. Se a isto juntarmos a entrada em bolsa, também no ano passado, da empresa do sector segurador Arcos, e a emissão de dívida por parte de companhias como a Bayport ou a Sociedade de Medicamentos de Moçambique (SMM), temos que o “2019 foi um ano especial para a BVM”, como assume a própria instituição no seu relatório de actividades. E este ano não começou mal, com a admissão à cotação, já em Março, da Rede Viária de Moçambique (REVIMO). A Covid não tem ajudado, num mercado onde ainda há pouca liquidez, com dois dos três pesos-pesados das cotadas (11 no total), que valem quase um terço da capitalização da BVM, a sofrerem perdas: salva-se a Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos (CMH), com ganhos de 13,6% desde Janeiro, e próximos dos 130% no último ano (ver gráficos nestas páginas). Mas não é a Covid que está ou tem travado o mercado de capitais de Moçambique. Há um desafio maior a superar para que famílias e empresas olhem para este segmento como alternativa, quer de poupança, quer de financiamento, face às contas a prazo ou aos créditos da banca. “A literacia financeira constitui um alicerce fundamental para a tomada de decisões adequadas de carácter econówww.economiaemercado.co.mz | Novembro 2020
Mercado de capitais
A operação (0PV),coordenada pelo Banco BIG e pelo BCI, colocou Moçambique no radar dos investidores nacionais e internacionais mico-financeiro pelos agentes económicos”, refere o PCA da Bolsa, Salim Cripton Valá, no relatório de desempenho de 2019. E destaca que, no ano passado, se reforçou a aposta na promoção da literacia financeira sobre bolsa de valores e mercado de capitais junto de “agentes económicos, empresários e investidores”, como factor determinante “para assegurar o bem-estar financeiro dos moçambicanos e o uso concreto de um mecanismo de poupança e uma alternativa de financiamento”. Bruno Dias, partner da EY Moçambique, junta à débil literacia financeira o facto de haver “falta de bons candidatos a IPO com contas sólidas e bons mecanismos de gestão e controlo” como mais um entrave ao mercado de capitais nacional. “Há falta de cultura de mercado e grande iliteracia financeira dos investidores (particulares)” e o que se verifica é que o “o sistema bancário acaba por estar bastante mais preparado para responder às necessidades das empresas (financiadores) e investidores (aplicações)”, ainda que saia mais caro: os juros dos créditos são a dois dígitos, as remunerações dos depósitos são residuais, não chegando, muitas vezes, a 1%. www.economiaemercado.co.mz | Novembro 2020
Mas a operação da HCB terá contribuído em grande medida para promover a literacia, de acordo com o administrador-executivo da HCB para o pelouro financeiro, Manuel Gameiro, que destaca o alcance dos resultados da OPV através do seu carácter inclusivo: “A HCB desenvolveu uma estratégia de publicitação da operação bastante inclusiva, abrangendo praticamente a totalidade dos meios de comunicação disponíveis no País, incluindo as rádios comunitárias, nas várias línguas, incluindo línguas locais. Não ficou por aqui, pois também o fez para moçambicanos estrangeiros; a HCB, ciente da ainda reduzida cobertura da rede de balcões bancários a nível nacional, desenvolveu plataformas não convencionais para este tipo de operação, com recurso aos dispositivos electrónicos, incluindo o recurso à plataforma USSD, pois esta pode ser utilizada a partir de um celular básico sem acesso à internet e mesmo sem crédito, justamente para abranger o máximo possível da população moçambicana, respeitando a sua heterogeneidade; fez um périplo por todas as capitais provinciais, realizando seminários com os vários estratos da sociedade, nos quais a interação permitia explicar tudo sobre a operação e esclarecer eventuais dúvidas”, explicou. Harmonização da fiscalidade Pedro Noronha acrescenta mais desafios para que o mercado de capitais amadureça: “Em termos de fiscalidade, ainda há
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Como se comportam as ‘estrelas’ da BVM A CDM - Cervejas de Moçambique, a pioneira, em bolsa, desde 27 de Dezembro de 2001, a CMH - Companhia Moçambicanade Hidrocarbonetos, cotada desde 28 de Abril de 2009, e a HCB - Hidroeléctrica de Cahora bassa, no IBVM desde 12 de Agosto de 2019, pesam 31,8% na capitalização da bolsa e são os ‘pesos pesados’ das acções.
A CDM é o peso pesado da Bolsa de Moçambique, no segmento de acções, e quem comprou no início - e mantém as acções - tem um potencial de mais do que quintuplicar o valor investido. Mas o último ano foi ‘negro’. E este ano também não está a valorizar. entrada em bolsa Valor inicial (MZN) valor actual Variação Var. desde início do ano Var. último ano (1) Mínimo (3) Máximo (4) Último dividendo - Jul/2019 (MZN)
12/27/2001 15 79 (16/10/2020) 426.6% -28.18% -72.76% 6.8 250 3.49
A HCB não se revelou um bom investimento até agora, com as acções a valerem menos do que aquilo que valiam no início. O último ano foi também impróprio opara cardíacos. E este ano não está a correr muito bem também Entrada em bolsa Valor inicial (MZN) Valor actual (1) Variação Var. desde início do ano Var. último ano (2) Mínimo (3) Máximo (4) Último dividendo - Jul/2020 (MZN)
08/02/2019 3 2 -33% -51.8% -85.5% 1.88 6.56 0.064
um caminho a percorrer de modo a tornar mais apelativo o acesso ao mercado de capitais, através da harmonização da fiscalidade entre os diferentes instrumentos financeiros, ou da redução dos custos de emissão de dívida”. Para dinamizar o mercado, acrescenta o CFO do Banco BIG, “não basta apenas tentar atrair empresas e investidores, mas também criar condições e incentivos adequados para que estes percebam as vantagens comparativas em aderir”. Mais transparência O que sucede, acrescenta Bruno Dias, é que “quando as empresas precisam de optar por aceder a financiamento exploram private placements junto de institucionais ou inclusive consideram-se investidores internacionais no mercado de dívida e/ou abrindo o capital societário a parceiros e investidores”. Ou seja, conclui, é preciso “criar uma cultura de negócios mais robusta, alicerçada em agentes mais informados e onde exista mais transparência e disclosure de informação financeira”. “As empresas listadas e os agentes financeiros têm, também, um papel ainda muito relevante no próprio desenvolvimento do mercado, nomeadamente na promoção de research sobre os emitentes e o mercado, na prestação de informação ao mercado e ao público em geral. Isso promove o aumento de liquidez da bolsa e maiores volumes de transacção”, acrescenta a fonte oficial do BCI, que vê nas Pequenas e
O mercado de acções que temos: as datas de admissão
12/27/2001
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04/02/2009
06/19/2012
10/17/2013
04/24/2017
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mercado de capitais
As acções da CMH são as campeãs na valorização desde a dispersão em bolsa. Quem tenha investido nos últimos ano está a mais do que duplicar o que ganhou. Este ano está a valorizar, em contraciclo com as concorrentes Entrada em bolsa Valor inicial (MZN) Valor actual (1) Variação Var. desde início do ano Var. último ano (2) Mínimo (3) Máximo (4) Último dividendo - Abr/2020 (MZN)
04/28/2009 275 2500 809.1% 13.6% 127.3% 270 3125 45.36
Médias Empresas (PME) potencial de mercado – é aliás uma das apostas do Plano Estratégico 2017-2021 da BVM. “As PME começam a demonstrar interesse no mercado de capitais, quer como complemento/alternativa ao financiamento bancário tradicional (obrigações, papel comercial), quer na procura de novos investidores, com a abertura do capital ao público”, destaca. No entanto, acrescenta, “ainda são poucas as que reúnem os requisitos e condições necessárias para este tipo de operações, e que estão de facto dispostas a percorrer este caminho”. Pedro Noronha recorda que “o mercado accionista encontra-se ainda numa fase de crescimento e, apesar do progresso alcançado, ainda não é um mercado com um nível de profissionalização e liquidez que caracterizam os mercados bolsistas internacionais”. O gestor garante que, para além da afinação que as autoridades devem fazer em domínios diversos, incluindo os que estão associados a custos quer para empresas, quer para investidores no mercado de capitais, “apenas com experiência e a realização de operações se poderá conseguir criar track-record
e gerar confiança”. Só assim as empresas olharão para o mercado. “O financiamento bancário continua a ser a alternativa mais simples e mais rápida. Não obstante os bancos também serem bastante exigentes na análise e avaliação dos pedidos de financiamento, os processos associados à concessão de financiamento bancário estão mais optimizados e são a alternativa mais célere para uma empresa se financiar”. “O recurso ao mercado de capitais para emissões de obrigações ou papel comercial ainda é visto como um processo com complexidade acrescida. E existe nas empresas uma preocupação com a divulgação pública das suas actividades e da sua saúde financeira. E essa é uma condição necessária à colocação de emissões no mercado. Enquanto esse estigma não for ultrapassado, a opção das empresas dificilmente passará pelo mercado de capitais”, acrescenta fonte oficial do BCI. Apesar dos problemas, destaca Pedro Noronha, “o mercado de capitais moçambicano já oferece diversos produtos de investimento e poupança de diversas classes de risco e rentabilidade, e a bolsa de valores deverá ser encarada como um instrumento fundamental de poupança para as famílias”. Mas, para tal, conclui o CFO do banco BIG, “é importante quebrar o mito de que o mercado de capitais é algo inacessível e está apenas ao alcance das grandes empresas e dos grandes investidores”.
08/18/2017
08/02/2019
“Há falta de cultura de mercado e grande iliteracia financeira dos investidores particulares, mais do que no sistema bancário”
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www.economiaemercado.co.mz | Novembro 2020
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Nação
“Os próximos 5 anos serão vitais para a expansão do mercado bolsista” Salim Cripton Valá, PCA da BVM, antevê um mercado mais expressivo num futuro breve. A OPV da HCB e a OPS da CDM, em 2019, foram instrumentais para cristalizar a importância da Bolsa Texto Celso Chambisso • Fotografia Mariano Silva:
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m jeito de notas gerais, Salim Valá declara que não está satisfeito com os principais indicadores bolsistas actuais, visto que o estágio de desenvolvimento económico do País demanda um mercado de capitais mais forte, vibrante e dinâmico, e isso não irá acontecer se não forem realizadas acções estratégicas inovadoras, ousadas e “fora da caixa”. Se este fosse o momento de fazer uma avaliação da implementação do Plano Estratégico da BVM (20172021), em que ponto diria que estamos, face ao que era esperado? A avaliação do Plano Estratégico da BVM para o período 2017-2021 permite-me referir que a sua implementação está acima de 77,3% do que era previsto, mesmo tendo em conta as vicissitudes, incertezas e riscos da economia internacional e nacional.
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Dentre as actividades já totalmente concluídas gostaria de destacar as seguintes: os títulos de dívida e as acções alargaram a variação máxima da sua cotação para 25% e 20%, respectivamente, o que veio a permitir maior amplitude dos preços, maior volume de negócios, e maior liquidez da negociação; foi criado e potenciado o Gabinete de Controlo Interno e o Gabinete de Apoio às Empresas e aos Investidores, implementada a Matriz de Risco das Actividades da BVM e lançados os Termos de Referência de Consultoria para a obtenção do Certificado de Qualidade 9001:2015; o Programa de Capacitação e Divulgação da BVM beneficiou directamente 86 633 pessoas, entre empresários, investidores, representantes de ordens profissionais, dirigentes e funcionários do Estado, estudantes do ensino secundário e comunidades académicas do ensino superior, jornalistas, e público em geral, incluin-
do a capacitação de 41 colaboradores da BVM; foi criado e disponibilizado ao público o novo website da BVM, tendo o seu conteúdo sido enriquecido e acrescido de novas funcionalidades; foi lançado o Índice da BVM e criado o Terceiro Mercado; foram elaboradas e aprovadas as directrizes institucionais sobre informática, controlo interno, gestão de risco, branqueamento de capitais, recuperação de desastres e continuidade de negócios. Onde houve mais dificuldades? Não há dúvida que a maior dificuldade tem sido a crise económico-financeira internacional, com implicações negativas em Moçambique, que veio a ser agravada com a “turbulência global” em decorrência da pandemia da Covid-19. Como era de esperar, o Investimento Directo Estrangeiro baixou, como resultado do ambiente de negócios ainda constrangedor e da instawww.economiaemercado.co.mz | Novembro 2020
Entrevista Como tem corrido a adesão das PME ao mercado de capitais, sendo que ainda há um caminho de crescimento a percorrer a este respeito? No seguimento da então Visão Estratégica e Operacional da BVM (2017-2019), a BVM realizou um ciclo de visitas corporativas, em quase todas as províncias do País, com enfoque especial nos agentes económicos e potenciais investidores, tendo como um dos propósitos transmitir a mensagem ao empresariado de que o mercado de capitais está preparado e direccionado para todas as empresas. Com efeito, em 2017, foram admitidas à cotação duas novas empresas na Bolsa, sendo uma delas em Agosto desse ano, a ZERO INVESTIMENTOS SA, que foi a primeira a ser cotada no Segundo Mercado de Bolsa, criado em 2009, e vocacionado para as PME. Com a admissão à cotação das acções representativas de 7,5% da HCB, e a listagem, em Novembro de 2019, da ARKO SEGUROS, SA, passaram para dez as empresas cotadas na BVM. No entanto, até hoje, só temos uma PME cotada na Bolsa, mas tem crescido muito o número de empresas dessa dimensão interessadas em beneficiar dos serviços da BVM.
des por quotas e não sociedades anónimas, e para ser cotada em bolsa tem de ter a forma jurídica de sociedade anónima. Perante esses constrangimentos concretos, a BVM e os seus parceiros encontraram uma solução que foi a criação do Terceiro Mercado de bolsa, que é calibrado à realidade empresarial em Moçambique, em que as PME são acima de 95% do total das empresas. Como é que funciona o “Terceiro Mercado”? É um mercado alternativo aos mercados bolsistas já existentes na BVM, ao qual muitas empresas não conseguem ter acesso pela falta dos requisitos necessários para a sua cotação, nomeadamente a dispersão accionista exigida e a auditoria às contas das sociedades. Este novo mercado bolsista permite que as empresas interessadas possam vir para a BVM, mas tendo um prazo de dois anos, para completarem os requisitos em falta num contexto em que a aprovação e a incubação é feita não apenas pela BVM, mas também pela CTA, OCAM, IGEPE, IPEME e ISCAM, que rubricaram um Protocolo especificamente para viabilizar
“Importa também referir que o mercado de capitais e a Bolsa de Valores são ainda pouco conhecidos e usados pelos empresários a operar em Moçambique, o que exige um trabalho contínuo, profundo e criativo” bilidade em certas zonas do centro do País e da Província de Cabo Delgado. A taxa de crescimento económico desacelerou nos últimos anos (desde 2016). A economia doméstica, de uma forma geral, está deprimida, com os empresários a enfrentarem sérios problemas para manter as suas empresas a funcionar normalmente, em particular as PME, e a capacidade de poupança interna que já era reduzida tornou-se ainda mais débil. Importa também referir que o mercado de capitais e a Bolsa de Valores são ainda pouco conhecidos e usados pelos empresários a operar em Moçambique, o que exige um trabalho contínuo, profundo e criativo para cristalizar uma efectiva cultura bolsista no País, que esteja muito menos dependente do sistema bancário como fonte de financiamento e investimento, uma tarefa que exigirá muito tempo. www.economiaemercado.co.mz | Novembro 2020
Que factores condicionam a fraca adesão das PME na bolsa? A reduzida adesão resulta de diversos factores, em particular por razões de oportunidade, culturais, técnicas e financeiras. Apesar destas razões, muitas empresas, reconhecendo as vantagens e os benefícios da BVM, tomaram a decisão de se admitirem à cotação, e deparavam-se com o facto de não cumprirem, no momento da admissão à cotação, com a totalidade dos requisitos para serem admitidos num dos dois mercados bolsistas até então existentes, nomeadamente o Mercado de Cotações Oficiais e o Segundo Mercado. Os requisitos mais difíceis de cumprir, em especial pelas PME, estão relacionados com o valor de capitais próprios inferiores ao exigido, a ausência de contas auditadas e a falta de dispersão das acções pelo público. É necessário sublinhar, também, que muitas empresas moçambicanas são socieda-
o Terceiro Mercado de bolsa. Neste está também já cotada a Rede Viária de Moçambique SA (REVIMO), desde Janeiro de 2020, e logo nas duas primeiras transacções, correspondentes a 30% do seu capital social, as acções valorizaram 27,5% relativamente ao seu valor nominal. Outras duas empresas já submeteram à BVM a documentação relevante para a admissão à cotação, aguardando ainda o posicionamento da BVM e os seus parceiros. Qual é a relação com a banca comercial: concorrencial ou de parceria estratégica? As instituições bancárias são, por excelência, o principal veículo de captação da poupança dos aforradores e o maior concedente de financiamento ao sector empresarial público e privado. Apesar de os produtos do mercado de capitais poderem apresentar níveis de rentabilidade superior aos produtos
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Nação “core business” seria mais independente do banco e muito mais orientado para o mercado de capitais.
O Programa de Capacitação e Divulgação da BVM beneficiou directamente 86 633 pessoas, entre empresários, investidores, representantes de ordens profissionais, dirigentes e funcionários do Estado bancários, com perfis de risco que, naturalmente, também são diferentes, não considero que estes dois mercados sejam concorrentes entre si, mas sim complementares, contribuindo para a diversificação dos mecanismos de investimento. Por outro lado, e apesar de o financiamento no mercado de capitais possuir características específicas que concorrem para um custo de capital mais baixo, há que reconhecer que o tempo de concessão de financiamento no mercado de crédito é inegavelmente mais rápido. Vale reconhecer que, para as próprias instituições bancárias, os produtos do mercado de capitais concorrem igualmente para o alargamento da sua oferta de produtos e serviços. Em Moçambique, do universo de 15 operadores de bolsa que actuam hoje no mercado de capitais, só um deles não é uma instituição bancária, e esta realidade já vem desde o arranque da Bolsa de Valores, em 1999. E, por isso, ao longo dos mais de 20 anos de existência e funcionamento da BVM, as instituições bancárias acabaram por ser a principal força de venda dos produtos do mercado de capitais e da Bolsa de Valores, pelo que a ligação entre a BVM e as instituições bancárias é uma parceria que se irá manter ainda por muito tempo, podendo vir a
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assumir novos formatos e dinamismo, ditados pela realidade económico-financeira que é mutável. A ainda inexistência de corretoras privadas será um obstáculo, imagino... Actualmente, e com uma única excepção, a função de corretores de bolsa (em Moçambique designam-se por Operadores de Bolsa) é desempenhada por instituições bancárias e, por essa razão, a corretagem não é a mais importante das suas actividades, por não ser essa uma das principais fontes de receita das instituições. Tal não significa que a existência de corretoras totalmente independentes das instituições bancárias seja o mais favorável para o nosso mercado bolsista, pois a ausência de “músculo financeiro” faz acrescer o risco de “default”, isto é, de incumprimento das responsabilidades financeiras, podendo ser um factor de instabilidade no sistema financeiro e, em particular, no mercado de capitais. Uma das soluções de curto prazo poderia passar pela autonomização das funções de Operadores de Bolsa que actualmente são desempenhadas por instituições bancárias. Embora essas corretoras pudessem ser totalmente detidas pelos respectivos bancos, o seu
A OPV da HCB trouxe ânimo ao mercado. Como convencer outras grandes empresas a seguirem este exemplo? E algumas delas seriam públicas?. Nós temos uma parceria muito forte com o IGEPE, e dentro dessa plataforma de trabalho existem várias empresas do sector empresarial do Estado que se estão a preparar para, num horizonte de curto e médio prazo, poderem admitir-se à cotação na BVM. Gostaria de enfatizar que não são apenas as empresas do sector empresarial do Estado que devem listar-se em bolsa. Os denominados mega-projectos (projectos de grande dimensão, parcerias público-privadas e concessões empresariais) têm a imposição legal (Lei nº 15/ 2011, de 10 de Agosto) de dispersar entre 5% a 20% do seu capital social, através do mercado bolsista, preferencialmente para cidadãos moçambicanos, após cinco anos do arranque das suas operações. A BVM está preparada. As duas últimas grandes operações (a OPV da HCB e a OPS da CDM) são uma prova irrefutável disso. Como gostaria de terminar esta entrevista? Posso dizer, sem hesitação, que a BVM está a crescer, embora esse crescimento não seja nem linear nem automático, pois ele está ancorado no contexto concreto da economia do País e do seu sistema financeiro. Temos conhecido alguns progressos desde 2016, e os números falam por si. Vejamos: a capitalização bolsista teve um crescimento positivo de 76,6%; o rácio de capitalização bolsista aumentou 14,4%; o número de títulos cotados na BVM subiu 57,5%; as empresas cotadas no mercado accionista subiram 175%; o volume de negociação aumentou 97,0%, enquanto que o nível de financiamento à economia, através da BVM, aumentou 461,5%; o número de títulos e de titulares registados na Central de Valores Mobiliários foi incrementado, respectivamente, em 341,5% e 257,8%. O nosso sonho é fazer da BVM um verdadeiro centro de negócios sustentáveis em Moçambique, um factor galvanizador para a vitalidade económica das empresas e dos investidores do País. www.economiaemercado.co.mz | Novembro 2020
Nação “O apetite em relação às acções da HCB continua muito alto” A hidroeléctrica garante que, apesar da oscilação do valor das acções, bem como dos efeitos da pandemia, a sua performance continua com um comportamento “excepcional”
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Texto Celso CHambisso • Fotografia Jay Garrido ais de um ano após protagonizar a maior operação da história do mercado de capitais do País, a HCB faz uma “actualização da situação em exclusivo à E&M. O administrador-executivo da HCB para o pelouro financeiro, Manuel Gameiro, fala de estabilidade e consecução dos objectivos que se tinham preconizado, não obstante o ambiente adverso vivido no País e no mundo. O que dizer da capitalização da HCB um ano depois da adesão ao mercado de capitais? A capitalização bolsista da HCB tem-se mantido estável e acima dos 3300 milhões de meticais desde a OPV, tendo existido flutuações que são normais de ocorrer em Bolsa. Em Outubro de 2019 as acções da HCB foram transacionadas a 13,75 MT (358% de incremento), o que quase quadruplicou, na altura, a capitalização das acções cotadas. E o preço médio diário das acções da HCB desde a primeira cotação em Agosto de 2019 até este mês é de 4,33 MT, bem acima dos 3,00 MT, não obstante o facto de o preço ter conhecido oscilações nos últimos meses, atingido em certos momentos níveis inferiores a 3,00 MT. O que se passa neste momento no mercado de capitais em Moçambique não difere muito do que acontece pelo mundo, por força da pandemia da Covid-19 e da crise global, que afecta a economia mundial. Temos como exemplo a Bolsa de Valores de Joanesburgo (JSE), que de Setembro para Outubro do corrente ano viu o seu volume de transacções reduzir em 16,98%. As Bolsas de Valo-
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res do Brasil (B3) e de Lisboa (Euronext Lisboa) também não ficam à margem destas oscilações de volume de transacções desde que eclodiu e se alastrou pelo mundo a pandemia da Covid-19. A Bolsa de Valores de Nova York, por exemplo, conheceu nos últimos dias oscilações não só pelas razões anteriores, como também devido às incertezas que o processo eleitoral encerra. Mas mais relevante são os indicadores operacionais e financeiros da HCB mostrarem que a empresa continua robusta e firme, sendo um activo muito interessante para muitos investidores, no seu contributo para o desenvolvimento do mercado de capitais em particular, e de Moçambique em geral. Há indicação de que, no primeiro semestre, o valor das acções da empresa, que tinham sido transaccionadas por 3,00 meticais, caiu para menos de 2,00 meticais. Como é que os accionistas, sobretudo os de retalho (ainda pouco informados sobre operações desta natureza), reagiram a esta queda? Ao analisarmos as estatísticas pode-se constatar que há muita procura pelas acções da HCB. Como referi anteriormente, as acções da HCB desde a concretização da OPV já conheceram oscilações significativas para cima e para baixo, tendo atingido o pico de uma valorização extrema, alcançando os cerca de 358% de valorização e mais recentemente uma tendência decrescente, atingindo em alguns momentos preços abaixo de 3,00 MT por acção. Oscilações em mercados bolsistas são perfeitamente normais de ocorrer, mais a mais em mercados ainda
tão ineficientes como o nosso, tendo em consideração o seu estágio ainda muito embrionário, com uma liquidez bastante ténue, nível extremamente reduzido de literacia financeira, entre outros factores adversos. Se for a analisar, vai constatar que esta evolução mais recente do preço da acção da HCB não tem qualquer correlação com a performance da empresa, pois esta continua com um comportamento excepcional dos seus principais indicadores económico-financeiros, continua a pautar-se por uma gestão rigorosa e alinhada às boas práticas internacionais de governação corporativa. Veja só que na altura em que o preço das acções iniciou a trajectória decrescente, a HCB tinha acabado de divulgar um dos melhores resultados na história da empresa relativo a 2019, contrariando as adversidades decorrentes do efeito dos ciclones Idai e Kenneth que abalaram a economia e a própria infra-estrutura da empresa. Sem o rigor na gestão não teria sido possível alcançar estes resultados. Estes factos denunciam a completa falta de sintonia entre a mais recente evolução do preço das acções da HCB na www.economiaemercado.co.mz | Novembro 2020
HCB para a implementação da segunda fase, até porque se o fizéssemos não estaríamos a cumprir o desígnio de garantir a disponibilização de oportunidade para uma maior inclusão dos moçambicanos nos benefícios directos do Empreendimento de Cahora Bassa. Continuaremos a avaliar as condições do mercado e quando estiverem reunidas iremos comunicar, respeitando sempre os elementos de transparência, inclusão e abrangência.
“A HCB não irá financiar-se apenas com recurso ao mercado de capitais. Irá contar também com as fontes tradicionais de financiamento” bolsa e a performance da empresa, o que quer dizer que este comportamento das acções decorre de factores completamente exógenos à empresa e, portanto, fora do seu controlo directo.
temos sido questionados sobre os 3,5% ainda por colocar ao público, o que demonstra claramente que a quantidade de acções da HCB transaccionadas na BVM está aquém da demanda.
Não será de esperar que os momentos de queda do valor das acções venham a criar, digamos, alguma preocupação nos novos accionistas, no sentido de equacionarem eventuais prejuízos. A HCB chegou a registar algum sinal desta natureza? O que lhe posso dizer, pelo menos do que sei acerca do mercado de capitais, é que o negócio de acções tem a sua própria lógica, segue os seus próprios princípios, tem a sua linguagem, aliás como qualquer esfera da economia e da vida. De qualquer modo, o que nos encoraja é que o apetite em relação às acções da empresa continua muito alto e os dados publicados diariamente pela BVM mostram que actualmente são as acções mais transacionadas. Refira-se ainda que de forma reiterada
Mesmo a propósito da segunda fase da OPV, para quando está prevista e o que se pode avançar, nesta altura, sobre esta última etapa? Nada mudou em relação à decisão de venda da segunda tranche de 3,5% das acções da HCB. Efectivamente, prevê-se realizar a segunda fase. Contudo, a atipicidade do ano em curso, por força da pandemia da Covid-19, fez com que recuássemos na decisão para o momento oportuno. Deve ter reparado que, de Março a esta parte, a maior parte das empresas e instituições foram gerindo os efeitos desta pandemia no quadro das recomendações e protocolos instituídos pelo Governo através do MISAU e se esmerando para minimizarem os impactos na vida do trabalhador. É inequívoco que este não seria o melhor momento
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O que a HCB pode esperar do futuro, decorrente da expansão do seu capital? Será capaz de, por exemplo, poder avançar com o projecto da HCB Central Norte, há muito à procura de financiamentos? Ou nem por isso? Na essência, com a OPV não houve expansão do capital (o valor do capital social continua o mesmo), mas sim a venda ou dispersão de 4% do capital social para cerca de 17 mil accionistas moçambicanos. Mas, no futuro, esta presença em Bolsa poderá contribuir para aumentar o acesso a mais financiamento, pois a maior transparência exigida permite a todos conhecer e confiar na solidez e no crescimento sustentável da HCB. Queria frisar que ainda que esteja cotada em Bolsa, a HCB não irá financiar-se apenas com recurso ao mercado de capitais; irá contar também, e sobretudo, com as fontes tradicionais de financiamento, nomeadamente o crédito bancário, fazendo uso da sua bancabilidade ou track record, para aumentar a sua alavancagem financeira. Em termos de novos projectos energéticos imediatos, a HCB, em parceria com a EDM e um parceiro internacional por identificar, está envolvida no desenvolvimento do projecto Mphanda Nkuwa, que implica a construção da Linha de Transporte Tete- Maputo. Por outro lado, a empresa está a implementar um programa essencial e substancial de renovação e modernização do seu aparelho electroprodutor denominado CAPEX VITAL, que envolverá um investimento estimado em EUR 500 milhões, que deverá incrementar a fidelidade, disponibilidade e viabilidade de manutenção do aparelho electroprodutor. Portanto, podemos esperar uma HCB sempre comprometida com o máximo rigor na gestão, explorando e mantendo com excelência o empreendimento da HCB.
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Nação
Incerteza desestabilizou (ainda mais) as principais bolsas africanas Estudos sobre o mercado africano de acções já vêm destacando a falta de liquidez como a grande barreira ao crescimento. A pandemia veio piorar a situação e os reguladores são chamados a intervir Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R.
a
áfrica do sul é, sem surpresa, o país com a bolsa de valores mais importante de África, a reflectir o facto de se tratar da maior economia do continente. E essa lógica também se reflecte nas restantes 53 economias, ou seja, a dimensão e importância dos mercados bolsistas espelham o nível de actividade económica dos países, o que leva a que, de um modo geral, África tenha um mercado bolsista ainda fraco e que, obviamente, é muito vulnerável aos efeitos do novo Coronavírus. Se for verdade que a Bolsa de Valores de Moçambique (embora relate uma acentuada descida do seu volume de negociação) verifica uma evolução positiva de alguns indicadores bolsistas, o mesmo não se pode dizer do que se passa na maior parte dos mercados de acções do continente africano. Uma pesquisa da E&M sobre o comportamento
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dos índices de 19 bolsas de valores do mercado africano mostram uma tendência de queda na maior parte delas (ver infografia), a reflectir a paralisação da actividade das empresas. Não há ainda muita informação detalhada sobre a dimensão da queda do volume de negócios nos mercados de capitais do continente, mas a Associação Africana das Bolsas de Valores (ASEA), organismo fundado há 24 anos e que congrega aproximadamente 30 bolsas, apresentou uma reflexão, na sua página electrónica, sobre como os mercados estão a ser afectados. De acordo com a ASEA, o impacto mais visível, até agora, tem sido causado pela incerteza criada pela pandemia, que levou a uma corrida dos investidores aos mercados para a negociação de títulos perante a queda acentuada da rentabilidade empresarial. “Os volumes anormalmente altos de transações estão a criar desafios para as
plataformas de negociação. Em relação à governação corporativa, as empresas enfrentam problemas práticos para organizar assembleias gerais de accionistas. O planeamento da continuidade do negócio e a resiliência operacional tornaram-se particularmente relevantes nas circunstâncias actuais, fazendo aumentar o número de clientes que precisam de fazer uso dos serviços das empresas, exactamente no momento em que as suas operações podem ser adversamente afectadas pela pandemia”, constata a ASEA. Outros factores negativos aos mercados de capitais, resultantes da pandemia, têm que ver com o trabalho remoto que, ao se assumir como um ‘novo normal’, “aumenta os riscos de segurança cibernética para todos os participantes do mercado. Além disso, a volatilidade e/ou iliquidez em certas classes de activos, juntamente com altos níveis de resgates, podem tornar www.economiaemercado.co.mz | Novembro 2020
Bolsas africanas
Mercado
Capitalização (Milhões Usd)
Início
Cotadas
Índice (27/10/2020)
Var. Início Do Ano
Var. Último Ano
ftse/jse all share (áfrica do sul)
865254.89
1887
388
54521.7
-4.49%
-1.12%
gaborone domestic index 404348.62 (botsuana)
1995
36
6904.49
-7.87%
-8.27%
bolsa de valores de cabo 69.1174531891892 verde (cabo verde)
1998
4
-
-
-
brvm composite index (costa do marfim)
6775.63
1998
33
123.51
-22.44%
-12.88%
egx 30 (egipto)
19330.01
1883
202
10546.85
-24.46%
-25.92%
ghana stock exchange (gana)
7484.84
1989
42
1837.21
-18.6%
-14.76%
malawi all share index (maláui)
2256.1901240458
1995
14
31329.93
3.56%
3.25%
morocco all share index 58851.96 (marrocos)
1929
81
10456.95
-14.09%
-9.66%
semdex index (mauríciais) 4365.58
1988
170
1476.84
-32.16%
-30.34%
bolsa de valores de moçambique (moçambique)
228.967754975251
1999
11
-
-
-
namibia overall index (namíbia)
97878.59
1992
44
1111.58
-14.91%
-14.91%
nigerian all share index (nigéria)
39010.77
1960
169
28901.96
7.67%
9.69%
nairobi se all share (quénia)
19532.01
1954
65
139.8
-15.99%
-6.98%
rse all share index (ruanda)
3627.430638
2005
8
148.28
9.37%
9.19%
tanzania all share index 10730.91 (tanzânia)
1996
28
1796.03
-12.78%
-7.27%
tunindex (tunísia)
6573.79
1969
86
6643.34
-6.72%
-5.49%
use all share index (uganda)
495.540128664556
1997
18
1321.22
-26.63%
-18.01%
luse all share index (zâmbia)
18336.05
1994
24
3806.88
-10.73%
-12.53%
zse all share index (zimbabué)
23.119975414874
1946
63
1514.93
558.44%
559.24%
O impacto mais visível tem sido causado pela incerteza criada pela pandemia, que levou a uma corrida dos investidores aos mercados para a negociação de títulos perante a queda acentuada da rentabilidade difícil para os gestores de fundos cumprirem as suas obrigações contínuas para com os titulares de acções”, avisa o organismo continental. Alguns conselhos aos reguladores Em Moçambique, o regulador do mercado de valores mobiliários é o Banco de Moçambique, mas nem em todas as economias o Banco Central responde por este mercado. Em todo o caso, a ASEA emitiu uma nota em que procura “fornecer alguma visão em termos de políticas gerais sobre a resposta regulatória e de supervisão apropriada por parte dos reguladores de valores mobiliários ao lidar com o impacto da Covid-19 nos mercados de www.economiaemercado.co.mz | Novembro 2020
capitais”. E a primeira advertência é a de que “os reguladores precisam de fornecer informações claras aos investidores sem experiência em condições de mercado severas ou acções tomadas em crises”. Mas, a seguir, avança com uma série de sugestões: ao adoptar qualquer tipo de restrições temporárias, como o uso de vendas a descoberto, as autoridades devem considerar o potencial impacto negativo na liquidez e garantir que essas restrições não prejudiquem a confiança do mercado e a estabilidade financeira. As restrições só devem ser implementadas dentro de uma estrutura previsível e confiável e não mais do que o ‘absolutamente necessário’;
As maiores praças e bolsas de África A mais antiga do continente é a do Egipto e hoje reúne as praças do Cairo e de Alexandria. Fundada em 1883, chegou a ser uma das mais importantes do mundo. Cinco anos depois, nasceu a praça de Joanesburgo que lidera o ranking africano, quer ao nível das transacções, quer da capitalização bolsista, sendo também uma das mais destacadas do mundo. A bolsa sul-africana (JSE) possui uma outra praça, chamada Alternative Exchange, dedicada às empresas de pequena e de média dimensão. Os seus responsáveis têm manifestado a intenção de criar um mercado pan-africano que, numa primeira fase, poderá incluir as praças da Namíbia (que já é parceira da JSE), Gana, Zimbabué e Zâmbia. Entre as mais antigas está igualmente a praça de Casablanca (Marrocos) fundada em 1929 e a bolsa nigeriana, que além da praça de Lagos possui uma bolsa de commodities em Abuja.
os reguladores também podem precisar de considerar outras medidas de resiliência do mercado conforme a situação evolui (por exemplo, restrições sobre os volumes de negociação se a pressão sobre as infra-estruturas e intermediários for muito forte), dependendo das características dos mercados que supervisionam. Também devem garantir que os mercados sejam pronta e claramente comunicados; devem considerar o fecho obrigatório de bolsas e outras plataformas de negociação apenas como último recurso se todas as outras medidas de política disponíveis se revelarem ineficazes e o comércio desordenado não puder ser restringido de outra forma, sendo crucial identificar os potenciais efeitos colaterais de tais encerramentos, e trabalhar com outras autoridades relevantes na jurisdição para garantir uma abordagem segura e devidamente coordenada.
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OPINIÃO
Fazer Dinheiro Txapo-txapo.
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João Gomes • Partner @ JASON Moçambique
xapo-txapo (reduplicação do inglês chop-chop), advérbio que significa depressa, rápido. O nó górdio: Vem este artigo a propósito dos resultados de dois interessantes estudos recentes. O estudo publicado pelo CTA (Amostra: 118 empresas), no qual se estima que, por conta do covid-19, o sector empresarial moçambicano poderá registar perdas entre USD 234 Milhões e USD 375 Milhões. O estudo (Amostra: 250 PME`s), publicado pelo Standard Chartered Bank, a propósito dos principais desafios financeiros que as empresas antecipam em virtude da actual pandemia e no qual: i) 39% dos respondentes espera sofrer atrasos nas contas a receber; ii) 60% espera receber forte apoio em termos de crédito de fornecedores; iii) e 60% espera encontrar dificuldades de financiamento por parte dos bancos. É, pois, uma excelente oportunidade para abordarmos o tema da necessidade de as empresas moçambicanas aumentarem (volume) e acelerarem (tempo) a geração de liquidez, para fazerem face às suas obrigações certas e incertas. Abordaremos sucessivamente: I- O que significa e qual é o principal “desafio da liquidez” para as empresas. II- Dezoito boas práticas geradoras de liquidez para o negócio. I- O que significa e qual é o principal “desafio da liquidez” para as empresas? Em termos muito práticos significa sermos capazes de pagar as nossas contas, aquando do vencimento das respectivas obrigações. Cenário 1: O meu caro leitor(a) imagine que se encontra numa situação de emergência, e em que tem de fazer face a uma obrigação de pagamento, dispondo apenas de 48h para se desfazer de todos os activos da empresa: - Olhando para o balanço, do lado do activo circulante: Por exemplo, do crédito de clientes + do inventário (i.e., stocks de matéria-prima e de produto acabado). - E/ou olhando para o balanço, do lado do activo fixo (E aqui o desafio de “tornar líquido” é muito maior!): Por exemplo, dos equipamentos + viatura + edifício fabril
+ propriedade, tudo com o propósito de convertê-los (i.e., os activos), Txapo-txapo, em dinheiro (i.e., em caixa/bancos). Nota: Neste cenário diz-se que os activos estão em stress. E em Moçambique não há, ainda, suficiente expertise para apoiar as empresas e indivíduos a gerirem activos em stress. Cenário 2: Noutro exemplo, menos extremo e mais comum, o meu caro leitor(a), no exercício de planear a sua tesouraria, procurará garantir que: - Dispõe de activos circulantes (i.e., caixa/bancos). - Para pagar as obrigações certas, do seu passivo circulante (v.g., fornecedores de matéria-prima; fornecedor de energia; fornecedor de outros insumos). - Sem necessidade de venda do seu inventário/stock. Nota: Neste cenário fala-se em liquidez reduzida. Em ambos os casos acima indicados, o desafio dos bons gestores é, por conseguinte: - Para pagarem as suas contas (certas e incertas), - Evitarem o risco de incumprimento, e subsequente falência da sua empresa, - Encontrarem activos que possam ser, Txapo – txapo, convertíveis em dinheiro. - E assim confirmar-se a máxima de que o dinheiro… (em movimento) é Rei (“Cash is King”). II- Dezoito Boas práticas geradoras de liquidez para o negócio. Comecemos por olhar para o lado esquerdo do balanço (AKA “Activo”). A- Quando o nosso dinheiro está no bolso deles, a melhor estratégia é… chamá-lo de volta, e Txapo-txapo. Em média, 35% a 40% dos activos de uma companhia (naturalmente, variando de sector para sector) encontram-se na rubrica de crédito a clientes (AKA “Contas a Receber”). Entre outras, as seguintes boas práticas contribuem para melhorar a liquidez: 1- “Despedir” os maus clientes. 2. Acelerar e melhorar a disciplina na facturação e clarificar os termos & condições do fornecimento de modo a evitar erros e disputas que só atrasarão e diminuirão os recebimentos. 3- Antecipar o recebimento: por incrível que pareça há clientes que para garantirem a segurança de abaste-
É, pois, uma excelente oportunidade para abordarmos o tema da necessidade de as empresas moçambicanas aumentarem (volume) e acelerarem (tempo) a geração de liquidez
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O impacto da pandemia nas empresas deve fazer relembrar como as boas práticas são fundamentais para aumentar o balanço e melhorar as demonstrações de resultados
cimento/fornecimento estão dispostos a fazer adiantamentos por conta. Explore essa possibilidade. 4- Dê incentivos ao pronto pagamento, por exemplo, concedendo aos seus bons clientes um pequeno desconto (2%-3%) a pagamentos efectuados em tempo muito curto (v.g. 10 dias). B- Stocks sem rotação são dinheiro disfarçado… parado no armazém. Entre outras boas práticas: 5- Controlar rigorosamente o inventário (i.e., Stocks mínimos) e apostar em produtos/serviços “Estrela” (ver 13 e 14, abaixo). 6- “Despedir” os maus fornecedores e escrutinar rigorosamente a necessidade de novas aquisições de insumos. 7- Optimizar o desenho do processo de procurement e de negociação no sentido de diminuição do tempo e custo médio por operação. C- Nesta jornada precisamos de ir leves e livres de activos fixos… inúteis. Entre outras boas práticas: 8- Vender e/ou abater activos fixos (v.g., equipamento, maquinaria, viaturas, propriedade, edifício) cuja contribuição é não apenas nula, como a sua manutenção acarreta pesados custos para a empresa. 9- Implementar um programa de manutenção preventiva que aumente o tempo médio entre falhas. Olhemos agora para o lado direito do balanço (AKA “Passivo e Capitais Próprios”). D- Crédito de fornecedores de bens e/ou serviços… afinal pode haver almoços grátis. Entre outras boas práticas: 10- Priorizar os fornecedores e produtos/serviços que sejam críticos no nosso processo de aprovisionamento. 11- Crédito de fornecedores: Rever os termos e negociar condições de fornecimento mais favoráveis. 12- Reestruturar o serviço de dívida, substituir linhas de crédito de curto por médio e longo prazo e considerar as moratórias (capital + juros) disponibilizadas pelos bancos e fornecedores no contexto da pandemia. Mudando agora da perspectiva patrimonial, para a perspectiva da operação, olhemos para a demonstração de rewww.economiaemercado.co.mz | Novembro 2020
sultados onde divisaremos algumas rubricas nas quais a geração rápida de liquidez pode ocorrer. E- Do lado da receita, foco nos produtos/serviços “Estrela da Companhia”. Entre outras boas práticas: 13- Rever preços e concentrar a força de vendas nos produtos/serviços com o melhor rácio margem/volume. (Esta medida ajudará B, ver acima). 14- Descontinuar os produtos/serviços com menor performance. F- Do lado da despesa, a orientação é “less is more”. Entre outras boas práticas: 15- Renegociar os custos variáveis (i.e., das mercadorias vendidas e matérias consumidas). 16- Reduzir e controlar as despesas fixas (i.e., overheads). 17- Na sequência da renegociação do serviço de dívida (ver nº 12), considerar a diminuição dos juros pagos às instituições de crédito. 18- Reduzir os custos com a conta Estado: impostos e taxas, fazendo uso criterioso dos benefícios, moratórias fiscais e da segurança social actualmente em vigor. Em conclusão: A queda brutal estimada de receitas (entre USD 234 Milhões e USD 375 Milhões) em resultado do COVID-19 força, necessariamente, os gestores a encontrarem fontes de liquidez alternativas e ágeis que lhes permitam fazer face a obrigações certas e, em quantidade cada vez maior, incertas. E é de esperar no curto prazo, tal como é apontado em ambos os estudos referidos, atrasos dos clientes no pagamento de serviços/produtos fornecidos. Elencámos neste artigo 18 boas práticas geradoras de liquidez que, entretanto, mapeámos i) no balanço; ii) e na demonstração de resultados, contribuindo para que o nosso leitor tenha uma visão sistémica do tema. Notar que algumas das boas práticas sugeridas, não sendo novas, são novidade trazidas pelo Covid-19 para o portefólio dos gestores. As 18 boas práticas elencadas têm um ponto em comum: para o dinheiro deixar de ser peão e ser rei, os geradores de liquidez têm uma singularidade, qual seja, a de circularem Txapo-txapo.
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EspecialInovação 46 EDTECH
A pandemia veio colocar enorme pressão, ao nível global, sobre os sistemas de ensino, mas com isso abriu-se um mercado global de 200 mil milhões de dólares
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software design
Evento que reúne os melhores do mundo lançado por moçambicano
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Opinião
O papel do gás natural na transição energética
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As notícias da inovação em Moçambique, África e no Mundo
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Como a Pandemia Acelerou a Inovação na Educação e a Transição Digital Ao impôr diversas formas de confinamento e de distanciamento social, a pandemia veio colocar enorme pressão, ao nível global, sobre os sistemas de ensino. Em Agosto passado, segundo dados da ONU, mais de 160 países tinham fechado as suas escolas, uma medida que afectou mais de mil milhões de estudantes em todo o mundo texto Rui trindade – foto D.R.
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uma intervenção produzida na altura, António Guterres, secretário geral da Organização das Nações Unidas, consciente de que o regresso à “normalidade”poderá, mesmo nas previsões mais optimistas, levar alguns anos, sublinhava que “enfrentamos uma catástrofe geracional que pode desperdiçar um potencial humano incalculável, minar décadas de progresso e acentuar desigualdades enraizadas”. Mas, como em todas as crises de grande magnitude, António Guterres referia também que esta pode ser “uma oportunidade para redesenhar a educação”. E acrescentava: “As de-
medidas ousadas agora, para criar sistemas educativos inclusivos, resilientes e de qualidade, adequados para o futuro.”
Mercado Global do E-Learning Vale 200 Mil Milhões de Dólares
Já antes da pandemia eclodir, muitos países, conscientes do momento de transição que se está a viver em direcção à chamada 4ª Revolução Industrial, vinham ensaiando novos modelos e abordagens para os sistemas educativos tendo em mente o papel central das tecnologias digitais e, nomeadamente, da Inteligência Artificial. Algumas organizações, como o World Economic Forum, para citar apenas um
“Precisamos de investimento na alfabetização digital... no sentido de aprender a aprender” cisões que os governos e os parceiros tomarem agora terão um impacto duradouro em centenas de milhões de jovens e nas perspectivas de desenvolvimento dos países nas próximas décadas (...) precisamos de investimento na alfabetização digital e em infra-estruturas, de uma evolução no sentido de aprender a aprender, um rejuvenescimento da aprendizagem ao longo da vida e vínculos reforçados entre a educação formal e a não formal. E precisamos recorrer a métodos flexíveis de aprendizagem, tecnologias digitais e currículos modernizados, garantindo, ao mesmo tempo, apoio contínuo aos professores e às comunidades. À medida que o mundo enfrenta níveis insustentáveis de desigualdade, precisamos da educação - o grande equalizador - mais do que nunca. Devemos tomar
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exemplo, têm produzido estudos - nomeadamente, o “New Vision for Education: Fostering Social and Emotional Learning Through Technology” e o “Schools of the Future: Defining New Models of Education for the Fourth Industrial Revolution” - que permitem antever as possíveis modalidades que esse redesenho dos sistemas educativos poderiam assumir. De igual modo, os últimos anos já tinham sido marcados por um crescimento muito significativo no segmento das chamadas “edtechs”, start-ups que se propõem criar soluções inovadoras para a educação, e que têm vindo a surgir em todos os continentes. De acordo com a Software & Information Industry Association, o mercado das “edtechs” nos EUA está avaliado, neste momento, em torno dos www.economiaemercado.co.mz | Novembro 2020
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8,4 biliões de dólares. Na América Latina, um dos mercados com maior crescimento em anos recentes, o Brasil destaca-se com mais de 450 start-ups a actuarem neste segmento. Segundo dados relativos a 2019, o mercado global de e-learning já ultrapassou os 200 biliões de dólares prevendo-se um crescimento de mais de 8% entre 2020 e 2026. Nesta perspectiva, a pandemia está sobretudo a funcionar como um acelerador de uma tendência que já estava em movimento. A necessidade, imperativa, de adopção de modelos de ensino à distância levou a que, subitamente, se tenha assistido a um boom no desenvolvimento de plataformas e aplicativos na perspectiva de responder a uma procura sem precedentes. Para muitos analistas, a pandemia, ao impôr este “novo normal”, abriu as portas para uma familiarização massificada com tecnologias que, apesar de tudo, estavam ainda na periferia dos sistemas educativos mas que agora, na sua perspectiva, vão passar a ocupar um espaço incontornável nas dinâmicas de aprendizagem ainda que, possívelmente, num modelo híbrido (presencial/virtual).
Start-ups tecnológicas de África na primeira linha da inovação
As profundas lacunas existentes no continente africano, no que toca ao acesso à educação, já tinham levado ao aparecimento, muito antes da pandemia, de um grande número de iniciativas, sobretudo impulsionadas por start-ups tecnológicas, que procuravam suprir essas lacunas. O projecto Afriboard Education, fundado pelos senegaleses Massamba Thiam e Arona Gueye, é disso um bom exemplo. E reflecte como o e-learning e o desenvolvimento de aplicações digitais se tornaram há muito, no continente africano, um mercado atraente para jovens empreendedores. A plataforma foi criada quando Massamba Thiam e Arona Gueye regressaram ao Senegal depois de uma estadia no Canadá onde se familizaram com as diversas tecnologias de e-learning. Desde 2018, a plataforma da Afriboard Education serve inúmeras escolas secundárias e quatro universidades. As salas de aula virtuais são utilizadas para transmitir conteúdos didácticos, fazer testes e realizar fóruns. Os dois jovens senegaleses desenvolveram também uma app que permite navegar offline: “Os alunos fazem login e, se desligarem os dados móveis, continuam a poder navegar e trabalhar. Desenvolvemos uma tecnologia adaptada
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“Os alunos fazem login e, se desligarem os dados móveis, continuam a poder navegar e trabalhar” às situações africanas”, explica Massamba Thiam. “Cada utilizador paga uma pequena taxa de uso pelo serviço”. Sublinhe-se que o Governo do Senegal apoiou o lançamento da plataforma dos dois jovens empresários com um financiamento inicial no âmbito de um programa de incentivo para empresas emergentes promissoras. Mas a Afriboard Education não é a única iniciativa do género no continente afri-
cano. Outros exemplos devem também ser mencionados: a Eneza, no Quénia, uma empresa que também está presente no Gana e na Costa do Marfim, fornece, por via digital, material didático e de aprendizagem para alunos do ensino básico e liceus. A Ubongo, na Tanzânia, desenvolveu já inúmeros jogos educativos para incentivar o gosto pela aprendizagem. Também no Quénia, a M-Shule oferece cursos www.economiaemercado.co.mz | Novembro 2020
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contextualiza o panorama actual e identifica os principais desafios que se colocam em África. No que toca a Moçambique, o relatório refere que, apesar do apoio que tem tido, por exemplo, através do projecto “ICT: Transforming Education in Africa” promovido, desde 2015, pela parceria entre a UNESCO e a KFIT (Korea Funds-In-Trust), e que tem permitido o desenvolvimento de algumas iniciativas, a situação está ainda aquém do potencial existente no País. Importa recordar que os tempos de pandemia estão a ser marcados pela quase total ausência de consensos sobre a implementação do e-learning entre os principais intervenientes.
Os desafios do futuro em África
de matemática e programas de alfabetização para crianças da escola primária. No Uganda, a Brainshare, uma plataforma de aprendizagem online, disponibiliza aulas particulares. E na Nigéria, o Talking Bookz desenvolveu o primeiro mercado online de áudio-livros em África. Segundo Rebecca Stromeyer, fundadora da “eLearning Africa” uma conferência que, desde 2006, tem sido realizada uma vez por ano no continente africano - Quénia, Gana, Senegal, Costa do Marfim, África do Sul, Nigéria e Ruanda estão entre os países onde se tem verifiwww.economiaemercado.co.mz | Novembro 2020
cado o maior número de iniciativas. Estes países são líderes de mercado no ensino digital em África. De acordo com Rebecca Stromeyer existem, neste momento, mais de 200 start-ups inovadoras em África e as perspectivas de crescimento do mercado de e-learning pós-pandemia deverão vir a acompanhar o crescimento global a que se está a assistir. A organização de Rebecca Stromeyer publicou recentemente o relatório “e- Learning Africa Report 2019” o qual, para além de incluir um directório detalhado sobre todos os países do todo o continente,
A pandemia obrigou a uma mudança repentina nos sistemas educativos mundiais. E se é verdade que a conjuntura pode permitir uma transição sem precendentes para novos modelos, também é verdade que se colocam, como já se está assistir, alguns desafios de monta, em particular uma difícil adaptação quer por parte dos professores, quer no que toca à passagem dos conteúdos educativos para o ambiente digital. Além disso, a qualidade de acesso à internet e, em muitos casos, do acesso a dispositivos tecnológicos adequados ao aprendizado são também desafios complexos que implicam, se não forem adequadamente enfrentados, a criação de barreiras a uma universalização do e-learning. Estes problemas estão presentes numa grande maioria de países, mas alguns estão mais bem preprados para avançar mais rapidamente. China, Singapura e Estónia são exemplos de países que podem ser considerados de referência no que diz respeito a uma rápida adaptação ao e-learning em virtude das suas experiências prévias no uso, em larga escala, da tecnologia digital na educação. No que toca ao continente africano, o relatório identifica alguns dos obstáculos principais ao desenvolvimento do e-learning: o maior continua a ser um adequado acesso à Internet e ao fornecimento de energia. Outro obstáculo são os investimentos ou os empréstimos bancários, que são difíceis de obter sendo que em muitos países os governos não estão dispostos a ajudar com subsídios. Por fim, coloca-se um enorme desafio no que diz respeito à mudança de mentalidade por parte dos professores. Como refere Massamba Thiam da Afriboard Education: “O nosso maior desafio é mudar o comportamento dos professores”.
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Colocar Moçambique no mapa mundial do design de software Não é comum associar Moçambique à vanguarda da inovação tecnológica no mundo. Mas Guidione Machava é dos que querem torná-lo realidade Texto Hermenegildo Langa • Fotografia Mariano Silva
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oçambique quer começar a ver o seu nome inscrito no mapa dos países com jovens “cérebros” na área tecnológica. Guidione Machava é um desses exemplos, com formação e envolvimento em várias iniciativas ambiciosas na área da tecnologia em Moçambique e além-fronteiras. Economista de formação, Guidione Machava especializou-se em software design, sendo membro-fundador da plataforma MozDevz, uma comunidade moçambicana de developers de aplicações, e até hoje a maior comunidade tecnológica no País. O seu conhecimento e experiência profissional nesta área tornou-o, em 2016, semi-finalista da Technology (Tech I) Competition, da GIST (Global Innovation through Science and Technology), distinção que o fez participar na Global Entrepreneuship Summit 2016, na Califórnia, Estados Unidos. Graças ao seu track record no mundo da inovação, Guidione Machava tem, para já, planos para incitar os outros projectos até materializar o sonho de uma vida: tornar-se “no melhor designer de software do mundo”, diz. Mas tem bem ciente que é o espírito empreendedor e a constante aprendizagem que o levarão até lá. Entretanto, pretende abrir, já no próximo ano, uma escola pan-africana de design virtual onde jovens de toda a África poderão aperfeiçoar os seus skills na matéria. Mas porquê esta formação? “Queremos com este curso mudar o conceito do design moçambicano e africano e dotá-lo de habilidades mundialmente reconhecidas”, explica Guidione. Mudar conceitos e agregar o que de melhor se faz no mundo às práticas habituais no contexto africano é, de resto, a ideia que levou Guidione a começar a preparar uma
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conferência mundial inteiramente dedicada ao software design, agendada para Fevereiro do próximo ano, e que irá juntar alguns dos grandes nomes desta área ao nível mundial, com particular destaque para oradores de empresas tecnológicas como a Google, Facebook e Vodacom South Africa. “Será a partir desta conferência que se vão construir os alicerces da escola” que tem vindo a projectar. Designado “World Class Designer Conference”, o evento irá decorrer inteiramente online. “A ideia desta conferência é partilhar informações sobre como podemos inspirar designers de toda a África a tornarem-se profissionais com standard mundial”, explica. E prossegue: “uma vez que esta conferência não é grátis, com o dinheiro que vamos angariar vamos poder investir na formação de designers em África. Quem comprar um bilhete para poder participar nesta conferência, automaticamente estará a pagar uma bolsa de estudos para um designer africano por um ano”. O jovem empreendedor conta que a ideia de criar este curso surge mesmo para colmatar o défice de conhecimento que foi notando nos designers africanos. “Fui percebendo que as pessoas querem continuar a aprender mais sobre esta área, mas no nosso País e, em África no geral, não existem escolas que leccionem esta área com profundidade. Então decidi lançar a conferência como forma de poder financiar a escola e poder ensinar o design às pessoas”, explica. E é por isso que Guidione acredita que através desta formação, os designers poderão atingir limiares mundialmente reconhecidos. “O meu sonho é poder mudar a cara da educação em software design em África para que, daqui a cinco anos, haja mais empreendedores africanos de referência a colocarem África no mapa global da inovação”, assinala.
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Nome Guidione Machava Formação Economia Especialização Software Designer Evento World Classe Designer
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O Papel do Gás na Transição Energética Por Higino Mutemba • Resources Sector Lead, FNBM & Keith Webb • Senior Investment Banker for Infrastructure Finance, RMB
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om a redução dos custos das energias renováveis e a transição do carvão para fontes de energia mais limpas, o gás desempenha um papel fundamental na transição energética, tendo o poder de equilibrar a produção de energia variável a partir de energia solar e eólica renovável, como fonte de energia flexível, de rápida implantação. Historicamente, o carvão tem sido a fonte de energia de eleição pela sua fácil disponibilidade, exploração, manuseamento e transporte, factores que contribuíram para os custos baixos desta energia primária. No entanto, a conveniência tornou-se dispendiosa em termos de emissões de carbono, uma tendência que começou a ser contrariada com a introdução de “impostos sobre o carbono”. Na África do Sul, as centrais eléctricas mais antigas serão desactivadas ao longo dos próximos 20 anos à medida que os recursos de carvão se vão esgotando nas centrais existentes e estas vão atingindo o fim da sua vida útil. Actualmente, os líderes mundiais compreendem a importância das energias renováveis sob o ponto de vista da sustentabilidade e de custos. A perspectiva das fontes de energia renováveis são promissoras. Por exemplo, o processo de produção de energia solar é significativamente mais barato relativamente a outras formas de energia. As instalações de energia renovável implicam custos operacionais muito reduzidos e podem ser ainda mais racionalizados com uma estruturação financeira inteligente. “A solução para tornar a energia renovável mais acessível é amortizar o custo de capital inicial durante toda a vida útil do activo por meio de financiamentos de longo prazo, normalmente superior a 15 anos.” O custo desse tipo de financiamento depende de programas de aquisição bem estruturados que ofereçam contratos de aquisição de energia financiáveis com tomadores de crédito fidedignos. A combinação de energia renovável e de tecnologia de geração
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flexível como o gás é, actualmente, uma ferramenta essencial para o fornecimento de energia à rede. As tecnologias de geração de energia a gás são extremamente flexíveis e podem ser iniciadas rapidamente, o que as torna ideais para o equilíbrio da produção de energia variável a partir de energia solar e eólica renovável. O gás - em particular o LNG - resulta numa queima muito mais limpa em relação ao diesel, que é amplamanente usado para a produção de energia em todo o continente. É emitido menos carbono por cada watt de electricidade produzido. Num formato de “ciclo fechado”, as turbinas a gás podem ser ainda mais eficientes como fonte de energia de base para substituir a energia alimentada a carvão.
A combinação de energia renovável e de tecnologia de geração flexível como o gás é, actualmente, uma ferramenta essencial para o fornecimento de energia à rede Nos últimos anos, a aquisição de gás tornou-se mais acessível, graças a descobertas substanciais de gás ao nível mundial (incluindo Moçambique) e à modernização da tecnologia de transporte, com recurso à liquefacção. Contudo, a cadeia de fornecimento de gás - desde a produção de gás a montante, liquefacção, transporte marítimo, importação, transporte rodoviário ou por condutas e regaseificação - deve ser mais atractiva para fazer face à concorrência representada pelo carvão, o que poderá ser conseguido através de um investimento substancial no gás. Na prática, é necessário que mais centrais eléctricas utilizem gás e energias renováveis e que o uso doméstico e industrial de gás se multiplique. Como Grupo FirstRand, estamos directamen-
te envolvidos na estruturação e facilitação de transacções de energia. Na área das energias renováveis, fomos responsáveis (Mandated Lead Arranger) pela implementação do Projecto do parque eólico de Roggeveld com uma capacidade de 147 MW e pelo projecto Solar Concentrado Kathu de 100MW. Fomos igualmente Responsáveis (Mandated Lead Arranger) pela implementação do Projecto dos parques eólicos de Amandi com uma capacidade de 200MW, Azura de 450MW e Cenpower de 350MW na África Ocidental. Finalmente, estruturámos e organizámos o financiamento de acções preferenciais para a aquisição de instalações de energia renovável no valor de ZAR665milhões da Thebe Renewable Energy e de uma instalação de acções preferenciais no valor de ZAR310m para a iThokazi, que detém uma carteira diversificada de oito projectos (dois parques eólicos e seiscentrais fotovoltaicas solares num total de 300MW. Em suma, o gás é uma fonte de energia prontamente disponível que desempenhará um papel crítico à medida que novos métodos de redução da emissão de carbono são explorados. Alternativas como as baterias e outras técnicas de armazenamento como as hidro-bombas são ainda bastante dispendiosas, e embora a tecnologia esteja a progredir no sentido de minimizar os respectivos custos, o impacto do seu desenvolvimento é ainda demasiado precoce. Nesta altura, a combinação de energias renováveis e gás é uma solução global viável e rentável para a rede de distribuição de energia. Moçambique reúne as condições adequadas para produzir energias renováveis com sucesso, particularmente a energia solar. Já existem centrais eléctricas, tais como a Central Térmica de Ressano Garcia e Gigawatt com uma capacidade de produção de energia eléctrica a gás, proveniente da produção da Sasol, em Inhambane. Os projectos de LNG em Cabo Delgado, no futuro, irão aumentar a disponibilidade do gás produzido localmente. www.economiaemercado.co.mz | Novembro 2020
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Agricultura
Drones para a agricultura de Cabo Verde entre os 50 mais inovadores de África O projecto do cabo-verdiano Érico Pinheiro, centrado na construção de drones para a agricultura e reflorestação foi seleccionado pela revista Africa Innovates, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), para fazer parte da lista das 50 inovações africanas de maior potencial. Os drones construídos por Érico Pinheiro têm como objectivo contribuir para ajudar a modernizar a agricultura. De-
pois de uma série de ensaios e testes, demonstrando as suas várias funcionalidades – como pulverização agrícola, lançamento de sementes, entrega de encomendas, além supervisão das florestas através de vídeo câmaras – os drones estão agora prontos para operar e conseguem viajar longas distâncias, têm sistema de navegação GPS, comunicação via DataLink e podem ser operados com controlo remoto ou de forma autónoma.
Covid-19
Kit de Teste Feito em África Vai Custar Menos de Um Dólar África pode estar preparada para revolucionar os testes rápidos para o vírus no continente. O Instituto Pasteur, centro de investigação biomédica baseado em Dakar, Senegal, garante estar perto de produzir um kit de teste de diagnóstico ao covid-19 “portátil e acessível e que pode fornecer resultados numa questão de minutos”. O Instituto está a gerir um novo empreendimento chamado DiaTropix, o qual tem vindo a trabalhar em parceria com cinco organizações de investigação desde Março, incluindo a Mologic, no Reino Unido, para criar o kit de teste. Amadou Sall, director do Instituto, disse que o centro biomédico espera que o custo do kit para venda ao público não ultrapasse um dólar. “Esta é uma tecnologia tão simples como um teste de gravidez que se pode utilizar em todo o lado ao nível comunitário, o que é importante para África”. De acordo com Mologic, este kit de teste rápido não requer acesso a energia ou necessita de quaisquer análises laboratoriais. Na verdade, consiste numa simples tira de teste que é colocada numa unidade de plástico e utiliza uma pequena amostra de sangue, recolhido através de uma picada no dedo. Depois, a análise é trabalhada para procurar anticorpos que estão relacionados com o Corona, e o resultado aparece de imediato na tira de teste.
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Aquacultura
Investigador moçambicano Simão Zacarias vence prémio de inovação por uma universidade escocesa O pesquisador moçambicano Simão Zacarias, do Instituto de Aquacultura da Universidade de Stirling, na Escócia, venceu o Prémio Global de Inovação em Aquacultura 2020, atribuído pela Global Aquaculture Alliance (GAA), uma Organização Não-governamental com sede nos Estados Unidos. Aos 31 anos de idade, Simão Zacarias é o primeiro moçambicano e africano a vencer este prémio. O académico foi escolhido num universo de 30 concorrentes, oriundos de 17 países, nomeadamente Bélgica, Canadá, Chile, Dinamarca, Índia, Indonésia, Is-
rael, Malásia, México, Holanda, Noruega, Panamá, Espanha, Reino Unido, Estados Unidos, Tanzânia e Tailândia. Nascido no Bairro da Manga, arredores da cidade da Beira, no Centro de Moçambique, Simão Zacarias é licenciado em Biologia Marinha pela Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, e mestre em Aquacultura pela Universidade de Santa Catarina, no Brasil. Concorreu ao prémio da Universidade de Stirling com o estudo “A robustez/resistência do camarão a enfermidades melhora sem uso da ablação ocular”.
Tecnológia
Startups tecnológicas de África revolucionam o sector imobiliário Como em muitos outros domínios de actividade, também o sector imobiliário está a conhecer os efeitos disruptores introduzidos por tecnologias e aplicativos criados por um conjunto se start-ups inovadoras. Esta tendência tem vindo a ganhar expressão em anos recentes, ao nível global, e começa agora também a chegar ao continente africano. Start-ups como a SweepSouth (África do Sul), a Flow (África do Sul), a Cytonn Investments (Quénia), a CoFundie (Nigéria),
a 14Trees (Malawi) ou a MeQasa (Gana) são apenas algumas das empresas que se têm destacado no sector das chamadas “proptechs”. Na definição, bastante abrangente, de Angelica Donati, colaboradora regular da revista “Forbes”, fundadora de várias “proptechs” e empreendedora do mercado imobiliário, “proptech” (property technology) é o acrónimo utilizado para descrever todas as tecnologias aplicáveis ao espaço do sector imobiliário.
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lá Fora COVID-19 e crise do petróleo afundam empresas angolanas “Dias difíceis” — É assim que os empresários definem o actual momento económico, marcado pela pandemia e por uma grave crise financeira
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Texto José Zangui • Fotografia Istock s resultados do inquérito sobre o Impacto do covid-19 nas Pequenas e Médias Empresas (PME), referente ao mês de Junho de 2020, realizado pelo Banco Nacional de Angola, recomenda a tomada célere de medidas políticas baseadas nas informações estatísticas disponíveis. Mais de 80% das empresas que participaram do inquérito consideraram enfrentar problemas financeiros, como a falta de liquidez (24,6%), a ausência de encomendas/clientes (18,2%) e salários em atraso (11,4%). No mês de Junho do corrente ano, a proporção das empresas que não beneficiaram ainda de apoio das autoridades e dos bancos comerciais, no âmbito das medidas para mitigação dos efeitos da pandemia, aumentou consideravelmente, porquanto 86,1% das empresas consideraram não ter recebido qualquer apoio. Apenas 5,8% confirmaram ter beneficiado do adiamento no pagamento das obrigações fiscais e contributivas, 2,4% beneficiaram de moratória no pagamento de crédito bancário e 2,2% tiveram acesso a novas linhas de financiamento. No que diz respeito aos efeitos negativos da pandemia do covid-19 nas Pequenas e Médias Empresas (PME) no período em análise, o inquérito destaca, entre outros aspectos, o encerramento definitivo de empresas, a redução da proporção de empresas capazes de recuperar a sua actividade no curto prazo, o aumento da proporção de empresas com problemas financeiros de vária ordem e consequente redução da proporção de empresas com uma situação finan-
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ceira estável. Segundo o inquérito do Banco Central angolano, é necessário que se dê atenção especial ao sector da educação, por apresentar uma situação muito crítica, tendo em conta a redução acentuada da sua facturação média, na ordem dos 69,3%, e o aumento das dívidas a receber dos seus clientes, na ordem dos 41,7%. O sector das bebidas, depois de, em 2018, ter registado, no geral, uma quebra de 25%, decaiu 30% no ano passado. Ou seja, em dois anos, registou uma quebra de mais de 50% no volume de produção, o que terá provocado o despedimento de 5000 trabalhadores até ao final de 2019. Entretanto, com o surgimento do covid-19, a situação agudizou-se, de acordo com o presidente da Associação das Indústrias de Bebidas de Angola (AIBA), Manuel Victoriano Sumbula, que prometeu apresentar dados mais concretos desagregados, por cada unidade industrial, nos próximos tempos. Enquanto isso, a AHARA- Associação de Hotéis e Resorts de Angola, na voz do seu secretário-geral, Ramiro Barreira, em declarações à E&M, fala em dias difíceis. “Os hotéis estão encerrados”, disse, acrescentando estar “cansado de falar sobre os mesmos problemas”. Cerca de 4,735 milhões de desempregados A taxa de desemprego em Angola, segundo o Instituto Nacional de Estatística, está estimada em 32,7%, o que representa cerca de 4,735 milhões de desempregados, num universo de perto de 15 milhões de pessoas em idade economicamente activa. Nos dois primeiros meses de pandemia em Angola, extinguiram-se cerca de 4000 postos de trabalho. O secretário de Es-
tado para o Trabalho e Segurança Social, Pedro José Filipe, revelou, recentemente, em declarações ao Jornal de Angola, haver no País um acumulado de suspensão de vínculos laborais ou perdas de postos de trabalho em paralelo com o encerramento de empresas, sublinhando que qualquer quadro de recessão económica impacta directamente na geração de emprego. “A economia está a encolher e é normal que as empresas estejam a frear a sua actividade e, consequentemente, a reduzir os postos de trabalho”, admitiu o governante, clarificando que foi por isso que a própria Lei Geral do Trabalho foi concebida para que, em deterwww.economiaemercado.co.mz | Novembro 2020
Angola
O covid-19, de acordo com a pesquisa realizada em Junho e publicada pela Associação Observatório de Políticas na Perspectiva de Género, acentuou a pobreza das mulheres minadas circunstâncias, as empresas em dificuldades possam lançar mãos ao despedimento colectivo. “Existe um quadro jurídico rigoroso e uma série de procedimentos que devem ser observados, explicou Pedro José Filipe. Famílias e operadores informais mais pobres Um relatório sobre o “impacto do covid-19 na Vida das ‘Zungueiras’ (venwww.economiaemercado.co.mz | Novembro 2020
dedoras ambulantes)” indica que a crise gerada pela pandemia afectou 70% deste grupo, reduzindo entre 50% e 85% os seus rendimentos diários. O covid-19, de acordo com a pesquisa realizada em Junho e publicada em Setembro pela Associação Observatório de Políticas na Perspectiva de Género (ASSOGE), acentuou a pobreza monetária no seio das mulheres. O estudo, que inquiriu directamente as
‘Zungueiras’ e que engloba dados secundários recolhidos noutros estudos e diplomas legais, revela que a diminuição do lucro intensificou a precariedade das condições de vida das mulheres ‘Zungueiras’ e igualmente das famílias de que fazem parte. Mas as zungueiras não são o único grupo mais afectado. De acordo com o presidente da Associação Nova Aliança dos Taxistas de Angola (ANATA), Francisco Paciente, as restrições na lotação e tempo de circulação das viaturas, no período do Estado de Emergência e na situação de Calamidade Pública, afectaram amplamente os seus associados .
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ócio
(neg)ócio s.m. do latim negação do ócio
58 Nesta edição viajamos até Pomene, no distrito de Massinga, em Inhambane
g
e 60 O restaurante francês Mirazur resolveu usar a Natureza como principal ingrediente para se reiventar face à crise
61 Como os tintos libaneses resistem ao tempo adverso e se mantêm no radar dos bons apreciadores
Um lugar por visitar
Pomene, distrito da Massinga, Inhambane
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Pomene, em atoda plenitude o dia rompeu e caem gotas suaves sobre um mar chão. Uma chuva que não chega a ser chuva dá-nos os bons dias enquanto os primeiros raios de sol tentam esgueirar-se por entre as nuvens. Diante de nós estende-se um banco de areia paralelo à costa, criando uma piscina natural alimentada pelas águas do estuário. Mais ao longe, do lado de lá da barreira, rebentam, ruidosas, as ondas do oceano. Macachula é uma pequena comunidade localizada no posto de Pomene, distrito de Massinga, na província de Inhambane. É tão remota que o mapa não indica sequer estrada até ao destino. No entanto, com muita vontade e determinação, é possível encontrar, entre os vários caminhos de areia, uma forma de lá chegar. E vale a pena. Com areia branca e água transparente, a praia é praticamente deserta; apenas passam alguns pescadores ou trabalhadores dos poucos acampamentos que existem nas
redondezas. Mas o maior encanto, dizem os entendidos, esconde-se nas profundezas do azul do Índico. Blessings Mauonde, jovem malauiano responsável pelo centro de mergulho DivePomene, instalado no Paradise Beach Lodge, deleita-se ao descrever as maravilhas subaquáticas daquele lugar: “A vivacidade dos recifes, a multiplicidade de peixes, as praias intocadas... o mergulho aqui é remoto, por isso é intacto”. Depois de uma conversa animada, deixamos Macachula para explorar a Reserva Natural de Pomene, na margem oposta do estuário. Durante duas horas, manobramos o carro por entre trilhos de areia até à aldeia de Rio das Pedras, onde apanhamos outra picada de 50 km que nos conduz à cancela que dá acesso à Reserva. Com uma área de 200 km2, esta é a mais pequena área de conservação do País. Cumpridas as formalidades da entrada, rumamos directamente à praia em busca de
alojamento, antes que o dia dê lugar à noite. Depois de passarmos a aldeia, escondida no coração da reserva, paramos subitamente. Do nosso lado direito, para lá dos coqueiros à beira-mar, uma nuvem de pássaros sobrevoa o barco de um velho pescador numa simbiose perfeita entre natureza e homem. O sol põe-se nas nossas costas ao sabor de uma brisa amena que afaga as folhas das palmeiras. Por instantes, o tempo pára e existe tão-somente aquele momento. Percebemos mais tarde que era apenas um prenúncio da magia do lugar onde nos encontramos, uma vibração pura da natureza que nos envolve em toda a sua plenitude. Pomene é mais do que um destino; é uma experiência. De noite, depois de nos instalarmos num lodge de madeira empoleirado na duna, sentamo-nos numa
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varanda debruçada sobre o Índico, extasiados pela beleza do firmamento estendido diante de nós como uma tela cósmica. A lua, essa já se retirou de cena para que as estrelas cintilem em todo o seu esplendor. À memória vêm-nos os versos do poeta turco Nâzim Hikmet: “Quantas estrelas desfilaram à nossa frente/ Roçando as águas”. No dia seguinte, descemos à aldeia em busca de Anísio Manhiça, líder local que acumula diferentes papéis: padeiro, pastor da igreja Afrika Wa Yesu e presidente do Conselho Comunitário de Pesca de Pomene. É através dele que descortinamos o significado do nome daquele lugar. “Havia antigamente três comunidades: Maboho, Mauíli e Lifulene”, explica-nos enquanto o pão vai cozendo num forno artesanal no terreiro de sua casa. “Quando chegaram os primeiros residentes, havia muitos animais. Então chamaram os três povoados e decidiram: vamos cobrir essa área para que sejamos unidos e possamos nos proteger melhor dos animais para não nos devorarem”. A expressão que utilizaram foi ahipomelene – “vamos cobrir tudo como um enxame de abelhas” – dando origem ao nome actual de Pomene. Ao terceiro dia, deixamos para trás a reserva, percorrendo de novo a estrada de areia branca que serpenteia entre montes de vegetação costeira e dunas senhoriais que se erguem ao longo do litoral como uma muralha natural entre o mar e a terra. No nosso espírito fermentam as últimas palavras que o padeiro-pastor-pescador reservou para nós, como uma promessa contida num pão de coco: kahikama – “havemos de nos avistar de novo”. texto Cristiana Pereira fotografia D.R.
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“Diante de nós estende-se um banco de areia... criando uma piscina natural alimentada pelas águas do estuário. Mais ao longe rebentam, ruidosas, as ondas do oceano” ROTEIRO Como ir
Voe até Inhambane ou Vilanculos. A partir dali, percorra a Estrada Nacional até Massinga e siga as indicações para Pomene. A partir deste ponto é indispensável o uso de 4x4. De Massinga até à Reserva de Pomene são 65 km. ONDE DORMIR
Em Macachula, recomendamos o Paradise Beach Lodge, onde está baseado o centro de mergulho DivePomene. Na Reserva de Pomene, o Iz-Ma-An Lodge tem uma vista soberba sobre o Índico. O lendário Pomene Lodge está reservado para uso exclusivo dos cruzeiros da empresa MSC. O QUE FAZER
Além de praia e mergulho, há alguns sítios emblemáticos que merecem ser conhecidos, começando pelas ruínas do mítico Velho Hotel. Pode também visitar o luxuoso Pomene Lodge e, com sorte, poderá usufruir das instalações.
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Mizarur
Colagreco Côte d’Azur, França 3 Estrelas Michellin https://www. mirazur.fr/
g durante o confinamento
de três meses em França, o chef ítalo-argentino do Mirazur, um dos restaurantes mais conceituados do mundo, deu um passo atrás e percebeu que não gostava do que via. É uma confissão surpreendente do chef Mauro Colagreco, que esteve no topo até que o restaurante foi forçado a fechar em meados de Março devido à pandemia de saúde global. Em 2019, Colagreco tornou-se o primeiro cozinheiro nascido no estrangeiro em França a ganhar três estrelas Michelin, e o restaurante francês Riviera encabeçou o influente ranking dos 50 Melhores Restaurantes do Mundo. Mas quando o Covid-19 atingiu França, a pandemia forçou o Colagreco a parar e a abrandar. Após anos de trabalho à velocidade da luz, o chef viu-se subitamente parado, forçado a fazer um balanço da sua vida, do
Como a Pandemia levou seu restaurante; para fazer uma busca séria à sua alma. “Durante o encerramento tive muito tempo para pensar”, disse Colagreco. “Juntamente com a minha mulher Julia, começámos a questionar tudo. “Em que tipo de sociedade queremos viver? Que tipo de mundo queremos deixar aos nossos filhos? Como devemos comer, consumir, trabalhar?” Enquanto estava ‘preso’ em casa, o jovem de 43 anos manteve-se ocupado na horta da família, acordando todas as manhãs entre as 6h30 e as 7h00 para cuidar das aboborinhas, tomates, morangos, beringelas e ervas aromáticas que precisavam da sua atenção. E foi aqui que ele teve a ideia de reformular completamente o restaurante que o tinha transformado
o Mizarur é fornecido por cinco jardins orgânicos e biodinâmicos que totalizam cerca de 12 acres
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o Restaurante N.º 1 do Mundo
a reinventar-se em torno da Natureza numa super-estrela gastronómica internacional, e criar um menu inteiramente novo, centrado em torno dos pilares da agricultura biodinâmica e do poder da lua e das estrelas: Universo Mirazur. Na agricultura biodinâmica, as plantas são cultivadas e colhidas de acordo com as fases da lua. Tal como a sua atracção gravitacional pode provocar a subida e descida das marés, acredita-se que os ritmos da lua desempenham um papel importante nas quatro partes da vida vegetal: raízes, folhas, frutos e flores. O calendário de plantação biodinâmica serve de guia para os agricultores sobre os dias ideais para a sementeira, plantação, cultivo e colheita das culturas. Para o renascimento do Mirazur, que reabriu a 12 de Junho, estes mesmos princípios estão no centro do novo
menu. Em “dias de folhas”, quando a “energia” e o sabor estão mais concentrados na folha da planta, o restaurante servirá um menu de degustação temático em torno de folhas e saladas verdes. “Passei muito tempo no jardim e senti-me ligado à natureza. Tornou-se uma fonte de paz, numa altura de tanta ansiedade”, disse. No total, o Mirazur é fornecido por cinco jardins orgânicos e biodinâmicos na área de Menton, na Riviera francesa, que totalizam cerca de 12 acres. No início deste ano, Mirazur assumiu o compromisso de não ter plástico. “Não conseguia imaginar reabrir o restaurante como era antes. Perdi toda a motivação. Foi um momento realmente difícil para mim. Mas eu sabia que este era o momento de mobilizar e provocar mudanças”, confessou. www.economiaemercado.co.mz | Novembro 2020
Se encontrar uma garrafa mais velha de Chateau Musar saberá o que é prazer Massaya Rosé Bekaa Valley 2018 – Orgânico Castas Cinsault e Syrah Notas de Prova Framboesa brilhante, creme de morango e cereja ácida Teor Alcoólico 13,5%
os misteriosos
vinhos tintos
do Líbano
com a pandemia e todos os danos que ela tem
Chateau Musar Bekaa Valley Musar Jeune 2018 Castas Cinsault, Syrah e Cabernet Sauvignon Notas de Prova Apontamentos de amora, framboesa, groselha preta e cereja, um pouco de tom picante quente com um final forte, mas refinado Teor Alcoólico 15%
Domaine des Tourelles Bekaa Valley Cinsault Vieilles Vignes 2017 Castas Cinsault Notas de Prova Fermentando os vinhos em tanques de betão, utilizando leveduras selvagens aumentam a expressão mais pura daquela uva e que resultam num vinho flexível que reflecte o terroir do Vale de Bekaa, com potencial de envelhecimento de vários anos. Teor Alcoólico 14% www.economiaemercado.co.mz | Novembro 2020
causado às economias, empresas e relações pessoais, e as consequências diárias das alterações climáticas, 2020 tem sido um ano difícil para todos. E para o vinho também. O país encontra-se numa crise económica e política há vários anos, o que tornava a vida difícil já antes da pandemia. A enorme e prejudicial explosão que abalou Beirute a 4 de Agosto foi o último trauma nacional. O povo libanês consome, em média, cerca de oito milhões de garrafas de vinho por ano, metade das quais são libanesas e as restantes importadas, conta Marc Hochar ao NY Times, cuja família é proprietária de Chateau Musar, o principal produtor libanês, que alcançou fama pelos seus vinhos sob o seu pai, Serge Hochar. A indústria vitivinícola libanesa teve de demonstrar a sua resiliência durante décadas, navegando na sua maioria através de 15 anos de guerra civil. Quando a guerra terminou, em 1990, apenas cinco adegas estavam a operar no Líbano. Em 2018, havia cerca de 50. Os vinhos libaneses não são assim tão semelhantes. O Massaya é feito de grenache, cinsault e tempranillo; o Musar Jeune de cinsault, syrah e cabernet sauvignon; e o Tourelles unicamente de cinsault. Se não encontrar estes vinhos, experimente quaisquer vinhos libaneses que encontre, mesmo os brancos, que são frequentemente feitos com as uvas indígenas obaideh e merwah. Se puder encontrar uma garrafa mais velha de Chateau Musar — Musar Jeune vai sentir o que é prazer. “Compreender o Líbano não é fácil”, dizia Serge Hochar em 2012. “A dimensão do gosto no Líbano é diferente de qualquer outro lugar. Não melhor, mas diferente. Melhor não tem significado”. A ideia deste mês não é tanto comparar os vinhos, mas ver se conseguimos sentir uma diferença libanesa. E, embora 2020 tenha sido um desafio para todos nós, talvez possamos poupar algumas ideias também para o povo libanês. “O vinho está acima da política”, disse também Serge Hochar em 2012. “O vinho é tolerância”.
Chateau Musar — Musar Jeune 2014 Castas
Cinsault (60%), Syrah (20%) e Cabernet (20%) Notas de Prova
Combina aromas de frutas e especiarias, mostrando-se macio e fresco no palato Teor alcoólico
14%
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Instinto de Sobrevivência
Decorre até 24 de Novembro do corrente ano
“Instinto de Sobrevivência” o retrato da luta trinta e uma mulheres em diferentes estágios de cancro de mama emprestaram as suas histórias de vida aos cliques de câmaras fotográficas, para dar vida a uma exposição fotográfica intitulada ‛Instinto de Sobrevivência′ aberta ao público no passado dia 27 de Outubro na Galeria do Porto de Maputo. A exposição encontra-se inserida no projecto com o mesmo nome pertencente à Casa Rosa Moz, uma associação de luta contra o cancro de mama e do colo do útero. São mulheres de diferentes cantos do mundo, desde Moçambique até aos Estados Unidos da América, passando por Angola, Brasil, e Portugal, que, como borboletas, tiveram que activar o seu “Instinto” e passar por uma verdadeira metamorfose executando acções necessárias para a sua sobrevivência. As fotografias são da au-
contra o cancro de mama toria de Nyimba Art de Moçambique, Ana Bee de Portugal, Carey Kirkella dos EUA, Mateus Gaspar de Angola e Ana Paula Tynyzsin do Brasil. O projecto Nyimba Art teve o desafio de fotografar as oito mulheres moçambicanas para esta exposição. Habituada a pintar mulheres grávidas para posteriormente as fotografar, Ana Lúcia Silva, ou simplesmente “Nwetana” como é conhecida no mundo cultural, foi a fotógrafa da Nyimba Art, que, através de sua arte, mostrou a história dessas oito inspiradoras mulheres. A borboleta foi a primeira ideia que pairou na mente da artista plástica e fotógrafa, quando lhe foi fei-
Lucrécia Bernardo recebeu o diagnóstico de cancro em 2017. O medo da reacção social levou-a a isolar-se www.economiaemercado.co.mz | Novembro 2020
to o convite para fazer parte do projecto, tanto que a presença de traços daquele insecto nas fotos é bastante notória. “A borboleta é um insecto que vem de uma lagarta. Há uma metamorfose na vida deste animal. Vive primeiro estagnada no casulo, mas depois mostra-se ao mundo. Senti que esta também era uma oportunidade dessas mulheres se mostrarem ao mundo”, acrescentou a fotógrafa. Lucrécia Bernardo, de 48 anos, recebeu o diagnóstico de cancro de mama em 2017. O medo da reacção social levou-a a isolar-se por muito tempo. Mais tarde, após participar em reuniões sobre o assunto, decidiu partilhar a sua história. A participação dela nas fotografias que dão vida à exposição é resultado desse anseio.
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aircar da KleinVision
AirCar, o carro que cruza é um sonho antigo que a
O AirCar leva um motor BMW de 1,6 litros. Pode chegar aos 200 km/h e levar cerca de 200kg de carga.
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empresa de tecnologia da Eslováquia, a KleinVision, tornou realidade: um veículo que funde, sem confundir, um carro com um avião. Nasceu assim o AirCar, um carro voador na sua forma e função. Testado recentemente no aeroporto de Piestany na Eslováquia, onde se viu o protótipo a percorrer a pista e depois levantar voo, não deixa de ser interessante que, numa altura em que a maioria das empresas com este tipo de projectos aposta em descolagem/aterragem vertical, a KleinVision decida adoptar uma abordagem tradicional. Mais impressionante é ver a forma como as asas e a cauda do AirCar são recolhidas quando é altura de circular pelo alcatrão, bastando, para isso, pressionar um botão. Ou seja, tem uma hélice na parte traseira e asas
que se dobram quando o veículo está em solo, ocupando, assim, um espaço normal de estacionamento. A proposta é que o AirCar possa ser utilizado para viagens de lazer ou como serviço de táxi comercial. “As pessoas podem conduzir o AirCar para o campo de golfe, escritório, shopping ou hotel e estacioná-lo num espaço normal para o efeito”, disse o co-fundador do projecto, Anton Zajac. Segundo os seus desenvolvedores, com um motor BMW de 1.6 litros, o veículo é capaz de cruzar os céus a 200km/h e pode levar o motorista/piloto e mais um passageiro. Além disso, pesa pouco mais que uma tonelada e pode transportar uma carga adicional de aproximadamente 200kg. Também foi projectado de forma a que a sua estabilidade e controlo sejam acessíveis a qualquer piloto, sem a
Foi projectado para que o seu controlo seja acessível a pilotos sem necessidade de treino especializado
o céu e a terra necessidade de treinamento especializado. Quando todos os testes de voo exigidos por lei forem concluídos, o plano é equipar o veículo com um motor mais potente para tê-lo pronto para venda em seis meses. O modelo foi projectado por Stefan Klein, autor de um outro projecto de carro voador divulgado em 2018, o AeroMobil. O AirCar, entretanto, foi desenvolvido pela própria companhia do designer de automóveis. Embora permaneça indisponível comercialmente, o protótipo parece funcionar muito bem. A KleinVision adiantou estar já a trabalhar numa nova versão que, graças a um motor mais leve, atingirá os 300km/h. Trata-se de uma versão anfíbia (que permite viajar sobre terra, água e ar) para a qual a empresa espera ter as licenças e aprovações legais para poder comercializar o veículo a partir de 2021.
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