BANCO CENTRAL OS PONTOS FORTES E FRACOS DA GESTÃO DE POLÍTICA MONETÁRIA INOVAÇÃO COMO AS MEGA-CIDADES AFRICANAS LIDAM COM AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS LÁ FORA COVID-19 DESEMPREGOU 13 MILHÕES DE MULHERES NA AMÉRICA LATINA
AS PROFISSÕES DO FUTURO
A E&M analisa a rápida evolução no tipo de competências que a revolução tecnológica exige do capital humano no País e no mundo EDIÇÃO MARÇO - ABRIL 15/03 a 15/04 • Ano 04 • Nº 35 2021 • Preço 250MZN
MOÇAMBIQUE
ESPECIAL GARIMPO POPULAÇÃO DE MANICA DESAFIA O PERIGO EM BUSCA DO OURO
SUMÁRIO 6
OBSERVAÇÃO
RD CONGO A imagem de um país que enfrenta uma crise humanitária grave: ataques, covid-19 e ébola
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RADAR
Panorama Economia, Banca, Finanças, Infra-estruturas, Investimento, País
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ESPECIAL GARIMPO
57 ÓCIO 58 Escape À descoberta das várias faces e fascínios da cidade de Maputo 60 Gourmet Como a indústria da restauração se está a reinventar perante a pandemia 61 Adega A nova linha de vinhos que, mesmo sem álcool, tem mais adeptos 63 Arte “Liturgia do Silêncio”, a obra inspirada nos momentos de introspecção de Salvador Muchidão 64 Ao volante A Honda lançou o Legend, o primeiro veículo com autonomia de nível 3
Ouro Garimpeiros ignoram o perigo dos túneis precários numa actividade inglória, que os mantém pobres
20 NAÇÃO PROFISSÕES DO FUTURO 20 Revolução tecnológica Especialistas avisam que é preciso investir em infra-estruturas e mudar o ensino 30 Entrevista Jorge Ferrão fala do caminho a ser trilhado pela academia para não perder o barco da digitalização 34 Futuro da África Muitas pesquisas prevêem uma rápida evolução do trabalho apesar da elevada pobreza
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MERCADO E FINANÇAS
Política monetária Especialistas divergem quanto à eficácia das medidas de gestão do Banco Central em tempos de crise
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ESPECIAL INOVAÇÃO
Tecnologia As grandes tendências da Inovação em Moçambique, no continente africano e no mundo
www.economiaemercado.co.mz | Julho 2020
54 LÁ FORA América Latina Relatórios de organizações multilaterais falam de 13 milhões de mulheres que ficaram sem emprego devido à pandemia
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EDITORIAL
As profissões do futuro e as que vão acabar
a
Celso Chambisso • Editor da Economia & Mercado revolução tecnológica já está a impor mudanças estruturais no mercado de trabalho e com tendência a acelerar com o tempo. O que está em voga, hoje, vai muito além da velha questão de os homens serem substituídos pelas máquinas, que, por muito tempo, alimentou temores de um crescimento exponencial do exército de desempregados pelo mundo. Sem significar que tal temor não faça sentido, a grande preocupação da actualidade está em preparar o caminho para conferir outro tipo de competências ao capital humano, competências estas que estão completamente fora dos padrões tradicionais de formação já instituídos. Hoje, o mundo anda a duas velocidades: a dos países desenvolvidos, onde a disponibilidade de infra-estrutura tecnológica já possibilita a visualização do futuro das profissões, e a dos países pobres que, mesmo sem recursos para fazerem tanto por essa migração, são forçados a criar mecanismos de avanço para não sucumbirem num mundo que será cada vez mais dominado por processos produtivos muito mais rápidos e eficientes. Nesta edição, o prezado leitor tem a possibilidade de fazer o update das profissões que começam a entrar em cena, das que terão de ser esquecidas, das que vão evoluir e das que se vão ajustar aos tempos da 4ª Revolução Industrial. Tem também a possibilidade de conhecer mais a fundo o que, de facto, está a mudar à escala global e o que deve ou deveria acontecer em Moçambique – país que enfrenta uma série de obstáculos que vão desde o elevado índice de analfabetismo até ao relativamente fraco investimento em infra-estrutura tecnológica – para causar a disrupção que se pretende a este nível. Académicos, especialistas em tecnologia e em Recursos Humanos ajudam a desvendar os mistérios e a traçar cenários em torno do futuro do trabalho… ou será do trabalho do futuro? É igualmente tema de relevo desta edição a postura do Banco de Moçambique na condução da política monetária, mesmo a propósito dos questionamentos que os entendidos em ciência económica e empresários têm levantado acerca da eficácia das suas intervenções. Trata-se de um assunto oportuno, na medida em que é abordado a propósito da última revisão em alta da taxa de juro de política, denominada por taxa MIMO, em Janeiro último, e que terá servido como barril de pólvora para desencadear novas críticas e acesos debates. No artigo “Especial” que habitualmente trazemos com assuntos “fora da caixa”, a E&M leva o leitor uma viagem pelas minas de ouro da província de Manica, onde irá percorrer os corredores por onde se move o garimpo ilegal, prática que ignora todos os riscos associados, mata, não alivia os elevados índices de pobreza, mas, mesmo assim, não desencoraja as populações de ali permanecerem. O perigo vai coabitando com a pobreza mesmo perante o olhar inconformado das autoridades.
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MÊS ANO • Nº 01 15 MARÇO | 15 ABRIL 2021 • Nº 35 propriedade Executive Mocambique DIRECTOR EXECUTIVO Pedro Liquatis nienis doluptae velit etCativelos magnis pedro.cativelos@media4development.com enis necatin nam fuga. Henet exceatem EDITOR EXECUTIVO Celso Chambisso seque cus, sum nis nam iu Qui te nullant JORNALISTAS Cármen Cristina adis destiosse iusci re inRodrigo, prae voles Freire,laborendae Elmano Madaíl, Lopes, sant nihilibRicardo uscius David sinusam Rogério Macambize, Rui Trindade, Yana de rehentius eos resti dolumqui dolorep Almeidavendipid que ea et eumque non reprem PAGINAÇÃO José Mundundo, Gerson Quive nonsent qui officiasi FOTOGRAFIA Silva lorem ipsumMariano Executive Mocambique REVISÃO Manuela Rodrigues dos Santos Liquatis nienis doluptae velit et magnis ÁREA COMERCIAL Nádia Pene enis necatin nam fuga. Henet exceatem nadia.pene@media4development.com seque cus, sum nis nam iu Qui te nullant CONSELHO adis destiosseCONSULTIVO iusci re in prae voles Alda laborendae Salomão, Andreia António sant nihilibNarigão, uscius sinusam Souto; Bernardo Aparício, Denise Branco, rehentius eos resti dolumqui dolorep Fabríciavendipid de Almeida Frederico reprem queHenriques, ea et eumque non Silva, Hermano Juvane, Iacumba Ali Aiuba, nonsent qui officiasi João Gomes, Narciso Matos, Rogério Samo lorem ipsum Liquatis nienis doluptae Gudo,etSalim Cripton Valá, Sérgio velit magnis enis necatin namNicolini fuga. ADMINISTRAÇÃO, REDACÇÃO Henet exceatem seque cus, sum nis nam E PUBLICIDADE Media4Development iu Qui te nullant adis destiosse iusci re in Rua Ângelo Azarias Chichavanihilib nº 311 uscius A— prae voles sant laborendae Sommerschield, Maputo – Moçambique; sinusam rehentius eos resti dolumqui marketing@media4development.com dolorep reprem vendipid que ea et IMPRESSÃO E ACABAMENTO eumque non nonsent qui officiasi Minerva ipsum Print - Maputo Moçambique lorem Liquatis-nienis doluptae TIRAGEM 4 500enis exemplares velit et magnis necatin nam fuga. PROPRIEDADE REGISTO Henet exceatemDO seque cus, sum nis nam Executive Moçambique iu Qui te nullant adis destiosse iusci re in EXPLORAÇÃO COMERCIAL prae voles sant EDITORIAL laborendae Enihilib uscius EM MOÇAMBIQUE sinusam rehentius eos resti dolumqui Media4Development dolorep reprem vendipid que ea et NÚMEROnon DEnonsent REGISTO eumque qui officiasi 01/GABINFO-DEPC/2018 lorem ipsum Liquatis nienis doluptae velit et magnis enis necatin nam fuga. Henet exceatem seque cus, sum nis nam iu Qui te nullant adis destiosse iusci re in prae voles sant laborendae nihilib uscius sinusam rehentius eos resti dolumqui dolorep reprem vendipid que ea et eumque non nonsent qui officiasi
www.economiaemercado.co.mz | Abril 2019
OBSERVAÇÃO
RDC, 2021
UM PAÍS, TRÊS INIMIGOS LETAIS Corre o mundo a notícia do assassinato de Luca Attanasio, embaixador italiano na República Democrática do Congo (RDC), num ataque terrorista durante uma missão do Programa Alimentar Mundial. Mas este incidente é apenas uma das várias questões que alertam a comunidade internacional sobre a gravidade da instabilidade naquele país, há muito visto como um dos territórios menos habitáveis do mundo. Além da já conhecida instabilidade, a convergência de grupos terroristas que protagonizam prolongados conflitos militares e que fazem, todos os dias, dezenas de mortes e milhares de deslocados, os congoleses também estão expostos, obviamente, aos efeitos da pandemia do novo coronavírus, o segundo inimigo, embora de âmbito global. Na RDC, o vírus já tinha matado mais de 700 pessoas em pouco mais de 26 mil casos em meados de Março. Mas os maus ventos que sopram em direcção àquela nação da África Central não dão tréguas: ressuscitaram o vírus do ébola, que tinha sido erradicado em Novembro do ano passado e que, em concorrência com o coronavírus, vai matando e adicionando pressão ao já frágil sector da saúde, tendo levado a OMS a elevar a incidência do ébola para o nível de emergência sanitária internacional. Se o acesso à vacina do covid-19 é uma batalha difícil, imagine-se a busca pela solução de duas epidemias! Sem contar que todos estes problemas trazem resultados catastróficos ao nível da estabilidade macroeconómica hoje testemunhados pela RDC.
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RADAR BANCO MUNDIAL DIZ QUE 2021 SERÁ DE “RECESSÃO”
O Banco Mundial considera que a economia moçambicana deve continuar em recessão este ano, caindo 0,8% do PIB, depois de no ano passado ter sofrido uma queda de 1,3%, e depois apresentar uma forte recuperação apenas a partir do próximo ano. “A economia de Moçambique deve continuar a recuperar gradualmente, mas continua a haver riscos substanciais devido à incerteza sobre o rumo da pandemia do covid-19”, lê-se na mais recente análise do Banco Mundial à economia moçambicana, divulgada em Washington. Nesta 6ª edição do relatório, designado por “World Bank Mozambique Economic Update: Setting the Stage for Recovery”, aponta-se que a pandemia que atingiu a economia de Moçambique terá retrocedido substancialmente os esforços de recuperação da crise da dívida e dos efeitos dos ciclones tropicais de 2019. Refere-se também que a queda do PIB real em 1,3% no ano passado está bastante longe da estimativa pré-covid de 4,3%, o que se terá verificado devido à redução da procura agregada das medidas de bloqueio necessárias para conter o vírus que “perturbaram as cadeias de abastecimento”. No entanto, o relatório observa que as perdas de postos de trabalho e o encerramento de empresas, embora significativas, “foram comparativamente mais baixas do que noutros países de contexto económico similar”. “Apesar dos esforços concertados para conter a sua propagação e mitigar os seus efeitos, a covid-19 continua a afectar negativamente as famílias e empresas, atrasando o progresso do País em direcção aos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)”, observou Idah Pswarayi-Riddihough, Directora do Banco Mundial para Moçambique, Madagáscar, Ilhas Maurícias, Seicheles, Comores.
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ECONOMIA Financiamento. A Société Générale, instituição financeira que opera há cinco anos no mercado moçambicano e a Proparco - uma agência francesa de desenvolvimento, rubricaram, a 16 de Março, um acordo de partilha de risco para o financiamento das Micro Pequenas e Médias Empresas (MPME) nacionais, tendo como prioridade as do ramo do agro-negócio e o empreendedorismo feminino. O valor envolvido é de três milhões de euros (equivalentes a mais de 260 milhões de meticais ao câmbio actual). O risco será também partilhado pela União Europeia, pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento e pelo Grupo de Estados de África, Caraíbas e Pacífico (ACP).
Taxas de juro. O economista-chefe do Standard Bank Moçambique, Fáusio Mussá, considera que o Banco Central poderá preparar outro aumento da taxa de política monetária (taxa MIMO), caso as pressões inflacionárias se mantenham. Trata-se de uma notícia desagradável para o sector privado que, mesmo protestando, ainda procura refazer-se da última subida desta taxa em Janeiro passado, em 300 pontos base, para 13,25%. Comentando os resultados do mais recente inquérito do Standard Bank, denominado Purchasing Managers’ Index™ (PMI), Fáusio Mussá
lembrou que, segundo a última publicação do Instituto Nacional de Estatística, a inflação anual aumentou para 4,1% em Janeiro, face aos 3,5% de Dezembro. “Os temporais e chuvas intensas ocorridos em certas regiões do País desde o início do ano poderão afectar negativamente a produção de alimentos e, por esta via, gerarão uma pressão adicional sobre a inflação”, afirmou. Negócios. A empresa Nacala Logistics fechou o ano de 2020 com um prejuízo de 31 milhões de dólares, no resultado líquido. O resultado financeiro foi demasiadamente afectado pela redução das receitas resultantes do baixo volume de transporte e manuseio de carvão e de carga geral no Corredor de Nacala. O Relatório de Produção e Financeiro do 4º trimestre de 2020 indica que o transporte de carga geral diminuiu em cerca de 40%, enquanto o transporte e embarque de carvão teve um decréscimo de cerca de 20% em relação ao ano anterior. No mesmo período, a Nacala Logistics registou um resultado operacional de 84 milhões de dólares, menos 27%, em relação a igual período de 2019. Dívida privada. O Instituto Financeiro Internacional (IFI), que representa os credores privados, considera que Moçambique está entre os países que mais provavelmente poderão aderir ao Enquadramento Comum do G20 para reestruturar a dívida privada. “Os países que já participaram na Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI) e têm necessidades elevadas em termos de serviço da dívida são os que mais provavelmente poderão aderir ao Enquadramento Comum” para o tratawww.economiaemercado.co.mz | Março 2021
mento da dívida para além da DSSI, lê-se numa nota de análise escrita pelo departamento de estudos económicos do fórum que juntou os credores privados a nível mundial.
EXTRACTIVAS
lhões de toneladas em 2019, lê-se em comunicado. Segundo os resultados financeiros da Vale relativos a 2020, a receita líquida de vendas de carvão caiu 54%, de mil milhões de dólares em 2019 para 473 milhões de dólares. O prejuízo do segmento de carvão agravou-se em 74%, de 533 milhões de dólares em 2019 para 931 milhões de dólares em 2020. Estas perdas afectam em grande medida as exportações do País.
Exxon Mobil. A petrolífera
Conteúdo local. A LAM (Linhas Aéreas de Moçambique) assinou um acordo com a petrolífera francesa Total para prestar transporte na rota Maputo-Pemba-Afungi, anunciou recentemente a companhia. O contrato de três anos, cuja efectividade teve início a 1 de Março, reflecte o princípio de valorização do conteúdo local e, com base no mesmo, a LAM dedica à TOTAL uma aeronave do modelo Bombardier Q400. O entendimento entre as duas empresas ocorreu depois de uma série de auditorias que a multinacional fez à companhia aérea para aferir o grau de cumprimento dos requisitos exigidos aos operadores de voos para projectos desta natureza. Carvão. As principais minas de carvão de Moçambique perderam um terço da produção e mais de metade das receitas de venda, agravando o prejuízo em 2020, face ao ano anterior, segundo dados divulgados pela empresa brasileira Vale em Maputo. A produção total do ano “situa-se em 5,9 milhões de toneladas, reflectindo os impactos da pandemia do covid-19” após uma produção de 8,8 miwww.economiaemercado.co.mz | Março 2021
norte-americana Exxon Mobil adiou, pelo terceiro ano consecutivo, a Decisão Final de Investimento (DFI) sobre o projecto de exploração de gás natural em Moçambique, colocando em dúvida o investimento de 30 mil milhões de dólares. De acordo com a agência de informação Bloomberg, que cita o vice-presidente da empresa, Neil Chapman, durante uma conversa com analistas, não há previsão sobre quando será tomada a DFI, já que a petrolífera precisa de garantir o fornecimento de energia por parte da fábrica vizinha, operada pela francesa Total.
Recursos minerais. Os produtos minerais extraídos em Moçambique passarão a ostentar, a partir do próximo mês de Abril, um certificado de origem para a sua exportação. Para o efeito, o Governo vai lançar em breve a embalagem e o respectivo certificado. “Já temos a embalagem e o certificado aprovados, sendo que o seu lançamento é uma questão de datas”, garantiu Castro Elias, secretário executivo do processo Kimberley (um procedimento internacional para a certificação de origem de alguns produtos para evitar fluxos financeiros ilícitos com destaque para o diamante).
OPINIÃO
A disrupção pelo e-commerce Bruno Dias • Partner – Business Consulting EY
O
mercado e-commerce apresentava fortes taxas de crescimento em vários relatórios de analistas elaborados no período pré-pandemia, muitos deles apontando taxas anuais de crescimento composto superiores a 30% no período entre 2019 a 2024. Este facto foi acelerado pela pandemia e a penetração do comércio electrónico registou um crescimento súbito e extremamente rápido em 2020. A título de exemplo, nos EUA, em apenas 8 semanas, foi registado +11% de crescimento absoluto do comércio electrónico, elevando a penetração das vendas de e-commerce até 27% em comparação com o total das vendas no retalho tradicional. Espera-se que um crescimento tão significativo das vendas de e-commerce tenha um impacto duradouro mesmo após o fim da pandemia, uma vez que irá mudar os hábitos de consumo e, consequentemente, o comportamento dos consumidores. Mesmo que se tenha feito compras tradicionalmente em lojas de retalho físico, um novo hábito está a ser formado de compras de e-commerce e, uma vez ultrapassado o obstáculo inicial da “barreira digital”, as contas online e os meios de pagamento ficam configurados bastando clicar num botão para fazer compras repetidas, 24*7 e sem ter de esperar na fila carregando sacos e desfrutando de conveniência. A migração de consumidores cada vez mais para os canais digitais está para ficar. Em Moçambique é de salientar a elevada taxa de crescimento de utilizadores de internet – 25,5% no último ano. Este crescimento, aliado à crescente bancarização, actua positivamente na penetração do e-commerce e tenderá a
elevar os actuais 9,5% da população que faz compras e/ou paga contas online para mais próximo da média mundial que se situa nos 29%. As plataformas de e-commerce têm evoluído de arquitecturas básicas, que permitem navegar catálogos de produtos, executar self-service, manter contas personalizadas e ter uma experiência unificada em vários canais, para novos paradigmas de interacção e novos modelos de experiência do consumidor. De facto, a experiência do cliente é neste momento a prioridade, transversalmente a marcas, produtos e canais. A utilização da inteligência artificial neste desígnio é uma realidade permitindo o conhecimento de padrões de comportamento e necessidades do consumidor e o match optimizado da oferta com a procura. A tecnologia dá poder aos consumidores uma vez que faculta maior transparência nos preços. Isto força os retalhistas a uma maior competição pelo preço, com consequente impacto nas margens. Aqueles retalhistas que não são competitivos no preço no online arriscam-se a ter fortes impactos nas vendas. A emergência de novos modelos de negócio e canais que melhor se encaixam nas necessidades dos consumidores têm-nos feito divergir dos conceitos tradicionais. Esta mudança tem pressionado o retalho físico e muitos players têm optado pelo fecho de lojas. Um movimento interessante que se tem visto recentemente são parcerias e aquisições para ocupar um espectro maior na cadeia de valor. Por exemplo, a Walmart associou-se à Instacart para fornecer entregas mais rápidas
A emergência de novos modelos negócio e canais que melhor se encaixam nas necessidades dos consumidores têm-nos feito divergir dos conceitos tradicionais. Esta mudança tem pressionado bastante o retalho físico e muitos players têm optado pelo encerramento de lojas
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A fusão da Walmart com a Instacart é um exemplo de eficiência no serviço ao cliente
aos seus clientes e a competir com a divisão Whole Foods da Amazon que faz entregas no mesmo dia. O retalhista tradicional aliou-se assim a um operador logístico numa lógica “win-win” no online. Outro movimento observado prende-se com o facto dos disruptores teram transformado produtos em serviços que podem atender às maiores necessidades dos consumidores. Todos temos a experiência de entrar em lojas de centros comerciais onde a roupa está espalhada, tornando muito difícil montar uma combinação adequada de artigos. Este tipo de ambiente oferece muito pouco valor aos consumidores, uma vez que é difícil e frustrante de navegar. Em contraste, a stylist digital “Stitch Fix“ reúne combinações de roupas na sua plataforma online, emparelhadas por algoritmos e dados do cliente para prever que roupa vão querer usar. Com base em combinações de cores, padrões e têxteis favoritos dos consumidores, novos produtos são então sugeridos para aprovação de designers humanos. Como resultado deste processo, os clientes economizam tempo na selecção de uma roupa e têm maior agilidade e eficácia na escolha. www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
Enquanto alguns retalhistas têm conseguido aumentar a sua penetração online, outros têm tido dificuldades por um conjunto de razões, como cadeias de distribuição e sistemas de IT não adaptados às novas realidades digitais e dificuldade na adaptação do modelo de negócio aos novos paradigmas. Um exemplo de sucesso é o Walmart cujo preço por acção caiu 10% inicialmente, em Outubro de 2015, quando a sua gestão anunciou uma mudança de paradigma para modelos de negócio digitais numa perpectiva de desenvolvimento do negócio de longo prazo. Os investidores que decidiram permanecer com acções foram compensados já que estas aumentaram 138% até Agosto de 2020. Durantes este período, a Walmart viu algumas das suas decisões mais ousadas de mudança de paradigma darem frutos. O retalho está, assim, numa encruzilhada e os retalhistas tradicionais estão sob pressão de disruptores que conseguem satisfazer as necessidades dos consumidores de forma rápida e eficiente. Pense bem – imagino que queira estar do lado dos disruptores nesta nova realidade.
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ESPECIAL
GARIMPO DESCONTROLADO: O ELO MAIS FRACO DOS MINÉRIOS MOÇAMBICANOS Há garimpeiros de todas as idades que aceitam trabalhar em túneis precários. Dizem não ter alternativas para se sustentar a si e às famílias. Veteranos dizem que há formas de minimizar os riscos, mas as mortes sucedem-se Texto André Catueira * Serviço especial da agência Lusa para a Economia & Mercado • Fotografia André Catueira
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chuva cai forte e ainda não passaram três dias desde o último acidente mortal com um garimpeiro em Fenda, distrito de Manica, no centro de Moçambique. “Não ouvem nada quando a gente fala em prevenção. Quando dizemos para não trabalharem em zonas perigosas”, queixa-se Manuel Pedro, 69 anos, o garimpeiro mais velho daquela zona de extracção ilegal de ouro. “Eles entram, a maioria de noite, sozinhos, com alavanca, pá e um saco. Vão para garimpar sozinhos” explica, sem aprofundar mais detalhes sobre o mais recente infortúnio. Uma morte a coberto de uma actividade informal e ilegal e
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que por isso não vai constar de estatísticas, nem aparecer nas notícias. A época ciclónica tem sido muito activa, os riscos aumentam, mas nem isso demove os garimpeiros, que dizem não ter outra forma de sustentar as famílias. Mesmo quando encaram a morte. Para as empresas que operam no sector, eles são vistos como um risco para a segurança dos terrenos, promovendo a erosão. São também apontados como um risco para transacções financeiras ilícitas, dada a informalidade em que vivem. Mas entre umas análises e outras, o garimpo está no terreno. Nem a forte precipitação da actual época das chuvas o tem parado. Porque é que persiste? Manuel Pedro, o escavador mais antigo
de Fenda, trabalha na mineração há 33 anos e gaba-se de ter sustentado “muitos filhos” graças à venda de ouro, numa área com um grande contraste entre a intensidade da exploração e a pobreza que caracteriza a região. Hoje, diz que tem ensinado aos jovens formas de “ter cuidado” no garimpo. Mas os acidentes são inevitáveis. “Já assisti a muitos acidentes. Nem dá para contar. Foram vários e eu a ver mortos entre amigos, encarregados do garimpo ou outros colegas”, relata Belito Paulino, 29 anos, há dois no garimpo em Fenda. O risco é grande, mas “se ficar em casa não tenho como sustentar a família. Por isso, arrisco”. É difícil perceber como se pode ter cuidado perante a paisagem caówww.economiaemercado.co.mz | Março 2021
GARIMPO em grupos, pequenos ou maiores. Tudo escorado por tábuas, pás, pedras e uma boa dose de instinto. Tira-se a terra para o exterior, peneira-se para procurar ouro. Ou remexe-se o leito do rio com um prato ou outra base, sacode-se a água e outras areias para tentar encontrar o mineral no fundo. São condições impiedosas, garantem, daquelas que “provocam febres”. Este revirar a terra com ferramentas manuais em busca de prosperidade é frequente em Moçambique, em muitas regiões de abundância de minerais e nas imediações de unidades de extracção de ouro, turmalinas, rubis ou outros recursos. As condições precárias de segurança tornam a actividade mineira artesanal arriscada em vários túneis, alguns com 60 metros de comprimento, sustentados por estacas de plantas nativas e galhos de restos de eucaliptos coloniais. Ao largo da agitação das escavações, um representante de compradores estrangeiros tem a sua banca com uma pequena balança electrónica onde pesa e avalia as pequenas partículas de ouro recolhidas por cada grupo – outros vão até à sede de distrito vendê-las, depois de se abastecerem com alguns bens essenciais. Essas trocas estão à distância de uma caminhada desde os campos de extracção. Entramos numa área de alojamento. Um bairro de lata onde tudo é precário e impróprio - mas onde uma mesa de ‘snooker’ atrai os garimpeiros.
nível mundial é outra: o ouro subiu até 2011, depois recuou, e teve nova subida a partir de 2019 para atingir máximos históricos durante a pandemia de covid-19, em 2020, superando os 2000 dólares por onça (cada onça equivale a 31 gramas) – cerca de dez vezes mais do que valia no início do século. A fatia de leão do dinheiro que se ganha com o ouro parece não ficar por estas paragens. O governo de Moçambique desenvolveu, em 2017, um programa-piloto de cooperativas minerais de pequena escala, numa tentativa de organizar o garimpo artesanal que é feito junto das zonas de extracção. O projecto encontrou resistência em muitas áreas de extracção artesanal ilegal, mas noutros locais o cenário é diferente. Oito quilómetros a norte de Fenda, percorrendo uma estrada lamacenta, chegamos a Munhena, onde os garimpeiros se associaram há 21 anos. Hoje são quase 200 a operar numa área legalizada de 200 hectares. “Estamos a trabalhar em grupos de dez pessoas” que não fazem mais do que “20 a 25 gramas” de ouro por semana, por grupo. “Mas quando estávamos bem organizados, com maquinaria”, cada grupo tirava “800 gramas por semana”, explica Noé Bernardo, o secretário da associação. A maquinaria pertencia a um sócio sul-africano, entre 2006 e 2012, mas que se retirou, queixando-se das taxas que tinha de pagar. Seja como for, Noé acredita que a
“Já assisti a muitos acidentes. Nem dá para contar. Foram vários e eu a ver mortos e feridos entre pessoas próximas: amigos, familiares, encarregados do garimpo ou colegas” tica que se vislumbra nestas terras do distrito de Manica. Eram ‘machambas’, hortas, cujos proprietários foram cedendo a pouco e pouco a grupos interessados em abrir poços e túneis. Em troca, dão uma parte das receitas do minério ao dono do terreno. Tudo em modo informal, à margem da lei, mas perfeitamente legítimo aos olhos de quem precisa de um ganha-pão. E assim surgem terras de Fenda onde já não se vêem hortas. Mais parece uma paisagem lunar, cravada de crateras, buracos fundos de onde entram e saem baldes presos por cordas. Entram e saem pessoas da cor da argila. Tudo fervilha de vida, sem sorrisos e sem parar, como na rotina de um formigueiro. Trabalham www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
Muitos moram por ali, outros montam cabanas no mato. Mas é no bairro de lata que trocam pequenas partículas de ouro por farinha, peixe seco salgado ou “boss”, uma bebida espirituosa tão artesanal como o garimpo. Hoje dá para trocar cinco copos de farinha por ‘um ponto’, que corresponde a 300 meticais, sendo que dez pontos equivalem a um grama de ouro. Depois de se abastecerem, os garimpeiros enviam o resto da receita para a família, que geralmente vive noutras paragens. A “ajuda” para a família é a expressão que mais se ouve entre os testemunhos. Os homens que reviram a terra queixam-se de uma queda, que já dura há muito, do preço local do ouro, mas a verdade da cotação a
organização é o caminho a seguir. Muitos garimpeiros são vítimas da sazonalidade das oportunidades. Empurrados para uma actividade arriscada porque as mais básicas necessidades o impõem. Constância Caruru, 28 anos, largou o comércio informal numa banca. O garimpo é hoje o seu único ‘ganha-pão’, relata, sacudindo os ombros quando confrontada com a sucessão de notícias de acidentes mortais com garimpeiros em Moçambique. “Quais são as alternativas?”, contrapõe. “Já estou aqui há uma semana. Ganhei coragem de vir para o garimpo para sustentar os meus filhos, porque ficando em casa não tinha como sustentar a família”, diz Constância, falando em shona, a língua local. Já hou-
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ESPECIAL MORTES, UM RETRATO CRUEL Muitos acidentes e mortes de garimpeiros não chegam a ser registados, dada a forma fortuita como a actividade é feita em muitos locais. Noutros há registos que mostram a cruel realidade do garimpo artesanal. As mais recentes mortes de garimpeiros em Moçambique aconteceram a 17 e 20 de Janeiro no norte do País, numa mina ilegal da área de concessão da Montepuez Ruby Mining (MRM), em Cabo Delgado. A mineradora alerta para os perigos da exploração ilegal e refere que o problema matou pelo menos 25 pessoas em 2020 na sua área de concessão, na maioria homens jovens de outros países ou de aldeias distantes. “As práticas inseguras por parte dos mineiros ilegais, que são normalmente supervisionados ou coagidos por sindicatos de contrabando ilegal de pedras preciosas, financiados por comerciantes estrangeiros que operam na região, continuam a resultar na perda desnecessária de vidas”, alertou a empresa.
“O homem que faz o garimpo é apenas o elo mais fraco de toda uma cadeia. O ouro acaba nas mãos de homens de fato e gravata, metidos em actividades pouco recomendáveis” ve épocas em que vendia refrescos e bolos, mas, “com a chuva, o negócio não tem dado lucro. Por aqui a agricultura é negligenciada, e as poucas plantações nos antigos e férteis campos agrícolas, emprestados agora para o garimpo, têm o milho esquálido por falta de húmus. Muitos jovens justificam a entrada para o garimpo com esta pobreza que se reflecte na produção agrícola. Faltam oportunidades de emprego e de outras actividades e agora até no garimpo receiam que a entrada massiva de operadores chineses lhes possa tirar o pão. “Eles querem os mesmos lugares onde estão a trabalhar os garimpeiros e nem estradas estão a arranjar. Só estão a levar produtos”, desabafa, Isac Watimanarero, 35 anos. Mesmo sendo garimpeiro ilegal, isso não o impede de pedir uma intervenção das autoridades face à chegada de estrangeiros. Trama Daniel, garimpeiro há sete anos, trabalha assustado em túneis que po-
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dem ser invadidos a qualquer altura por máquinas que roncam ao lado, pertencentes a uma empresa chinesa. O futuro de muitos garimpeiros e seus filhos, dizem eles, “está comprometido”. Além do ouro, também a bauxite é muito explorada na região, tanto por empresas nacionais como estrangeiras. Uma ameaça às empresas e ao sector O garimpo ilegal, visto como uma necessidade para sustentar famílias pelos garimpeiros, é também encarado como um problema pelas empresas licenciadas. Como exemplo, a Mozambique Mining Resources (MMC) - uma “joint-venture” entre investidores moçambicanos e chineses - extrai ouro na única mina subterrânea activa do País com galerias entre 120 e 160 metros de profundidade em Tete e onde é normal encontrar “intrusos”. “Os garimpeiros eram e são uma forte ameaça à nossa actividade. Além de terem faro para
o ouro, porque têm excelentes conhecimentos de geologia – são mesmo `geólogos empíricos´ –, usam técnicas nocivas ao ambiente”, disse à Lusa o director-geral da MMC, Dingane Mamadhusen, durante uma visita à mina em Outubro de 2020. Pouco tempo depois de a companhia ter iniciado actividade, em finais de 2018, teve de interromper porque a montanha que cobre uma das galerias ameaçava ruir, devido à erosão provocada pela mineração ilegal. A segurança na mina é apertada: uma força combinada da polícia moçambicana e de uma empresa privada garantem a protecção das instalações para impedir que o precioso minério chegue a mãos impróprias. O garimpo sem regras implica outros riscos: se o ouro passar de mão em mão, a partir de garimpeiros ilegais, pode acabar por financiar actividades ilícitas, incluindo o terrorismo. “O homem de tronco nu e ensopado que faz o garimpo é apenas o elo mais fraco de toda uma cadeia. O ouro acaba nas mãos de homens de fato e gravata que andam metidos em actividades pouco recomendáveis”, afirma o diretor-geral do MCC. www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
NÚMEROS EM CONTA COMO OS MAIS RICOS FICARAM... MAIS RICOS EM 2020. E QUEM SÃO? mais de 567 mil milhões de dólares foram acumulados pelas dez pessoas mais ricas do mundo em menos de um ano. E que ano, o de 2020. Para colocar o valor em perspectiva, isso é mais do que sete vezes a riqueza acumulada pelos dez maiores empresários no período de tempo anterior e 37 vezes a riqueza anual produzida em Moçambique se a estimarmos em 15 mil milhões de dólares, valor do PIB.
E basta um exemplo do que falamos: Elon Musk, da Tesla, testemunhou um aumento da sua riqueza de, pelo menos, 500% no último ano. Já Jeff Bezos, da Amazon, ganhou uns ‘interessantes’ 68,6 mil milhões de dólares a mais. Com dados da Forbes Real-Time Billionaires List, verificamos como a riqueza de vários grupos uber-affluent mudou desde o início da pandemia.
A fortuna de Bezos tem crescido quase 70% desde Março de 2020. Após 26 anos, o CEO da Amazon anunciou que se tornaria presidente executivo. Elon Musk testemunhou a sua riqueza crescer mais de cinco vezes no último ano. Em 2020, Tesla relatou o seu primeiro ano lucrativo.
Com uma participação de 33% na L’Oréal, cujas acções saltaram 25% em 2020, a fortuna da mulher mais rica do mundo aumentou 14 mil milhões. Aos 39 anos, Yang Huiyan detém uma participação de 57% na imobiliária Country Garden Holding na China.
Zhong Shanshan viu a sua riqueza crescer mais de 15 mil milhões depois da sua empresa de água engarrafada Nongfu Spring se ter tornado pública. Anteriormente o mais rico da China, Jack Ma desapareceu durante três meses após o IPO do Grupo Ant ter sido bloqueado pelos reguladores.
O mais rico da Índia atraiu financiamento do Facebook (5,7 mil milhões) e da Google (4,5 mil milhões) para criar a rede móvel da Jio Platforms. Gautam Adani controla o maior porto da Índia.
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Durante o covid-19, a riqueza do CEO do Facebook disparou com as acções a subirem 70%. Depois de passar pela Google, fundou a Pinduoduo, uma plataforma de comércio electrónico em rápido crescimento.
Sábio de Omaha, Warren tem 90 anos de idade. Petr Kellner, nascido na República Checa, 56 anos, dirige o grupo de investimento PPF que opera em 25 países a nível mundial.
O magnata do petróleo Jerry Jones é o proprietário dos Dallas Cowboys. A equipa da NFL vale 5,7 mil milhões. Arthur Blank, cofundador da Home Depot, é proprietário das Falcões de Atlanta da NFL.
Três dos dez mais ricos do mundo (excluindo os Estados Unidos e a China) são de França. Fonte Visual Capitalist
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OPINIÃO
A importância dos derivativos no mercado
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Sérgio Maciel • Head of Trading Absa Bank Mozambique - CIB Markets uando o banco de moçambique, surpreendentemente, decidiu, através do aviso nº. 5/GBM/2019 de 22 de Março, proibir transacções com recurso a taxa de câmbio à prazo, fê-lo com a nítida convicção de que havia necessidade de regulamentar este mercado, definir regras claras de actuação para os vários intervenientes e fazedores de preço e ainda pôr balizas na precificação destes instrumentos. De certa forma estavam certos. Não há mercado que funcione sem regras, sem controlo e sem clareza. Por parte do regulador, havia ainda a crença de que estas operações estariam a criar pressão adicional ao nosso metical, acelerando a desvalorização da moeda, pois as mesmas estavam a ocorrer num mercado a prazo que dificilmente se conseguia distinguir do mercado à vista. Portanto, a clara falta de transparência foi o motivo principal desta decisão que, na altura, criou grande insatisfação por parte dos agentes financeiros e do sector privado, que estavam habituados a ter estas soluções para cobertura dos seus riscos cambiais. A revolta prendia-se ao facto de o banco central estar a limitar o desenvolvimento do mercado e deixando as empresas à mercê da volatilidade da moeda. Essa ausência de regulamentação apropriada deu origem a que as diversas variáveis usadas para estipular a taxa de câmbio futura fossem feitas ao bel-prazer de cada operador, muitos ignorando as regras internacionais de conduta de mercado e precificação destes instrumentos, que constituem a bíblia de qualquer mercado financeiro. Com a recente aprovação do Aviso nº. 1/GBM/2021 de 4 de Fevereiro, sobre os derivativos financeiros, é oportuno colocar sob os holofotes os impactos destes instrumentos no mercado financeiro moçambicano. Os derivativos são negociados sob a forma de um contrato, no qual estão especificados as moedas envolvidas, os montantes, os prazos de liquidação e forma de cotação do activo sobre os quais se efectua a respectiva negociação. Assim, seja qual for a tendência dos preços no mercado à vista, os intervenientes têm a garantia de que na data futura terão o preço acordado previamente. Os derivativos classificam-se em contratos Futuros, Opções de compra e venda, operações de Swaps, entre outros, tendo cada um dos instrumentos as suas características e especificidades. Como todos os mercados, o dos derivativos, também
será constituído por normativos e de certeza algumas intervenções do regulador que, de certa forma, determinarão o modo pelo qual os intervenientes poderão se comportar, ficando por saber se o mercado de derivativos terá um controlo rígido tal e qual é imposto no mercado à vista. Se não houver diferenças regulatórias entre eles, provavelmente não teremos o mesmo cenário vivido em 2019, que obrigou o banco central a cancelar transacções com recurso a taxa de câmbio a prazo. Portanto, a acção do banco central vai ser relevante, não só do ponto de supervisão e fiscalização, mas sobretudo no seu papel de interveniente no mercado. Não tenho dúvidas de que estes instrumentos representam uma tema complexo, com muito ainda por ser estudado. Mas, também, tenho a certeza que os derivativos vão de certa maneira proteger os nossos agentes económicos contra as variações adversas na moeda e na taxa de juro, vão permitir a transferência dos riscos oriundos dessas flutuações e, ao mesmo tempo, vão permitir que todos os intervenientes tenham um fluxo de liquidez mais previsível e, consequentemente, com um melhor planeamento de gestão de tesouraria. Paralelamente, veremos ainda um aumento considerável do número de negócios, resultando, assim, numa maior liquidez no mercado. Não menos importante vai ser o facto de o nosso mercado passar a dispor de mais instrumentos financeiros para oferecer aos seus clientes, sobretudo para as grandes empresas e investidores que nos sectores de mineração, petróleo e gás, agrícola, entre outros, já estavam habituados a ter estes instrumentos para sua gestão. Por fim, uma boa nova que este normativo traz é a necessidade de uniformização dos contratos entre as partes e ainda o facto de podermos recorrer às regras e princípios da Associação Internacional de Swaps e Derivativos (ISDA, na sigla em inglês), o que vai promover a confiança dos investidores, sobretudo os externos, pelo facto de reconhecermos os padrões legais internacionalmente aceites, o que criará um ambiente de investimento mais atraente. No entanto, há necessidade de cada instituição participante no mercado reforçar competências e conhecimentos para interpretar e aplicar as normas internacionais do mercado financeiro, pois acredito que, à medida que vamos desenvolvendo, aplicaremos outros master agreements que estão em uso nos mercados internacionais.
Inovações financeiras como os derivativos impulsionarão o desenvolvimento do nosso mercado, vão garantir maior eficiência, integridade, segurança, transparência e solidez do mercado
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PROFISSÕES DO FUTURO
QUANDO O TRABALHO DO FUTURO É O FUTURO DO TRABALHO. E JÁ CHEGOU Em breve, se perguntarmos a uma criança o que quer ser quando crescer, a resposta não será, provavelmente, a que nos habituámos a ouvir. Não só porque muitas profissões deixarão de existir, mas porque as que resistirem à revolução tecnológica em curso serão executadas de maneira diferente, exigirão outro tipo de competências e, por isso, terão outra designação. O mundo já se move nesta direcção, uns mais rápidos que os outros. E em Moçambique, até onde já conseguimos chegar?
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Texto Celso Chambisso • Fotografia Shutterstock & D.R.
mundo atravessa mais uma revolução, a tecnológica, que poderá custar o fim de um grande número de empregos. Dados de diferentes organizações internacionais das áreas de trabalho e comércio, como o Fórum Económico Mundial e a UNCTAD, apontam para a destruição de mais de 47% dos empregos na indústria no mundo, sobretudo como consequência da robótica e da inteligência artificial. Igualmente, as áreas de segurança cibernética já têm um défice de mais de 1,5 milhões de peritos, todos substituídos pelas novas tecnologias. Só a robótica tem substituído a presença humana na indústria automóvel, aviação civil e em outras indústrias de força de trabalho intensiva. Por conseguinte, a inteligência artificial, a informatização e a robótica podem substituir, em breve, milhares de postos de trabalho que dependem do ser humano de forma directa. Alguns relatórios sobre o futuro das profissões prevêem que 85% dos empregos até 2030 ainda nem sequer foram inventados, pelo que, o facto de Moçambique ter de seguir as tendências digitais e tecnológicas actuais, fará com que fique ainda mais na periferia do mundo. A combinação das ciências, matemáticas e engenharias, mesmo sem produzirem bens ou serviços directos, serão a base para que se atinjam níveis de desenvolvimento económico e humano mais competitivos. “Precisaremos todos de assumir o alerta sobre as mudanças na estrutura económica de forma mais séria e ousada. Os recentes dados do censo de 2017 atesta bem a tipologia da população que mais sofrerá os efeitos dos ajustes das futuras profissões. Estes jovens, nunca co-
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mo agora, estiveram tão carentes de empregos. O campo e a agricultura, ainda tipificada pelos baixos níveis de rendimento e produtividade, não asseguram a continuidade dos jovens nas regiões rurais e, consequentemente, serão forçados à migração para as periferias das cidades”, descreve o Reitor da Universidade Pedagógica, Jorge Ferrão, numa breve abordagem do panorama do futuro do trabalho no País. Mas de que profissões estamos a falar? Há uma fileira gigante de profissões novas que vão trazer o futuro, como data cientists, data analists, data quality controler, data arquitect, etc., tudo ligado ao que podemos chamar de ′nova moeda‛ – a data. Ou seja, as profissões do futuro são as que estão muito mais próximas de manipular esta moeda. Por outro lado, as profissões que vão desaparecer são as que estão agarradas aos factores tradicionais de produção. Na área de serviços, tudo o que tem que ver a com a interacção, isto é, profissões que envolvam assistência ou atendimento ao cliente e que exijam grande exposição física com parceiros de negócio vão sofrer um arraso gigante, também acelerado pela pandemia do novo coronavírus. Há que não perder de vista o conjunto de profissões em que a inteligência artificial e a internet das coisas não chega, como tomar conta de idosos ou o trabalho de personal trainer, dactilógrafo, atendimento ao cliente, impressor offset e funcionário de gráfica, etc., até que se transformem em virtuais, já que são profissões do futuro aquelas que têm menos interacção física entre as pessoas.
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Há uma fileira gigante de profissões novas que vão trazer o futuro, como data cientists, data analists, data quality controler, data arquitect... Em termos concretos, a lista mais consensual, no mundo, de algumas profissões do futuro inclui Desenvolvedores de softwares, Gestor de Conteúdos, Creators (Digital Influencers), Assessor de creators (profissionais que cuidam das carreiras de influenciadores digitais), Professor online, Coaching (profissional que ajuda outras pessoas a evoluírem em diversas áreas de suas vidas), Marketeer Digital, Engenheiro Ambiental, Designer 3D, Especialista em Energias Renováveis, Desenvolvedor Web, Piloto de Drone, etc. A infografia das páginas 24 e 25 traz alguns detalhes destas e de outras profissões, ainda que muito aquém do grande volume das que já se projectam. Já temos alguns… mas muito pucos! Há moçambicanos que já estão no futuro. São escassos ainda, mas existem. A E&M falou com dois. Em comum, o facto serem autodidactas. Ou seja, foi por curiosidade e esforço próprio que migraram para o futuro. Não foram inspirados pela escola. O primeiro é Guidione Machava, desenvolvedor de softwares. Ele prefere chamar software designer, ou seja, o profissional que planeia estruturas digitais que depois são implementadas pelos engenheiros digitais para diferentes finalidades da actividade empresarial, tal como faz o arquitecto, que prepara as estruturas físicas que são implementadas pelos engenheiros de construção civil. Economista de formação, Guidione é co-fundador de uma empresa que desenvolve sistemas informáticos, a Moz Devs. Foi lá onde descobriu que o que fazia tinha um nome e
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uma estrutura de organização de trabalho fora do comum. Então, decidiu seguir e estudou. Felizmente, a disponibilidade de internet possibilitou a auto-formação. Guidione, que presta serviços a qualquer empresa que se queira digitalizar, considera que os jovens têm pouca orientação para as profissões do futuro por falta de divulgação das competências deste género de trabalho. “É cansativo ter de descobrir e perseguir uma profissão por iniciativa própria. O sistema de educação tem de ser revisto para resolver o desfasamento entre o que o mercado quer e o que a indústria nos prepara para fazer”, sugeriu. Outro é Simião Júnior. É digital marketing manager, tarefa que inclui uma série de utilidades como desenhar e executar todo o digital marketing incluindo marketing database, e-mail, SEM (Search Engine Marketing), social media e campanhas de display advertising; desenhar, construir e manter a presença de uma organização nas redes sociais; mensurar e reportar a performance de todas as campanhas do digital, etc. Para transitar para o futuro “tive a oportunidade de fazer parte de uma das comunidades de jovens do mundo (AIESEC) que permite que os jovens universitários possam fazer intercâmbios nacionais e internacionais. Ingressei como coordenador de RH mas queria mais e decidi aplicar-me, tendo chegado à posição de team leader da mesma área”, conta o jovem de 23 anos, que diz ter descoberto uma paixão pelo mundo digital. Simião Júnior trabalha, hoje, como digital marketing manager de marcas em áreas como a banca e investimento, Oil & Gas, energia, mineração, etc. Um dos obstáculos que este jovem aponta no contexto interno é a relutância das organizações em migrar para o ambiente digital. “Ainda é muito difícil convencer um cliente a ir para o digital. Acredito que umas das coisas que podemos fazer é incutir na cabeça das pessoas a importância que esta área tem”, concluiu. www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
PROFISSÕES DO FUTURO Mudança muito lenta João Gomes, partner da Jason Moçambique, tem feito vários estudos que abordam questões da área do trabalho, skills, e tecnologia, e confirma que o movimento está só a começar, e de forma tímida. Ou seja, há pouquíssimas empresas e pessoas que já têm noção do que está a acontecer, muito menos as que estão a investir na migração para o trabalho do futuro. Estas poucas resumem-se apenas nas entidades que dão suporte a todas as redes de pagamentos, assim como as empresas de telefonia móvel e o sistema financeiro. Mas todos estes “estão numa fronteira muito distante da robotização, embora haja informação suficiente para tentar trazer o futuro para agora”, explicou o responsável. Esta linha é partilhada por outros especialistas. Para Samuel Maputso, Director de Capital Humano do BancABC, com participação em várias iniciativas como o Fórum dos Recursos Humanos de Moçambique, “olhando para os resultados das pesquisas feitas fora, arrisco-me a dizer que se estivermos a ganhar alguma consciência da mudança, que será inevitável, ainda estamos tímidos. Quando converso com a maior parte dos meus colegas dos Recursos Humanos (RH) não sinto grande nível de consciência em relação a este tema. Já falámos sobre o assunto em algumas conferências, mas ainda estamos numa fase de curiosidade com alguma descrença”. Também Paulo Santos, líder da Heading, empresa que estabelece a ponte entre quem procura
e quem oferece mão-de-obra qualificada, entende que “do lado dos nossos (seus) clientes, ainda não há sinais de que tenham começado a equacionar essa nova lógica no perfil dos Recursos Humanos, mas vai começar a acontecer e terá de ser liderada por pessoas mais autónomas, com maior capacidade de decisão, de auto-motivanção e perfis que vão ser cada vez mais adaptadas às novas tecnologias”, observou. Já a Contact, uma das mais destacadas empresas de recrutamento do mercado, mesmo sem ser específica, assume ser “racional afirmarmos que já começa a haver algumas profissões que estão a cair em desuso em Moçambique por conta das novas exigências do mercado forçadas pelo avanço tecnológico e, recentemente, pela pandemia do covid-19”. Pobreza e o risco de “ver o comboio passar” João Gomes deu grande ênfase às características socioeconómicas do País ao prever o futuro do trabalho. Para o especialista, uma questão fundamental a ter em consideração é que o processo de transição para as novas profissões será selectivo. As pessoas que terão maior facilidade de mudar de carreira não são as que estarão, necessariamente, em busca de trabalho, e sim as profissional e economicamente bem-sucedidas e que, com bons salários, buscarão novas carreiras por estarem emocionalmente esgotadas de fazerem as mesmas coisas.
NAÇÃO AS 13 PROFISSÕES QUE SERÃO IMPULSIONADAS PELO AMBIENTE DIGITAL Um relatório do Center for the Future of Work, estabelecido pela Cognizant Technology Solutions – uma das maiores empresas de tecnologia de informação do mundo –, é mais específico em apostar em profissões do futuro. Da maior parte delas nunca se ouviu falar. Algumas até já existem, mas conhecerão um upgrade que as transformará profundamente. Outras estão a surgir por aqui. Conheça-as.
2 1 DETECTIVE DE DADOS O que faz? Investiga mistérios em Big Data. “O que estão os nossos dados a contar-nos? Que segredos contêm?”, questionam os autores da pesquisa sobre o assunto. O que é preciso? Saber sobre finanças, matemática e data science, sem ser necessário ser um cientista de dados. Conhecimentos de leis são uma vantagem.
FACILITADOR DE TI O que faz? Explora tendências digitais e cria uma plataforma self-service automatizada para que os usuários construam os seus próprios ambientes colaborativos, incluindo assistentes virtuais. O que é preciso? Ter formação em TI, ciências da computação, engenharia, ciências naturais ou administração de empresas. Habilidades de comunicação e liderança também são necessárias.
13 OFICIAL DE DIVERSIDADE GENÉTICA O que faz? Facilita a lucratividade e a produtividade da organização e, ao mesmo tempo, cria um ambiente de inclusão genética, operando de acordo com as leis e guias relacionados com a força de trabalho geneticamente aprimorada. O que é preciso? Na última das profissões do futuro, é necessário um grau avançado de estudos em biologia ou genómica, anos de experiência com igualdade genética ou similares. Habilidades interpessoais, de gestão e de comunicação também são essenciais.
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3 OFICIAL DE ÉTICA DE SOURCING O que faz? Investiga, acompanha, negoceia acordos de bens e serviços para garantir que gastos indirectos da empresa (em energia e relações sociais) estejam alinhados com os padrões de ética dos seus stakeholders. O que é preciso? Ter experiência com ética em ambientes corporativos, habilidades interpessoais e de comunicação, capacidade de trabalhar em grupo. Conhecimentos de negócios, leis, gestão pública ou filosofia são diferenciais.
11 12 CONTROLADOR DE ESTRADAS O que faz? Monitora, regula, planeia e manipula espaços aéreos e estradas, programando plataformas automatizadas de Inteligência Artificial usadas para gerenciar espaços de carros e drones autónomos. O que é preciso? Aptidão para o trabalho é mais importante que qualificações ou experiências anteriores. É preciso ter habilidades de comunicação, tomada de decisão, organização e resolução de problemas. Saber trabalhar sob pressão também é essencial
ANALISTA DE QUANTUM MACHINE LEARNING O que faz? Pesquisa e desenvolve soluções de ponta que aumentam a velocidade e performance de algoritmos e sistemas, ao integrar as duas disciplinas. O que é preciso? Ter um perfil criativo e uma pós-graduação na área, além de anos de experiência com machine learning, computação quântica ou data science.
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4 GESTOR DE NEGÓCIOS DE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL O que faz? Na quarta das profissões do futuro, o profissional define, desenvolve e implementa programas eficazes para acelerar vendas e negócios de inteligência artificial. O que é preciso? Ter experiência com vendas e desenvolvimento de negócios em grandes organizações, além de experiência corporativa com plataformas de Inteligência Artificial, machine learning e computação em nuvem.
WALKER/TALKER
5 MESTRE DE EDGE COMPUTING O que faz? Cria, mantém e protege o ambiente de edge computing ou computação na “borda” (trata-se do limite da rede de computação em nuvem, perto da fonte de dados). O que é preciso? Doutoramento na área ou em áreas relacionadas, experiência com segurança e protocolo de internet das coisas, entre outros assuntos. Capacidade de arquitectar e projectar ambientes de computação em nuvem ou edge computing.
9 10 CHIEF TRUST OFFICER O que faz? Trabalha com equipas de relações públicas e finanças para construir relações de confiança no sector financeiro e encorajar transparência e responsabilidade no mercado de criptmoedas. O que é preciso? Ter anos de experiência relevante com criptomoedas, blockchain e/ou bolsa de valores, mestrado na área, conhecimentos regulatórios e perfil analítico.
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GERENTE DE EQUIPA HUMANOS-MÁQUINAS O que faz? Desenvolve um sistema de interacção para que seres humanos e máquinas conversem melhor, o que aprimora essa equipa híbrida. O que é preciso? Ter formação em psicologia ou neurociência e qualificação posterior em ciência da computação, engenharia ou recursos humanos. É preciso ter experiência em áreas relacionadas, como machine learning ou interação entre humanos e robots.
O que faz? Profissional autónomo. Passa tempo com clientes idosos através de uma plataforma online para escutá-los e conversar com eles. A sua principal tarefa é ‘prestar atenção’. O que é preciso? Qualquer background será considerado. É preciso ter mobilidade para visitar clientes em casa quando for necessário.
7 CONSELHEIRO DE COMPROMISSO DE SAÚDE O que faz? Trabalha remotamente para oferecer coaching individual e conselhos de bemestar e saúde para usuários de pulseiras inteligentes, que monitoram as suas actividades e sinais físicos. O que é preciso? Ter experiência com nutrição ou educação física e credenciais (obtidas em cursos online) em modalidades desportivas como CrossFit ou Ioga. Saber lidar com ambientes culturalmente diversos também é necessário.
8 ANALISTA DE CYBERCIDADE O que faz? Garante a segurança e funcionalidade da cidade ao assegurar o fluxo saudável de dados (ambientais, populacionais, etc.) pelo sistema. O que é preciso? Ter qualificações em engenharia digital, conhecimentos sobre circuitos electrónicos e metodologias de startup enxuta e experiência com impressão 3-D. É preciso saber ler e interpretar dados em analytics.
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O outro pólo é o de pessoas sem poder de transitar para o futuro, nomeadamente as mulheres e todas as pessoas de baixo rendimento e de fraco nível de qualificação escolar, pelo que o tema do género acabará por estar em voga neste processo, já que trazer a mulher para as profissões do futuro será um enorme desafio. “Outra questão é: quais são as profissões que conseguirão fazer a transição para o futuro (lembrar que algumas vão se transformar e outras vão nascer naturalmente por estarem ao pé da moeda do futuro)? Estes vão enfrentar um problema dramático. É que só agora, com a questão do trabalho remoto, se nota que a maioria das pessoas não domina os fundamentos da tecnologia, não sabem nada e nem sabem usar os canais digitais para dizerem o pouco que sabem”, lamentou. E Jorge Ferrão acrescenta: “Uma educação digital intermediária permitirá nivelar as competências e fazer que
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avancemos como país e não como um espaço fragmentado e numa tentativa de ′salve-se quem puder‛”. Males pelas aldeias Toda a sociedade tem um papel neste processo. Desde o Estado à academia, passando pelo sector privado. A experiência internacional já o provou. No caso de Moçambique, a iniciativa privada é que tem estado na vanguarda, basta olhar para a rápida proliferação de ideias que resultam em startups inovadoras de grande alcance no processo produtivo. O papel da academia e das empresas Com ′muita estrada‛ na área da academia, o Reitor da UP, Jorge Ferrão, considera que as universidades, públicas ou privadas, terão de passar por um processo de migração digital, que levará tempo, mas será irreversível. Recorrendo aos dados do censo de 2017, Ferrão utilizou estatísticas para www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
PROFISSÕES DO FUTURO do mundo actual e das tecnologias. Muitos programas desenvolvidos pelas universidades estão desactualizados e demoram muito tempo a serem actualizados, mas as empresas apresentam melhor capacidade de se adaptarem à nova realidade, podendo fazê-lo de um dia para o outro quando são desafiadas. O responsável defende que terá de ser um esforço conjunto, em que as empresas procurarão fazer o seu papel na formação do seu quadro de profissionais do futuro e as instituições de ensino vão ter de fazer o mesmo, sendo que o próprio cidadão também tem a responsabilidade de desenvolver a consciência disso já que, hoje em dia, há uma imensidão de cursos online, até gratuitos, que necessitam apenas de iniciativa por parte de quem procura esses conhecimentos. Samuel Maputso acrescenta que as universidades têm de reorganizar os seus currículos tendo em conta as profissões do futuro e atribui às empresas 60% da responsabilidade neste domínio. Ou seja, será necessário harmonizar os métodos de formação das empresas e das universidades a partir do próprio desenho de cursos. … O Papel dos Recursos Humanos “O ponto de partida é a reconfiguração dos profissionais dos RH”, sugere Samuel Maputso, e acrescenta: “o que se observa é que a maior parte dos directores de RH nas empresas moçambicanas foi formada há muito tempo e não está preparada para lidar com as exigências da tecnologia nos dias que correm. Nas empresas, a maior parte dos processos de RH é manual e onde existe alguma automatização os processos estão desintegrados, sem ligação coerente entre si. Os processos nesta área ainda são dominados por esta geração de profissionais de RH sem Data and Analitic skills”.
“As universidades têm de reorganizar os seus currículos tendo em conta as profissões do futuro e as empresas têm 60% de responsabilidade...” mostrar o quanto Moçambique está pressionado pela nova realidade: tem uma baixa percentagem de cidadãos com acesso a computador, apenas 8,9%; de acesso a internet, com 13,4%; de acesso à telefonia móvel, com 53,2% (o indicador menos mau). Mesmo assim, Jorge Ferrão acredita que “o uso de tecnologia móvel ganhou corpo nos últimos anos, pelo que as plataformas criarão novas oportunidades, sobretudo para os jovens e mulheres e para uma população que se manteve excluída de modelos formais de emprego em décadas recentes”. Também Paulo Santos, da Heading, vê um sistema de ensino que tem levado algum tempo a adaptar-se à realidade www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
A responsabilidade do Estado É consensual, entre todos os intervenientes, a necessidade de criar a ′auto-estrada‛ que são os meios necessários para facilitar a migração para as profissões do futuro. “Em Moçambique, há gente a fazer trabalho sério. Por exemplo, o INCM ao nível da regulação faz um bom trabalho. Mas precisamos de investimentos em infra-estruturas e o que está a acontecer é que estas estão a ser resultado do investimento privado, como acontece no caso das companhias privadas de telefonia móvel e da banca. Para que as profissões do futuro encontrem terreno fértil era importante que se começasse a intervir no ensino primário, a qualificar as pessoas para usarem ferramentas tecnológicas, depois criar uma rede de infra-estruturas de Norte a Sul do País e que se ramifiquem e facilitem a acção do sector privado”, defende João Gomes. O medo de formar... e depois perder Entretanto, a era tecnológica reserva outros desafios que não estão a ser muito equacionados. É que as competências do futuro são tecnicamente transferíveis. E o problema da transferibilidade é que ela não pára. Ou seja, as empresas podem investir em RH que podem sair porque a velocidade de circulação fica muito mais rápida com a tecnologia. São competências que permitem que as pessoas sejam nómadas digitais e passam a não trabalhar apenas para a organização que as formou. Assim, os investidores ficam desmotivados em investir na formação de capital humano. “Este é um dos problemas do futuro”, alerta João Gomes”.
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OPINIÃO
“Jobar” no Futuro João Gomes • Partner @ JASON Moçambique
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em este artigo - “Jobar”, expressão Moçambicana que significa “trabalhar” - a propósito de um estudo1 partilhado por um bom amigo, o qual referia que até 2030 cerca de 100 milhões de trabalhadores (principalmente jovens, mulheres, migrantes e indiferenciados) ficarão sem emprego, se não fizerem a transição para empregos que apelido do, e com FUTURO! A boa notícia2 é que a Quarta Revolução Industrial criará, no mesmo período, 133 milhões de novos empregos. É clássica a pergunta: o que queres ser quando fores grande? Menos clássicas, porque ainda inesperadas, são as respostas do género: - “Eu quero ser cientista de dados”, diz o Faizal. - “Eu vou ser programadora de cobots bio-médicos”, diz a Yara. - “E eu vou ser designer de drones industriais”, atalha o Wilson. - “Eu vou ser Youtuber”, diz a Ayana convictamente. O que podemos dizer HOJE ao Faizal, à Yara, ao Wilson e à Ayana sobre o Trabalho do, e com FUTURO? E aos 100 milhões de trabalhadores que até 2030 ficarão sem emprego, se não fizerem a necessária transição? Neste artigo convido-vos a fazermos um exercício de antecipação no qual veremos sucessivamente: 1) Quais são os padrões do trabalho do, e com FUTURO que estão a emergir, que apresentam potencial para perdurar e que, entretanto, foram bastante acelerados pela ocorrência da pandemia do COVID19. 2) E, bem assim, como nos podemos preparar HOJE, para não ficarmos…sem trabalho, e sem futuro! 1) Destaco 5 padrões emergentes do Trabalho do, e com FUTURO! Padrão 1 - Aumento do trabalho sem contacto físico: Trabalhos que hoje requerem frequente interacção e exposição com o público em viagem, de negócios, e efectuados cara-a-cara estão a ser descontinuados. De acordo
com a revista Economist3 50% dos hotéis de negócio irão desaparecer. Por exemplo, serão negativamente impactadas profissões nos sectores da hotelaria de negócio, da restauração, em centros de congressos, em aeroportos, entre outros. Padrão 2 - Aumento da hibridização do trabalho: Trabalhos que hoje não requerem frequente interacção e exposição com os clientes, que são intermitentemente efectuados cara-a-cara, e que se baseiam em ferramentas de IT, estão a optar por entregar de forma rotativa, quer em modo presencial, quer remotamente (modelo híbrido). De acordo com o já citado estudo, 1/3 das economias avançadas já se encontra neste estádio. Por exemplo, serão negativamente impactadas profissões nos sectores legal, contabilístico, na administração pública, entre outros. Padrão 3 - Aumento da desmaterialização do posto de trabalho: Trabalhos que hoje requerem frequente interacção e exposição com o público, e são efectuados “on-site” estão a migrar para a arena electrónica. Prevê-se o encerramento, até 2024, de 50% das lojas físicas de cadeias globais que entretanto aderiram ao e-commerce. Por exemplo, serão negativamente impactadas profissões em lojas de retalho e de conveniência, em serviços financeiros, entre outros. Padrão 4 - Aumento exponencial da datificação (Big Data): Consequência do Padrão 3, yottabites4 de dados são acumulados diariamente, a par da servicificação das economias (já aqui escrevemos sobre este tema “Servicificar, um passo de Gigante”) fazendo emergir um novo factor de produção, a par da terra, do capital e do trabalho: Data. E à volta deste novo “factor de produção”, perfila-se uma lista longa de “novos operários”: por exemplo, cientistas de dados; business intelligence analysts; especialistas em IoT (Internet das Coisas), entre outros. Padrão 5 – Cobotização do trabalho em ambiente industrial: noutra arena na qual não é requerida frequente interacção e exposição com o público, e sem possibilidade de
Trabalhos que hoje requerem frequente interacção e exposição com o público em viagem, de negócios, e efectuados cara-a-cara estão a ser descontinuados. De acordo com a revista britânica Economist, metade das unidades hoteleitas de negócio irão desaparecer
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O futuro vai impor uma ruptura no padrão de competências profissionais e passar a exigir habilidades ligadas aos novos meios tecnológicos
hibridização do trabalho (não é possível levar a fábrica para casa!) emerge, como um dos traços distintivos do trabalho do, e com Futuro, a coexistência, a colaboração e a cooperação entre Humanos e Robots Sensíveis (cobotização)5. Por exemplo, muitas das tarefas repetitivas e arriscadas já estão a ser realizadas pelos cobots abrindo, deste modo, espaço para os Humanos realizarem tarefas mais criativas e intelectualmente desafiantes. 2) Ora, já que trabalhar de sol a sol (tal como o fizeram os nossos antepassados na Revolução 1.0: Agrícola); ou trabalhar das 9h00 às 17h00 (tal como ocorreu nas Revolução 2.0: Industrial e na Revolução 3.0: da Informação) não parece ser suficiente, como nos podemos preparar antecipadamente para a Revolução 4.0: da Automação e Inteligência Artificial e assim evitarmos ficar sem trabalho, e sem futuro? Pessoalmente tenho seguido muito de perto, e convido vivamente o meu caro leitor@ a analisar um dos mais profundos estudos feitos no sentido de capturar aquelas que são as competências críticas para o Trabalho do, e com Futuro6. Apesar da já provecta idade do estudo (realizado em 2020), o SCANS Report mantém-se absolutamente actual. E são oito as competências críticas que deverão equipar as nossas mochilas de modo a acelerarmos a transição e que se desmultiplicam em 36 sub-competências, organizadas
em dois grupos (Fundacionais [Ser]; e do Posto de Trabalho [Saber e Saber-Fazer]). Permito-me apenas destacar o grupo de competências críticas para o Posto de Trabalho do Futuro: - Gestão de Recursos: identificar, organizar, planear e alocar Recursos Escassos. - Gestão Interpessoal: trabalhar com os Outros. - Gestão da Informação: adquirir e utilizar a Informação. - Gestão da Tecnologia: trabalhar com uma variedade de Tecnologias. Em conclusão Preparar o Faizal, a Yara, o Wilson e a Ayana para o Trabalho do, e com Futuro é um imperativo para HOJE. Até 2030, 100 milhões de trabalhadores pertencentes a grupos frágeis (jovens, mulheres, indiferenciados, migrantes) ficarão sem emprego e terão de transitar para a economia da Revolução 4.0: da Automação e Inteligência Artificial. Trazer o Futuro para Hoje implica que sejamos capazes de perceber os padrões emergentes que desconfigurarão/ reconfigurarão o trabalho, a saber: trabalho sem contacto físico, híbrido entre presencial e remoto, desmaterializado, datificado e cobotizado. Asseguremos a prontidão e preparemo-nos, equipando as nossas mochilas com as oito competências críticas para o Trabalho do, e com Futuro. Pois que Jobar é preciso, hoje, e no Futuro.
The Future of Work after COVID-19 - Makinsey Global Institut. Jobs of Tomorrow – Mapping Opportunity in the New Economy – World Economic Forum - http://www3.weforum.org/ docs/WEF_Jobs_of_Tomorrow_2020.pdf. 3 Visão do Futuro - The Economist. 4 O yottabyte é uma unidade de medida da área da informática, equivale a 10 elevado a 24 bytes. 5 Para mais detalhes sobre o tema dos Cobots conferir https://www.youtube.com/watch?v=IQyj9OkdbSg 6 Skills and Tasks for Jobs “A SCANS Report for America 2000”. https://wdr.doleta.gov/opr/FULLTEXT/1999_35.pdf 1
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NAÇÃO “VAMOS AJUSTAR OS ORÇAMENTOS E MUDAR A BASE DE APRENDIZAGEM” O Reitor da Universidade Pedagógica e antigo Ministro da Educação e Desenvolvimento Humano, Jorge Ferrão, tem publicado reflexões sobre as profissões do futuro e sabe onde estão os pontos críticos da transformação. Defende mudanças na academia e na postura de toda a sociedade
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Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R.
ão haverá volta a dar que não inclua encarar a educação de uma forma diferente da actual, com novos investimentos em tecnologia e colocando os jovens na vanguarda do processo de mudança. Jorge Ferrão é uma das figuras de consenso para falar dos processos e modelos de formação de pessoas em Moçambique, e está convencido de que é possível acelerar a migração para as profissões do futuro, mas avisa que não nos será barato. A 4ª Revolução Industrial está a mudar a forma de estar da sociedade global. No trabalho, com a evolução tecnológica, assiste-se ao surgimento de profissões que eram há pouco tempo impensáveis. Que posição atribui a Moçambique no contexto global em relação a esta nova tendência? O impacto das sociedades de conhecimento coloca as competências tecnológicas e digitais como os activos mais importantes. Seguir as novas tecnologias e os efeitos da revolução científica e tecnológica evitará que sejamos marginalizados e esquecidos pelo tempo. Os nexos que se estabelecem sobre as profissões do futuro e a 4ª Revolução Científica e Tecnológica assumem, na contemporaneidade, proporções que se estendem muito para lá de visões futuristas ou profecias. A segunda metade do século XXI aponta para cenários verdadeiramente desafiadores,
e que obrigarão as sociedades a um posicionamento geoestratégico. A Inteligência Artificial e a robótica associadas à tecnologia 5G e 6G vão, em definitivo, alterar o mundo e teremos de nos preparar para entrar para esse mercado de trabalho tão competitivo. Um pouco pelo mundo, novas profissões têm ganhado espaço. Muito brevemente, serão os postos de trabalho mais disponíveis, com salários mais competitivos e preferenciais. As competências necessárias para estas novas funções podem ser radicalmente diferentes daquelas que vão desaparecer e das quais os investimentos actuais deverão ser realizados. Se, por um lado, não existem dúvidas sobre determinadas profissões tradicionais e, até as mais regulamentadas, como economia, veterinária, direito, engenharias, medicinas, etc., por outro observam-se novas e inovadoras categorias, tais como segurança cibernética, técnicos de impressoras 3D, gestores de nuvens (icloud), produtores de blogs e até pilotos de drones. Há muito que se fala da necessidade de melhorar a qualidade de formação de pessoas em Moçambique, a todos os níveis, desde o primário ao superior. Mas o País tem uma longa estrada por percorrer para ser capaz de formar os chamados profissionais do futuro. Por onde começar? Estas profissões do futuro impõem novos desafios às instituições de ensino
Admitamos que os progressos e as reformas curriculares nas instituições de ensino em Moçambique registaram mudanças significativas, porém, estas têm acontecido de uma forma lenta, hesitante e pouco ousada
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e às universidades, em particular. Evidentemente que as universidades precisam de se reajustar e definir cursos que priorizem competências para as áreas tecnológicas e, em consonância com os novos empregos que serão gerados, com requisitos muito mais exigentes, terão de manter a sua função de investigação e docência que, na prática, são a sua essência. Porém, sem optarem apenas pelo modelo de diplomas, como se tem verificado em diferentes situações. Será um risco fatal, porém, se vivermos alterando cursos a cada instante, quer pelo surgimento de uma nova indústria, quer por um novo recurso. Formar capital humano exige algum tempo e a garantia de que estaremos a prover uma base de raciocínio e questionamento. Esse é o nosso papel. Ensinar a pensar, a ter opções e a questionar. Isto representa mais de 75% do futuro trabalho profissional. Que modelos de formação há no mundo que melhor podem servir a Moçambique e provocar uma mudança efectiva? Os modelos de formação não são standards. Eles respondem à demanda nacional e a capacidades locais. Portanto, não nos serve de nada copiar, copiar e repetir aquilo que os outros já fizeram. O surgimento da indústria de gás e petróleo já obrigou a criação de novos cursos e formação técnico-profissional. Ainda assim, teremos de aprender destas tecnologias e aperfeiçoar a formação que provemos aos nossos graduados. A 4ª Revolução Industrial é impulsionada por três categorias distintas: a física, a digital e a biológica. Na categoria física terá os veículos autónomos e www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
ENTREVISTA
as impressões em 3D. Recentemente, o Hospital Central de Maputo recebeu uma impressão e estão já a produzir viseiras para reduzir os riscos de infecção pela covid-19. A Robótica avançada e outros materiais essenciais que a tecnologia 5G e 6G vão disponibilizar farão algum tipo de trabalho que apenas os robots poderão realizar, devido à natureza do mesmo. Na área digital teremos a internet das coisas, a relação entre as coisas, serviços e pessoas através de redes digitais. Na categoria biológica teremos inovações no campo da biologia, particularmente na genética. Teremos, igualmente, a biologia sintética, que consiste em modificar organismos já existentes, alterando a sua resistência às adversidades e capacidade de regeneração em quantidades nunca antes verificadas. Um pouco por todos os países, incluindo o nosso, já observamos estas mudanças. De Moçambique, que exemplos práticos pode citar? Veja na cidade do Maputo a quantidade de técnicos reparando telefones celulares. Isto acontece em cada esquina e mercado. Igualmente, observe os clientes usando plataformas digitais www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
para as transacções financeiras. O M-pesa, M-kesh, e-mola e etc., são uma prova evidente de que os clientes da banca convencional já foram, de forma irreversível, superados por estes novos usuários e a inclusão financeira será inevitável. Os dados do último censo provam que a banca comercial só responde por 6,7% da população, sendo 4,5% homens e 2,2% mulheres, contra um total de 52,2% de cidadãos moçambicanos já integrados nas diferentes plataformas financeiras anteriormente mencionadas. Diga-se de passagem, que estes têm sido os melhores exemplos da revolução digital no nosso país, pois facilitaram a banca e ampliaram vários serviços financeiros. Sem perder de vista o facto de estarmos num País com orçamento deficitário, nota-se que a disrupção que se pretende tem, neste aspecto, um dos maiores obstáculos. É uma equação difícil… Ao longo de anos, a formação foi feita com os mesmos recursos e com os apoios da comunidade internacional. Somos signatários do Acordo de Dakar e temos de ter a consciência que devemos pautar pela inclusão e não pela
exclusão. Mas a questão que coloca tem um sentido mais restrito. Teremos como embarcar para um novo modelo de formação, sobretudo, desfrutamos das tecnologias 5G e 6G? Então, a resposta tem de ser: vamos ajustar os orçamentos e transformar a base de aprendizagem. Deixar que os jovens possam ter acesso a tecnologias fará deles pessoas responsáveis pela disrupção no sistema. Temos de acreditar mais nos jovens e dar-lhes mais oportunidades. O ensino superior técnico-profissional, nos últimos anos, não recebeu novos ingressos. Este ano, a perspectiva será de receberem um pouco menos que 300 jovens em cada sub-sector e isso será irrisório para essa disrupção que almejamos. No nível superior também já se vem discutindo a transformação dos modelos de formação introduzindo rigor na pesquisa científica, mas a mudança parece lenta… Admitamos que os progressos e as reformas curriculares nas instituições de ensino registaram mudanças significativas. Porém, estas têm acontecido de uma forma lenta, hesitante e pouco ousada. As crises globais de educação,
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NAÇÃO
“Muitas das universidades moçambicanas ainda formam nos modelos convencionais. Os grandes desafios assentam na mudança e na sua adaptação a um ensino mais prático e programático” com níveis de aprendizagem também sofridos e a redução nos orçamentos para o ensino, explicam, em parte, a lentidão das instituições de ensino se ajustarem de forma mais rápida e progressiva às mudanças. No entanto, a incapacidade financeira dos Estados e o controlo que exercem sobre a autonomia das instituições de ensino não facilitará que este ajuste aconteça como seria de prever e desejar. Muitas das nossas universidades ainda formam nos modelos convencionais. Os grandes desafios assentam na mudança e na sua adaptação a um ensino mais prático e programático. Uma formação para aquisição de competências digitais e tecnológicas, mas, igualmente, humanas. Dentro da própria academia, o trabalho também está a sofrer transformações profundas, muito por força da pandemia… O covid-19 tem impactado de formas diferentes nas várias esferas da economia, educação e até na nossa postura familiar e profissional. Vivemos apavorados e sem certezas do futuro. Isto aconteceu no mundo com muito mais vigor do que em Moçambique. Na academia e na educação, de forma geral, poderemos concluir que de-
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pois de anos de crescimento significativo, tanto no acesso como no ingresso, nos diferentes subsistemas de educação, hoje, vivemos uma era de muitas incertezas. Verifique que, em pelo menos 160 países do mundo, o sector da Educação paralisou as suas escolas e universidades e foi estimado em cerca de 1,6 biliões, o número de estudantes que ficou sem a possibilidade de seguir com as suas lições, como estavam habituados. A acrescer este número, tivemos outros seis milhões de professores que ficaram impossibilitados de dar a sua contribuição. Em Moçambique, foram mais de sete milhões de alunos, de 13 850 escolas paralisadas e um total de 140 000 professores. O que vai acontecer? Afirmar que estamos a reverter este quadro seria demasiado pomposo. Afirmar, também, que o ensino à distância passará a ser o modelo único não corresponde à verdade. Por um lado, porque não temos essa educação visual, por outro, pelo facto de nem todos terem essa disponibilidade tecnológica. Mas há ainda um elemento que não pode ser negligenciado: o custo das transacções da internet. Em Moçambique são excessivamente caras e proibitivas.
Dizer que ocorrem mudanças e que elas vão pautar-se pela exclusão seria criminal e irresponsável da nossa parte. O que tem de acontecer a curto prazo é investirmos para que os equipamentos digitais possam ser montados ou fabricados no País. As operadoras precisam de entender que o lucro se faz com escala, e quantos mais estiverem a usar os seus serviços, menores serão os preços e os resultados da facturação duplicarão. Mas existem já instituições preocupadas em alterar o cenário. Da preocupação até à concretização dos sonhos vai um longo e árduo caminho e muita responsabilidade social e corporativa. Olhando para Moçambique de hoje e para a velocidade com que o mundo caminha rumo à 4ª Revolução Industrial, o que nos reserva o futuro enquanto país? Entre os fantasmas do passado e as incertezas do amanhã, precisamos de contar com os nossos recursos e saber dar espaço e oportunidades para as vozes que melhor conhecem e entendem. Precisaremos de hierarquias flexíveis a todos os níveis, sobretudo nas posições políticas. Estas lideranças permitirão outra forma de fazer política, mobilizar eleitores, etc. Na economia, elas serão responsáveis pelas novas estratégias para atrair e reter os talentos competentes. www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
NAÇÃO
ÁFRICA, UM CAMPO DE BATALHA ENTRE A DIFICULDADE E A OPORTUNIDADE A experiência africana com rápida disseminação de meios tecnológicos e startups confere vantagens que animam os analistas, mesmo com a prevalência de problemas estruturais ao nível das economias Texto Celso Chambisso • Fotografia Shutterstock
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á fora, nos países desenvolvidos, a velocidade de mudança é brutal. As profissões que mais cresceram – e que já se previa que crescessem, mas que foram aceleradas pela pandemia do novo coronavírus – são as ′datificadas‛. Os gráficos das pessoas que estão a ficar fora do mercado de trabalho indicam que são as que não estão no contexto tecnológico e que exigem exposição física. João Gomes, partner da Jason Moçambique, não avança números definitivos, mas observa que o mercado evoluiu de tal modo que “nas principais cidades dos Estados Unidos, por exemplo, o metro quadrado de escritórios, que há poucos anos era extremamente caro, já está barato. Isto porque os escritórios foram literalmente abandonados e estão vazios. Isto significa que o elemento físico do trabalho está a desaparecer”. Esta é uma lógica comum às economias mais
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desenvolvidas e capazes de prover infra-estrutura tecnológica que permite a transição (digital) para o trabalho do futuro. E em África, como estamos? A pobreza como trampolim “Fazer das fraquezas forças”. Eis um lugar comum que encontra, no actual contexto, um lugar bem particular, premissa que fica literalmente subentendida no relatório do Banco Mundial sobre “O Futuro do Trabalho em África”, desenvolvido em meados de 2019 por Mark Dutz, Jieun Choi e Zainab Usman. Ou seja, não obstante o facto de quase todos os países africanos atravessarem verdadeiros “desertos” que os separam deste novo mundo digital, há condições, e aliás “boas condições”, para os poder ultrapassar. Será? Vejamos: No documento, os especialistas começam por descrever as condições do continente, obviamente desfavoráveis à possibilidade de sonhar com progressos rápidos rumo ao traba-
lho do futuro. Caracterizam a África Subsaariana por uma diversidade de factores limitativos e, até, impeditivos da adopção das tecnologias digitais: Níveis baixos de capital humano para uma população jovem e em rápido crescimento; mais de 60% da força de trabalho composta por adultos mal equipados; sector informal particularmente vasto e distinto do de outras regiões em desenvolvimento em termos de dimensão e composição; sistemas de protecção social insuficientes e ineficazes, com oito em cada dez africanos sem cobertura por qualquer rede de segurança social. Tudo isto, num cenário de disrupção repentina provocado pela pandemia, a que se juntam os choques climáticos, a aceleração da integração económica e as transições demográficas, criará necessidades acrescidas de protecção social. E o contexto não fica selado sem referir a fraca rede de infra-estrutura de www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
PROFISSÕES DO FUTURO PREÇO DE INTERNET É FACTOR CRÍTICO Estudo feito em 2020 mostra que a África Subsaariana está entre as regiões onde a internet é cara, o que dificulta investimento em iniciativas inovadoras Preço médio de 1GB/USD
14,71
7,85 7,19
6,91 3,42
3,24
3,13
América Austrália Caribe África Europa América Europa do Norte subsaariana Oriental Central Ocidental
Analisados caso a caso, os países africanos estão entre os que enfrentam custos altos de internet (não é o caso de Moçambique). Cinco estão no ‘Top 10’ de um total de 228
Só dois país africano, a Somália (apesar de muito pobre) e a Nigéria estão com o custo de internet que os coloca entre os países que estão em vantagem neste contexto Preço médio de 1GB/USD
CHAD
ÍNDIA
3,33
ISRAEL
13,56 BOTSUANA
QUIRQUISTÃO
23,87 15,98
ITÁLIA
17,75
0,51 FEDERAÇÃO RUSSA
0,52
0,43
28,26 BERMUDA
AUSTRÁLIA
0,50 SRI LANKA
0,21
27,41 S. TOMÉ E PRÍNCIPE
0,46 SOMÁLIA
0,11
27,22 MALÁUI
YEMEN
CAZAQUISTÃO
0,09
23,33 BENIN
CHIPRE
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Bálticos África do Norte
… OUTROS GOZAM DE VANTAGENS
Preço médio de 1GB/USD
…Todo o mérito? É questionável que, com todos os travões ao desenvolvimento sobejamente conhecidos, África possa estar em condições de dar passos visíveis no uso dos meios tecnológicos no trabalho, como sugerem os especialistas do Banco Mundial, que acreditam num “futuro do trabalho brilhante”. Como chegar a este (quase) milagre? Argumentam que, como a África tem um menor sector transformador do que outras regiões, a automação não é susceptível de deslocar muitos trabalhadores durante os próximos anos; a maioria das economias africanas ainda tem baixos níveis de procura de produtos que são comuns noutras partes do mundo, como televisores e frigoríficos. Por isso, a reduções dos
Ásia
2,06
ÁFRICA TEM INTERNET CARA...
MOÇAMBIQUE
suporte tecnológico, que coloca grande parte do continente entre as zonas do mundo com a internet mais cara e de menor qualidade (ver infografia).
2,81
2,28
UCRÂNIA
NIGÉRIA
0,46
28,75
2,22
FONTE Cable.co.uk, empresa britânica vocacionada em estudos de internet de banda larga,
VELOCIDADE DA INTERNET TAMBÉM CONCORRE NA COMPETITIVIDADE A qualidade da internet é outra vantagem a ter em conta na corrida às profissões do futuro. Mais um desafio para África, que carece de mais investimentos neste domínio Preço médio de 1GB/USD
RAPIDEZ DA BANDA LARGA…
… E DA INTERNET MÓVEL
(Em Megabites/segundo)v
(Em Megabites/segundo)
170,99 155,25
62,7
141,43 117,62
Singapura Islândia
Hong Kong
59,81
109,26
Coreia Roménia do Sul
Noruega
Qatar
58,57
54,94
54,18
Islândia Singapura Emirados Árabes
FONTE Site Speedtest (realiza pesquisas periódicas sobre a conexão de dados no mundo)
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NAÇÃO
As cidades mais importantes da África já receberam investimentos tecnológicos substanciais, incluindo maior acesso à banda larga móvel conexões de fibra ótica e ampliação do fornecimento de energia elétrica preços decorrentes da adopção das tecnologias são mais susceptíveis de ajudar as empresas a crescer, criar mais empregos e produzir produtos mais acessíveis, na medida em que possam ser feitos por africanos. Por fim, as tecnologias concebidas para satisfazer as necessidades produtivas dos trabalhadores africanos com uma educação limitada têm o potencial para os ajudar a aprender mais e a ganhar mais. O Banco Mundial também faz menção a um estudo recente que mostrou que, na sequência da chegada da internet mais rápida à África Subsaariana no final dos anos 2000 e início dos anos 2010, o aumento da taxa de emprego foi semelhante para os trabalhadores com apenas o ensino primário e para os que tinham um nível de ensino secundário e superior. “Esta é uma descoberta optimista”, refere o Banco Mundial. Optimista é, também, o Fórum Económico Mundial Outra pesquisa, a do Fórum Económico Mundial, aponta África como potencial beneficiário da 4ª Revolução Industrial. “As cidades mais importantes
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da África já receberam investimentos tecnológicos substanciais, incluindo maior acesso à banda larga móvel, conexões de fibra óptica nas residências e ampliação do fornecimento de energia eléctrica. Isso, combinado com a rápida disseminação dos smartphones e tablets de baixo custo, permitiu que milhões de africanos se conectassem pela primeira vez… E, conforme a 4ª Revolução Industrial se desenrola, a África está preparada para desenvolver novos padrões de trabalho”.avança a organização. Também introduz o conceito de “trabalho flexível” (que se executa virtualmente) como um modelo perfeito para um continente com uma população geograficamente diversa e pronta para trabalhar, uma rede de comunicação móvel sólida e carência de infrae-strutura para sustentar os padrões de trabalho urbano. “Porquê insistir em grandes escritórios centrais e trajectos longos se há uma maneira de aproveitar os talentos do outro lado do continente? Como alternativa, a solução pode ser um quadro de colaboradores distribuído e virtual, com empresas que integram freelancers
virtuais”, sugere o Fórum Económico Mundia, sublinhando que “isso já está a acontecer. Um relatório sobre as tendências de profissões em África, nos últimos cinco anos, mostra que o número de empreendedores aumentou 20%. E o trabalho em plataformas on-line está a aumentar, permitindo que muitos desses empreendedores lancem startups inovadoras que solucionam problemas do mundo real e criam empregos”. Projecções globais são ambiciosas O tema sobre trabalho futuro carece de estatísticas actualizadas, mas as disponíveis podem ajudar, de alguma forma, a perceber a dimensão do fenómeno. O relatório com o título “The Future of Jobs”, publicado em Setembro de 2018 pelo Fórum Económico Mundial, dizia que até 2025 as máquinas desempenharão mais funções do que os seres humanos no mundo do trabalho. Porém, não há motivo para alarme, já que a mesma revolução tecnológica que colocará os robots em tarefas, que antes pertenciam a pessoas, criará 58 milhões de novos empregos. Hoje, com a pandemia do novo coronavírus, estes números seguramente carecem de actualização, mas não deixam dúvidas sobre a grande mudança que o mundo está prestes a testemunhar. www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
MERCADO E FINANÇAS BANCO CENTRAL. HERÓI OU VILÃO DA ESTABILIDADE? A recente subida das taxas directoras levou o Banco Central ao “banco dos réus” onde se expõem os méritos e fragilidades das suas políticas. Uns condenam, outros ilibam. De que lado está a razão?
o
Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R. banco de moçambique tem estado debaixo de ′fogo cruzado‛ depois da crise de 2016 que se seguiu à descoberta das dívidas que viriam a ser declaradas soberanas. Com a responsabilidade de estabilizar o valor do metical e das taxas de juro, manter a inflação baixa e estável, entre outros, as suas intervenções nem sempre geraram consenso entre os bem-entendidos em economia enquanto ciência. A principal queixa é a de que o Banco Central é excessivamente perseguidor da inflação baixa, que até deixa escapar do seu controlo outras variáveis como as taxas de câmbio e de juro do mercado. Em finais de Fevereiro passado, a postura do banco regulador voltaria a estar no centro de um debate sob o lema “Política Monetária em Moçambique no Contexto de Crise”, no qual participaram economistas nacionais de renome. O pretexto para a realização do debate não foi revelado, mas não será demasiado ousado imaginar, e até afirmar, que se prende com o mais recente aumento da taxa de juro de política, a taxa MIMO, em 300 pontos base, de 10,25% para 13,25%. Embora devidamente justificada pelo Banco de Moçambique, a medida está a gerar protestos do empresariado, que verá a sua dívida no sector financeiro a aumentar num cenário de abrandamento da actividade económica imposto pela pandemia. A maior parte dos economistas também acredita haver erros na postura do Banco de Moçambique (BM), mas há quem defenda haver sobriedade na forma como este escolhe e mexe nos instrumentos de gestão da política monetária. Comecemos mesmo por aqui. BM pode estar no bom caminho O economista Fáusio Mussá, especialista na leitura dos indicadores macroeconómicos e suas tendências, recorre à experiência das crises anteriores para concordar com o agravamento das taxas de juro, medida que considera que pode contribuir para ajustar a inflação. Como? Lembra que, em 2016, quando o País vivia a crise das dívidas ocultas, “o BM elevou de imediato as taxas de juro porque se antecipava um choque da balança de pagamentos em resposta à redução do apoio externo. Embora a medi-
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da tenha levado à redução do crescimento económico, houve uma diminuição substancial das importações de modo que, em 2017, a balança de pagamentos se estabilizou, traduzindo-se numa relativa estabilidade cambial e da inflação. Em resultado disso, a taxa MIMO baixou de 21,75% em 2017 para 10,25% em 2020. Ou seja, o Banco Central adoptou uma política monetária menos restritiva em resposta a uma situação em que as pressões à economia quase que se tinham dissipado e era possível viver num ambiente de inflação mais ou menos previsível”, explicou o economista. E acrescentou: “acredito que desta vez o BM está a olhar para algumas dinâmicas próprias da economia moçambicana. Por exemplo, sempre que há uma depreciação cambial (como aconteceu nos últimos meses), há um aumento da inflação, e quando o metical recupera a inflação também baixa”, argumentou. Ou seja, o BM procura, no fim das contas, travar a escalada do nível geral de preços limitanwww.economiaemercado.co.mz | Março 2021
POLÍTICA MONETÁRIA JUROS, A ORIGEM DA CRÍTICA O primeiro agravamento que o Banco Central efectua na taxa MIMO acaba por desencadear debates acesos sobre a eficácia da medida Em %
21,75 15,75
Abr 2017
Jun 2018
15
14,25
Ago 2018
13,25
Dez 2018
Jun 2019
11,25
10,25
Abr 2020
Jun 2020
13,25
Jan 2021
RESERVAS ACUMULADAS. QUE PAPEL? O aumento das Reservas Internacionais vai deixando dúvidas quanto aos seus efeitos: afinal, vai travar a inflação ou depreciar o metical? Em milhões USD
3921
3900
Fev 2020
Mai 2020
4081
4000
Jul 2020
3912
3893
Set 2020
Nov 2020
Jan 2021
BAIXA INFLAÇÃO. QUAL É A ESSÊNCIA? A inflação média anual segue baixa desde 2020, o que para alguns economistas não justifica que se tenha agravado a taxa MIMO. Será? Em %
3,02
2,75
2,98
3,2
3,27
3,52
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FONTE Banco de Moçambique e INE
do a quantidade de dinheiro no sistema (política restritiva). Mussá explicou ainda que, no ano passado, a inflação se manteve baixa apesar da depreciação cambial, o que se explica pelo facto de o preço do petróleo se ter mantido baixo evitando o agravamento do custo dos combustíveis em Moçambique, além do facto de o Governo ter tomado um conjunto de medidas para aliviar o aumento do custo de alimentos e electricidade, levando a que o ano fechasse com uma inflação anual de 3,5%. “Em Janeiro deste ano, a inflação subiu para 4,1% e, olhando para os vários elementos que compõem o Índice de Preços ao Consumidor, o preço do cabaz dos alimentos aumentou mais de 9%, o que pode estar a indicar que brevemente pode registar uma subida acima de um dígito, constituindo uma preocupação para o Banco Central e eu posso compreender, por isso, a razão do aumento das taxas de juro”, reiterou, revelando estar alinhado com os princípios do BM. www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
O outro lado… o dos erros do BM Afinal, a postura do regulador é questionável! A maioria dos economistas faz um levantamento infindável de imprecisões na sua política. Tal como os empresários, este grupo de economistas não encontra fundamento válido para que o BM tenha agravado a taxa MIMO em 300 pontos base, e acaba por colocar em causa os resultados que se pretendem, não só em relação à variação das taxas de juro, como sobre todos os instrumentos que o BM mexe no exercício das suas competências. A (in)utilidade da taxa MIMO O economista Roberto Tibana, pesquisador com larga experiência em assuntos de política monetária, é das vozes que criticam o BM. Tibana começa por questionar a utilidade da taxa MIMO enquanto instrumento com mérito para emitir sinais à economia. “Tenho dúvidas sobre isso, embora
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MERCADO E FINANÇA
“A acumulação das Reservas Internacionais pode ser resultado de uma postura mais cautelosa por parte do BM”, Fáusio Mussá esteja ainda a fazer um trabalho de casa para verificar este aspecto”, disse Tibana, para quem há pelo menos um instrumento que tem sido muito sério no conjunto dos instrumentos de política monetária, e que alimenta a sua dúvida: a taxa de Reservas Obrigatórias (RO), actualmente fixada em cerca de 37%. Segundo o economista, o papel das RO é o de diminuir a quantidade de dinheiro que os bancos comerciais podem dar por empréstimo (ou seja, os bancos são obrigados a reservar 37% dos depósitos diários de clientes no Banco Central) o que, para Roberto Tibana, “é extremamente duro para a economia, já que Moçambique é um dos países que tem a taxa de Reservas Obrigatórias mais altas em África e no mundo. Dos pouquíssimos países que usam este instrumento com tanta violência”. Segundo o economista, mais do que a taxa MIMO, “as RO são o instrumento de política que tem impacto mais directo na capacidade de os bancos comerciais oferecerem crédito à economia porque estes têm de mobilizar grandes volumes de depósitos a uma certa taxa de juros de depósitos (junto ao Banco Central). E quanto menos puderem emprestar o volume de crédito que mobilizam, maior é a taxa de juro que têm de aplicar para com os seus clientes para compensar os custos”, observou o economista, sublinhando que o instrumento que obriga os bancos comerciais a praticarem certo nível de taxas de juro do mercado é a taxa de Reservas Obrigatórias e não a taxa MIMO. Tibana suspeita ser esta contradição que está na origem da lentidão na redução das taxas de retalho quando o BM reduz a taxa MIMO e outros sinais da política monetária. Regras contraditórias Tratava-se, na verdade, de um webinar moderado pelo economista João Mosca, conhecido pela sua postura críti-
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ca sobre como os decisores, sejam quais forem, têm estado a conduzir os destinos do País. Por um instante, Mosca não se conformou em apenas passar a palavra e tomou-a ele próprio. Na sua intervenção, o economista revelou haver fortes incongruências na utilização dos instrumentos da política monetária. “Por exemplo, ao mesmo tempo que se elevam as taxas de juro, faz-se depreciar a moeda nacional sabendo-se que uma parte significativa da inflação é provocada pelas importações, sobretudo de bens alimentares. Por um lado, procura-se travar a inflação através do aumento das taxas de juro e, por outro, faz-se deslizar o câmbio provocando inflação”, observou. João Mosca também considera discutível tentar travar a inflação ao nível em que está actualmente (baixa), numa economia em recessão. Ou seja, o Banco Central faz exactamente o contrário do que a teoria económica recomenda, e que defende que, em situação de recessão, a política monetária deve ser expansiva, e vice-versa. “Deixar subir a inflação até ao nível de 8% a 10% em situação de crise não me parece tão grave, mesmo por se tratar de uma inflação localizada em alguns sectores da economia sobre os quais é possível aplicar medidas monetárias que façam reduzir a inflação quando se restabelecer a estabilidade económica”, concluiu. Interpretação distorcida dos fenómenos Incidindo sobre a relação entre a política monetária e a dinâmica da exploração da indústria extractiva, a economista Inocência Mapisse começou por lembrar que, apesar do desempenho negativo do sector extractivo no ano passado, verificaram-se alguns eventos positivos, nomeadamente a retoma das perfurações de pesquisa em mar pela ENI, após uma paralisação de oito meses – a Decisão Final de Investimento (DFI) para o projecto da Sasol em Inhambane avaliado em 760 milhões de dólares. A economista entende que tais eventos seriam a oportunidade que o BM deveria aproveitar para cortar a taxa MIMO, e não para fazer o contrário. Ou seja, poder-sewww.economiaemercado.co.mz | Março 2021
RESERVAS, O OUTRO PONTO DA DISCÓRDIA No ano passado, o Banco Central foi acumulando Reservas Internacionais e neste momento estão ao nível de 4 mil milhões de dólares, um máximo histórico. Enquanto Fáusio Mussá defende que a acumulação das Reservas Internacionais pode ser resultado de uma postura mais cautelosa na gestão da política monetária por parte do BM (face aos riscos impostos pelo covid-19, a insegurança e o aumento do preço das commodities), Roberto Tibana entende que os manuais de política cambial ensinam que ao acumular reservas internacionais retira-se a quantidade de moeda estrangeira que se oferece à economia e, por isso, cria-se uma situação de aumento das taxas de cambio de moeda nacional. “A política de Reservas Internacionais é, provavelmente, um dos factores que está a levar a uma mais acelerada depreciação do metical”, indicou, para depois questionar: “quais são os parâmetros tomados em conta para determinar o nível de Reservas Internacionais? Temos, antes, de ver a capacidade de importação por salvaguardar com esta política, lembrando que a necessidade de importações das PME é muito menor do que as dos grandes projectos”, explicou. Tibana defende que é preciso tentar perceber se não haverá espaço para aprimorar a gestão das reservas internacionais.
-ia entender que, por exemplo, com a DFI a economia terá maior disponibilidade de divisas que podem reduzir a procura de divisas e, consequentemente, o seu repasse para a inflação. Mas ocorre o contrário: por exemplo, o Banco Central refere que uma das razões para o aumento da taxa MIMO é a contenção da inflação, sem se dar conta que os eventos do sector extractivo (já citados) podem ajudar a conter a inflação sem ser necessário aumentar as taxas de juro. Além disso, avançou a economista, o BM acaba por ser contraditório quando assume que é preciso trazer instrumentos para garantir bom ambiente de negócios numa altura em que ele mesmo decide aumentar as taxas de juro de política monetária. “Assim, estamos a caminhar para uma situação em que não se está a proteger o ambiente de negócios, de um modo geral, e não se está a dotar o sector privado de capacidade para responder a demanda do sector extractivo”, criticou Inocência Mapisse. Nem os resultados geram consenso! Também interveio Roque Magaia, economista da Confederação das Associações Económicas (CTA), a defender que eso Banco Central tem tomado medidas imprevisíveis, mesmo sendo gestor de instrumentos que sinalizam o mercado, acabando por agredir os agentes económicos. Por exemplo, no caso da taxa MIMO, os sinais emitidos pelas perspectivas de uma inflação baixa e estável não faziam antever um agravamento na dimensão de 300 pontos base. Em resposta, Fáusio Mussá, reiterando haver mérito do BM, informou que a decisão do Banco de Moçambique já começou a produzir pelo menos um efeito do ponto de vista cambial: na última quinzena de Fevereiro, o Standard Bank recebeu várias chamadas de investidores externos que, ao se aperceberem que as taxas de juro da dívida moçambicana se tornaram atractivas, fizeram aplicações nesta dívida. E a entrada de divisas na compra da dívida melhorou a liquidez levando à apreciação da moeda. Mas Tibana rebateu: “As políticas do Banco Central acomodam a indisciplina fiscal, pelo elevado grau de desconexão com as do Ministério das Finanças”. www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
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OPINIÃO
Depois do aumento das taxa de juro, o metical começa a dar sinais de retoma
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Líria Nhavotso • Directora da Tesouraria e Mercado de Capitais do Banco BIG
o final do passado mês de janeiro, o Banco de Moçambique (BdM) surpreendeu o mercado com a decisão de subida das principais taxas de referência em 300 pontos base (pb), alterando a estratégia de política monetária que vinha a ser implementada desde meados de 2017. Recuando uns anos, desde finais de 2016, o BdM tem vindo a implementar um conjunto de alterações e reformas, com o intuito de modernizar os instrumentos de política monetária utilizados para atingir os seus objectivos primários, de preservação do valor da moeda nacional e o controlo da inflação. No quadro destas reformas, foi adoptada, em Abril de 2017, uma taxa de juro de política monetária (MIMO), que serve de referência para os empréstimos no mercado interbancário. A introdução da MIMO, para além de sinalizar ao mercado, de forma clara, a política monetária do Banco Central, promove também uma maior transparência no processo de fixação das taxas de juros de mercado. A MIMO “nasceu” a 21,75% e desde então, com a estabilização do câmbio, o BdM foi reduzindo esta taxa de forma progressiva e controlada, acompanhando a queda da inflação, e contribuindo assim para os esforços de retoma do crescimento económico do País. Esta tendência de descida da MIMO atingiu o seu nível mais baixo em Junho de 2020, na sequência das medidas tomadas para combater os efeitos da pandemia, com o CPMO a reduzir esta taxa em 150 pb em Abril e 100 pb em Junho, passando de 12,75% para 10,25%. O ano de 2020 ficará certamente na memória de todos. Nesta altura, há sensivelmente dois anos, Moçambique era atingido por um dos maiores desastres naturais ocorridos recentemente em África, e, numa altura em que o País se preparava para uma retoma económica, começavam a conhecer-se as consequências reais de uma pandemia que rapidamente se alastrou por todo o Mundo. O abrandamento severo e generalizado da actividade económica, como consequência das medidas de contenção para mitigar a propagação da pandemia da Covid-19, motivou a adopção de políticas monetárias expansionistas por praticamente todos os bancos centrais a nível global, quer através de cortes nas suas taxas directoras
quer através de intervenções directas no mercado de capitais. Estas medidas foram acompanhadas por pacotes de estímulos e alívios fiscais por parte dos Governos, com o objectivo de assegurar a sobrevivência das empresas e dos empregos, e estimular economias que começavam a entrar em recessões profundas. Moçambique não foi excepção e o Banco de Moçambique optou por cortar as suas taxas de juro de referência, criando um estímulo monetário e tentando evitar a deterioração das condições do sistema financeiro... Contudo, estas medidas tiveram alguns impactos colaterais, sendo de destacar a evolução do Metical, que encerrou 2020 com fortes desvalorizações contra as principais moedas internacionais. Com efeito, este movimento foi semelhante ao de outras economias emergentes, motivado pela descida da procura e do preço das commodities, e o efeito adicional em Moçambique de redução da entrada de divisas resultante de um menor fluxo de investimento estrangeiro. Esta desvalorização significativa da moeda nacional, com principal incidência na segunda metade do ano passado, rapidamente se reflectiu numa tendência de subida dos preços, principalmente nos bens importados. Segundo o INE, a inflação homóloga, em Fevereiro, já atingiu os 5,1%, com os preços dos alimentos e bebidas não alcoólicas a observarem uma variação homóloga de 11,5%. Com esta sequência de eventos, e procurando mitigar os efeitos nefastos da desvalorização nos preços, bem como acautelar os riscos e incertezas associados com a propagação da pandemia, dos desastres naturais e a instabilidade militar no norte do País, o Banco de Moçambique tomou uma decisão arrojada de subida das taxas de juro. Com esta decisão, o Banco de Moçambique tornou-se o primeiro Banco Central, a nível mundial, a aumentar as taxas de juro desde a eclosão da pandemia. Esta medida, em conjunto com uma gestão flexível das reservas internacionais, teve um impacto quase imediato no Metical, que começa a mostrar sinais de recuperação face às principais moedas internacionais. É expectável que o Banco Central mantenha uma postura restritiva, com a manutenção das taxas aos níveis actuais, podendo ainda decidir novos aumentos, caso necessário, de modo a controlar e alcançar os objectivos de inflação.
Para mitigar os efeitos nefastos da desvalorização nos preços, acautelar os riscos associados com a pandemia, etc., o Banco Central tomou a decisão arrojada de subida das taxas de juro
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EspecialInovação
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África é dos pontos do mundo mais expostos aos efeitos das mudanças climáticas, que se sobrepõem ao deficiente saneamento do meio. Conheça interessantes iniciativas inovadoras em curso para tentar resolver a situação.
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PERTENCE
A iniciativa que indica onde buscar finanças para investir
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OPINIÃO
Um olhar sobre a importância do design nos negócios
53 PANORAMA
As notícias da inovação em Moçambique, África e no Mundo
HEALTH-TECHS
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Os desafios das Megacidades de África Face às Mudanças Climáticas Com sérios problemas de saneamento do meio, as cidades africanas têm se debatido com enormes dificuldades de os solucionar. Afinal, quando foram projectadas não se equacionavam eventos que hoje experimentam, desde a pressão populacional até às mudaças climáticas TEXTO Rui Trindade • FOTOGRAFIA D.R.
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om os seus 24 milhões de habitantes, Lagos, na Nigéria, é uma das grandes mega-cidades de África. E as projecções mais recentes indicam que essa população irá continuar a crescer até ao final deste século. Se a gestão urbana já hoje é considerada caótica e disfuncional ao extremo, os especialistas temem que a contínua pressão demográfica que se perspectiva venha a tornar a cidade ingovernável. A não ser que medidas radicais venham a ser implementadas. Durante a epóca das chuvas, a cidade fica praticamente intransitável. Isso deve-se, em grande parte, à incapacidade para lidar, de forma eficiente, com as 10 mil toneladas de lixo produzidas todos os dias
na, Durban, na África do Sul, Luanda, em Angola, e Maputo, em Moçambique). Antecipando a possibilidade de um cenário deste tipo se materializar, as autoridades têm vindo a considerar vários tipos de soluções cujo foco se centra sobretudo em encontrar formas de mitigar o impacto das mudanças climáticas e adaptar o território à nova realidade em perspectiva. Um exemplo do tipo de projectos que estão a ser avaliados enquadra-se no que se pode designar de “arquitectura flutuante”e tem tomado, como ponto de partida, o bairro de Makoko. Conhecido como a “Veneza de África”, o Makoko é uma gigantesca e labiríntica favela flutuante cujas habitações assentam em palafitas, sendo que a circulação se faz usan-
Um exemplo do tipo de projectos que estão a ser avaliados... designa-se “arquitectura flutuante” e que acabam por impedir o escoamento das águas inundando vastas zonas de Lagos. Este problema crónico pode vir a agravar-se substancialmente com o processo da mudança climática em curso. Embora os estudos indiquem que as chuvas tenderão a ser menos frequentes nas próximas décadas, a sua intensidade, porém, será muito mais elevada e violenta. Para complicar ainda mais a situação, os mesmos estudos sublinham que, se o aquecimento global for além dos dois graus centígrados, a subida das águas costeiras ultrapassará, em 2100, os 90 centímetros inundando partes da cidade de forma definitiva (uma situação que ameaça igualmente, entre outras, cidades como Accra, no Gawww.economiaemercado.co.mz | Março 2021
do canoas. Foi no Makoko que, há alguns anos, o arquitecto Kunlé Adeyemi concebeu o protótipo de uma “escola flutuante” (The Makoko Floating School) cujo design, original e inovador, se tornou rapidamente num modelo de referência enquanto solução para outras cidades costeiras. Réplicas foram testadas inclusive em cidades europeias como Veneza (Itália) e Brugges (Bélgica). E, mais recentemente, em Cabo Verde, no Mindelo, Kunlé Adeyemi concebeu, no âmbito da iniciativa African Water Cities Project, desenvolvida pelo seu atelier de arquitectura, uma estrutura flutuante semelhante à projectada no Makoko. Apesar de a “escola flutuante” do Makoko ter sido afectada gravemente pelos temporais
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AGRITECHS
de 2016, obrigando a uma revisão do modelo, o conceito está a servir de base para imaginar outras aplicações similares. E levou a que, na sua esteira, as autoridades tenham dado prioridade à dinamização de projectos de circulação fluvial enquanto alternativa à rodoviária. Nos últimos anos foram criadas 42 “linhas urbanas” de embarcações ligando várias zonas da cidade. Mas, para além desta iniciativa municipal, as autoridades incentivaram também os privados a intervir. Assim, por exemplo, em 2019, a Uber arrancou com um serviço, o Uber Boats, constituído por embarcações velozes, que permitem um acesso rápido a vários pontos de Lagos. Outras iniciativas – desde o combate à erosão e a construção de protecções costeiras ao desenvolvimento de apps, como a
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Flood Mobile App, que dá informação em tempo real sobre a iminência de possíveis inundações – fazem parte de um conjunto alargado de projectos que procuram não apenas evitar que Lagos se “afunde”, mas que sejam capazes de dotar a cidade de estratégias de resiliência face à mudança climática e abram caminho a modelos de desenvolvimento sustentável.
A maior transformação do século XXI
O caso de Lagos ilustra bem os grandes desafios que se colocam ao continente africano. De acordo com o Banco Mundial, a urbanização será “a transformação mais importante que o continente africano passará neste século”, estimando que, até 2040, mais de metade da população vi-
verá em cidades. Uma das consequências desta evolução é que mais nove mega-cidades irão surgir (cada uma com mais de dez milhões de habitantes). Por seu turno, as maiores cidades continuarão a crescer prevendo-se que as três maiores serão Kinshasa, com 35 milhões de habitantes, Lagos, com 32 milhões e o Cairo com 24 milhões. Esta realidade coloca desafios de uma escala sem precedentes e obrigará todos os actores envolvidos (governos, investidores, planeadores urbanos, designers, arquitectos, etc.) a encontrar não só respostas aos problemas já existentes como a encontrar soluções inovadoras que levem em conta as mudanças climáticas. De acordo com o Fórum Económico Mundial, África precisará de investir, até 2050, entre 130 www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
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tão apostadas em intervir no contexto das mega-cidades existentes e as que procuram desenvolver, de raiz, novos espaços urbanos. No que toca a este último tipo de opção, um dos casos mais referidos é o da “eco-cidade” de Zenata, em Marrocos, que deverá estar operacional em 2023. No mesmo sentido, o projecto Future Cities Africa - criado no âmbito do programa Cities Alliance que junta, entre outras entidades, a agência das Nações Unidas, UNOPS, a multinacional Arup, especializada em consultoria urbana estratégica, e o Departamento para o Desenvolvimento Internacional, do Reino Unido – tem estado a estudar o desenvolvimento de “cidades secundárias estratégicas e regionais” em vários países africanos (Gana, Etiópia, Uganda, etc.) que funcionem como modelos de zonas urbanas resilientes e sustentáveis. Em contraste com intervenções deste tipo, o Instituto de Arquitectura Experimental da Bauhaus Universitat Weimer tem vindo a trabalhar com o Instituto Etíope de Construção de Edifícios e Desenvolvimento de Cidades sobre o problema da hiperurbanização da capital etíope e procurado um outro ângulo de abordagem. O programa em desenvolvimento passa, para já, pela construção de três protótipos residenciais em Addis Ababa. Em vez de seguir os modelos dominantes na Europa e no Norte Global, estes protótipos procuram tirar proveito dos métodos de construção indígenas, de tecnologias de construção e uso de materiais tradicionais para criar estruturas espaciais social e ambien-
retêm o calor, elevam a temperatura nas cidades e reduzem o lençol freático. O tratamento dos resíduos urbanos é outro dos grandes problemas. A falta de gestão eficaz dos resíduos, na maioria das cidades, ajuda a gerar emissões de gases de efeito estufa nos aterros existentes. Com a crescente urbanização, o volume de lixo aumentará e as emissões de gases de efeito de estufa também. Apesar deste quadro, e independemente da urgência na adopção de soluções estruturantes, um relatório da FAO sublinhava, recentemente, a necessidade, por exemplo, de apoiar a horticultura urbana e periurbana como forma de contribuír para “criar cidades mais verdes na África”. Para além de sublinhar a importância desta tradição “local” no que toca à “segurança alimentar” das populações (sobretudo tendo em atenção as futuras “pandemias climáticas” que se perspectivam), “a horticultura cria cinturões verdes, que protegem áreas frágeis, contêm a expansão urbana e aumentam a resiliência à mudança climática”. E refere também que “ao reduzir a necessidade de transportar produtos das áreas rurais, gera poupança de combustível e menos poluição do ar”. O relatório da FAO faz um levantamento exaustivo da situação no continente mostrando como a “agricultura urbana”, que tem uma expressão significativa em todos os países do continente, pode constituír uma “base” relevante para fazer mitigar muitos problemas ambientais. Esta abordagem está, de algum modo, em linha com os
A falta de gestão eficaz dos resíduos ajuda a gerar emissões de gases de efeito estufa a 170 biliões de dólares anualmente para resolver as suas necessidades básicas em termos de infra-estruturas. Só assim será possível garantir aos 1,3 biliões de cidadãos, que viverão em zonas urbanas, condições mínimas de dignidade (recorde-se que, de acordo com dados recentes, 60% da população urbana no continente vive ainda em favelas sem condições mínimas de salubridade e acesso a água potável). Mas a intervenção ao nível das infra-estruturas não dispensa, desde já, uma ponderação sobre o efeito das mudanças climáticas de modo a que esta intervenção esteja em linha com as necessidades de resiliência e sustentabilidade indispensáveis. Nesta perspectiva, as múltiplas iniciativas actualmente em curso podem ser divididas, genericamente, entre aquelas que eswww.economiaemercado.co.mz | Março 2021
talmente robustas, abertas e flexíveis. Embora projectado para Addis Abeba, onde 80% da população urbana vive em favelas, o exercício arquitectónico tem um desígnio mais amplo: o de dar corpo a uma tipologia de construção que sirva de referência para todo o continente e tenha como linha mestra a recuperação de um saber-fazer e de um tipo de materiais, que podem vir a demonstrar ser mais apropriados às necessidades do continente.
Cidades Inteligentes e Cidades Ecológicas
Um grande números de cidades africanas tem configurações “ecologicamente incorrectas” que comprometem a sua resiliência à mudança do clima. A falta de vegetação e o uso de materiais de construção que
que defendem, em alternativa às “cidades inteligentes” (smart cities), modelos de “cidades ecológicas” que se inspiram no modo de funcionamento da natureza e apostam na utilização da vegetação como elemento principal (fachadas verdes, jardins de chuvas, hortas urbanas, etc.). Os benefícios são claros: regulação hídrica e drenagem urbana, melhoria do conforto térmico e do microclima urbano, aumento da biodiversidade, sequestro de CO2 e outros poluentes, etc. Mas, como notam vários especialistas, os dois tipos de abordagens (cidades inteligentes/cidades ecológicas) não são concorrentes, mas sim complementares. Face ao desafio monumental que as mudanças climáticas implicam haverá, acima de tudo, de fazer as melhores escolhas perante cada contexto específico.
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Fazer Negócio Facilitando Finanças a Outros Negócios A Pertence é uma solução digital que pretende divulgar e agregar várias iniciativas tecnológicas ao mercado para despertar o interesse dos investidores em apostar nelas TEXTO Hermenegildo Langa • FOTOGRAFIA Mariano Silva
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á pouco tempo, Moçambique era um país onde falar de fintech ou start-up não era tão comum quanto acontece actualmente, visto que o sucesso das iniciativas de investimentos não dependia, essencialmente, de meios tecnológicos. Hoje, a inovação tecnológica e o empreendedorismo fazem o par perfeito que cria condições para uma resposta efectiva à necessidade de conferir eficiência aos processos produtivos. Trata-se de uma tendência que veio a ser acelerada pela pandemia do covid-19, que ocasionou um aumento sem precedentes da procura por serviços financeiros online. A oportunidade de negócio neste campo, também cresceu e conta com um número cada vez maior de operadores. Mas, nesta edição, vamos falar da Pertence, uma empresa moçambicana provedora de soluções digitais e que pretende impulsionar o mercado das fintech. Com apenas um ano no mercado, o projecto veio dar resposta a uma forma alternativa de financiamento às outras soluções tecnológicas que estejam em fase inicial. “A Pertence é uma plataforma online e digital de financiamento colectivo, um financiamento em que qualquer pessoa ou empresa pode comparticipar financeiramente para apoiar o seu projecto. Como? De várias maneiras, mas a principal é a participação no capital da empresa ou do projecto em causa através de empréstimos de várias pessoas”, explicaram os co-fundadores da Pertence, Yara Melo e Ian Zaqueu. “Queremos impulsionar as várias formas de apoio às start-ups de modo a permitir a diversificação do financiamento para além das formas tradicionais”, argumentaram.
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Como solução digital, os gestores contam que o aspecto inovador deste projecto está no uso da internet e de uma plataforma para que várias empresas ou iniciativas estejam expostas aos potenciais investidores. Por exemplo, “através de uma aplicação no telefone podemos expor os nossos projectos e encontrar investidores. Queremos, essencialmente, explorar muito mais esta área digital no País”. Mas porquê o nome “Pertence”? É por transmitir um sentimento de inclusão e de pertença. “Queremos que todos se sintam parte deste processo de transformação económica do País, e que todos possam, quer por via de projectos ou de investimentos, pertencer a esta nova era”, explicaram os gestores. A avaliar pela sua forma de actuação, a plataforma Pertence pode confundir-se um pouco com uma bolsa de valores. Porém, os seus co-fundadores asseguram ser longe disso, embora reconheçam algumas similaridades. Estando ainda em fase de amadurecimento, o projecto conta com o apoio do Banco de Moçambique através de uma iniciativa que esta instituição presta às fintech no seu Sandbox. Ainda assim, as aspirações para esta start-up são grandes, e uma delas passa por torná-la num negócio rentável dentro de quatro anos. “A Pertence é uma fintech e start-up que funciona na base do volume de transacções, então quanto maior for o volume de transacção, maior será a nossa comissão. Estamos agora numa fase embrionária, mas dentro de três a quatro anos prevemos ganhar algum lucro”, reiteram. A iniciativa já conta com três projectos, sendo um da área do comércio, outro da agricultura e o último voltado para a área social.
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EMPRESA Pertence FUNDADORES Yara Melo e Ian Zaqueu ANO DE FUNDAÇÃO 2020
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Infra-estruturas
Manica testa tecnologia japonesa na reparação de estradas O Centro de Formação Profissional de Estradas de Chimoio (CFE), na província de Manica, está a melhorar algumas vias de acesso de terra batida por meio de uma tecnologia japonesa denominada Do-Nou, no distrito de Vandúzi. As vias em melhoramento ficaram esburacadas e com grandes fendas em consequência das chuvas intensas que têm estado a cair desde finais do ano passado. Segundo David Charles, chefe do Departamento Pedagó-
gico do CFE e engenheiro responsável pelo programa, o trabalho prático de manutenção das referidas estradas seguiu-se a uma formação envolvendo 50 jovens do distrito de Vandúzi durante duas semanas. No entanto, David Charles disse que a tecnologia Do-Nou, após a sua aprovação, poderá ser usada pela primeira vez no País e por meio do seu impacto o Governo poderá definir outras vias intransitáveis a serem intervencionadas.
Saúde
Gana usa drones para entregar vacinas para Covid-19 A Zipline, uma startup com sede em São Francisco (EUA), encontrou uma solução para facilitar a distribuição de vacinas contra o covid-19 nos países menos desenvolvidos e em zonas mais remotas. O objectivo da parceria entre o Governo do Gana e a Zipline, anunciada no dia 26 de Fevereiro – dois dias após a chegada das vacinas a Accra (capital do Gana), é melhorar a agilidade e o acesso das va-
cinas por meio da entrega sob demanda, mesmo nas mais difíceis áreas de alcance naquele país. Até ao momento, a Zipline Gana distribuiu mais de um milhão de doses de vacinas, muitas em partes do país que são difíceis de alcançar por terra. Ao fornecer entrega por meio de drones, o Governo não só é capaz de alcançar mais pessoas, como também de o fazer com eficiência.
Computação
Microsoft apresenta primeira versão de reuniões com hologramas “Mesh” é o nome da plataforma apresentada pela multinacional de tecnologia norte-americana e vai proporcionar o primeiro ‘mergulho’ na “realidade mista”, ou seja, uma tecnologia entre a realidade aumentada e a virtual. A realidade aumentada pressupõe elementos físicos como, por exemplo, a reprodução digital de uma pessoa, enquanto a virtual supõe a criação de um ambiente totalmente artificial. www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
Deste modo, a empresa fundada por Bill Gates disse que vai ser possível uma pessoa participar numa reunião virtual e conseguir ver os participantes como se estivessem lado a lado, ainda que estejam em diferentes regiões do planeta. A plataforma vai estar disponível nos dispositivos de realidade aumentada da Microsoft e também em computadores, tablets, smartphones e óculos de realidade virtual, entre outros.
Ambiente
Niassa quer produzir plástico biodegradável hologramas Estão a ser testadas diferentes variedades de semente de rícino na localidade de Titimane, distrito de Cuamba, no Niassa, para apurar o nível de adaptabilidade dos solos e clima desta região para a produção de um novo tipo de plástico biodegradável, um produto considerado ambientalmente saudável feito a partir do óleo extraído da semente de rícino. Judite Massengele, governadora do Niassa, visitou recentemente aquela região do distrito de Cuamba e, na ocasião, disse que, caso os ensaios das diferentes variedades de rícino produzam resultados positivos, a província avançará para uma produção em regime comercial. Niassa tem, de resto, uma longa tradição de produção desta planta, mas o seu uso tem-se resumido a fins cosméticos, algo que poderá mudar se os resultados dos ensaios concluírem a sua efectividade em regiões com temperaturas elevadas.
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LÁ FORA COVID DESEMPREGA 13 MILHÕES DE MULHERES NA AMÉRICA LATINA O dia internacional da mulher, assinalado a 8 de Março, foi um bom pretexto para que instituições multilaterais como a OIT e a ONU divulgassem dados sobre os quais vale a pena reflectir para empreender mudanças efectivas
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Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R. crise económica que decorre da pandemia do covid-19 agravou as disparidades de género na força de trabalho e gerou um retrocesso de pelo menos uma década na América Latina e no Caribe, onde 13 milhões de mulheres perderam os seus empregos, de acordo com o último Panorama Laboral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulgado recentemente. A taxa de participação da mão-de-obra feminina em 2020 sofreu uma queda histórica de 5,4 pontos percentuais, para 46,4%, o que significa que 12 milhões de mulheres deixaram a força de trabalho na América Latina e no Caribe devido à perda dos seus empregos. De acordo com os dados da OIT, uma taxa tão baixa de participação feminina no mercado de trabalho não é registada há mais de 15 anos. Além disso, a taxa de desemprego regional das mulheres subiu de 10,3% para 12,1%, acima da taxa de desemprego global, que aumentou para 10,6%, o que significa que aproximadamente 1,1 milhão de mulheres ficaram desempregadas (totalizando 13,1 milhões). O declínio na taxa de participação da força de trabalho feminina reflecte a percentagem de mulheres que ficaram sem emprego por causa da pandemia, mas não está à procura de novo trabalho por não haver em-
pregos ou porque tiveram de atender a outras responsabilidades familiares. Já o aumento da taxa de desemprego representa a percentagem de mulheres que estão à procura de trabalho, mas não conseguem encontrá-lo. Estes 13,1 milhões de mulheres que perderam emprego somam-se a cerca de 12 milhões que já eram afectadas pelo desemprego antes da pandemia. Desemprego chega a 25 milhões Cerca de 25 milhões de mulheres estão desempregadas ou fora da força de trabalho neste momento, diz o relatório da OIT. “Esta crise sem precedentes agravou as disparidades de género nos mercados de trabalho da região, empurrando milhões de mulheres para fora da força de trabalho e revertendo ganhos anteriores”, disse o director da OIT para a América Latina e o Caribe, Vinícius Pinheiro. “Retrocedemos mais de uma década num ano, e agora precisamos de recuperar esses empregos e pisar no acelerador da igualdade de género”, acrescentou. Pinheiro salientou que “neste Dia Internacional da Mulher (8 de março), é crucial reafirmar o compromisso de recuperar o terreno perdido durante o desastre económico e social nos nossos países”. Trabalhos em serviço e comércio O grave impacto da pandemia no trabalho feminino deve-se ao facto de as
“Retrocedemos mais de uma década num ano, e agora precisamos de recuperar esses empregos e acelerador a igualdade de género... é crucial refirmarmos compromissos”
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mulheres estarem empregadas principalmente nos sectores económicos mais afectados pelas restrições estabelecidas para evitar a propagação da pandemia. De acordo com o Panorama Laboral do Trabalho da OIT para a América Latina e o Caribe, a retracção no universo de empregos em 2020 foi particularmente significativa nos sectores de serviços como a hotelaria (-17,6%) e comércio (-12%). Outro factor que tem afectado e pode condicionar as perspectivas de recuperação de empregos das mulheres é a dificuldade de conciliar o trabalho remunerado com as obrigações em casa. “A tudo isso deve ser acrescentado o aumento do teletrabalho e do trabalho em casa num contexto de encerramento ou suspensão dos espaços de cuidados associados às medidas de www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
AMERICA LATINA
confinamento e distanciamento social”, disse a especialista regional de emprego da OIT, Roxana Maurizio. A organização propôs políticas sociolaborais relevantes para evitar que a crise regional se torne permanente e para evitar a retirada da força de trabalho feminina da região. “É necessário apoiar, ainda mais fortemente, um processo que garanta às mulheres maiores oportunidades de emprego de qualidade, treinamento e acesso a novas tecnologias, redução de lacunas e pleno cumprimento dos direitos trabalhistas”, disse Maurizio. ONU não ficou indiferente Ciente do papel das empresas para o crescimento das economias e para o desenvolvimento humano, a ONU Mulheres e o Pacto Global criaram os www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
Princípios de Empoderamento das Mulheres. Os Princípios são um conjunto de considerações que ajudam a comunidade empresarial a incorporar, nos seus negócios, valores e práticas que visem a equidade de género e equiparação salarial, nomeadamente no estabelecimento de liderança corporativa sensível à igualdade do género, no mais alto nível; tratar todas as mulheres e homens de forma justa no trabalho, respeitando e apoiando os direitos humanos e a não-discriminação; garantir a saúde, segurança e bem-estar de todas as mulheres e homens que trabalham na empresa; promover a educação, capacitação e desenvolvimento profissional para as mulheres; apoiar o empreendedorismo feminino e promover políticas de empoderamento das mulheres através
das cadeias de suprimentos e marketing; promover a igualdade de género através de iniciativas voltadas para a comunidade e ao activismo social e; medir, documentar e publicar os progressos da empresa na promoção da igualdade de género. “Queremos construir um mundo de trabalho distinto para as mulheres”, concluiu Phumzile Mlambo-Ngcuka, subsecretária geral das Nações Unidas e diretora executiva da ONU Mulheres. No mundo, de acordo com a ONU, é necessária uma mudança significativa na educação de meninas. Estima ainda que se a igualdade de género avançasse seria capaz de impulsionar progressos assinaláveis, adicionando 12 mil milhões de dólares no PIB mundial de agora até 2025”.
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ócio
(neg)ócio s.m. do latim negação do ócio
58 Nesta edição vamos conhecer as várias faces da cidade capital, Maputo
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e 60 Como a pandemia poderá inspirar mudanças na indústria de restauração
61 As variedades dos vinhos sem álcool, que ganham cada vez mais adeptos pelo mundo
O encontro com a diversidade
MAPUTO, A CIDADE CIDADE DAS ACÁCIAS
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os meus lugares de maputo
não são os novos malls à beira-mar nem os centros comerciais com luzes violetas. Ainda gosto de ir à Baixa da cidade, ao Mercado Central na Avenida 25 de Setembro. As cores são vibrantes e a atmosfera é sempre alegre. Legumes, frutas, peixe, carne, quinquilharia e mechas para cabelo e uma enorme secção de artesanato. Dou sempre um salto à Casa Elefante, mesmo em frente ao bazar, para apreciar as últimas capulanas. Também gosto de ir ao mercado Janete, ao fundo da Avenida Mao Tse Tung, porque oferece uma enorme variedade de produtos frescos e uma grande secção de vestuário e calçado em segunda mão. Dali vou à FEIMA, o espaço dedicado ao artesanato no Parque dos Continuadores, onde posso comer a rica e variada comida moçambicana – que não é feita apenas de camarão grelhado! Se eu fosse vosso guia, falar-vos-ia da arte de Moçambique
DA SERENDIPIDADE que, tal como o país, resulta de múltiplos relacionamentos culturais. Malangatana, Chissano, Bertina Lopes, Shikani, e tantos outros, continuam símbolos imortais e fontes de inspiração. Actualmente, a arte em Moçambique vive um momento de transição com artistas a explorarem outras expressões e direcções na arte contemporânea: diversidade e complexidade dos estilos e sons presentes, resultantes da mistura de influências tanto tradicionais como globais, enquanto o sentido de colaboração que parece estar em constante crescimento, finalmente, está a ajudar a mostrar os meandros da cena fora da cidade. Mostrar-vos-ia toda a beleza dos murais de Naguib e outros artistas em vários pontos da cidade e iríamos juntos visitar as exposições de arte. Em primeiro lugar, o Museu Nacional de Arte, que abriu ao públi-
co em Maputo, em 1989, na antiga Câmara Municipal, por iniciativa de Malangatana. No espaço atrás do museu, encontramos os escultores Makonde que fazem algumas das máscaras mais invulgares e apelativas de África: toda a cabeça é esculpida e não apenas o rosto. E enquanto a maioria das máscaras africanas são abstractas, o requinte da talha Makonde permite-lhes uma qualidade quase realista. Daríamos um salto ao Núcleo de Arte, que mantém o espírito de oficina de arte e de espaço expositivo. Foi aqui que começou Gonçalo Mabunda, o escultor mundialmente conhecido com as suas cadeiras e crucifixos feitos de armas. As suas esculturas há muito deixaram de integrar apenas as armas. Mas não resiste a uma AK47! Abriu as portas da sua residência e, juntamente com o fotógrafo Mauro Pinto, criou o projecto “Karl
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Marx 1834”, para mostrar as mais diversificadas manifestações artísticas da cidade de Maputo. Depois iríamos até à Universidade Eduardo Mondlane para visitar a sua colecção de arte nacional. Passaríamos pela Mediateca do BCI e depois iríamos até à Kulungwana - Associação para o Desenvolvimento Cultural que, entre outras actividades, possui um espaço-galeria com um programa regular de exposições. Certamente há algo na Fundação Fernando Leite Couto que, semanalmente, além dos encontros com jovens escritores, organiza exposições de todas as expressões artísticas, pintura, escultura, fotografia, traçando a agenda cultural da capital moçambicana. Depois seria a volta à 16Neto, um espaço único de trabalho conjunto, criativo e cultural. No dia seguinte, convidar-vos-ia para uma caminhada matinal no “calçadão” da Marginal porque, ainda que Maputo seja uma cidade que oferece um vasto leque de actividades, instalações e espaços para praticar diversas disciplinas, eu gosto do “calçadão” até ao novo Mercado do Peixe e de ver a ilha da Xefina ao fundo. Faríamos o roteiro de três horas a pé no bairro histórico da Mafalala, onde moraram grandes personalidades da História do País: Samora Machel, Noémia de Sousa, José Craveirinha, Eusébio… e comeríamos pão com badjias. Desafiava-vos ainda a comer deliciosos gulabos na loja do Templo Hindú, da Avenida Guerra Popular, e depois convidar-vos-ia para tomar um copo no Dhow ou no Hotel Cardoso para apreciar o pôr-de-sol de Maputo que, apesar de todas as tentativas, é sempre mais “alto” do que os novos edifícios que querem chegar até ao céu. TEXTO CRISTIANA PEREIRA FOTOGRAFIA D.R.
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GOSTO DE IR À BAIXA DA CIDADE DE MAPUTO, AO MERCADO CENTRAL, NA AVENIDA 25 DE SETEMBRO. AS CORES SÃO MAIS VIBRANTES E A ATMOSFERA É SEMPRE MUITO ALEGRE ROTEIRO COMO IR
Através da Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) que voa para Maputo a partir de Lisboa, Dar-es-Salaam, Nairobi e Joanesburgo. ONDE COMER
A Figtree Guesthouse, no coração da Sommerschield, é um bed&breakfast elegante e acolhedor. O Polana Serena Hotel, na Avenida Julius Nyerere 1380, é o hotel mais antigo da capital moçambicana. ONDE COMER
O Campo di Mare, na Marginal, tem uma maravilhosa varanda que se debruça sobre a baía e serve massas frescas feitas à mão, salada de caranguejo, carpaccio de polvo, etc. O Zambi, na Avenida 10 de Novembro, é considerado um dos melhores restaurantes de Maputo. Com grande história e tradição, serve atum e mariscos e uma picanha superlativa, entre outros pratos da rica ementa. O Lugar e Meio, na Avenida Francisco Orlando Magumbwe, serve falafel, o atum braseado, etc.
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DIVERSOS RESTAURANTES NO MUNDO ESTÃO AGORA A REUNIR-SE COM UM ESPÍRITO DE LUTA CONTRA O COVID-19
com a crise instaurada pelo coronavírus, todos os tipos
de restaurantes tiveram de fechar abruptamente as suas salas de jantar e abrir rapidamente novas formas de fazer negócios para sobreviver, proteger os seus empregados e servir as rápidas mudanças de necessidades dos seus clientes. Ver a indústria da restauração a cair em tempos de pandemia é difícil de controlar, considerando que, antes desta realidade, a indústria de 899 mil milhões de dólares em receitas contribuiu com 4% para o PIB dos Estados Unidos. Os consumidores gastavam normalmente perto de 50% do seu orçamento alimentar mensal em restaurantes até que o covid-19 os forçou a quebrar o hábito. A empresa norte-americana de recolocação, designada por Challenger, Gray & Christmas (voltada para a reintegração de profissionais que, por alguma razão,
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RESTAURANTES
g NA RESTAURAÇÃO, saem do mercado de trabalho), relatou que mais de 600 postos de trabalho na indústria alimentar foram cortados devido à pandemia, e outros 7,4 milhões poderão em breve ser cortados ou severamente afectados. Diversos restaurantes no mundo estão agora a reunir-se rapidamente com um espírito de luta contra o covid-19, a mudar completamente os seus negócios para acomodar a recepção e a entrega. Alguns estabelecimentos voltaram-se para os serviços de entrega de alimentos como Caviar, DoorDash e Seamless para ajudar a satisfazer a procura. Mas o que devem os investidores fazer para manter a sua marca e fortificá-la? Especialistas em publicidade digital recomendam concentração nas seguintes (três) áreas:
O NOVO NORMAL CHEGARÁ MAIS RÁPIDO! ser atempado e reactivo
Sempre que alterar os seus serviços de restauração, menus ou horários, mantenha os seus clientes informados. Actualize o seu website, os meios de comunicação social e os directórios. Assegure-se que as suas linhas telefónicas estejam disponíveis e treine rapidamente o seu pessoal para realizar, sem problemas, novos processos para manter os seus clientes satisfeitos. Agora é o momento de inovar. Conheça e sirva os seus clientes e comunidades onde eles se encontram agora. Considere apresentar ofertas especiais de refeições e kits de refeições para que os clientes possam preparar em casa.
dar prioridade à saúde
Estabeleça medidas de segurança e mencione-as com regularidade para aliviar os receios dos clientes. As mensagens de espírito de serviço devem ser informadas de igual modo, como a entrega sem contacto ou o pagamento. . concentração clientes
nos
melhores
Pesquise e descubra quem são os seus melhores clientes e depois ligue para eles regularmente. Modele novos públicos a partir dos seus próprios clientes para alargar o seu alcance para obter o maior ganho. Reequipe o seu negócio e oriente as suas acções com base nas necessidades dos seus clientes. www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
A SCHATZI IMPORTA A SÉRIE EINS-ZWEI-ZERO DE VINHOS SEM ÁLCOOL DE LEITZ, UM EXCELENTE E INOVADOR ESPECIALISTA EM RIESLING EM RHEINGAU, ALEMANHA
VINHO SEM ÁLCOOL
AINDA É VINHO? É.
E O CONSUMO ESTÁ A AUMENTAR os vinhos sem álcool preenchem uma necessidade para os sóbrios, seguidores de uma determinada religião ou ocasionalmente abstinentes, e há uma nova geração de vinhos sem álcool que é promissora. No entanto, é difícil de imaginar vinho sem o álcool. Porque é parte integrante da sua textura, sabor e complexidade, apesar de o interesse pelo vinho sem álcool ter vindo a crescer rapidamente nos últimos dois anos. Segundo dados da consultora Nielsen global Media, as vendas a retalho de vinhos sem álcool nos Estados Unidos dispararam durante o ano que terminou em 20 de Fevereiro, subindo 34% ao longo dessas 52 semanas após se terem mantido relativamente estáveis de 2016 a 2019. As vendas anuais, no valor aproximado de 36 milhões de dólares ao longo do último ano, são apenas uma pequena fracção de toda a categoria de vinhos, que registou mais de 21 mil milhões de dólares nesse período. Apenas sete marcas de vinhos sem álcool tiveram mais de $1 milhão de dólares em vendas, pode ler-se na pesquisa. Isto não é muito, comparado com outras categorias de bebidas não alcoólicas, como a cerveja e a sidra, que oferecem uma selecção muito maior do que o vinho. Mas o interesse cresceu suficientemente rápido no último ano para que alguns no comércio do vinho vejam agora uma oportunidade excitante. “É a categoria de crescimento mais rápido na nossa carteira neste momento”, disse Kevin Pike, proprietário da Schatzi Wines, um pequeno importador e distribuidor em Milão. “Sobe 1 000 por cento e cresce todos os dias”. A Schatzi importa a série Eins-Zwei-Zero de vinhos sem álcool de Leitz, www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
um excelente e inovador especialista em riesling na região de Rheingau, na Alemanha. Vende agora três variedades: um riesling, um espumante riesling e um espumante rosé. Os dois espumantes também vêm em latas de 250 mililitros, e o Sr. Pike disse que espera adicionar um pinot noir sem álcool no próximo ano. Outro importador, Victor O. Schwartz da VOS Selections, traz um chardonnay sem álcool da Thomson & Scott, um comerciante mais conhecido por vender o Skinny Prosecco. As garrafas destinam-se a uma dieta consciente, e o Sr. Schwartz disse que a resposta aos vinhos tem sido óptima. Um bom sumo de uva pode ser maravilhoso, mas não passa disso. O vinho não alcoólico é produzido pela primeira vez ao fazer vinho. A levedura fermenta todo ou quase todo o açúcar da uva em álcool. Depois, o álcool é retirado. O resultado não é mais intoxicante do que o sumo de uva, mas geralmente não é tão doce e é fundamentalmente alterado. Qual é o apelo? Não é difícil de entender que, num mundo pandémico, os cuidados com a saúde tenham emergido. Mas as razões práticas são, no entanto, tão importantes como qualquer outra motivada por tendências sociais. “Estou a pensar em pessoas que estão em forma e acordam super cedo para correr ou fazer exercício, pessoas que querem festejar mas são o motorista designado, pessoas que querem tirar uma noite de folga da sua garrafa habitual, ou que têm de trabalhar depois do jantar”, disse Schwartz. “Todas estas pessoas gostam de beber vinho e não querem desistir disso, mas estão felizes por não terem álcool a interferir nestas alturas com as suas vidas ocupadas e activas”.
EINS-ZWEI-ZERO SPARKLING RIESLING O álcool do vinho ferve a 28°C, preservando os aromas e as características “enológicas”: citrinos de laranja, ruibarbo e estragão. O CO2 nesta versão espumante do Riesling faz com que pareça mais seco do que é, uma vez que o limão e outras especiarias encontram-se ainda mais fortes! Este borbulhante sem álcool é perfeito para as férias, ou para qualquer dia, na realidade. PERFIL Citrinos cor-de-laranja, ruibarbo e estragão ÁLCOOL Zero PREÇO 10$
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LITURGIA DO SILÊNCIO
AUTOR
Salvador Muchidão Editora
Oleba
O SILÊNCIO PREGADO as madrugadas ganhavam
vida e o silêncio protagonizava desafios poéticos convidando o jovem escritor, Salvador Muchidão, a deixar-se embalar pela calmaria daquele período do dia em que o sono se recusava a dele se aproximar. Em resposta ao convite poético, Muchidão não viu outra alternativa senão escrever… e escreveu… até dar vida à “Liturgia do Silêncio”, uma obra que reúne mais de 50 poemas que, de uma forma ensurdecedora, mostram a vivência do homem por meio de diferentes temáticas onde o sujeito poético dialoga com quatro entidades: Deus, a natureza, a mulher amada e a figura materna. “Liturgia é um conjunto de procedimentos pré-definidos para a celebração de um culto religioso. É um momento de contacto com o divino e, ao escolher o título “Liturgia do Silêncio”, quero fazer alu-
EM RITUAL POÉTICO são ao momento em que estamos connosco mesmos fazendo grandes reflexões da nossa vida no silêncio da noite ou durante a madrugada”, disse. De “imortal” à “indiferença”, a cada página, “vivências” são partilhadas. Exemplo claro é o poema que deu título à obra, que fora escrito após o episódio de 29 de Julho de 2019, quando um homem cansado de acumular silêncios e procurando ser entendido sem sequer dizer uma palavra subiu ao topo da estátua da Praça dos Trabalhadores, localizada na baixa da Cidade de Maputo, acabando por preocupar a quem por lá passava, pois temia-se que este cometesse suicídio. “Aquele jovem concentrou uma multidão sem dizer uma palavra. Ele pregou em silêncio e despertou a cons-
“LITURGIA DO SILÊNCIO” É A PRIMEIRA OBRA DO ESCRITOR DE 27 ANOS www.economiaemercado.co.mz | Março 2021
ciência sobre a atenção para os problemas da juventude. Foi uma verdadeira liturgia do silêncio”, acrescentou. Lançada a 12 de Fevereiro na cidade de Quelimane, terra natal de Salvador Murchidão, “Liturgia do Silêncio” é a primeira obra do escritor de 27 anos, que fez do isolamento de 2020 o momento ideal para deixar o silêncio falar através da arte que nele habita. “O ano de 2020 foi um ano em que tive um crescimento literário significativo. Aprendi a ter um grau de escrita mais exigente e procurei (e ainda procuro) aprender de escritores conceituados”, concluiu. Com a “Liturgia o Silêncio”, os amantes da literatura em versos podem ouvir o silêncio por meio de estrofes que embalam a quem se deixa contagiar pela magia da poesia. TEXTO YANA DE ALMEIDA FOTOGRAFIA MARIANO SILVA
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HONDA LEGEND
HONDA LANÇA O LEGEND, a honda apresentou no iní-
Tem um sistema “Traffic Jam Pilot”, que é capaz de controlar a travagem e aceleração
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cio de Março, no Japão, um Sedan Legend que integra condução autónoma parcial. A marca nipónica torna-se, assim, no primeiro fabricante automóvel a comercializar (apenas em leasing) um veículo equipado com tecnologia de automação de nível 3. Segundo a agência Reuters, apesar de arrecadar o título de ter sido a primeira a lançar um modelo com este tipo de tecnologia, a Honda vai lançar o Legend com um número limitado de apenas 100 unidades no Japão, e cada um destes veículos custará 11 milhões de ienes, ou seja, mais
O PRIMEIRO AUTÓNOMO de 85 mil euros. O Legend está equipado com o sistema “Traffic Jam Pilot”, que tem a capacidade de controlar a aceleração, a travagem e o volante mediante determinadas condições. Em comunicado, a Honda diz que, com o sistema activado, o condutor pode mesmo ver um filme ou utilizar outras funcionalidades do sistema para ajudar a mitigar o stress numa situação de trânsito intenso. Um grande passo para eliminar os acidentes induzidos por erro humano, segundo afirmou
DE NÍVEL 3 Yoichi Sugimoto, engenheiro da Honda. Em condições muito específicas, com cruise control adaptativo (ACC) ligado e sistemas de seguimento de baixa velocidade e manutenção (LKAS) também em funcionamento, o Legend pode mesmo assumir o controlo da direcção e é capaz de ligar o pisca e mudar de faixa, embora ainda precise da confirmação do condutor de que o pode fazer em segurança.
O LEGEND ESTÁ EQUIPADO COM O SISTEMA “TRAFFIC JAM PILOT”, QUE TEM A CAPACIDADE DE CONTROLAR A ACELERAÇÃO, A TRAVAGEM E O VOLANTE MEDIANTE DETERMINADAS CONDIÇÕES
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