MOÇAMBIQUE
OIL & GAS ESPECIALISTAS AVISAM QUE O CUSTO DA INSEGURAÇA VAI RECAIR SOBRE O ESTADO EMPREENDEDORISMO AS MAIORES BARREIRAS À AFIRMAÇÃO DA MULHER NO MUNDO EMPRESARIAL MERCADO E FINANÇAS O MERCADO MILIONÁRIO DA COMPRA E VENDA DE CABELOS EM MOÇAMBIQUE LÁ FORA ONU DIZ SER URGENTE A ADOPÇÃO DE POLÍTICAS PELA IGUALDADE DE GÉNERO
DAR VOZ À
MULHER
A E&M faz uma radiografia dos principais desafios da Mulher e do caminho para a sua emancipação
Edição Abril | Maio 2021 15/04 a 15/05 • Ano 04 • NO 36 Preço 250 MZN
SUMÁRIO 6
OBSERVAÇÃO
Cabo Delgado A imagem da crise humanitária causada por ataques que já afectaram 700 mil pessoas
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RADAR
Panorama Economia, Banca, Finanças, Infra-estruturas, Investimento, País
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58 Escape À descoberta das belas paisagens de Bazaruto 60 Gourmet Uma escapada ao espaço criativo Deal 61 Adega A ciência por detrás dos vinhos que os amantes aspirantes mais apreciam 63 Arte A nobreza da mulher expressa nas pinturas da Aline Nobre 64 Ao volante A startup americada Humble Motors promete o primeiro SUV movido a energia solar até 2024 - o Humble One
ESPECIAL OIL & GAS
Recursos naturais As grandes tendências do sector petrolífero em Moçambique, no continente africano e no mundo
28 NAÇÃO A MULHER NA ECONOMIA 28 Empoderamento Especialistas defendem mais investimentos na educação e remuneração justa 38 Entrevista Ndzira de Deus fala da luta que o Fórum Mulher trava pela defesa dos direitos da mulher 44 Empreendedorismo Sofia Cassimo defende que a mulher deve esforçar-se para se destacar no mundo empresarial
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MERCADO E FINANÇAS
O preço da vaidade Mulheres investem muito tempo e dinheiro em cabelos ocidentais – um negócio lucrativo
www.economiaemercado.co.mz | Julho 2020
54 LÁ FORA Desigualdades de género Organizações multilaterais relatam atrasos substanciais no desenvolvimento com a falta de políticas equilibradas
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EDITORIAL
Ode à mulher!
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Celso Chambisso • Editor da Economia & Mercado s sociedades têm revelado grande dificuldade de compreender o potencial da mulher na aceleração do crescimento e desenvolvimento económico, apesar do crescente movimento das organizações multilaterais e da sociedade civil em divulgar estudos que comprovam o alcance de resultados ambiciosos se ela dispuser de oportunidades iguais às do homem – principalmente ao nível da educação, do trabalho e da remuneração. Não tem faltado informação sobre a génese da relutância em empoderar a mulher. Mas há um entendimento consensual entre os estudiosos do fenómeno do desequilíbrio do género, de que todas as barreiras são removíveis. Depende apenas da força de vontade. Vontade de toda a sociedade, mas que não bastará se não encontrar terreno fértil nas entidades que têm o bastão na mão. Que detêm o poder de decisão e de legislar a favor da construção de uma sociedade igualitária. O Fórum Mulher, organização que advoga e persegue o cumprimento dos direitos da mulher, reconhece haver avanços em Moçambique, mas lentos e muito longe de poder fazer da mulher um actor capaz de aplicar o seu máximo potencial a favor do desenvolvimento socioeconómico do País. “Por isso, a luta nunca deve cessar”, adverte Nzira de Deus, directora executiva da organização. Como o leitor se deve ter apercebido, o tema “Mulher” não terá ′invadido‛ esta edição da E&M por mero acaso. Afinal, coincide com o mês da mulher moçambicana, cuja comemoração foi precisamente a 07 de Abril, sendo este um pretexto para a homenagear reflectindo sobre os aspectos críticos da sua instabilidade. Mas, mais do uma reflexão que se extingue num só artigo, a E&M procura proporcionar-lhe uma espécie de “Especial Mulher”, mantendo-se, obviamente, fiel à sua vocação de revista voltada aos assuntos económicos. Por isso, na extensão dos temas sobre a mulher, a E&M acaba por incluir as novas tendências da vaidade feminina, que encontram o expoente máximo da sua expressão nos cabelos ocidentais e na propaganda que virou febre nas redes sociais – as chamadas digital influencer –, bem como os desafios da mulher empresária, na secção “Mercado e Finanças”. E porque Moçambique não é uma ilha, a rubrica “Lá fora” também não foge à regra: retoma o debate sobre o empoderamento económico da mulher, mas com foco sobre o que se passa pelo mundo, sobretudo em África. Aqui, o covid-19 substitui o 07 de Abril enquanto pretexto para falar da mulher: a ONU concluiu que a pandemia tem efeitos muito mais nefastos na vida da mulher, tendo recuado substancialmente os avanços que a humanidade tinha alcançado na sua emancipação (têm sido as mulheres que mais perdem a fonte de renda e ficam mais pobres). Para dar a volta à situação, as Nações Unidas desdobram-se em apelos ao comprometimento dos governos para com a causa das mulheres. Em suma, esta edição procura trazer reflexões sob vários ângulos, que inspirem atitudes concretas da sociedade pelo empoderamento da mulher.
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15 ABRIL | 15 MAIO 2021 • Nº 36 DIRECTOR EXECUTIVO Pedro Cativelos
MÊS ANO • Nº 01 pedro.cativelos@media4development.com
EDITOR EXECUTIVO Celso Chambisso JORNALISTAS Executive Cármen Rodrigo, Cristina propriedade Mocambique Freire, Elmano Ricardo Lopes, Liquatis nienis Madaíl, doluptae velit etDavid magnis Rogério Macambize, RuiHenet Trindade, Yana de enis necatin nam fuga. exceatem Almeida seque cus, sum nis nam iu Qui te nullant PAGINAÇÃO Gerson Quive adis destiosseJosé iusciMundundo, re in prae voles FOTOGRAFIA Mariano sant laborendae nihilib Silva uscius sinusam REVISÃO Manuela Rodrigues dos Santos rehentius eos resti dolumqui dolorep ÁREA COMERCIAL reprem vendipid queNádia ea et Pene eumque non nadia.pene@media4development.com nonsent qui officiasi CONSELHO CONSULTIVO lorem ipsum Executive Mocambique Alda Salomão, Liquatis nienis Andreia doluptaeNarigão, velit et António magnis Souto; Bernardo Denise Branco, enis necatin namAparício, fuga. Henet exceatem Fabríciacus, de sum Almeida Henriques, Frederico seque nis nam iu Qui te nullant Silva,destiosse Hermanoiusci Juvane, Ali Aiuba, adis re inIacumba prae voles João Gomes, Narciso Matos, Rogério Samo sant laborendae nihilib uscius sinusam Gudo, Salim Valá, Sérgio Nicolini rehentius eosCripton resti dolumqui dolorep ADMINISTRAÇÃO, reprem vendipid queREDACÇÃO ea et eumque non E PUBLICIDADE Media4Development nonsent qui officiasi Rua Ângelo Chichava nº 311 A — lorem ipsumAzarias Liquatis nienis doluptae Sommerschield, Maputo – Moçambique; velit et magnis enis necatin nam fuga. marketing@media4development.com Henet exceatem seque cus, sum nis nam IMPRESSÃO E ACABAMENTO iu Qui te nullant adis destiosse iusci re in Minerva Print - Maputo - Moçambique prae voles sant laborendae nihilib uscius TIRAGEM 4 500 exemplares sinusam rehentius eos resti dolumqui PROPRIEDADE DO REGISTO dolorep reprem vendipid que ea et Executivenon Moçambique eumque nonsent qui officiasi EXPLORAÇÃO E COMERCIAL lorem ipsum EDITORIAL Liquatis nienis doluptae EM MOÇAMBIQUE velit et magnis enis necatin nam fuga. Media4Development Henet exceatem seque cus, sum nis nam NÚMERO DE REGISTO iu Qui te nullant adis destiosse iusci re in 01/GABINFO-DEPC/2018 prae voles sant laborendae nihilib uscius sinusam rehentius eos resti dolumqui dolorep reprem vendipid que ea et eumque non nonsent qui officiasi lorem ipsum Liquatis nienis doluptae velit et magnis enis necatin nam fuga. Henet exceatem seque cus, sum nis nam iu Qui te nullant adis destiosse iusci re in prae voles sant laborendae nihilib uscius sinusam rehentius eos resti dolumqui dolorep reprem vendipid que ea et eumque non nonsent qui officiasi
www.economiaemercado.co.mz | Abril 2019
OBSERVAÇÃO
CABO DELGADO, 2021
CRISE HUMANITÁRIA NA AGENDA GLOBAL A comunidade internacional está cada vez mais interessada em apoiar o fim dos ataques terroristas nos distritos do norte de Cabo Delgado, numa altura em que cresce o número de deslocados (até 06 de Abril, 11 mil refugiados tinham chegado a Pemba, capital provincial, num total de 700 mil afectados), incluindo crianças, que testemunharam a decapitação dos seus parentes pelos insurgentes. Depois de várias potências mundiais como os EUA, União Europeia, Rússia, etc. terem condenado e anunciado prontidão em ajudar a combater o terrorismo, foi a vez da troika da SADC reunir para deliberar sobre a situação de instabilidade bem como as modalidades concretas de apoio regional para a sua erradicação. Este movimento também acontece numa altura em que, finalmente, o Governo solicitou apoio internacional para o combate ao terrorismo, embora o Presidente da República, Filipe Nyusi, continue a defender que compete ao País definir as áreas em que necessita de ajuda dos parceiros, sem pôr em causa a soberania nacional.
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RADAR METICAL VALORIZOU 17% ESTE ANO E LIDERA GANHOS A NÍVEL MUNDIAL
O metical é a moeda que mais valorizou no mundo, desde o princípio do ano, ganhando 17% face ao dólar e melhorando para os níveis de Janeiro de 2020, com os analistas a anteverem ainda maiores ganhos de curto prazo. Em termos de valor, a valorização em 17% significa uma descida de 75 meticais por unidade do dólar no início deste ano, para 62 meticais até ao dia 09 de Abril corrente. De acordo com uma nota emitida por analistas do banco Rand Merchant, a valorização do metical deverá ainda continuar nas próximas semanas devido à excessiva liquidez do dólar no mercado e à acção do Banco de Moçambique. “Devido à liquidez de dólares no mercado, num contexto em que a actividade mineira ganha tracção, esperamos que o metical se fortaleça e antecipamos que o Banco Central vá permitir este crescimento da liquidez da moeda norte-americana, o que deverá fortalecer ainda mais o metical, para aplacar os efeitos da inflação originada pelas importações”, escreveram os analistas Neville Mandimika e Daniel Kavishe numa nota de análise. O metical esteve relativamente estável durante Janeiro nos 75 meticais por dólar e começou a valorizar-se no final de Fevereiro, tendo apreciado até chegar aos 62 meticais, nível que se compara ao de Janeiro do ano passado.
ECONOMIA Crescimento. O Governo prevê que a economia moçambicana cresça moderadamente, nos próximos três anos, até atingir 4% a médio
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prazo, sustentado pelo aumento da produção do sector da agricultura. O cenário resulta dos investimentos a serem realizados na provisão de sementes melhoradas e assistência técnica aos produtores e actores do sector agrário,
com destaque para cereais, raízes e tubérculos. A projecção consta do cenário fiscal de médio prazo, aprovado há dias pelo Governo, e que prevê que a economia nacional se reanime, à medida que o País conseguir mitigar o Covid-19 e arrecadar mais receitas. O porta-voz do Ministério da Economia e Finanças, Alfredo Mutombene, explicou que as previsões não incluem as receitas provenientes dos projectos da exploração de gás natural. Preços. O Ministério da Indústria e Comércio prepara medidas para travar o aumento arbitrário de preços de produtos básicos no País. Entre as medidas a serem tomadas, está o reforço à fiscalização dos estabelecimentos comerciais. Segundo o ministro da Indústria e Comércio, Carlos Mesquita, o Governo está preocupado com o agravamento generalizado dos preços de bens essenciais. O governante diz haver comerciantes que estão a aproveitar a crise pandémica para subir os preços. Quanto ao pão, Mesquita garante que o custo se mantém, mesmo contra a vontade dos panificadores.
Aviação. A companhia francesa Air France anunciou a retoma de ligações aéreas com Moçambique a partir de Junho. Segundo o comunicado, a companhia aérea vai voar duas vezes por semana entre o Aeroporto de Paris/
Charles de Gaulle e a cidade de Maputo, capital de Moçambique, a partir do próximo dia 20 de Junho. É a retoma de uma rota que esteve activa até 2014. Os voos terão uma escala, quer na ida, quer no regresso, no Aeroporto Internacional Oliver Tambo, na cidade de Joanesburgo, África do Sul. Durante a escala, apenas para desembarque e embarque, os passageiros para ou de Maputo, manter-se-ão dentro da aeronave, que será um Boeing 777-300ER. Infra-estruturas. A Administração Nacional de Estradas (ANE) vai intervencionar, este ano, cerca de 35 pontes, em diferentes províncias do País. O anúncio foi feito em Xai-xai, pelo director-geral de Administração Nacional de Estradas. Américo Dimande explicou que a reabilitação das pontes resulta de um trabalho de levantamento que a ANE está a levar a cabo, em todo o País com vista a avaliar a transitabilidade das infra-estruturas e o estado de conservação e segurança para definir a necessidades de intervenção. Referiu ainda que, até ao momento, foram inspeccionadas 100 das 200 pontes previstas, em todo o território nacional. Estradas. O Governo está a avaliar propostas técnicas e financeiras para a concessão de quatro estradas nacionais no sul e norte do País. O presidente do Conselho de Administração do Fundo de Estradas, Ângelo Macuácua, fez saber que as propostas agora em avaliação foram submetidas em 2019, no quadro do programa de concessão das estradas nacionais. Macuácua não deu detalhes sobre o processo, no qual o Governo se faz representar pela Administração Nacional de Estradas (ANE). A intenção www.economiaemercado.co.mz | Abril 2021
é concessionar troços da Estrada Nacional Número Um (EN1), nomeadamente Marracuene/Xai-Xai, Nampula/Metoro; da EN2, concretamente Matola/Namaacha; da EN3, Impaputo/Goba; e da EN12, entre Nacala e Namialo.
Combustíveis. Governo lançou recentemente uma campanha designada “Triplo Check” para fiscalizar combustíveis. Trata-se de uma iniciativa que possibilita ao cliente supervisionar a qualidade, quantidade e excelência de combustíveis e lubrificantes das marcas Engen e Shell nos postos de abastecimento. A “Campanha Triplo Check” é um programa da empresa Vivo Energy Moçambique, uma companhia pan-africana que distribui e comercializa produtos destas duas marcas. O director da componente de retalho nesta empresa, Joaquim Jibambo, afirmou que a iniciativa visa trazer, de forma constante e consistente, melhorias dos serviços prestados aos clientes, com participação activa destes. Energia. A província da Zambézia poderá ter, em breve, a maior central solar do País. Trata-se de uma central solar com capacidade para gerar 100 Megawatts de energia que está a ser projectada na localidade de Chimuara, no distrito de Mopeia. Acredita-se que a concretização deste projecto poderá incrementar a disponibiwww.economiaemercado.co.mz | Abril 2021
lidade da corrente eléctrica na rede pública nacional rumo ao acesso universal.
EXTRACTIVAS Sector privado. A Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) considera que a situação de insegurança que se regista na província de Cabo Delgado, devido aos ataques terroristas, coloca um grande risco de transferência da base logística de Pemba para outros pontos. A primeira fase das obras de construção destas infra-estruturas de apoio à indústria de gás e petróleo na região já foi concluída. A base logística de Pemba é fundamental para as operações que serão desenvolvidas pelas empresas envolvidas nos projectos de gás na Bacia do Rovuma. Segundo a CTA, devido à insegurança, alguns bancos comerciais já demonstraram desinteresse em apoiar as empresas nacionais para os projectos no norte, uma situação que só favorece as estrangeiras. Tributação. A mineradora Vale foi eleita pela a Autoridade Tributária (AT) a maior contribuinte no exercício económico de 2020, na categoria de Direitos Aduaneiros. As contribuições da empresa, durante o ano passado, tiveram um considerável impacto para a redução do défice financeiro. O prémio foi entregue em Março, na cidade da Beira, em Sofala pela AT. A atribuição deste prémio pretende destacar as empresas que têm dado um contributo significativo para a receita fiscal, um instrumento útil para financiar o Orçamento do Estado. Para a Vale Moçambique, o prémio representa um importante reconhecimento do seu compromisso com o desenvolvimento do País.
OPINIÃO
ExxonMobil – As realidades por detrás do adiamento da DFI
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Meul Gulabsinh • CFO do Banco Big oucos eventos na história moderna tiveram um impacto tão profundo e tão generalizado à escala mundial, num curto espaço de tempo, como a pandemia do Covid-19. Em poucas semanas, entre Março e Abril de 2020, governos, bancos centrais, instituições financeiras, empresas, etc. tiveram de reescrever os seus planos e adaptar-se a uma realidade que ainda era verdadeiramente desconhecida. As notícias desanimadoras para Moçambique foram-se multiplicando ao longo do ano com a suspensão, interrupção ou redução das actividades em vários dos mega-projectos nos sectores de extracção, em particular, o adiamento da Decisão Final de Investimento (DFI) do projecto da Área 4, liderado pela Exxon Mobil. A 7 de Abril de 2020, menos de um mês após a OMS ter classificado o surto mundial de Covid-19 como uma pandemia, Darren Woods, CEO da gigante ExxonMobil, anunciava um corte de 30% nos investimentos planeados para 2020, de $ 33 mil milhões para $ 23 mil milhões, e comunicava oficialmente, pela primeira vez, o adiamento da DFI no projecto Rovuma LNG (Área 4) para, pelo menos, 2021. No início do mês seguinte, na apresentação de resultados do 1º trimestre, a Empresa apresentou prejuízos trimestrais pela primeira vez em mais de 30 anos, numa altura em que o crude transaccionava abaixo de $ 20 / barril, e os futuros desta matéria-prima tinham atingido temporariamente valores negativos. Woods aproveitou a apresentação de resultados trimestrais para reafirmar o compromisso da Empresa em não cortar o dividendo – um factor de elevada relevância para a grande maioria da base accionista da Empresa, composta essencialmente por investidores institucionais como fundos de investimento e fundos de pensões. A ExxonMobil tem uma política de distribuição de dividendos famosa em Wall Street, com um histórico de pagamento e crescimento de dividendos de mais de 37 anos, algo que tem sido financiado com recurso a dívida, caso necessário, em anos de menor geração de cash-flow. A apresentação de resultados anuais em Fevereiro de 2021 veio confirmar o annus horribilis da Exxonmobil, tendo
apresentado um prejuízo de $ 22 mil milhões e contribuído para tal a constituição de imparidades de $ 21,0 mil milhões, essencialmente em resultado da reavaliação de activos Upstream. O primeiro prejuízo anual em mais de 40 anos coincidiu com o ano em que a empresa foi excluída do índice Dow Jones, e anunciou que poderia cortar a sua força laboral em 15% (cerca de 14 mil trabalhadores). Nesta apresentação, a Exxonmobil definiu como investimentos prioritários os projectos no Guiana, Brasil, Bacia Permiana e produtos químicos especializados, deixando de fora o projecto em Moçambique. A Empresa comprometeu-se ainda em manter o dividendo (um encargo anual de cerca de $ 15 mil milhões) e solidificar o balanço através de redução de dívida, algo que será financiado de forma flexível através da venda de activos e um controlo dos custos operacionais e dos investimentos, atendendo à evolução futura dos preços do petróleo. Como se tal não bastasse, a ExxonMobil tem sido pressionada desde finais do ano passado por investidores activistas que acusam a Administração de destruir valor accionista, e pretendem que a Empresa efectue uma transição para investimentos em energias mais “limpas” e com impactos positivos na sociedade, e uma renovação do Board. Este movimento tem sido liderado pela Engine no. 1, um fundo de investimento norte-americano que tem o apoio do fundo de pensões dos professores do Estado da Califórnia – o segundo maior fundo de pensões público dos Estados Unidos, que gere cerca de $ 300 mil milhões em activos. A ExxonMobil tem vindo a ceder a alguma pressão, tendo nomeado em Março um administrador activista e promotor do movimento ESG para o Board, e assinalado o compromisso em investir $ 3 mil milhões em iniciativas e projectos que permitam a captura e a redução de emissões de carbono. Para além de lidar com os diversos problemas e pressões “dentro de casa”, os administradores da ExxonMobil têm certamente prestado atenção ao escalar da insurgência na província de Cabo Delgado e os desafios que tem atravessado a vizinha Total, algo que seguramente não augura de forma positiva para uma decisão de investimento nos próximos tempos.
Além de lidar com os diversos problemas e pressões “dentro de casa”, os administradores da Exxon Mobil têm prestado atenção ao escalar da insurgência na província de Cabo Delgado
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EspecialOIL&Gas 14
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OIL & GAS
A reinterrupção das operações no Rovuma, por parte da Total, deve atrasar ainda mais o arranque do tão ansiado início da exploração do gás. Também deve chamar a responsabilidade do Estado para com a segurança
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OPINIÃO A importância das energias renováveis
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TECNOBYTE
Um negócio na rede de computadores do Oil & Gas
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EXPLICADOR
O gás na diversificação da matriz energética
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PANORAMA
As notícias do Oil & Gas no País, em África e no mundo
OIL & GAS
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Riqueza (cada vez) mais longe Depois dos ataques terroristas de 24 de Março, em Palma, o futuro dos projectos de gás natural pode não estar em causa ainda, mas sem segurança não há investimento que resista. O mais certo é ser o Estado a suportar custos com segurança ou seguros TEXO Ricardo David Lopes • FOTOGRAFIA D.R.
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uando, a 24 de Março passado, o CEO da Total tomou conhecimento de novos ataques de insurgentes em Palma, Cabo Delgado, a meia dúzia de quilómetros de Afungi, onde estão os estaleiros da construção do mega-projecto de gás natural liquefeito (GNL) de 20 mil milhões USD da petrolífera, na Área 1 da Bacia do Rovuma, é possível que pelo menos dois famosos ditados populares lhe tenham ocorrido. E não é para menos, até porque este ano não começou bem para a companhia, que deixou 2020 com prejuízos históricos de 7,242 mil milhões USD, num “ano de transformação” para reorientar-se para novas energias (tinha tido lucros de 9,3 mil milhões de euros em 2019). O primeiro ditado é que “não há duas sem três”: após anunciar a suspensão temporária dos tra-
baixos do petróleo. A Chevron e a Shell tiveram os seus ratings reduzidos em um nível, enquanto a Total caiu dois. A redução do rating pode vir a afectar os créditos contratados pela empresa, que já garantiu financiamento para este projecto que promete mudar a economia de Moçambique quando se iniciarem os primeiros carregamentos, previstos para 2024, esperando-se um impacto de 96 mil milhões USD ao longo de 25 anos de operação. Em Fevereiro, em declarações à Bloomberg, o gestor assegurava que as obras em terra estavam suspensas, mas “a parte de engenharia está a progredir rapidamente e o trabalho ao largo da costa continua”. Na altura, Pouyanne disse ter sido alcançado um acordo para garantir a segurança da área das obras, lembrando que a responsabilidade sobre a segurança na área ca-
“A prioridade é garantir a segurança e a protecção das pessoas que trabalham no projecto” balhos de construção do complexo por dois meses, por causa da Covid-19, em Abril de 2020, e de novo em Janeiro deste ano, após um ataque dos terroristas do Estado Islâmico - que espalham o terror na região desde 2017 - no dia 1 de Janeiro, a companhia viu-se agora forçada a parar de novo com o projecto e a evacuar centenas de trabalhadores por questões de segurança… um mês depois de ter sido anunciado que os trabalhos iam ser retomados, por estarem garantidas as condições mínimas necessárias. Mas outro ditado poderá ter surgido na mente de Patrick Pouyanne: “uma desgraça nunca vem só”. No mesmo dia, 24 de Março, a agência de rating Moody’s reviu em baixa a nota de crédito da companhia, a par da da Shell e Chevron, tendo em conta a expectativa de manutenção de preços www.economiaemercado.co.mz | Abril 2021
be ao Governo e que existe um plano para mobilizar forças para a região de forma a controlar um perímetro de, pelo menos, 25 quilómetros, ainda que o ideal fosse toda a província de Cabo Delgado estar segura. O acordo, contudo, ou as condições de segurança não evitaram o pior, e dezenas de pessoas foram mortas, e milhares deslocadas, por causa de um episódio de um processo que parece não ter fim à vista. A companhia voltou a evacuar centenas de trabalhadores e os trabalhos pararam. Até quando? Ninguém sabe. Questionada pela E&M, fonte oficial da empresa em Maputo reiterou que a Total está “a acompanhar a situação atentamente, em conjunto com as autoridades e as equipas locais” e que “a prioridade absoluta é garantir a segurança e a protecção das pessoas que trabalham no projecto”.
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gás natural
Quem paga a conta?
Uma coisa é certa: a suspensão vai atrasar o arranque do projecto, retardando receita e investimentos a ele associados, assim como a criação de emprego, incluindo por parte de centenas de empresas moçambicanas que estão a trabalhar com o consórcio liderado pela Total. E, no final do dia, quem paga a conta é Moçambique, até porque o reforço da segurança que terá de haver é um “custo recuperável” pela empresa. “Nestes projectos, a maioria dos custos é recuperável pelas petrolíferas”, refere a fonte, que avança que, a haver seguros contratados no exterior pela Total, e havendo agravamento do seu custo, é mais uma vez ao Estado que vai caber a factura – porque estes também são custos recuperáveis. Um relatório do Ministério da Economia e Finanças citado por consultores da NKC African Economics refere que, num cenário de um atraso de 18 meses e aumento das despesas de investimento em 20% nas exportações de gás da Área 1, haverá uma redução da receita do Governo na ordem dos 6%, quase 2,5 mil milhões USD durante os 25 anos de vida do projecto”. “O atraso no início das exportações de gás natural liquefeito da Área 1 vai não apenas atrasar os benefícios económicos resultantes destas exportações, mas também reduzir as receitas governamentais”, indica uma nota da consultora, adiantando que as “múltiplas saídas de trabalhadores e os atrasos na construção aumentam os custos das despesas de investimento, o que reduz a percentagem das receitas que o Governo recebe”.
Impacto no crédito improvável
Por enquanto, ainda assim, é cedo para saber se haverá impacto, por exemplo, nos custos de financiamento. “Os contratos de financiamento neste tipo de projectos são geralmente muito complexos e sujeitos a elevado grau de negociação”, refere à E&M o CFO do BiG Moçambique, Meul Gulabsinh, destacando que “uma vez formalizados, dificilmente podem ser alterados ou revogados unilateralmente, a não ser, por exemplo, pela ocorrência de uma causa de força-maior prevista no contrato”. “Neste sentido, caso as condições de segurança se alterassem materialmente e colocassem em causa o cumprimento do serviço de dívida, seria expectável existir uma renegociação da dívida e dos seus termos e condições”, afirma, acrescentando que “estes projectos são geralmente implementa-
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dos por SPV’s [entidades com propósitos específicos] criadas pelos promotores e a estrutura de financiamento em project-finance incorpora um grau de risco maior, na medida em que apenas os cash-flows gerados pelo projecto são utilizados para o pagamento da dívida. Em caso de insolvência do projecto, os promotores não são obrigados a “resgatá-lo”, traduzindo-se assim, num maior risco para os bancos”. Bernardo Aparício, responsável da área de Corporate and Investment Banking do Banco Absa Moçambique, concorda que, pelo menos para já, não é de esperar alterações no custo do financiamento. “É normal em projectos similares que os promotores garantam a dívida durante a fase de construção e, desta forma, o risco que os bancos têm de um projecto não terminar é risco dos promotores e não dos
cash flows do projecto”, afirma. “O actual atraso, para já, não terá aumento no prémio de risco, tendo em conta que a taxa de juro está acordada há algum tempo”, acrescenta o gestor, que alerta, contudo, para a possibilidade de haver alterações nas condições, num cenário extremo, por exemplo, de alteração prolongada das condições de segurança. “Depende de haver incumprimento do contrato de financiamento ou não. Se o atraso for superior a uma certa data, poderá levar a uma situação de incumprimento, mas em projectos deste género, como os promotores estão a garantir a dívida, desde que os bancos estejam confortáveis com o risco dos promotores, não deveria haver agravamento”. Caso não esteja, pode haver, mas negociado. Mas não é apenas o custo do crédito ou dos www.economiaemercado.co.mz | Abril 2021
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MOZAMBIQUE LNG À LUPA RECURSOS: 65 Tcf de gás natural (Área 1 offshore) Investimento – 20 mil milhões USD PRODUÇÃO ESPERADA: 13,12 MTPA nas duas unidades de liquefacção (possível extensão até 43 MTPA) PARCEIROS: Total (operador), Mitsui & Co. (Japão), ONGC Videsh (Índia), ENH (Moçambique), PTTEP (Tailândia), Bharat Petroleum (Índia), Oil India Limited EMPRESAS MOÇAMBICANAS ENVOLVIDAS: 365 (incluindo mais de 200 empresas de capitais moçambicanos) GASTOS PREVISTOS COM EMPRESAS MOÇAMBICANAS NA FASE DE CONSTRUÇÃO (5 ANOS): 2,5 mil milhões USD GASTOS JÁ EFECTUADOS COM EMPRESAS DE CAPITAIS MOÇAMBICANOS: 917 milhões USD (*) GASTOS JÁ EFECTUADOS COM EMPRESAS PERTENCENTES A MOÇAMBICANOS: 206 milhões USD (*) EMPREGO (OPERAÇÃO): 1500 na fase de operação EMPREGO (CONSTRUÇÃO): 7100, dos quais 83% moçambicanos (*) *Dados fornecidos pela Total em Novembro de 2020 à Economia&Mercado
seguros, ou outros, que podem vir a sofrer mudanças que afectam o projecto e a economia nacional – sendo que a maior parte acaba a ter de ser suportada pelo Estado. A reputação das autoridades de segurança e defesa nacionais é afectada, o risco-país aumenta (o que tem efeitos no rating dos seus bancos e principais empresas) e muitos milhares de empregos são postos em causa, sobretudo das empresas moçambicanas associadas ao projecto como fornecedores de bens ou serviços - com as quais a Total diz que já ter despendido perto de 250 milhões USD. O pior, contudo, são as vidas humanas, o destino de 700 mil deslocados desde o início dos confrontos, em 2017, e a incerteza quanto ao futuro. António Francisco, economista e professor catedrático da Faculdade de Economia Universidade Eduardo Mondlane (UEM), www.economiaemercado.co.mz | Abril 2021
CRONOLOGIA FEVEREIRO 2010 Primeira descoberta Área 1 DEZEMBRO 2014 Governo aprova Decreto-Lei sobre GNL OUTUBRO 2015 Certificadas reservas de 12 MPTA FEVEREIRO 2018 Aprovado plano de desenvolvimento JUNHO 2019 Anunciado investimento de 20 mil milhões USD AGOSTO 2019 Início da construção SETEMBRO 2019 Total torna-se operadora MAIO 2020 Total assegura financiamento de 15 mil milhões USD com sindicato bancário 2024 Previsto o primeiro carregamento de GNL Fonte: Mozambique LNG, Economia&Mercado
alerta que “se o Estado continuar a revelar tamanha incapacidade em garantir a segurança às pessoas e à propriedade privada e pública, a empresa Total vai ter de render-se às evidências” e, no limite, pôr o projecto em causa. “Até ao cancelamento, [a Total] ainda tem várias opções paliativas, incluindo recorrer à ilha Mayotte [departamento ultramarino francês]”, afirma, adiantando duvidar que “retome tão breve a sua actividade em Afungi, como fez no início deste ano, na sequência da promessa do Presidente Nyusi que o Estado garantiria a protecção e segurança militar do projecto”. “Não parece haver dúvidas que o aumento dos custos decorrentes do reforço da segurança, face à intensificação dos ataques, está a ser partilhado pelas partes (Estado e Total), mas também pelas populações lo-
cais e as empresas contratadas pela empresa multinacional, diz o economista, para quem pensar agora em expectativas de retorno financeiro para o Estado e para as empresas nacionais associadas é “um assunto secundário, pois dependem da superação da grave insegurança actual”. “As empresas nacionais que já estavam contratadas e em acção estão certamente a ser prejudicadas com a actual situação. Seria lamentável se, depois dos problemas decorrentes do impacto internacional da pandemia do Covid-19, em vez de estarmos focados em preparar a recuperação da normalidade, continuássemos a afundar-nos no pântano da instabilidade”, antecipa o economista, que pede um esforço para a melhoria do clima de negócios. “De imediato, não vejo forma mais efectiva e urgente do que fazer o que for possível para melhorar o ambiente de mercado, no sentido lato do termo e não apenas no sentido restrito de ambiente de negócios. Ou seja, melhorar urgentemente o ambiente institucional (político, militar, económico e social) em que o projecto de gás deve funcionar”, refere o professor, que acrescenta: “Se não resolvemos isto, qualquer tentativa de reforço do conteúdo local não passa de conversa fiada e enganadora”. Bernardo Aparício reconhece haver “uma oportunidade única para a participação do tecido empresarial no projecto que vai mudar a realidade do País”, mas admite que “por diversas razões não tem sido possível maximizar este potencial”. “Algumas das razões prendem-se com a necessidade de ter empresas capacitadas para fornecer uma cadeia de valor tão exigente ao nível de especificações, certificações e qualidade”, afirma, ressalvando que “ainda existe um grande caminho a percorrer neste aspecto. “A outra razão tem sido a insegurança na região de Cabo Delgado que tem limitado a possibilidade de investimento na zona de Palma, reduzido as oportunidades nos sectores de logística, transporte e serviços no geral e consequentemente as oportunidades para as empresas moçambicanas terem uma fatia relevante dos investimentos em Cabo Delgado”, conclui o responsável do Absa. A última análise do Standard Bank Moçambique ao desempenho económico referente ao mês de Março (PMI) aponta que “a perda de vidas humanas decorrente dos ataques terroristas na província de Cabo Delgado e o prolongamento do atraso na construção do projecto de gás natural liquefeito constituem um importante revés para economia nacional”.
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opinião
Energia para renovar o futuro Paulo Varela • CEO, Galp Moçambique
Temos de manter o ânimo e perseverar no que está ao nosso alcancepara melhorarmos o dia-a-dia dos moçambicanos. As energias renováveis podem ser, também elas, renovadoras da esperança num futuro melhor
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N
um país em que o gás doméstico, o carvão e a lenha – além dos combustíveis rodoviários – são as principais fontes de energia utilizadas no quotidiano pela população, falar de energia renovável pode parecer algo descabido. Desde logo, devido ao facto de apenas um em cada três moçambicanos ter actualmente acesso à energia eléctrica, segundo dados oficiais. O Presidente Filipe Nyusi divulgou, há algumas semanas, a meta de alargar a toda a população o acesso à electricidade nos próximos 10 anos. Esta promessa foi feita na inauguração da linha de alta tensão Chimuara (Mopeia)-Alto Molócuè, que, com uma extensão de 367 quilómetros, está orçada em 200 milhões de dólares, prevendo-se que esteja concluída no próximo ano. Os investimentos em grandes infra-estruturas são necessários e urgentes, num país que tanto delas necessita. E o acesso à energia é uma necessidade básica consagrada pela Organização das Nações Unidas nos seus Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, pois é um elemento essencial no combate à pobreza e no desenvolvimento humano. Mas o desenvolvimento tecnológico pode ajudar-nos a dar um salto mais adiante, como aconteceu com as comunicações móveis, que permitiram ligar o país inteiro, mesmo as comunidades mais afastadas, sem a necessidade de levantar linhas. Da mesma forma, hoje, as energias renováveis, sobretudo a electricidade produzida a partir de painéis solares, permitem o “milagre” de produzir localmente a energia eléctrica, mesmo nas aldeias mais remotas do interior. Isto não é ficção científica, mas uma realidade já implementada em diversas aldeias do nosso País – algumas delas integradas no projecto Energiza, promovido pela Fundação Galp em
parceria com o FUNAE, em quatro aldeias nas províncias de Sofala, Manica e Cabo Delgado, beneficiando um total de 6 mil moçambicanos cujas vidas estão a ser mudadas para melhor em aspectos essenciais do dia-a-dia, como a saúde, a alimentação ou a educação. No final de uma década em que o custo das energias renováveis, em especial dos painéis fotovoltaicos, diminuiu cerca de 90%, e tendo em conta que Moçambique é um país onde o recurso solar abunda, é natural que as energias renováveis, em especial a energia solar, representem um eixo determinante nas metas traçadas pelo Governo de Moçambique, que pretende que 20% da energia produzida em Moçambique, dentro de 20 anos, seja de origem renovável. Não poderia ser de outra forma, tanto por motivos de racionalidade económica, como ambientais. As alterações climáticas são talvez um dos maiores desafios enfrentados pela Humanidade, e Moçambique está na linha da frente do impacto dos fenómenos climáticos extremos, como foram os casos dos ciclones Idai e Kenneth, em 2019, que provocaram uma devastação sem precedentes nas regiões por onde passaram. Moçambique parece estar sempre no limiar de um ciclo de desenvolvimento tantas vezes adiado e esse sentimento é hoje, como poucas vezes no passado, intensificado pela situação de instabilidade que se vive em Cabo Delgado, base dos grandes projectos de produção de gás natural. Há muitos factores no desenvolvimento do País que nos ultrapassam e não podemos controlar. Mas temos de manter o ânimo e perseverar no que está ao nosso alcance para melhorarmos o dia-a-dia dos moçambicanos. As energias renováveis podem ser, também elas, renovadoras da esperança num futuro melhor. www.economiaemercado.co.mz | Abril 2021
ranking
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tecnobyte
Um negócio na rede de computadores do Oil & Gas Dedicada à assistência técnica e venda de equipamento informático, a Tecnobyte é das poucas empresas moçambicanas que prestam serviços às multinacionais de Oil & Gas TEXTO Hermenegildo Langa • FOTOGRAFIA Mariano Silva
O
privilégio de conseguir uma vaga como cliente das grandes empresas do sector do Oil & Gas é para poucos. Principalmente num país cujo histórico das empresas não é favorável a ligações empresariais com alto padrão de exigências em termos de qualidade, por ser ainda fortemente marcado pela falta de certificação, de contabilidade organizada, e consequente fraca capacidade de se impor no mercado financeiro. Este não será o caso da Tecnobye, uma PME moçambicana da área tecnológica cuja ligação com os projectos de Oil & Gas perdura há quase seis anos, dando assistência técnica e fornecendo bens e serviços de informática. De acordo com Avelino Chilengue, director-geral da empresa, a Tecnobyte está no mercado nacional desde 2011, porém, a história da sua ligação com as gigantes petrolíferas começou com uma pontinha de sorte. “Entrámos nestes projectos como uma empresa subcontratada por outra multinacional prestadora de serviços, a Schlumberger Company, baseada em Texas, nos EUA”, conta o gestor, confessando que o convite, no início, foi tão informal que, de longe, não podia imaginar que seria o começo de um trajecto que marcaria a Tecnobyte elevando-a a um dos mais ambicionados patamares do mercado de tecnologia no País. “Certo dia, em 2015, recebi um telefonema de alguém que trabalhava na Schlumberger Company na área de procurement e disse que precisava de algum material informático para uma multinacional. A partir daí começámos a trabalhar com eles na venda de material de escritório e equipamento informático às multinacionais que incluem a ENH, SASOL, Eni e To-
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tal”, explicou Avelino Chilengue. Esta parceria, naturalmente, serviu de trampolim para se consolidar enquanto empresa tendo em conta a evolução que conheceu em comparação com o período anterior. “Eles (os grandes projectos) fizeram parte daquilo que somos actualmente… Em termos de crescimento, a nossa empresa começou a registar uma evolução significativa (também no número de clientes) desde que começámos a prestar serviços a estas multinacionais”. Graças a este crescimento, a Tecnobyte conseguiu, no ano passado, produzir receitas na ordem dos dois milhões de dólares, o que era impensável quando, no início das suas actividades, tinha apenas dois funcionários (hoje 12) e dois escritórios na cidade de Maputo. Actualmente, a empresa é parceira da multinacional tecnológica HP, e tem uma certificação desta por ser uma das firmas que mais compra os seus produtos. Embora esteja a lograr sucesso nas suas operações, a Tecnobyte, como qualquer empresa, tem as suas aspirações. A principal é adquirir instalações próprias dentro dos próximos dois anos. Além do sector extractivo, são clientes da Tecnobyte várias empresas do sector público e privado, através de um vasto leque de soluções, que incluem: sistema de automação e gestão comercial composto de cadastro de clientes, produtos, fornecedores, vendedores; controlo de vendas, orçamentos, compras, contas a receber, contas a pagar, movimentação bancária, etc.; sistema para automação comercial, com todos os recursos para a emissão de documentos fiscais; aplicativo para a automação da força de venda externa, disponível para windows e android; sistema para automação e gestão de cartório de protesto, entre várias outras soluções.
B
EMPRESA Tecnobyte FUNDADOR Avelino Chilengue ANO DE FUNDAÇÃO 2011 COLABORADORES 12 colaboradores
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explicador
Como o Gás Natural Abre a Porta à Transformação Energética
Ranking de ambição
ranking 2020
Em todo o mundo, os países estão a adoptar cada vez mais objectivos de emissões líquidas zero (NZE – Net Zero Emissions) para controlar as suas emissões de carbono, fazer progredir os sistemas energéticos de baixo carbono e cumprir os objectivos do Acordo de Paris sobre alterações climáticas. No meio da pandemia do covid-19, 2020 assistiu a um número encorajador de anúncios de emissões net-zero, incluindo três dos dez principais países emissores de CO2. Estes incluem a China que anunciou que se tornaria neutra em termos de carbono até 2060, com o Japão e a Coreia
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Capacidade instalada
capacidade instalada total eólica solar
TOTAL
do Sul a pretenderem ser zero líquidos até 2050. Isto significa que quase 50% do PIB mundial, e cerca de 50% das emissões globais de dióxido de carbono, estão agora cobertos por compromissos net-zero. E o gás natural tem um papel fundamental a desempenhar nesta transformação. Por exemplo, para atingir emissões net-zero, a Coreia do Sul pretende reduzir a sua dependência do carvão e aumentar a quota do gás e das energias renováveis no seu cabaz energético nacional. Como parte disto, irá mudar 24 centrais eléctricas alimentadas a carvão para gás natural liquefeito (GNL).
Total |Eólica | Solar
Multinacional que detém concessão da Área 1 de Cabo Delgado aposta no gás para energia de transição mas tem o foco no solar, eólica, geotermal e no retalho
CCUS Retalho / (Milhões mt/ Downstream ano)
Transporte Armazenamento Sustentável de Baterias
5100 MW 0.13
35 GW 7 GW 2020
2 6 3 2
2045
2050
486 MW
0.95 1.1
436.55 MW
2500 MW
Mantém o foco na solar, eólica e no abastecimento energético de veículos eléctricos.
1679 MW 2030
2025
2035
2040
2045
2025
2040
2035
2045
15 GW 5 GW
2020 2025 2025
699 MW (Hydro)
2030
Over 25 GW 2040
2035
2045
-
379 MW
2050
ENI Outra empresa com interesses no LNG de
Moçambique quer tornar-se líder na área dos biocombustíveis sem esquecer o solar e a eólica.
-
1078 MW
12.8 GW
2030
167 MW
2050
A arrancar com projectos de renováveis em Espanha e Chile, e com o foco nas haiações com emissões zero.
5.2 1.7 2.8 3.6 4.4
3 GW
276 MW Over 55 GW
220 MW
-
48 MW
2050
500 MW
de se tornar líder global nas eólicas. EQUINOR Aponta ao objectivo 12- 16 GW 4-6 GW
2020
7 7
2040
Em transiçãoo para a distribuição e retalho de energias renováveis
REPSOL 2020
6 5
2035
50 GW
2020
5 3
2030
922.100 MW
SHELL BP
4 4
2025
2025 2026
CHEVRON
2030
2035
2040
2045
2050
71 MW (356 MW planed)
0.75 -
386 MW
(8100 MW planed)
18.41 MW Aposta nas redes de downstream, gás natural e combustíveis líquidos.
1.91 MW
1.7 2.1
16.5 MW
8 8 22
EXXON MOBIL Aposta fortemente no desenvolvimento de tecnologias preventivas de emissões de carbono.
0 MW
8.86 9.86 FONTE Ranking de Dezembro de 2020 elaborado pela S&P Global Platts.
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panorama
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Conferência
Operadores e investidores discutem o futuro dos recursos minerais Representantes de mais de 30 países vão participar na sétima edição da Conferência e Exposição de Minas, Petróleo e Energia de Moçambique que deve ter lugar nos dias 21 e 22 de Abril corrente, e em que os operadores e investidores irão discutir o futuro do sector no País. Com o evento, que se vai realizar na cidade de Maputo, Moçambique pretende também mostrar que está disponível
Gás de cozinha
Construção de infra-estruturas de produção de gás em Temane arranca em Julho As obras para a construção das infra-estruturas de produção de gás natural, dos campos de Inhassoro e Temane, na província de Inhambane, vão ter início a partir do mês de Julho próximo, garantiu recentemente o Primeiro-ministro, Carlos Agostinho do Rosário. A informação é dada pouco tempo depois do anúncio da Decisão Final de Investimento do projecto de desenvolvimento dos reservatórios adicionais de gás natural dos campos de Inhassoro e Temane. Segundo o governante, a construção das infra-estruturas irá viabilizar a produção de 23 milhões de gigajoules de gás natural por ano, que serão usados para a produção de 30 mil toneladas de GPL – Gás de Petróleo Liquefeito – no mesmo período. Esta será a primeira unidade dedicada à produção do gás de cozinha no País.
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para negócios da indústria do gás. A edição de 2021 é oficialmente co-organizada pelo Ministério dos Recursos Minerais e Energia e pela Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH). Segundo um comunicado da organização, para a segurança de todos os participantes, esta edição é organizada sob o formato híbrido, devido ao número limitado de lugares no local.
Liquefação do gás
Plataforma de produção de gás chega ao País em 2022 O ministro dos Recursos Minerais e Energia, Max Tonela, disse à Lusa que a plataforma flutuante, que vai ser o primeiro projecto a produzir gás natural na bacia do Rovuma, estará em Moçambique ainda no primeiro trimestre de 2022. A construção da plataforma “está em cerca de 90%, os trabalhos deverão ser concluídos em Dezembro para que no primeiro trimestre do próximo ano
esteja já nas águas de Moçambique”, declarou Max Tonela. O projecto “está dentro do plano e estamos felizes com o seu progresso”, sublinhou. A plataforma faz parte do consórcio da Área 4 liderado pela Exxon Mobil e Eni e vai processar o gás para exportação directamente no mar, ao largo da costa de Cabo Delgado, norte do País.
Impasse
ExxonMobil Volta a Adiar Decisão Final de Investimento no Gás em Moçambique A petrolífera norte-americana ExxonMobil adiou pelo terceiro ano consecutivo a Decisão Final de Investimento (DFI) sobre o projecto de exploração de gás natural em Moçambique, colocando em dúvida o investimento de 30 mil milhões de dólares. De acordo com a agência de informação Bloomberg, que cita o vice-presidente da empresa, Neil Chapman, não há previsão sobre quando será tomada a decisão
de investimento na fábrica de gás natural na bacia do Rovuma, já que a petrolífera precisa de garantir o fornecimento de energia por parte da fábrica vizinha, operada pela francesa Total. Recorde-se que o Governo está a contar com o investimento da petrolífera norte-americana para começar a exportar gás natural liquefeito e assim equilibrar as finanças públicas e financiar o desenvolvimento económico.
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OPINIÃO
Conteúdo local é só para o “Oil & Gas”?
n
Francisco António Souto • Economista o dia 10 de abril, assisti a uma feira e leilão de gado, realizada em Porto Henrique, distrito da Namaacha, Província de Maputo. Numa iniciativa de um empresário nacional, em parceria com o MADER, anotei que, nos últimos anos, a pecuária comercial no sul do País, tem tido um desenvolvimento assinalável. Naquele leilão, mais de uma dúzia de criadores apresentaram espécimes das manadas que têm estado a criar em Moçambique. No total, eram 30 lotes para leiloar. A maioria dos criadores eram empresas familiares provenientes da África Sul e desde há anos estabelecidos em Moçambique. O tema do leilão centrou-se na apresentação e comercialização de animais reprodutores com grande capacidade para melhorar o material genético das manadas existentes em território nacional. Houve animais ali transaccionados a mais de 150 mil meticais, sendo que o total das quase duas horas de leilão aproximou-se dos três milhões de meticais. Entre caprinos, ovinos e bovinos foram apresentados animais que, nas palavras de gente conhecedora da matéria, evidenciam o potencial de Moçambique na agropecuária. Um dos criadores sul-africanos ali presente, e que na Namaacha está a produzir queijos de leite de cabra, respondeu às minhas questões sobre a viabilidade e interesse em participar num programa de formação de jovens técnicos na sua farma e assim poder-se replicar o modelo de negócio que ele está a desenvolver. “Ter mais criadores destes animais e mais produtores de queijo é necessário para que esta indústria possa crescer aqui. Uma indústria não tem sucesso só com uma unidade. Podemos tentar com jovens. O problema é saber se esses jovens estão prontos para acordar todos os dias às 4 horas da manhã. Uma falha um só dia pode ser um grande prejuízo.” Mas concordámos que há gente jovem capaz de participar no desenvolvimento deste sector, desde que se organize um sistema adequado de apoio e monitoria. Interrogo-me do porquê se apregoar pelo “local content” apenas quando se sonha com o eldorado dos recursos minerais e energéticos? A pecuária e, em geral, o agronegócio, não precisam também de maior apoio e enquadramento para que empresários locais se integrem e fortaleçam as várias cadeias de valor relacionadas com a produção de
proteínas animais? São conhecidos casos de empresas que de alguma forma já o fazem, particularmente na avicultura. O evento do dia 10 de Abril demonstra que há investidores nacionais capazes de iniciativas que atraem, enquadram e replicam internamente o conhecimento e tecnologias indispensáveis para que tenhamos um sector agrário mais competitivo. Afinal, não é correcto generalizar-se, como é comum em alguns fóruns, que os empresários nacionais não têm iniciativa nem capacidade para atrair investimento externo de pequena e média dimensão adequado às características do nosso ainda incipiente mercado. Nem tão pouco a generalização de que as instituições governamentais não olham para parcerias com os nacionais. Por outras palavras, os governos de países genuinamente interessados em apoiar o desenvolvimento de Moçambique não precisam de ter os olhos postos apenas nas suas ONG. Aquando da nacionalização de propriedades de farmeiros brancos no Zimbabué, a Gapi, em parceria com o Governo de Manica, iniciou um programa para atrair o conhecimento e experiência de farmeiros daquele país para os integrar e desenvolver o agronegócio em Moçambique. Se, por exemplo, hoje existe uma unidade de produção de lacticínios em Manica foi o resultado desse programa. Em alguns casos falhámos porque membros da nossa elite interpretaram o processo com lentes racistas, enquanto outros quiseram apenas usar as terras improdutivas por eles intituladas como fonte de renda especulativa. No programa Agro-Jovem, também desenvolvido pela Gapi entre 2016 e 2020, uma das principais lições aprendidas foi a de que novas pequenas empresas de jovens só têm sucesso se devidamente acompanhados por pessoas locais, com experiência comprovada. A conclusão é também a de que o falhanço é quase certo se depender de aconselhamento de académicos ou de funcionários públicos. A população de Moçambique continua a crescer a um ritmo na ordem de quase 3% ao ano. Anualmente há cerca de meio milhão de jovens que atingem a idade laboral. A falta de oportunidades de emprego e renda das famílias em zonas rurais é cada vez mais acentuada. A produção versus consumo de alimentos tem sido deficitária e continua a agravar-se. Até quando deixamos de discutir “conteúdo local” apenas quando o tema é “Oil&Gas”?
“Interrogo-me do porquê se apregoar pelo ‛local content‛ apenas quando se sonha com o eldorado dos recursos minerais e energéticos? O agronegócio não precisa também de maior apoio...?”
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NÚMEROS EM CONTA a ascensão das mulheres nos conselhos de administração em todo o mundo A representação feminina na sala de reuniões como membros dos conselhos de administraçãoestá a aumentar em todo o mundo — mas a taxa de aumento tem abrandado durante três dos últimos quatro anos. Com base na pesquisa MSCI das
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empresas constituintes do All Country World Index (ACWI), o gráfico revela uma tendência de dez anos de representatividade das mulheres nos conselhos de administração das empresas, e projecta três cenários futuros no caminho para a paridade.
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MULHER
O CAMINHO PARA LIBERTAR A MULHER Já provou ser capaz de trabalhar em qualquer área de actividade e com desempenho de excelência, mas continua a ser menos privilegiada pelos sistemas instituídos ao nível da educação, trabalho, saúde entre outros. O problema é que não têm faltado ideias para tornar a mulher num actor mais activo na agenda de desenvolvimento. Mas teimam em permanecer no papel. Ao comemorarmos o mês da mulher, buscamos reflexões sobre como tornar tais ideias em factos
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Texto Celso Chambisso • Fotografia Shutterstock & D.R.
uando a linhas aéreas de moçambique (lam) DQXQFLRX TXH WLQKD PXOKHUHV QR VHX VWDΙ GH FRPDQGDQWHV GH WU£IHJR D«UHR D SLORWDU DHURQDYHV D VRFLHGDGH ΚFRX ERTXLDEHUWD ( FRP UD]¥R WDO IHLWR Q¥R « IDFLOPHQWH UHDOL]£YHO SRU PXOKHUHV (VWH « DSHQDV XP GRV Y£ULRV H[HPSORV TXH SRGHULDP LQFOXLU DV HQJHQKHLUDV TXH FRPDQGDP HTXLSDV GH KRPHQV HP WUDEDOKRV FRPR D PDQXWHQ©¥R GH HTXLSDPHQWRV QDV GLIHUHQWHV PXOWLQDFLRQDLV TXH RSHUDP HP 0R©DPELTXH 2 PDLV LPSRUWDQWH DTXL Q¥R VHU£ D UHSHWL©¥R GRV DVSHFWRV GD VRFLHGDGH TXH UHYHOHP D GHVYDQWDJHP GD PXOKHU HP UHOD©¥R DR KRPHP (PERUD VHMDP WDPE«P REMHFWR GH DQ£OLVH Q¥R « SRVV¯YHO IDODU GH VROX©¥R VHP DERUGDU R SUREOHPD LPSRUWD IRFDU QR TXH WHP GH PXGDU SDUD D FRQVWUX©¥R GH XPD VRFLHGDGH LJXDOLW£ULD GR SRQWR GH YLVWD GR J«QHUR IDFWRU TXH DPSOLD R SRWHQFLDO GH JHUD©¥R GH ULTXH]D VHJXQGR HVWXGRV GH Y£ULDV LQVWLWXL©·HV PXOWLODWHUDLV 8P ZHELQDU UHDOL]DGR SHOD $VVRFLD©¥R 0R©DPELFDQD GH (FRQRPLVWDV $0(&21 PHVPR SRU RFDVL¥R GDV FRPHPRUD©·HV GR 'LD GD 0XOKHU 0R©DPELFDQD D GH $EULO VRE R OHPD ˕,PSDFWR VRFLRHFRQµPLFR GD 'HVLJXDOGDGH GR *«QHUR˖ DFDERX SRU UHVXPLU D SUREOHP£WLFD GD GHVLJXDOGDGH GH J«QHUR WUD]HQGR DR GHEDWH DVSHFWRV TXH YDOH D SHQD H[SORUDU D FRPH©DU SHOR UHFRQKHFLPHQWR GRV DYDQ©RV TXH 0R©DPELTXH YHP DOFDQ©DQGR QHVWH FDS¯WXOR $ HFRQRPLVWD PR©DPELFDQD )HUQDQGD 0DVVDURQJR DQDOLVWD GR %DQFR 0XQGLDO OHPEURX TXH HP SULPHLUR OXJDU UHODWLYDPHQWH DRV FDUJRV GH OLGHUDQ©D GH] GRV PLQLVWURV V¥R PXOKHUHV HP VHJXQGR H UHODWLYDPHQWH ¢ IUHTX¬QFLD
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NAÇÃO
“É preciso criar pacotes financeiros adaptados à maneira de ser da mulher, que reconheçam a sua capacidade e honestidade de reembolso do crédito” PLWDGR DFHVVR DRV GLIHUHQWHV VHUYL©RV GH VD¼GH H RXWURV VHUYL©RV S¼EOLFRV˖ DOHUWRX D HFRQRPLVWD Mas que opções o País tem para lutar pela mulher? /X¯VD 'LRJR DQWLJD 3ULPHLUD PLQLVWUD H XPD GDV SDLQHOLVWDV GR GHEDWH HQWHQGH TXH WXGR FRPH©D QD LQVXΚFLHQWH FRPSUHHQV¥R VREUH D GHVLJXDOGDGH GH J«QHUR H R LPSDFWR TXH HVWH IHQµPHQR WHP QDV VRFLHGDGHV 3DUD D HFRQRPLVWD TXH KRMH RFXSD R FDUJR GH 3&$ GR $EVD HVVD FRPSUHHQV¥R « IXQGDPHQWDO SRUTXH RV VHUHV KXPDQRV H DV VRFLHGDGHV VH PRYHP SULPHLUR QDV VXDV FRQVFL¬QFLDV H GHSRLV QDV VXDV DF©·HV VHQGR TXH V¥R DV VXDV FRQVFL¬QFLDV TXH FRQVWURHP DV VXDV DF©·HV ˕ SUHFLVR WHU D FRQVFL¬QFLD GH TXH XPD VLWXD©¥R P£ Q¥R GHYH FRQWLQXDU FRPR HVW£ H SDUD LVVR « SUHFLVR FRPSUHHQG¬ OD 'D FRPSUHHQV¥R GHYH FULDU VH D QHFHVVLGDGH GH PXGDU R TXH Vµ VH ID] FRP SRO¯WLFDV HVWUDW«JLDV DF©·HV H DFWLYLGDGHV M£ TXH D H[SHUL¬QFLD WDPE«P WHP GHPRQVWUDGR TXH DSHQDV R GHEDWH Q¥R SRGH PRYHU DV VRFLHGDGHV˖ H[SOLFRX 0DV HVWD VHTX¬QFLD Q¥R S£UD SRU DTXL ˕3DUD KDYHU DF©·HV « SUHFLVR ROKDU QHVWH FDVR SDUD D PXOKHU TXH UHSUHVHQWD GD SRSXOD©¥R UXUDO 2X VHMD DV SRO¯WLFDV D VHUHP GHVHQYROYLGDV W¬P GH QRV OHYDU D LQFOXLU R PHLR UXUDO QR SURFHVVR GH PXGDQ©D $V SRO¯WLFDV V¥R LPSRUWDQWHV PDV D DF©¥R « IXQGDPHQWDO H SDUD KDYHU DF©¥R « SUHFLVR REVHUYDU WU¬V IDFWRUHV QRPHDGDPHQWH R IDFWRU KXPDQR D PXOKHU HP VL D WHUUD TXH WHP LQΛX¬QFLD QR GHVHQYROYLPHQWR GD SRSXOD©¥R UXUDO H R FDSLWDO
30
O que fazer em concreto? $R Q¯YHO VRFLDO D SULPHLUD VD¯GD « GHFODUDU WROHU¤QFLD ]HUR ¢ YLRO¬QFLD FRQWUD D PXOKHU VREUHWXGR DWUDY«V GH LQVWUXPHQWRV OHJDLV ,VVR M£ HVW£ D DFRQWHFHU PDV « SUHFLVR PDLV SDUD GHVHQFRUDMDU HP GHΚQLWLYR R IHQµPHQR 2OKDQGR SDUD R IDFWRU KXPDQR VREUH RV LQGLFDGRUHV GD HGXFD©¥R /X¯VD 'LRJR DGYRJD D QHFHVVLGDGH GH GRWDU D PXOKHU GH DSWLG·HV TXH OKH IDFXOWHP XPD FRQWULEXL©¥R SOHQD H UHOHYDQWH QR GHVHQYROYLPHQWR R TXH Q¥R HVW£ D DFRQWHFHU M£ TXH GDV PXOKHUHV V¥R DQDOIDEHWDV H D RXWUD PHWDGH DOIDEHWL]DGD WHP XP Q¯YHO GH DSURYHLWDPHQWR DTX«P GR GHVHMDGR WDPE«P GHYLGR DRV HVWHUHµWLSRV TXH H[LVWHP QRV OXJDUHV RQGH D PXOKHU WHP GH GDU D VXD FRQWULEXL©¥R 1D VD¼GH SRU H[HPSOR D IDFH PDLV DJXGD GR +,9 6LGD « GD PXOKHU R TXH VLJQLΚFD TXH HOD Q¥R VHQWH IRU©D VXΚFLHQWH SDUD LPSRU DV VXDV FRQGL©·HV HP UHOD©¥R D XPD YLGD VH[XDO VHJXUD 4XDQWR DR VHJXQGR IDFWRU D WHUUD « I£FLO SHUFHEHU TXH D PXOKHU Q¥R GHW«P D SRVVH VHJXUD DSHVDU GR WUDEDOKR YDOLRVR TXH HVW£ D VHU IHLWR SHODV 2UJDQL]D©·HV 1¥R *RYHUQDPHQWDLV TXH ID] FRP TXH D PXOKHU FRPHFH D WHU PDLV DFHVVR ¢ WHUUD TXH GHYH VHU YLVWD FRPR IDFWRU OLEHUWDGRU GD PXOKHU UXUDO E quanto ao capital? 2 WHUFHLUR IDFWRU R FDSLWDO « GRV DVSHFWRV PDLV VHQV¯YHLV H FU¯WLFRV GD SREUH]D IHPLQLQD MXVWLΚFDGR SRU GHVLJXDOGDGH GH RSRUWXQLGDGHV GH JHUD©¥R GH UHQGD H GH UHPXQHUD©¥R /X¯VD 'LRJR VXJHUH D DGRS©¥R GH SRO¯WLFDV DΚUPDWLYDV FODUDV VHP GRJPDV QHP FRPSOH[RV 6HP GHVSUH]R SHODV VROX©·HV TXH RV EDQFRV M£ GHVHQYROYHUDP HVSHFLΚFDPHQWH SDUD D PXOKHU 'LRJR IDOD HP ˕GHVHQYROYHU SDFRWHV ΚQDQFHLURV TXH W¬P TXH YHU FRP D PDQHLUD GH VHU GD PXOKHU TXH UHFRQKH©DP D VXD FDSDFLGDGH H KRQHVWLGDGH GH UHHPwww.economiaemercado.co.mz | Abril 2021
MULHER EROVR RULHQWDGRV SDUD DV £UHDV RQGH D PXOKHU VH VHQWH PDLV FRQIRUW£YHO H SDFRWHV LQRYDGRUHV TXH D HVWLPXOHP D HQWUDU QRXWUDV £UHDV RQGH HOD SRGH SDUWLFLSDU˖ LQGLFRX 0DV Q¥R « WXGR 7DPE«P WHP GH KDYHU WUDEDOKR PDLV HVWUXWXUDGR RULHQWDGR SDUD R J«QHUR 8P PLQGVHW GRV TXH RUJDQL]DP RV SODQRV H RU©DPHQWRV GH PDQHLUD D YLU£ ORV SDUD D FRPSRQHQWH GH J«QHUR VHP TXH VLJQLΚTXH QHFHVVDULDPHQWH D FULD©¥R GH RU©DPHQWR DGLFLRQDO PDV TXH H[LJH YRQWDGH SRO¯WLFD ˕0DV SDUD RV SURJUDPDV TXH QHFHVVLWHP GH HVSD©R RU©DPHQWDO HVSHF¯ΚFR « SUHFLVR 3DUFHULDV 3¼EOLFR 3ULYDGDV XP FDVDPHQWR HQWUH R VLVWHPD ΚQDQFHLUR H R (VWDGR SDUD TXH D PXOKHU ΛRUHV©D H FRQWULEXD SDUD R GHVHQYROYLPHQWR GR 3D¯V˖ FRQFOXLX 1D PHVPD OLQKD D HFRQRPLVWD H DGPLQLVWUDGRUD GR %DQFR 1DFLRQDO GH ,QYHVWLPHQWRV %1, /X¯VD 7LYDQH GHIHQGH D LPSOHPHQWD©¥R GH XPD HVS«FLH GH ˕IXQGR SHUGLGR˖ DORFDGR SHOR *RYHUQR DRV EDQFRV FRP WD[DV ERQLΚFDGDV H FRP UHTXLVLWRV PDLV IDFLOLWDGRV SDUD VH DGHTXDU ¢V OLPLWD©·HV GH RUGHP DFDG«PLFD GD PXOKHU Nem todas as soluções estão cá dentro (UQHVWR 0DFX£FXD SHVTXLVDGRU HP DVVXQWRV GH *«QHUR H 3DUWLFLSD©¥R 3RO¯WLFD PHVPR FRQFRUGDQGR FRP DV VROX©·HV LQWHUQDV ¢ FDXVD GD PXOKHU Y¬ XP SDSHO UHOHYDQWH GDV LQVWLWXL©·HV PXOWLODWHUDLV QR SURFHVVR 6HJXQGR R HVSHFLDOLVWD D 218 TXH DOL£V WHP VLGR XP GRV RUJDQLVPRV PDLV LQWHU-
YHQWLYRV QD DGYRFDFLD ¢ LJXDOGDGH GH RSRUWXQLGDGHV HQWUH KRPHQV H PXOKHUHV GHYHULD HQFDUUHJDU VH GH UHDOL]DU UHIRUPDV SDUD GDU ¢V PXOKHUHV GLUHLWRV LJXDLV DR DFHVVR DRV UHFXUVRV HFRQµPLFRV SURPRYHU DF©·HV SDUD R UHFRQKHFLPHQWR H YDORUL]D©¥R GR WUDEDOKR GRP«VWLFR H GH FXLGDGRV Q¥R UHPXQHUDGRV SURPRYHU SRO¯WLFDV JOREDLV GH SURWHF©¥R VRFLDO H DLQGD SURPRYHU D UHVSRQVDELOLGDGH FRPSDUWLOKDGD GHQWUR H IRUD GR ODU SHODV WDUHIDV UHODFLRQDGDV FRP FXLGDGR H UHSURGX©¥R 2UJDQL]D©¥R ,QWHUQDFLRQDO GR 7UDEDOKR 2,7 H UHVSHFWLYRV SURWRFRORV GHYLD FRPSHWLU SHOD YDORUL]D©¥R H OHJDOL]D©¥R GR WUDEDOKR GRP«VWLFR H FREHUWXUD GRV GLUHLWRV VXEMDFHQWHV QRPHDGDPHQWH DV I«ULDV VDO£ULR FRQGLJQR VXEV¯GLRV HWF $RV RUJDQLVPRV LQWHUQDFLRQDLV XUJH PDLRU FRRUGHQD©¥R H GHWHUPLQD©¥R GRV SURWRFRORV PXQGLDLV QR FRQWH[WR GDV QD©·HV $ HFRQRPLVWD /X¯VD 7LYDQH SRU VHX WXUQR ODPHQWD D SUHYDO¬QFLD QRV GLDV TXH FRUUHP ˕GH XPD JUDQGH GLVW¤QFLD HQWUH R LGHDO H D SU£WLFD SRUTXH DV DF©·HV SDUD UHGX]LU D JUDQGH GHVYDQWDJHP GDV PXOKHUHV DLQGD V¥R SRXFR YLV¯YHLV WHQGR HP FRQWD R VHX XQLYHUVR˖ $O«P GR DFHVVR ¢ WHUUD GH FRQGL©·HV LJXDOLW£ULDV QD HGXFD©¥R VD¼GH H WUDEDOKR ˍ SURVVHJXLX ˍ « QHFHVV£ULR SURPRYHU PDLRU DFHVVR SHOD PXOKHU GRV VLVWHPDV IRUPDLV GH MXVWL©D SDUD D UHVROX©¥R ( XPD GDV IRUPDV GH SURPRYHU D PXGDQ©D SDUD HVWD HFRQRPLVWD « TXH R GHEDWH VHMD SHUPDQHQWH HP WRGRV RV ORFDLV H HP WRGRV RV Q¯YHLV VRFLDLV
PUB
1/2 PÁGINA AO BAIXO
210X140MM + 3MM BLEED
NAÇÃO
Os rendimentos das famílias oscilam entre 50 meticais e 150 meticais por dia, em particular, para as mulheres que subsistem no sector informal Covid-19 e a profundidade da miséria feminina 5HFHQWHPHQWH D $PQLVWLD ,QWHUQDFLRQDO SXEOLFRX XP HVWXGR TXH LGHQWLΚFD EHP R SUREOHPD GR J«QHUR H TXH WHP SRWHQFLDO SDUD LQVSLUDU LQWHUYHQ©·HV PDLV SUHFLVDV D Y£ULRV Q¯YHLV ,QWLWXODGR ˕7UDWDGDV FRPR SH©DV GH PRE¯OLD D YLRO¬QFLD GH J«QHUR H D UHVSRVWD ¢ FRYLG QD IULFD $XVWUDO˖ R GRFXPHQWR UHIHUH TXH DV UHVWUL©·HV GD &RYLG SUHFLSLWDUDP XPD FULVH HFRQµPLFD HP SDUWLFXODU SDUD RV DJUHJDGRV IDPLOLDUHV TXH YLYLDP QD SUHFDULHGDGH TXH SDUD VH DOLPHQWDUHP W¬P GH WUDEDOKDU GLDULDPHQWH ˍ SRU H[HPSOR YHQGHQGR RX WUDQVSRUWDQGR XPD GLYHUVLGDGH GH SURGXWRV QDV UXDV H PHUFDGRV SDUD SRGHUHP FRPSUDU FRPLGD 2V UHQGLPHQWRV GDV IDP¯OLDV RVFLODP HQWUH PHWLFDLV H PHWLFDLV SRU GLD ˕(P SDUWLFXODU SDUD DV PXOKHUHV TXH VXEVLVWHP QR VHFWRU LQIRUPDO SRU H[HPSOR FRPR HPSUHJDGDV GRP«VWLFDV WRGRV RV VHXV UHQGLPHQWRV GL£ULRV V¥R DEVRUYLGRV HP GHVSHVDV LPHGLDWDV H QRV GLDV HP TXH Q¥R FRQVHJXHP UHQGLPHQWRV Q¥R SRGHP SURYHU DV QHFHVVLGDGHV E£VLFDV GDV VXDV IDP¯OLDV˖ GHVFUHYH D $PQLVWLD ,QWHUQDFLRQDO $ SXEOLFD©¥R OHPEUD DLQGD TXH QRV FHQWURV XUEDQRV D UHPXQHUD©¥R PHQVDO GH XPD HPSUHJDGD GRP«VWLFD YDULD HQWUH PHWLFDLV H PHWLFDLV HP FDVRV UDURV ˕&RQWXGR FRPR DV SHVVRDV GHL[DUDP GH SRGHU VDLU GDV VXDV FDVDV SDUD LUHP WUDEDOKDU DV VXDV IRQWHV GH UHQGLPHQWRV VHFDUDP H DV VXDV FRQGL©·HV GH YLGD WRUQD-
32
UDP VH FDGD YH] PDLV GLI¯FHLV˖ $O«P GLVVR ˕D UHGX©¥R QRV UHQGLPHQWRV IDPLOLDUHV LQWHQVLΚFRX D IUXVWUD©¥R D WHQV¥R H R VWUHVV QDV IDP¯OLDV FRP PXOKHUHV H KRPHQV D SUHVVLRQDUHP VH PXWXDPHQWH SDUD JDQKDUHP GLQKHLUR˖ $YDQ©D R H[HPSOR GH XPD YHQGHGRUD DPEXODQWH TXH FRQΚUPRX TXH ˕VLQWR TXH R IDFWR GH WHU SHUGLGR SDUWH GRV PHXV UHQGLPHQWRV DIHFWRX D PLQKD UHOD©¥R 2 PHX PDULGR DQGD PDLV QHUYRVR DWDFD PH H JULWD FRPLJR VHP PRWLYRV˖ Um problema global 2 HVWXGR ˕0XOKHUHV (PSUHVDV H R 'LUHLWR 8PD G«FDGD GH UHIRUPDV˖ GR %DQFR 0XQGLDO UHYHOD TXH HP WRGR R PXQGR DV PXOKHUHV SRVVXHP DSHQDV WU¬V TXDUWRV GRV GLUHLWRV OHJDLV TXH FDEHP DRV KRPHQV XPD GLVSDULGDGH TXH OKHV UHVWULQJH D FDSDFLGDGH GH FRQVHJXLU XP HPSUHJR RX GH DEULU XPD HPSUHVD EHP FRPR GH WRPDU DV PHOKRUHV GHFLV·HV HFRQµPLFDV SDUD HODV H SDUD DV VXDV IDP¯OLDV ˕2V DYDQ©RV Y¬P RFRUUHQGR PDV Q¥R QXP ULWPR U£SLGR VXΚFLHQWH H ELOL·HV GH PXOKHUHV DLQGD HQIUHQWDP LPSHGLPHQWRV OHJDLV QR DFHVVR ¢V PHVPDV RSRUWXQLGDGHV GH HPSUHJR TXH RV KRPHQV SULPRUGLDO HOLPLQDUPRV DV EDUUHLUDV TXH OLPLWDP DV RSRUWXQLGDGHV GDV PXOKHUHV H HVWH UHODWµULR YLVD GHPRQVWUDU TXH DV UHIRUPDV V¥R SRVV¯YHLV EHP FRPR DFHOHUDU DV PXGDQ©DV˖ VXJHUH D LQVWLWXL©¥R ( DYLVD ˕DOFDQ©DU D LJXDOGDGH GH J«QHUR Q¥R « XP SURFHVVR GH FXUWR SUD]R ([LJH JUDQGH YRQWDGH SRO¯WLFD H XP HVIRU©R FRQMXQWR SRU SDUWH GH JRYHUQRV VRFLHGDGH FLYLO RUJDQLVPRV LQWHUQDFLRQDLV H RXWURV 3RU«P DV UHIRUPDV OHJDLV H UHJXODWµULDV SRGHP WHU XP SDSHO IXQGDPHQWDO H VHU XP LPSRUWDQWH SULPHLUR SDVVR˖ 6HLV HFRQRPLDV QRPHDGDPHQWH D %«OJLFD 'LQDPDUFD )UDQ©D /HWµQLD /X[HPEXUJR H 6X«FLD V¥R FRQVLGHUDGDV www.economiaemercado.co.mz | Abril 2021
MULHER O RAIO X DA (FALTA DE) CONDIÇÃO DA MULHER EM MOÇAMBIQUE Os principais indicadores de desenvolvimento humano mostram uma posição preocupante da mulher em Moçambique, o que sugere a necessidade de imprimir maior rapidez no seu empoderamento, uma vez comprovada a sua capacidade de dar contributo assinalável para o desenvolvimento
DESIGUALDADE SALARIAL
POPULAÇÃO Dados do último censo, em 2017, indicam que Moçambique tem mais mulheres do que homens, mas o acesso a melhores oportunidades, a todos os níveis, favorece os homens.
A ONU Mulher estima que cada dólar que o homem ganha corresponde a 85,4 cêntimos do dólar no salário da mulher na África Subsaariana (não há dados sobre Moçambique).
Em milhões de habitantes
Total 29,3 Homens 14,1 Mulheres 15,2
Índice
14,6%
EDUCAÇÃO
EXCLUSÃO FINANCEIRA
Do nível básico ao superior, a educação no sector público chega a mais homens do que mulheres, também por culpa de algumas regras socioculturais que é necessário desincentivar.
Não seria de esperar que o acesso aos serviços financeiros fizesse uma cobertura satisfatória a um grupo em desvantagem no acesso ao emprego e com rendimentos menores.
Em milhares
Em percentagem
Total 8049 Homens 4169 Mulheres 15,2
Homens 53 Mulheres 58
DESIGUALDADE DO GÉNERO
OFERTA DE EMPREGO Quase dois terços das vagas de emprego preenchidas em 2019 foram por homens, o que cimenta as desigualdades, justificando, em parte, a sua condição de vulnerabilidade. Em unidades
Total 15 115 Homens 10 983 Mulheres 4 132
ACÇÃO SOCIAL A condição desfavorável da mulher torna-a mais exposta à situação de vulnerabilidade. Os dados da assistência confirmam: é ela que mais recebe apoios.
O índice publicado pelo PNUD aponta Moçambique entre os países que precisam de muito fazer em nome da igualdade do género. É o 127º no ranking de 181 países avaliados. Índice
*0,523
Em milhares
Total 391 Homens 136 Mulheres 255 *O índice de desigualdade do género varia de zero a um. Quanto maior, menor é a desigualdade e, portanto, melhor é a classificação FONTES Anuário Estatístico INE - 2019, ONU Mulher, Finscope 2019 e PNUD
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NAÇÃO MAIS MULHERES POR INSTRUIR… Há menos mulheres do que homens em quase todos os níveis de educação pública, o que vai condenando a mulher à pobreza Em unidades, 2019
6 808 3 528 3 280 1 135
Ensino Primário
590 545
Ensino Secundário
Total
91
43
47
Técnico-Profissional
Homens
14,4 7,6 6,8 Ensino Superior Mulheres
*Os dados sobre o ensino superior referem-se ao número de graduados em 2018
… MUITAS MAIS POR EMPREGAR…
… E MAIS AINDA POR REGISTAR NO DESEMPREGO
Os postos de trabalho criados em 2019, em todas as províncias, privilegiaram os homens.
De um modo geral, são poucas as mulheres que se inscrevem nos registos do desemprego
Em unidades, 2019
Em unidades, 2019
MAPUTO
ZAMBÉZIA
4 781 1 905 SOFALA
2 875 1 624 NAMPULA
2 047 111 ZAMBÉZIA
1 833 867 MAPUTO
1 708 891 GAZA
1 629 514 SOFALA
583 553 INHAMBANE
C. DELGADO
420 151 TETE
921 396 TETE
286 83 NAMPULA
C.MAPUTO
C.MAPUTO
280 179 GAZA
NIASSA
594 142 MANICA
201 28 MANICA
C. DELGADO
Homens
872 182 766 611
253 142
34
935 559
146 53 NIASSA
189 46
103 25 INHAMBANE
145 43
103 25
Mulheres
FONTE INE
A emancipação da mulher deve incluir a sua alfabetização, uma vez que, hoje, 50% são analfabetas e a outra metade tem fraco aproveitamento FRPR DV TXH REWLYHUDP XPD SRQWXD©¥R P£[LPD GH SRQWRV R TXH VLJQLΚFD TXH G¥R D PXOKHUHV H KRPHQV GLUHLWRV OHJDLV LJXDLV (P UHOD©¥R ¢ IULFD 6XEVDDULDQD D SHVTXLVD UHODWD R UHJLVWR GR PDLRU QXPHUR GH UHIRUPDV ˍ QR WRWDO ˍ HQWUH WRGDV DV UHJL·HV GR PXQGR QD ¼OWLPD G«FDGD SHOR HTXLO¯EULR GR J«QHUR (PERUD LVVR VH GHYD HP SDUWH DR JUDQGH Q¼PHUR GH HFRQRPLDV QD UHJL¥R « WDPE«P XPD LQGLFD©¥R GR SURJUHVVR HP UHOD©¥R DR TXDGUR H[LVWHQWH K£ GH] DQRV PDLV GH PHWDGH GDV UHIRUPDV QD IULFD 6XEVDDULDQD IRUDP QDV £UHDV UHIHUHQWHV DRV LQGLFDGRUHV UHODWLYRV ¢ REWHQ©¥R GR HPSUHJR H FDVDPHQWR (P FDGD XP GHVVHV LQGLFDGRUHV DV £UHDV GH PDLRU DYDQ©R IRUDP DV UHODFLRQDGDV FRP D DGRS©¥R GH OHLV FRQWUD D YLRO¬QFLD EDVHDGD QR J«QHUR Como eliminar a violência contra a mulher? 2 GLDJQµVWLFR GD $PQLVWLD ,QWHUQDFLRQDO ¢V GHVLJXDOGDGHV GH J«QHUR QD 6$'& WDPE«P DSOLF£YHO D 0R©DPELTXH H TXH IRL LQVSLUDGR SHORV HIHLWRV GR FRYLG ID] Y£ULDV VXJHVW·HV TXH LQFOXHP RV VHJXLQWHV SRQWRV JDUDQWLU TXH DV www.economiaemercado.co.mz | Abril 2021
MULHER ASSISTÊNCIA SOCIAL: MULHERES SÃO MAIS VULNERÁVEIS A assistência social a grupos vulneráveis confirma a mulher como principal alvo, excepto quando se trata de portadores de deficiência Em unidades, 2019
370
248
122
12,8
8,5 10,3 2,5
Idosos Total
Deficientes Homens
4,1
4,3
Doentes crónicos Mulheres FONTE Anuário Estatístico do INE - 2019
PXOKHUHV Y¯WLPDV GH YLRO¬QFLD FRQWLQXHP D WHU DFHVVR ¢ SURWHF©¥R SROLFLDO H MXVWL©D EHP FRPR D DEULJRV OLQKDV GH DSRLR H VHUYL©RV GH DSRLR ¢ FRPXQLGDGH LQFOXLQGR R DSRLR QHFHVV£ULR HP UHFXUVRV SDUD FRQWLQXDU D RSHUDU GXUDQWH DV SDQGHPLDV H RXWUDV HPHUJ¬QFLDV S¼EOLFDV DVVHJXUDU TXH D SUHYHQ©¥R H SURWHF©¥R FRQWUD D YLRO¬QFLD GRP«VWLFD H GH J«QHUR VHMD XPD SDUWH LQWHJUDQWH GDV UHVSRVWDV QDFLRQDLV D SDQGHPLDV H RXWUDV HPHUJ¬QFLDV LQFOXVLYH SRU FROHFWD GH GDGRV GHVDJUHJDGRV SDUD LGHQWLΚFDU D SUHYDO¬QFLD GD YLRO¬QFLD EDVHDGD QR J«QHUR JDUDQWLU TXH RV SDFRWHV GH UHFXSHUD©¥R HFRQµPLFD H PHGLGDV GH PLWLJD©¥R DERUGHP DV PXOKHUHV H DV QHFHVVLGDGHV GDV PHQLQDV JDUDQWLQGR DFHVVR LJXDO D VROX©·HV SDUD SHUGD GH HPSUHJR SRU HVWHV JUXSRV QD HFRQRPLD LQIRUPDO HOLPLQDQGR D GLVSDULGDGH VDODULDO GH J«QHUR QD VD¼GH H VHFWRUHV GH DVVLVW¬QFLD VRFLDO FULDU FRQGL©·HV SDUD TXH PXOKHUHV H FULDQ©DV TXH IRJHP GR DEXVR VHMDP LVHQWDV GH SHQDOLGDGHV SRU YLROD©¥R GR WRTXH GH UHFROKHU H UHVWUL©·HV GH PRYLPHQWR H UHFHEHP SURWHF©¥R SROLFLDO DGHTXDGD H DFHVVR D HVSD©RV VHJXURV LQFOXVLYH SRU PHLR GR XVR H DSOLFD©¥R GH SURWHF©¥R SHGLGD O esforço do Governo 2 ([HFXWLYR Q¥R WHP VLGR LQGLIHUHQWH ¢ FDXVD GD GHIHVD GR HPSRGHUDPHQWR GD PXOKHU 8P GRV H[HPSORV GLVVR « R ODQ©DPHQWR D GH $EULO FRUUHQWH GR 3URJUDPD ˕(X VRX www.economiaemercado.co.mz | Abril 2021
FDSD]˖ SHOD 3ULPHLUD GDPD GD 5HS¼EOLFD ,VDXUD 1\XVL 2 SURJUDPD WHP FRPR REMHFWLYR SURSRUFLRQDU PHOKRUHV RSRUWXQLGDGHV GH HGXFD©¥R H HPSRGHUDPHQWR GH DGROHVFHQWHV H PXOKHUHV MRYHQV DWUDY«V GH DF©·HV TXH HVWLPXOHP D UHWHQ©¥R GD UDSDULJD QD HVFROD GHVHQFRUDMDU DV XQL·HV SUHPDWXUDV IRU©DGDV H JUDYLGH] SUHFRFH QD DGROHVF¬QFLD 1R ¤PELWR GR SURJUDPD ˕(X VRX FDSD]˖ SUHY¬ VH TXH DW« VHMDP GLVWULEX¯GRV HP WRGR R SD¯V JUDWXLWDPHQWH PLO XQLIRUPHV EHQHΚFLDQGR UDSDULJDV PDWULFXODGDV QDV l l H l FODVVHV H ELFLFOHWDV ¢V UDSDULJDV TXH WUDQVLWDUHP SDUD D l FODVVH SDUD DO«P GD IRUPD©¥R HP KDELOLGDGHV SDUD D YLGD ˕1DV FRPXQLGDGHV VHU¥R UHDOL]DGDV DF©·HV GH PRELOL]D©¥R FRPXQLW£ULD HQYROYHQGR FHUFD GH PLO O¯GHUHV FRPXQLW£ULRV H ΚJXUDV LQΛXHQWHV QD FRPXQLGDGH EHP FRPR D LPSOHPHQWD©¥R GH XPD DERUGDJHP GH HVSD©RV VHJXURV $W« HVSHUDPRV DOFDQ©DU FHUFD GH PLO UDSDULJDV IRUD GD HVFROD H SDFRWHV GH KDELOLGDGH SDUD D YLGD˖ GLVVH ,VDXUD 1\XVL 1D SURPR©¥R GD HGXFD©¥R GD UDSDULJD D SULPHLUD GDPD GLVVH TXH ˕FDGD XP GH QµV WHP XP SDSHO D GHVHPSHQKDU SDUD TXH D LJXDOGDGH GH J«QHUR VHMD XPD UHDOLGDGH XP SURJUDPD TXH FRQWD FRP R DSRLR GR %DQFR 0XQGLDO GHVHQKDGR H LPSOHPHQWDGR SHOR 6HFUHWDULDGR GR (VWDGR GD -XYHQWXGH H (PSUHJR H TXH WHP R DSRLR GR 0LQLVW«ULR GD (GXFD©¥R H 'HVHQYROYLPHQWR +XPDQR
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OPINIÃO
A Mulher na Liderança Tânia Simões Oliveira • Directora de Serviço ao Cliente / Head of customer
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relatório “women in business: beyond policy to progress”, da consultora Grant Thornton, aponta que em 2020 a percentagem global de empresas com pelo menos uma mulher na administração subiu para 87%, um crescimento superior a 20% nos últimos cinco anos, sendo que em África passou de 31% para 38%. Muitas mulheres têm características marcadamente masculinas e comportam-se em conformidade. Ao fazê-lo, estão a seguir a sua própria natureza. E até se dão bem. Nunca procurei imitar o comportamento dos homens no local de trabalho, porque tal como espero ver os homens agir de uma determinada forma, o mesmo espero das mulheres. Se o meu comportamento não corresponder às expectativas dos que se encontram à minha volta, gera-se um género de dissonância que pode dar azo a desconfianças e a incompreensões. As mulheres transportam para o mundo laboral um conjunto de atributos simultaneamente excepcionais e indispensáveis para a saúde das empresas, sobretudo se pensarmos no clima que se vive hoje em dia, e devem exercer um papel importante sobre o comportamento de alguns homens, levando-os a colaborar ao invés de competir, ouvir ao invés de discursar, cultivar relações ao invés de impor a sua influência. Tudo não passa de uma questão de equilíbrio e de entender as diferenças. Tenho de admitir que fui criada, como alguns já me disseram, “como um homem” onde sempre me foi transmitida a necessidade de trabalhar muito para conseguir algo na vida, e lembro-me de ouvir a minha mãe dizer “não dependas de ninguém”. Mas nunca me foram incutidos comportamentos de “boa menina”, tais como, ser delicada e dócil, falar com voz suave e ser atenciosa com todos. No entanto, isso nunca me retirou a consciência que tenho das diferenças existentes entre mulheres e homens, apenas me transformou numa mulher determinada em atingir os seus objectivos, a ser independente e a encarar com naturalidade a competição em pé de igualdade com homens. Hoje vejo com satisfação que as mulheres têm ganhado cada vez mais espaço no mercado de trabalho e, consequentemente, mais oportunidades na liderança das empresas. É certo que o número de mulheres que ocupam cargos de
chefia é ainda muito baixo, mas nota-se um esforço na evolução desta tendência de crescimento. Ao longo da minha carreira tive a sorte de encontrar chefias que percebem e sabem lidar com a diferença e que valorizam a meritocracia. Contudo, tenho perfeita consciência que, nos dias de hoje, as mulheres na liderança têm de enfrentar mais obstáculos do que um homem durante a sua trajectória, especialmente porque ainda há muito machismo enraizado na sociedade. Vi algumas colegas chefiarem homens e enfrentarem resistência, outras a evidenciar a sua inteligência e a marcarem a sua posição com naturalidade e vi outras serem acusadas de emocionalmente instáveis ou difíceis. No Banco onde trabalho actualmente, o Absa Bank Moçambique, a taxa de feminização já se encontra equilibrada (50/50) e tem sido um dos objectivos do Banco manter esta razão. E o Banco tem assumido, ao longo da sua história, medidas transversais, com particular relevo as ligadas à formação, recrutamento e selecção de pessoal, comunicação e conciliação da vida familiar, profissional e pessoal. Hoje, em contraste com um passado ainda recente, e em algumas organizações por onde passei, vejo que a mulher começa a ser valorizada com mais frequência e a sua diligência reconhecida. Contudo, um desafio que ainda é, infelizmente, enfrentado no ambiente de trabalho é a necessidade de desmistificar alguns rótulos, como o de que as mulheres só conquistam cargos de chefia pela sua beleza ou porque são mais sensíveis e emotivas. Esta desmistificação, na minha opinião, passa simplesmente pelas empresas e chefias adoptarem políticas claras e objectivas assentes na meritocracia, na produtividade e na eficiência. Se quem for, de facto, o melhor escolhido para determinada função de liderança, estes estigmas caem pela base. Se a política for transversal à empresa e entre empresas, homens e mulheres verão com naturalidade uns e outros em funções de liderança. Se assim não for, o ambiente será prejudicial e tóxico. Hoje, há cada vez mais mulheres na liderança no ambiente corporativo. Contudo, em razão dos desafios enfrentados, o caminho é ainda longo e, na minha opinião, na defesa de que as desigualdades são combatidas pela implementação de políticas de meritocracia que estarão sempre acima de questões de género.
Tenho consciência que, nos dias de hoje, as mulheres na liderança têm de enfrentar mais obstáculos do que um homem durante a sua trajectória, porque ainda há muito machismo
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NAÇÃO “A ECONOMIA SUSTENTA-SE DO TRABALHO NÃO PAGO DA MULHER” O Fórum Mulher conhece bem as dificuldades da mulher e a dureza da luta pela sua emancipação. Nzira de Deus, directora da organização, aponta a mudança de mentalidade como principal arma
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Texto Celso Chambisso • Fotografia Mariano Silva
riado em 1993, o Fórum Mulher é uma rede formada a partir de mais de 80 organizações, algumas a operar e outras já extintas. Quando foi criado, o principal objectivo era disponibilizar uma plataforma onde as mulheres pudessem discutir problemas sociais e juntas avançarem para propostas de solução influenciando políticas públicas em prol dos direitos das mulheres e promoção da igualdade de género. Na altura, uma das agendas que era consensual era a violência contra a mulher, um problema que assolou muito as mulheres nos anos que se seguiram à guerra dos 16 anos, que terminou em 1992. Foram estas mulheres, que se uniram para pôr fim à violência, que acabaram por dar o primeiro passo para a criação do Fórum Mulher. A luta pela emancipação feminina envolve uma infinidade de factores: culturais, económicos, sociais e até políticos. Como têm sido as batalhas do Fórum Mulher ao longo do tempo? Na sua evolução, o Fórum Mulher foi atravessando várias etapas em diálogo com os membros para apurar as principais questões de cada momento na vida da mulher. E há cerca de 15 anos estamos focados em cinco áreas fundamentais, nomeadamente a violência contra a mulher, autonomia económica das mulheres, direitos sexuais e reprodutivos, a participação política das mulheres e o for-
talecimento institucional dos membros. É uma rede diversa com organizações a todos os níveis, desde a comunidade, o nível provincial até ao nível central. Em cada uma destas áreas, temos levado a cabo acções de formação, advocacia, sensibilizações comunitárias e monitoria de serviços. Mas, acima de tudo, o Fórum Mulher é uma rede de advocacia para desconstruir a agenda machista patriarcal e tudo o que impede o avanço do exercício do direito pelas mulheres, o que passa por fazê-las compreender que elas próprias têm direitos por reivindicar. Nas suas várias frentes, a luta pela igualdade de oportunidades parece ganhar maior expressão na busca pela autonomia económica. É um problema que tem origem na própria formação da rapariga. Qual deve ser a dimensão da luta pelo seu empoderamento financeiro? A autonomia económica da mulher não deve ser vista de forma isolada dos outros problemas. Por exemplo, a violência está muito ligada à autonomia económica. Uma questão fundamental é que essa autonomia só pode ser alcançada pela mulher indo buscar trabalho no sector formal da economia, como na actividade informal recorrendo à sua criatividade. Mas sabemos que há muitas limitações para que ela possa aí chegar e parte desta lacuna começa bem antes: na educação. Infelizmente, as mulheres têm sido discriminadas no acesso à educação. As famílias já comprova-
O trabalho da mulher conta porque sustenta a economia. Lavar, cozinhar, passar, varrer e deixar o espaço organizado, é feito por pessoas que prestam serviços à economia, mas, infelizmente, não é contabilizado no PIB
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ram a preferência em manter rapazes na escola quando têm de escolher para fazer face ao peso das despesas. Também há percepção de que, mesmo havendo condições para manter rapazes e raparigas na escola, as meninas não precisam de ser preparadas para gerar renda, já que um dia crescem, casam-se e passam a ter os seus companheiros como provedores. Ou seja, é vista como um ser com uma função meramente reprodutiva e de cuidar da família. Isto limita o processo formativo das mulheres. E mesmo quando já estão formadas e acedem ao mercado de trabalho, as mulheres sofrem discriminação salarial. Com as mesmas qualificações e funções que o homem, ela recebe menos. É uma luta que se tem de travar. Se tivermos de medir a gravidade das disparidades salariais entre homens e mulheres no País, a que conclusão chegamos? Quais os sectores de actividade em que a situação é mais alarmante? O Fórum Mulher tem recebido denúncias a este respeito? Há uma agenda que tentamos seguir em parceria com os sindicatos de trabalhadores e o Comité da Mulher Trabalhadora (COMUTRA), que também são membros do Fórum Mulher. O COMUTRA está directamente ligado à questão da defesa dos direitos laborais da mulher e tem denunciado muitos casos, não só de disparidades salariais injustificadas, mas de violação de outros direitos da mulher como as condições de trabalho previstas na Lei, intrinsecamente ligadas aos aspectos biológicos, como a maternidade. Por exemplo, as gestantes não têm condições de permanecer por tempo previsto no local de trabalho, por causa dos cuiwww.economiaemercado.co.mz | Abril 2021
ENTREVISTA
dados médicos periódicos. Além disso, levámos a cabo uma campanha de licença de parto por 90 dias que, sendo permitido no sector público, continua a ser um desafio no privado porque entende-se que 60 dias são suficientes, apesar de a convenção internacional dos direitos laborais da Organização Internacional do Trabalho (OIT) considerar que o recomendável são 90 dias de licença, no mínimo. Em nenhum momento a questão da maternidade deve ser razão para a mulher auferir menos que os homens. Também há desníveis de acesso ao financiamento… De facto, a questão do acesso ao crédito continua a ser uma barreira muito grande para as mulheres poderem realizar negócios. Aqui é preciso muita atenção porque o processo de acesso ao crédito envolve armadilhas que podem levar uma mulher sem conhecimento a endividar-se mais. Mas posso dizer que as mulheres foram criando alternativas. O Xitiki (grupos de crédito rotativo) é a saída encontrada por muitas mulheres para resolverem a lacuna do acesso à liquidez e que já melhorou a condição de vida www.economiaemercado.co.mz | Abril 2021
de milhares. É verdade que as que estão a empreender, seja no sector formal ou informal da economia, também precisam do crédito bancário ou de outro tipo. Portanto, pelos entraves que encontram nesse processo é preciso uma formação para dotar a mulher de capacidade de tomada de decisão sobre como aplicar os seus recursos e evitar a dependência masculina também neste contexto. Até 2007, 30% das mulheres em Moçambique sustentavam sozinhas as suas famílias, incluindo em lares onde existe a figura masculina. Como é que evoluiu a situação, numa altura em que se conhecem avanços no equilíbrio do género? Ainda é preocupante. Deveria estar a reduzir, mas cresce cada vez mais. E nesta fase da pandemia piorou. Verifica-se uma sobrecarga crescente das mulheres. Muitas passaram a acumular a tarefa de colocar a comida na mesa e cuidar da família, perante a perda de emprego por parte dos seus companheiros. Geralmente os homens não têm a proactividade de se desenrascar quando perdem a principal fonte de renda, e não deve ser nor-
ma que a mulher tenha de usar desta habilidade que lhe é imposta pela sociedade. O correcto é que se crie condições para que ambos tenham acesso ao mercado de trabalho com igualdade de oportunidades. Também é necessário incutir nos homens a necessidade de partilha de tarefas domésticas. Há países que já avançaram bastante neste aspecto. Trata-se de um ponto que temos estado a trazer à discussão: o trabalho da mulher conta porque sustenta a economia. Lavar, cozinhar, passar, varrer e deixar o espaço organizado é feito por pessoas que prestam serviços à economia, mas, infelizmente, não é contabilizado no PIB. Ou seja, a economia sustenta-se através do trabalho da mulher não pago. Qual é a proporção de mulheres em situação de vulnerabilidade económica? Não temos dados solicitados por nós, mas recorrendo aos inquéritos do INE podemos concluir, seguramente, que mais de 60% das mulheres cuidam das suas famílias. Saindo à rua, observa-se facilmente que todo o sector informal e a produção agrícola têm rosto
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NAÇÃO de estudos que mostraram ao Governo onde há lacunas que carecem de intervenções mais robustas. Este exercício não termina porque ao mesmo tempo que avançamos no exercício dos nossos direitos, sentimos que o outro lado, o dos nossos parceiros e deste sistema machista, não nos entende facilmente e vai criando barreiras ao avanço dos direitos das mulheres. Temem que ocupemos os seus lugares. E ao nível de África, que lugar se pode atribuir a Moçambique? Moçambique está a mostrar-se um bom exemplo por ter conseguido avançar com algumas políticas e leis, mas falta a implementação, uma vez que ainda há países da África Austral que sequer conseguem discutir no Parlamento para conseguir criminalizar as uniões prematuras, a violência baseada no género, ou a posse do direito do uso da terra para homens e mulheres. E nós já conseguimos.
“O Governo tem um papel. Deve ser o primeiro interlocutor... O Ministério do Género, do Comércio, do Trabalho… o que estão a fazer para assegurar que haja menos desigualdade entre homens e mulheres? Eis a pergunta” feminino. São estas mulheres que estão na linha da frente da produção e de cuidar das suas famílias. Hoje em dia fala-se em novas ameaças à luta pelo empoderamento da mulher, sobretudo as mudanças climáticas. De que modo este fenómeno se pode considerar que pesa mais sobre as mulheres do que os homens, enquanto ambos coabitam os mesmos espaços? Em Moçambique, 80% da produção alimentar é feita por mulheres. Nas valas dos cinturões agrícolas da cidade de Maputo, inclusive, são as mulheres que garantem a produção. Por exemplo, em Sofala e Manica, províncias recentemente sacudidas por ciclones, com as machambas todas inundadas, onde é que estas senhoras vão arranjar alimentos? Onde vai buscar o excedente que irá vender para comprar outros produtos básicos essenciais? Claramente, as mudanças climáticas têm um efeito muito mais negativo na vida das mulheres porque elas vivem
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da agricultura, por isso, ela tem de estar no centro das discussões sobre este tema. Ou seja, a mulher devia ser incluída no espaço de tomada de decisão dos encontros onde se discutem os impactos negativos das mudanças climáticas. Em vez disso, o que vemos é a exclusão da mulher sob o pretexto de que “não sabe se expressar porque não tem conhecimentos” e quando buscamos as raízes disso constatamos que o problema começou antes, quando interrompeu a escola e foi forçada a casar-se na adolescência. Mas nota-se, actualmente, alguns avanços na emancipação feminina, mais concretamente ao nível da participação na vida política… Não podemos negar os avanços que se observam. A nossa consciência de direitos, de que podemos participar e que podemos ocupar qualquer espaço na sociedade, é bem maior e isto foi fruto de campanhas de disseminação de informação e sensibilizações a todos os níveis, bem como da realização
Quais são as entidades da sociedade responsáveis por insistir nesta questão até provocar mudança efectiva de mentalidade dentro da sociedade, em prol da mulher? Todos temos responsabilidades. A Constituição da República já estabelece a igualdade de direitos. Não se deve esperar apenas pelo Fórum Mulher ou Ordem dos Advogados. A consciência de cidadania e de direitos deve prevalecer a todo o momento e isso é o que está a falhar no nosso país: abstemo-nos da obrigação de fazer cumprir as leis e respeitar os direitos à espera que alguém venha e fale. Temos medo de sermos conotados. O Governo tem um papel. É o primeiro interlocutor neste processo: deve fazer campanhas de sensibilização. O Parlamento aprova leis e como é que as dissemina? Deve pressionar o Governo enquanto representante do povo. O Ministério do Género, do Comércio, do Trabalho… o que estão a fazer para assegurar que haja menos desigualdade entre homens e mulheres? Essa é a pergunta. É satisfatório o papel do Governo? Ainda há muitas lacunas. Mas temos de reconhecer que, para o Governo avançar, nós os cidadãos temos de fazer a nossa parte: questionar, monitorar o cumprimento dos nossos direitos e assegurar que são considerados. www.economiaemercado.co.mz | Abril 2021
OPINIÃO
Tectos de vidro João Gomes • Partner @ JASON Moçambique
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que têm em comum Victoire Dogbé (Togo), Rose Raponda (Gabão), Sahle Zewde (Etiópia), Saara Kuugongelwa (Namíbia), Aeenah Guri (Maurícias), Aminata Touré (Senegal), Cissé Sidibé (Mali) e Ellen Sirleaf (Libéria)? Descobriu? E se lhe falar em nomes mais sonantes, tais como Indira Gandhi (Índia), Golda Meir (Israel), Isabel Perón (Argentina), Margaret Thatcher (Reino Unido), Benazir Bhutto (Paquistão), Angela Merkel (Alemanha), Dilma Roussef (Brasil), Theresa May (Reino Unido), Jacinda Ardern (Nova Zelândia) e Luísa Diogo (Moçambique)? Acertou! Foram e são mulheres que, fora da sucessão monárquica, e seguindo a tradição iniciada por Khertek Anchimaa-Toka (Tannu-Tuva), em 1940, fazem parte de uma longa lista1 de eleitas para os mais altos cargos públicos das suas nações. Na mesma linha, mas a nível privado, nomes como Katharine Graham, a primeira mulher CEO (Washington Post Company), a par de Karen Lynch (CVS Health), Jane Fraser (Citigroup), e Linda Rendle (Clorox) são exemplos de mulheres CEO de empresas Fortune 500. Umas e outras têm em comum o facto de terem conseguido quebrar os Tectos de Vidro (“Glass Ceiling”)2 que teimam em afastar o género feminino do exercício do poder. Neste artigo, cuja escrita iniciei em pleno Dia da Mulher Moçambicana, convido-vos a analisarmos o fenómeno apelidado de Tectos de Vidro3 (TV) e no qual veremos sucessivamente: 1 - O que é o fenómeno “Tectos de Vidro”? 2- Quais são as suas causas? 3- Que efeitos produz nas organizações?
1- O que é e como se manifesta? Sugiro a seguinte definição de “Tectos de Vidro”: - Um conjunto de barreiras invisíveis, predominantemente culturais. - Que impedem as mulheres de alcançarem posições mais avançadas e de topo nas organizações.
Por exemplo: Em Dezembro de 2017, as mulheres ocupavam 29 (5,8%) dos cargos de CEO nas empresas S&P 500. Em Dezembro de 2019, ocupavam 30 (6%) dos cargos de CEO nas empresas S&P 500. No final de 2020, ocupavam 7,8% dos cargos de CEO. Neste contexto - cálculo nosso - a manter-se este ritmo lentíssimo de crescimento (2% em cada três anos) precisaremos de + 63 anos para atingirmos a paridade (i.e. 50%) dos cargos de CEO. - E apenas e porque são mulheres. Por exemplo: De acordo com a revista Fortune, apenas 3% de mulheres negras são CEOs de empresas S&P 500. 2- Quais são as suas causas? Desafio o meu leitor(a) a questionar os seus preconceitos respondendo ao seguinte inquérito rápido (resultados apresentados em nota de rodapé) sobre as causas do TV. Indique com Verdadeiro (V) ou Falso (F): a) Discriminação (V/F). b) O facto de as mulheres não serem tão ambiciosas (V/F). c) Quem decide sobre as promoções normalmente favorece comportamentos mais comummente demonstrados por líderes homens (V/F). d) Falta de regulamentação sobre igualdade de género e quotas nos cargos de direcção (V/F). e) Os homens são melhores em lutar por visibilidade e por promover os seus pontos de vista (V/F). f) As mulheres são julgadas e avaliadas com maior severidade do que os homens (V/F). g) Os homens são mais confiantes em papéis de liderança quando as coisas estão difíceis (V/F). h) Falta coragem às mulheres (V/F). i) Os homens tendem a ser menos emocionais que as mulheres (V/F). j) As mulheres não são suficientemente competitivas (V/F). k) Os homens na liderança geralmente têm melhor performance do que as mulheres na liderança (V/F). l) As mulheres com potencial de liderança geralmente precisam de opções de desenvolvimento e de treino diferentes das dos homens (V/F).
Neste contexto - cálculo nosso - a manter-se este ritmo lentíssimo de crescimento (2% em cada três anos), precisaremos de + 63 anos para atingirmos a paridade (i.e. 50%) dos cargos de CEO
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A mulher já escalou todos os degraus que lhe possam conferir paridade nos cargos de CEO. Falta agora quebrar o tecto de vidro que trava uma ascenção ainda maior
Surpreendido(a) com o seu resultado? 3- Que efeitos produz nas organizações?. Para lá dos importantes efeitos ao nível individual (stress; isolamento; baixa auto-estima; ansiedade), interessa-me destacar, a contrario sensu, os efeitos económicos deste fenómeno. - Um estudo feito pelo Peterson Institute for International Economics, que analisou 21 980 companhias globais, em 91 países, em 2016, apurou que companhias com um mínimo de 30% de mulheres em posições de liderança registaram aumentos de 15% na margem líquida. - E uma constatação: Certamente não é por acaso esta correlação positiva: no top 5 dos países com o melhor Índice de Desenvolvimento Humano encontramos países como a Noruega (Gro Harlem Brundtlan, oito anos como Primeira-Ministra. Erna Solberg, sete anos como Primeira-Ministra), e a Islândia (Jóhanna Siguroardóttir, quatro anos como Primeira-Ministra. Katrin Jakobsdótir, três anos como Primeira-Ministra), países com fortíssima tradição de liderança no feminino. Em conclusão. A luta contra os impactos adversos ao nível dos países (e.g., ao nível do Índice de Desenvolvimento Humano), das empresas (e.g., ao nível da lucratividade e do ROE) e dos indivíduos (e.g., ao nível da saúde mental) resultantes destas barreiras invisíveis que tolhem a ascensão das mulheres, apenas por que são mulheres, deve ser feita em três frentes: - ao nível das próprias mulheres: no sentido destas ganharem maior consciência sobre o tema e perceberem que o seu instinto de proteger os outros, muitas vezes em detrimento de si próprias e evitando a conflitualidade, é o seu www.economiaemercado.co.mz | Abril 2021
maior adversário na luta contra o TV. - ao nível das organizações: no sentido de realizarem programas de transformação cultural e de reforço das competências de liderança do género feminino e não tolerarem comportamentos bulies. - ao nível da sociedade em geral: no sentido de quebrar os estereótipos da mulher frágil, emocionalmente volátil e medrosa. Pois não há mais paciência para uma longa espera, de mais 63 anos, para que sejam totalmente quebrados os tectos de vidro.
Para uma lista completa de mulheres eleitas para altos cargos públicos confira em https://tinyurl.com/btkzkjfn. 2 Expressão criada no livro “Breaking The Glass Ceiling: Can Women Reach The Top Of America’s Largest Corporations?” - 1987, Ann Morrison, Randall P White, Ellen Van Velsor .3Se googlar a expressão “Tectos de Vidro” encontrará 680.000.000 de resultados (consulta em 07 Abril 2021). 4 Mulheres CEO no S&P 500: https://www.catalyst.org/ research/women-ceos-of-the-sp-500/ 5 Inquérito baseado na pesquisa da autoria de Nancy Parson, e apresentado no seu livro “Fresh Insights to End the Glass Ceiling”, 2017. 6 Respostas Verdadeiras (V): c; e; f; g; h;l. 7 Sobre os efeitos do fenómeno “Tectos de Vidro” na saúde mental das mulheres conferir https://tinyurl.com/ me5ewzz 8 Índice de Desenvolvimento Humano: https://tinyurl. com/4yx3ebm8 1
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NAÇÃO “TEMOS DE CONQUISTAR ESPAÇOS PRIVILEGIADOS POR MÉRITO” Sofia Cassimo, presidente do Pelouro da Mulher Empresária ao nível da CTA, fala das barreiras ao empreendedorismo feminino, mas atribui à própria mulher parte da responsabilidade pela mudança
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Texto Celso Chambisso • Fotografia Jay Garrido
pelouro da mulher empresária e empreendedora na cta, a principal entidade patronal privada do País, conta com cerca de 25 mulheres, o que segundo a respectiva presidente, Sofia Cassimo, é muito pouco representativo se se olhar para o tecido empresarial nacional. Mas se se considerar cada uma das entidades que compõem o pelouro, a situação muda. É que só a Federação de Mulheres Empresárias e Empreendedoras de Moçambique (FEM), uma das associações que compõem o pelouro e de que Cassimo é presidente, tem dentro de si cerca de 200 mulheres. Outras organizações que fazem parte do pelouro, entre as quais a Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE), individualmente, também têm dentro de si muitas outras mulheres. Ainda assim, são poucas em relação aos homens, e em desvantagem em termos de oportunidades. Onde estão as barreiras e como remover? Qual é o custo para se ser empresária em Moçambique? Temos o custo de registo ou de formalização do negócio que, em Moçambique, infelizmente, é bastante alto. Como pelouro, e mesmo a CTA enquanto organização, tem vindo, consecutivamente, a apelar junto das entidades competentes, nomeadamente o Governo, que devemos rever os custos judiciais de alguns destes processos que os empreendedores são obrigados a enfrentar para poder formalizar as suas empresas, numa lógica de estimularmos o empreendedorismo e termos um sistema empreendedor mais permeável e inclusivo. Devemos rever os procedimentos e custos de modo a diminuir a informalidade e criar o auto-emprego através de iniciativas empreendedoras de jovens e mulheres. Também temos a parte do custo pessoal de que se fala muito pouco. Ser empreendedora é uma jornada muito solitária, nem sempre as nossas famílias são acolhedoras ou flexíveis no entendimento do que é ser empreendedor. Muitos dos nossos pais ou familiares sonharam que íamos ser advogadas, economistas, etc. em grandes empresas ou no Estado, pelo que isto de fundarmos o nosso próprio negócio nem sempre é bem acolhido em casa. Além dessa parte, temos o custo social que tem que ver com a falta de tempo já que o empreendedor está quase sempre a trabalhar. Vou dar o meu próprio exemplo: fui mãe em Fevereiro e pela
lei de licença de maternidade devia gozar dois meses em casa, mas duas semanas depois tive de regressar ao trabalho porque a minha empresa depende mim. Ou seja, os custos vão muito além da componente meramente financeira. Está a dizer que os custos de empreender, embora sejam iguais para todos em muitos aspectos, acabam pesando mais na mulher? Creio que devemos segmentar para quem isto é caro, embora exista, por exemplo, o licenciamento simplificado, que tem um custo bem mais reduzido, e o empresário em nome individual que, por não exigir a publicação dos seus estatutos no Boletim da República, tem custos reduzidos de formalização do registo da empresa. Mesmo nessas circunstâncias, nenhum custo está abaixo de três mil meticais. Ora, se olharmos para a renda básica da média da população moçambicana, será difícil conseguir que as pessoas tentem guardar três mil meticais para registar o seu negócio, sobretudo mulheres. Se quisermos promover o empreendedorismo, devemos criar mecanismos que estimulem a estruturação, organização e formalização dos negócios. Uma das coisas que temos no meu pelouro é criar um mecanismo facilitado, com custo muito baixo para registar um negócio, já que os que estão plasmados nos registos simplificados não abrangem todos os negócios que vemos os jovens ou mulheres a empreenderem. Tendo em consideração as limitações que descreveu para a adesão das mulheres ao mundo empresarial, não será difícil imaginar que a sua representatividade é bem inferior do que a dos homens. Em que medida? Um relatório que me lembro de ter lido, da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da USAID, vincava que 67% das micro e pequenas empresas do sector formal são constituídas por mulheres ou as mulheres são accionistas maioritárias. No informal, a mulher representa, igualmente, a maioria com cerca de 80%. Portanto, nós (mulheres) temos maior representatividade em termos de números, mas se olharmos para a ocupação dos espaços de decisão ou de poder, onde se discutem questões que têm implicações no mundo empresarial, a representatividade feminina cai bastante. Por exemplo, os boards dos bancos, conselhos di-
“Precisamos de pegar nos poucos casos de sucesso que há e dar maior visibilidade para que outras mulheres percebam que, embora comecem por negócios de fraca visibilidade, podem crescer e atingir grandes patamares”
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ENTREVISTA
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NAÇÃO
“Infelizmente, ainda não foram criados produtos financeiros que vão ao encontro das reais necessidades das mulheres empreendedoras...” rectivos ou associações empresariais têm muito pouca presença de mulheres que se façam ouvir e passar as suas inquietações e contribuições. Mas isto não deve ser atribuído à discriminação. Creio que nós mulheres temos de fazer maior esforço de ocupação de posição privilegiada por meio do nosso mérito. Temos de saber ocupar os espaços criados e marcarmos a nossa presença. Quando se trata de empresas de média e grande dimensão a representatividade também cai… Sim. Isso tem que ver com a questão do risco. Enquanto os homens lidam com o risco com muito mais facilidade, as mulheres têm menos apetência de arriscar, apesar de serem proactivas em começar um empreendimento. É que, ao contrário dos homens, as mulheres, na maior parte dos casos, não é por terem uma ideia genial ou grande oportunidade no mercado que empreendem, mas porque precisam de pôr o pão na mesa, pagar propinas dos filhos, sonham em matriculá-los na universidade, melhorar a casa, etc. E o caminho do empreendedorismo é a saída que encontram perante adversidades, como o baixo nivel de escolaridade, entre outros problemas de ordem cultural, que as impedem de perseguir e conseguir um emprego formal. Esta colocação desperta para uma questão que não tinha pensado antes. O nível, relativamente fraco, de escolaridade da mulher, por exemplo, funciona como impedimento para que tenha condições favoráveis de empreender ou impulsiona-a para o empreendedoris-
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mo, pela dificuldade de conseguir um bom emprego? Se olharmos para os micro negócios e para o sector informal, como a venda de produtos básicos de uso comum no dia-a-dia, podemos afirmar que sim. Mas também já temos mulheres a arriscarem em empreender na área da construção ou venda de material de construção civil, etc. Vemos que existem, se calhar numa proporção muito pequena, algumas mulheres que, independentemente do fraco nível de escolaridade, olham para o mercado e tiram partido do seu talento, o que depois se traduz na sua transição para média ou grande empresa. Por isso, o nosso pelouro acredita que o caminho é a capacitação e promoção do empreendedorismo da mulher. Precisamos de pegar nos poucos casos de sucesso que há e dar maior visibilidade para que outras mulheres percebam que, embora comecem por negócios de fraca visibilidade, podem crescer e atingir grandes patamares. Também temos de fazê-las entender que não é o nível de escolaridade o principal determinante do sucesso do negócio. A evolução tecnológica também está a mudar o mundo do empreendedorismo. Acredita que as facilidades trazidas pela era digital têm força suficiente para ajudar a mulher a ultrapassar barreiras e afirmarem-se no mundo empresarial? A transição para o digital foi, sem dúvida, estimulada pelo covid-19. Trabalho muito na área da capacitação para o empreendedorismo, com especial foco em mulheres, e nos nossos programas e projectos vemos que elas têm uma tendência e uma facilidade muito maiores em fazer esta transição porque percebem o valor agregado que traz para o seu negócio. Por exemplo, a utilização de grupos de WhatsApp e do Facebook para venda tem um óptimo efeito, e essa utilização tem vindo a ser aprimorada pelo Instagram, que se tornou numa montra digital dos newww.economiaemercado.co.mz | Abril 2021
gócios para as raparigas que, por exemplo, vendem roupas em segunda mão e conseguem fazê-lo de uma maneira mais apelativa e elegante. Até o trabalho das mulheres que tinham serviços que antes necessitavam de contacto físico, como a contabilidade, coach¸ advogadas, hoje ficou mais flexível. Vejo que as mulheres são muito mais permeáveis a fazer a transição tecnológica do que os homens. Uma das grandes barreiras ao empreendedorismo em Moçambique é o acesso ao financiamento que, segundo vários estudos, é ainda mais difícil para as mulheres. Mas também se observa uma preocupação crescente das instituições financeiras em criar linhas específicas para a mulher empresária. Isto alivia, de certeza… A questão do acesso ao financiamento é má tanto para homens como para mulheres. O nosso sistema financeiro ainda asfixia os empreendedores que se querem financiar. Apesar disso, vemos nos relatórios dos vários bancos, incluindo os de microcrédito, que quando as mulheres acedem a produtos de financiamento são o grupo que melhor honra o pagamento da dívida. Mas, infelizmente, ainda não foram criados produtos financeiros que vão ao encontro das reais necessidades da mulher empreendedora. Ao nível da agricultura, actividade de elevado risco, por exemplo, há muito pouco crédito ao nível da banca comercial que seja de facto pagável e a que as mulheres consigam aceder. Também temos visto alguns programas de apoio como o Sustenta, que é uma grande oportunidade pela sua vertente de apoio à mulher e aos jovens, e que se sobrepõe a outros produtos específicos dos outros bancos como Moza, Bim, BCI, etc. Mas falta um pouco mais de audácia da banca em criar o tipo de produtos específicos para o mercado, deixando de importar os modelos dos países de origem da nossa banca. Também é necessário olhar para outros tipos de financiamento, como o capital de risco. Infelizmente, o nosso código comercial ainda não prevê o capital de risco, que é um modelo que funciona lá fora, e não deixar o peso todo sobre a banca. Há, uma série de questões com que a mulher se debate e que não se prevê corrigir num futuro tão próximo… Tem de haver maior inclusão e consciencialização. Começa por ter os homens a lutarem lado a lado com as mulheres assumindo e validando que o que as mulheres têm estado a pedir é algo a que têm direito. Por exemplo, na área empresarial, nem todas as oportunidades de negócio chegam às mulheres com a mesma velocidade com que chegam aos homens. Basta olhar para os painéis das conferências dos debates sobre as grandes oportunidades de negócio da indústria extractiva para perceber que a maior parte das mulheres são representantes do Governo e não empreendedoras. Mas por outro lado, e como disse antes, nós as mulheres devemos nos preparar para as oportunidades, aumentando a nossa representatividade nos fóruns de tomada de decisão e também trabalharmos pelo alcance da excelência empresarial. No capítulo do empreendedorismo, não se tem um estudo sobre a dinâmica do ecossistema em Moçambique para conhecer melhor os gaps e as oportunidades, que variam muito conforme a região. Também é preciso rever os instrumentos regulatórios para torná-los mais permeáveis permitindo o apoio ao empreendedorismo.
OPINIÃO
2021, o arranque da defesa da concorrência em Moçambique? Fabrícia de Almeida Henriques • Managing Partner da HRA Advogados & Pedro de Gouveia e Melo • Sócio da Morais Leitão
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ais de sete anos volvidos após a entrada em vigor da Lei da Concorrência, tudo aponta para que este seja o ano em que a Autoridade Reguladora da Concorrência (ARC) começará a exercer plenamente as suas funções enquanto entidade responsável pela aplicação do direito da concorrência em Moçambique. Embora tenha sido formalmente criada em 2014, durante vários anos não se verificaram desenvolvimentos de relevo quanto ao início da actividade da ARC. Uma alteração no passado mês de Fevereiro ao seu Estatuto Orgânico, associada a indicações de que todos os membros do Conselho de Administração já terão sido nomeados, e ainda à mudança para instalações próprias e ao recrutamento de algum pessoal, sugerem que a ARC já se poderá encontrar plenamente operacional, o que tem implicações práticas importantes para todas as empresas com presença em Moçambique, tanto nacionais como estrangeiras, considerando os amplos poderes de investigação e sancionatórios que lhe estão atribuídos. Para além de competências de regulamentação e supervisão, cabe à ARC, desde logo, investigar e decidir processos sancionatórios em matéria de práticas restritivas da concorrência, tais como condutas concertadas do tipo cartel de fixação de preços ou de partilha de mercados, acordos de distribuição com efeitos de exclusão, ou ainda comportamentos abusivos por parte de empresas dominantes nos mercados em que operam. Todos estes comportamentos sujeitam as empresas envolvidas a riscos elevados, e em particular a multas que podem atingir até 5% dos respectivos volumes de negócios anuais. Espera-se que os esforços de investigação da ARC possam gradualmente evoluir e re-
presentem, a prazo, parte significativa da sua actividade. No imediato, porém, a área de intervenção com maior relevância prática será muito provavelmente a do controlo das operações de concentração de empresas que estão sujeitas a notificação prévia obrigatória à ARC, pois depende apenas do ritmo da actividade económica e não do impulso investigatório da autoridade. Neste domínio, e tal como em muitos outros países, a legislação de concorrência moçambicana estabelece que devem ser obrigatoriamente notificadas à ARC as concentrações de empresas que preencham os critérios de notificação na lei, ficando igualmente sujeitas a um dever de suspensão (standstill), o que quer dizer que apenas podem ser concretizadas após obtida a aprovação da ARC. A “malha” dos limiares legais de notificação é relativamente ampla (por exemplo, estão sujeitas a notificação todas as concentrações em que o volume de negócios combinado das empresas participantes em Moçambique ultrapasse anualmente 900 milhões de meticais), o que significa que parte importante das transacções societárias e de M&A com impacto em Moçambique estará abrangida pelo dever de notificação prévia à ARC. As notificações devem ser apresentadas mediante formulário aprovado pela ARC, cuja publicação se aguarda, estando igualmente sujeitas ao pagamento de uma taxa de notificação. Existe, contudo, bastante incerteza quanto à taxa aplicável, pois desde a publicação do Diploma Ministerial n.º 97/2014 que o valor da taxa de notificação de concentrações está formalmente fixado em «5% do volume de negócios do ano anterior ao do pedido de apreciação da operação». Trata-se certamente de um lapso, pois é um valor sem qualquer correspondência com os custos in-
No imediato, a área de intervenção com maior relevância prática será a do controlo das operações de concentração de empresas sujeitas a notificação obrigatória à ARC, pois depende apenas do ritmo da actividade económica e não do impulso investigatório da autoridade
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A legislação de concorrência estabelece que devem ser obrigatoriamente notificadas à ARC as concentrações de empresas que preencham os critérios de notificação na lei
corridos pela ARC na apreciação das concentrações, sendo inclusivamente cinco vezes superior ao valor máximo da multa aplicável à violação da obrigação de apresentação de notificação prévia (fixado em 1% do volume de negócios), e igual ao valor máximo da multa aplicável às violações mais graves do direito da concorrência (que não pode exceder 5% do volume de negócios). A título de exemplo, uma concentração em que o volume de negócios combinado das partes, em Moçambique, seja de 15 milhões USD estará sujeita ao pagamento de uma taxa de notificação de 750 mil USD; se o volume de negócios combinado das partes for de 50 milhões USD, a taxa de notificação será de 2,5 milhões de USD… São valores que não têm paralelo com os praticados nos países mais próximos de Moçambique, nem, que se saiba, em qualquer outro país do Mundo. Com efeito, em quatro países do sul de África próximos de Moçambique com regimes de controlo de concentrações (África do Sul, Namíbia, Quénia e Tanzânia) as taxas de notificação, que de resto variam em função da complexidade da operação, nunca ultrapassam o equivalente a 45 mil USD. Já em Portugal, cuja legislação de concorrência é muito semelhante à Moçambicana, a taxa de notificação máxima nunca excede 30 mil USD. Não é certo que a ARC venha a exigir o pagamento da taxa nos moldes www.economiaemercado.co.mz | Abril 2021
atuais, pois tal seria claramente inconstitucional. No entanto, a mera manutenção em vigor do Diploma Ministerial n.º 97/2014, sem que o valor da taxa de notificação seja alterado, poderá ter na prática efeitos perniciosos para a ARC. Na verdade, quando confrontadas com uma taxa de notificação que efectivamente é cinco vezes superior ao valor máximo da multa que teriam que pagar pela violação do dever de notificação, muitas das empresas que realizem operações de concentração com efeitos em Moçambique optarão por não notificar as operações e sujeitar-se ao risco do pagamento da multa, ou inclusivamente decidir não realizar de todo a operação. Com a entrada em funcionamento da ARC torna-se assim essencial alterar com urgência o regime da taxa de notificação para valores correspondentes aos custos realmente incorridos pela ARC na análise das operações, e que de todo o modo não se afastem das taxas de notificação praticadas nas jurisdições económica ou juridicamente mais próximas de Moçambique, como a África do Sul ou Portugal. Caso contrário, muitas operações de concentração poderão acabar por não ser notificadas, ou até ser abandonadas pelas partes (face aos elevados custos e incerteza jurídicos), o que seria muito prejudicial, tanto para a actividade da ARC que agora se inicia, como para o desenvolvimento futuro da própria economia em Moçambique.
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MERCADO E FINANÇAS CABELOS, A “FEBRE” QUE VALE TANTA BELEZA QUANTO MILHÕES A mulher não poupa tempo nem recursos para se sentir bela. Ginásio, griffes de moda, perfumes, jóias… fazem parte de um pacote que passou a ter o cabelo liso como principal artigo
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Texto Cármen Rodrigo • Fotografia Mariano Silva vaidade é uma identidade feminina imutável. De há alguns anos a esta parte, a aparência da mulher negra tem, quase que infalivelmente, algo em comum: cabelos ocidentais. Lisos, cacheados, próteses, perucas, apliques sintéticos, humanos ou artificiais. O importante é estar (ou sentir-se) bonita. Para isso é necessário que haja um investimento significativo que, aliado à elevada procura, faz do cabelo um dos negócios mais lucrativos de África… e também do mundo. Segundo avança o site Africafrique. com, as mulheres africanas gastam mais de 7 mil milhões de dólares por ano em cabelo falso, a maior parte do qual proveniente da Ásia. Os principais importadores incluem a África do Sul, Angola, Gana, Nigéria e Camarões. Em Moçambique ainda não há estudos sobre este mercado que cresce a olhos vistos, mas a E&M foi buscar informação que deixa uma ideia da grandeza do ′fenómeno‛ dos cabelos. Basta olhar para os preços, que podem variar entre 3000 meticais e até ultrapassar os 35 mil meticais por molho de fios capilares, para concluir que não será um mercado de se desprezar, numa sociedade em que são pouquíssimas as mulheres urbanas que não te-
nham aderido à moda. Desde jovens até adultas, dependendo do tipo de cabelo artificial que o bolso suportar, as mulheres podem gastar de cinco a 100 mil meticais na aquisição e/ou tratamento do cabelo num só ano. As nossas entrevistadas, entre vendedoras e usuárias destes artigos (quem vende geralmente também usa) revelam que mesmo as mulheres mais pobres conseguem juntar o pouco que ganham do seu trabalho para pagar os cabelos mais baratos. É um investimento que compensa não só pela beleza, mas, principalmente, por evitar que a mulher se sinta excluída da tendência actual. “As mulheres estão cada vez mais vaidosas, gostam de investir na beleza e compram os cabelos mesmo por vaidade. Não tem como não relacionar a vaidade com a mulher, que quando gosta de algo investe, até o que não tem, pela beleza, independentemente do valor”, revela Ester Cumbane, vendedora e usuária de cabelos ocidentais, e dona de um dos estabelecimentos de referência na venda de cabelos da cidade de Maputo. É indispensável. Que o digam as jovens Jéssica Baptista, formada em Desenvolvimento e Educação de Infância, considera o cabelo (extensões) um acessório
“As mulheres estão cada vez mais vaidosas, gostam de investir na beleza e compram os cabelos mesmo por vaidade. Não há como não relacionar a vaidade com a mulher. Quando gosta de algo investe até o que não tem”
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indispensável para uma mulher vaidosa e confidencia-nos: “a chegada do cabelo veio melhorar muito a autoestima das mulheres, não conseguimos sair para a rua sem as extensões e digo mais: muitíssimo indispensável, eu, em particular, fico sempre de cabelos lisos ocidentais. Acho que é o acessório mais caro que tenho. Gasto uma fortuna para comprar e sempre compro”. E não é para menos: “até agora tenho 14 próteses e ainda acho que não são suficientes (risos), não fico um semestre sem comprar pelo menos três. No ano passado comprei uma de 12 mil meticais, outra de 6 mil e uma de 25 mil. Este ano, já comprei duas por 20 mil, reservei uma de 26 mil e comprei outra de 4 mil. Além disso, compro sempre material para deixá-las bonitas, gasto muito”, confessou. À semelhança da Jéssica, Reginalda Canhanga, estudante de Medicina, tem nos cabelos artificiais os acessórios que devem fazer parte da sua vida. “Gasto muito com extensões. Numa prótese, dependendo do tamanho e qualidade, devo gastar, no mínimo, 5 mil meticais www.economiaemercado.co.mz | Abril 2021
MULHER
AS MAIORES INDÚSTRIAS DE CABELOS De acordo com a ONU, ao nível mundial a Índia é um dos maiores actores na indústria do cabelo humano e exporta até 400 milhões de dólares todos os anos. Além da Índia, a China é também é um grande mercado, chegando a exportar um enorme volume de cabelo humano para África todos os anos. Porém, ao contrário da Índia, onde a maior parte do cabelo humano é “voluntariamente sacrificado” pelas mulheres, que o vendem aos grandes comerciantes, na China é um negócio de pleno direito – mulheres chinesas pobres, geralmente das zonas rurais, vendem o seu cabelo por uma taxa a coleccionadores de cabelo, e que são intermediários no negócio do cabelo humano virgem. Além da Índia e China, fazem parte do grupo de maiores exportadores de cabelo, o Brasil, Perú, Malásia, entre outros. É para este conjunto de países que as mulheres africanas, incluindo as de Moçambique, viajam periodicamente para alimentarem o seu negócio.
só na compra e depois levo ao salão para personalizar, colar e fazer outros tratamentos. Agora tenho quatro próteses e duas extensões”, explicou. Que a beleza requer investimentos não é novidade. E Reginalda não tem mãos a medir. Considera que o que tem feito ainda é pouco. Precisa de investir ainda mais. “Não estou muito satisfeita com o cabelo que tenho agora, gostava de ter muito mais, o cabelo é algo que deixa a mulher mais bonita”, sentenciou. Um negócio próspero Na sociedade moçambicana, a demanda por cabelos é tão elevada que, do lado da oferta, as vendedoras chegam a facturar centenas de milhares de meticais por mês em períodos normais, já que a pandemia veio reduzir o poder de compra. “O cabelo agora não está tão caro quanto antes, quando adquiríamos as próteses por 300 dólares (19 800 Mt) ou 350 dólares (23 100 Mt) chegando até aos 500 dólares (33 000 Mt). Actualmente, o preço do cabelo varia entre www.economiaemercado.co.mz | Abril 2021
5000 Mt e 35000MT conforme a qualidade, uma vez que já não vem todo de fora. Isto é, há próteses produzidas aqui mesmo em Moçambique, já que só com uma máquina de costura é fácil comparar o cabelo e transformá-lo em prótese”. Ester revela que terá sido através dela que se introduziu a transformação local do cabelo adquirido fora, num processo em que os seus clientes, reconhecendo a boa qualidade do seu produto, compram-no ainda bruto proveniente da Índia e processam-no, transformando-o em cacheado, ondulado ou liso, e depois costuram-no. Esta cadeia veio agregar lucratividade ao empreendimento, que nos últimos meses, à semelhança de qualquer outra área de actividade, não resiste aos efeitos negativos da pandemia do novo coronavírus. “Antes do covid-19 toda a gente viajava e eu, particularmente, viajava muito. Agora, com a pandemia, isso já não é possível. As mulheres quando queriam entrar para um negócio, escolhiam o mercado de cabelos, e essa
tendência veio saturar o mercado. Ainda assim, é possível manter o negócio porque o cabelo continua a ser um grande ídolo das mulheres da capital”, frisou. Nélia Benjamim, também vendedora de cabelos, mais concretamente no Mercado Central, na baixa da cidade de Maputo, conta que aderiu a este negócio em 2017, a convite de uma irmã da igreja, e dá o seu testemunho sobre o sucesso do empreendimento: “o nosso cabelo vem da China e da Índia, e vendemos maioritariamente a prótese e o cabelo cacheado, que são os tipos mais apreciados. Não ficamos muito tempo com cabelo, as pessoas compram muito, aqui as mulheres pagam até 35 mil meticais para comprar e por vezes mais do que isso”. Nélia revelou ainda que os cabelos são frequentemente usados para obter estilos e texturas que não poderiam ser feitas com o cabelo natural, o que faz com que a demanda por extensões de cabelo vá aumentando cada vez mais.
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MERCADO E FINANÇAS
A demanda por cabelos é tão grande que do lado da oferta, as vendedoras chegam a facturar centenas de milhares de meticais por mês em períodos normais, já que a pandemia veio reduzir o poder de compra Tão sério que exige profissionalismo Engana-se quem pensa que o dinheiro que se ganha nesta actividade “cai do céu”. No mercado do cabelo desde o ano 2000, Ester Cumbane iniciou o trabalho vendendo as chamadas extensões antes mesmo de ter um salão para tratamento de cabelos. Conhecida pela (boa) qualidade dos seus cabelos e pelo seu estabelecimento – o Boutique Telma –, Ester Cumbane explicou à E&M que começou a trabalhar com tranças aos dez anos e teve o seu primeiro salão anos depois. Mais tarde, começou a viajar para o Brasil e depois para Índia e mais tarde para a China, três dos mercados internacionais de referência. Ester Cumbane viu nos cabelos uma oportunidade de criar um negócio que deu certo. Pela África e, se calhar, pelo mundo, há muitas histórias de sucesso baseadas no negócio do cabelo, como a desta empreendedora cuja paixão pela área e o comprimento das madeixas que usa
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renderam-lhe a alcunha de “rainha das extensões”. Mas porquê o cabelo ocidental no lugar do natural? É uma pergunta que tem feito correr muita tinta nas redes sociais, com os mais críticos a apontarem que não faz sentido que as mulheres abdiquem da beleza natural para pagarem muito caro por uma “identidade falsa”. A E&M procurou abordar esta polémica ouvindo o sociólogo Hélder Nhamaze que, no lugar de nos conceder uma entrevista, preferiu indicar-nos duas obras que explicam detalhadamente o que procurávamos, nomeadamente “O Indígena africano e o colono europeu: a construção da diferença por processos legais”, da autoria de Maria Paulo Meneses, e “Início do pensamento africano sul-saariano. A tarefa civilizadora. Temas, figuras e discussões (a segunda metade do séc. XIX)”, de Eduardo Devés-Valdés.
As obras referem que “falar da estética em África leva-nos directamente à reflexão sobre como foi implementado o conjunto de princípios estéticos na região. Sendo África um continente marcado pelo colonialismo, esta busca pelo padrão capilar ocidental em muito está relacionada com o padrão instalado do sistema de valores dominantes”. Ou seja, a noção de que os valores ocidentais são melhores que os locais. O principal argumento é o de que “essa reformulação teve incidência profunda no modo de vida dos africanos, uma vez que a civilização em África está, em primeira instância, ligada à exploração e, num outro nível, ligada à produção de fundamentações teóricas que desqualificam os pilares étnicos e culturais”. Dados há ainda que revelam que, além da herança colonial, há que ter em conta os efeitos da Media na disseminação de valores e formação da identidade, sobretudo veiculados através de telenovelas, filmes e anúncios publicitários a sobrevalorizarem a identidade estética ocidental, influenciando novos padrões de beleza em mulheres e fazendo com que optem pelo mais mediatizado. www.economiaemercado.co.mz | Abril 2021
LÁ FORA
O QUE O MUNDO PERDE COM A DISCRIMINAÇÃO DA MULHER? A ONU tem liderado a luta pela construção de uma sociedade igualitária e as contas que vem divulgando denunciam perdas de oportunidade de crescimento que não justificam a lentidão que ainda se assiste no empoderamento da mulher Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R.
s
e homens e mulheres tivessem igualdade de oportunidades, o PIB mundial poderia aumentar 28 biliões de dólares de 2018 a 2025, segundo estimativas do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA). A Organização Internacional do Trabalho (OIT), por seu turno, calcula que se homens e mulheres tivessem o mesmo salário e igual papel no mercado de trabalho e em posições de liderança, o PIB mundial poderia crescer 26% em relação ao valor de 2018. Mas, no lugar disso, a mulher continua a ser o rosto da pobreza, agravada pela falta de equilíbrio nas medidas adoptadas para travar o fenómeno. A ONU estima, por exemplo, que 71% de todas as medidas relacionadas com o empoderamento da mulher, no mundo, focam-se principalmente na prevenção da violência, só 10% são pelo fortalecimento da segurança económica das mulheres, e menos de um terço das medidas anunciadas abordam o trabalho de assistência não remunerado nas famílias e comunidades. As estatísticas vão mais longe ao mostrarem que uma em cada três mulhe-
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res no mundo sofre violência; apenas 22 países são dirigidos por mulheres, o que não possibilita o alcance da paridade ao nível de chefes de Governo antes de 2150; a actual média mundial de mulheres parlamentares é de 23%, considerado pouco para atingir o nível ideal. Em Setembro do ano passado, a organização estimou também que a taxa de pobreza entre as mulheres deverá aumentar 9,1% por causa da pandemia e suas consequências. E, em julho de 2020, também a consultora McKinsey Global Institute considerou que a crise tornou os empregos das mulheres mais vulneráveis, numa escala de quase duas vezes maior do que o dos homens. A situação é mesmo crítica A pandemia do covid-19 veio destapar a gravidade da desigualdade de oportunidades entre homens e mulheres no mundo. Uma desigualdade também
tratada como pandemia pelos estudiosos, que a avaliar pelos retrocessos ao progresso económico das nações vêm apelando por mudanças… que tardam a concretizar-se. Recentemente, a ONU fez uma radiografia do quadro em que a mulher se encontra hoje em várias esferas da vida da sociedade, sobretudo na educação e no trabalho, onde várias outras pesquisas já comprovaram haver um grande potencial subaproveitado. A mais recente intervenção do Secretário Geral da ONU, António Guterres, baseada na deterioração das condições da mulher durante a pandemia, trouxe um overview que indica que a doença está a eliminar anos de progresso em direção à igualdade de género, já que “deu aos homens mais uma oportunidade de monopolizar a tomada de decisões”. Lembrou, ao mesmo tempo, que as mulheres “têm maior probabilidade de trabalhar nos sectores mais afetados”.
“Retrocedemos mais de uma década num ano, e agora precisamos de recuperar esses empregos e acelerar a igualdade de género... é crucial reafirmarmos compromissos” www.economiaemercado.co.mz | Abril 2021
MULHER Segundo o responsável, as mulheres são 24% mais vulneráveis à perda de emprego e sofrem quedas mais acentuadas de rendimentos. Além disso, “as disparidades salariais entre homens e mulheres, já elevadas, aumentaram, inclusive no sector da saúde, onde a maioria dos trabalhadores na linha da frente no combate à pandemia é de mulheres – muitas delas oriundas de grupos racial e etnicamente marginalizados e com baixos níveis de rendimento”. Fora do sector da saúde, a ONU estima que, com a pandemia, a prestação de serviços não remunerados pelas mulheres aumentou drasticamente devido a medidas de confinamento e ao encerramento de escolas e creches. Milhões de meninas poderão nunca mais voltar à escola. Guterres também defendeu que o processo de recuperação da pandemia é a oportunidade de traçar um novo caminho mais igualitário e que as ajudas à recuperação deverão ser especialmente direccionadas a meninas e mulheres, inclusive por meio de investimentos em infra-estruturas associadas à prestação de cuidados com a saúde. O alarme soa também na África Austral O grave impacto da pandemia no trabalho feminino deve-se ao facto de as mulheres estarem empregadas principalmente nos sectores económicos mais afectados pelas restrições estabelecidas para evitar a propagação da pandemia. De acordo com o Panorama Laboral do Trabalho da OIT para a América Latina e o Caribe, a retracção no universo de empregos em 2020 foi particularmente significativa nos sectores de serviços como a hotelaria (-17,6%) e comércio (-12%). Outro factor que tem afectado e pode condicionar as perspectivas de recuperação de empregos das mulheres é a dificuldade de conciliar o trabalho remunerado com as obrigações em casa. “A tudo isso deve ser acrescentado o aumento do teletrabalho e do trabalho em casa num contexto de encerramento ou suspensão dos espaços de cuidados associados às medidas de confinamento e distanciamento social”, disse a especialista regional de emprego da OIT, Roxana Maurizio. A organização propôs políticas sociolaborais relevantes para evitar que a crise regional se torne permanente e para evitar a retirada da força de trabalho feminina da região. “É neceswww.economiaemercado.co.mz | Abril 2021
CAOS NA ÁFRICA AUSTRAL O relatório da Amnistia Internacional mostra o quanto a violência contra a mulher disparou em alguns países da África Austral durante a pandemia, situação que inspira maior atenção por parte dos decisores
ÁFRICA DO SUL Na primeira semana de confinamento, a polícia sul-africana relatou ter recebido 2 300 chamadas de pedido de ajuda e, em meados de junho de 2020, 21 mulheres e crianças foram mortas por parceiros e familiares.
ZIMBABUÉ Uma organização de protecção de mulheres sobreviventes da violência documentou 764 casos de violência de género nos primeiros 11 dias do confinamento. A 13 de Junho de 2020, o número quase quadruplicou para 2 768.
MADAGÁSCAR Há quase 20 anos, o já falecido Presidente Robert Mugabe retirou dos experientes farmeiros brancos grandes extensões de terra produtiva para as atribuir aos produtores negros, alegando restabelecer a justiça na posse e mergulhou o país na crise.
ZÂMBIA Foi o único país que registou uma ligeira diminuição da violência, com uma queda de 10% no primeiro semestre, em relação a 2019, embora a Young Women’s Christian Association tenha notado um ligeiro aumento da violência.
sário apoiar, ainda mais fortemente, um processo que garanta às mulheres maiores oportunidades de emprego de qualidade, treinamento e acesso a novas tecnologias, redução de lacunas e pleno cumprimento dos direitos trabalhistas”, disse Maurizio. ONU não ficou indiferente “A pandemia desencadeou uma epidemia global paralela de violência contra as mulheres em todo o mundo”. As palavras de António Guterres encontram eco no estudo lançado em Fevereiro deste ano pela Amnistia Internacional e que analisa a situação em Moçambique, África do Sul, Zimbabué, Madagáscar e Zâmbia e que dá conta de que “as restrições impostas pelo combate à pandemia da Covid-19 transformaram certos lares em alguns países da África Austral em enclaves de crueldade, estupro e violência para mulheres e meninas presas por membros abusivos da família”. Intitulado “Tratadas como Peças de Mobília – A violência de género e a resposta à Covid-19 na África Austral”, a denúncia do relatório, de 45 páginas, aponta Moçambique entre os países que menos protecção oferece às mulheres, tendo sido alvo de violência, inclusive nos transportes públicos. “Estereótipos de género prejudiciais embutidos em normas sociais e culturais, que sugerem que as mulheres devem sempre se submeter aos homens ou que um homem que bate na sua esposa o faz porque ele a ama, têm alimentado o aumento da violência contra mulheres e meninas em Madagáscar, Moçambique, África do Sul, Zâmbia e Zimbabwe”, diz a nota assinada pelo director da organização de defesa dos direitos humanos para a África Oriental e Austral, Deprose Muchena. O estudo conclui que, com as “medidas de confinamento, as mulheres não puderam escapar de parceiros abusivos ou sair das suas casas em busca da protecção” e, para complicar ainda mais, activistas e organizações que trabalham na protecção e apoio às mulheres não foram consideradas como “serviço essencial”, não podendo, por isso, ajudar. A sugestão para a mudança é que os líderes da SADC assegurem que a prevenção e protecção das mulheres da violência sejam parte integral das respostas nacionais à pandemia.
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ócio
(neg)ócio s.m. do latim negação do ócio
58 Uma viagem até às dunas paradisíacas de Vilankulo, em Inhambane
g
e 60 O Deal, em Maputo, congrega arte e gastronomia na mesma mesa
61 As ferramentas para uma boa escolha dos melhores vinhos pelos apreciadores principiantes
Uma vista de encher os olhos
UM CALEIDOSCÓPIO ARQUIPÉLAGO DE BAZARUTO
e
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O horizonte a partir da costa de vilankulo não nos
permite distinguir onde termina o mar e começa o céu, como se fossem extensões um do outro. O azul no longo lençol que se estende à nossa frente torna material a imagem “amar sobre o Índico” sugerida pelo poeta Eduardo White. Ainda a âncora repousa no fundo do mar, quando o comandante faz o aviso à navegação: “pelo caminho, podemos avistar golfinhos e tartarugas. Avisem, caso vejam, para que paremos”. Então seguimos viagem de olhos esbugalhados, sempre em alerta, para ver este espectáculo que são os golfinhos em piruetas e as tartarugas com as carapaças no limite do mar. Os pequenos focos de espuma que se levantam com as ondas lembram-nos silhuetas de golfinhos ou de tartarugas ou de dugongos ou de baleias, que quem frequenta estas paragens diz já ter visto. Arregalamos os olhos ainda
CHAMADO BAZARUTO mais, como se a natureza já nos tivesse dado o que queríamos ver e apenas o nosso olhar falho nos impedisse. Mas a verdade é que precisaríamos de sorte. Depois de alguns quilómetros feitos de solavancos – a estrada de água também tem os seus buracos –, uma tartaruga permite-se ver, mas por um momento fugaz, que é mais fácil fazer a fotografia com os olhos do que tentar com uma câmara fotográfica. Se há viagens que valem mais pelo caminho do que pelo destino, esta podia ter sido uma delas, se não fosse Bazaruto um caminho-destino que a cada movimento nos oferece novas imagens, como se fosse um caleidoscópio. O Anantara Bazaruto Island Resort é a porta de entrada para a Ilha maior que dá nome ao arquipélago, com quase 33 km de comprimento e cerca de 5 km de lar-
gura, guardião de uma reserva faunística sem muitos paralelos no mundo. O facto de Bazaruto albergar a última população de dugongos das costas africanas é apenas um dos cartões-de-visita. A tarde já se faz alta. O primeiro dia será apenas de reconhecimento. Com a lua imperativa no céu e a agenda do dia seguinte posta à mesa, percebemos que entrar para Bazaruto pelo Anantara é abrir o portal para um parque natural de diversões. Mas a manhã seguinte chega fechada, com nuvens negras a negarem protagonismo ao astro-mor. O chão ainda húmido testemunha, pela chuva caída pela madrugada, o que na tradição africana significa benção e que é, para nós, um mau agoiro. Se é verdade que as ilhas se fazem de terra cercada de mar, não é menos verdade que a presença do sol dá outra
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cor à terra e ao mar. Mas, ainda assim, arriscamos a subida às dunas. Depois de um percurso de 30 minutos em terra batida, a bordo de uma viatura 4x4, chegamos ao início da verdadeira viagem, que seria feita com os pés descalços. É menos uma questão de tradição e mais de mobilidade. Pegadas vincadas pela humidade do terreno chamam-nos a atenção. “É cabrito vermelho” – diz-nos, assertivo, o guia. Ao longo do dia, ainda nos cruzaríamos com o “bicho” que se negou a ser domesticado e passeia livre e protegido pela floresta que agora é reserva. Para a subida às dunas é preciso fôlego, o ar está húmido e o sol começa a esgueirar-se entre as nuvens. É como se escalássemos uma montanha. Quando chegamos ao cimo, com uma visão privilegiada do horizonte. Ver, aqui, o nascer e o pôr-do-sol é como se visualizássemos uma partida de pingue-pong em câmara-lenta entre os deuses do norte e do sul. Com o dia já completamente aberto, fazemos o passeio cultural pela comunidade. Lourenço Nhassengo, 51 anos a marcarem-lhe o rosto e toda uma vida vivida na Ilha, é o cicerone. É ele que nos conta sobre as duas teorias da origem do nome da Ilha. Bazaruto já foi uswulutho, como os nativos a chamavam pela neblina escura que a caracterizava. Mas a pronúncia portuguesa tornou uswulutho em Bazaruto. Para outra teoria, o nome tem origem nas bazarutanas, conchas abundantes na Ilha. Teorias à parte, Bazaruto é uma experiência prática. Nas margens da lagoa Mahungwé, erguem-se caniçais com ninhos de pássaros tecelão. As lagoas, que escondem crocodilos, acabam por ser um ponto preferencial das aves, TEXTO CRISTIANA PEREIRA FOTOGRAFIA D.R
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QUANDO CHEGAMOS AO TOPO DAS DUNAS, ESTAMOS A 37 KM DA PLANÍCIE, COM UMA VISÃO PRIVILEGIADA DO HORIZONTE ONDE O MAR NÃO SE SEPARA DO CÉU ROTEIRO COMO IR
Voe até Vilankulo. Marque uma reserva no Hotel Anantara, que já conta com o transporte de lancha de Vilankulo para Bazaruto. ONDE COMER
A cozinha do Anantara fornece uma variedade de pratos profundamente marcados pelos ingredientes da terra e do mar. ONDE DORMIR
A única estância hoteleira é o Anantara. Mas ao chegar perceberá que não só é a única opção, mas também a melhor. O QUE FAZER
Ver o nascer ou o pôr-do-sol nas dunas. Fazer snorkeling nos corais pela diversidade da fauna marinha é uma experiência só ali repetível. Uma sessão no spa do hotel é relaxante. Santa Carolina é imperdível. CUIDADOS A TER
Chapéu, protector solar e água devem fazer parte do kit para escalar as dunas. Vista sempre roupas frescas.
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DEAL - ESPAÇO CRIATIVO
Rua José Mateus 265 Maputo (Fechado aos domingos e segundas feiras)
g o seu conceito multidisciplinar, juntando artes plásticas, mobiliário urbano contemporâneo, livros, roupa e acessórios de moda, confere-lhe, desde logo, características únicas e inovadoras. No entanto, se tivermos em conta o trajecto individual dos seus fundadores, cujos projectos se têm distinguido, precisamente, pela sua criatividade e inovação, compreenderemos melhor porque o DEAL não poderia deixar de ter, inevitavelmente, essa “marca” distintiva e diferenciadora na oferta cultural da cidade. O DEAL é, por assim dizer, o resultado de um “casamento feliz” entre quatro pessoas com percursos marcantes nas áreas acima referidas: Ab Oosterwaal, holandês radicado há vários anos em Moçambique, é o responsável pela conhecida marca de mobiliário urbano “Piratas do Pau”, as irmãs Nelsa e Nelly Guam-
DEAL - ESPAÇO CRIATIVO be têm-se afirmado no domínio das artes plásticas e da moda, tanto em Moçambique como internacionalmente, e Mbate Pedro é não só uma das mais notáveis figuras emergentes da literatura moçambicana como o fundador da editora “Cavalo do Mar”. Há que referir, por fim, e não é um detalhe de somenos, que se deu também um outro “casamento”, igualmente “feliz”, entre o conceito, o espaço escolhido para o materializar e a forma como os diversos objectos, produtos e obras artísticas estão expostos, pois estas distribuem-se pelas diversas salas, escadarias e varandas do edifício, criando uma envolvência que estimula, de forma incessante, quem vai ao DEAL. Para além de albergar os trabalhos criativos dos seus fun-
ALÉM DE ALBERGAR OS TRABALHOS CRIATIVOS DOS SEUS FUNDADORES, O DEAL DESENVOLVE EXPOSIÇÕES TEMPORÁRIAS
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ARTE & GASTRONOMIA dadores, o DEAL desenvolve também um programa de exposições temporárias – tendo a mais recente, “The Big Small”, apresentado 200 obras de 15 artistas – e realiza um alargado conjunto de eventos (musicais, lançamento de livros, etc.). Uma iniciativa, em particular, as “Chill Out Sessions”, nas tardes de sábado, tem-se revelado particularmente bem sucedida pelo ambiente de informalidade, boa música (sempre com a presença de Dj’s diferentes) e uma lista generosa de sumos e cocktails inspiradores. Para lá da dimensão convivial, as “Chill Out Sessions” são sempre uma excelente ocasião para descobrir ou re-descobrir as diversas artes em exposição Entretanto, desde o início do passado mês de Fevereiro, o DEAL deu mais um passo na concretização de uma ideia antiga ao acrescentar à sua oferta uma com-
ponente de restauração. O espaço foi cuidadosamente desenhado e os materiais usados são, eles próprios, uma demonstração das habilidades criativas dos fundadores do DEAL. Como seria de prever, o menu proposto, embora curto, está em perfeita sintonia com o espírito do lugar. É uma ementa descontraída mas apetecível. Há elementos fixos, com destaque para as entradas e para os diversos hambúrgueres (peixe, vaca, frango). Depois, há propostas diárias que, de forma artística, vão variando de acordo com a inspiração do momento. O que importa aqui sublinhar, porém, é a qualidade da proposta gastronómica oferecida naquele espaço. A expectativa é que esta se possa continuar a desenvolver, pois as interligações entre a arte e a gastronomia são um campo rico de possibilidades. www.economiaemercado.co.mz | Abril 2021
EM QUE EQUIPAMENTO INVESTIR, O QUE EVITAR E COMO APRENDER MAIS SOBRE OS VINHOS DE QUE MAIS GOSTA
UM KIT DE INICIAÇÃO PARA OS AMANTES DE VINHO muitos grandes livros podem ajudar
a alargar os seus conhecimentos sobre vinho mas, dado o tema, a melhor maneira de começar... é bebendo. Se prefere fazer isso de forma sistemática ou aleatória depende de si. Mas, seja o que for que decida, vai querer apenas algumas ferramentas para melhorar a experiência. Este kit de iniciação é simples. São necessários copos de vinho, um saca-rolhas, um decanter e, claro, o vinho. No início, se escolher sensatamente, o investimento será pequeno. O potencial para o prazer, no entanto, é grande. Aqui está o que precisa para começar.
saca-rolhas
Não se pode beber vinho sem abrir a garrafa (a menos que se tenha uma caixa de vinho o que não é, de todo, aconselhável se procura qualidade). Embora as tampas de rosca sejam bem-vindas e fáceis de acrescentar à gama de vedantes de vinho, a maioria das garrafas continua a ter rolha. Para isso, é necessário um saca-rolhas. Esta é uma selecção fácil. O melhor saca-rolhas simples é o que já viu em inúmeros restaurantes, por vezes chamados de amigos do empregado de mesa. É essencialmente um cabo de faca com uma espiral de verme para inserir na rolha, um fulcro de dobradiça dupla para resistência e uma pequena lâmina dobrável para cortar a folha que protege a rolha. Este tipo de saca-rolhas, que foi considerado a melhor escolha há alguns anos pela Wirecutter, um site de análise de produtos propriedade do The New York Times, é compacto e barato, cerca de 10 ou 12 dólares. Com um pouco de prática, é fácil de usar. copos de vinho
Pode saborear um vinho servido num copo de sumo mas irá apreciá-lo ainda mais bebendo-o de um copo com um pé adequado. O bom vinho é sensível à temperatura. Tanto o branco como o tinto precisam de ser servidos mais frescos do que a temperatura do seu corpo. Um copo sem caule requer que o segure pela taça, transmitindo assim o calor das suas mãos para o copo, aquecendo o vinho e www.economiaemercado.co.mz | Abril 2021
ASPIRANTES
VINTAGES
alterando-lhe o sabor. Esta é a razão pela qual os bons copos de vinho têm um caule. A forma adequada de segurar um copo de vinho é pelo caule, para que não se aqueça a taça. Isto pode parecer pretensioso. Os consumidores de vinho na cultura popular seguram frequentemente os seus copos de vinho junto à taça, por design, suspeito, para evitar parecer pomposos para o público. decanter
Um decanter não é essencial. Mas é útil, simples e pode melhorar os vinhos jovens abrindo os seus aromas e sabores, expondo o vinho ao ar. O que é a decantação? Significa simplesmente verter o vinho da garrafa para outro recipiente antes de servir. Muitas pessoas assumem que a decantação só é útil para vinhos tintos mais velhos, que podem acumular sedimentos ao longo de um longo envelhecimento. Mas eu também gosto de decantar vinhos jovens, tanto brancos como tintos, particularmente aqueles que podem ser ricos em acidez ou taninos. Definitivamente, nem sempre decanto. Mas gosto de o fazer ocasionalmente. Pode-se gastar muito dinheiro em decantadores extravagantes. Isso é desnecessário. coisas a evitar
O vinho abunda em engenhocas inúteis: Anúncios sobre as virtudes de geradores que pretendem envelhecer o seu vinho numa questão de segundos, e varinhas igualmente mágicas que diziam eliminar a possibilidade de dores de cabeça. Poupe o seu dinheiro. Encontrará também bombas, vedantes e outras ferramentas ditas para proteger o estrago de uma garrafa de vinho parcialmente debida. O bom vinho é muito mais resiliente do que as pessoas pensam. Pode-se deixar em segurança vinho inacabado na garrafa durante dois ou três dias. Basta colocar a garrafa num lugar fresco e fora da luz do sol.
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INCLUARTE
A exposição “Mulher, cura e alma” decorreu de 15 de Março a 15 de Abril na galeria do CCMA
CONVERSAS PINTADAS EM
EXALTAÇÃO À NOBREZA FEMININA
Quis compreender os ocul-
tos subentendidos em diversas mulheres que a cada dia emprestam as suas rotinas de vida doando um pouco de si para o mundo. Conversou com várias enquanto tentava resolver os enigmas em volta deste ser tão complexo e, ao mesmo tempo, repleto de simplicidade. Aos poucos, nascia a certeza de que tais “vivências” deviam ser transformadas em arte. Aline Nobre procurou, primeiro, entender o mundo através dos números. Por isso seguiu o curso de contabilidade na tentativa de multiplicar o seu contributo para a sociedade. Mas a arte gritava dentro de si e não a queria partilhar com nenhuma outra actividade. Em 2018, a artista plástica deu uma verdadeira reviravolta na sua vida. Já com o canudo nas mãos a testemunhar a sua licenciatura em contabilidade, Aline No-
bre fez perguntas a si mesma sobre o que o futuro lhe reservava e foi na pintura onde encontrou as melhores respostas. “Eu tinha um diploma e sentia como se a minha vida estivesse escrita e que devia seguir um processo linear: me formar, arranjar um emprego, casar…, mas eu queria mais. Queria contribuir mais para a sociedade”. A jovem artista, de 25 anos de idade, quis então fazer chegar ao mundo o grito das diversas mulheres moçambicanas ensurdecidas pelas adversidades da vida. Foi assim que surgiram as expressivas telas que compõem a exposição intitulada “Mulher, cura e alma”, patente no Centro Cultural Moçambicano-Alemão (CCMA). É impossível olhar para as 14 obras e não sentir esse contributo social. Talvez seja por esse motivo que Aline Nobre se au-
ATRAVÉS DA EXPOSIÇÃO “MULHER, CURA E ALMA”, ALINE NOBRE COLOCA A NOBREZA DA MULHER NO CENTRO DAS ATENÇÕES www.economiaemercado.co.mz | Abril 2021
to-intitula artivista (isso mesmo: “artista” e activista), pois procura, através da sua arte, instigar conversas sobre o estado actual da sociedade e propor soluções. É assim que surge a “alquemia das cores”, um conceito artístico criado pela artista, cujo objectivo é incitar e instigar conversas para a expansão individual e da sociedade através da sua arte. “Uso a arte para me libertar e, quando me liberto, sinto que outras mulheres também se libertam. É tudo uma questão de visibilidade. Procuro através da arte dar espaço e poder às mulheres”, acrescentou. Através da exposição “Mulher, cura e alma”, Aline Nobre coloca a nobreza da mulher no centro das atenções, destacando os seus maiores sonhos, suas jornadas de cura e libertação. A mesma pode ser visitada em formato online através da página do Facebook do Centro Cultural Moçambicano-Alemão. TEXTO YANA DE ALMEIDA FOTOGRAFIA MARIANO SILVA
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HUMBLE ONE
O Humble One promete uma potência máxima de 1034 CV
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HUMBLE ONE, O PRIMEIRO a humble motors é a mais
recente startup norte-americana, sediada na Califórnia, a querer ganhar relevância na área da electrificação. A sua primeira proposta chama-se One e é inédita, já que a marca (fundada em 2020) a apresenta como o primeiro SUV solar do mundo. O Humble One, que ainda só foi apresentado sob a forma de um protótipo, está equipado com painéis de células fotovoltaicas no tejadilho, nas portas e numa espécie de “asas” que se abrem quando o veículo está estacionado. Ainda assim, nenhum dos esboços divulgados pela Humble Motors mostra mais do que as células do tejadilho. Tudo combinado, estas células fotovoltaicas permi-
SUV MOVIDO A ENERGIA SOLAR tem recuperar entre “16 e 96 km de autonomia a cada dia, dependendo da zona onde vive” e, naturalmente, da exposição solar. Contudo, apenas uma pequena percentagem da bateria é recarregada com a energia captada pelos painéis solares, que servem de complemento à acção dos sistemas de recuperação de energia do veículo e ao carregamento externo, como num automóvel eléctrico convencional. “Humble” até pode ser traduzido para “humilde”, mas acreditem que este One tem números muito pouco modestos. É que a empresa da Califórnia promete uma potência máxima de 1034 cv
e uma autonomia de aproximadamente 800 km. São números interessantes, mas que até ao momento servem apenas como uma referência, já que a Humble Motors só prevê apresentar uma versão de produção em 2024. Só nessa altura vamos saber, ao certo, o que vale esta solução solar, que também já foi explorada em projectos como o da Aptera ou o da Sono Motors. Se tudo correr como previsto, a Humble Motors vai começar as entregas do One em 2025. Mas já é possível fazer um depósito de 300 dólares e reservar um exemplar. O preço final do One está fixado nos 109 000 dólares.
APENAS UMA PEQUENA PERCENTAGEM DA BATERIA É RECARREGADA COM A ENERGIA CAPTADA PELOS PAINÉIS SOLARES, QUE SERVEM DE COMPLEMENTO À ACÇÃO DOS SISTEMAS DE RECUPERAÇÃO DE ENERGIA DO VEÍCULO
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