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Culturas Regenerativas –A Esperança não é Algo que se Tem, é Algo que se Faz

Gregory Bateson acreditava que os maiores problemas do mundo se devem ao resultado da diferença entre:

- Como a natureza funciona;

- Como as pessoas pensam. Não querendo fazer parte do bloco dos “buscadores de culpados” e/ou dos desiludidos com a humanidade, é no mínimo estranho que exista cada vez mais clareza sobre os riscos complexos que enfrentamos, enquanto organismo global vivo, e que continuemos os nossos estilos de vida, práticas económicas e agendas políticas (e sociais) como se nada se passasse (com todo o respeito pelas genuínas intenções e trabalho/serviço dedicado).

Embora vejamos “os outros” a morrer, e saibamos que a morte é uma visita garantida, há uma certa dificuldade em aceitar que ela chegará a nós.

Vanessa Andreotti, professora e investigadora cujo trabalho admiro pela sua importância, sobretudo no ecossistema educativo que continua a educar para a competição, diz-nos que, “os nossos actuais problemas globais não estão relacionados com a falta de conhecimento, mas sim com um hábito de ser inerentemente violento da modernidade colonial. Quatro negações estruturam este hábito de ser:

1 - A negação da violência sistémica e a cumplicidade no dano (o facto de que as nossas comodidades, garantias e prazeres são subsidiados pela expropriação e exploração noutro lugar);

2 - A negação dos limites do planeta (o facto de o planeta não poder sustentar o crescimento e o consumo exponencial);

3 - A negação do enredamento (a nossa insistência em vermo-nos como separados uns dos outros e da terra, em vez de “enredados” num metabolismo vivo mais amplo que é bio-inteligente), e

4 – A negação da profundidade e magnitude dos problemas que enfrentamos: as tendências: a) para procurar “esperança” em soluções simplistas que nos façam sentir e parecer bem; b) para nos afastarmos do trabalho difícil e doloroso (por exemplo, para nos concentrarmos num “futuro melhor” como forma de escapar a uma realidade que é percebida como insuportável).”

(Gesturing Toward Decolonial Futures, Vanessa Andreotti).

Desligamo-nos de tal forma da lógica da vida que, apesar dos sinais de alerta à nossa frente, e em nós próprios enquanto parte do organismo vivo global, continuamos a caminhar mecanicamente, incapazes de parar, reformular perguntas e reflectir.

Entre a polaridade que acha que o cenário é exagerado e vive como se nada se passasse e a que acha que o mundo vai acabar, há uma esperança - que é activa.

Joanna Macy e Chris Johnstone falam-nos sobre as três histórias do nosso tempo:

1. Business as Usual – abordei-o no meu primeiro artigo, e tem que ver com este “continuar a viver como se nada se passasse”;

2. O Grande Desmoronamento – uma visão apocalíptica, que tende a bloquear-nos e/ou a adoptar caminhos radicais;

3. A Grande Viragem – que não nos traz promessas, nem certezas, mas que traz acima de tudo clareza, vontade e coragem.

A esperança activa é uma prática. “... É sobre tornarmo-nos participantes activos na realização daquilo que esperamos.” (Active Hope, Joanna Macy e Chris Johnstone).

Quando falamos em Culturas Regenerativas, é altamente provável que os seus aprendizes-praticantes se revejam e caminhem para esta “grande viragem” que nos traz, essencialmente, três dimensões em que podemos intervir:

1. Acções de contenção: Para desacelerar os danos à Terra e seres que nela vivem;

2. Práticas e Sistemas que Sustentam a Vida: Transformação das fundações da nossa vida comum;

3. Mudança de Consciência: Na visão do mundo e nos valores.

E o que dificulta esta “grande viragem”:

• Os pressupostos da sociedade de crescimento industrial;

• A ilusão da separação;

• A falta de percepção do meu papel no todo maior e sua inter-relação (a tendência para nos vermos na “equipa dos bons”);

• Pensamento dual e mecanicista;

• O paradigma antropocêntrico;

• Foco no problema e no problem solving, isolando as questões em si- los e perdendo de vista o sistema maior;

• A massificação e uniformização de políticas e programas (baseada na falta de conhecimento e respeito pelos lugares);

• A centralização do poder de decisão, escolha e influência numa camada que se considera mais preparada, experiente e inteligente e que não dá lugar a uma escuta, participação e cooperação equilibrada e necessária.

Há ainda uma tendência para continuarmos a ver o activismo como um papel específico centralizado em determinados sectores ou pessoas. Esta tendência não é só baseada na visão tradicional, ela está ligada a esta desresponsabilização e negação.

Todos nós somos agentes de mudança. Activismo é activar o meu estado de agência.

Fazendo-nos perguntas simples e difíceis, como:

- De que forma estou a relacionar-me com a vida?;

- A partir de onde estou a operar?;

- A forma como estou a viver serve a mim, à minha família, à minha equipa, à minha comunidade, ao planeta?;

- Como é que posso activar o meu estado de agência?

Este exercício franco, regular e feito a partir de um lugar de humildade e verdadeira abertura ao caminho da cooperação, para que não se caia no radicalismo e moralismo da busca de culpados, nem nos riscos do “grande desmoronamento”, é o convite que deixo a tod@s nesta edição.

Lembrando que, para nos reconectarmos com os princípios da vida, é preciso, antes de mais, parar, respirar fundo, abrir-me ao “não saber”, ouvir outras vozes, reformular as perguntas e, acima de tudo, habitá-las, sem pressa de lhes encontrar resposta.

Com a leveza, humildade, ânimo e coragem do aprendiz-praticante, que tem consciência que, ao seu alcance, está apenas activar o seu estado de agência, na sua esfera, no seu lugar. E que muitas “pequenas esferas e lugares” são importantes e têm poder.

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