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“Vamos Conectar 4,5 Milhões de Moçambicanos em Três Anos”

A Huawei, gigante chinesa da tecnologia e telecomunicações, está a investir fortemente na transformação digital do continente africano, e Moçambique não é excepção. Em exclusivo à E&M, o director-geral da empresa no país, Hou Qiang, explica os passos principais da estratégia da tecnológica chinesa para o mercado nacional

Com uma presença de cerca de 20 anos em Moçambique e com uma meta bem definida que passa por conectar, literalmente, todos os cantos do País, a Huawei é um dos principais e mais activos players de um segmento que, sendo pouco visível, será dos mais impactantes se pensarmos no Moçambique do século XXI.

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Apesar de estimar que existam hoje mais de 18 milhões de moçambicanos a contactarem, de forma directa, ou indirecta, serviços da Huawei, Moçambique é dos países com uma das mais baixas taxas de conectividade em África (apenas 16% de uma população de 31 milhões de pessoas). Apesar disso, ou sobretudo por isso mesmo, a empresa acredita estar no caminho certo para alterar o paradigma a breve trecho. Das comunicações à criação da infra-estrutura que serve de base à tecnologia, a todos os níveis, o director-geral da Huawei Moçambique, Hou Qiang, explica a estratégia da empresa para o país, do posicionamento actual no mercado, sem esquecer o potencial do 5G, entre outras soluções que já pareceram mais distantes.

Gostaria que me falasse das metas da Huawei em Moçambique no curto, médio e longo prazos.

A nossa estratégia está centrada em quatro áreas: as conexões digitais, a digitalização das indústrias, a energia renovável e digital e a cultivação de talentos. Estes são os nossos quatro pilares.

Das quatro prioridades que citou, qual é a área de negócios em maior expansão no mercado interno? Diria que é ao nível das carteiras digitais (a Huawei é o parceiro tecnológico da Vodacom, no M-Pesa). Oferecemos equipamentos e serviços para operadoras de telecomunicações e são elas que lançam esses serviços para o público.

Um trabalho menos visível, do vosso lado, tem que ver com a ampla rede infra-estrutural de antenas e sistemas de transmissão que têm vindo a instalar por todo o país, é assim?

Sim, e isso tem que ver com a primeira área em que estamos concentrados, as conexões digitais para todos porque, de acordo com a ONU, o acesso digital para os serviços de telecomunicações faz parte dos direitos básicos do ser humano, e segundo o último reporte de economia global, lançado pelo Global System Mobile Comunication Association, até hoje, em todo o mundo, há cerca de 500 milhões de pessoas que ainda não estão conectadas.

Então, a Huawei Global, nos últimos 30 anos, entrou em mais de 170 países e construiu mais de 1500 redes para fornecer serviços de telecomunicações para cerca de 3 biliões de pessoas. Foi também a este propósito que, no dia 23 de Novembro de 2022, o presidente da Huawei Global assinou um memorando com o Instituto Internacional de Telecomunicações, comprometendo-se a fazer parte do programa Partner to Connect.

A Huawei promete que, até 2025, vai usar as suas soluções inovadoras e de baixo custo para conectar mais de 120 milhões de pessoas em todo o mundo e isso irá acontecer também em Moçambique.

Os projectos em Moçambique entram, então, nessa estratégia global?

Exactamente. Em Moçambique, queremos operar nas cidades grandes, nas capitais, fornecendo Internet de alta velocidade e qualidade. Quando saímos das cidades para as zonas rurais, perdemos as conexões básicas. De acordo ainda com as estatísticas da Global System Mobile Communication Association, só 75% das pessoas estão conectadas à Internet, o que quer dizer que cerca de um quarto dos moçambicanos ainda não estão conectados.

Por isso, enquanto Huawei Global, queremos que, em Moçambique, nos próximos três anos, como prometemos, possamos usar as nossas soluções inovadoras e de baixo custo para conectar cerca de 4,5 milhões de moçambicanos desconectados. Essa é a visão da Huawei Moçambique.

Como é que pretendem fazê-lo?

A solução que desenhámos e desenvolvemos implementámo-la também no Gana. Naquele país, apercebemo-nos da existência de várias vilas em zonas rurais que não têm conexões. Isso acontece porque o retorno do investimento é de longo prazo e, por isso, grande parte das empresas não se sentem motivadas a investir nesses lugares.

A nossa abordagem é diferenciada. Entrámos nesses sítios e, primeiro, trocámos o gerador que usa combustível para um que utiliza energia solar (renovável); depois, baixámos a altura das torres de 72 ou 54 metros para 36, 24 ou 18 metros. Em algumas vilas com cerca de 2 mil pessoas, por exemplo, nem precisámos de colocar torres comerciais, colocámos apenas antenas e fizemos uma cobertura de maior precisão. Depois, optámos por um modelo de transmissão. Antigamente, utilizávamos satélite para transmitir os sinais, o que tem um custo muito alto. Nós adoptámos o sinal 4G para fazer transmissões e isso baixou o custo. De for-

BNOME: Hou Qiang (António)

CARGO: CEO da Huawei Technologies Mozambique ma muito resumida, com estas pequenas alterações de abordagem, conseguimos baixar tornar competitiva a entrada nas zonas rurais e, desta forma, tornar possível a sua ligação à rede.

EXPERIÊNCIA: Hou Qiang tem mais de seis anos de experiência de trabalho nos países lusófonos como Macau da China, Portugal, Angola e Moçambique, com competências profissionais em economia digital, whitepaper nacional de Tecnologias de Informação e Comunicação e acesso universal à banda larga. Actualmente, é CEO da Huawei Technologies Moçambique, bem como membro da Equipa de Gestão Executiva da Huawei Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe.

Recentemente lançaram, juntamente com uma operdadora, um serviço de 5G. Qual é o seu potencial num país como Moçambique?

Sim, mas trabalhamos com todas as operadoras ao nível do 5G. Creio, por isso, que num futuro muito próximo todas elas irão lançar serviços 5G. Depois, vou relembrar alguns dados da China, onde já construímos 1,6 milhões de estações de 5G e já registámos cerca de 428 milhões de usuários. O tráfego de 5G já ocupa 27% dos números gerais, incluindo 2G, 3G e 4G. Em Moçambique, podemos ver que o 4G ainda domina o mercado e ocupa 60% do espaço geral do tráfego de dados. Acredito que nos próximos dois a três anos o 4G vai continuar a ocupar a maior quota, mas claramente que o 5G irá crescer muito, embora aqui em Moçambique o custo ainda seja demasiado elevado. Importa referir que, neste momento, há um esforço do Governo e das operadoras para baixar os custos e, com isso, poder oferecer serviços de dados mais mais baratos. Já podemos encontrar terminais de 4G com custos de entre 25 a 30 dólares, mas para termi- nais de 5G esse custo subiria para cerca de 100 dólares. Estes são factores que limitam o desenvolvimento de 5G aqui. Contudo, temos outros caminhos por seguir. Quais? Em vez de conectar o 5G ao telefone directamente com a antena, existe outra maneira em que as operadoras lançam o rooter de 5G que vai receber o sinal da antena e converter para o sinal do Wi-fi. Assim, qualquer terminal pode aceder a esse Wi-fi e desfrutar da velocidade 5G. Acreditamos que esse seja o modelo mais adequado para o mercado de Moçambique. Na África do Sul, temos uma operadora como cliente que se dedica ao desenvolvimento da rede 5G e já se tornou na maior operadora do continente africano neste segmento, usando este modelo para oferecer pacotes de rooters 5G.

Mas, num país como Moçambique, qual seria o potencial real, até em termos de aplicação, do 5G?

Temos de olhar por duas formas. Primeiro, o 5G para o consumidor comum e, segundo, para a área industrial, logística, mineração, condução autónoma por exemplo. Na China, há um porto onde se usa a combinação de várias tecnologias: a condução autónoma, cloud, inteligência artificial e computação. Combinamos essas tecnologias para que os camiões se conectem à estrada e usem condução autónoma o que aumenta a eficiência e garante a segurança.

Uma das vossas áreas de foco em Moçambique será também a industrial?

Sim. Focamos na digitalização das indústrias. Na conferência de parceiros que realizámos recentemente, mostrámos exemplos do que se faz ao redor do mundo e discutimos sobre como usar as TIC para impulsionar a digitalização das indústrias. Muitos dos nossos parceiros actuam nesta área porque acreditamos que seja impulsionadora do desenvolvimento da indústria.

Quais são os planos que têm para o curto e médio prazo no país?

Identificámos três áreas prioritárias. A primeira é a inclusão digital, por isso investimos em infra-estruturas que são importantes para desenvolvermos plataformas digitais e os jovens desenvolverem conteúdos digitais. Segundo, a digitalização na indústria e dos serviços públicos. Na China, há uma janela única onde todos os serviços públicos estão integrados, e sonhamos com a possibilidade de tal poder vir a ser concretizado aqui, porque existem várias vantagens. Por exemplo, se o Governo tiver uma plataforma unificada, pode desenvolver um aplicativo que todos os ministérios podem usar. Poupa o investimento para pesquisa e desenvolvimento integrado, é rápido e cria mais eficiência de trabalho e cooperação entre departamentos.

Esse projecto já está a ser trabalhado com o Governo moçambicano?

Não, mas é uma ideia que ainda está a ser conversada. Trazemos também experiências de outras partes do mundo para que o Executivo tenha referências. A terceira área é a incubação de talentos. Nos próximos anos vamos cultivar 4500 talentos moçambicanos e vamos oferecer formações para 1500 funcionários públicos. Já temos oito academias de TIC em igual número de universidades e queremos expandir esse número para 30 nos próximos anos.

Estamos em coordenação com a Secretaria de Estado da Juventude e Trabalho para que os jovens que participam nas nossas formações obtenham certificados da Huawei para poderem entrar na empresa com oportunidades de estágio e trabalho. Assim, podemos construir um ciclo de formação, certificados e emprego. Acreditamos que os talentos digitais vão promover plataformas, infra-estruturas e conteúdos digitais que ajudem o País a ter maior competência nesta era digital.

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