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O Homem Será Mais Criativo e o Mundo Totalmente Novo… Em Dez Anos!

As transformações a que assistimos hoje em dia e as que se esperam num futuro breve não serão meramente de cariz tecnológico. Mudarão completamente a nossa forma de ver o mundo. Prevê-se que a IA venha a estimular a criatividade das pessoas para atender outro tipo de necessidades humanas. E essa mudança já começou

Texto Celso Chambisso • Fotografia Istock Photo

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Aconsultora Ernst & Young (EY) acompanha muito de perto a ascensão da Inteligência Artificial em todas as suas nuances, e facultou à E&M importantes pesquisas que exploram diferentes contextos de vida das sociedades que devem ser impactadas por esta nova abordagem.

Um dos estudos foi realizado por Nicola Morini Bianzino, director de Tecnologia de Clientes Globais da EY, focado em trazer produtos de tecnologia para os clientes da consultora e posicionar essa mesma tecnologia no centro da organização.

Intitulado “A IA é o início do ser humano verdadeiramente criativo?”, o estudo parte do princípio de que “o sucesso e o crescimento não serão alcançados focando apenas na tecnologia, porque a tecnologia nada mais é do que uma ferramenta que nos permite desenvolver bens e serviços de que os humanos precisam.

A verdadeira habilidade não está no desenvolvimento de soluções tecnológicas, mas sim em identificar o que as pessoas querem – e então encontrar as melhores maneiras de entregar. A questão não é como usar a tecnologia, é o impacto que ela pode ter”.

Mestre em IA e Economia pela Universidade de Florença e considerado um dos líderes de pensamento em IA, machine learning, inovação e big data, Nicola Bianzino faz uma série de análises sobre as “promessas da IA” às sociedades, referindo, primeiro, que poderá aumentar e melhorar a inteligência humana, ajudando-as a fazer melhores escolhas. E, neste aspecto, faz menção ao facto de que, num mundo com mais dados do que nunca, a mente humana não está naturalmente equipada para detectar correlações nos milhares de pontos de dados. Mas quando a criatividade humana é combinada com o enorme poder de computação das técnicas de IA, podemos ampliar as fronteiras da nossa compreensão do mundo ao nosso redor.

Assim, em vez de ser apenas uma maneira mais rápida de analisar informações, a IA pode tornar-se num estímulo para um pensamento mais criativo sobre como usar os dados, sugerindo soluções que os humanos podem nunca ter considerado.

“Mesmo agora, os assistentes inteligentes com interfaces de conversação já estão a começar a ser usados para ajudar a aprimorar os processos de tomada de decisão em tempo real, ajudando trabalhadores menos experientes a aproveitar a experiência conjunta de todo um sector, sugerindo melhores abordagens para resolver problemas de engenharia”, exemplificou.

O pesquisador entende, entretanto, que, na próxima década, estes ajudantes de IA começarão a trabalhar cada vez mais com tarefas mais complexas, permitindo que os humanos inovem, concentrando-se na escolha da melhor solução e não apenas na identificação das opções ou na modelagem de cenários para ajudá-los a decidirem sobre as melhores opções com base em previsões.

Além desse horizonte, ainda de acordo com o estudo, o potencial é que a IA se torne verdadeiramente simbiótica com a inteligência humana: uma ferramenta cada vez mais essencial para entender o mundo e criar novas maneiras de melhorá-lo.

“A criatividade pode ser uma característica exclusivamente humana, mas, assim como a IA, pode melhorar a eficiência de outros sistemas e processos, tal como optimizar o processo criativo”, explicou.

A relação entre IA e a criatividade humana

De acordo com o pesquisador, a IA, no seu nível mais básico, simula aspectos da inteligência humana – como o reconhecimento de padrões, análise de dados e resolução de problemas.

Mas enquanto nós, humanos, podemos identificar padrões naturalmente, os nossos preconceitos e suposições humanas podem atrapalhar. Por isso, à medida que melhoramos a criação da IA, este tipo de erros deve ser resolvido (cada vez mais), permitindo adoptar uma abordagem menos humana para a análise e resolução de problemas.

Em vez de ser apenas uma maneira mais rápida de analisar informações, a IA pode tornar-se num estímulo para um pensamento mais criativo sugerindo soluções que nunca foram consideradas

“Como resultado desta situação, teremos uma maneira totalmente nova de ver o mundo”, refere Nicola Bianzino. E reforça: “ao combinar a compreensão e a interpretação humana e da IA, podemos encontrar maneiras totalmente novas de abordar desafios, desenvolver ideias e impulsionar o crescimento”. Ou seja, “em vez de começar um raciocínio ou resolução de problemas com uma tela em branco, podemos usar a IA para direccionar o nosso julgamento criativo e processos de tomada de decisão para sugerir rotas de inovação com maior probabilidade de sucesso, com base nos dados disponíveis”.

Mais tempo para o trabalho… e para a vida

Numa altura em que a qualidade de vida das pessoas é negativamente impactada pela dificuldade de conciliar as necessidades da vida privada com as da vida profissional, há indicação de que o problema pode ter os dias contados.

A pesquisa da EY refere os ganhos de tempo decorrentes da evolução da IA: “as tecnologias de aumento de eficiência são fantásticas para eliminar a necessidade de envolvimento humano em tarefas demoradas de back-office ou trabalho pesado físico, permitindo que os humanos se concentrem mais no trabalho pesado intelectual”. Depois questiona: “afinal, quem tem tempo para ter novas ideias se tem prazos para cumprir e planilhas para preencher?”

A explicação para o optimismo quanto ao maior ganho de tempo é a utilização da tecnologia com mais frequência para melhorar a eficiência. E a mecanização e automação que podem imitar o comportamento humano para realizar tarefas repetitivas e de alto volume, libertando tempo para que as pessoas se concentrem em trabalhos de alto nível e mais valiosos, como pesquisa e desenvolvimento ou planeamento estratégico.

Além disso, “tempo economizado pode criar novas oportunidades para o envolvimento humano – voltando a ser humano ao envolver-se na construção de relacionamentos entre humanos e em actividades e projectos colaborativos.

Estes tipos de interacções não apenas ajudam a melhorar a cultura organizacional, como também possibilitam aqueles momentos de colaboração que podem levar a ideias inovadoras que muitas vezes são desencadeadas pela discussão”, concluiu.

IA pode não favorecer igualdade de género

O lado bom da IA é o mais evidenciado, mas, obviamente (e como em tudo na vida), existe o outro lado. E este consta de outra pesquisa, igualmente da EY, mas realizada pela líder global da instituição para a área da mulher, Julie Linn Teigland.

A responsável começa por questionar: “Porque precisamos de resolver a questão do preconceito de género antes que a IA a torne pior?”. Aliás, este é o título do seu estudo. E sugere que há riscos importantes a considerar a este nível. Mas que argumentos apresenta?

Vejamos:

A pesquisadora recorre a um relatório denominado Global Gender Gap do Fórum Económico Mundial, para avançar que apenas 22% dos profissionais de Inteligência Artificial em todo o mundo são mulheres, em comparação com 78% dos homens. E conclui que essa descoberta é alarmante por si só, mas é ainda mais alarmante à luz da rápida taxa de mudança tecnológica que estamos a experimentar hoje. E porquê?

Admitindo que “o surgimento da IA melhorará as nossas vidas em muitos aspectos”, Julie Teigland aponta, igualmente, “sérios riscos”, justificando que a IA depende de algoritmos que aprendem com dados do mundo real para que possam, inadvertidamente, reforçar os preconceitos sociais existentes.

Assumindo, igualmente, que a questão não é a IA, mas como os humanos a constroem, revela que existe um risco muito real de que, em vez de resolver o problema do preconceito de género, a IA apenas o exacerbe ainda mais.

“Hoje já vemos anúncios direccionados em que os algoritmos estão a perpetuar a diferença salarial, encaminhando as listagens de empregos mais bem pagos para os homens. Enquanto isso, assistentes virtuais – que são subservientes e não remunerados – tendem a ser retratados por mulheres, e muito mais mulheres do que homens devem perder os seus empregos para a automação”, observou.

Cuidado para que a crescente representação das mulheres na força de trabalho não se limite apenas a alguns sectores tradicionalmente femininos... mas inclua novos campos dominadas por homens

Assim, para a pesquisadora, “a IA provavelmente aumentará, em vez de reduzir, a diferença de género no futuro, a menos que tomemos medidas agora”.

Uma das sugestões para evitar esta previsão é que o “cuidado para que a crescente representação das mulheres na força de trabalho não se limite apenas a alguns sectores tradicionalmente femininos, como organizações sem fins lucrativos, saúde e educação, mas a inclusão de mulheres em novos campos, incluindo software, engenharia e serviços de TI, bem como áreas tradicionalmente dominadas por homens, como finanças e manufactura”.

Além disso, as mulheres também precisam de estar equipadas para desempenhar papéis de responsabilidade nos sectores públicos, para garantir que a IA seja desenvolvida da forma mais inclusiva possível e que os benefícios sejam igualmente compartilhados, independentemente de género, raça, etnia, etc. “As abordagens de cima para baixo, como o estabelecimento de padrões globais, precisarão de trabalhar com esforços de baixo para cima”, concluiu.

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