MOÇAMBIQUE
CONTEÚDO LOCAL QUAL O ALCANCE DO PROJECTO DE CERTIFICAÇÃO DAS PME CRIADO PELO GOVERNO, UE E ONU? CFO SURVEY PESQUISA DA EY REVELA AS MAIORES PREOCUPAÇÕES DOS CFO DA BANCA E SEGUROS CEO TALKS • RICARDO PEREIRA, PHC O PODER DAS NOVAS FERRAMENTAS DE IA NA TRANSFORMAÇÃO DE PESSOAS E EMPRESAS INOVAÇÕES DAQUI MICROSOFT E GEBEYA PROMETEM FORMAR 3000 PROGRAMADORES EM ÁFRICA. O QUE VAI MUDAR?
O MUNDO EM 2024
UM ANO DE INTERROGAÇÕES Tempos difíceis estão a aproximar-se, com novas guerras, velhas tensões geopolíticas e mudanças de governo em mais de 50 países que acendem receios de uma crise económica sem precedentes.
Fevereiro • 2024 • Ano 07 • Nº 69 • 350MZN
EDITORIAL
Celso Chambisso Editor Executivo da Economia & Mercado
Incertezas Globais e o Impacto Sobre a Economia Moçambicana
A
economia global enfrenta um ano de perspectivas de crescimento moderadas, incertezas decorrentes de conflitos geopolíticos e condições de financiamento restritas, segundo um inquérito a economistas divulgado em meados de Janeiro e que se realiza todos os anos antes da reunião anual do Fórum Económico Mundial de Davos, na Suíça. As respostas de mais de 60 economistas-chefes dos sectores público e privado coincidem com a antevisão de muitas organizações internacionais, que incluem instituições multilaterais como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), bem como agências de âmbito global como a Economist Intelligence Unit (EIU) – que fornece serviços de consultoria por meio de pesquisas, previsões económicas, relatórios de serviços de risco de países e relatórios industriais. A maior parte destas análises prevê que as condições económicas globais gerais enfraqueçam este ano, com um alto grau de divergência regional. Reflectindo os comentários dos principais bancos centrais do mundo, que sugerem que as taxas de juro atingiram o pico, a maior parte dos economistas espera que as condições financeiras sejam aliviadas, à medida que a inflação diminui e a escassez nos mercados de trabalho perde força. Há um pessimismo no ar, com várias causas, a começar pela guerra na Ucrânia e o risco de uma escalada do conflito no Médio Oriente entre Israel e Hamas - ou a sempre delicada situação de Taiwan e as tensões no Mar Vermelho.
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Além disso, o calendário eleitoral sugere tempos de agitação em 2024. Mais de metade da população mundial será chamada às urnas no próximo ano, com eleições em Portugal, África do Sul, Rússia, Índia, Reino Unido, Estados Unidos, e a formação de um novo Parlamento europeu. Perguntar-se-ia: que ligação têm as questões de geopolítica com o desempenho das economias? De que forma se traduzem em incertezas e como estas depois se reflectem nos mercados e acabam por influenciar a vida dos Moçambicanos? São estas questões que a E&M traz para esta edição, em que procuramos perceber os mecanismos de contágio (a vários níveis: micro e macroeconómico, desempenho do sector público, gestão da política monetária e fiscal e produção do sector privado) e as medidas de precaução possíveis para minorar o impacto da instabilidade que da conjuntura global pode advir. Com o ano ainda a começar, vale a pena tentar explorar os diferentes cenários que permitem saber o que nos espera, enquanto país. São igualmente tema central desta edição, as grandes preocupações dos gestores financeiros de bancos e seguradoras em relação ao desempenho das suas próprias funções como guardiões do bom desempenho económico das instituições que dirigem. Trata-se de um inquérito desenvolvido pela consultora Ernst & Young – a“CFO Survey” – que tem como finalidade fornecer uma perspectiva dos desafios (actuais e futuros) destes profissionais, proporcionando-lhes perspectivas e bases para resolver todas as questões que lhes tiram o sono enquanto gestores.
FEVEREIRO 2024 • Nº 69 DIRECTOR EXECUTIVO Pedro Cativelos EDITOR EXECUTIVO Celso Chambisso JORNALISTAS Ana Mangana, Filomena Bande, João Tamura, Nário Sixpene PAGINAÇÃO José Mundundo FOTOGRAFIA Mariano Silva REVISÃO Manuela Rodrigues dos Santos DEPARTAMENTO COMERCIAL comercial@media4development.com CONSELHO CONSULTIVO Alda Salomão, Andreia Narigão, António Souto; Bernardo Aparício, Denise Branco, Fabrícia de Almeida Henriques, Frederico Silva, Hermano Juvane, Iacumba Ali Aiuba, João Gomes, Rogério Samo Gudo, Salim Cripton Valá, Sérgio Nicolini ADMINISTRAÇÃO, REDACÇÃO E PUBLICIDADE Media4Development Rua Ângelo Azarias Chichava nº 311 A — Sommerschield, Maputo – Moçambique; marketing@media4development.com IMPRESSÃO E ACABAMENTO RPO Produção Gráfica TIRAGEM 4 500 exemplares EXPLORAÇÃO EDITORIAL E COMERCIAL EM MOÇAMBIQUE Media4Development NÚMERO DE REGISTO 01/GABINFO-DEPC/2018
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69 ÓCIO 6 OBSERVAÇÃO
Estará para breve o reinício da construção do projecto Mozambique LNG em Afungi?
70 Escape No mês dos namorados, que tal uma aventura pela África do Sul para celebrar o amor? 72 Gourmet Ao sabor da gastronomia madeirense no restaurante Bella Madalena, em Maputo 73 Adega Qual vai ser a tendência dos vinhos em 2024? 74 Empreendedor A história e ambição do primeiro surfista profissional moçambicano, Sung Min Cho 76 Agenda Tudo o que não pode perder neste mês de Fevereiro 78 Ao volante RollsRoyce. Do luxo à elegância, a mais cara expectativa de 2024
12 OPINIÃO
“A Importância da Comunicação no Mercado de Capitais: Reflexões sobre o Contexto Moçambicano”, Wilson Tomás, Research Analyst, Banco BIG Moçambique
14 ESG
A relevância da Reserva do Niassa para o equilíbrio ambiental da região e para o sustento da população local
16 CONTEÚDO LOCAL
Governo, União Europeia e ONU desenvolvem projecto comum de apoio à competitividade das Pequenas e Médias Empresas moçambicanas através da certificação em qualidade
18 NAÇÃO
2024, ANO DE INCERTEZAS 18 Riscos Pesquisas mundias revelam os dez perigos para a estabilidade económica global e economistas nacionais revelam um elevado grau de contágio para o País 30 Opinião “Dilemas Estratégicos na Gestão: Escolhas, Riscos e Incertezas”, João Gomes@BlueBizConsultoria.com 32 Entrevista Os Business Consulting da Deloitte, Miguel Coelho e Ineida Valgy, sugerem optimismo cauteloso face às incertezas impostas pela conjuntura global
38 RADAR ÁFRICA
Conheça os seis africanos mais ricos numa lista de 500 bilionários do mundo, divulgada pela revista Bloomberg, entre os quais o sul-africano Elon Musk e o nigeriano Aliko Dangote
42 OPINIÃO
“Importância da Gestão de Reclamações na Prestação de Serviços”, Yara Chau, Comercial na InSite
44 POWERED BY SDO
“Valorizar o Talento Local é o Nosso Compromisso para 2024”, Vicente Sitoe, executive-director e partner da SDO
46 SHAPERS
Thomas Malthus e a controversa relação entre pressão populacional e pobreza, e a aplicação do seu pensamento nas políticas económicas da actualidade
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50 MERCADO E FINANÇAS
Inquérito da Ernst & Young revela as grandes preocupações dos gestores financeiros dos bancos e seguradoras. No centro das atenções está a complexidade da regulação
54 CEO TALKS
O poder das novas ferramentas de Inteligência Artificial na transformação de pessoas e empresas, na voz do CEO da PHC Software, Ricardo Pereira
59 ESPECIAL INOVAÇÕES DAQUI
60 Capital humano As tecnológicas norte-americana Microsoft e a etíope Gebeya vão formar 300 mil programadores em oito países africanos, incluindo Moçambique. O que deverá mudar? 64 AgronetMoz Cinco jovens moçambicanos criam uma app capaz de juntar todos os intervenientes do agro-negócio na mesma plataforma
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OBSERVAÇÃO
Moçambique 2024
Retoma do Projecto de Gás da Total para Breve? Várias previsões indicam que o projecto de Gás Natural Liquefeito (GNL) da Total Energies, em Moçambique, será retomado ao longo deste ano, pondo fim a uma interrupção iniciada em Abril de 2021, por causa de ataques terroristas em Cabo Delgado. No seu mais recente relatório, o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que a construção daquele megaprojecto, avaliado em 20 mil
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milhões de dólares, seja retomada no início de 2024 (mais concretamente neste primeiro trimestre), muito por força da melhoria das condições de segurança. Também o Presidente da República, Filipe Nyusi, já tinha falado do reinício do projecto Mozambique LNG, apontando para o primeiro trimestre de 2024. Mas, mais do que o Governo e o FMI, a própria TotalEnergies, petrolífera francesa que está à frente do projecto,
havia planeado, em 2023, reiniciá-lo nesta altura. E mais do que outros responsáveis e entidades, cabe-lhe fazer o anúncio esperado. Ou será que o ataque de Abril de 2021 vai obrigar a gerir a informação com outras cautelas? O que é certo é que desta retoma depende o reacender de muitas esperanças de aceleração económica. FOTOGRAFIA D.R.
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RADAR
Comércio
Café moçambicano colhido nas montanhas de Chimanimani chega ao Reino Unido O café orgânico produzido no Parque Nacional de Chimanimani, centro de Moçambique, estreou, a 20 de Janeiro, a exportação para o Reino Unido, com os primeiros 500 quilos seleccionados manualmente, grão a grão, nos últimos quatro anos. “Hoje é um dia histórico”, anunciou a administração do Café Chimanimani, projecto fundado pelo jornalista moçambicano Francisco Mandlate. “Quando iniciámos esta aventura, em 2020, não podíamos imaginar que o nosso produto pudesse ser apreciado tão cedo e procurado por um mercado tão importante e bastante exigente como é o do Reino Unido. É
Economia
Com inflação contida, Banco de Moçambique admite possibilidade de ajustar política monetária O governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela, admitiu a possibilidade de se ajustar a política monetária adoptada no último ano, para conter o aumento do nível geral de preços. “Com a inflação agora de volta ao centro do intervalo da meta, o Banco de Moçambique vai monitorizar cuidadosamente a necessidade de ajustar a política monetária para continuar a cumprir o seu mandato de estabilidade de preços”, avançou o responsável numa carta dirigida ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Até agora, a medida tem-se reflectido na revisão em alta das taxas directoras, o que depois induz os bancos comerciais a ajustarem, também em alta, as suas taxas de juro de mercado. É uma postura muitas vezes criticada por alguns economistas e, principalmente, pelo empresariado, que vêem os custos de investir agravados. No documento divulgado a 24 de Janeiro, o governador do Banco Central recordou que “em Março de 2022, quando a inflação ainda estava abaixo das metas, a instituição reagiu a um aumento esperado dos preços e face ao impulso económico após o levantamento das restrições relacionadas com a covid-19”. A meta de inflação perseguida pelo Banco de Moçambique é de uma média anual à volta dos 5% a 6%, sendo considerada estável quando se mantiver abaixo de dois dígitos.
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um mercado onde o consumidor procura cada vez mais por cafés especiais”, afirmou a empresa, em comunicado. Nas terras altas e enevoadas das montanhas de Chimanimani, o café orgânico é produzido como parte de um sistema agro-florestal, que contribui para o reflorestamento de áreas degradadas e desmatadas da reserva, para proteger o solo, a flora e a fauna. No total, foram 1000 quilos encomendados em Junho de 2023 pelo Reino Unido, conforme acordo assinado em Londres, naquela altura, que também foi marcada pela adesão de Moçambique à Organização Internacional do Café (OIC).
Fiscalidade
Governo prevê imposto adicional sobre rendas e alargamento da base do IVA
O Governo comprometeu-se com o Fundo Monetário Internacional (FMI) em alargar a base do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) e aplicar um “imposto adicional” aos rendimentos de rendas. “Estamos a avançar com as
reformas fiscais fundamentais necessárias para promover o crescimento e alcançar os nossos objectivos de redução da dívida”, avançou uma carta enviada ao FMI, assinada pelo ministro da Economia e Finanças, Max Tonela, e pelo governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela. No documento, os responsáveis referem que no que diz respeito às reformas do IVA, está em plena implementação a eliminação das isenções e das taxas zero identificadas através da acção prévia de 2022 até ao final de 2023. Apontam ainda o “esforço de mobilização de receitas internas, que inclui o alargamento da base do IVA, bem como um imposto adicional sobre rendimentos de aluguer de bens pessoais”.
Desenvolvimento
Governo quer reduzir a incidência da pobreza até 2043 O Governo quer reduzir a proporção da população que vive abaixo da linha da pobreza em mais de 50% até 2043, de acordo com a proposta da Estratégia Nacional de Desenvolvimento 2024-2043. Actualmente 68,2% da população vive abaixo da linha da pobreza e a meta do Executivo é que esta percentagem diminua para 27,7% até 2043. O documento, publicado pelo Ministério da Economia e Finanças, refere que 46,1% da população era pobre em 2015 e 68,2% em 2022.
“A taxa de 68,2% ainda é alta... O acesso à educação, saúde e serviços básicos é limitado, especialmente nas áreas rurais”, refere o documento. O Executivo estima ainda que a pobreza aumentou de 46,1% em 2014 para 68,2% em 2020, uma mudança que foi mais notável em áreas rurais, com taxas altas nas regiões centro (68,9%) e orte (78,5%) do País, de acordo com a Quinta Avaliação da Pobreza de 2021. No documento, o Governo afirma que um dos desafios a enfrentar é a desnutrição crónica. www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
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NÚMEROS EM CONTA
As 25 Previsões (Mais do Que Certas) Para 2024 Ao olharmos para o ano que agora começou, não faltam previsões e prognósticos de especialistas para a economia, mercados, geopolítica e tecnologia mundiais a serem acompanhados nos próximos meses. No Consenso de Previsões para 2024, resumimos os 25 prognósticos mais comuns, num único quadro, com tudo o que se Analisámos mais de 700 artigos, relatórios, podcasts e entrevistas para criar este sumário do que vários especialistas prevêem que vá acontecer no ano que agora começa.
espera que aconteça neste ano. Com base num conjunto de mais de 700 previsões compiladas de relatórios, entrevistas, podcasts e muito mais, oferecemos uma visão geral das principais tendências e oportunidades mais citadas que os especialistas estão a observar como muito prováveis de acontecerem ao longo deste ano. Saiba o que nos espera, em linhas gerais. Pontos indicam quantidade de previsões Tudo o resto
Economia
Mercados
Tecnologia
Geopolítica
S&P 500 vai atingir máximos históricos
Trabalhos disruptivos na área da robótica
Haverá um escândalo eleitoral relacionado com a IA
Aumento dos fluxos migratórios mundiais
Bonds regressarão em força
O TIKTOK irá liderar no e-commerce
EUA evitam recessão novamente
Serão quebrados recordes de temperaturas
Inflação manter-se-á baixa
Muita regulação e processos judiciais serão criados em torno da IA
Mercados japoneses irão crescer
Guerra na Ucrânia e na Palestina não irá acabar
Aumento dos riscos geopolíticos
GLP-1 (medicamentos para a perda de peso) ganharão mercado
Indústria continuará a sair da China
Taxas de juro começarão a diminuir a meio do ano
Apple irá lançar produtos com IA
Portefólios diversificados ganharão força
Esforços de desdolarização continuarão
2,5% a 3,5% de crescimento do PIB global
Limitação de chips chineses continuará por parte dos EUA e das Big Tech
Influência de Hollywood continuará a diminuir
Índia ultrapassará a China no crescimento do PIB
Próximo passo da IA generativa é a conversão de texto em vídeo
Comércio marítimo enfrentará volatilidade
FONTE Visual Capitalist
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OPINIÃO
Wilson Tomás • Analista & Research do Banco Big Moçambique
A Importância da Comunicação no Mercado de Capitais: Reflexões sobre o Contexto Moçambicano
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A comunicação moderna nos mercados financeiros permite que os investidores acedam a uma variedade de fontes de informação, incluindo notícias em tempo real, análises de especialistas e relatórios de pesquisa
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amplamente reconhecido que os mercados financeiros desempenham um papel crucial no bom funcionamento das economias, influenciando recursos e gerando liquidez para empresas e empresários. Esses mercados facilitam a transacção de participações financeiras entre compradores e vendedores, criando produtos de valores mobiliários ou activos que proporcionam retorno para aqueles com excedentes de liquidez e disponibilizam essa liquidez para os que precisam de financiamento. No mercado primário, os emitentes disponibilizam instrumentos financeiros para investidores interessados, enquanto no mercado secundário, investidores podem vender total ou parcialmente os seus instrumentos previamente adquiridos. Surge a questão: o que provoca a volatilidade nos preços dos instrumentos financeiros que observamos nos mercados? A informação é fundamental nos mercados financeiros. Comunicados de empresas, relatórios económicos e decisões de bancos centrais têm impacto nos preços dos activos. A comunicação eficiente permite a transmissão rápida e precisa dessas informações para investidores, traders e instituições financeiras, que dependem de informações precisas para tomar as suas decisões de investimento. Notícias, análises e relatórios são assim essenciais para avaliar o ambiente de investimento e decidir racionalmente as alocações de recursos. A comunicação eficaz nos mercados financeiros também fornece insights sobre riscos e oportunidades. Informações sobre eventos futuros, mudanças regulatórias e desenvolvimentos económicos ajudam os participantes a antecipar e gerir riscos associados aos seus investimentos. A confiança é crucial nos mercados financeiros, e a comunicação transparente contribui para a construção da confiança entre os participantes. Por isso, empresas, instituições financeiras e reguladores que mantêm uma comunicação eficaz cons-
troem boa reputação no mercado. A credibilidade é então muito valiosa nos mercados financeiros, sendo que a maneira como uma entidade se comunica pode influenciar a percepção dos participantes. A comunicação moderna nos mercados financeiros permite que os investidores acedam a uma variedade de fontes de informação, incluindo notícias em tempo real, análises de especialistas e relatórios de pesquisa. A Inteligência Artificial (IA) e outras tecnologias desempenham um papel significativo na transformação do cenário informativo, oferecendo eficiência, personalização e insights avançados, embora levantem questões éticas e desafios relacionados com a confiança, privacidade e controlo algorítmico. Segundo a hipótese do mercado eficiente, proposta pelo economista Eugene F. Fama, os mercados financeiros são eficientes em relação à informação. Eugene Fama, laureado com o Prémio Nobel das Ciências Económicas em 2013, é amplamente reconhecido como o “pai das finanças modernas”, e a sua pesquisa sobre a relação entre risco e rendibilidade esperada transformou as finanças. Segundo Eugene Fama, a formação e evolução dos preços de instrumentos financeiros no mercado de capitais dependem da circulação eficiente da informação. Os preços contêm informações que justificam a direcção que vão tomar e os investidores devem estar atentos às comunicações para fazerem escolhas informadas. Em Moçambique, o mercado de capitais está em fase de crescimento, com 16 empresas listadas na Bolsa de Valores de Moçambique (BVM). No entanto, é necessário um trabalho profundo para melhorar a eficiência deste mercado. A informação é escassa e partilhada com pouca frequência ao longo do ano. Para estimular uma maior participação e tornar os instrumentos mais líquidos, as empresas precisam de comunicar mais frequentemente com os investidores, estimulando o apetite e contribuindo para um crescimento mais acentuado do mercado de capitais, crucial para o sector empresarial e o crescimento económico. www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
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ESG | RESERVA DO NIASSA
Niassa, Um Encontro Excepcional com a Natureza Maior do que a Suíça, com 42 mil quilómetros quadrados, o Niassa foi classificado como Reserva de Caça em 1954 e Área Nacional Protegida em 1999. Saiba o que é que este “pulmão” (um dos maiores de África) tem para oferecer à sustentabilidade ambiental Texto National Geographic • Fotografia D.R.
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uma das maiores regiões bravias africanas e uma daquelas de que o mundo nunca ouviu falar. Foi preservada, em parte, pelo isolamento, mas ainda tem marcas da guerra civil que assolou o País durante 16 anos e terminou oficialmente em 1992. É lar de espécies emblemáticas da África Oriental como elefantes, búfalos, leões e mabecos, além de curiosidades como a zebra de Böhm, a impala de Johnston e o gnu do Niassa. As suas vastas planícies assemelham-se a peças bordadas com zonas de mato, floresta e planícies de aluvião, pontilhadas por inselbergs graníticos, afloramentos rochosos que se erguem em terra como galeões no mar. Desde tempos pré-históricos que as pessoas vivem e negoceiam na região. A presença dos Yao, por exemplo, remonta a tempo antiquíssimos. É um dos grupos étnicos que vivem na reserva, a par dos macuas, ngoni, matambwe e macondes. Os Yao possuem uma cultura que pulsa com uma ligação animista à natureza, depois fundido com o Islão. Viviam do mato e dos rios, caçavam animais selvagens, recolhiam mel, apanhavam fruta e plantas medicinais. Acrescentaram a agricultura às suas rotinas, cultivando milho, amendoim, feijão, sésamo e outras culturas lucrativas, como o tabaco. Muitas comunidades do Niassa continuam a viver da terra, em conjunto com os gestores da reserva - a Ad-
ministração Nacional de Áreas de Conservação de Moçambique (ANAC) e a Wildlife Conservation Society. Um sistema de licenciamento limita quando, onde e como podem ser capturados os peixes para permitir a sua reprodução e assim prevenir a extinção de espécies. Em terra, há vigilâncias mais apertada sobre a proibição de caça de animais selvagens. Há incentivos à criação de patos, galinhas e coelhos como fontes de proteína alternativas e também como forma de rendimento sustentável. Numa manhã de Novembro, na estrada perto de Mbamba, pescadores empurram bicicletas até ao mercado ao longo da estrada poeirenta que os aldeãos partilham ocasionalmente com vários ‘peões’ de quatro patas – elefantes, leões, antílopes – depois de terem passado semanas num acampamento, 15 quilómetros a jusante, no rio Lugenda. Os cestos de bambu encaixados nas bicicletas estão cheios de nyingu (Labeo molybdinus)e campango, um peixegato de água doce capturado com redes no rio. Estes peixes já foram secos e fumados sobre uma fogueira no acampamento. A alquimia da cura conferiu um tom cor de estanho às suas escamas e o corpo ficou seco como um pergaminho, permitindo a sua conservação durante semanas. Para os Yao, os peixes são mais do que uma mera fonte de proteína. São tão valiosos como moedas recém-cunhadas.
Nos últimos anos, a extracção ilegal de marfim abrandou e os vigilantes da natureza e os aldeãos relataram a existência de maiores manadas de elefantes, com mais crias e mais jovens
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Os aldeãos trocam o peixe por óleo alimentar, arroz e até roupa no mercado local. Mbamba ainda está ligada às rotas comerciais ancestrais que atravessavam a região, permitindo aos pescadores vender parte da sua captura a mercadores de outros locais da reserva e mais além. “Há pessoas que vêm de Cabo Delgado”, a leste, diz Benvindo Napuanha, director comunitário do Projecto dos Carnívoros do Niassa (NCP), uma iniciativa de conservação criada em 2003. “Até há pessoas da Tanzânia a comprar este peixe”, acrescenta. Proteger a vida selvagem, em conjunto Novembro é tão desconfortável nesta região de Moçambique que, por vezes, lhe chamam o “mês suicida”, quando as chuvas estão iminentes e o mercúrio sobe acima de 38 graus centígrados. Numa manhã, um grupo de aldeãos parece ignorar o calor, enquanto escora uma secção de muro ao longo de uma trincheira de quatro quilómetros, escavada em redor de Mbamba há dois anos. Com cerca de dois metros de profundidade, o fosso seco impede a entrada de elefantes e búfalos. A aldeia encontra-se a sul da reserva, trabalha com o NCP e convive com o Centro Ambiental de Mariri, dez quilómetros a leste. O projecto foi financiado www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
POPULAÇÃO RECEBE PRÉMIOS MONETÁRIOS Quantos mais animais houver, mais dinheiro do turismo chegará. Um fundo de conservação comunitário administrado pelos aldeãos recompensa comportamentos benignos. Por cada turista que visita o centro ambiental, a Mariri Investimentos deposita 23 euros no fundo. Por cada animal importante detectado por um turista (leão, elefante, leopardo, búfalo, mabeco ou hiena), a Mariri deposita 7,4 euros. Por cada mês sem elefantes caçados furtivamente, o fundo ganha 144 euros. No entanto, se os vigilantes da natureza da Mariri encontrarem provas de caça furtiva, é deduzido dinheiro do fundo: 18 euros por cada armadilha, por exemplo; 215 euros por cada leão morto; e 288 euros por cada elefante caçado.
GRANDE ÁREA DE CAÇA
em grande parte por mecenas e pretende encontrar formas para as comunidades da reserva viverem em harmonia com os animais de grande porte e contribuírem para a sua protecção. Em 2012, os líderes de Mbamba assinaram um acordo com a Mariri Investimentos, a organização que dirige o projecto, e arrendaram uma concessão de conservação com 580 quilómetros quadrados em redor da aldeia. O resultado foi uma parceria inovadora: “Tchova-Tchova” (que significa “tu empurras, eu empurro”). O objectivo é aumentar os rendimentos e a produção alimentar da comunidade e envolver os aldeãos em projectos de conservação, permitindolhes também gerir bens essenciais como água, energia solar, ensino para as crianças e protecção da criação de animais. Graças à parceria “Tchova-Tchova”, os habitantes de Mbamba conseguem empregos na manutenção de estradas, como vigilantes da natureza no centro ambiental ou ainda no Mpopo Ecolodge, um empreendimento turístico em construção. Além disso, os aldeãos são incentivados a proteger a vida selvagem. A parceria “Tchova-Tchova”, entre Mbamba e a Mariri, pretende travar a caça furtiva para obtenção de alimento na reserva. www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
Desde a sua criação, o número de armadilhas para capturar animais selvagens diminuiu drasticamente. Leões, leopardos, mabecos e muitos outros animais estão a recuperar. O ecossistema recompõe-se. Este é o tipo de parceria comunitária que a ANAC espera das concessionárias, conservacionistas e ONG, diz Terêncio Tamele, administrador do Niassa. “Faz parte do contrato e da avaliação de desempenho das concessionárias”, afirma. A colaboração poderá incluir programas de conservação, saúde, formação e emprego, contribuindo para manter a natureza intacta. Há pouco mais de uma década, cerca de 12 mil elefantes deambulavam pelas terras bravias do Niassa, mas em 2018 a febre da caça ao marfim reduziu o seu número estimado para 3150 animais. Nos últimos anos, a extracção ilegal de marfim abrandou e os vigilantes da natureza e os aldeãos relataram a existência de manadas maiores, com mais crias e mais jovens. O número de elefantes aumentou para quase 4000. Na área em redor de Mbamba, a trincheira contra elefantes dos aldeãos é a primeira do seu género construída no Niassa: um método não letal de prevenir encontros desastrosos.
A maior parte da área do Niassa (72% do território) foi concessionada para caça desportiva e os operadores privados arrendam terrenos para esse fim. Cada bloco de caça tem a sua quota de animais que podem ser abatidos, como búfalos, leopardos, leões e antílopes. Depois de um animal (também designado como ‘troféu’) ser morto, as concessões oferecem, com frequência, o corpo aos aldeãos para aproveitarem a sua carne. Pouco mais de um quarto da reserva foi destinada a actividades turísticas que não incluem a caça e 1% pertence a áreas de conservação especiais onde o turismo não é permitido. A caça de ‘troféus’ representa mais de quatro quintos da receita anual de 930 mil euros. Depois de o Estado retirar a sua parte, os aldeãos recebem 20% das receitas.
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CONTEÚDO LOCAL | CERTIFICAÇÃO EM QUALIDADE
União Europeia, ONU e Governo. Três Organismos, Uma só Meta Como aproveitar o potencial em recursos para produzir com qualidade e competir no mercado global? Não há uma resposta fácil, porque há inúmeras questões em jogo. Mas com o apoio de parceiros internacionais, Moçambique vai dando passos que abrem boas perspectivas. Saiba quais são as iniciativas mais relevantes na área da certificação Texto Nário Sixpene • Fotografia D&R
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s autoridades moçambicanas e os parceiros de cooperação procuram, em conjunto, encontrar meios técnicos e financeiros para promover a capacitação das empresas nacionais em matéria de qualidade de produção. A ideia é dotá-las de ferramentas para competir e conquistar novos mercados de exportação para produtos Made in Mozambique. Trata-se de uma evolução que não se pode alcançar sem a obtenção de certificação de qualidade, instrumento que funciona como “passaporte” para a internacionalização. Uma das grandes iniciativas para a consecução deste objectivo está a ser levada a cabo pelo Instituto Nacional de Normalização e Qualidade (INNOQ), organismo público responsável pela implementação da Política Nacional da Qualidade através das actividades de normalização, metrologia, certificação e gestão da qualidade – em parceria com a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO) que, através do programa “Promove Comércio”, financiado pela União Europeia, procura certificar as empresas nacionais.
Em que consiste a intervenção? No ano passado, a UNIDO trouxe para Moçambique técnicos de países onde projectos de certificação em qualidade foram bem-sucedidos. Alejandro Rivera Rojas, responsável por desenvolvimento industrial na UNIDO, esteve em Moçambique para coordenar as acções da instituição neste domínio e revelou à E&M que o objectivo é fomentar actividades promocionais relacionadas com a Política Nacional de Qualidade, que foi recentemente lançada. Ou seja, dentro da UNIDO, há uma série de ferramentas técnicas que podem apoiar a implementação da política. Uma delas é o Índice de Infra-estruturas de Qualidade para o Desenvolvimento Sustentável (QI4SD Index, em inglês), que fornece um quadro de indicadores que resume o estado geral de desenvolvimento das Infra-estruturas de Qualidade (QI) de um país ou região, preparadas para apoiar os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). “O Índice de Qualidade tem como objectivo colmatar lacunas de informação, sendo a primeira ferramenta que mede, explicitamente, a adequação aos ODS. As informações sobre
“O Índice de Qualidade tem como objectivo colmatar lacunas de informação, sendo a primeira ferramenta que mede a adequação aos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)”
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a adequação do QI para atender às necessidades de desenvolvimento sustentável servirão como contributo para apoiar os processos políticos e os planos nacionais para alcançar os ODS, bem como para coordenação de programas de cooperação técnica, não apenas pela UNIDO, mas também por outros parceiros de implementação e agências de desenvolvimento em todo o mundo”, esclareceu. Ainda somos fracos! Existem cinco categorias neste Índice, nomeadamente: • a metrologia, que procura aferir a qualidade dos produtos e processos de fabricação através de medições precisas e fiáveis; • a normalização, que disponibiwww.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
Expansão das infra-estruturas de qualidade Além de formar as empresas e autoridades públicas em matérias de certificação e qualidade, a UNIDO e a União Europeia estão a equipar laboratórios de verificação dos produtos e a expandi-los pelo País. Nesta área, a organização conta com o consultor técnico principal, François Denner, que esclareceu que, além da visão geral de formação, estão a ser trabalhadas “as competências ou capacidades das pessoas”. “Estamos também a fornecer infra-estruturas com equipamento de metrologia para os laboratórios. Temos uma abordagem holística de todos estes pilares para o acesso dos produtores ao mercado da União Europeia”.
liza a experiência e os conhecimentos internacionais em matéria de usabilidade, qualidade, segurança, desempenho ou quaisquer outras características exigidas pelos utilizadores, compradores e produtores, sendo que contêm especificações técnicas para produtos ou componentes de produtos (dimensões, tamanhos, formatos, tolerâncias, desempenhos e interfaces); • a avaliação da conformidade, que fornece provas científicas e técnicas do facto de os produtos cumprirem ou não com as normas ou outros requisitos; • a acreditação, que contribui para o correcto funcionamento dos sistemas de avaliação de conformidade; www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
• e a política, que tem que ver com as decisões do Governo em vigor para promover e apoiar a QI. O valor do índice QI4SD para Moçambique é de 22,7 pontos, que colocam o País na 93.ª posição entre 137 países avaliados. “Estes dados são importantes para medir como devemos estar nos próximos dois a três anos. Portanto, as actividades que estamos a desenvolver no âmbito do projecto ‘Promove Comércio’, lançado em 2021 pelo Governo e União Europeia para melhorar a competitividade das exportações moçambicanas, destinam-se, precisamente, a apoiar o reforço das diferentes dimensões da política de qualidade”, explicou Alejandro Rojas.
Aquacultura, o principal foco Um bom exemplo da actividade que tem merecido especial atenção da UNIDO na questão da certificação, conformidade e qualidade é a aquacultura, não só por existirem empresas desta área que exportam para o mercado europeu, mas porque o País apresenta grandes potencialidades. Margarida dos Santos Correia, assessora técnica da UNIDO para a qualidade de infra-estrutura no pescado e aquacultura, está a trabalhar num projecto designado por MAMAP, desenvolvido para melhorar a conformidade, os requisitos de higiene e sanitários, bem como a qualidade geral no sector da aquacultura. O projecto está alinhado a uma iniciativa global denominada GMAP (Programa de Acesso ao Mercado Global), desenvolvida pela UNIDO e a Agência Norueguesa de Cooperação para o Desenvolvimento. “É um projecto relativamente pequeno, orçado em dois milhões de euros e deverá estar completo até Dezembro de 2024. Pretende atingir três resultados principais: o primeiro está directamente ligado ao reforço institucional; o segundo visa apoiar directamente as pequenas e médias empresas (PME) e os pequenos produtores que, através de associações ou cooperativas, possam usufruir da formação no que diz respeito a medidas de biossegurança; o terceiro diz respeito à cultura para a qualidade, ou seja, exige que todos estes pilares, desde a instituição até ao sector privado, tenham uma interacção para benefício dessa cultura”, concluiu a responsável. É neste cenário que Moçambique vai dando passos que abrem boas perspectivas para colocar a sua produção no mercado internacional.
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NAÇÃO | 2024 ANO DE INCERTEZAS
2024, Ano de Incertezas
As Dez Grandes Ameaças à Economia Como é que tensões geopolíticas, o advento de novas tecnologias e ameaças ambientais podem perturbar as perspectivas para 2024? De que forma podem afectar Moçambique? Os diversos intervenientes indicam que o País está exposto, mas dispõe de instrumentos para amortecer o impacto Texto Celso Chambisso • Fotografia Istock Photo & D.R.
NAÇÃO | 2024 ANO DE INCERTEZAS
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economist intelligence unit (EIU) divulgou as Perspectivas de Risco para 2024 (riscos económicos, políticos e geopolíticos), eventos que podem desafiar as operações de empresas em todo o mundo. Em 2023, a resiliência dos consumidores e uma queda gradual da inflação tranquilizaram os investidores e apoiaram um crescimento global modesto. Para este ano, os analistas da EIU esperam por um crescimento global estável (mas nada espectacular), à medida que a incerteza económica diminui e os bancos centrais começam a reduzir as taxas de juro, no segundo semestre do ano. Análises de outras instituições e agências multilaterais convergem na apreciação, centrada num conjunto de pontos essenciais. Eis dez cenários possíveis, com diferentes graus de probabilidade.
1. Restrições monetárias, recessão global e volatilidade É classificada como uma probabilidade moderada, mas de alto impacto. Há analistas que destacam o facto de, desde 2022, os bancos centrais responderem à inflação elevada, aumentando as taxas de juro. Mas com a inflação a cair, as previsões assumem que as restrições da política monetária terminaram. A questão é que existe um risco moderado de que a inflação volte a acelerar em 2024 devido a um aumento dos custos de produção. Tal pode acontecer pelo aumento da procura global. Será preciso mais força laboral do que aquela que os mercados de trabalho podem oferecer, levando a um aumento de salários. Por outro lado, pode haver também uma subida nos preços das principais matérias-primas devido à escassez de oferta. Tudo junto pode fazer com que os bancos centrais levem as taxas de juro altas para níveis que, provavelmente, provocarão uma queda muito mais significativa na procura por consumo e investimentos. A ocorrer, este cenário provocaria uma baixa generalizada dos preços dos activos e uma recessão global.
2. Subsídios à tecnologia verde: uma guerra comercial Uma probabilidade moderada de alto impacto. As economias ocidentais estão a lançar incentivos generosos para que as empresas invistam em tecnologias de energia limpa, aumentando a capacidade industrial e permitindo uma maior concorrência com a China, que é líder
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O regresso do El Niño poderá agravar eventos climáticos. Estas perturbações, combinadas com factores geopolíticos, poderão colocar uma pressão operacional superior ao esperado nas indústrias na produção de muitas tecnologias verdes. Mas a maioria dos incentivos inclui requisitos rigorosos de fornecimento de componentes, nomeadamente nos EUA. Estes requisitos já estimularam tensões entre a UE e os EUA, provavelmente aumentarão o custo dos factores de produção e, consequentemente, das próprias tecnologias verdes. Se as relações com a China sofrerem um revés
(incluindo um fortalecimento dos laços China-Rússia ou um aprofundamento das preocupações com a política industrial estatal da China), as economias ocidentais poderão aumentar as tarifas existentes sobre as importações chinesas, alimentando ainda mais o crescimento dos preços. A China possivelmente retaliaria, bloqueando as exportações de matérias-primas, tornando os www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
esforços de descarbonização mais caros, acabando por atrasar os prazos para alcançar emissões líquidas zero.
3. Clima extremo perturba cadeias globais de abastecimento Um risco de alta probabilidade e impacto moderado. Secas severas e ondas de calor já afectaram o rendimento das colheitas, e o regresso do El Niño poderá agravar eventos climáticos e levar a temperaturas globais recorde em 2024. Estas perturbações, combinadas com factores geopolíticos, como o colapso de um acordo de exportação de cereais entre a Rússia e a Ucrânia, poderão colocar uma pressão operacional superior ao esperado nas indústrias dependentes de matérias-priwww.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
mas, incluindo a agricultura, a mineração e a indústria transformadora. Se os fenómenos meteorológicos extremos tiverem um impacto significativo na produção, poderão sobrecarregar as cadeias de abastecimento globais e, mais uma vez, aumentar as pressões inflacionistas. São custos que acabariam por chegar aos bolsos das famílias, agravando as preocupações sobre o custo de vida e a segurança alimentar.
4. Protestos podem perturbar a produtividade global Cenário de alta probabilidade e impacto moderado. Os elevados preços globais das matérias-primas e alimentos, as contínuas perturbações na cadeia de abastecimen-
to e a debilidade das moedas face ao dólar continuarão a alimentar, nalguns países, descontentamento social em 202425. Os salários não vão aumentar ao ritmo da inflação na maioria dos países, tornando mais difícil para as famílias mais pobres comprar produtos básicos. Isto pode desencadear agitação social, expandindo protestos que ocorrem em menor escala na Europa, EUA, Coreia do Sul e Argentina. Num cenário extremo, o descontentamento pode forçar os trabalhadores das principais economias a coordenar greves em grande escala, exigindo aumentos salariais. Tais movimentos têm potencial para paralisar indústrias por um período prolongado, acabando por pesar sobre o crescimento global.
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NAÇÃO | INFLUENCIADORES DIGITAIS
5. China e Taiwan, relação tensa sem sinais de alívio É um risco de baixa probabilidade, mas com impacto muito alto. Um conflito directo entre a China e Taiwan é improvável em 2024, devido aos riscos para todos os directamente envolvidos. Mas uma declaração formal de independência de Taiwan precipitaria um ataque chinês. Independentemente do que o desencadeasse, um conflito em grande escala pesaria fortemente sobre a economia de Taiwan e a sua indústria de semicondutores seria temporariamente isolada da cadeia de abastecimento global. Haveria consequências globais, o que provavelmente atrairia a participação militar dos EUA, Austrália, Coreia do Sul e Japão, e levaria a UE e outros governos alinhados aos EUA a impor restrições comerciais e de investimento à China.
6. Mudança na administração dos EUA, na política externa e alianças Probabilidade e impacto moderado. A administração do Presidente de-
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A invasão da Ucrânia pela Rússia alimentou tensões geopolíticas e acelerou a fragmentação global. As relações rompidas entre os países ocidentais e a Rússia levantaram numerosos riscos militares.
mocrata dos EUA, Joe Biden, tem apoiado a presença do país em instituições multilaterais e tem-se envolvido fortemente com os principais parceiros económicos e de segurança. Posicionou os EUA como um actor respeitado na abordagem às alterações climáticas. Uma administração liderada por Trump após as eleições de 2024 levaria, provavelmente, a algumas mudanças abruptas na política externa contra estas posições. Trump já indiciou que pode travar os esforços globais para reduzir as emissões de gases com efeito estufa, recuar no apoio a alianças de longa data e retirar o apoio financeiro e militar dos EUA à Ucrânia, reforçando a posição da Rússia na guerra.
Isto perturbaria os aliados dos EUA, como a UE, Reino Unido, Austrália e Japão. Um aumento geral da volatilidade na formulação de políticas internacionais dos EUA poderia minar a confiança na capacidade do país de definir políticas de longo prazo.
7. Redução das perspectivas de crescimento da China Risco de baixa probabilidade e alto impacto. A resposta lenta da China aos choques da covid-19 e o subsequente abrandamento pós-pandemia abalaram a confiança na capacidade do Governo de comunicar e orientar os mercados. www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
Cenários de risco globais De uma forma resumida, eis os dez factores que alimentam incertezas quanto à estabilidade económica, política e social no presente ano Políticos
Militares
Económicos
A nova administração dos Estados Unidos pode mudar a política externa, prejudicando as alianças.
Ambientais
Guerra na Ucrânia pode transformar-se num conflito global
Tudo prejudica a confiança nas instituições políticas
China pode aumentar o controlo de mais Estados
Juros em alta (ainda) podem levar à recessão global
Subsídios verdes podem estimular uma guerra comercial global
Prevalece a antiga tensão entre China e Taiwan
As alterações climáticas poderão perturbar as cadeias de abastecimento globais
Acção da indústria pode perturbar a produtividade global
A guerra Israel-Hamas pode transformar-se num conflito regional FONTE Economist Intelligence Unit
Isto aumentou o risco de, caso seja confrontado com uma recessão económica, optar por estímulos do tipo big bang em vez de confiar em mecanismos mais subtis para estabilizar a economia e os mercados. As críticas públicas que provavelmente resultariam desta abordagem, tais como as dos assalariados que não vêem os benefícios do estímulo, poderão levar o Partido Comunista Chinês, no poder, a reduzir o seu apoio à economia de mercado e a impor controlos estatais mais directos. Os danos à confiança do sector privado seriam significativos, a produtividade económica diminuiria e o potencial de crescimento da China seria reduzido, limitando as perspectivas globais.
8. Guerra Israel-Hamas: um conflito regional? Cenário de probabilidade muito baixa, mas de alto impacto. Se o conflito militar entre Israel e o Hamas evoluir para uma guerra prolongada, envolvendo uma longa ocupação israelita de Gaza, outros intervenientes eswww.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
tatais e não estatais poderão envolver-se, devido à simpatia pela causa palestiniana. A probabilidade de o Irão se envolver directamente na guerra é pequena, mas levaria a um resposta por parte de Israel, ampliando o impacto económico e geopolítico do conflito. Num mercado petrolífero já restritivo, a interrupção da produção e transporte de petróleo do Médio Oriente teria um impacto significativo nos preços internacionais, prolongando ainda mais a pressão sobre o custo de vida.
9. IA perturba as eleições e gera desconfiança Probabilidade moderada e baixo impacto. A Inteligência Artificial (IA) poderá aumentar, em vez de substituir, as capacidades humanas, apresentando uma oportunidade para as empresas melhorarem a produtividade. No entanto, a utilização nas redes sociais aumentará o risco de desinformação. A regulamentação em diferentes geografias está a chegar, mas os intervenientes mal-inten-
cionados podem interferir no resultado das grandes eleições agendadas para este ano – EUA, Reino Unido e Índia, entre outras – e influenciar os eleitores de forma mais ampla.
10. Guerra Ucrânia-Rússia, um risco global Risco de probabilidade muito baixa e impacto muito alto. A invasão da Ucrânia pela Rússia alimentou tensões geopolíticas e acelerou a fragmentação global. As relações rompidas entre os países ocidentais e a Rússia levantaram numerosos riscos militares. Os cenários incluem um ataque cibernético a infra-estruturas críticas, erros de cálculo na fronteira da NATO com a Rússia e um incidente inadvertido entre um número crescente de Estados com capacidade nuclear. No caso de um incidente altamente público ou visível, o país atacado provavelmente retaliaria e tal conflito seria devastador. A economia global cairia numa recessão profunda, com graves consequências humanas e mortes em grande escala.
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NAÇÃO | INFLUENCIADORES DIGITAIS
Economia em desaceleração Moçambique retomou, em 2022, o ritmo de crescimento superior à média da África Subsaariana. Mas deve decrescer no presente ano em relação a 2023. As incertezas globais levam a uma projecção mais pessimista também na região e no mundo Taxa de crescimento económico em %
Moçambique 2021 2022 2023 Projecção 2024 Previsão 2025
África Subsaariana 2,3 4,2 6,0 5,0 5,0
2021 2022 2023 Projecção 2024 Previsão 2025
Mundo 4,4 3,7 2,9 3,8 4,1
2021 2022 2023 Projecção 2024 Previsão 2025
6,2 3,0 2,6 2,4 2,7 FONTE FMI
Os riscos para Moçambique À E&M, o representente do FMI em Moçambique, Alexis Meyer-Cirkel, explicou que num ambiente económico com elevado nível de incertezas, o risco de recessão é maior para uma série de países, porque os intervenientes adiam as decisões (de consumo e investimento). Por outro lado, ainda de acordo com Alexis Meyer-Cirkel, incertezas e volatilidade, juntamente com sinais de inflação, levam os bancos centrais a manter políticas monetárias restritivas. Os juros continuam altos, agravando as condições de crédito
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e agravando os custos para quem já está a amortizar dívidas. Este é o cenário geral. E no caso particular de Moçambique? Alexis Meyer-Cirkel referiu que os riscos de intensificação dos conflitos geopolíticos no mundo representam um risco médio a alto para Moçambique: podem deteriorar as condições de comércio externo, aumentar a volatilidade dos preços das matérias-primas (que Moçambique exporta) e inflacionar os preços da energia e de alimentos - o que se traduz em preços domésticos mais altos, tal como aconteceu em 2022, após a Rússia inva-
dir a Ucrânia. Alexis Meyer-Cirkel salienta, no entanto, que em termos distributivos, as pressões inflacionárias afectam mais as camadas mais pobres e vulneráveis, e a correcção requer políticas macroeconómicas mais prudentes. Fausio Mussá, economista-chefe do Standard Bank, explicou que o principal risco para o País está relacionado com o preço do petróleo: Moçambique importa todos os combustíveis líquidos, logo, influencia a inflação. Outra forma de contágio, de acordo com o economista, seria uma guerra provocar uma grande www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
NAÇÃO | 2024 ANO DE INCERTEZAS
SECTOR PRIVADO ADMITE REDUZIR CONTRATAÇÕES E ADIAR INVESTIMENTOS O presidente da Confederação das Associações Económicas (CTA), Agostinho Vuma, revela que o empresariado está atento à conjuntura global e atribui ao Governo e ao Banco Central a tarefa de aplicar instrumentos de governação sob o seu poder para apoiar o investimento privado
Olhando para as incertezas que devem caracterizar o ambiente económico em 2024, e tomando em consideração as fragilidades da economia moçambicana, qual é o nível de stress sobre o sector privado? A persistência de um quadro de financiamento desafiador a nível mundial poderá repercutir-se na economia moçambicana, primeiro, porque a maior parte dos bancos moçambicanos são de capitais estrangeiros; segundo, pelo facto de o País não ser alheio aos movimentos de preços internacionais. Tal poderá condicionar a condução da política monetária por parte do Banco de Moçambique e, com isso, tornar ainda mais desafiador o acesso ao crédito. Do lado das finanças públicas, a realização das eleições [gerais] traz consigo pressões adicionais em termos de alocação de fundos públicos, facto que, num contexto de restrição de recursos, poderá condicionar a alocação de verbas para investimento público. O que é que o mercado deve esperar dos empresários face às incertezas? Haverá menos contratação de força de trabalho, por exemplo? De uma forma geral, num contexto de aversão a riscos e incertezas, é de prever que as empresas moçambicanas adoptem uma postura mais cautelosa. Isso pode traduzir-se na redução da propensão a contratar força de trabalho. Os relatórios do Índice de Robustez Empresarial, publicados pela CTA, têm sinalizado a preferência pela contratação de trabalhadores em tempo parcial, principalmente nos sectores da agricultura e turismo. Outro efeito que se pode esperar
é o adiamento de investimentos face à incerteza quanto ao curso da economia nacional. Na óptica da CTA, quais devem ser as medidas a ser tomadas pelo Governo e pelo Banco Central? O Banco de Moçambique tem apresentado uma política monetária restritiva há mais de um ano, com destaque para as taxas de reservas obrigatórias, tanto em moeda nacional como estrangeira, a atingirem máximos dos últimos 20 anos (aproximadamente a 40%). Num cenário destes, em que o empresariado já considera o custo de financiamento muito alto, a expectativa do sector privado é que o Banco Central relaxe as condições de financiamento. Do lado do Governo, a atenção deve ser dada para o estímulo a novos investimentos, através da aprovação e implementação de reformas do ambiente de negócios, incluindo a adopção de reformas fiscais que propiciem maior resiliência das empresas. Moçambique verifica, neste momento, um fluxo considerável de investimento estrangeiro de grande capital. A expectativa é que esses investimentos se traduzam em oportunidades para as PME através do fornecimento de bens e serviços. No entanto, a realidade mostra que, até ao momento, há carência de instrumentos legais para criar condições para a penetração das mesmas nesse mercado. O Governo devia envidar esforços no sentido de materializar a aprovação da Lei de Conteúdo Local como forma de ajudar as PME a interligarem-se aos grandes projectos que operam no País.
desaceleração da economia mundial, a ponto de fazer baixar o preço das matérias-primas que Moçambique exporta. “Imagine a redução do preço do alumínio e do carvão, que são produtos de exportação de Moçambique. Isso pode ter repercussões sobre a nossa balança de pagamentos e gerar uma situação de pressão sobre as divisas”. Fáusio Mussá sublinhou ainda que, se a situação económica mundial se deteriorar, poderá haver menos fundos disponíveis para apoiar o Orçamento do Estado por parte dos parceiros, “porque vão estar preocupados em resolver os seus problemas domésticos e isto pode afectar as taxas de crescimento económico”.
Taxas de juro: acabaram as subidas? Nos Estados Unidos e Europa, os bancos centrais têm aumentado as taxas de
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ELEIÇÕES DEIXAM INCERTEZA NO AR Há uma relação direta entre a mudança de governos de países com peso na economia global e a influência nos mercados. Fáusio Mussá explicou que, quando existe uma tendência de os partidos da extrema-direita ganharem eleições, receia-se que o apoio aos países mais pobres, como Moçambique, irá cair e afetar negativamente o crescimento. Outro exemplo: se nos Estados Unidos a corrida às eleições provocar alguma desordem, como a que houve com o ataque ao Capitólio, isso pode provocar receios volatilidade dos mercados financeiros, que podem reduzir o nível de investimento e de crescimento. “Os mercados reagem aos eventos políticos”, recordou.
“A redução do preço do alumínio e do carvão, que são produtos de exportação, pode ter repercussões sobre a nossa balança de pagamentos e gerar pressão sobre as divisas”, Fáusio Mussá
juro, na expectativa de travar a inflação. Têm-no conseguido. É certo que, se os conflitos fizerem aumentar os preços das commodities e do petróleo, os bancos centrais poderão continuar a aumentar as taxas de juro. Mas esse não é um cenário provável para este ano, referiu Fáusio Mussá. “A reacção da economia moçambicana a este cenário depende de várias situações. Mas considerando que a inflação baixou muito, um auwww.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
mento das taxas de juro não é expectável, mesmo porque estas já estão muito acima do que seria um nível normal”, explicou. A consultora Deloitte, na voz dos respectivos business consulting Miguel Coelho e Ineida Valgy, apontaram também para a ausência de riscos quanto a subidas das taxas de juro no mercado internacional. Mas o representante do FMI em Moçambique, Alexis Meyer-Cirkel,
explicou que um eventual aumento, em conjunto com uma série de emergências globais, como a guerra Rússia-Ucrânia ou as incertezas no Médio Oriente, diminuiriam a disponibilização de recursos dos tradicionais parceiros de desenvolvimento. “A redução do financiamento externo tem gerado uma mudança de tendência para o financiamento através do mercado doméstico, que é mais dispendioso, o que tem aumentado o serviço da dívida e reduzido o espaço fiscal para despesas de desenvolvimento (educação, saúde e infra-estruturas)”, observou Alexis Meyer-Cirkel.
É possível avançar medidas de prevenção O FMI conhece a fórmula para contornar os efeito negativos dos fenómenos globais que podem ocorrer em 2024.
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O País precisa de continuar a proteger a estabilidade macroeconómica através de políticas fiscais e monetárias prudentes e manter a dinâmica de reformas e gestão eficiente de recursos públicos
Para Alexis Meyer-Cirkel, o País precisa de continuar a proteger a estabilidade macroeconómica através de políticas fiscais e monetárias prudentes e manter a dinâmica de reformas estruturais com uma gestão eficiente de recursos públicos, a par da governação e fortalecimento do quadro institucional para uma política fiscal mais sólida. Deve, igualmente, apoiar a diversificação económica e crescimento cada vez mais inclusivo, sendo também importante que o Governo continue a reforçar a segurança e as políticas socioeconómicas na região norte e prosseguir com os esforços para uma paz duradoura.
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Optimista, o representante do FMI admitiu que “2024 pode não ser fácil”, mas “as condições estão criadas para uma gradual redução das amarras financeiras e para que haja uma recuperação económica mais ampla”. Para isso, o País deverá avançar com a consolidação fiscal para salvaguardar a sustentabilidade da dívida, com enfoque na mobilização de receitas de forma eficiente, e prosseguir com a reforma da massa salarial, trazendo o rácio salários-PIB para níveis próximos dos países pares, no médio prazo. “Isso vai ajudar a criar espaço fiscal para despesas prioritárias e essenciais como educação, saúde e pro-
tecção social para os mais vulneráveis”, argumentou. Por outro lado, prosseguiu o representante do FMI, tendo em consideração a redução das pressões inflaccionistas, expectativas de inflação bem ancoradas, prossecução da consolidação fiscal e um crescimento modesto da economia não extractiva, há maior possibilidade de flexibilizar a política monetária para aliviar as condições financeiras pouco favoráveis e apoiar o crescimento do crédito para o sector privado. Defendeu, igualmente, que, “para o sector privado, é importante incorporar e calibrar as incertezas nos seus instrumentos analíticos e, sobretudo, ter a capacidade de se ajustar a um ambiente em constante evolução”. O Banco Mundial também apresenta projecções pessimistas, alimentadas por incertezas. Recentemente, manteve a previsão de crescimento económico global em 2,4% para 2024, mas baixou em três décimas a projecção para 2025, para 2,7%, devido à instabilidade política global. www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
OPINIÃO
João Gomes • Partner @BlueBiz
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em este artigo a propósito de um projecto de consultoria que estou a liderar1, com o objectivo de antecipar as qualificações profissionais e competências do futuro2 (2030). E porque são imensas as escolhas estratégicas possíveis, uma questão-chave se levantou, à qual, neste artigo, convido o meu leitor@ a responder: que dilemas existem e como condicionam eles as nossas escolhas estratégicas? Vejamos sucessivamente, sobre o tema dos Dilemas Estratégicos (DE): - Definição, características estruturais, e uma lista longa de DE. - Analisaremos, nesta edição, apenas dois DE e, para cada um deles, veremos: - Em que consistem; - Ferramentas de apoio à decisão; - Recomendações práticas; - Exemplos de, e para África; - Bibliografia; - Conclusão. A. Definição Na minha opinião, um DE ocorre quando a escolha entre diferentes estratégias implica sacrificar um aspecto importante em favor de outro. Esta simples definição captura a essência dos DE, destacando a complexidade das decisões e a necessidade de equilibrar trade-offs num ambiente de incertezas e riscos. B. Características Estruturais Comecemos por analisar à lupa as características estruturais de um DE: Dualidade de Escolhas: existem várias opções, cada uma com vantagens e desvantagens. Incerteza e Risco: prever resultados é desafiante, com potenciais consequências negativas. Conflito de Valores: cada opção reflecte valores ou prioridades organizacionais distintas. Recursos Limitados: escolher como alocar recursos escassos. C. Uma lista longa de Dilemas O já referido projecto culminou com a seguinte colecção de DE:
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Dilemas Estratégicos na Gestão: Escolhas, Riscos e Incertezas (Parte 1) O Dilema de Planear sem Bússola → O Dilema da Eficiência O Dilema da Oportunidade → O Dilema do Capital O Dilema da Complexidade → O Dilema da Mensurabilidade O Dilema do Crescimento → O Dilema de Subestimar o Futuro O Dilema do Consumidor → O Dilema da Diversificação vs. Especialização O Dilema da Concorrência → O Dilema da Globalização vs. Localização O Dilema da Informação → O Dilema da Transformação Digital O Dilema da Aceleração O Dilema da Inovação
Premiar desempenhos passados com promoções leva à reciclagem de soluções antigas para problemas novos. Isso limita a influência de empregados orientados para o futuro Nota: Fruto da investigação realizada resultou uma larga colecção de DE, e que prometo aos meus leitores aqui partilhar parte, em próximas edições. D. Análise Específica de Dilemas Estratégicos 1. O Dilema de Planear sem Bússola a. Em que consiste? Este DE surge na ausência de direcção clara ou de dados concretos para fundamentar o planeamento estratégico. O desafio é como planear efectivamente para o futuro quando as direcções tradicionais e os indicadores são insuficientes ou inaplicáveis. b. Elementos do Dilema A detecção deste DE passa por reconhecer os seguintes sinais: Avaliação Inexacta da Situação: as suposições sobre consumidores, concorrentes, parceiros e custos são, muitas vezes, imprecisas devido à complexidade e incerteza do
mercado. Isso leva a erros estratégicos, pois as empresas tendem a simplificar excessivamente a realidade. Sacralização do Plano: uma vez que um plano é estabelecido, ele é, muitas vezes, tratado como imutável, mesmo diante de evidências de que certos aspectos não foram considerados. Alterações no plano são vistas como ameaças, em vez de oportunidades para melhorias. c. Ferramentas de apoio à resolução deste Dilema Para acelerar a resolução deste DE, as seguintes ferramentas são recomendadas: - Análise SWOT: avaliação de forças, fraquezas, oportunidades e ameaças; - Gestão do Risco: identificação e mitigação de potenciais riscos; - Pensamento Crítico: avaliação objectiva de problemas e soluções. d. Recomendações práticas para lidar com este Dilema Para a resolução equilibrada deste DE, as seguintes melhores práticas são recomendadas: - Análise Crítica e Contínua: avaliar regularmente o ambiente de negócios para identificar mudanças e tendências emergentes; - Descentralização da Tomada de Decisão: permitir que diferentes partes da organização respondam de forma independente a desafios específicos. e. Exemplos práticos em África Alguns exemplos ajudam a ilustrar como este DE foi solucionado em países africanos: Sector de Telecomunicações na Nigéria Desafio: adaptar-se rapidamente às mudanças tecnológicas e às expectativas dos consumidores. Solução: implementação de uma abordagem ágil no desenvolvimento de produtos e serviços. Resultado: capacidade de lançar rapidamente novos serviços, mantendo a empresa competitiva. Sector Agrícola no Quénia Desafio: lidar com as incertezas climáticas e a variação dos preços de mercado. Solução: utilização de tecnologias de previsão e diversificação de culturas. www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
que valorizem a inovação e a coragem de explorar novos caminhos.
A gestão eficaz dos Dilemas Estratégicos inclui a promoção da diversidade de pensamento
Resultado: redução da vulnerabilidade a condições climáticas adversas e flutuações de mercado. f. Bibliografia Good Strategy Bad Strategy: The Difference and Why It Matters. Autor: Richard Rumelt. ISBN: 978-1781256176. Resumo: este livro discute a importância de estratégias bem pensadas num mundo incerto, destacando a diferença entre boas e más estratégias. The Art of Strategy: A Game Theorist’s Guide to Success in Business and Life. Autor: Avinash K. Dixit e Barry J. Nalebuff ISBN: 978-0393337174 Resumo: este livro aplica a teoria dos jogos ao mundo dos negócios, oferecendo insights sobre como tomar decisões estratégicas em situações complexas e incertas. g. Conclusão Este DE sublinha a importância de não nos apegarmos rigidamente a planos estabelecidos, mas sim de manter uma abordagem flexível e adaptativa. As organizações devem fomentar a inovação contínua, realizar análises críticas regulares e descentralizar a tomada de decisão para responderem eficazmente a desafios específicos. 2. O Dilema da Oportunidade a. Em que consiste? Este DE envolve a decisão de perseguir novas oportunidades de negócios frente aos riscos e incertezas associados. As empresas devem avaliar se podem capitalizar em novas tendências de mercado e tecnologias emergentes, ponderando o potencial de crescimento contra o risco de se desviarem das www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
suas competências centrais e estratégias existentes. b. Elementos do Dilema A detecção deste DE passa por reconhecer os seguintes sinais: Conformidade e Zona de Conforto: a perspectiva de baixo para cima ensina aos empregados que a conformidade e a não contestação são recompensadas. Organizações baseadas em consenso movem-se dentro de uma zona de conforto, especialmente em tempos incertos e turbulentos. Reciclagem de Soluções Passadas: a prática de premiar desempenhos passados com promoções leva à reciclagem de soluções antigas para problemas novos. Isso limita a influência de empregados orientados para o futuro e pode ter consequências negativas significativas. c. Ferramentas de apoio à resolução deste Dilema Para acelerar a resolução deste DE, as seguintes ferramentas são recomendadas: Gestão do Risco: identificação e mitigação de potenciais riscos. Benchmarking: comparação com as melhores práticas do sector. Pensamento Crítico: avaliação objectiva de problemas e soluções. d. Recomendações práticas para lidar com este Dilema Para a resolução equilibrada deste DE, as seguintes melhores práticas são recomendadas: Promover a Diversidade de Pensamento: encorajar e valorizar opiniões divergentes e novas ideias dentro da organização; Recompensar a Tomada de Riscos Calculados: estabelecer sistemas de recompensa
e. Exemplos de, e para África Alguns exemplos ajudam a ilustrar como este DE foi solucionado em países africanos: Sector de Energia Renovável na África do Sul Desafio: superar a dependência de combustíveis fósseis e desenvolver fontes de energia sustentáveis. Solução: investimento em tecnologias de energia solar e eólica. Resultado: criação de um sector de energia renovável robusto, reduzindo a pegada de carbono e gerando novos empregos. Sector da Educação Digital no Quénia Desafio: acesso limitado à educação de qualidade em áreas rurais. Solução: desenvolvimento de plataformas de e-learning e infra-estrutura de Internet em áreas remotas. Resultado: melhoria no acesso à educação e aumento nas taxas de alfabetização. f. Bibliografia The Art of Opportunity: How to Build Growth and Ventures Through Strategic Innovation and Visual Thinking. Autor: Marc Sniukas, Parker Lee e Matt Morasky. ISBN: 978-1119151586. Resumo: este livro oferece uma abordagem prática e criativa para identificar e aproveitar oportunidades de negócios, combinando inovação estratégica com pensamento visual. Good Strategy Bad Strategy: The Difference and Why It Matters. Autor: Richard Rumelt. ISBN: 978-1781256176 Resumo: este livro distingue entre estratégias boas e más, oferecendo insights sobre como desenvolver e implementar estratégias eficazes que podem superar desafios complexos e aproveitar oportunidades. g. Conclusão A gestão eficaz deste DE requer uma abordagem multifacetada que inclui a promoção da diversidade de pensamento, recompensa pela tomada de riscos calculados e um equilíbrio entre estabilidade e flexibilidade. Exemplos práticos em sectores como energia renovável e educação digital em países africanos ilustram como soluções inovadoras podem superar desafios e transformar riscos em oportunidades sustentáveis.
Para o Governo de Cabo Verde, com o apoio financeiro da LUXDEV - Agência de Desenvolvimento Luxemburguesa. 2 Ver Revista Economia & Mercado de 16 de Abril de 2021: http://tinyurl.com/mrd99ba5 1
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NAÇÃO | 2024 ANO DE INCERTEZAS
“Incertezas Globais Sugerem Optimismo Cauteloso para Moçambique” A consultora Deloitte identifica riscos para o País inerentes ao cenário global: o aumento da inflação, queda de investimento externo e nacional, redução do apoio ao Orçamento do Estado, entre outros aspectos. Mas também há possibilidades animadoras. Por exemplo, a redução das taxas de juro, que impulsionaria a expansão do crédito à economia. Quais os cenários mais prováveis? Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R
D
ois analistas da consultora Deloitte, Miguel Coelho e Ineida Valgy, ambos Business Consulting da instituição, ajudaram a E&M a encontrar respostas face aos riscos que fenómenos geopolíticos e económicos globais colocam à economia moçambicana, com ênfase sobre o que se pode esperar da actividade empresarial. Além disso, os consultores elaboraram uma lista exaustiva de medidas que podem ser tomadas internamente, quer para contornar efeitos negativos da conjuntura internacional, quer para aproveitar a oportunidade de criar bases mais robustas, melhorar o ambiente de investimentos e promover o crescimento. Enquanto consultora, como é que a Deloitte classifica o grau de risco da conjuntura global para a economia moçambicana? O impacto da incerteza global na economia nacional, num cenário em que os juros se mantêm a um nível elevado durante mais tempo do que o esperado no panorama mundial, pode ser reflectido de várias formas. Podemos considerar as seguintes: primeiro, os yields (rendimentos) mais atractivos em instrumentos sem risco (como é classificada a dívida americana) atraem o capital volátil, implicando um possível aumento do spread para instrumentos similares de mercados emergentes, em que o risco de default (incumprimento no paga-
mento de dívidas) é mais iminente – isto leva a uma restrição monetária acrescida em Moçambique e a uma quebra de incentivos a investimentos na economia real. Segundo, o lag (atraso) monetário pode levar a um abrandamento significativo (já a acontecer) da procura externa, prejudicando o potencial de exportação de produtos e serviços, acarretando uma procura por menores quantidades, a preços mais baixos, o que afectaria ainda mais o défice previsto de cerca de 5% (pós doações). Terceiro, a manutenção de juros altos nos EUA leva a que o Banco de Moçambique mantenha também os juros em zona restritiva para defender o peg (câmbio) do metical em relação ao dólar, mantendo restritos os incentivos ao investimento. No fim de 2023, a taxa MIMO a 17,5%, uma média de inflação (no último ano) de cerca de 7,5% e uma taxa de juro real de 10%, fizeram com que o preço do dinheiro se mantivesse caro. Quarto, o ciclo eleitoral, nomeadamente nos EUA (o maior doador bilateral de Moçambique) também pode ter grande impacto. Pode levar a uma visão mais isolacionista e ao corte de apoios directos ao orçamento, agravando o défice orçamental, provocando, por sua vez, um crowd out (saída) ainda maior de investimento privado. Ao pensarmos nas possíveis fontes de contágio, o mais critico é não apostar apenas num resultado esperado, já que a macroeconomia é o resultado de uma enorme quantidade de variáveis
Uma evolução negativa dos mercados de gás, quer pelo preço, quer pela pressão política de redução acelerada de produção fóssil... colocaria o País fora dos mercados de capital internacionais
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em constante interacção e impossíveis de prever. O foco deve ser o de perceber as implicações do momento e estar aberto e preparado para uma mudança das circunstâncias. De que forma os eventos globais previstos (conflitos, mudanças de governo em vários países, entre outros) podem afectar, em concreto, a actividade empresarial? Temos de notar que existem razões para um optimismo cauteloso: a previsão é que o País cresça a cerca de 5,5% em 2024, de acordo com o Ministério da Economia e Finanças (MEF), acima do crescimento de 4% previsto para a África Subsaariana e acima da média moçambicana de 4% na última década. Este crescimento está alavancado na continuação do crescimento acentuado das indústrias extractivas, em 19%, fruto da continuidade das exportações de gás natural liquefeito (LNG) do projecto Coral Sul. Temos também a perspectiva da possível retoma do projecto de LNG da Total, que seria o maior projecto de investimento no País, no valor de 20 mil milhões de dólares, a par da entrada em operação da Central Térmica de Temane, com capacidade de 450MW, e a conclusão do Projecto de Interligação Regional Moçambique-Maláui (MOMA), que consolida o posicionamento de Moçambique como pólo regional de energia, entre outros. No entanto, prevê-se que todas as restantes indústrias (tirando a agricultura, a crescer 5,7%), cresçam abaixo da taxa média do País. Esta questão deve ser alvo de reflexão, principalmente a taxa de crescimento esperada para a indústria transformadora de 2,2%. Este é um sector importante para fomentar a industrialização e criar um número de postos de trabalho necessário para tornar real o crescimenwww.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
to do País e para os moçambicanos. Tudo isto reflecte a necessidade de diversificação de uma economia que é maioritariamente composta pelo sector agrícola, com cerca de 25% do PIB em 2023, e cada vez mais pela indústria extractiva, como o carvão, gás e outros recursos minerais. Há uma grande exposição a commodities (matérias-primas) com alta volatilidade nos preços e que cada vez mais ditarão o nível de performance do País, se não se diversificar a base económica. Que sectores seriam prejudicados e de que forma, caso se concretizassem alguns dos riscos globais? Há três cenários a considerar. O primeiro é que uma evolução negativa dos mercados de gás – quer pelo preço (dado o elevado número de projectos de LNG a acontecer nos próximos anos), quer pela pressão política de redução acelerada de produção fóssil, incluindo o gás (apesar do seu esperado papel como fonte de transição e backup) – levasse a um atraso dos projectos em Moçambique. Isto, por sua vez, elevaria drasticamente o potencial de default da dívida soberana em forma de Eurobond, no valor de 900 milhões de dólares, com maturidade em www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
2028. O perfil de crescimento da indústria extractiva seria afectado e uma falha no pagamento colocaria o País fora dos mercados de capital internacionais, com custos acrescidos associados. Um segundo cenário é aquele em que um período mais duradouro de taxas de juro elevadas, em que o Banco de Moçambique manteria uma política restritiva, afectaria a expansão de crédito à economia, nomeadamente fora da indústria extractiva, para as PME, e com impactos negativos para a disponibilidade de capital da indústria transformadora, mantendo o seu crescimento ainda mais deprimido. O terceiro e último cenário é o de uma escalada do conflito no Médio Oriente, com disrupções no mercado energético a impulsionar novamente os preços, principalmente de combustíveis refinados, que tiveram um peso de cerca de 16% nas importações em 2023 e a que o País está exposto. Neste caso, o contágio através dos preços de produção ou transporte poderia levar a uma aceleração da inflação interna. Apesar disto, como disse inicialmente, há razões para um optimismo cauteloso das condições económicas e até pode haver notícias positivas, se as condições permitirem ao Banco de Moçambique aliviar as
taxas de juro, alimentando uma possível expansão de crédito, impulsionando o crescimento de outras indústrias, como a transformadora. Que tipo de medidas a Deloitte aconselha aos seus clientes e às empresas para lidarem com as incertezas globais? Existem dois eixos de análise. O da política económica e monetária, de forma geral, e o empresarial, mais detalhadamente. No que diz respeito à política económica e monetária, é importante aprofundar as reformas estruturais necessárias para o País, no seguimento do Pacote de Aceleração Económica (PAE). São importantes para garantir um aproveitamento mais eficaz dos recursos, do potencial produtivo e para o potencial impulso do gás se reflectir nas condições de vida reais. Isto actua em várias áreas como: maior liberalização e transparência económica, criação de zonas económicas exclusivas para suportar a industrialização e melhor governança e investimentos produtivos em infra-estruturas logísticas, eléctricas, de saúde e educação. Apenas as reformas estruturais podem transformar o perfil e qualidade do crescimento do País e torná-lo mais robusto a choques externos. Depois,
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NAÇÃO | FMI PERSPECTIVAS
importa continuar o caminho de consolidação fiscal ao abrigo do programa do Fundo Monetário Internacional (FMI), garantindo a sustentabilidade do rácio de dívida. Com a actual dívida pública em cerca de 89% do PIB face a uma média de 63% em África, Moçambique está entre os países mais vulneráveis a um default. O programa do FMI tem como meta a redução da despesa pública para 27,4% do PIB em 2026, estando actualmente previsto, para 2024, descer para cerca de 35% do PIB. Isto faz-se de três maneiras igualmente importantes. Uma delas é o alargamento da base tributária. Por exemplo, a receita tributária na União Europeia, em 2022, foi de cerca de 41% do PIB, face a 21% em Moçambique. O termo de comparação é diferente, mas mostra que há muito trabalho a fazer. Depois, terá de haver um controlo de despesa corrente que absorve recursos que podiam ser potencialmente melhor alocados. Por exemplo, as despesas com payroll (vencimentos) do Estado, que é a maior componente de despesa, deverá representar 13% do PIB em 2024
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com a Economist Intelligence Unit (EIU) a apontar a meta de redução para 10% do PIB em 2028. E ter-se-á de alavancar o potencial de crescimento e diversificar a economia. Maior crescimento económico traria, gradualmente, os rácios de dívida para valores mais sustentáveis. Há que recordar que o bom progresso na diminuição do stock de dívida teve duas frentes: a redução de exposição à dívida externa mais volátil, que representava 84% do total em 2017, descendo para 70% em 2022 (a favor da dívida interna), e a extensão de maturidades nas Obrigações do Tesouro, de 5% do total em 2017, para 16% em 2022. Do lado monetário, é importante continuar a monitorizar a tendência de evolução de preços e, apesar de existirem riscos de aceleração da inflação, como aconteceu no último mês de 2023, o Banco de Moçambique conseguiu ancorar expectativas e controlar a inflação de 2022 através da subida das taxas de juro e de reservas legais. As previsões de inflação para 2024 estão entre os 6,5% (FMI) e 4,1% (EIU). Estas previsões dão margem para um alívio da res-
trição monetária e consequente expansão de crédito à economia, que está dependente da indústria extractiva para o crescimento, com a EIU a prever a descida de taxas de juro para 15,5% em 2024. Mas é possível gerir tantos cenários e riscos variáveis? É importante ter um planeamento de cenários robusto, sem esperar por uma só previsão. É preciso ver como é que um negócio tem flexibilidade para responder quer a choques externos (escalada de tensão geopolítica, aceleração de inflação global, deflação na China, etc.), quer internos (degradação de infra-estruturas, tensão social, entre outros). Apesar dos desafios, está previsto que a economia de Moçambique cresça cerca de 5% este ano e chegue a 10% em 2028, a par de um crescimento demográfico de 3% ao ano até 2033. É igualmente esperada uma maior taxa de urbanização, com maiores índices de produtividade. Isto são tailwinds (impulsos) muito fortes e positivos, por isso, apesar da tentação de reagir a curto prazo, www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
to acima de 6% em 2024, o maior entre as grandes economias do mundo. Posto isto, e os laços comerciais entre os países, as empresas devem pensar estrategicamente em alavancar esta oportunidade no mercado indiano, além da exportação de recursos minerais e agrícolas não processados. No longo prazo, Moçambique deve pensar em estar posicionado no acordo da Zona de Comércio Livre Continental Africana (AfCFTA), com redução de barreiras comerciais e harmonização de normas entre os países africanos. Em 2017, por exemplo, as trocas comerciais entre países africanos eram de cerca 17% face a 68% na Europa, entre os respectivos países. Há um potencial enorme, se pensarmos em fechar este hiato e promover maiores laços comerciais dentro de África. Como podem as empresas moçambicanas posicionar-se? O pensamento estratégico tem de começar a ser feito e amadurecer. O sector energético, incluindo o transporte de electricidade, tem um enorme potencial. Tal como o reforço do papel de Moçambique como centro lo-
para 2600 dólares em meados de Janeiro de 2024, de acordo com o Freightos Baltic Index que faz o seguimento das taxas de transporte de contentores. Parte dos desafios empresariais terá que ver com o acelerar de investimentos na digitalização. Que perspectivas tem a Deloitte para esta componente? De facto, há necessidade de uma aposta forte na digitalização de operações e processos, desenhando e implementando formas adequadas de sistemas de Entreprise Resource Planning (ERP, planeamento empresarial), acima de tudo nas PME, visto que as grandes empresas têm um maior grau de maturidade digital. No entanto, a optimização de processos e capacidades para alavancar o digital (para reduzir a burocracia, aumentar a transparência e melhorar decisões, transversalmente a todas as funções de negócio), deve ser prioritária, independentemente da dimensão da empresa. A digitalização traz também a necessidade de formar capital humano, capaz de utilizar eficientemente as ferramentas de supor-
O ciclo eleitoral, nomeadamente nos EUA, também pode ter grande impacto em Moçambique. Pode levar a uma visão mais isolacionista e ao corte de apoios directos ao orçamento do Estado, agravando o défice as empresas devem posicionar-se para capturar o melhor destas tendências na próxima década. Como servimos uma população jovem em crescimento? Que tipo de produtos precisam? Que necessidades de infra-estrutura existem em que o sector privado pode antecipar-se e participar? O pensamento estratégico a longo prazo é fundamental, assim como pensar nos mercados externos e nas possíveis fontes de vantagem competitiva, no curto e longo prazo. Em que se basearia o pensamento de curto e de longo prazo que a Deloitte aconselha ao sector privado? Por exemplo, no curto prazo, as empresas moçambicanas podem pensar estrategicamente em como ter exposição à Índia, que em 2022 já foi o maior mercado de exportações (21% das exportações). A Índia, no meio da incerteza global, tem se revelado um poderio de crescimento económico, com a sua classe média a crescer de cerca de 22% para 35% da população entre 2014 e 2023, acompanhando um crescimento previswww.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
gístico de entrada em África, pelo Índico. Mas também é preciso pensar em servir um enorme mercado de potenciais consumidores africanos de 1,3 mil milhões de pessoas com um crescimento esperado da classe média. Surgirão oportunidades em diversos sectores para empresas de diversas dimensões. No seguimento de um planeamento robusto de cenários, as empresas devem analisar detalhadamente a resiliência das suas cadeias de valor para garantir a disponibilidade de produtos nos timings necessários, a custos razoáveis. Este é o novo paradigma de resiliência versus eficiência. Por exemplo, durante a covid-19, com as restrições e bloqueio do Canal do Suez, os custos de transporte de contentor saltaram de cerca de 1500 dólares em Janeiro de 2020 para cerca de 11000 dólares em Setembro de 2021. Mais recentemente, com os ataques a navios comerciais no Mar Vermelho, obrigando as transportadoras a dar a volta a África, os tempos de entrega aumentaram e os custos passaram de cerca de 1300 dólares em meados de Dezembro de 2023
te e entendimento de novos processos. É isto que permitirá às empresas operar de forma eficiente, ágil e produtiva. As que já têm definidos os seus planos devem focar-se num desenho e implementação determinado. As que estão a começar a jornada devem começar por definir o que devem ser os princípios futuros do seu modelo operativo, para guiar a transformação. É importante também continuar a monitorizar as condições de fixação do câmbio ao dólar. Com um défice de balança corrente estrutural, a fixação pode ser vulnerável a quedas das receitas de exportação esperadas, seja pelo preço do carvão ou atrasos nos megaprojetos do gás, que poderiam levar o Banco de Moçambique a abandonar o câmbio fixo e causar extrema volatilidade. As empresas devem rever as suas estruturas de capital, nomeadamente, olhar para os chamados currency mismatch em que as receitas são geradas em moeda local e a estrutura financeira altamente exposta a moeda estrangeira, principalmente o dólar, para conseguirem reduzir potenciais exposições.
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RADAR ÁFRICA
Cabo Verde
OMS certifica Cabo Verde como país livre de malária A Organização Mundial da Saúde (OMS) certificou Cabo Verde como um país livre de malária, “marcando uma conquista significativa na saúde global”. O país lusófono junta-se ao grupo de 43 países e um território a que a OMS já atribuiu esta certificação. Cabo Verde é o terceiro país a ser certificado na região africana da OMS, juntando-se às Maurícias e à Argélia, que foram certificados em 1973 e 2019, respectivamente. O continente africano é o que mais sofre com a malária, refere a OMS,
ao acolher 95% dos casos globais e 96% das mortes relacionadas com a doença, em 2021. “A certificação da eliminação da malária impulsionará um desenvolvimento positivo em muitas frentes para Cabo Verde”, indica a organização. Os sistemas e estruturas construídos para a eliminação da malária “reforçaram o sistema de saúde e serão utilizados para combater outras doenças transmitidas por mosquitos, como a dengue”, doença com um surto registado desde final do ano nalgumas ilhas cabo-verdianas.
Serra Leoa
Ex-presidente Koroma enfrenta acusação O antigo Presidente da Serra Leoa, Ernest Bai Koroma, foi acusado de traição e três outros crimes devido ao seu alegado envolvimento numa tentativa falhada das forças de segurança de derrubar o Governo. Pelo menos 21 pessoas foram mortas e mais de 2000
prisioneiros escaparam quando homens armados atacaram um arsenal militar e invadiram prisões em Freetown, em 26 de Novembro. O Presidente Julius Maada Bio descreveu mais tarde o ataque como uma tentativa de golpe de Estado.
Nigéria
Diligências contra empresa da pessoa mais rica de África
Guiné Equatorial
FMI: Perspectivas pouco optimistas A economia da Guiné Equatorial continua confrontada com um declínio contínuo na produção de petróleo, nota o FMI. A economia deve cair numa recessão profunda, com uma queda estimada de 8,8% na actividade económica, em 2023. As perspectivas de crescimento a curto e médio prazo “parecem desafiantes” com a redução prevista na produção de petróleo e o fraco desempenho da economia não petrolífera, devido a fragilidades estruturais. Prevê-se que o PIB contraia 5,5% em 2024, e que a economia permaneça em recessão no médio prazo. Esta perspectiva está sujeita a incerteza, e os riscos permanecem no sentido descendente, incluindo o esgotamento mais rápido do que o previsto das reservas de petróleo, a diminuição da procura de hidrocarbonetos, num contexto de aceleração da transição global para emissões líquidas zero, e atrasos na implementação de reformas políticas importantes.
Namíbia A empresa do bilionário Aliko Dangote criticou a visita da comissão anti-corrupção da Nigéria aos seus escritórios, em Lagos, e disse que a medida teve como objectivo causar “embaraço”. “Nenhuma acusação de irregularidade” foi feita, afirmou o Grupo Dangote. A investigação faz parte de uma mais ampla sobre o mandato de Godwin Emefiele, antigo chefe do Banco Central da Nigéria. É vista também
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como um aviso de que o Presidente Bola Tinubu (empossado em Maio de 2023) está disposto a enfrentar tudo e todos para colocar a economia nos eixos. No entanto, a investida contra Dangote está a causar pânico nas administrações, numa altura em que os pesos pesados GSK e Procter & Gamble estão entre os que podem vir a reduzir a sua exposição ao país. Outros podem hesitar em investir.
TotalEnergies aposta em blocos petrolíferos A TotalEnergies vai aumentar a participação em dois blocos petrolíferos da Namíbia, um “passo fundamental” para o desenvolvimento do campo ‘Vénus’ ao largo da costa sudoeste africana. A empresa francesa e a Shell fizeram grandes descobertas sob as águas da Namíbia, aumentando as esperanças de transformar a economia do país, escassamente povoado. Separadamente, a exploradora portuguesa Galp disse ter encontrado uma “coluna significativa” de petróleo leve numa área licenciada perto das descobertas da Shell e da TotalEnergies. www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
Etiópia
Resgate financeiro? Autoridades enfrentam decisão difícil As autoridades etíopes enfrentam uma decisão difícil, mas aparentemente necessária para obter um resgate financeiro do FMI, fundamental para a reestruturação da dívida do país: permitir ou não que a sua moeda enfraqueça e correr o risco de provo-
car uma inflação mais elevada e instabilidade social. Uma missão do FMI a Adis Abeba é esperada nas próximas semanas, com o tempo a esgotar-se nas negociações para um acordo que, como noutros países, inclui reformas monetárias.
Etiópia e Somália
Tensões sobre acesso ao mar pela Somalilândia semeiam incerteza A União Africana e os EUA apelaram à Etiópia e à Somália para acalmarem as tensões sobre um acordo de arrendamento de terras. O conflito diplomático eclodiu depois de a Etiópia, a nação sem costa marítima mais populosa do mundo, ter assinado um pacto com a Somalilândia, um enclave separatista da Somália, para garantir o acesso ao Mar Vermelho. A Somália rejeitou o acordo, descrevendo-o como “um acto de agressão contra a soberania e integridade territorial da Somália”.
Zâmbia
Zimbabué
A Zâmbia atrasou o início do ano lectivo na sequência de um aumento de mortes relacionadas com a cólera. A reabertura de escolas foi suspensa pelo menos até início de Fevereiro, como parte das medidas para conter um surto da doença que infectou mais de 4000 pessoas e matou 150 em todo o país. A doença bacteriana, curável e com vacinas disponíveis, propaga-se em meios sem saneamento básico: causa desidratação grave por vómitos e diarreia e pode matar em poucas horas, se não for tratada.”
O dólar do Zimbabué começou o novo ano com uma forte desvalorização, ao cair mais de 40% no mercado paralelo, à medida que a elevada procura de divisas continua a superar a oferta. Uma série de factores, incluindo o fim das vendas de tabaco e um abrandamento dos preços globais das matérias-primas, afectaram a entrada de dólares americanos no país da África Austral, provocando uma espiral na sua taxa de câmbio, disse Persistence Gwanyanya, membro do comité de política monetária do Banco Central.
Aumentam mortes relacionadas com cólera
Moeda começa novo ano a perder mais de 40%
África do Sul
Escassez de habitação sem precedentes Joanesburgo enfrenta uma escassez de habitação sem precedentes, com 400 mil famílias numa lista de espera que se estende por décadas. A incapacidade de a maior cidade da África do Sul fornecer habitação a pessoas com baixos rendimentos já forçou dezenas de milhares de pessoas a viverem nos mais de 600 edifícios www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
alegadamente sequestrados, que povoam o outrora próspero centro da cidade – tudo serve como solução, desde arranha-céus abandonados a edifícios de escritórios e fábricas abandonados. Mais um sinal das dificuldades que o país atravessa, a par do défice de energia eléctrica e falhas nos escoamento de mercadorias.
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RADAR ÁFRICA
E os Maiores Bilionários do Mundo São... O sul-africano Elon Musk, dono da Tesla e da rede social X (ex-Twitter), entre outras marcas, entrou em 2024 com o estatuto de homem mais rico do mundo, destronando o francês Bernard Arnault, fundador do grupo de marcas de luxo LVMH. Na lista de 500 bilionários da revista Bloomberg há seis africanos, entre os quais se destaca o nigeriano Aliko Dangote Texto Jaime Fidalgo • Fotografia D.R
O
ano de 2023 foi excelente para os bilionários. Segundo o Bloomberg Billionaires Index, publicado anualmente, em Janeiro, as dez personalidades mais ricas do mundo viram a sua fortuna colectiva aumentar em 465 mil milhões de dólares, ou seja, mais 46%. A maior subida foi a do número um desta lista, Elon Musk, dono da rede social X (ex-Twitter), da Tesla e da Space X, entre outras marcas, cuja fortuna pessoal cresceu de 137 para 229 mil milhões de dólares, desde a edição de Janeiro de 2023. Outro incremento assinalável foi o de Mark Zuckerberg, fundador da Meta (que inclui Facebook, Instagram e Whatsapp) cujo património passou de 45,6 para 128 mil milhões de dólares. Até alguns dos bilionários que todos os anos doam parte da sua fortuna viram o património expandir-se na classificação deste ano. É o caso do megainvestidor Warren Buffett que, apesar de ter doado cerca de cinco mil milhões de dólares em Julho de 2003 e mais 870 milhões de dólares em Novembro, registou um aumento de 13 mil milhões. Em relação à lista de 2024, o sul-africano Elon Musk destronou o francês Bernard Arnault (dono do grupo LVMH que engloba marcas de luxo como Louis Vuitton, Christian Dior, Givenchy, Dom Pérignon, Veuve Clicquot, Tag Heuer e Tiffany & Co) do primeiro lugar, ao passo que a terceira posição continua a ser ocupada por Jeff Bezos, fundador da
Amazon. No quarto lugar surge Bill Gates, o fundador da Microsoft, que foi o homem mais rico do mundo de 1995 a 2017, altura em que resolveu doar metade da fortuna à The Gates Foundation. Em quinto, Steve Balmer, ex-CEO da Microsoft e actual dono da famosa equipa de basquetebol Los Angeles Clippers. Segue-se Zuckerberg, proprietário das maiores redes sociais do planeta. Larry Page e Sergey Brin, os co-fundadores da Google, ocupam a sexta e oitava posições. Entre eles está Larry Ellison, fundador da Oracle, e no décimo lugar surge Warren Buffett, chairman da Berkshire Hathaway. Os mais ricos de África O Bloomberg Billionaires Index 2024 inclui seis africanos entre os 500 mais ricos do mundo. Elon Musk, apesar de ter nascido em Pretória, consta na lista como norte-americano (que é uma das suas nacionalidades a par das sul-africana e canadiana), pelo que o homem mais rico de África é o nigeriano Aliko Dangote, que ocupa o 124.º lugar no ranking e é dono do conglomerado industrial Dangote Industries. O grupo inclui a maior produtora de cimento da África Subsaariana (Dangote Cement) e outras empresas dos sectores do açúcar, sal, petróleo, fertilizantes e alimentos. No segundo lugar de África (166.º da lista) está o sul-africano Johann Rupert que controla, através de um fundo familiar, a Richemont, a maior produto-
A maior subida foi a do número um desta lista, Elon Musk, cuja fortuna pessoal cresceu de 137 para 229 mil milhões de dólares
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ra mundial de relógios de luxo, que tem no portefólio marcas como a Jaeger-LeCoultre e Cartier. Outra das suas holdings mais importantes é a investidora Remgro, com sede em Stellenbosch (Cidade do Cabo), que participa em mais 30 empresas. Em terceiro (227.º do mundo) surge outro sul-africano, Nicky Oppenheimer, cuja família construiu um império ligado a diamantes. Em 2012 vendeu a participação de 40% na De Beers ao grupo mineiro Anglo American por 5,2 mil milhões de dólares. Hoje é dono da Stockdale Street, com sede em Londres, e da Tana Africa Capital, em Joanesburgo, através das quais investe em África, Ásia, Europa e Estados Unidos. Natie Kirsh, mais um sul-africano (com dupla nacionalidade, de Essuatíni, ex-Suazilândia, onde lidera vários projectos de filantropia), surge no 360.º lugar. É dono do Kirsh www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
O ANO LOUCO DO HOMEM MAIS RICO DO MUNDO
Os 10 mais ricos do mundo Norte-americanos do sector tecnológico dominam a lista Nome
Fortuna (*)
País
Actividade
1. Elon Musk
229 B
Estados Unidos
Tecnologia
2. Bernard Arnault
179 B
França
Luxo
3. Jeff Bezos
177 B
Estados Unidos
Tecnologia
4. Bill Gates
141 B
Estados Unidos
Tecnologia
5. Steve Ballmer
131 B
Estados Unidos
Tecnologia
6. Mark Zuckerberg
128 B
Estados Unidos
Tecnologia
7. Larry Page
126 B
Estados Unidos
Tecnologia
8. Larry Ellison
123 B
Estados Unidos
Tecnologia
9. Sergey Brin
120 B
Estados Unidos
Tecnologia
10. Warren Buffett
120 B
Estados Unidos
Investimentos
(*) Valores em mil milhões de dólares (billions, em inglês), a 2 de Janeiro de 2024 Fonte: Bloomberg Billionaires Index (actualizado diariamente)
www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
Elon Musk é o empresário mais controverso da actualidade. Dono de uma personalidade única que mistura um carácter obsessivo, megalómano, impulsivo e determinado com um comportamento excêntrico, egocêntrico e errático. Quem o conhece bem diz que Elon Musk tem tanto de génio visionário, como de narcisista louco. Não surpreende, por isso, que a sua biografia, escrita por William Isaacson e lançada em Setembro de 2023, continue a liderar o top de livros mais vendidos da New York Times, um fenómeno que a recente ascensão ao trono de “homem mais rico do mundo” deverá acentuar ao longo de 2024. Polémicas à parte, grande parte da explicação para o aumento da fortuna de Elon Musk tem que ver com as nações que detém na fabricante de veículos eléctricos Tesla, a líder global deste segmento, cuja cotação em bolsa subiu 129,8%, fechando 2023 com um valor de mercado de 102 mil milhões de dólares. Outra das suas participações mais importantes é na Space X, a primeira empresa do mundo a vender um voo comercial à Lua e cuja unidade mais lucrativa é a oferta de Internet por satélite, que fez disparar o valor da empresa para 53,2 mil milhões de dólares. As outras grandes aventuras empresariais de Musk são a The Boring Company, que se dedica à construção de túneis subterrâneos (3,3 mil milhões de dólares), a Neurolink, empresa de vanguarda na Neurotecnologia e Inteligência Artificial (5 mil milhões de dólares) e a mais polémica e mediática X Corp, dona da rede social “X” (ex-Twitter), hoje avaliada em 9,3 mil milhões de dólares, 72% abaixo do valor de aquisição em Outubro de 2022. Apesar da sua riqueza patrimonial ter aumentado, as declarações polémicas, os despedimentos, os controversos métodos de gestão e a fuga de investidores publicitários da rede social X têm alimentado rumores de uma possível falência da empresa ou até de uma alegada falta de liquidez de Elon Musk. Para desmentir tais boatos, o próprio assinou um post, no final do ano passado, na sua rede social, no qual se gabou de ganhar cerca de 142,7 mil dólares por minuto.
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Os 5 mais ricos de África África do Sul tem mais entradas, mas o número um é nigeriano Nome
Fortuna (*)
País
Atividade
124.º Aliko Dangote
15.4 B
Nigéria
Cimento, Açúcar
166.º Johann Rupert
12.0 B
África do Sul
Luxo
227.º Nicky Oppenheimer
9.75 B
África do Sul
Diamantes
290.º Nassef Sawiris
8.23 B
Egipto
Construção
320.º Natie Kirsh
7.48 B
África do Sul
Cash & Carry
(*) Valores em mil milhões de dólares (billions, em inglês), a 2 de janeiro de 2024 Fonte: Bloomberg Billionaires Index (actualizado diariamente)
Group que controla a Jetro Holdings que detém, entre outras, as cadeias Restaurant Depot e Jetro Cash & Carry nos Estados Unidos. Na classificação dos 500 homens mais ricos do mundo estão também dois egípcios. O melhor colocado é Nassef Sawiris (290.º) que detém 39% da OCI, produtora de fertilizantes com sede nos Países Baixos, criada a partir da empresa familiar Orascom Construction, fundada pelo seu pai, Onsi Sawiris. Outras participações importantes são os 7% que possui na alemã Adidas, os 6% na norte-americana MSG Sports, dona da equipa de basquetebol New York Knicks, e os 5% na empresa química francesa Arkema. O seu irmão Naguib Sawiris surge na lista
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O Bloomberg Billionaires Index 2024 inclui seis africanos entre os 500 mais ricos do mundo: o homem com maior fortuna em África é o nigeriano Aliko Dangote, que ocupa o 124.º no ranking global
no 408.º lugar, graças aos investimentos internacionais efetuados através da La Mancha Resources, com sede no Luxemburgo, que detém participações em várias empresas mineiras. A mulher mais afortunada No que se refere aos mais ricos da Ásia, o indiano Mukesh Ambani, dono do conglomerado de energia Reliance Industries, mantém-se no topo (12.º a nível global) com um património de 96,3 mil milhões de dólares, seguido a curta distância do compatriota Gautam Adani (14.º), chairman do Adani Group, que se dedica a operações portuárias. O mais rico da América Latina é o mexicano Carlos Slim (11.º) que fez fortuna nas telecomunicações, sendo o propeitário da América Móvil. Procurando na lista as mulheres mais ricas do mundo, surge primeiro a francesa Françoise Bettencourt Meyers, neta de Eugene Schuelle, fundador do império global de cosmética L´Oreal, que ocupa a 13.ª posição no ranking geral com uma fortuna avaliada em 99,7 mil milhões de dólares. Por países conclui-se que o maior número de bilionários está nos Estados Unidos (representa mais de um terço dos bilionários), seguindo-se a China (com 70, se incluirmos a região económica especial de Hong Kong), Rússia (25), Índia (23) e Alemanha (20), que é o país com mais bilionários na Europa. www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
OPINIÃO
Yara Chau • Comercial na InSite
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oçambique enfrenta diversos desafios económicos que exigem soluções inovadoras e estratégias bem delineadas. A prestação de serviços com qualidade afirma-se como um pilar crucial para impulsionar o desenvolvimento económico e captar o interesse de investidores estratégicos. Assume um papel vital no desenvolvimento económico do País, gerando empregos e influenciando áreas-chave como o Turismo, Tecnologia, Saúde e Educação, entre outras. A adopção de boas práticas na prestação de serviços é crucial para garantir a satisfação e fidelização do cliente e construir uma reputação sólida. Um elemento essencial é a comunicação eficaz, contribuindo para a correspondência entre os serviços solicitados e os disponibilizados, estabelecendo uma base consistente para uma relação de confiança entre o prestador de serviços e o cliente. Personalizar os serviços é uma prática cada vez mais importante, significando adaptar os serviços de acordo com as necessidades, demonstrando um compromisso real em satisfazer ou exceder as expectativas do cliente. Isso inclui ajustar produtos, oferecer opções flexíveis e ter em consideração o feedback dos clientes. Ser empático e compreender as necessidades do cliente são outros elementoschave para ter sucesso. É também importante ser constante na qualidade do produto/serviço prestado. Estabelecer níveis de qualidade, formar continuamente a equipa e rever regularmente os processos são estratégias eficazes para manter essa consistência. A preocupação com a experiência do cliente é um aspecto-chave. Criar uma experiência positiva vai além da entrega do serviço principal e envolve o contacto com o cliente a todos os níveis, desde a facilidade no processo de contratação até ao suporte pós-compra. Investir em tecnologias que melhorem a experiência do cliente, como plataformas de atendimento ao
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Importância da Gestão de Reclamações na Prestação de Serviços mesmo e feedback regular, é uma prática cada vez mais valorizada. Um dos grandes desafios que Moçambique enfrenta está relacionado com a infra-estrutura limitada, que tem um impacto significativo na prestação de serviços essenciais e, consequentemente, no ambiente de negócios. A insuficiência de estradas, de redes de energia, telecomunicações e outras infra-estruturas chave cria obstáculos significativos, que afectam não apenas a qualidade de vida, mas também o funcionamento das organizações, comprometendo a eficiência na entrega de produtos e serviços. Adicionalmente, as empresas enfrentam desafios operacionais devido à inexistência de infra-estruturas ro-
A prestação de serviços aquém das expectativas dos clientes traduz-se em insatisfação e pode levar à apresentação de reclamações e perda de clientes bustas que garantam a oferta constante para atender às necessidades dos clientes. A prestação de serviços aquém das expectativas dos clientes traduz-se em insatisfação. Essa insatisfação poderá resultar na apresentação de reclamações, perda de clientes e, eventualmente, prejuízos do ponto de vista legal, financeiro, reputacional, entre outros. Culturalmente, e de forma geral, não há, em Moçambique, o hábito de reclamar perante serviços mal prestados. Ainda assim, felizmente, a tendência tem sido de aumento da exigência, à medida que a população vai conhecendo os seus direitos, e tendo também acesso a canais para exposição da sua insatisfação, como, por exemplo, nas redes sociais.
Considera-se importante a existência de canais oficiais através dos quais possamos manifestar as nossas reclamações às entidades reguladoras, que tenham responsabilidade sobre os diversos sectores de actividade. As entidades reguladoras deverão ter recursos que permitam que a gestão das reclamações seja rápida, eficaz e transparente. Adicionalmente, os operadores deverão encarar esta gestão como um processo que tem como objectivo resolver um problema num serviço mal prestado ou com um produto defeituoso, sendo necessário reverter a opinião formulada pelo cliente. A gestão de reclamações é um elemento vital para o bom funcionamento das empresas, desempenhando um papel fundamental na construção de relações sólidas com os clientes e na manutenção de uma reputação positiva. Clientes insatisfeitos representam potenciais perdas significativas se as reclamações não forem tratadas adequadamente. A resposta pronta e eficaz às reclamações oferece às empresas a oportunidade de transformar experiências negativas em positivas, contribuindo para a lealdade do cliente. Paralelamente, as reclamações fornecem informações valiosas sobre áreas que poderão necessitar de melhorias. Ao analisá-las, às reclamações, as empresas poderão fazer ajustes para melhorar a qualidade dos seus produtos e serviços, demonstrando compromisso com a excelência. Cada mercado tem características únicas, e as reclamações reflectem frequentemente as expectativas locais. Compreendê-las e abordá-las permite que as empresas se adaptem melhor às necessidades dos consumidores locais, ganhando assim vantagem competitiva. Em síntese, a gestão eficiente de reclamações atende, não apenas a normas e regulamentações, mas também demonstra o compromisso das empresas, crucial para construir relações positivas com entidades reguladoras e com a sociedade em geral. www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
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“Valorizar o Talento Local é o Nosso Compromisso para 2024” Com uma visão macro sobre um dos temas que marcam a agenda do ano, a alteração à Lei do Trabalho, que entra em vigor neste mês de Fevereiro, Vicente Sitoe, executive-director e partner da SDO, aponta caminhos naquele que se apresta como um ano decisivo para o segmento dos Recursos Humanos em Moçambique, e fala, claro, dos objectivos da SDO para 2024 TEXTO Redacção • FOTOGRAFIA Mariano Silva
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om as expectativas do sector da Consultoria em Recursos Humanos centradas na implementação da nova Lei de Trabalho, a 21 de Fevereiro, sem esquecer a eventual retoma dos projectos de petróleo e gás, e não desviando o olhar dos outros temas recorrentes, como a internacionalização da mão-de-obra local, a tendência crescente da adopção da Inteligência Artificial nos processos de recrutamento e a eficiência e a taxa de sucesso das colocações, Vicente Sitoe mostra-se optimista para o que aí vem, mas não deixa de ressalvar a necessidade de ampliar o debate em torno dos Recursos Humanos em Moçambique, nas suas mais variadas vertentes e ligações com todos os sectores da economia nacional. Num ano decisivo, a vários níveis, para Moçambique, nomeadamente com a entrada em vigor da nova Lei do Trabalho, quais são as suas perspectivas para 2024? Agora que o ano de 2024 começa, no sector de Consultoria em Recursos Humanos, as atenções estão viradas para três projectos ou actividades fundamentais, nomeadamente a entrada em vigor, neste mês de Fevereiro (dia 21), da nova Lei de Trabalho e, depois, a retoma dos projectos de petróleo e gás prevista para meados do ano. Por fim, a assinatura de protocolos que permitirão a colocação da mão-de-obra nacional no estrangeiro. Enquanto a primeira configura um dado adquirido e inadiável, as outras
duas continuam dependentes de uma série de condicionalismos e factores que não nos permitem ser muito optimistas. A entrada em vigor da nova Lei de Trabalho vai trazer, para as organizações, o desafio da harmonização dos regulamentos internos e demais instrumentos de conduta para se conformarem a esta lei. Mas também, traz vários desafios ao próprio legislador, dos quais destaco a urgente necessidade da revisão pontual do decreto que aprova o Regulamento de Segurança Social Obrigatória, para acomodar os agora aprovados noventa dias da licença por maternidade, bem como a urgente necessidade de elaboração e aprovação do Regulamento sobre o Teletrabalho, que permitirá às empresas regular questões como o horário de funcionamento em teletrabalho e saber, por exemplo, quais os acidentes que, ao acontecerem com o trabalhador que esteja em teletrabalho, configuram acidentes de trabalho e, consequentemente, cobertos pelo respectivo seguro. E, depois, há esse factor propulsor da economia, que são os megaprojectos de gás natural em Cabo Delgado e que irão pressionar, digamos assim, a procura de talento. Qual é a sua visão sobre esta matéria? A retoma dos projectos de gás, a acontecer, aumentará a procura pela mão-de-obra especializada, que já é escassa, e tornará a empurrar a massa laboral, pelo menos a crítica, para o norte do País. Nós temos estado a aprimorar a nossa base de dados e a firmar parcerias estratégicas, principalmente com ins-
“Já houve uma época em que a área de RH era dominada pelo expertise internacional. No presente, a área amadureceu o suficiente para caminhar com o conhecimento e talento locais”
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tituições de ensino, para podermos ter uma fonte segura de talentos. E também para garantir que estas previstas oportunidades de trabalho beneficiem, em primeiro lugar, o talento local em diversos níveis. Todavia, estamos também cientes e atentos à mobilização da mão-de-obra estrangeira para o País, que sempre advogámos dever ser efectuada por via das agências privadas de emprego que preencham os requisitos de conteúdo local. Por fim, e em relação aos protocolos de cooperação, continuamos a aguardar o sinal das autoridades competentes para que possamos iniciar com os trabalhos de triagem e mapeamento da mão-de-obra. Estamos confiantes que as devidas ressalvas serão tomadas nestes protocolos para evitar a fuga de cérebros, bem como para proteger a nossa mão-de-obra no estrangeiro contra quaisquer tipos de abuso. Se tivéssemos de fazer um ponto de situação sobre o que é hoje a área dos Recursos Humanos em Moçambique, qual seria? Já houve uma época em que a área de Recursos Humanos em Moçambique era dominada pelo expertise internacional. No presente, podemos afirmar que a área amadureceu o suficiente para caminhar com o conhecimento e talento locais. Isso é muito bom porque valoriza o capital nacional e mostra que temos vindo a aprender e a assumir cargos de maior responsabilidade na gestão de pessoas. Em relação ao sector de Consultoria em Recursos Humanos, diz-se também o mesmo. Apesar da proliferação e surgimento, a cada dia e de forma aparentemente pouco estruturada, de empresas que prestam estes serviços, as empresas tradicionais continuam a inovar e a prestar serviços com padrões internacionais – factor que as mantém ainda relevantes e dominantes no mercawww.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
CV
Vicente Sitoe tem uma vasta experiência em temas como a gestão estratégica de Recursos Humanos, tendo trabalhado nos sectores público e privado, contando com passagens pela EY e pela SDO, na qual ocupa o cargo de Director Executivo desde 2022, sendo também partner desta consultora que actua, há mais de uma década, nas áreas de Gestão, Negócios e de Gestão do Capital Humano.
do. E estas empresas, tal como nós na SDO Moçambique, apostam fortemente no capital humano nacional. Fazemos isso porque acreditamos bastante que, apesar de trazermos padrões internacionais, estes precisam de ser implementados nos nossos clientes por uma equipa aculturada à realidade moçambicana. Por outro lado, quero destacar o crescente interesse e constante solicitação das empresas pelos serviços de consultoria em Recursos Humanos. Se até há bem pouco, as empresas centralizavam internamente todas as actividades relacionadas com a gestão do seu capital humano, nos dias que correm o cenário mudou. As empresas aperceberam-se de que poupam tempo e recursos e ganham qualidade e imparcialidade ao mobilizar prestadores de serviços na área do capital humano. E esta é a nossa maior oferta de valor para todos os Clientes. Com o advento da Inteligência Artificial a entrar em diferentes áreas de actividade, já a utilizam para recrutar. E em que aspecto? Na triagem, por exemplo? Na SDO Moçambique já usamos a Inteligência Artificial (IA) nos proceswww.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
sos de recrutamento e selecção e na gestão da bases de dados. A tecnologia que contratámos permite-nos, entre várias tarefas, elaborar Perfis de Função em pouco tempo e de forma automática. Estes Perfis de Função são, depois, enviados aos Clientes para comentários e validação antes de serem lançados como anúncios de vagas. Na triagem também recorremos à IA que, a partir de determinados filtros colocados à medida de cada vaga, nos permite elaborar a longlist que será, então, submetida às entrevistas preliminares para confirmação das questões curriculares e motivacionais. É por isso que parámos de receber candidaturas físicas e recomendamos sempre que os candidatos submetam as aplicações por via das nossas plataformas digitais, porque o sistema categoriza imediatamente cada perfil que entra, com base na formação académica, anos de experiência, cargos assumidos, local de residência, entre outros. O recurso a esta tecnologia permitiu-nos reduzir o tempo de recrutamento de quatro para duas semanas, sem perder a qualidade e mantendo a assertividade. A nossa taxa de sucesso anda per-
to de 90%, o que significa que, na maioria dos casos, na primeira shortlist que enviamos, os clientes escolhem sempre uma pessoa para ocupar a vaga. E o último aspecto que quero destacar na introdução da IA nestes processos é o feedback. É, talvez, aqui onde marcamos a maior diferença. No final de cada processo, assim que recebemos luz verde dos clientes, a nossa equipa trata imediatamente de emitir os feedbacks a todos candidatos e estes vão personalizados. Há algumas tendências novas a destacar na área de RH em Moçambique? Estes eventos, mais do que servir para o nosso alinhamento enquanto profissionais de Recursos Humanos e para a partilha das melhores práticas, servem para orientar os jovens profissionais, de diferentes sectores de actividades, no caminho a percorrer para a sua integração no mercado de trabalho e para os desafios de uma carreira a idealizar e construir. Fazemos isso porque acreditamos que a mentoria é uma metodologia global e funciona sempre quando se pretende incentivar o desenvolvimento de uma próxima geração de líderes.
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SHAPERS | THOMAS MALTHUS
A Controversa Relação Entre Pressão Populacional e Pobreza Será verdade que uma economia com pouca gente tem melhor capacidade de gerir e distribuir bens e serviços que assegurem a prosperidade das famílias? Ou isso pode configurar, a médio e longo prazo, uma crise de mão-de-obra necessária para promover o crescimento? Thomas Malthus tem uma explicação que é, até hoje, válida. O que diz? Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R
E
m meados do ano passado, o Governo moçambicano sugeriu a diminuição da taxa de natalidade para apoiar a redução da pobreza. Através de um relatório, o Ministério da Economia e Finanças (MEF) apontou que, em cada 250 pessoas em idade activa, 100 são dependentes de terceiros para atender às suas próprias necessidades básicas. Nesse documento, o Governo deixa claro que a idade precoce da primeira gravidez e o elevado número de filhos por mulher (cinco), quando comparado com países mais desenvolvidos, está por trás do fracasso das estratégias de desenvolvimento no País. Ou seja, enquanto para o Fundo Monetário Internacional (FMI) a pobreza é agravada por factores sociais, culturais e políticos (entre os quais a instabilidade política e a violência), na óptica do Governo, sobrepõe-se a isso a elevada dependência económica. Isto é, não é possível reduzir a pobreza enquanto os Moçambicanos continuarem a ter muitos filhos, o que contribui para o aumento da população improdutiva a uma taxa superior à do crescimento económico. Correcta ou não a leitura feita pelo Executivo, dúvidas não há de que esta questão (controversa) é discutida há séculos, dentro da chamada Teoria Malthusiana, o que vem demonstrar que nenhum pensamento económico pode ser tão antigo ao ponto de cair em desuso.
O que diz Thomas Malthus? Em 1798, Malthus publicou, anonimamente, a primeira edição de um ensaio com um longo título: “An Essay on the Principle of Population as It Affects the Future Improvement of Society, with Remarks on the Speculations of Mr. Godwin, M. Condorcet, and Other Writers” (um ensaio sobre o princípio da população e como esta afecta a melhoria da qualidade de vida futura da sociedade, com observações sobre as especulações de Godwin, M. Condorcet e outros escritores). A obra foi amplamente divulgada. De forma breve, mas marcante, Malthus argumentou que as infinitas esperanças humanas de felicidade social devem ser vãs, pois a população sempre tenderá a superar o crescimento da produção. Segundo Malthus, o aumento da população ocorrerá, se não for controlado, numa progressão geométrica, enquanto os meios de subsistência aumentarão apenas numa progressão aritmética. A população expandirse-á sempre até ao limite da subsistência. Só o “vício” (incluindo “a prática da guerra”), a “miséria” (incluindo a fome ou a falta de alimentos e a falta de saúde) e a “contenção moral” (isto é, a abstinência) poderiam travar este crescimento excessivo. Ao contrário de Godwin (ou, antes, de Rousseau), que encarava os assuntos humanos de um ponto de vista teórico, Malthus era, essencialmente, um empirista e tomava como ponto de partida as duras reali-
Apesar do debate, a teoria malthusiana da população foi incorporada nos sistemas teóricos da economia. Funcionou como um travão ao optimismo económico
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dades do seu tempo. A sua reacção desenvolveu-se na tradição da economia britânica, que hoje seria considerada sociológica. Uma visão pessimista Malthus era um pessimista económico, que via a pobreza como o destino inevitável da humanidade. O argumento da primeira edição da sua obra sobre a população é essencialmente abstracto e analítico. Após mais leituras e viagens pela Europa, Malthus produziu uma edição subsequente (1803), expandindo o longo panfleto de 1798 num livro mais extenso, acrescentando informações e ilustrações à sua tese. O sociólogo e demógrafo americano do século XX, Kingsley Davis, observou que, embora as teorias de Malthus assentassem numa forte base empírica, tendiam a ser mais fracas no seu empirismo e mais fortes na sua formulação teórica. O que estaria em causa? Em nenhum momento expôs adequadamente as suas premissas ou examinou a sua lógica. Terá também faltado rigor no tratamento da informação que usou, apesar de os gabinetes estatísticos na Europa e na Grã-Bretanha terem desenvolvido técnicas cada vez mais sofisticadas durante a vida de Malthus. Para o bem ou para o mal, a teoria malthusiana da população foi, no entanto, incorporada nos sistemas teóricos da economia. Funcionou como um travão ao optimismo económico, ajudou a justificar uma teoria dos salários baseada no custo mínimo de subsistência do assalariado e desencorajou as formas tradicionais de caridade. O impacto A teoria malthusiana da população teve um impacto forte e imediato na política social britânica. Na altura, www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
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THOMAS MALTHUS
O economista e demógrafo inglês nasceu em Fevereiro de 1766 e faleceu a 29 de Dezembro de 1834. Em 1805, tornou-se professor de História e Economia Política no colégio da Companhia das Índias Orientais, em Haileybury, Hertfordshire. Foi a primeira vez na Grã-Bretanha que as palavras “economia” e “política” foram utilizadas para designar um cargo académico. Em 1819, Malthus foi eleito membro da Royal Society; em 1821, aderiu ao Political Economy Club, cujos membros incluíam o também economista britânico David Ricardo e o economista escocês James Mill; e, em 1824, foi eleito um dos dez associados reais da Royal Society of Literature. Em 1833, foi eleito para a Académie des Sciences Morales et Politiques e para a Academia Real de Berlim. Malthus foi um dos co-fundadores, em 1834, da Statistical Society of London.
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a fertilidade era vista como factor de promoção da riqueza nacional; as Leis dos Pobres talvez incentivassem as famílias numerosas com as suas ajudas e, “se nunca tivessem existido”, escreveu Malthus, “embora pudesse ter havido mais alguns casos de grave aflição, a massa agregada de felicidade entre o povo comum teria sido muito maior do que é actualmente”. Estas leis limitavam a mobilidade do trabalho e favoreciam a fecundidade, pelo que deviam ser abolidas, justificou. Para os mais desafortunados, seria razoável criar casas de trabalho – não “asilos confortáveis”, mas locais onde “a alimentação deveria ser dura” e “a angústia grave... encontraria algum alívio”. Uma crítica fundamental a Malthus foi o facto de não ter apreciado a revolução agrícola britânica em curso, que acabou por fazer com que a produção de alimentos igualasse ou excedesse o crescimento da população e tornou possível a prosperidade de um maior número de pessoas. Malthus também não previu o uso generalizado de contraceptivos, que provocou um declínio na taxa de fertilidade.
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M&F | GESTÃO FINANCEIRA
Quais as Grandes Preocupações dos Gestores da Banca e Seguros? Mudanças regulatórias frequentes, sustentabilidade e transformação digital estão entre as principais preocupações dos directores financeiros detalhadas num inquérito da Ernst & Young (EY). São temas que podem determinar alterações em investimentos, a médio prazo. Saiba em que situações os gestores se sentem verdadeiramente desafiados na hora de tomar decisões. Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R
A
consultora Ernst & Young (EY) lançou os resultados do primero “Chief Financial Officer (CFO, director financeiro) Survey Moçambique”, um inquérito baseado num questionário online dirigido aos responsáveis da área em bancos e seguradoras do País. O objectivo é reflectir sobre as preocupações e fornecer uma visão sobre os desafios actuais e futuros do que se designa, nesta pesquisa, por função financeira (que pode ser detida pelos directores executivos). Foram inquiridos, no total, 22 bancos e 15 seguradoras, totalizando 37 instituições entre Agosto e Outubro do ano passado, respondendo a 20 perguntas. Mas qual é a finalidade ou o alcance de um estudo desta natureza? Na nota introdutória, Eduardo Caldas, assurance partner da EY Moçambique, começa por explicar que, no mundo, e particularmente na Europa, a digitalização bancária e as políticas monetárias são temas-chave. Por outro lado, a busca por resiliência e a inovação são fundamentais para enfrentar as mudanças económicas globais. De acordo com o responsável, é neste cenário que os CFO enfrentam desafios significativos que moldam a sua actuação, no sentido de garantirem a estabilidade e o su-
cesso financeiro das instituições que representam. É também num contexto de gestão de riscos em ambientes voláteis, adaptação a mudanças regulatórias e optimização de processos com tecnologias emergentes, que a EY procura, através do “CFO Survey”, recolher as perspectivas dos CFO sobre desafios actuais e futuros. Complexidade da regulação está no topo dos desafios A pesquisa concluiu que 75% dos CFO estão preocupados com o aumento da complexidade regulatória e do escrutínio pelos supervisores, no caso, o Banco de Moçambique e o Instituto de Supervisão de Seguros de Moçambique (ISSM). Ou seja, estes CFO entendem que há mudanças regulatórias frequentes no sector bancário e segurador, reflexo do esforço contínuo para fortalecer a estabilidade financeira e proteger os interesses dos clientes. Tais alterações abrangem desde requisitos de divulgação mais rigorosos até adaptações às normas internacionais, criando um ambiente onde a conformidade é um desafio constante. No entanto, e apesar de 75% admitirem dificuldades em lidar com a complexidade dos aspectos regulatórios, o inquérito da EY concluiu que apenas me-
Os CFO entendem que há mudanças regulatórias frequentes no sector bancário e segurador, criando um ambiente onde a conformidade é um desafio constante
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tade dos CFO prevê maiores investimentos em acções que visem a conformidade regulamentar da sua instituição. Deste modo, e na qualidade de consultora, a EY defende que “a adopção de mecanismos de resposta e reporte ágil ao regulador podem apoiar a conformidade e aumentar a eficiência” das instituições, aliviando a pressão que recai sobre os gestores financeiros. Deficiências na transformação digital Outro desafio é a rápida onda de transformação digital no sector financeiro, que exige que os CFO liderem a adopção de tecnologias inovadoras, ao mesmo tempo que garantem a segurança e a eficiência operacional. A este respeito, mais de metade dos dirigentes das instituições financeiras inquiridas evidencia vulnerabilidades nas ferramentas e siswww.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
temas tecnológicos utilizados. Entretanto, todos assumem que um CFO precisa de aptidão tecnológica para ter sucesso – e que o investimento em tecnologias depende dessa capacidade dos directores financeiros. Para a EY, a tecnologia é fundamental para aumentar a eficiência e o controlo financeiro. Mas há aqui um factor contraditório e até certo ponto preocupante. É que, ao responder à pergunta “em que áreas planeia reduzir ou parar o investimento com o objectivo de alcançar metas financeiras (resultados) de curto prazo em 2024?”, um terço respondeu que planeia reduzir o investimento em tecnologia e inovação digital.
terço dos participantes admite cortes ou interrupção de investimentos nos mecanismos para assegurar a conformidade regulamentar. Entretanto, 67% dos participantes que avaliam a sua função financeira como estando abaixo da média, planeiam diminuir ou parar o investimento em talento e cultura organizacional. Em contraste, nenhum participante que considera a sua função acima da média tem planos de interromper investimento nestas matérias. De um modo geral, enquanto 57% dos bancos consideram reduzir ou parar o investimento no modelo operacional, esta percentagem sobe para 89% no caso das seguradoras.
Onde planeiam cortar investimentos para salvar o lucro? Além da tecnologia, igualmente um
Sustentabilidade em segundo plano Ainda no contexto da possibilidade de redução de investimento, os progra-
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mas ESG (sustentabilidade) não ficam de fora: mais de metade dos CFO planeia parar ou reduzir investimento nesta área para alcançar os objectivos financeiros no curto prazo - uma probabilidade maior na banca (71%) que no sector segurador (33%). Face a esta realidade, a EY defende que os CFO devem ter um contributo importante em matéria de sustentabilidade, nomeadamente através da sua integração na política de investimento e de financiamento. A concepção de produtos associados à sustentabilidade pode constituir uma característica diferenciadora na atracção de investimento. Mais investimentos na qualidade de informação “Ao nível da estratégia para a Função Financeira, em que componentes
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“Para enfrentar os seus desafios, os CFO precisam de entender os aspectos técnicos da gestão financeira e adoptar uma visão estratégica que os coloque no comando da adaptação contínua”, Eduardo Caldas, EY projecta mais investimento nos próximos três anos?”. Na resposta, metade dos CFO inquiridos refere a alteração da estrutura, das competências ou cultura da equipa e a conformidade regulamentar. Nos participantes que consideram o desempenho da função financeira acima de média (67%) há o dobro da probabilidade de haver mais investimento na qualidade da informação. Segundo a pesquisa, 67% dos participantes que consideram o desempenho da Função Financeira abaixo da média, prevêem mais investimento no processo de relato financeiro. Cinco dos participantes do sector bancário antecipam investimento na substituição do sistema central e contabilístico, enquanto apenas um participante do sector segurador identifica es-
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te aspecto. Por outro lado, 20% dos participantes do sector bancário prevêem mais investimento na revisão do modelo operacional da função financeira, enquanto nenhum participante do sector segurador assinala este tópico. Mudança de postura dos CFO O estudo supõe que os desafios de mercado podem sugerir mudanças na postura dos CFO de bancos e seguradoras. Tais mudanças trazem consigo algum grau de risco relativo ao desempenho da função financeira destes profissionais. Partindo do princípio de que mais de dois terços dos CFO prevêem alterações significativas, a pergunta colocada foi: “como caracterizaria o perfil de risco inerente às mudanças previstas para a sua função financeira nos próximos
três anos?” Apenas sete instituições projectam um nível de risco reduzido para as mudanças a implementar, prevendo apenas ajustes e aperfeiçoamentos a processos e tecnologias já existentes. A expectativa de efectuar alterações significativas à estrutura organizacional e, consequentemente, com risco mais elevado, é maior no sector bancário (79%) do que no sector segurador (56%). EY promete apoio estratégico aos CFO Em jeito de considerações finais, a EY, na voz do business consulting partner, Bruno Dias, considera necessário ajudar os CFO a orientarem as suas acções em função das dinâmicas do mercado. A complexidade regulatória (que é uma das maiores preocupações actuais), associada à política monetária e a soluções tecnológicas como a computação remota através da Internet (ou seja, na ‘nuvem’) vão necessariamente sentir-se, em breve, em Moçambique. Mas “o tema mais crítico são as pessoas e a sua capacitação face a estes novos paradigmas. Aqui, o discurso é transversal a todos os sectores e terá de haver trabalho conjunto”, sugere Bruno Dias. www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
CEO TALKS | RICARDO PEREIRA
Novas Ferramentas de IA: o Poder de Transformar Pessoas e Empresas Grandes marcas estão a investir cada vez mais em Inteligência Artificial (IA), considerando o seu papel transformador para o futuro do trabalho. Mas o que realmente muda com a IA nas empresas? Fique por dentro de parte deste mundo com Ricardo Pereira, CEO da PHC Software Texto Pedro Cativelos • Fotografia Mariano Silva & IstockPhoto
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PHC Software é uma multinacional de origem portuguesa dedicada ao desenvolvimento de software de gestão. Fundada em 1989, conta com mais de 200 colaboradores e mais de 400 parceiros certificados. Ultrapassou a fasquia dos 35 mil clientes, espalhados por 25 países, e mais de 150 mil utilizadores de software. A PHC tem escritórios em Lisboa e Porto (Portugal), Madrid (Espanha), Lima (Peru), Luanda (Angola) e Maputo. A empresa entrou em Moçambique no ano 2000 e tem estado a crescer neste mercado: no último ano, as vendas aumentaram 40%, a equipa duplicou e a rede de parceiros expandiu-se, passando a cobrir todo o País. A PHC Software apresentou, recentemente, uma assistente virtual denominada “Cris”. Trata-se de um tipo de IA generativa para gestão empresarial, que pode auxiliar no fluxo de trabalho diário, tanto nas áreas de compilação e análise de dados, como no preenchimento de formulários. A ferramenta é também capaz de criar soluções automáticas, feitas à medida de cada equipa, e abre um mundo de eficiência acrescida aos gestores, adaptada à realidade de cada organização. É sobre esta mais-valia tecnológica que fala o CEO da PHC Software, Ricardo Pereira, lançando um olhar sobre os impactos que a evolução das soluções de IA irão trazer para a transformação das empresas, das pessoas e da economia.
Quais são as diferentes utilidades da IA generativa? Quais as aplicações específicas e a relevância para os utilizadores, quer empresas, quer particulares? A IA generativa talvez esteja entre as tecnologias com mais impacto para as empresas, desde sempre, porque grande parte das tarefas desempenhadas com base no conhecimento das pessoas pode ser muitíssimo ampliada. É nisso que nós acreditamos: as pessoas podem fazer outras coisas, podem dedicar-se àquilo que fazem muito bem feito. Nós apresentámos dois estudos, um feito pela Harvard Business School e outro pelo MIT [Massachusetts Institute of Technology], a mostrar que, em determinadas tarefas, podemos ser até 37% mais rápidos e 40% melhores na execução de tarefas. Concretamente, em Moçambique, como é que esta tecnologia pode ser capitalizada, olhando para as características das empresas e do País? A empregabilidade é um dos grandes fantasmas que surgem quando se fala de IA. Creio que sempre foi assim com as tecnologias disruptivas. Quando vieram os computadores também se dizia, na altura (anos 1960 e 1970), que imensas pessoas iam perder o emprego, porque só estavam a “carimbar o papel”, todo o dia. No entanto, os computadores criaram muito mais empregos. Quando veio a Revolução Industrial, também se dizia que ia acabar com os empregos, mas, no final, foram criados muito mais. Acredito que, com a IA, também vão surgir muitos
“Não é a IA que vai destruir os empregos. Se alguém perder o emprego, será para outra pessoa que domina a IA. Espero que haja uma forte concorrência no mercado”, Ricardo Pereira
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empregos e os actuais vão ser mais bem executados. Eu costumo dizer que não é a IA que vai destruir os empregos. De certeza que, se alguém perder o emprego, será para alguém que domina a IA. Espero que haja uma forte concorrência no mercado e que este não fique nas mãos de meia dúzia de empresas, a exemplo do domínio, neste momento, do Chat GPT [ferramenta de IA da OpenAI]. Mas a IA também apresenta imprecisões que têm suscitado cuidados redobrados por parte das empresas. Refiro-me, por exemplo, à probabilidade de produzirem informação ou respostas erradas, que pode levar as organizações a decisões e resultados indesejados. Qual é o real grau de risco? A IA ainda está a dar os primeiros passos e os motores, por vezes, têm “alucinações”. Ou seja, de repente, dão uma informação totalmente errada, mas com todos os argumentos bem escritos. Portanto, nós temos de ter muito cuidado para não assumirmos que se trata de uma plataforma que detém a absoluta verdade, mas que é apenas uma ferramenta que pode ser útil nas nossas actividades, enquanto seres humanos. Outro tema muito interessante quando se fala de IA está relacionado com as fontes. Muitos dos sistemas actuais já estão a trabalhar para revelar as fontes de pesquisa imediatamente, ou seja, para que o sistema dê três ou quatro respostas e diga as fontes. Estes sistemas aprenderam com conteúdo da Internet que, na maior parte dos casos, foi criado no mundo ocidental. Logo, o enviesamento é fortíssimo. Por outro lado, chama-se GPT [Generative Pre-training Transformer] porque foi ‘pré-treinado’, ou seja, houve humanos a indicar quais as respostas mais acertadas. Se esses humanos foram tendenciosos, é inevitável que a IA também seja. Por essa razão, eu uso muito pouco a IA para questões políticas, mas do ponto de vista www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
da gestão, ainda não apanhei grandes enviesamentos. Esta ferramenta também é muito útil para o mundo da contabilidade, que acredito que vai evoluir radicalmente nos próximos anos. No nosso software, se se pedir uma demonstração de resultados dos últimos três anos, o ChatGPT vai dizer onde é que as coisas estão a correr bem, como é que está o fundo de maneio, por exemplo, como é que os números estão a evoluir e porquê.
Como é que a PHC tem lidado com a protecção de dados no acesso à IA? Nós usamos um sistema de segurança desenvolvido pela Microsoft, porque esta marca percebeu que o tema continua a ser o obstáculo número um à adopção da IA. Portanto, eles prepararam toda a tecnologia para proteger os dados. No nosso caso, enquanto PHC, não comunicamos directamente com o ChatGPT, passamos primeiro pela Microsoft, que trabalha os dados no sentido de a IA não usar os dados para treino e não os conservar com identificação de origem. Eu costumo dizer que esta é a tecnologia com a maior campanha de marketing da história, mas pareceme que se fala mais dos problemas de priwww.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
vacidade, segurança ou de isto poder acabar com o mundo, do que se fala de benefícios e exemplos espectaculares do que se pode fazer. Entretanto, reconheço que é imprescindível, inevitável e urgente a regulação. Os governos não podem abdicar de participar nisto. Nós não votámos nas empresas tecnológicas para definirem o nosso futuro, mas sim nos governos. A própria OpenAI [proprietária do ChtGPT] já suscitou, junto do congresso americano, a urgência da regulação. A União Europeia já está muito perto de a ter, a China foi a primeira a regulamentar, mas os Estados Unidos ainda estão um pouco longe, embora muito preocupados. O que é que a PHC oferece para as empresas e outros utilizadores dos seus sistemas de IA? Desenvolver um ChatGPT é algo que só está ao alcance de uma empresa com um nível de financiamento gigantesco, a OpenAI, que foi quem desenvolveu a ferramenta e contou com mais de mil milhões de dólares de financiamento, só da Microsoft. Neste momento a OpenAI tem já dois milhões de empresas a usar o software deles e nós somos uma dessas.
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Ricardo Pereira Ricardo Parreira é CEO da PHC Software, empresa que já constou, por diversas vezes, na lista das melhores para trabalhar nos vários mercados em que actua, e uma referência em Portugal há mais de 30 anos, com actividade também no Reino Unido, Peru, Espanha, Angola e Moçambique. Licenciado em gestão e com MBA em marketing, ambos pela Universidade Católica de Portugal, destaca-se por ser um líder que inspira boas práticas de gestão e a atitude para a felicidade no local de trabalho. Tem criado na PHC um ecossistema focado na best experience at work, um conceito que procura construir empresas com pessoas mais felizes, motivadas e consequentemente mais produtivas.
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“Moçambique está bem posicionado como potência para fornecer uma fonte de energia de transição, o gás. Mantenho a visão de que o País está numa posição brilhante para se sair bem” Usamos um sistema de segurança de dados da Microsoft, que se chama Azure AI, para proteger a confidencialidade dos dados das empresas, e embutimos o ChatGPT dentro do nosso software porque, para ser realmente eficaz, a IA precisa de informação. A combinação do software de gestão com a IA é explosiva. Nós embutimos IA generativa dentro do nosso software, onde há dados, e o utilizador pode pedir ajuda, pode fazer perguntas, pode pedir para executar diversas tarefas, entre outras funcionalidades. Lançámos o nosso sistema, aqui em Moçambique, a 28 de Setembro de 2023 e está disponível para os nossos milhares de clientes. Temos um sistema integrado, dentro do nosso software, para fazer maravilhas. Agora, temos também um software de gestão do capital humano, onde podemos colocar avaliações de desempenho. Cada pessoa pode receber a sua avaliação, saber quais são os seus pontos fortes e pontos fracos. Pode ficar a saber como tratar dos pontos fracos. Entre as várias funcionalidades, posso, por exemplo, tocar num botão e solicitar
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que me faça um e-mail para cobrar a um certo cliente. Vamos supor que já não há paciência para esse cliente, que é mesmo difícil que ele pague. Então, podemos mudar o tom. Só preciso de dizer ao software para mandar uma mensagem num tom mais sério. A IA escreve tudo, em cinco segundos, e sem estar irritada ou ser mal-educada. Qual a possibilidade de sucesso nesta área, em Moçambique? A primeira sensação que eu tive em Moçambique foi de uma imensa curiosidade e entusiasmo, embora estivesse à espera de sentir mais medo. Noutros países senti mais medo do que entusiasmo. A curiosidade também está muito relacionada com o facto de as pessoas terem uma sensação de que aquilo serve realmente para alguma coisa, mas ainda lhes faltam os casos práticos. E assim, com este entusiasmo que há em Moçambique, consegue-se perceber melhor o valor dos sistemas de IA. As pessoas e empresas querem aproveitar melhor o que é
possível fazer. Para melhor uso destas ferramentas pelos clientes, damos formação e certificação e estamos a treinar os parceiros para que também eles estejam preparados para treinar os clientes, porque esse é um ponto-chave. Nós só vendemos através de parceiros. Podemos alterar o software, configurando-o para as necessidades específicas do cliente. Toda esta utilização da IA generativa está dentro deste contexto que eles podem usar. As pessoas podem automatizar as mais diferentes tarefas. Esta é uma área disruptiva e acredito que ainda não haja muita concorrência. Mas vai surgindo: como é que isso muda o cenário para vocês? Eu acho que este momento vai ser de uma mudança radical para o nosso negócio. Era óbvio que a tecnologia é diferenciadora, mas essa realidade vai sendo explosiva. Daqui a um ano ou dois, empresas que não usam IA generativa vão ficar para trás, porque, na teoria da inovação, há sempre os early adopters, que são os primeiros. Acho que essa curva de inovação vai ser muito acelerada – e estamos ainda com uma utilização muito básica. Eu acho que vêm aí coisas muito interessantes. Uma delas é o conceito de agentes. Já há empresas inteiras e alguns CEO que são IA. Portanto, acredito que vai haver, desse ponto de vista, muitas oportunidades. www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
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especial inovações daqui 64
FORMAÇÃO EM IA
A tecnológica norte-americana Microsoft e a etíope Gebeya acabam de anunciar o apoio à capacitação de 300 mil programadores em oito países africanos, incluindo Moçambique, nos próximos três anos. Para que áreas será direccionada esta intervenção e que resultados pode trazer ao mercado?
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AGRONETMOZ
Conheça a app que junta todos os intervenientes do agro-negócio numa só plataforma
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PANORAMA
As notícias da inovação em Moçambique, África e no Mundo.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Microsoft e Gebeya: Promessa de Revolução Tecnológica Inclui Moçambique A gigante tecnológica norte-americana Microsoft decidiu unir-se à Gebeya, uma plataforma online de talentos de tecnologia SaaS, com sede em Adis Abeba, Etiópia, para capacitar 300 mil programadores de software em Moçambique e outros sete países africanos. Que transformações se podem esperar com a concretização desta iniciativa? TEXTO Ana Mangana • FOTOGRAFIA Mariano Silva
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Microsoft e a Gebeya, o principal mercado online pan-africano de talentos tecnológicos habilitado para SaaS (Software as a Service, uma forma que disponibiliza softwares e soluções de tecnologia como um serviço na Internet), fizeram uma parceria para lançar uma nova plataforma. A solução pretende ligar pessoas com habilitações e empregos e está disponível no endereço Microsoft.Gebeya.com. A colaboração procura desempenhar um papel importante no preenchimento da lacuna de competências tecnológicas em África, promovendo a criação de emprego e empreendedorismo e formando os jovens do continente. A iniciativa tem como principal objectivo desenvolver as capacidades de 300 mil programadores em oito países africanos, entre os quais Moçambique, nos próximos três anos. Outros países que vão beneficiar da iniciativa incluem o Quénia, África do Sul, Etiópia, República Democrática do Congo, Lesoto, Nigéria e Egipto. As inscrições para o programa foram abertas na segunda semana de Janeiro e, segundo o re-
presentante da Microsoft em Moçambique, Igor Lourenço, o projecto anda à procura de candidatos com formação em desenvolvimento tecnológico e ciências da computação. Devem ter também um forte interesse em criar soluções na “nuvem” (cloud, computação remota), ou que já tenham experiência na área da programação. Quanto ao número de candidatos por país, Igor Lourenço explicou que o critério de selecção é a capacidade pessoal, sem quotas por origem. Contudo, considerando que a meta é alcançar 300 mil em oito países, “a média de candidatos por país seria de 37 500”. O que se pretende é que, em cada um dos três anos de duração do programa, sejam abrangidos pela formação, pelo menos, 100 mil programadores, para que, até ao fim de todo o período, seja alcançado o número desejado. “A primeira fase (primeiro ano) será de formação em tecnologias Microsoft Cloud, através de sessões online. Possivelmente, algumas vezes teremos encontros presenciais”, explicou o representante da Microsoft em Moçambique. Para Igor Lourenço, com esta iniciativa, o País vai poder encurtar
A Gebeya vai identificar engenheiros de software talentosos que serão habilitados a iniciar a sua jornada empresarial através do desenvolvimento de competências práticas
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INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL a distância em relação aos países desenvolvidos, no que diz respeito aos avanços tecnológicos. “Um exemplo prático de comparação seria o desenvolvimento da tecnologia 5G, lançada em 2019 e que, cá, em Moçambique, ainda está em fase de desenvolvimento apenas por uma das três operadoras móveis”, apontou. A colaboração é também vista como um avanço significativo na parceria já existente entre a Microsoft e a Gebeya. Em 2020, ambas as empresas lançaram o primeiro SkillsLab virtual na Etiópia, com o objectivo de desenvolver capacidades digitais, nomeadamente de programação, entre universitários. Mais de 1200 engenheiros de software africanos foram treinados através desta plataforma. Ao longo de sete anos, a Gebeya estabeleceu um histórico comprovado na implementação de programas de formação e ligação entre talentos em toda a África. Agora, em parceria com a Microsoft, a empresa etíope quer ampliar o seu impacto. O CEO da Gebeya, Amadou Daffe, enfatizou, no site oficial da empresa, que a parceria “representa um passo monumental no sentido de concretizar todo o potencial do talento africano, criando oportunidades de emprego para que os jovens africanos moldem o futuro da economia digital.” Em África, a Microsoft desempenha um papel vital na constituição da capacidade digital do continente. O com-
com os padrões da indústria, a Gebeya está a desenvolver currículos e programas de competências para esta nova fase de formação. Os programadores que embarcarem nesta jornada serão também equipados com uma proficiência avançada no GitHub Copilot, que lhes vai permitir criar aplicações e software com uma velocidade sem precedentes e erros reduzidos. O Gabinete de Transformação para África (ATO), da Microsoft, fornecerá apoio vital para a implementação da plataforma e desenvolvimento do currículo, oferecendo créditos Azure e assistência na campanha de marketing. Promover o crescimento dos talentos e dar-lhes oportunidades A colaboração estende-se para além do desenvolvimento de competências: o Microsoft.gebeya.com certificará 100 mil programadores com base num determinado currículo, com um sistema de reconhecimento baseado no mérito. Através da plataforma, estes programadores virados para a ‘nuvem’ da Microsoft serão colocados directamente em contacto com empresas que procuram pelo seu talento e serviços específicos. A Gebeya integrará também os profissionais certificados pela Microsoft no mercado de talentos, recorrendo a processos de verificação robustos para garantir que, de facto, estes têm a qualidade que se pretende. Para acelerar o processo de contratação, a em-
“Este é um passo monumental para potenciar o talento africano, criando oportunidades de emprego e empreendedores que vão moldar a economia digital”, Amadou Daffe, CEO da Gebeya promisso reflecte-se em vários programas de qualificação e empregabilidade, beneficiando mais de quatro milhões de jovens africanos nos últimos cinco anos. Gerald Maithya, directorgeral do Microsoft Africa Transformation Office, também citado no site oficial da Gebeya, afirmou que “os jovens talentos tecnológicos nunca foram tão importantes para África”, destacando a necessidade de estimular profissionais de tecnologia para impulsionar a inovação no continente. Capacitar o talento tecnológico africano Com base na experiência técnica e no apoio da Microsoft para se alinhar
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presa etíope fornecerá apoio aos talentos com o desenvolvimento de perfis e alargará o apoio às empresas que procuram programadores certificados pela Microsoft. Criar oportunidades de emprego baseadas em IA Com o apoio técnico da Microsoft, a Gebeya está a desenvolver soluções de IA no Azure (a ‘nuvem’ da Microsoft, plataforma online com mais de 200 produtos e serviços), tornando mais simples o acesso dos jovens africanos a oportunidades de emprego significativas. Isto parte da constatação de que os métodos convencionais de pesquisa de
talentos, que dependem da correspondência de palavras-chave, produzem, frequentemente, perfis sem relevância genuína para o emprego. Mas utilizando a IA da Microsoft, o motor de pesquisa contextual da Gebeya transcende as limitações das palavras-chave, compreendendo as descrições de emprego para uma correspondência mais precisa entre o talento e o recrutador. Esta integração tecnológica aumenta significativamente o sucesso da Gebeya na ligação entre talentos e recrutadores, gerando, em última análise, mais oportunidades de emprego. Ao mesmo tempo, as ferramentas de IA estão a revelar-se transformadoras, acelerando www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
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A MAGIA DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NA CLOUD O termo “IA Cloud” é utilizado para referir a integração de Inteligência Artificial em serviços e plataformas de computação em nuvem. A computação online (na nuvem, como hoje se diz) é como ter um computador connosco, só que toda a máquina física está na Internet. A IA, por outro lado, refere-se à capacidade de um sistema informático aprender, raciocinar e executar tarefas de forma autónoma. A junção destas duas áreas resulta no que se designa por Inteligência Artificial na nuvem. Isto significa que os recursos de IA, tais como algoritmos de aprendizagem automática, processamento de linguagem natural, visão computacional e outros, são disponibilizados como serviços através de plataformas de computação online. Isto oferece uma série de vantagens, incluindo a capacidade de aceder a recursos de IA sem necessidade de hardware ou infra-estruturas dedicadas no local.
a transição dos programadores juniores para níveis intermédios e melhorando a eficiência dos programadores seniores. Há ainda outra face da iniciativa: as estatísticas mostram que um em cada três programadores de software quer tornar-se empresário. Como parte da colaboração com a Microsoft, a Gebeya identificará engenheiros de software talentosos que serão habilitados a iniciar a sua jornada empresarial através de uma combinação de desenvolvimento de competências práticas e exposição ao ecossistema empresarial. “Este projecto com a Microsoft é muito ambicioso e exigirá um esforwww.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
ço colectivo, de todo o ecossistema. A Gebeya sempre foi uma organização orientada para parcerias e, como sempre, vamos procurar parceiros que nos ajudem a cumprir esta missão arrojada”, referiu Martin Ndlovu, director de Crescimento da Gebeya. A Microsoft está presente em África há quase 30 anos e tem desempenhado um papel fundamental na ajuda à constituição da capacidade digital do continente, através de vários programas de qualificação e empregabilidade. Esta iniciativa representa uma oportunidade sem precedentes para os talentos tecnológicos africanos se destacarem globalmente, impulsionando
África como um centro de talento tecnológico. A parceria entre a Microsoft e a Gebeya destaca o compromisso conjunto de abordar a lacuna de competências tecnológicas e moldar o futuro digital do continente. Em 2021, uma pesquisa da Microsoft revelou que o sector agrícola africano está pronto para crescer exponencialmente na próxima década. A investigação revelou que com um valor projectado de 1 bilião de dólares até 2030, o continente está prestes a tornar-se o centro global de soluções agritech e tem também assistido a um rápido crescimento em soluções tecnológicas para a agricultura.
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STARTUP
AGRONETMOZ
AgronetMoz, Toda a Cadeia de Valor Agrícola Numa só App Cinco jovens criaram uma aplicação que junta todos os intervenientes do negócio agrícola na mesma plataforma. Produtores, distribuidores, retalhistas e consumidores podem interagir directamente na AgronetMoz e assim criar pontes e descobrir novas oportunidades na cadeia de valor de um dos sectores de actividade mais promissores de Moçambique. TEXTO Ana Mangana • FOTOGRAFIA Mariano Silva & D.R.
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AgronetMoz é uma aplicação concebida por cinco jovens que participaram, há três meses, num concurso e maratona de desenvolvimento de aplicações (Hack4Moz), promovido pela Agência Nacional de Desenvolvimento Geo-espacial (ADE). Sagraram-se vencedores por apresentarem uma solução que responde a vários desafios do sector agrário. “Pensámos numa ideia que pudesse englobar toda a cadeia de valor, porque, na verdade, é disso que a agricultura está a necessitar: o mundo está a acelerar e precisamos todos de tecnologia para fazer quase tudo”, explica Sheila Badru, membro da equipa, à E&M. Badru é formada em Agronomia e tem visto sempre o agricultor em desvantagem quando chega a hora de comercializar os seus produtos. “Ele está no campo, tem de produzir e, ao mesmo tempo, pensar onde vai buscar matéria-prima ou consumíveis, onde e como vai vender a colheita. No final, fica prejudicado. Isto porque os agrodealers”, comerciantes ou revendedores de produtos agrícolas “é que ditam as regras. Não há um comércio justo, principalmente para quem está a produzir”. Como funciona a aplicação? A aplicação AgronetMoz quer que todos tenham acesso ao que necessitam em tempo útil. Assim, cada elemento da cadeia de valor (produtores, distribuidores, retalhistas e consumidores) registam-se na ‘app’ e colocam os seus produtos ou serviços à disposição. Se o produtor precisar de matéria-prima, pode ter acesso a fornecedores dentro do AgronetMoz e ainda escolher a forma como quer receber, ou seja, o meio de transporte que levará o produto até si. Da mesma forma, o consumidor final ou cliente tem acesso aos produtos disponí-
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veis no mercado, aos preços e pode requisitar um meio de transporte, mediante o pagamento de uma determinada taxa cobrada dentro do próprio aplicativo. Uma ‘app’ que dispensa o smartphone Outro aspecto interessante do AgronetMoz é que dispensa smartphones. “A maioria dos produtores não tem acesso a estes dispositivos. Usam telefones simples”, sem ecrãs tácteis e apenas com teclas numéricas. “Como incorporar esta população? Através do USSD”, serviço de mensagens que exige apenas que se enviem códigos ou escolham opções para ter acesso a serviços. “E assim podem ter acesso aos AgronetMz”, explicou Luís Mucavele, outro membro do grupo. A plataforma conta ainda com um sistema de alerta sobre mudanças de temperatura, condições de circulação (para transportadores) e possíveis pragas e doenças de plantas. A aplicação foi desenvolvida com o intuito de ser inclusiva. No entanto, por questões de segurança, serão exigidos alguns documentos no processo de subscrição e será cobrada uma taxa (não especificada) que servirá para garantir a sustentabilidade da plataforma.
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PROJECTO AgroNetMz PLATAFORMA AgroNetMz ANO DE CRIAÇÃO 2023 MEMBROS 5
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PANORAMA
Fintechs
M-Pesa passa a fazer pagamentos “contacless” como se fosse um cartão O serviço M-Pesa, plataforma queniana de dinheiro móvel, utilizada em cerca de nove mercados africanos (incluindo Moçambique), criou uma parceria com a Visa, gigante mundial de pagamentos digitais, para lançar a funcionalidade “tap-to-pay”. É uma forma de fazer pagamentos em POS que utiliza a tecnologia de comunicação de curto alcance (near-field ou NFC). Na prática, é colocar o M-Pesa a funcionar como um cartão bancário “contacless”. O serviço está disponível para os clientes nos nove países onde o M-Pesa opera. A conta M-Pesa passa a estar associada a um cartão, pulseira ou autocolante para telefone, que serve para fazer os pagamentos habituais em POS no dia-a-dia.
Sustentabilidade
Investigadores desenvolvem árvore solar capaz de produzir electricidade Uma equipa multidisciplinar liderada pela investigadora Lohane Palaoro, do Centro de Investigação e Inovação para o Desenvolvimento (CPID), no Brasil, desenvolveu uma “Árvore Solar” para produção de energia. Tem seis metros de altura e é composta por 21 painéis fotovoltaicos montados de forma a imitar as folhas de uma árvore. Tem capacidade para gerar 300
kWh por mês, energia suficiente para abastecer duas habitações, explicou Lohane Palaoro. Segundo referiu, a diferença é que painéis são verticais, enquanto nos sistemas convencionais são dispostos horizontalmente. Com o custo do espaço urbano a tornar-se cada vez mais caro, o desenho compacto da “Árvore Solar” pode ser uma vantagem.
Tecnologia
Agritech
Huawei forma estudantes moçambicanos O programa Seeds for the Future (Sementes para o Futuro), da Huawei, formou 61 jovens estudantes moçambicanos (formação de curta duração) no sector das Tecnologias de Informação e Comunicação. De acordo com Wang Hejun, embaixador da China em Moçambique, o objectivo é reforçar a cooperação sino-moçambicana e servir o desenvolvimento, a longo prazo, de Moçambique. “A cooperação digital é uma força motriz”, disse.
UE alcança acordo para primeira legislação sobre Inteligência Artificial do mundo
Os co-legisladores da União Europeia, o Conselho e o Parlamento Europeu chegaram a um acordo provisó-
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rio sobre as primeiras regras do mundo para regular a Inteligência Artificial (IA). A informação foi avançada pela presidência espanhola do Conselho da União Europeia que, numa publicação na rede social X (antigo Twitter), anunciou um regulamento que “visa garantir que os sistemas de IA implementados e utilizados na UE são seguros e respeitam os direitos fundamentais e os valores europeus”. A Comissão Europeia apresentou, em 2021, uma proposta para salvaguardar os valores e direitos fundamentais da UE e a segurança dos utilizadores, obrigando sistemas considerados de alto risco a cumprir requisitos obrigatórios relacionados com a sua fiabilidade. www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
ócio
(neg)ócio s.m. do latim negação do ócio
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África do Sul No mês dos namorados, conheça os destinos que vão inspirar o amor
GOURMET
Bella Madalena Uma experiência gastronómica e cultural da Ilha da Madeira em Maputo.
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Os vinhos de 2024 Quais as tendências da indústria vinícola para este ano?
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Sung Min Cho A história do primeiro surfista profissional moçambicano e o seu legado para os mais novos
Fevereiro 2024 Todos os eventos globais que não pode perder, desde a sustentabilidade ao desporto, passando pelas artes
Rolls-Royce Chegou o veículo automóvel mais caro de 2024, que pode chegar aos 30 milhões de dólares por unidade
EMPREENDEDOR
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AGENDA
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África do Sul
Um Destino Perfeito Para As atracções turísticas da África do Sul são, sem dúvida, uma sugestão a ter em conta na celebração do mês dos namorados
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Chegou o mês dos namorados, um período dedicado à celebração do amor em todo o mundo. Enquanto muitos optam por expressar o afecto através de flores ou chocolates, outros procuram experiências únicas e memoráveis para partilhar. Este ano, que tal transformar o Dia dos Namorados numa viagem romântica e inesquecível à África do Sul? Conhecida pela sua diversidade cultural, beleza natural e história rica, a vizinha África do Sul oferece o cenário perfeito para uma escapadela romântica. Desde as vastas planícies povoadas de animais selvagens do Parque Nacional Kruger até às paisagens dramáticas ao lado de requintados recantos urbanos na Cidade do Cabo e península, quase todos os destinos deste país cativam os corações dos apaixonados. Vamos explorar as razões pelas quais a África do Sul é uma escolha a ter em conta para quem procura uma experiência única no mês dos namorados, com as dicas do blog de viagens “Se Lança”. Uma das experiências que diferenciam a África do Sul é
a Época Dos Apaixonados passear pela savana e encontrar, quase cara a cara, cada um dos “big five”, ou seja, os cinco animais mais difíceis de caçar: leão, rinoceronte, leopardo, búfalo e elefante. Hoje em dia, a ‘caça’ é feita com os olhos na câmara e as fotografias são os troféus. Entre os melhores parques para um safari na África do Sul estão Kruger (a cerca de hora e meia de Maputo), Pilanesberg e Madikwe. Nestes locais existem alojamentos cujas reservas estão disponíveis na Internet, mas há também uma variedade de hotéis de luxo. Imagine-se a bebericar vinho sob o céu estrelado e a ouvir o rugido dos animais! Península do Cabo É difícil conhecer alguém que não se tenha apaixonado pela Cidade do Cabo, também conhecida como a Cidade-Mãe, a primeira metrópole da África do Sul. Rodeada de montanhas e praias, a Cidade do Cabo é deslumbrante e ponto de partida para conhe-
cer uma península com paisagens diversas – até ao Cabo da Boas Esperança – e cativantes, ao lado de uma oferta de serviços moderna e de qualidade. Começando pela cidade, há que passear pelo Waterfront, um dos pontos mais vibrantes da urbe. Antiga zona portuária, foi totalmente remodelada e é um cais com restaurantes, lojas, centros comerciais e muita gente animada. Aproveite para andar na roda gigante. É daqui que saem os passeios de barco para explorar a orla e assistir ao pôr-do-sol. Um programa super romântico. Há ainda outras diversões a não perder: apanhar o teleférico para Table Mountain, visitar o famoso Cabo da Boa Esperança ou os pinguins em Boulders Beach. Depois, há que relaxar à beira da praia de Camps Bay, um luxo, a antecipar a escolha de qualquer um dos prestigiados restaurantes que a cidade oferece para uma noite bem passada. Adegas sul-africanas Visite as adegas nas cidades de Franschhoek e Stellenbosch. Faça uma degustação de vinhos e aproveite o ar do campo. Também é possível dormir numa adega, o que é altamente recomendado e romântico! Não deixe de provar um vinho feito com a uva local, a Pinotage. E para terminar a aventura romântica à África do Sul, reserve um tempo para Joanesburgo. Sandton é destino de compras e os pontos de interesse incluem o Museu do Apartheid, para conhecer a história do país – se não tiver tido a oportunidade de visitar o Robben Island Museum, ao largo da Cidade do Cabo, onde Nelson Mandela viveu encarcerado. Texto Ana Mangana Fotografia D.R.
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Há ainda outras diversões a não perder: apanhar o teleférico para Table Mountain, visitar o famoso Cabo da Boa Esperança ou os pinguins em Boulders Beach. Depois, há que relaxar à beira da praia de Camps Bay, um luxo, a antecipar a escolha de qualquer um dos prestigiados restaurantes ...
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BELLA MADALENA
Avenida Armando Tivane, esquina com a avenida Eduardo Mondlane. +258 84 5660763
g localizado na movimentada avenida Armando Tivane, o restaurante Bella Madalena é uma pérola exclusiva que oferece uma experiência gastronómica e cultural única na cidade. Aberto desde Outubro de 2013, encanta os paladares com o melhor da gastronomia portuguesa, em particular, da ilha da Madeira. Com um toque pessoal, o fundador baptizou o restaurante em homenagem à filha, Madalena. A ilha da Madeira, região autónoma de Portugal no oceano Atlântico, tem paisagem acidentada e vulcânica e é conhecida pela abundância de adegas, onde é produzido o fa-
Explorar a Gastronomia moso vinho da Madeira. A região tem ainda a reputação de ser um verdadeiro paraíso da culinária portuguesa. Bella Madalena recria em Maputo algumas das iguarias mais conhecidas da ilha: o bolo do caco com chouriço, castanhetas, o peixe-espada (um dos mais famosos pescados na região), milho frito e a típica bebida, a poncha. Na sua receita original, é feita de aguardente de cana-de-açúcar, com sumo de limão e açúcar, mas foi modernizada e agora é fei-
Bella Madalena recria algumas iguarias da ilha da Madeira: o bolo do caco com chouriço, castanhetas, peixe-espada, milho frito e a típica bebida, a poncha
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Madeirense na Bella Madalena ta também de várias outras frutas. A bebida era muito consumida nas navegações portuguesas do século XVI, porque os marinheiros perceberam que ajudava a prevenir o escorbuto (hemorragia gengival, causada pela carência de vitamina C). A histórica bebida ganhou apreciadores por quase todo o mundo e originou, no Brasil, a famosa caipirinha. No restaurante Bella Madalena, numa mistura de tradição e modernidade e além de deliciosos pratos, vivem-se momentos inesquecíveis, revelando-se o encanto da Madeira em cada detalhe. É certo que os pratos estão destacados no cardápio, caso da es-
petada madeirense, mas quem entra é transportado directamente para a ilha também por outras razões. Além da culinária, o restaurante oferece noites repletas de energia e ritmo. Os clientes desfrutam do melhor after work da cidade de Maputo, embalados por música latina, incluindo tango e salsa. E às quintas-feiras, a noite é aquecida por envolventes kizombas. Exclusivo e singular, o Bella Madalena é uma boa sugestão para frequentar só, com amigos ou como par romântico. Texto Filomena Bande Fotografia D.R. www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
Muitas empresas vinícolas tiveram de se adaptar, procurando variedades de uvas resistentes a doenças e retomando as origens de uvas autóctones, que resistem a secas e inundações. Uvas híbridas também têm aparecido com frequência...
Mudam-se os Tempos… Tal como os demais mercados, o do vinho é dinâmico e influenciado por diferentes factores naturais, sociais e de outra índole. Assim, vai seguindo tendências e sofrendo transformações, tanto no processo produtivo, como no consumo. Para este ano, alguns estudiosos da área já apresentaram caminhos e padrões que se verificam na vinicultura mundial. Nádia Alcalde, jornalista portuguesa e estudiosa da área, espera vinhos mais leves e frescos e um cultivo sustentável de uvas. A enóloga refere que “o consumo de vinhos tem aumentado e, cada vez mais, a bebida tem sido apreciada pelo público jovem”. Esses novos consumidores, destaca, procuram vinhos leves e frescos, como os brancos, espumantes e rosés, e até mesmo os vinhos naturais. Dentro desse novo público, vinhos com alto teor alcoólico e envelhecimento em madeira ficaram fora de moda. A tendência também é apoiada por dados recentes da NielsenIQ, marca que analisa o mercado. A britânica Jancis Robinson, uma das maiores escritoras e estudiosas de vinho do mundo, destacou, recentemente, o crescimento global da casta francesa Sauvignon Blanc. Uma casta de uva branca da família da Vitis Vinifera, originária da região de Bordéus, que produz vinhos secos e refrescantes que possuem, como principais características, aromas minerais, vegetais e toques frutados. É comum optar pelas castas mais conhecidas na hora de escolher um vinho, mas há também uma curiosidade
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Mudam-se os Vinhos! Quais as Tendências Para 2024? do consumidor em conhecer uvas de regiões e nomenclaturas diferentes. Eis outra tendência para o mundo da bebida: o uso de uvas exóticas, uma opção nova para um contexto que sempre preferiu grandes castas internacionais. Essa tendência vai de acordo com a oferta do mercado, que tem criado essa oportunidade devido às mudanças climáticas. Muitas empresas vinícolas tiveram de se adaptar procurando variedades de uvas resistentes a doenças e retomando as origens de uvas autóctones, nativas da sua região, que costumam resistir a secas e inundações. Uvas híbridas também têm aparecido bastante, pois adaptam-se melhor às mudanças do clima. Outra grande tendência é a preferência por vinhos naturais e de cultivo sustentável. Essa procura por alimentos naturais, menos industrializados, é global. Muitos consumidores procuram e dão preferência ao produto do pequeno agricultor. Algo que não deve surpreender: afinal, há já algum tempo que os vinhos com intervenção mínima e sem aditivos ganhavam força e adesão no mercado. TEXTO Filomena Bande FOTOGRAFIA D.R
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Sung Min Cho
O Símbolo do Surf Moçambicano Além-fronteiras Sung Min Cho ou simplesmente “Mini”, como é tratado, é o único – e consagrado – surfista moçambicano profissional. Espera ver a modalidade trazer impacto positivo para as comunidades, enquanto sonha com os Jogos Olímpicos de 2028. Tem 24 anos e nasceu na cidade de Inhambane, filho de mãe moçambicana e pai sul-coreano. Sung Min Cho provém de uma família humilde e desde cedo teve de trabalhar para ajudar a pagar as despesas da família. Nascido na zona da praia do Tofo, foi numa vaga trazida pela maré do destino que Mini – como também é tratado – viu a sua vida tomar um rumo que não imaginava, impulsionado pela sua paixão pelo mar, o Índico, cujas ondas ouvia quebrar o areal desde que era bebé. Em menino, passava os dias na praia, observando com curiosidade os turistas a surfar, aproveitando as condições da baía do Tofo. Mas, por mais forte que fosse a vontade, o desejo era inalcançável, porque não podia pagar aulas de surf ou a prancha que o iria, mais tarde, encaminhar mar adentro para se entregar à força das ondas que hoje consegue domar. Em 2014, Mini Cho viu a sua sorte mudar, quando ganhou uma prancha de um turista. Embora tenha iniciado a sua maratona no surf com idade considerada avançada para a modalidade, o amor e a dedicação ajudaram-no a tornar-se no primeiro surfista profissional moçambicano, já com várias representações do País em provas internacionais. E aquilo que antes era só um anseio, é hoje a sua vida. “Sim, e não só. Na verdade, o surf continua a ser o meu escape e ajudou-me a mudar, algo que tento que aconteça também com a vida dos outros. Por vezes, as pressões do trabalho e da vida podem ser muito grandes, mas sempre que entro na água para surfar, sinto que escapo a tudo. No momento em que toco na água, limpo a minha mente. Mais do que uma profissão, o surf mudou a minha vida e ajudou-me a apoiar a minha família e a minha comunidade”, relata, com tom de orgulho. Fazendo da sua própria vida inspiração, Mini é hoje coordenador do projecto Tofo Surf Club, um programa que visa acolher crianças da região com problemas sociais, aproximando-as do mar e dos benefícios do desporto. “O nosso objectivo é usar o surf para envolver as crianças na vida do oceano, ensiná-las e orientá-las na sua jornada de vi-
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da, ajudando-as a crescer e a perceber o seu próprio valor e a importância do mar. Moçambique tem um enorme potencial para os desportos de mar. Tem a quarta maior linha costeira de África, o que naturalmente significa que o oceano é uma parte vital para o quotidiano de muitas pessoas. A água é quente durante todo o ano, também temos sol todo o ano e o Tofo, bem como a região, já tem actividades baseadas no turismo marítimo, pelo que a maioria das oportunidades de emprego estão à volta do oceano”. “Ensinar as crianças a nadar e a fazer surf acabará por levá-las a abraçar oportunidades dentro e fora do oceano”, acredita Mini, seja como “instrutores de surf, mestres de mergulho, capitães de barco, nadadores-salvadores ou outras funções”. “O meu objectivo é que as crianças que passam pelo programa cresçam na comunidade, tornando-se uma parte vital nestas áreas e ao mais alto nível”, assinalou.
Mini destaca que o Tofo Surf Club continua a abrir caminho para o crescimento da modalidade e da cultura do surf local, mas realça a necessidade de outras zonas costeiras adoptarem estas estratégias, para “haver uma abundância de talentos” e, definitivamente, um País “com potencial para ser candidato olímpico nestas disciplinas” ligadas ao mar. Sung Min Cho já conseguiu colocar o seu nome em provas de surf internacionais e confessa ter grandes sonhos para a carreira e para o futuro do surf no País. “Neste momento, o meu objectivo é ir aos Jogos Olímpicos, em 2028. Para o surf, desejo que cresça em Moçambique. Espero ver cada vez mais moçambicanos a representar o País. Mais do que tudo, quero ver o surf a mudar as comunidades e a ser usado para uma mudança positiva”. TEXTO Filomena Bande FOTOGRAFIA D.R. www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
“Ensinar as crianças a nadar e a fazer surf acabará por levá-las a abraçar oportunidades dentro e fora do oceano... O meu objectivo é que aquelas que passam pelo programa cresçam na comunidade, tornandose uma parte vital nestas áreas”, Sung Min Cho
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O Que Não Pode (mesmo) Perder em Fevereiro Já começaram os playoffs para a grande final do futebol americano, conhecido por Super Bowl e que vai decorrer em Las Vegas, nos EUA. É o maior evento desportivo do mundo e acontece, este ano, a 11 de Fevereiro. - Na Cidade do Cabo, África do Sul vai decorrer a “Ocean Innovation Africa”, a principal plataforma no continente a congregar a economia sustentável dos oceanos, em que inovadores de toda a África sobem ao palco para partilhar ideias. Os debates trazem a perspectiva de líderes da indústria, investidores, empresários, decisores políticos, representantes de comunidades, ONG e investigação. - Em Nairóbi, no Quénia, outra importante cimeira, intitulada “Africa Tech Summit Nairobi”, que junta líderes de tecnologia do ecossistema africano e players internacionais, incluindo empresas de tecnologia, operadoras móveis, fintechs, iniciativas de criptomoeda, investidores e startups líderes, reguladores e partes interessadas do sector. No mundo do streaming, destacamos a estreia de “Mr. & Mrs. Smith”, na plataforma Prime Video. Protagonizada por Donald Glo-
ver (também co-criador da série) e Maya Erskine, esta versão do filme Mr. & Mrs. Smith acompanha dois estranhos solitários com um emprego numa misteriosa agência que lhes oferece uma vida gloriosa de espionagem, riqueza, viagens pelo mundo e uma casa de sonho em Manhattan. - De imprescindível leitura são os “Fundamentos de Empreendedorismo Empresarial”, da autoria de Paulo Bento. No prefácio de Armindo Monteiro, presidente da CIP - Confederação Empresarial de Portugal, pode ler-se que “esta obra tem a enorme virtude de desmitificar e dessacralizar o empreendedorismo, contribuindo para uma definição mais ampla e, simultaneamente, mais concreta, mais rigorosa e mais profunda. E fá-lo de uma forma ao mesmo tempo pedagógica e desempoeirada, o que torna a leitura aprazível, sem deixar de ser minuciosa e didáctica”.
Cimeira /Sustentabilidade Ocean Innovation Africa / Cidade do Cabo (África do Sul) Centro de Conferências e Eventos The Avenue 20 a 22 de Fevereiro www.ocean-innovation.africa Futebol Americano LVIII Super Bowl / EUA Allegiant Stadium / Las Vegas (Nevada) 11 de Fevereiro nfl.com Las Vegas recebe a final da 58.ª Edição do Super Bowl, o evento desportivo mais mediatizado do mundo e, este ano, a final da temporada de 2023/2024 de futebol americano vai ser abrilhantada por Usher. O cantor, de 44 anos, estará no dia 11 de Fevereiro no Allegiant Stadium, em Las Vegas, para o famoso “half-time show”. Recorde-se que o intervalo do Super Bowl é conhecido por receber ícones do mundo da música, em actuações preparadas ao pormenor. Diversos artistas já protagonizaram espectáculos memoráveis no intervalo da icónica partida: no ano passado, foi a vez de Rihanna.
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A Ocean Innovation Africa é a principal plataforma da economia sustentável dos oceanos em África. A cimeira anual destaca oportunidades para inovadores e investidores interessados no desenvolvimento de soluções com impacto nos oceanos e reúne os principais intervenientes para informar e impulsionar a mudança, para um crescimento equitativo e sustentável da economia dos oceanos em África. A cimeira é orientada para os resultados, com as manhãs dedicadas a ideias e inspiração para preparar o cenário para os workshops da tarde, onde os líderes de todos os campos se reúnem para colaborar em desafios e objectivos partilhados. Inovadores de toda a África sobem ao palco para partilhar as suas ideias e soluções.
Tech / Convenção Africa Tech Summit / Nairobi (Quénia) Sarit Centre 14 a 15 de Fevereiro saritcentre.com A Africa Tech Summit Nairobi junta líderes de tecnologia do ecossistema africano e players internacionais sob o mesmo tecto. Local de encontro com todas as partes interessadas, incluindo empresas de tecnologia, operadoras móveis, fintechs, investidores, startups líderes, reguladores e outros intervenientes no sector, impulsionando negócios e investimentos. Após uma interrupção em 2022, a quinta edição reúne-se em Nairóbi, no Quénia.
Streaming Mr. & Mrs. Smith / Prime Video 2 de Fevereiro Protagonizada por Donald Glover (também co-criador da série) e Maya Erskine, esta versão do filme Mr. & Mrs. Smith acompanha dois estranhos solitários com um emprego numa misteriosa agência que lhes oferece uma vida gloriosa de espionagem, riqueza, viagens pelo mundo e uma casa de sonho em Manhattan. A contrapartida? Novas identidades como John e Jane Smith e um casamento arranjado entre os dois. O elenco de luxo conta ainda com: Alexander Skarsgård, Sarah Paulson, Úrsula Corberó e Wagner Moura.
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Outros lançamentos que merecem a nossa atenção: Dia 1: Genius: MLK/X (National Geographic) Dia 2: The Big Door Prize T2 (Apple TV+) e A Propósito da CHU (Netflix) Dia 4: Curb Your Enthusiasm T12 (HBO) Dia 7: The Conners T6 (ABC), Not Dead Yet T2 (ABC), Abbott Elementary T3 (ABC) e Allegiance (CBC) Dia 8: One Day (Netflix), Halo T2 (Paramount+) e Tokyo Vice T2 (Max) Dia 9: Machos Alfa T2 (Netflix), A Killer Paradox (Netflix) e The Silent Service – The Battle of Tokyo Bay (Prime Video) Dia 11: Tracker (CBS) Dia 12: Bob Hearts Abishola T5 (CBS), The Neighborhood T6 (CBS), NCIS T21 (CBS) e NCIS: Hawai’i T3 (CBS) Dia 13: FBI T6 (CBS), FBI: International T3 (CBS) e FBI: Most Wanted T5 (CBS) Dia 14: The New Look (Apple TV+), Bom dia, Verónica T3 (Netflix) e Resident Alien T3 (Syfy) Dia 15: Young Sheldon T7 (CBS), Ghosts T3 (CBS) e So Help Me Todd T2 (CBS) Dia 16: Life & Beth T2 (Hulu), S.W.A.T. T7 (CBS), Blue Bloods T14 (CBS) e Fire Country T2 (CBS) Dia 17: County Rescue (GAF) Dia 18: The Equalizer T4 (CBS) e CSI: Vegas T3 (CBS) Dia 20: Will Trent T2 (ABC), The Rookie T6 (ABC) e The Good Doctor T7 (ABC) Dia 21: Constellation (Apple TV+) Dia 22: Avatar: The Last Airbender (Netflix) Dia 23: The Second Best Hospital in the Galaxy (Prime Video) Dia 25: The Walking Dead: The Ones Who Live (AMC) Dia 27: Shõgun (FX/Disney+) Dia 28: Lodo T3 (Netflix) Dia 29: Reina Roja (Prime Video) e Elsbeth (CBS) Livros Título: Fundamentos de Empreendedorismo Empresarial Autor: Paulo Bento Género: Gestão Editora: Edições Silabo “(...) Essa missão de promoção do empreendedorismo, bem como a tentativa de distinção entre empreendedores por conta própria e empreendedores por conta de outrem teriam sido facilitadas se dispuséssemos naquela altura de livros com a qualidade, profundidade e abrangência do agora proposto por Paulo Bento. Trata-se de uma obra que transmite conhecimento, esclarece conceitos, questiona modelos e orienta comportamentos. Neste sentido, não é mais um livro de empreendedorismo, é um bálsamo contra a verbosidade sobre o tema, que inquina o debate público e tem vindo a degradar um conceito fundamental para a sociedade e economia do século XXI. Por fim, esta obra tem a enorme virtude de desmitificar e dessacralizar o empreendedorismo, contribuindo para uma definição mais ampla e, simultaneamente, mais concreta, mais rigorosa e mais profunda. E fá-lo de uma forma ao mesmo tempo pedagógica e desempoeirada, o que torna a leitura aprazível, sem deixar de ser minuciosa e didáctica”, In Prefácio Armindo Monteiro, presidente da CIP - Confederação Empresarial de Portugal. www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2024
Calou-se a Voz de Magude que Fez a Maria Bailar Pela Coisa Mais Bela da Vida” O distrito de Magude, na província de Maputo, foi a nebulosa de onde nasceu a estrela Chico António, cantor de talento ímpar que viria a conquistar o cenário musical nacional e internacional, vocalizando sons tradicionais moçambicanos. Nascendo numa localidade rica em tradições culturais, Chico cresceu imerso na rica herança musical de Moçambique, desenvolvendo a paixão artística desde tenra idade. Aos 9 anos, tornou-se solista num coro de 50 pessoas, aprendeu trompete e solfejo. Fez parte de bandas que compunham música com base em ritmos tradicionais moçambicanos, tais como Grupo RM e Orquestra Marrabenta Star. Na infância, o cantor passou momentos muito difíceis, chegou a morar na rua por cerca de dois anos, mas a sua sorte mudou quando foi adoptado pelo casal português José Ferreira dos Santos e Lili Ferreira. Seus pais conseguiram uma vaga no internato Missão São João de Lhanguene, da Igreja Católica, onde fez o ensino primário e a sua iniciação musical. Em 1990, participou no concurso musical “Descobertas”, promovido pela Rádio França Internacional (RFI) e conquistou o grande prémio com a sua música “Baila Maria”, cantada em colaboração com a cantora, também moçambicana, Mingas. O prémio contemplava uma bolsa de estudos de dois anos em França. Durante os dois anos de formação intensiva, teve aulas de técnicas de base de piano, arranjos musicais e gravação musical, além da oportunidade de conviver com personalidades como Salif Keita e Pierre Bianchi. De volta ao seu país, Chico passou a apostar na pesquisa de música tradicional e nasceu a Amoya Studio and Art Gallery (ASAGA). Surgiram oportunidades de colaboração musical em produções audiovisuais e teatrais. Chico logo se destacou pela fusão de ritmos tradicionais moçambicanos com elementos contemporâneos, resultando numa sonoridade autêntica e envolvente. O sucesso da sua música ultrapassou fronteiras, alcançando ouvidos em todo o mundo, o que lhe abriu portas a digressões por países como Inglaterra, Holanda, Itália, França, Portugal, Suécia, Noruega, Dinamarca, Zimbabué, Guiné Conacri e Cabo Verde. Esta grande voz de Moçambique calou-se. Chico António perdeu a vida a 13 de Janeiro, na cidade de Maputo, vítima de doença. Mas, com certeza, este não é o fim da sua história, da jornada da sua arte, desde Magude até aos grandes palcos internacionais, inspiradora e a reflectir o poder transformador da música como meio de ligação entre pessoas e culturas.
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ROLLS-ROYCE LA ROSE NOIRE DROPTAILR
Modelo: Rolls-Royce Modelo: La Rose Noire Droptail Motor: V12 de 6,75 litros Preço: 30 milhões USD
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Rolls-Royce. Do Luxo à Elegância, A ROLLS-ROYCE TEM ESTABELECIDO, CONTINUAMENTE, novos padrões na indústria automóvel, definindo o luxo a cada lançamento. Neste percurso histórico, o seu mais recente carro, o Rolls-Royce La Rose Noire Droptail, destacase como um testemunho do legado da marca, uma perspectiva de futuro e não só. Espera-se que o modelo venha a assumir o trono do carro mais caro de 2024, estatuto que, no ano passado, pertencia a um modelo da mesma marca, o Rolls-Royce Boat Tail. O La Rose Noire (a rosa preta, em francês) tem o nome da rosa Black Baccara. Esta não é uma rosa qualquer. É uma flor escura, de cor aveludada, frequentemente associada ao secretismo e ao romance profundo, originária de contos franceses e que se tornou símbolo de enigma, amor e paixão. Tal como a rosa hipnotizante de onde deriva o seu nome,
a Mais Cara Expectativa de 2024
La Rose Noire Droptail não é apenas um veículo, mas uma emoção. Possui uma paleta de cores única, apropriadamente denominada “True Love” e “Mystery”. O interior do Droptail é onde a essência da Black Baccara realmente ganha vida: envolve mais de 1603 peças individuais de madeira, meticulosamente trabalhada e colocada, tornando o interior num verdadeiro espectáculo visual. É um carro exclusivo e isso não se deve apenas à sua aparência ou aos seus interiores. O Rolls-Royce Droptail carrega aspectos mecânicos que deixam à vista o rigor que acompanha a sua criação. Para além do design da marca, a viatura casa perfeitamente o alumínio, aço e fibra de carbono, inovando no uso do último elemento para assegurar maior agilidade e facilitar o design do Droptail, repleto de curvas.
O exterior assenta num moderno sistema de tracção Rolls-Royce, que promete uma sensação de “condução familiar”. Tem um motor V12 de 6,75 litros com turbocompressor duplo, apresentando um binário impressionante de 840 newton por metro (Nm) e 600 cavalos. Como se não fossem suficientes as vantagens que o automóvel oferece, vem ainda equipado com uma arca de champanhe. Esta característica resume o tema do La Rose Noire: não se trata apenas de luxo, trata-se de celebrar o amor, a paixão e as histórias - mas também é um reflexo claro do empenho da Rolls-Royce em ultrapassar os limites do luxo. O preço não é muito modesto, pois cada viatura deverá custar 30 milhões de dólares. Só faremos o câmbio do valor para metical quando tivermos espaço suficiente para escrever os dígitos.
O exterior do Droptail assenta num moderno sistema de tracção Rolls-Royce, que promete uma sensação de condução familiar, aliada à potência: um motor V12 de 6,75 litros com potência a rondar os 600 cavalos