E&M_Edição 73_Junho 2024 • Receitas do Gás Natural - Como Deve Crescer o Novo Fundo Soberano?

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PADEL EM MAPUTO

UMA MODALIDADE QUE GANHA CADA VEZ MAIS ADEPTOS NA CAPITAL MOÇAMBICANA

CONTEÚDO LOCAL

UM OLHAR AO FORTALECIMENTO DE COMPETÊNCIAS DOS GESTORES DE NEGÓCIOS NA ACADEMIA BOOST

REFORMAS ECONÓMICAS

SERÁ QUE AS MEDIDAS INTRODUZIDAS HÁ DOIS ANOS PELO GOVERNO AJUDARAM O SECTOR PRIVADO?

INOVAÇÕES DAQUI

APLICAÇÃO PROMETE LEVAR CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS A ZONAS REMOTAS DE MOÇAMBIQUE

RECEITAS DO GÁS NATURAL

COMO DEVE CRESCER O NOVO FUNDO SOBERANO?

O princípio é simples: poupar em tempos de prosperidade, para suportar impactos inesperados no futuro. O Fundo Soberano de Moçambique está lançado, com as receitas do gás liquefeito. Mas como garantir que vai cumprir a sua missão?

MOÇAMBIQUE
Junho • 2024 • Ano 07 • Nº 73 • 350MZN

Banco Société Générale Moçambique inaugura Academia Para Desenvolvimento

Profissional

dos Colaboradores

No passado dia 17 de Abril, o Banco Société Générale Moçambique abriu as portas da “SG Academia”, um espaço amplo pensado para o desenvolvimento profissional de seus Colaboradores

SG Academia está equipada com as mais modernas tecnologias, projetadas para que os Colaboradores possam aprimorar e manter suas competências no sector bancário em níveis elevados. Além das salas de aula tradicionais, a SG Academia conta também com salas para workshops, laboratórios de design de produtos, espaços de tecnologia da informação e o Balcão-escola, uma inovação que replica o layout de um balcão normal, permitindo aos jovens colaboradores realizar simulações de atendimento aos clientes antes de interagirem no ambiente real.

Através da SG Academia, o Banco reitera seu compromisso com o investimento em capital humano para oferecer um serviço de excelência aos seus clientes por meio de uma equipe altamente qualificada. “Em conjunto com nossos parceiros, estamos construindo uma proposta de valor sólida para a SG Academia, visando não só qualificar nossos colaboradores, mas também impactar positivamente todo o sistema financeiro nacional”, afirmou Sara Matimele, Directora de Recursos Humanos.

Demonstrando sua preocupação com o meio ambiente, a instalação será equipada com painéis solares com o apoio da empresa francesa “ENGIE”. Além disso, como parte do compromisso do Banco com a promoção da cultura local, para a decoração do edifício, o Banco contou com obras de alguns artistas nomeadamente, as estátuas “O Estudante”, criada pelo artista Jeremias Matusse, e “O Poder da Mulher”, desenhada por Silvano Simbine.

“Por fim, como gesto de cuidado com o a saúde e bem-estar dos colaboradores, foi criado um ginásio dedicado exclusivamente aos funcionários internos, a fim de melhor atender os nossos clientes no dia a dia”, destacou Ridha Tekaïa, CEO do Banco Société Générale Moçambique.

P OWERED BY 4

Banco Société Générale Moçambique

Inaugura Villa Premium

No passado dia 18 de Abril, o Banco Société Générale Moçambique abriu as portas da Villa Premium, um empreendimento criado para proporcionar a melhor experiência aos Clientes

á um ano e meio, embarcamos no sonho de nos tornarmos o banco preferencial para atender nosso exclusivo segmento de mercado afluente.

Iniciamos esse percurso pela criação de um novo padrão de design para todas as nossas filiais, com uma abordagem visual moderna e fresca, essencialmente promovendo uma nova experiência ao Cliente.

Nacala foi o nosso balcão modelo, inaugurado em Agosto passado e seguindo esse plano, iniciamos com a remodelação progressiva tendo sindo concluída a sede em Dezembro do ano passado e a agência de Nampula que se encontra em processo de finalização.

Nesse novo design, em consonância com o compromisso do Société Générale Moçambique com a promoção da cultura local, integrámos em cada balcão uma pintura de um artista local no âmbito da iniciativa One Place, One Art, buscando inspirar os nossos Clientes a fazer parte da cultura moçambicana e a apoiarem os nossos artistas locais.

Inspirado na beleza da Ilha de Moçambique, o Centro Premium apresenta obras do artista Pekiwa, refletindo a tradição piscatória da ilha.

“Decidimos ir mais longe no desenvolvimento da nossa oferta para os nossos Clientes Particulares Premium, expandindo a gama de serviços e produtos disponíveis, assim, criamos o Centro Premium, um espaço onde os

clientes serão recebidos com expertise, flexibilidade e sigilo”, afirmou a directora do Retalho Sílvia Banze.

Com uma oferta diversificada de produtos e serviços, o Centro Premium inclui um pacote promocional de Crédito à Habitação nos primeiros 3 meses da abertura, contemplando diferentes produtos para Remodelação, Aquisição e Construção de Habitação, bem como Crédito ao Consumo e Automóvel, Seguros, Investimentos, Banca Online e Transacional, e futuramente cofres pessoais. Além disso, o Centro Premium oferece um International Desk para apoiar os Clientes expatriados em suas necessidades locais e no estrangeiro, simplificando sua integração e permanência, resultado de nossa vasta experiência em servir esse segmento.

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Um Caminho de Esperança e Desafios

oçambique acaba de se juntar ao grupo de países que já constituíram um Fundo Soberano, o que representa um marco significativo na gestão dos recursos naturais do País. Este fundo, destinado a administrar as receitas provenientes da exploração de gás natural e outros recursos minerais, é visto como uma ferramenta crucial para assegurar o desenvolvimento sustentável e a prosperidade a longo prazo. Contudo, a sua eficácia dependerá de um modelo de gestão robusto, dentro dos padrões recomendáveis e, sobretudo, de uma transparência irrepreensível.

O Fundo Soberano de Moçambique (FSM) é projectado para cumprir múltiplos objectivos. Em primeiro lugar, pretende estabilizar a economia moçambicana, que é vulnerável às flutuações dos preços das matérias-primas. Ao acumular reservas durante os períodos de altos preços, o fundo pode suavizar os impactos económicos quando os preços caem. Além disso, o FSM visa investir em projectos que promovam o desenvolvimento económico e social do País, diversificando a economia e reduzindo a dependência dos recursos naturais. Finalmente, o fundo deve garantir que as gerações futuras também beneficiem das riquezas minerais de Moçambique.

enquadramento legal sólido, a separação clara entre a gestão do fundo e o Governo e a adesão a princípios de boa governação, como os estabelecidos pelos Princípios de Santiago. É fundamental que o FSM tenha uma estrutura de governação independente, com profissionais qualificados e mecanismos rigorosos de auditoria e controlo. A política de investimentos deve ser transparente e orientada por critérios de longo prazo, equilibrando prudência e crescimento.

Como tornar o FSM num verdadeiro motor do crescimento?

É essencial que o fundo publique relatórios financeiros detalhados e periódicos, revele as suas estratégias de investimento e permita a fiscalização por órgãos independentes, incluindo o Parlamento e a sociedade vivil. E as questões são: o recém-operacionalizado FSM contém todos estes ingredientes? Quais são as chances de tornar o FSM num verdadeiro motor do desenvolvimento, como fez a Noruega e como tenta fazer o Gana?

JUNHO 2024 • N.º 73

DIRECTOR EXECUTIVO Pedro Cativelos

EDITOR EXECUTIVO Celso Chambisso

JORNALISTAS Ana Mangana, Filomena Bande, Jaime Fidalgo, João Tamura, Luís Patraquim, Nário Sixpene

PAGINAÇÃO José Mundundo

FOTOGRAFIA Mariano Silva

REVISÃO Manuela Rodrigues dos Santos DEPARTAMENTO COMERCIAL comercial@media4development.com

CONSELHO CONSULTIVO

Alda Salomão, Andreia Narigão, António Souto; Bernardo Aparício, Denise Branco, Fabrícia de Almeida Henriques, Frederico Silva, Hermano Juvane, Iacumba Ali Aiuba, João Gomes, Rogério Samo Gudo, Salim Cripton Valá, Sérgio Nicolini

ADMINISTRAÇÃO, REDACÇÃO

E PUBLICIDADE Media4Development

Rua Ângelo Azarias Chichava nº 311 A — Sommerschield, Maputo – Moçambique; marketing@media4development.com

IMPRESSÃO E ACABAMENTO

RPO Produção Gráfica

TIRAGEM 4 500 exemplares

Para alcançar estes objectivos, o modelo de gestão do FSM deve ser exemplar. A experiência internacional mostra que a governação eficaz de um fundo soberano depende de vários pilares: um

Entretanto, a sociedade civil tem manifestado preocupações legítimas. Organizações não-governamentais e activistas questionam a capacidade do Governo de garantir a transparência e a boa gestão do FSM, dada a história recente de escândalos de corrupção e má administração. Há um clamor por uma maior participação pública na definição das políticas do fundo e na supervisão das suas actividades. A sociedade civil defende a criação de um conselho consultivo com representação diversificada, para promover uma gestão inclusiva e responsável.

O desafio é grande, mas a oportunidade é ainda maior!

EXPLORAÇÃO EDITORIAL E COMERCIAL EM MOÇAMBIQUE

Media4Development

NÚMERO DE REGISTO

01/GABINFO-DEPC/2018

www.economiaemercado.co.mz | Junho 2024 6 E DITORIAL

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OBSERVAÇÃO

Guerra Rússia-Ucrânia

A Suíça organiza uma cimeira da paz (sem a Rússia), mas vários dos pontos propostos por Zelensky são inviáveis nesta fase: o foco deverá estar na segurança alimentar, segurança nuclear e troca de prisioneiros.

OPINIÃO

“Ciclos de Política Monetária”, Nilza Tenguice & Yara Soto, Global Markets Analysts, Banco BIG

O padel até pode fazer lembrar o ténis, mas as diferenças estão a cativar o mundo inteiro e Maputo entrou na moda

CONTEÚDO LOCAL

A olhar para a formação de gestores de negócios, a Academia Boost está a apostar na criação de competências de nível global

POWERED BY ABSA

“Be Girl Moçambique: Parcerias para a Transformação Social”, Absa Bank Moçambique

NAÇÃO

FUNDO SOBERANO

26 Gestão e transparência

Consultores, economistas e sociedade civil apontam o caminho para transformar o recém-operacionalizado Fundo Soberano num pólo de desenvolvimento do País

36 Entrevista

O representante do FMI em Moçambique, Alexis MeyerCirkel, alerta para o risco de transformar o Fundo Soberano em “maiores salários dos servidores públicos”

40 Fundos soberanos africanos

Qual tem sido a experiência dos países que já constituíram o Fundo Soberano? Que modelos trouxeram desenvolvimento e que práticas de gestão se devem evitar?

POWERED BY MAZARS

“A Contabilidade Digital e sua Transformação”, Joel Almeida, Partner and Head of Tax, Outsourcing and Consulting services

73 ÓCIO

74 Escape Uma aventura por Faium, uma das mais antigas cidades do Egipto e de África 76 Gourmet No Bean Coffee Shop, o café tem um sabor especial 77 Adega Neste inverno, o vinho Santa Helena é uma sugestão a ter em conta pela qualidade reconhecida em décadas 78 Empreendedor Mafalala Rugby Clube, um novo empreendimento pela saúde e bem-estar social 80 Agenda Tudo o que não pode perder neste mês de Junho 82 Ao volante do Super 9, o veículo que proporciona uma experiência única, como na Fórmula 1

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POWERED BY FNB

“Modalidades de Penhor: o Depósito a Prazo”, Stélio Tauzene Departamento de Operações de Crédito e Jurídico do FNB

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SHAPERS

As ideias de Robert Solow contribuíram para impulsionar as teorias de desenvolvimento económico

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OPINIÃO

“Africanicidade Como Diferencial Competitivo Para o Sucesso dos Negócios (Parte 2)”, João Gomes, Partner @BlueBiz

MERCADO & FINANÇAS

Em que medida o Pacote de Estímulos à Economia, instituído há dois anos pelo Executivo, impulsionou a actividade empresarial?

POWERED BY EY

“Um Terço das Empresas já Utilizam IA Nos Seus Negócios”, Sérgio Ferreira, Partner, Europe West Consulting Services, EY 58

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ESPECIAL INOVAÇÕES DAQUI

64 HealthTechs

A joint venture entre uma empresa moçambicana e outra americana promete descentralizar a saúde primária

68 Yango

A Yango revolucionou a mobilidade urbana em Maputo. Quais as perspectivas de investimento?

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MACRO
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Guerra Rússia - Ucrânia, Junho de 2023

Encontro na Suíça, em Busca da Paz

Mais de 70 chefes de Estado e de Governo confirmaram presença na Conferência para a Paz na Ucrânia, que deve decorrer nos dias 15 e 16 de Junho, na Suíça. É mais um esforço global para o fim da guerra Rússia- Ucrânia, que começou a 24 de Fevereiro de 2022, matando e ferindo milhares e, ao mesmo tempo, fragilizando a economia global - por exemplo, prejudicando os principais canais de distribuição de cereais de que África tanto precisa.

O evento foi coordenado com a Ucrânia, que solicitou à Suíça para o organizar - à semelhança da primeira conferência internacional, em 2022, sobre a reconstrução no pós-guerra. A Rússia não foi convidada, suscitando duras críticas de Putin, mas Zelensky justificou: „a Rússia bloquearia tudo”.

Paralelamente, o Governo chinês, que acabou por reforçar as suas relações com a Rússia na sequência da visita de Vladimir Putin a Pequim, ainda não indicou se participa. Fontes

suíças informaram igualmente sobre a ausência dos presidentes do Brasil, Cuba, Venezuela e Nicarágua, países da América Latina considerados próximos da Rússia.

No total, 160 Estados receberam o convite para participar no evento, no qual deverá estar presente o Presidente dos EUA, Joe Biden. As conversas vão decorrer num complexo hoteleiro de Bürgenstock, Lucerna, numa zona com acesso por uma única estrada e sob estritas medidas de segurança.

OBSERVAÇÃO 8 www.economiaemercado.co.mz | Junho 2024
FOTOGRAFIA D.R.

Dinheiro

Banco de Moçambique introduz nova série de notas e moedas a partir de 16 de Junho

O Banco de Moçambique (BdM) anunciou o lançamento de uma nova série de notas e moedas que substituirá progressivamente as versões em circulação desde 2006. A nova série entrará em vigor a partir de 16 de Junho de 2024, marcando o Dia do Metical.

Rogério Zandamela, governador do BdM, explicou que a revisão das notas em circulação “é feita a cada cinco anos, por forma que se adequém às novas tendências de design, segurança e outros elementos contextuais”.

Zandamela destacou ainda que “a temática das notas e moedas do metical da série 2024 conserva presente a tradição do enaltecimento dos valores do nosso património cultural, histórico e faunístico”.

A nova série incluirá as denominações de 1000, 500 e 200 meticais em papel, e de 100, 50 e 20 meticais em polímero. Em relação às moedas, as denominações de 20 e cinco centavos serão descontinuadas, permanecendo as de dez, cinco, dois e um metical, além das de 50, dez e um centavo.

As novas notas e moedas de metical circularão em simultâneo com as séries de notas e moedas emitidas desde 1 de Julho de 2006, que continuam, igualmente, a ter o curso legal obrigatório e poder liberatório pleno e ilimitado dentro do território nacional.

Rogério Zandamela sublinhou a importância de um esforço conjunto na divulgação das características das novas notas e moedas, apelando ao envolvimento das instituições de crédito.

Oil & Gas Empresa chinesa vai procurar petróleo em cinco blocos da costa moçambicana

O Governo autorizou a petrolífera estatal chinesa CNOOC a avançar com a pesquisa de petróleo nas bacias de Save e Angoche, num contrato de concessão (que inclui eventual exploração) válido para oito anos.

Este é o 6.º concurso de concessão de novas áreas para a pesquisa e produção de hidrocarbonetos, lançado em Novembro de 2021. Duas empresas foram vencedoras: a chinesa China National Offshore Oil Corporation (CNOOC) com cinco blocos e a empresa italiana Eni que conquistou um. “A CNOOC fica habilitada a rea-

lizar operações petrolíferas necessárias. O programa de pesquisa e trabalho contempla a aquisição sísmica e abertura de furos de águas profundas, o que poderá potenciar novas descobertas e mais recursos petrolíferos”, disse o ministro dos Recursos Minerais e Energia, Carlos Zacarias.

“Nesta fase, estamos a falar de contratos com a duração de oito anos para a pesquisa. Não há ainda descoberta e, como tal, os contratos cessam. Havendo descobertas, vai avaliar-se o campo e quando começaremos a ter produção”, concluiu.

Comércio Governo aprova investimento de mais de 900 M€ para o Porto de Pemba

O Executivo aprovou um investimento de mais de 900 milhões de euros (61,8 mil milhões de meticais) para o Porto de Pemba, na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique.

A vice-ministra da Indústria e Comércio, Ludovina Bernardo, explicou

que o valor será investido pela empresa Pemba Bulk Terminal Limitada (PBT) e que a resolução do Governo autoriza ainda o ajuste directo das operações do Porto de Pemba àquela sociedade comercial, em regime de concessão.

“Serão feitos investimentos adicionais de cerca de 14 mil milhões de meticais que incluem a contínua reabilitação das infra-estruturas do cais de base, que tem uma capacidade de 115 metros de atracagem, e outras actividades relativamente ao pontão flutuante, num investimento de 49,5 mil milhões de meticais”, clarificou.

A PBT vai executar, em terra e no mar, os trabalhos de construção, operação, gestão, manutenção e devolução do Terminal de Pemba.

Conteúdo Local Alemanha desembolsa 824,1 milhões de meticais para apoiar empresas nacionais

O Governo alemão vai desembolsar 824,1 milhões de meticais para financiar as pequenas e médias empresas (PME) moçambicanas, particularmente ao longo do Vale do Zambeze, conforme estabelecido no acordo assinado entre a Agência de Desenvolvimento do Vale do Zambeze e o Banco Alemão de Desenvolvimento (KfW).

O valor será destinado ao fortalecimento da cadeia de valor de PME do sector privado, como reforço aos

actuais programas de crédito da cooperação financeira, avaliados em 2,8 mil milhões de meticais, alocados pelo KfW e Banco de Moçambique.

O director-geral da Agência de Desenvolvimento do Vale do Zambeze, Roberto Albino, disse, na ocasião, que nos últimos cinco anos, o Governo e parceiros de cooperação mobilizaram 100 milhões de dólares para o fortalecimento da cadeia de valor estratégica de cerca de 1500 pequenas e médias empresas.

www.economiaemercado.co.mz | Junho 2024 10 RADAR

O Início da Desdolarização do Comércio Mundial

A maioria dos pagamentos da China ao exterior, como os de muitos países, costumavam ser liquidados em dólares americanos (USD). No entanto, desde o primeiro trimestre de 2023, isso mudou. Este gráfico da Fundação Hinrich, o segundo de uma série de três partes sobre o futuro do comércio, oferece um contexto visual do crescente uso do renminbi chinês (RMB) nos pagamentos, tanto domésticos quanto globais. Esta análise utiliza dados da Bloomberg sobre a participação

nos pagamentos e receitas da China em RMB, USD e outras moedas, de 2010 a 2024.

Nos primeiros meses de 2010, as liquidações em moeda local representavam menos de 1% dos pagamentos transfronteiriços da China, comparados a aproximadamente 83,0% em USD, mas, desde então, a China mudou de estratégia. E em Março de 2023, a participação do RMB nas liquidações da China ultrapassou o dólar, pela primeira vez.

Participação nas Liquidações Transfronteiriças da China: 2010 vs. 2023

Menos de 1% em RMB, aproximadamente 83% em USD.

A participação do RMB ultrapassou a do USD.

Em Março de 2023, o RMB ultrapassou pela primeira vez o USD ao nível da utilização em trocas comerciais

No entanto, fora do contexto chinês, o USD continua a ser a moeda internacional dominante ao nível do comércio por uma larga margem.

Percentagem de transacções em moeda estrangeira Por moeda

O comércio liquidado em renminbi foi o que mais aumentou, mas continua a ser muito menos utilizado do que o dólar americano.

Alteração (ppts)

EUA Dólar Euro Yen Libra esterlina

A utilização do RMB cresceu significativamente, reflectindo a mudança económica e política da China para reduzir a dependência do USD nas suas transacções internacionais.

Renmimbi Outros

NÚMEROS EM CONTA
12 www.economiaemercado.co.mz | Junho 2024 FONTES Bloomberg22.

Ciclos de Política Monetária

política monetária compreende um conjunto de decisões tomadas pelo Banco Central de um país com o intuito de controlar a oferta total de moeda e impulsionar o crescimento económico. O objectivo primordial do Banco Central é estabilizar, a curto prazo, o nível geral de preços (assegurando uma inflação baixa e estável) e a circulação de moeda na economia, contribuindo para uma alocação eficiente dos recursos, permitindo, assim, o crescimento económico sustentável a longo prazo.

O Banco Central emprega diversos instrumentos de Política Monetária para influenciar a oferta da moeda e regular as taxas de juro na economia. Estes incluem a taxa de juro de referência, o coeficiente de reservas obrigatórias e as operações de mercado aberto. Actualmente, o principal instrumento utilizado pelos bancos centrais é a taxa de referência, que determina o custo de oportunidade dos recursos.

Como actua?

Os objectivos comuns de qualquer política monetária incluem a estabilidade de preços, a manutenção do equilíbrio da balança de pagamentos, a criação de emprego, o crescimento da produção e o desenvolvimento sustentável

Em períodos de aquecimento económico e risco de inflação, o Banco Central eleva a taxa de juro de referência para conter a procura e os preços. As reservas obrigatórias são ajustadas para induzir mudanças estruturais na liquidez do sistema bancário. Por exemplo, para promover uma estrutura mais líquida para transacções, o Banco Central pode reduzir os coeficientes de reservas obrigatórias e, para diminuir a liquidez, pode aumentá-los. As operações de mercado aberto são empregues para contrair ou expandir a base monetária. Quando a intenção é contrair a base monetária, o Banco Central vende parte dos seus títulos públicos, retirando assim moeda de circulação. A venda de títulos públicos também pode servir como meio de financiamento de défices temporários da tesouraria do Estado. Por outro lado, para expandir a base monetária, o Banco Central compra tí-

tulos públicos no mercado, aumentando a quantidade de moeda em circulação. A política monetária pode ser classificada em dois ciclos: expansivo (dovish) e restritivo (hawkish). A política monetária expansiva é adoptada quando o objectivo é estimular a procura e promover o crescimento económico, aumentando a quantidade de moeda em circulação. Neste cenário, o Banco Central pode reduzir a taxa de juro de referência ou, havendo espaço, reduzir os coeficientes de reservas obrigatórias, incentivando a busca por crédito por parte de indivíduos e empresas junto dos bancos comerciais. Neste ciclo, o aumento da procura por bens e serviços geralmente supera a capacidade de produção das empresas, resultando em aumentos generalizados de preços (inflação). Além disso, o aumento da liquidez influencia o aumento dos investimentos empresariais, contribuindo para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), um indicador chave do crescimento económico.

Política restritiva

Por sua vez, a política monetária restritiva é adoptada quando há excesso de moeda em circulação, levando o Banco Central a aumentar as taxas de juro e/ou a aumentar os coeficientes de reservas obrigatórias para conter a inflação e garantir a estabilidade cambial. Estes aumentos desencorajam a busca por crédito, reduzem a quantidade de moeda em circulação, desacelerando a procura por bens e serviços, o que contribui para uma redução e estabilização da inflação. Os objectivos comuns de qualquer política monetária incluem a estabilidade de preços, a manutenção do equilíbrio da balança de pagamentos, a criação de emprego, o crescimento da produção e o desenvolvimento sustentável. Por exemplo, a Federal Reserve (FED) dos EUA e o Banco Central Europeu (BCE) utilizam as ferramentas da política monetária para promover a estabilidade de preços (com uma meta de infla-

www.economiaemercado.co.mz | Junho 2024 14 OPINIÃO

Obrigações sustentáveis

ção de 2%) e o pleno emprego, influenciando assim o crescimento económico. Após anos de taxas de juro historicamente baixas, a FED iniciou, em Março de 2022, um ciclo de política monetária restritiva, aumentando as taxas de referência do intervalo de 0,25% a 0,50%, até ao intervalo de 5,25% a 5,50%, em Julho de 2023, numa tentativa de combater a aceleração da inflação. O BCE, após 11 anos sem alterar as taxas, seguiu também a mesma política, aumentando-as de 0,50% em Julho de 2022, até 4,50% em Setembro de 2023. Nas últimas reuniões de Abril e Maio deste ano, o BCE assim como a FED mantiveram as suas taxas de referência inalteradas, mas ambos vêm, desde há algum tempo, a sinalizar a intenção de alteração do actual ciclo de restritivo para expansivo, justificando que ainda não o fizeram devido às incertezas em torno da evolução da inflação.

Meta do Banco Central

A nível doméstico, o Banco de Moçambique (BdM) tem como meta manter a inflação homóloga em um dígito. A título de exemplo, em Setembro de 2022, com a inflação homóloga em 12,01%, o BdM aumentou a taxa de juro MIMO de 15,25% para 17,25%, devido às incertezas sobre os impactos dos choques climáticos nos preços de bens e serviços e aumento da pressão sobre a despesa pública, associadas à volatilidade nos mercados financeiros globais e aos conflitos prolongados entre a Rússia e a Ucrânia. Em Janeiro de 2023, o BdM recorreu ao uso de reservas obrigatórias (RO), aumentando o seu coeficiente de 10,50% para 28,00% em moeda nacional e de 11,50% para 28,50% em moeda estrangeira, e em Maio para 39,00% e 39,50%, em moeda nacional e estrangeira, respectivamente, como consequência do agravamento dos riscos e incertezas em

torno das projecções da inflação. Estes mecanismos, até ao momento, mostraram-se eficazes para reduzir a inflação. No cenário actual, a economia moçambicana está em desaceleração, com uma inflação homóloga de 3,26%. Assim, Moçambique encontra-se num ciclo de política monetária expansionista, caracterizado pela redução das taxas de juro de referência e/ou redução de RO. Com base na expectativa de manutenção da inflação num dígito a médio prazo, o Banco de Moçambique iniciou o seu ciclo expansivo com dois cortes consecutivos na taxa de referência MIMO, de 17,25% para 16,50% em Janeiro e de 16,50% para 15,75% em Março, com o objectivo de estimular o crescimento económico. Adicionalmente, o Comité acredita que estão criadas as condições para a continuação de um ciclo de redução gradual da taxa MIMO, com vista à sua normalização num período de 24 a 36 meses.

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dez/18 abr/19 ago/19 dez/19 abr/20 ago/20 dez/20 abr/21 ago/21 dez/21 abr/22 ago/22 dez/22 abr/23 ago/23 dez/23 abr/24 24.00% 18.00% 12.00% 6.00% 0.00%
abr/17 ago/17 dez/17
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MIMO Inflação Homóloga
abr/17
dez/18 abr/19 ago/19 dez/19 abr/20 ago/20 dez/20 abr/21 ago/21 dez/21 abr/22 ago/22 dez/22 abr/23 ago/23 dez/23 abr/24 42.00% 24.00% 30.00% 36.00% 18.00% 12.00% 6.00% 0.00%
RO em Moeda Nacional e Estrangeira e IPC em Moçambique
ago/17 dez/17 abr/18 ago/18
RO Moeda Nacional RO Moeda Estrangeira Inflação Homóloga O Banco de Moçambique é a instituição responsável pela política monetária no País

Febre do Padel Contagia Maputo

O padel “nasceu” na capital moçambicana há um ano, quando João e Miguel Alberty, fundadores da Mozago Construção, e Tiago Água, directorgeral da Kia Moçambique, criaram o Padel Club Maputo. Três amigos que viram o potencial de uma modalidade em crescimento mundial. “A procura era tanta que muitos amigos nos pediam para jogar, mesmo com obras a decorrer à sua volta, e a chave ia passado de mão em mão”, recorda Miguel Alberty

s primeiros quatro campos de padel, ao ar livre, estão localizados no autódromo da capital, fruto da parceria com o Automóvel Clube de Maputo (ATCM) e estrategicamente localizados junto a três escolas internacionaisamericana, francesa e portuguesa - com cerca de 2500 alunos. “Temos protocolos com estas escolas e muitos pais optam por deixar os filhos no clube, sobretudo dos 15 aos 24 anos, assim que terminam as aulas”, diz João Alberty. Um dos seus pontos de diferenciação são as infra-estruturas de apoio, desde os balneários, à loja de padel (que inclui o aluguer de raquetes) e ao serviço de bar. Oferece ainda outros serviços e actividades, tais como aulas de yoga, pilates e dança, massagens, aulas de cozinha e festas temáticas (tal como a realizada no dia 1 de Maio, por ocasião do primeiro aniversário, que incluiu um programa de actividades para os mais pequenos). Hoje, o clube emprega 16 pessoas a tempo inteiro. “Foi um investimento elevado, maior do que o esperado”, confessa João Alberty. No que se refere à modalidade, João Alberty estima que existam 1500 prati-

Silva

cantes no País, dos quais mil são membros do Padel Club Maputo. O perfil é diversificado, quer a nível de idades (o grupo maioritário vai dos 30 aos 55 anos), quer de nacionalidades, havendo mais homens do que mulheres. Os horários com mais movimento, em regra com ocupação máxima, são o final do dia e as manhãs. Aos fins-de-semana, o fim da tarde é mais procurado. “Uma das dificuldades é que há alturas do ano mais difíceis para a prática desta modalidade, por exemplo, quando há chuvas intensas ou quando o calor aperta”, refere.

Uma das estratégias mais eficazes para fidelizar os jogadores é a oferta de torneios de padel, que se realizam todas as segundas-feiras (“Teams Up”), quartas-feiras (“Americano”) e sábados (“Americano Feminino”). Outra são as aulas particulares ou de grupo. “Existe um enorme potencial para melhorar nesta área. Daí o nosso investimento recente na chegada de um novo professor, com uma larga experiência na modalidade”, justifica. Tomás Vasco, da Padel Factory, é português, tem 28 anos. A contratação teve dois objectivos. “O primeiro foi dinamizar as horas de menor ocupação através de aulas. O segundo

“Existe um enorme potencial para melhorar nesta área. Daí o nosso investimento recente na chegada de um novo professor, com uma larga experiência na modalidade”, João Alberty

16 MACRO

OS NÚMEROS DO PADEL NO MUNDO

O padel é a modalidade desportiva com maior crescimento no mundo, dado que se trata de um desporto fácil de praticar e com uma forte componente social. Segundo a Federação Internacional de Padel (FIP), há cerca de 25 milhões de pessoas em mais de 90 países que praticam esta modalidade, que teve origem no México, migrando depois para Espanha (onde é o segundo desporto mais popular, depois do futebol) e Argentina. A Europa é o continente com maior expansão, em particular em Espanha, Portugal, Suécia e Reino Unido. Destaque também para o boom verificado nos Emirados Árabes Unidos e na vizinha África do Sul.

Segundo o Global Padel Report, publicado anualmente pela Playtomic e Deloitte, estima-se que o número de praticantes e de campos (40 mil actualmente) possa mais do que duplicar (para 85 mil) até 2026. O mercado global está avaliado em dois mil milhões de euros, dos quais 1,2 mil milhões são relativos a infra-estruturas e 200 milhões aos fornecedores de materiais. Os equipamentos (raquetes, bolas, roupa e acessórios) representam 550 milhões. E o segmento profissional (torneios, bilheteira, TV e media) vale os restantes 50 milhões. Os analistas acreditam que o valor deste mercado pode quadruplicar nos próximos três anos.

foi o de dar formação especializada aos três professores do clube, todos nacionais, e que vieram do ténis”, diz.

Tomás Vasco confessa ter ficado surpreendido com o nível qualitativo dos praticantes. “Vinha com as expectativas baixas dado que a modalidade é muito recente no País. Mas depressa verifiquei que a maioria tinha experiência no ténis o que facilitou a aprendizagem e evolução rápida”. Outra diferença que sentiu, por exemplo, em relação a Portugal, foi a competitividade. “Enquanto noutros países o padel é, sobretudo, uma oportunidade para o convívio e networking, em Moçambique os jogadores querem muito ganhar”. A maioria está inscrita na aplicação Rankedin, que lista jogadores por pontos (número de vitórias) e todos os jogos, mesmo os “amigáveis”, contam para o ranking, que incluiu 189 homens e 44 mulheres e é actualmente liderado pelo espanhol Kiko Garneiro.

Apesar de o padel não ser propriamente um desporto barato e de ainda não existir uma federação, a modalidade ainda tem um enorme potencial de crescimento, à semelhança do que se tem verificado na vizinha África do Sul

Outra diferença, segundo Tomás Vasco, é que 90% das aulas são frequentadas por mulheres. “Se calhar é porque os homens já se julgam craques e não precisam de aprender mais nada”, afirma, divertido.

Apesar de o padel não ser propriamente um desporto barato (alugar uma hora de campo custa, em média, dois mil meticais e o preço por aula ronda os 600 meticais) e de ainda não existir uma federação, a modalidade ainda tem um enorme potencial de crescimento, à semelhança do que se tem verificado na vizinha África do Sul. É, aliás, deste país que vem a oferta de mais dois campos em Maputo: o Gayle Padel (localizados no Glória Mall), inaugurados em Fevereiro. E, ainda este ano, deverão nascer mais três campos no Bairro da COOP. É caso para dizer que a febre do padel, que corre o mundo, também já está em alta na capital do País.

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Boost: Impulso Adicional ao Desenvolvimento de Competências

Será uma lei de conteúdo local a ferramenta que melhor garante a redistribuição das receitas obtidas com a exploração dos recursos de Moçambique? O debate sobre investimentos está muitas vezes centrado neste tópico, mas há outra área que talvez mereça atenção: a criação de capital humano competitivo que promova o conteúdo local.

Texto Filomena Bande • Fotografia D.R

comum ouvir investidores apontarem as fragilidades dos recursos humanos moçambicanos como uma das razões para perder o apetite em apostar no País. É uma realidade que desafia o sistema de ensino, a todos os níveis, a flexibilizar currículos, por forma que acomodem as necessidades de uma evolução tecnológica rápida e para enfrentar uma competitividade global. E porque onde há fragilidades, há oportunidades, esta área também revela potencial para gerar soluções. Há formas de ajudar o País a alcançar a excelência e, ao mesmo tempo, evitar sobrecarregar as empresas com despesas de formação básica do seu pessoal.

Nesta edição, vamos conhecer a academia Boost, palavra inglesa sinónimo de impulso, força que aqui é aplicada no desenvolvimento do capital humano para alcançar vantagens no quadro do conteúdo local - mesmo na ausência formal desse conjunto de leis que privilegie a produção nacional.

Foco na formação de gestores

A Boost é uma academia executiva de negócios que nasceu a partir de uma parceria entre a incubadora de empreendimentos Idealab e a Nova Business School, uma das maiores escolas de negócios internacionais, primeira em Portugal e oitava na Europa. O projecto chegou a Moçambique em 2022, com o apoio da União Europeia e, no ano passado, lançou a sua plataforma com cursos de capacitação de gestores. Os cursos ministrados pela academia são todos desenvolvidos pela Nova Business School em coordenação com especialistas moçambicanos, para garantir que sejam adequados ao contexto nacional, promovendo o conteúdo lo-

cal. São, essencialmente, cinco cursos: Gestão Estratégica, Inovação, Liderança Transformadora, Gestão de Negócio e Gestão de Pessoas. Todos os cursos desta academia estão abertos a quem tem a 12.ª classe concluída e são ministrados em português, através de uma plataforma virtual 100% moçambicana e calibrada para a formação. Permite flexibilidade de horários e facilidade de acesso (basta ter um smartphone, tablet ou computador com acesso à Internet).

A academia nasceu orientada para jovens e mulheres que estejam a caminhar para um nível sénior de gestão. A Boost identificou como principal desafio da gestão, em Moçambique, a fraca competitividade das empresas, sobretudo as de pequena e média dimensão. “Nós trazemos conteúdos relevantes e actuais para elevar estas organizações para um outro nível”, explica Sofia Cassimo, directora da instituição. Planos de formação que permitem “reforçar as capacidades e as competências dos recursos humanos para que quaisquer empresas ou entidades em Moçambique possam começar a competir no mundo global e melhorar a sua operação dentro do País”.

Conteúdo local alicerçado nos jovens

Sobre a promoção do conteúdo local, Sofia Cassimo revela que a Academia

Boost analisou, simultaneamente, o potencial e as fragilidades dos jovens, a faixa populacional em que é crucial centrar esforços. “Sem dúvida, muitos jovens já conseguem ter acesso a um curso superior, mas, depois, o que é que eles trazem de diferente para o mercado de trabalho? Como é que podem ser individualmente mais competitivos e distinguir-se?”, questiona, revelando haver muito trabalho por fazer para que as competências se traduzam num contributo para o desenvolvimento. Por isso, todos os cursos são ministrados tendo em conta as circunstâncias do País e o ambiente de negócios. Os estudantes encontram a oportunidade de interagir e trocar ideias com o corpo docente composto por especialistas em negócios e com domínio do mercado moçambicano.

A academia promove a ligação entre os estudantes e os gestores, o que abre oportunidades de criação de parcerias de negócio. “A nossa academia é muito mais do que os cursos, embora estes sejam a nossa bandeira. Nós também queremos alcançar outro tipo de resultado, que é conseguir criar sinergias para que as pessoas se conheçam e, assim, podem surgir outras oportunidades”.

A inclusão social e o equilíbrio do género

Tratando-se de um curso de alto nível e com relevância internacional, Sofia Cas-

Os cursos ministrados pela Boost são todos desenvolvidos pela Nova Business School em coordenação com especialistas moçambicanos para garantir que são adequados ao contexto nacional e alavanquem o conteúdo local
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simo reconhece que o custo pode ser elevado para os gestores de pequenos empreendimentos. E é olhando para esse componente que a Boost disponibiliza bolsas de estudo para jovens com menos de 35 anos, que estejam nas províncias fora de Maputo.

Considerando que um grande volume de micro, pequenas e médias empresas em Moçambique são geridas por mulheres, a academia oferece bolsas com foco no feminino. Neste âmbito, foi desenvolvida a campanha Boost, que está em curso, em parceria com o BCI e o pelouro da Mulher Empresária e Empreendedorismo da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA). A campanha consiste em oferecer bolsas de estudo com descontos até 75% para mulheres fundadoras de empresas, gestoras e líderes.

www.economiaemercado.co.mz | Junho 2024 23

Be Girl Moçambique: Parcerias para a Transformação Social

As iniciativas da Be Girl estão alinhadas com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável números 3,4, 5, 6, 10 e 13

Be Girl Moçambique, uma organização dedicada à promoção da educação e higiene menstrual, tem desbravado um caminho inovador e corajoso na desmistificação de um tema muitas vezes envolto em estigmas e desinformação. Desde a sua fundação, a Be Girl tem-se destacado ao empoderar meninas e mulheres, fornecendo-lhes conhecimento e recursos essenciais para uma vida saudável e digna. Com programas que incluem a distribuição de produtos de higiene menstrual, campanhas educativas em escolas e comunidades e eventos de sensibilização, a Be Girl tem sido uma força motriz na desconstrução de mitos e tabus em torno da menstruação. O impacto deste trabalho tem sido reconhecido não só em Moçambique, mas também a nível internacional.

No entanto, a magnitude do impacto da Be Girl seria muito limitada sem o apoio de instituições comprometidas com o desenvolvimento das comunidades, como o Absa Bank. Desde 2019,

tem sido um parceiro estratégico, oferecendo não apenas apoio financeiro, mas também expertise em gestão e desenvolvimento de projectos, o que tem sido crucial para a sustentabilidade das iniciativas da Be Girl.

Em 2022, o Absa Bank financiou o evento de divulgação do Pacote Nacional de Gestão e Higiene Menstrual, organizado pela Be Girl em parceria com o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH), durante a celebração do Dia Mundial da Higiene Menstrual. Este evento contou com mais de 100 participantes de 80 organizações. Até ao momento, o Pacote Nacional de Gestão e Higiene Menstrual alcançou 310 mil pessoas em nove províncias e 35 distritos.

As iniciativas da Be Girl estão alinhadas com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável números 3,4, 5, 6, 10 e 13, que visam a saúde e bem-estar, educação de qualidade, igualdade de género, saneamento para todos, a redução das desigualdades e a mitigação das mudanças climáticas, objectivos cuja promoção e implementação o Absa abraça de forma comprometida, como signatário do Pacto Global das Nações Unidas. Martha Humbane, Directora da Banca de Retalho e Negócios, sublinha a importância desta parceria, considerando que “a colaboração com a Be Girl é um exemplo inspirador de como o sector privado pode trabalhar com organizações da sociedade civil para gerar um impacto significativo”. “No Absa Bank, estamos empenhados em continuar a apoiar a Be Girl nas suas iniciativas de educação e higiene menstrual, e em trabalhar conjuntamente para construir um futuro mais justo e próspero para todos em Moçambique”, acrescenta a Directora do Absa.

A colaboração entre o Absa Bank e a Be Girl evidencia o poder transformador da união entre o sector privado e as organizações da sociedade civil. Desta forma, as duas instituições estão a escrever uma história de esperança, de empoderamento e de transformação social em Moçambique. Uma história que promete ser apenas o começo de um impacto duradouro e significativo.

www.economiaemercado.co.mz | Maio 2024 24 P OWERED BY
NAÇÃO | FUNDO SOBERANO

Já Temos o Fundo! Falta-nos Moldar o Futuro...

Moçambique já tem um fundo soberano, operacionalizado com um montante de 94,2 milhões de dólares depositados no Banco de Moçambique. É o primeiro sinal de cumprimento de uma promessa de desenvolvimento. Mas, desde cedo, levantam-se questões estruturais sobre o caminho escolhido para a gestão. O fundo já está em implementação, sem que tenha sido aprovada uma política de investimentos. Que alternativas se devem considerar para que o Fundo traga os resultados pretendidos?

Á MUITOS ANOS

QUE O PAÍS se prepara para implementar um fundo soberano como instrumento para assegurar solidez no crescimento e desenvolvimento social e económico (ver cronologia nas páginas 32 e 34). Uma reserva em tempos de bonança, para amortecer impactos inesperados. Depois da aprovação, em Dezembro do ano passado, da proposta de lei que cria o fundo soberano, o balanço da execução do Orçamento do Estado (OE) no primeiro trimestre deste ano veio confirmar o encaixe de receitas provenientes da exploração de gás natural no valor de 94,2 milhões de dólares, que incluem 800 mil dólares arrecadados em 2022, 73,37 milhões de dólares em 2023 e cerca de 20 milhões de dólares no primeiro trimestre de 2024. O montante já está no banco central, instituição que vai fazer a gestão do fundo. E daqui em diante, o que se deve esperar?

A força do FS no crescimento

A consultora Deloitte, com larga experiência na auditoria ao Fundo Soberano de Angola, foi a instituição a que a E&M recorreu para analisar o modelo escolhido. Para o CEO da Deloitte, João Machado, e para a partner e especialista em assessoria financeira, Susana Bento, há si-

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nais de que, no plano teórico, o Fundo Soberano de Moçambique (FSM) esteja bem concebido, o que cria espaço para esperar o alcance dos resultados pretendidos: garantir que as receitas derivadas da exploração do gás contribuam para o desenvolvimento económico e social dos cidadãos.

E se o PIB duplicar em seis anos?

O Decreto n.º 13/2024 estabelece que parte das receitas projectadas da exploração de gás natural revertam para o FSM, na proporção de 40% das receitas totais durante os primeiros 15 anos de operacionalização do fundo, e 50% após esse período, sendo o remanescente canalizado para o OE. De acordo com as estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI) de Abril deste ano, espera-se um crescimento acentuado do PIB, em termos reais, a partir de 2026, com taxas de dois dígitos. Desta forma, é expectável que o PIB (em termos nominais) praticamente duplique num período de seis anos, passando de 21 mil milhões de dólares (em 2023) para 39 mil milhões de dólares (em 2029).

Não sendo expectável (de acordo com a Lei n.º 1/2024) que o FSM realize investimentos directos domésticos em áreas prioritárias (estes investimentos serão realizados apenas por via

do OE), o FSM irá ter, antes, uma função primordial de criação de poupança/riqueza no longo prazo (para as gerações vindouras) e de redistribuição de recursos para o OE em casos de volatilidade no preço das matérias-primas (caso as receitas efectivas se encontrem abaixo das previstas) ou de calamidade pública. Assim, deve-se esperar uma contribuição maior do FSM para o desenvolvimento da economia a partir do momento em que o fundo apresente uma dimensão considerável e retornos sustentáveis.

Estimativas apresentadas pelo ministro da Economia e Finanças, Max Tonela, indicam que as exportações anuais de gás podem ascender a 91,7 mil milhões de dólares ao longo do ciclo de vida do projecto, num cenário em que todas as iniciativas de desenvolvimento aprovadas até ao momento pelo Governo estejam em operação – o que ainda está longe de ser uma realidade: os dois principais projectos continuam parados. Mas a verificar-se o cenário, as receitas anuais para o Estado irão atingir um pico de mais de 6 mil milhões de dólares por ano na década de 2040.

“Em resumo, as receitas de exploração do gás apresentam um potencial transformador para a economia moçambicana, com especial incidência em sectores estratégicos como in-

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fra-estruturas, agricultura, energias renováveis e indústria, contribuindo desta forma para a redução da pobreza, desigualdades e resiliência a eventos climáticos extremos. Simultaneamente, espera-se o aumento da competitividade internacional do País, em especial na região da África Subsaariana. Neste contexto, o FSM assumirá um papel relevante na promoção de condições de estabilidade da economia e criação de riqueza no longo prazo”, referiu o CEO da Deloitte.

A falta de uma política de investimentos

Entretanto, é difícil pensar em como se podem alcançar estes avanços na economia, sem que se tenha informação sobre a política de investimentos a ser implementada pelo Executivo. É que, mesmo com o FSM já em implementação, ainda não foi constituído o Conselho Consultivo de Investimento – órgão de consulta do Governo sobre a política de investimentos do FSM, e que deverá ser formado por sete membros, entre peritos financeiros e membros independentes do Governo, que tenham experiência na gestão de carteiras de investimento.

As últimas informações indicam que os candidatos ao Conselho Consultivo de Investimento só serão conhecidos no dia 30 de Junho. Tudo o que se sabe, segundo a Deloitte, baseia-se na premissa de que o FSM irá investir no mercado financeiro internacional e em activos que não sejam do sector do gás. Deverá, igualmente, estabelecer regras sobre o perfil de risco dos investimentos; a classe de activos elegíveis, incluindo limites por classe de activos, instrumentos, países e/ou moeda; a duração referencial de aplicação dos recursos e margens de desvio permitidas; os limites de crédito; e os comparadores para avaliação de performance do fundo.

Foco num só objectivo

Qual é a vantagem de adoptar um fundo soberano que vai atender a vários objectivos ao mesmo tempo, como o caso do FSM? O fundo pretende assegurar que as receitas da exploração de gás natural estimulem o desenvolvimento social e económico de Moçambique, garantam uma fonte de estabilização do OE e sirvam de poupança para as futuras gerações. Mas muitas vozes ao nível da sociedade civil têm sugerido a alocação do FSM apenas para cobertura ao OE, para acelerar o fim da dependência externa no financiamento da despesa pública. Na mesma linha, a Deloitte entende que “uma eventual evolução gradual do

JOÃO MACHADO

CEO da Deloitte

modelo do FSM com menos objectivos ou mesmo com um foco exclusivo, na sua fase inicial, talvez fosse mais apropriado e eficaz para o caso concreto de Moçambique”. Ainda assim, refere que no caso de um FS que apresente diferentes objectivos em simultâneo – como o da Noruega, que tem uma tripla função (estabilização, poupança e pensões) –, “é crucial a definição, à priori, de um conjunto de políticas rigorosas de gestão e de utilização dos recursos, nomeadamente critérios para as transferências do FSM para o OE, de forma que garantam o cumprimento dos objectivos preestabelecidos” (no caso do FSM estão previstos no Decreto n.º 13/2024. Ver caixa).

“Em suma, de forma que se atinja eficazmente todos os objectivos previamente definidos, contribuindo para o desenvolvimento económico e social de Moçambique, importa seguir uma polí-

EM QUE ACTIVOS INVESTEM OS FS NO MUNDO?

De acordo com o International Forum of Sovereign Wealth Funds, em 2023, os fundos soberanos apresentavam o seguinte perfil de alocação de activos:

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100% Acções Investimentos estratégicos Títulos de rendimento fixo Caixa e equivalentes Activos ilíquidos Activos líquidos 30% 4% 5% 10% 28% 23% NAÇÃO | FUNDO SOBERANO

tica de implementação e gestão profissionalizada do FSM”. Uma acção “estritamente de acordo com o definido, respeitando o papel de cada interveniente, protegendo o fundo face a eventuais conflitos de interesse e adoptando uma política de supervisão proactiva”, sugere a Deloitte.

Os investimentos directos domésticos, fruto das receitas de exploração do gás natural, poderão ser efectuados exclusivamente através do OE (e não através do FSM), sendo que deverão incidir sobre as áreas prioritárias (infra-estruturas, agricultura, energias renováveis e indústria) de acordo com a Estratégia Nacional de Desenvolvimento.

Investimentos em activos

Perspectiva-se que o FSM invista através da constituição de uma carteira diversificada, no que concerne à classe de ac-

Tudo o que se sabe, segundo a Deloitte, baseia-se na premissa de que o FSM irá investir no mercado financeiro internacional e em activos que não sejam do sector do gás

AS CINCO GRANDES FUNÇÕES DE UM FS

1 2 3 4 5

ESTABILIZAÇÃO

Visa proteger o orçamento e a economia da volatilidade dos preços das matérias-primas e de choques externos.

POUPANÇA

Tem o objectivo de preservar e gerar riqueza para gerações vindouras.

DESENVOLVIMENTO

Privilegia a alocação de recursos a projectos com impacto estrutural no desenvolvimento socioeconómico.

RESERVA DE PENSÕES

Focado no desenvolvimento do sistema de pensões.

INVESTIMENTO DE RESERVA

Pretende gerar níveis de rentabilidade superiores.

tivos e instrumentos, maturidade, exposição geográfica e moeda, apresentando um nível adequado de risco. É ainda esperado que o FSM se encontre denominado em divisas (nomeadamente numa moeda forte, como o dólar), de forma que tenha uma função de reserva de valor, em caso de desvalorização do metical.

No mundo, como investimentos mais comuns no mercado accionista, destaca-se, primariamente, a exposição às maiores empresas dos Estados Unidos da América, assim como a outros mercados maduros ou uma exposição totalmente global.

Relativamente a instrumentos de rendimento fixo, evidencia-se a alocação a obrigações soberanas com um rating AAA (investimentos considerados sem risco), como o caso dos Estados Unidos e Alemanha. É ainda comum o inves-

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SUSANA BENTO Partner e especialista em assessoria financeira da Deloitte

timento parcial em activos considerados ilíquidos, como por exemplo imobiliário ou participações em capital provado, entre outros.

Os erros apontados pela sociedade civil

A E&M procurou o Movimento Cívico sobre o Fundo Soberano, braço da sociedade civil que monitora questões relacionadas ao FSM. Na voz da respectiva coordenadora, Fátima Mimbire, aplicar 60% do total das receitas no OE nos primeiros 15 anos e 50% a partir do 16.º ano não é o melhor caminho, e há sinais de que parte importante desses recursos não será aplicada em áreas de desenvolvimento.

Especialista em mercados do sector de recursos minerais, Fátima Mimbire reconhece que Moçambique procurou bons exemplos de implementação e gestão de fundos soberanos. Mas

Muitos países com reputação reconhecida no que diz respeito à gestão responsável de fundos soberanos colocaram a Educação entre as suas grandes prioridades. Este é mais um caminho que o País deve tentar assegurar.

argumenta, por exemplo, que não era necessária uma lei que criasse o FSM, mas sim uma lei de gestão de receitas que determinasse como seriam geridas. Ou seja, entende que o modelo adoptado não vai responder aos objectivos de desenvolvimento esperados e defende que o fundo teria um impacto maior se tivesse sido enquadrado institucionalmente dentro de uma lei de gestão de receitas, com clareza sobre qual seria o circuito dessa percentagem que sai do FSM para financiar o OE.

Para o Movimento Cívico sobre o Fundo Soberano é preocupante que o Governo tenha previsto recorrer ao fundo para financiar o défice orçamental sempre que julgar pertinente. Este ponto abre uma janela para o mau uso. Além disso, manifesta descrédito quanto à idoneidade do Banco de Moçambique para gerir o FSM, uma vez que, no seu entender, esta instituição não tem

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NAÇÃO | FUNDO SOBERANO

cultura de prestação de contas. “Deveríamos ter uma entidade autónoma que prestasse contas directamente à Assembleia da República”, sugere Fátima Mimbire.

É preciso dar prioridade à Educação

Muitos países com reputação reconhecida na gestão responsável de fundos soberanos colocaram a Educação entre as suas grandes prioridades. Este é mais um caminho que o País deve tentar assegurar, de acordo com o antigo ministro da Educação e actual reitor da Universidade Pedagógica de Maputo (UP-Maputo). Jorge Ferrão participou em alguns encontros de preparação e debate da proposta do FSM. Embora não tenham sido definidas as áreas-chave de actuação do próprio fundo, não tem dúvida de que é preciso dar prioridade à Educação. E porquê? Actualmente, o sector absor-

REGRAS PARA TRANSFERÊNCIAS DO FSM PARA O OE

O Decreto n.º 13/2024 estabelece as condições para a transferência de recursos do FSM para o OE, nomeadamente:

1

Se as receitas recebidas forem inferiores às receitas projectadas, poderá ser transferido do FSM um montante máximo de 4% do seu saldo, com referência ao final do ano anterior.

2

Em situações de calamidade pública, podem ser transferidos recursos do FSM para apoio ao OE, em percentagens superiores ao previsto.

3

A partir do ano em que as receitas canalizadas para o OE sejam inferiores à taxa de crescimento real de 3% do FSM, os levantamentos do FSM são efectuados de modo que o total das receitas canalizadas para o OE seja igual ao rendimento esperado do investimento do FSM.

ve perto de 23% do OE, mas, apesar de ser um peso significativo, serve apenas para pagar as despesas dos professores. Ficam de fora despesas de investimento, capazes de resolver muitos dos problemas estruturais. Por exemplo, o País tem um dos piores rácios professor/aluno do mundo, que varia entre um professor para 40, 50 ou mais alunos. Isto é, há um grande défice de professores nos níveis do ensino básico e secundário. Para Jorge Ferrão, é preciso também investir na educação pré-escolar porque é neste nível de ensino que se poderia garantir que os estudantes entrem em contacto com a escola mais cedo (e não aos 6 ou 7 anos, conforme o currículo actual). Isso permitiria que desenvolvessem faculdades cognitivas que facilitariam a sua adaptação ao ambiente escolar, evitando desistências. “O esforço financeiro que estamos a fazer para iniciar todos os anos com taxas ele-

vadíssimas (de novos ingressos às escolas), superiores a 2 milhões de crianças, é quase que um desperdício. Porque metade desses alunos não vai continuar. Desaparecem do sistema”, sublinhou o académico.

Como fazer a transformação?

Usando da sua experiência como ministro da Educação, Jorge Ferrão apresenta uma solução concreta, que considera ser de fácil implementação. Por exemplo, para massificar o ensino pré-escolar num cenário de grande défice de professores qualificados, como o que se verifica, pode-se recorrer às “senhoras da comunidade”, que podem dispor de tempo para estar com grupos de 20 crianças, por um período de até três horas diárias, em actividades que melhorem a capacidade cognitiva, como cantar, brincar e realizar jogos.

“Estas actividades socializam as crianças e fazem-nas perder o receio de interagir umas com as outras. Portanto, preparam-nas para a escola e isso seria possível com gastos mínimos em salários. O responsável recordou que, enquanto ministro da Educação, havia fundos de apoio que já não existem, pelo que poder-se-ia tentar substituí-los “por valores do FSM para fazer com que a educação funcione”, concluiu.

Reduzir a dívida pública

e investir em infra-estruturas O economista Elcício Bachita considera que, ao procurar apoiar o OE, o FSM representa uma oportunidade importante de mobilização de recursos financeiros para reduzir a contratação de dívida pública, quer interna, quer externa. Além disso, explica que, nesta fase, será crucial que o País procure colmatar o índice de assimetrias regionais e estabilizar o câmbio entre o metical e o dólar a médio e longo prazo, estimulando e expandindo a actividade económica através de uma maior procura por bens e serviços por parte do Estado.

Com vista a impulsionar o desenvolvimento, prosseguiu, o investimento do FSM deve ser aplicado em sectores críticos como infra-estruturas de mobilidade (redes de estradas e ferrovias), para facilitar o escoamento de mercadorias e reduzir custos das transacções. Paralelamente, deve-se olhar para a expansão da rede sanitária e melhoria das condições de trabalho e atendimento nos hospitais, investir na educação (melhoria na qualidade de ensino e construção de mais escolas nas zonas rurais), dando primazia ao ensino técnico em áreas críticas como a agricultura, pescas, mine-

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O Que o Fundo Soberano Passou Até Aqui Chegar

Só há poucos anos é que se tornou clara a opção de Moçambique em guardar parte das receitas do gás. Até à aprovação, houve um caminho de avanços e recuos que deixou pistas sobre as intervenções que podem estar pela frente

ÁRIOS PAÍSES têm optado por criar um fundo soberano para guardar parte da avalanche de liquidez com que os recursos minerais podem brindar uma economia. Em Moçambique, a discussão teve diferentes fases, que se arrastaram durante vários anos e reflectiram tensões que prevalecem, entre opções de aplicação das verbas e sobre quem deve ter voz na matéria. A E&M revê a cronologia do que se passou até agora, numa altura em que arranca a capitalização do Fundo Soberano de Moçambique.

Debater ou não um novo fundo?

Estávamos no final de 2012 quando o Fundo Monetário Internacional (FMI) lançou a sugestão: era útil "um debate mais a fundo" sobre a criação de um fundo soberano em Moçambique para gerir "as significativas receitas dos recursos minerais". Foi há 12 anos. Na altura, o representante do organismo em Moçambique era Victor Lledó e apelava à discussão, numa altura em que ainda havia “um horizonte de alguns anos até que as receitas dos recursos minerais” se tornassem significativas. Considerava que a utilidade do fundo não estava em causa; o importante era discutir o seu desenho. Mas o primeiro-ministro de então, Alberto Vaquina, falou pela primeira vez sobre o assunto com cautelas. "Se for para guardar dinheiro em bancos internacionais, enquanto precisamos de dinheiro para nos desenvolvermos, não creio que seja uma boa aposta. Ainda é uma discussão, ainda não temos recur-

sos, estamos a discutir o ovo enquanto ainda está na galinha".

Timor oferecia ajuda

O ministro dos Negócios Estrangeiros de Timor-Leste, José Luís Guterres, oferecia ajuda a Moçambique, a meio de 2013, para a criação e gestão de um fundo soberano. Timor-Leste dispunha de uma situação financeira desafogada, com cerca de cinco mil milhões de euros no seu fundo e sem dívida (nem interna, nem externa). "Da nossa parte é o seguinte: somos irmãos. Aquilo que nos for pedido para fazer, para contribuir, de certeza que faremos com muita alegria, fraternidade", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros timorense, à margem de um encontro da CPLP, em Maputo. Mas apesar da oferta, o assunto ficou em banho-maria durante o resto do ano.

Fundo, para já, não – dizia Chang

No início de 2014, o Governo moçambicano afastava a hipótese de vir a criar, a breve prazo, um fundo soberano com as mais-valias de exploração de recursos naturais. O ministro das Finanças moçambicano da altura, Manuel Chang, justificava a opção, referindo que Maputo planeava continuar a usar as receitas extraordinárias em despesas correntes do Estado. Na altura, o Governo moçambicano já tinha taxado cinco operações de venda de participações em projectos de exploração de gás na bacia do Rovuma, num valor total superior a 800 milhões de dólares. O assunto do fundo soberano só voltaria a ter algum destaque depois de o País se começar a reer-

“Ainda não temos recursos, estamos a discutir o ovo enquanto ainda está na galinha", Alberto Vaquina, primeiroministro, em 2012
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2012 2013 2014

PONTOS-CHAVE

Um resumo da cronologia do FSM

Agosto de 2017

Governo anuncia ideia de um Fundo Nacional de Desenvolvimento, a partir de mais-valias e negócios do gás.

Outubro de 2020

O Banco de Moçambique lança o debate com uma estimativa: o País espera receber mais de 90 mil milhões de dólares na vida útil do gás do Rovuma, mas é preciso que os três projectos (ENI, TotalEnergies e Exxon) avancem.

Maio de 2022

O Fundo Monetário Internacional (FMI) anuncia apoio a Moçambique de 470 milhões de euros, até 2025, e uma das condições é que o País crie um fundo soberano para gerir os fluxos provenientes das receitas do gás.

Dezembro de 2023

O Parlamento aprova a criação do fundo: o gestor operacional será o Banco de Moçambique

Março de 2024

Aprovado o regulamento: do total de recursos associados à exploração do gás, 60% seguem para o Orçamento do Estado e 40% para a conta do Fundo Soberano nos primeiros 15 anos. A partir do 16.º ano a proporção será de 50/50.

ENI lança gás do Rovuma

mia", dizia John Ashbourne, numa entrevista à Lusa, em Londres, antecipando dificuldades de concretização. Na altura, o consultor usou o exemplo do Gana e de como não conseguiu gerir os benefícios dos recursos naturais. guer do choque das dívidas ocultas (reveladas em 2016).

Elogios e reparos: o caminho pela frente 2017 2017 2017

O ano de 2017 é decisivo para o avanço do fundo soberano. Em Junho, enquanto a petrolífera ENI avançava com o projecto da plataforma flutuante da Área 4 (o único projecto, até hoje, a extrair gás na bacia do Rovuma), a consultora Capital Economics dizia que o País devia criar um fundo soberano para gerir as receitas do gás e apostar mais na construção de infra-estruturas que diversificassem a economia. "O que gostaríamos de ver era uma grande parte das receitas do gás a serem usadas num fundo soberano, e mais investimento nas infra-estruturas para ajudar à diversificação da econo-

Governo anuncia uma ideia de fundo

Foi em Agosto de 2017 que o ministro da Economia e Finanças de Moçambique, na altura, Adriano Maleiane, fez o anúncio: o Governo quer criar um fundo soberano com as receitas da exploração dos recursos naturais. Chamou-lhe “Fundo Nacional de Desenvolvimento, para financiar boas iniciativas”, mas que precisava de “um capital suficiente para começar".

Maleiane adiantou que o capital inicial do fundo teria origem nos 350 milhões de dólares que a multinacional italiana Eni pagou ao Estado pelas mais-valias que encaixou com a venda de uma parcela da sua participação na concessão de gás natural na bacia do Rovuma à norte-americana Exxon Mobil.

A Economist Intelligence Unit (EIU) elogiou a intenção de Moçambique estabelecer um fundo soberano, à semelhança do que acontecia em Angola, mas discordou da decisão de dar prioridade aos investimentos em projectos nacionais. “Há poucos projectos em Moçambique que possam gerar taxas de lucro decentes",

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O fundo deve preservar receitas do gás e só libertá-las em caso de "choque extremo" na economia ou para fazer face a calamidades

escreviam os peritos da unidade de análise económica. "Se o financiamento for direccionado para projectos nacionais, há um risco aumentado de os projectos politicamente atractivos serem escolhidos sobre aqueles que teriam um maior ganho económico". O foco, alertavam, deviam ser “os retornos a longo prazo".

Mas o Governo queria imprimir velocidade ao processo e pedia conclusões do debate sobre o tema até Dezembro. O Centro de Integridade Pública (CIP), ONG moçambicana, defendeu que o Governo devia deixar a pressa de lado e dar mais tempo ao processo de discussão. “É preciso clarificar o que se pretende", referiu. O CIP lançava dúvidas sobre a forma como o Governo anunciou a medida, "como um fundo de investimento para o sector privado e gerido pelo BNI", banco estatal.

2019

Anos passam, mas sem avanços

Tempo para debate não faltou, mas sem grandes avanços. No final de 2019, o governador do Banco de Moçambique (BdM), Rogério Zandamela, anunciou que a proposta para a criação de um fundo soberano estaria concluída em 2020. O objectivo era a "implementação de um modelo transparente para a gestão das receitas provenientes dos recursos minerais", referiu, garantindo a inclusão da opinião de todos, “incluindo da sociedade civil". A garantia surgia depois de seis organizações moçambicanas acusarem o banco central de exclusão dos debates, considerando que a participação da sociedade civil po-

dia assegurar o cumprimento de "boas práticas" na gestão da referida verba. "Existem experiências de participação, sob diversas formas, da sociedade civil em fundos soberanos de outros países. Coincidentemente, são os casos considerados de boas práticas".

Proposta emerge para discussão pública

Em Outubro de 2020, o Banco de Moçambique lançava a estimativa: o País espera receber 96 mil milhões de dólares na vida útil do gás do Rovuma (25 anos), quase sete vezes o PIB actual, de acordo com a proposta de criação do fundo soberano, lançada para discussão pública. O documento revelava a ambição de Moçambique em "integrar o grupo dos dez maiores produtores mundiais de gás natural e tornar-se no segundo maior produtor em África". O fundo contaria ainda com o potencial em reservas de carvão, areias pesadas, titânio e outros minérios de elevado valor de mercado – a proposta final aprovada em 2023 no Parlamento inclui apenas o gás.

A primeira proposta do banco central previa uma maturação do fundo até ao vigésimo ano. Até essa altura, devia receber metade das receitas brutas provenientes da exploração de recursos naturais não renováveis (a outra metade vai para o Orçamento do Estado, OE) e só libertá-las em caso de "choque extremo" na economia ou calamidades. Depois de completar 20 anos, o fundo deveria contribuir para o OE com 4% do seu saldo.

Fundo faz parte do memorando com o FMI

Em Maio de 2022, o Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou a retoma dos acordos de assistência financeira com Moçambique (excluindo apoios durante a pandemia de covid-19 e após ciclones).

Foi atribuído um apoio de 470 milhões de euros, até 2025, mas uma das condições é que o País crie um fundo soberano para gerir os fluxos provenientes das receitas de gás.

2022

Proposta aprovada, após arranque do gás do Rovuma

Foram precisos mais dois anos - e já depois de ter arrancado a exploração do gás do Rovuma (através da plataforma flutuante da ENI) - para o Conselho de Ministros aprovar a proposta de criação do fundo soberano: estávamos a 29 de Novembro de 2022. Segundo a proposta, o fundo seria capitalizado nos primeiros 15 anos com 40% das receitas do gás e petróleo, cabendo 60% ao Orçamento do Estado. A partir do 16.º ano, as receitas seriam repartidas de igual forma entre fundo e o OE. Esta seria a regra que acabaria por prevalecer.

2023

2020 2022

Fundo aprovado pelo Parlamento

O Parlamento aprovou a criação do Fundo Soberano de Moçambique (FSM) com receitas da exploração de gás natural a 15 de Dezembro de 2023. "As projecções indicam que as exportações anuais de gás podem ascender a cerca de 91,7 mil milhões de dólares nominais ao longo do ciclo de vida do projecto”, anunciava Max Tonela, ministro das Finanças, baseado num cenário em que todas as iniciativas de desenvolvimento aprovadas até ao momento pelo Governo [três, no total] estariam em operação. Neste cenário, as receitas anuais para o Estado iriam atingir um pico na década de 2040 de mais de 6 mil milhões de dólares por ano", explicou, no Parlamento. O problema é que só o projecto mais pequeno (plataforma flutuante da Eni) está em operação e, em terra, ainda não há data de retoma da TotalEnergies, nem prazo para o investimento da ExxonMobil.

Seja como for, o fundo foi criado: o gestor operacional será o Banco de Moçambique e, em Março de 2024, foi aprovado o regulamento: do total de recursos associados à exploração do gás, 60% seguem para o Orçamento do Estado e 40% para a conta do Fundo Soberano nos primeiros 15 anos. A partir do 16.º ano a proporção será de 50/50.

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“Há Que Definir Critérios de Aplicação do Fundo Soberano”

O sucesso do Fundo Soberano depende da aplicação dos 60% que serão alocados ao Orçamento do Estado (OE). Se não houver uma estratégia para os recursos fomentarem o desenvolvimento, há o risco de se traduzirem apenas “em maiores salários” dos funcionários públicos e “num Estado ainda mais pesado”, alerta Alexis Meyer-Cirkel, representante do FMI no País

Chambisso • Fotografia Mariano Silva

FMI elogiou e apoia a criação de um Fundo Soberano – é uma das metas do memorando de entendimento que sustenta o apoio financeiro ao País –, mas é preciso aplicá-lo em desenvolvimento do País. Por isso, Alexis Meyer-Cirkel, representante do FMI em Moçambique, aponta para os riscos que a ausência de uma estratégia pode implicar, levando o País à frustração. Para que isso não aconteça, deixa algumas receitas para que o Fundo Soberano seja um verdadeiro motor do crescimento.

O FMI elogiou a criação do Fundo Soberano em Moçambique. Que transformações é que este instrumento pode oferecer à economia moçambicana?

Moçambique iniciou uma nova fase na produção do Gás Natural Liquefeito (GNL) no quarto trimestre de 2022, através do Projecto Coral Sul. Este é um marco importante para o País. Mas os grandes projectos ainda estão por vir e trarão elevados montantes de receita na década de 2030. Neste novo contexto económico, e, sobretudo, se olharmos para as boas práticas internacionais, a criação do Fundo Soberano de Moçambique (FSM) é um passo importante com vista a assegurar uma gestão sólida e transparente das receitas dos recursos naturais. Uma boa gestão da riqueza dos recursos naturais requer um quadro institucional sólido para acautelar a elevada volatilidade e incertezas sobre os preços internacionais [do gás natural] e maximizar os ganhos para o País, garantindo a partilha dos benefícios entre as gerações presentes e futuras.

Mas nem sempre a criação de um fundo soberano garante

a estabilidade que os países procuram. Há algum risco de o modelo de gestão adoptado em Moçambique vir a ser malsucedido?

Um fundo soberano visa, geralmente, responder a dois objectivos principais: a curto prazo, a estabilização do Orçamento do Estado (OE) e da economia, através da redução do impacto da volatilidade das receitas do Estado; a longo prazo, criar uma reserva de riqueza a partir dos recursos não renováveis para as gerações vindouras. A metodologia de projecção das receitas aprovada pelo Governo inclui um mecanismo importante de suavização, ao considerar uma média móvel dos preços e não somente preços correntes. No entanto, o País carece ainda de regras específicas de utilização da componente de 60% da receita que irá fluir para o OE. Honestamente, o risco maior que vemos está aqui. É essencial que sejam estabelecidas regras para o uso desses recursos do gás, fluindo para o orçamento, alinhando o seu uso com as metas de desenvolvimento socioeconómico de longo prazo e investimento no futuro da nação – construção de infra-estruturas, desburocratização e digitalização do Estado, investimento em capital humano e saúde. Corre-se o risco de que esses recursos sejam inseridos no OE sem um plano maior e acabem por se traduzir em maiores salários dos servidores [funcionários] pú-

blicos e num Estado ainda mais pesado –aí teremos o GNL a transformar-se na famosa maldição de que tanto se fala.

A operacionalização do Fundo Soberano pode vir a significar menor necessidade de assistência financeira e técnica de Moçambique pelo FMI? Moçambique, enquanto membro do FMI, continuará elegível para beneficiar de assistência financeira ou técnica, dependendo da intenção e necessidades do Governo. Mesmo num contexto de ausência de assistência financeira, o Fundo continuará a avaliar a situação macroeconómica do País (dentro da sua responsabilidade de aconselhamento e monitorização das políticas económicas e financeiras dos países-membros), de modo que identifique potenciais riscos para a economia – visando a estabilidade macroeconómica, financeira e um crescimento económico sustentado. Por outro lado, um dos pilares da actuação do FMI é o desenvolvimento de competências através da prestação de assistência técnica, com formação nas diversas matérias, incluindo gestão das finanças públicas, despesas sociais, administração tributária, dívida pública, estatísticas, moedas digitais, entre outras. Tudo isto a par de conselhos pragmáticos, ferramentas práticas e intercâmbio de experiências entre países-membros.

“É essencial que sejam estabelecidas regras para o uso desses recursos do gás, fluindo para o orçamento, alinhando o seu uso com as metas de desenvolvimento socioeconómico de longo prazo e investimento no futuro da nação”
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MEYER-CIRKEL
Representante do FMI em Moçambique
“Alguns países como o Chile, Gana, Botsuana ou Brasil restringem o uso dos recursos naturais aos projectos de investimento, garantindo que uma riqueza não renovável aumente o potencial económico”

Num cenário de défice, há quem entenda que a prioridade devia ser a aplicação de todos os montantes no reforço ao OE. Tem o mesmo entendimento?

De facto, o País sofre de défices fiscais persistentes, enquanto as necessidades de desenvolvimento são enormes. O primeiro passo seria colocar o quadro orçamental dentro de um quadro sustentável, mesmo sem as receitas do gás. É aconselhável que um país rico em recursos naturais adopte regras específicas para ancorar a sua política fiscal, sendo que, geralmente, adoptam-se indicadores que excluam o impacto do recurso, tanto na receita, como no Produto Interno Bruto (PIB). Alguns países como o Chile, Gana, Botsuana ou Brasil restringem o uso dos recursos naturais aos projectos de investimento e desenvolvimento, garantindo que uma riqueza não renovável se transforma num aumento de potencial económico, através de me-

lhores infra-estruturas, capital humano, saúde, etc.

O FMI foi um dos conselheiros de Moçambique sobre o modelo de gestão seleccionado?

O FMI teve a oportunidade de comentar as diferentes versões do Projecto de Lei do Fundo Soberano. O principal consultor do Governo neste trabalho tem sido a Noruega, através dos consultores da NORAD. No entanto, trabalhamos há muitos anos com sucesso na melhoria da gestão das finanças públicas e continuamos a oferecer ao Governo o nosso apoio em desenvolver esse arcabouço fiscal na gestão dos recursos naturais dirigidos para o OE (os 60%). Queremos ser parceiros no auxílio à criação desse quadro, que pode incluir leis de responsabilidade fiscal, regulamentos sobre utilização dos recursos ou instrumentos de projecção (de recursos e riscos relacionados). Estamos sempre à disposição

para trazer as melhores práticas usadas nos países-membros.

Então, como evitar que a gestão do fundo seja malsucedida?

O primeiro passo é desenvolver uma estrutura institucional sólida que crie regras claras e transparentes de gestão alinhadas com os Princípios de Santiago (um conjunto de 24 princípios que promovem as melhores práticas de governos na gestão de fundos soberanos). Dentro desta estrutura, deve ficar definido que os recursos naturais vêm de fonte não-renovável e devem contribuir primordialmente para o desenvolvimento socioeconómico do país, contribuindo para a melhoria das infra-estruturas, da gestão pública, redução da burocracia, melhoria na educação e saúde. Tudo isto vai aumentar o potencial de crescimento económico e beneficiar a população. Temos de tomar muitíssimo cuidado para que os recursos não sejam simplesmente usados nos orçamentos anuais em gastos correntes (consumo do Estado), como salários dos servidores [funcionários] públicos, causando uma perda de competitividade internacional. Isto imediatamente transformaria os benefícios numa maldição. Agora é o momento de criar as instituições certas, e estamos aqui para aconselhar e mostrar os bons exemplos entre os nossos países-membros. Fica ao critério do Governo escolher as boas práticas e definir as suas políticas.

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Fundos Soberanos Africanos: O Que Replicar e o Que

Evitar?

Moçambique tem a oportunidade de observar como foram concebidos e estão a ser geridos outros fundos soberanos e, dessa experiência, trazer para casa os melhores modelos. Fique com o essencial sobre como funcionam os principais fundos africanos

m África, os fundos soberanos têm ganhado relevância nas últimas décadas, à medida que os países procuram estratégias para diversificar as suas economias, promover o desenvolvimento sustentável e garantir a estabilidade financeira a longo prazo.

Os fundos soberanos africanos destacam-se pela diversidade dos seus objectivos e áreas de investimento, que vão desde a estabilização económica à promoção do desenvolvimento social e infra-estrutural.

Enquanto alguns, como os da Nigéria e de Angola, se focam no desenvolvimento interno e na estabilização económica, outros, como o da Líbia, têm uma abordagem mais global e diversificada. Esta diversidade reflecte as diferentes prioridades e contextos económicos de cada país.

No que diz respeito à governação e transparência, persistem desafios significativos para muitos fundos soberanos africanos. A corrupção, a instabilidade política e a falta de capacidade institucional podem comprometer sua a eficácia e sustentabilidade. Por isso, melhorar a governação e adoptar práticas internacionais de gestão são passos cruciais para enfrentar estes desafios.

Os fundos soberanos africanos têm um grande potencial de crescimento e impacto positivo. Com uma gestão eficaz e estratégias de investimento bem definidas, estes fundos desempenham um papel crucial no desenvolvimento

económico e social de África, ajudando a diversificar as economias, a criar empregos e a promover a estabilidade financeira.

Como é que estes esforços são conjugados? Vamos analisar, a seguir, alguns dos principais fundos soberanos do continente africano, destacando o seu valor total actual, as áreas de actividade em que são investidos e os modelos de gestão.

Fundo Soberano da Nigéria (NSIA) O Fundo Soberano da Nigéria (NSIANigeria Sovereign Investment Authority) foi estabelecido em 2011 e, até ao final de 2023, acumulava activos avaliados em cerca de 2,5 mil milhões de dólares provenientes da exploração do petróleo.

O NSIA é composto por três sub-fundos principais, nomeadamente o Fundo de Estabilização, que foi criado para fornecer uma almofada financeira em tempos de choques económicos e flutuações nos preços do petróleo; o Fundo de Infra-estruturas, focado nos investimentos domésticos em infra-estruturas, incluindo transporte, energia e saúde; e o Fundo de Geração Futura, concebido para acumular riqueza para as futuras gerações, investindo em activos financeiros internacionais.

O NSIA é gerido com um forte foco na transparência. A estrutura de governação do fundo inclui um conselho de directores, nomeados pelo Presidente da Nigéria, que supervisiona a administração e operação. Além disso, o

Corrupção, instabilidade política e falta de capacidade institucional podem comprometer a eficácia e a sustentabilidade destes fundos. Melhorar a governação e adoptar práticas internacionais de gestão são passos cruciais.

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NSIA adopta as melhores práticas internacionais em termos de gestão de riscos e auditoria.

Fundo Soberano de Angola (FSDEA)

O Fundo Soberano de Angola (FSDEA - Fundo Soberano de Desenvolvimento de Angola) foi criado em 2012 e, actualmente, possui activos avaliados em aproximadamente 2 mil milhões de dólares, resultantes da exploração petrolífera.

O FSDEA é dedicado principalmente ao desenvolvimento nacional e à diversificação da economia angolana, com investimentos nas seguintes áreas: infra-estruturas, com projectos em energia, transportes e telecomunicações; agricultura, com investimentos na modernização e expansão da capacidade de produção agrícola do país; saúde e educação, através do financia-

OS FUNDOS MAIS IMPORTANTES DE ÁFRICA

Muitos países africanos já constituíram Fundo Soberano e seguem modelos mais ou menos semelhantes ao de Moçambique. Conheça os mais importantes

mento de iniciativas que melhoram estes serviços.

O fundo é gerido por uma equipa profissional de administradores e está sujeito à supervisão de um conselho de administração, bem como a auditorias regulares por firmas internacionais. Implementa também políticas rigorosas de conformidade e gestão de riscos.

Fundo Soberano do Botsuana (Pula Fund)

O Pula Fund, estabelecido em 1994, é um dos fundos soberanos mais antigos de África e possui, actualmente, activos de aproximadamente 3,8 mil milhões de dólares. Tem como objectivo principal preservar o valor da riqueza mineral do Botsuana para futuras gerações e estabilizar a economia.

As áreas de investimento incluem activos internacionais através de investimentos diversificados em acções, títulos e outros activos financeiros globais e o desenvolvimento nacional, por meio do financiamento de projectos estratégicos para o avanço sustentável do país.

O Banco de Botsuana gere o Pula Fund com atenção na segurança, liquidez e rendimento. A governação do Fundo é assegurada por um comité de investimentos que define as directrizes de alocação de activos e monitoriza o seu desempenho. Além disso, há uma política robusta de gestão de riscos e auditorias regulares.

Fundo Soberano da Líbia (LIA) O Fundo Soberano da Líbia (LIA - Libyan Investment Authority) foi fundado em 2006 e, apesar dos desafios políticos e económicos, continua a ser um dos maiores fundos soberanos africanos, com activos estimados em cerca de 68,4 mil milhões de dólares.

O LIA investe em diversas áreas para diversificar as suas fontes de rendimento, nomeadamente imobiliária, concretamente em propriedades comerciais e residenciais em todo o mundo; acções e títulos, que compreendem participações em mercados financeiros internacionais; e energia e recursos naturais, incluindo o petróleo e o gás.

O fundo enfrenta desafios significativos em termos de gestão e governação devido à instabilidade política na Líbia. No entanto, esforços contínuos estão a ser desenvolvidos para melhorar a transparência e a eficiência do Fundo. A estrutura de governação inclui um conselho de administração e vários comités de auditoria e conformidade.

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FONTE Global Sovereign Wealth Funds (SWF)
Líbia Etiópia Botsuana Angola Nigéria Em mil milhões USD 68,4 46 3,8 2,5 2

FALTA DE TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO

Fontes como o FMI, a OCDE e o Banco Mundial referem-se à gestão dos fundos soberanos em África como uma questão de crescente preocupação

CAUSAS

Interferência Política

A intervenção directa de políticos leva a que decisões de investimento sejam frequentemente influenciadas por considerações políticas em vez de económicas.

Corrupção e Nepotismo

A falta de mecanismos de fiscalização e a impunidade para os envolvidos em práticas corruptas incentivam a má gestão.

Fragilidades Legais

Em diversos países, os marcos legais que regulam os fundos soberanos são fracos ou inexistentes. A falta de legislação clara e de regulamentos rigorosos permite a gestão arbitrária.

CONSEQUÊNCIAS

Perda de Confiança Pública

Sem confiança do público e dos investidores nas instituições do país, a mobilização de recursos e a atracção de investimento estrangeiro tornam-se mais difíceis.

Ineficiência Económica

Recursos que poderiam ser utilizados para infraestruturas, educação e saúde são desperdiçados em projectos mal concebidos.

Aumento da Dívida Pública

Governos que não conseguem gerir adequadamente os seus recursos recorrem ao endividamento externo, agravando a situação económica do país.

Desigualdades Sociais

A má gestão dos fundos soberanos tende a beneficiar uma pequena elite política e empresarial, aumentando a desigualdade social e económica.

Noruega, a melhor referência para África

Embora não seja africano, o Fundo Global de Pensões do Governo da Noruega (GPFG - Government Pension Fund Global) é frequentemente citado como um modelo de excelência em gestão de fun-

O Fundo Soberano do Botsuana é dos mais antigos de África e possui activos de aproximadamente 3,8 mil milhões de dólares. Baseia-se na mineração de diamantes

dos soberanos. Com activos superiores a 1 trilião de dólares, o GPFG é conhecido pela sua transparência, ética e práticas de investimento responsável. Os fundos soberanos africanos podem aprender lições valiosas com as práticas do GPFG, como a adopção de princípios de governação rigorosos e a promoção de investimentos sustentáveis.

www.economiaemercado.co.mz | Junho 2024 42 NAÇÃO | FUNDO SOBERANO

Benim

do Níger a caminho da China

RD Congo

Golpe de Estado falhado em Kinshasa

O Governo da República Democrática do Congo declarou ter abatido o líder de uma tentativa de golpe no dia 19 de Maio e detido várias outras pessoas, horas depois de tiroteios terem irrompido em Kinshasa, a capital do país centro-africano rico em minerais. O ataque segue uma série de golpes na África Ocidental e Central nos últimos cinco anos, que colocaram líderes militares no poder, os quais reorientaram alianças para a Rússia. A tentativa falhada de golpe na RDC foi realizada por um pequeno grupo de oposição, baseado fora do país, aparentemente sem qualquer apoio militar.

África Austral

SADC pede 5,5 mil milhões para lidar com El Niño

A Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) lançou um apelo de 5,5 mil milhões de dólares em assistência para lidar com o impacto de severas secas e inundações causadas pelo El Niño.

Condições meteorológicas adversas afectaram mais de 61 milhões de pessoas na região, disse o bloco de 16 membros, após uma cimeira para discutir os desastres que mataram centenas e destruíram colheitas. Enquanto partes da Zâmbia e do Zimbabué enfrentaram este ano a pior seca em pelo menos quatro décadas, inundações severas atingiram o Quénia, a Tanzânia e o Burundi. Recentemente, os líderes da África Austral lançaram um apelo de ajuda humanitária no valor de 5,5 mil milhões USD para enfrentar a escassez de cereais.

O Governo do Benim concordou em desbloquear as exportações de petróleo do vizinho Níger, após a intervenção de representantes da China National Petroleum Corporation, num conflito entre os dois países da África Ocidental. Chega ao fim um impasse que começou quando o Benim barrou o primeiro carregamento de crude nigerino sob um acordo com a petrolífera estatal chinesa devido a um litígio fronteiriço. Os envios servirão para o Níger amortizar um empréstimo de 400 milhões de dólares concedido pela CNPC.

África do Sul

ANC pela primeira vez sem maioria

Os resultados das eleições na África do Sul apontam num sentido: o Congresso Nacional Africano (ANC) vai ficar abaixo de 50% dos votos, perdendo a maioria, pela primeira vez, desde que chegou ao poder com Nelson Mandela, no final do Apartheid, em 1994. Trata-se de uma grande mudança política para a África do Sul, onde o ANC tem sido dominante durante todos os 30 anos de democracia e o único partido governamental que muitos conheceram. Sem maioria, poderá ter de formar uma coligação para permanecer no Governo – algo que nunca tinha acontecido na África do Sul pós-apartheid. Sem maioria, o ANC também precisará da ajuda de outros partidos para reeleger o presidente Cyril Ramaphosa para um segundo mandato.

Angola Salário mínimo duplica

O Governo angolano e os sindicatos chegaram a um acordo para duplicar o salário mínimo nacional e aumentar o salário da função pública em 35% no próximo ano. Segundo os “princípios gerais de fixação do salário mínimo nacional”, o valor vai subir para 70 mil kwanzas (82 dólares), quase o dobro dos actuais 32 mil kwanzas. Com o acordo deverá ser desconvocada a terceira fase da greve que estava prevista para Junho. Pedro Filipe, secretário de Estado para o Trabalho e Segurança Social, considerou o acordo como um “exercício de muita paciência e de muita responsabilidade” entre o Executivo e os sindicatos que tinham “posições diferentes” sobre uma série de temas.

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RADAR ÁFRICA
Petróleo

Zimbabué

Nove milhões precisam de ajuda alimentar

O Zimbabué anunciou que nove milhões de pessoas — mais de metade da sua população — precisarão de ajuda alimentar até março devido a uma seca causada pelo fenómeno meteorológico El Niño, que devastou a colheita de milho. Essa previsão representa um aumento de 17% em relação às estimativas iniciais. O governo estima que são necessários 3,3 mil milhões de dólares em ajuda para alimentar aqueles que não têm o suficiente para comer. A administração e o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários emitiram um apelo de 429 milhões de dólares.

Egipto Vodacom e Orange querem conter custos

Sudão do Sul

Oleoduto cortado eleva risco de conflito

Um oleoduto cortado, que exporta cerca de dois terços da produção de crude do Sudão do Sul, pode vir a aumentar o risco de recrudescimento dos conflitos da nação mais jovem do mundo, se não for reparado com urgência, segundo o International Crisis Group.

O Sudão do Sul ainda depende do seu vizinho do norte para transportar petróleo, fonte de quase toda a receita governamental. A guerra civil de um ano no Sudão resultou em danos a um dos dois oleodutos. A repartição dos lucros petrolíferos tem sido objecto de tensão entre os dois países. Os hidrocarbonetos são responsáveis por 80% do PIB.

Ruanda

A Vodacom está a discutir com a francesa Orange uma parceria estratégica em África para explorar acordos de infra-estrutura que ajudem a conter custos no continente. As empresas de telecomunicações estão a analisar acordos em mercados sobrepostos, nomeadamente no Egipto, e a rever onde existem outras oportunidades para trabalhar em conjunto.

Sudão

Rússia entrega armas e estabelece posto no Mar Vermelho

O exército do Sudão está prestes a receber armas da Rússia e troca vai autorizar Moscovo a estabelecer uma estação de abastecimento militar na sua costa do Mar Vermelho. Uma delegação militar viajará para a Rússia para concluir o acordo, informou o comandante-assistente Yasser Al-Atta ao canal de TV baseado no Golfo, Al-Hadath. Segundo descreveu, o posto russo “não será exatamente uma base militar”. O acordo surge enquanto o exército sudanês tenta recuperar vastas áreas de território perdidas para milícias numa guerra que terá matado 150.000 pessoas no último ano.

Mais 2000 soldados para Cabo Delgado

O Ruanda continua a fazer títulos na imprensa internacional por causa da ajuda a Moçambique. Em destaque, está o envio de mais 2000 soldados para ajudar a combater a violência em Cabo Delgado, que tem atrasado os projectos de exploração de gás natural – como o da TotalEnergies no valor de 20 mil milhões

de dólares. As tropas chegaram a meio de Maio, segundo Ronald Rwivanga, porta-voz das Forças de Defesa do Ruanda. O novo contingente juntou-se a pelo menos 2500 soldados e polícias ruandeses que já estavam no País desde 2021 para ajudar a restaurar a paz na província de Cabo Delgado.

África Oriental Corte em cabo submarino condiciona Internet

Do Quénia a Moçambique, a costa oriental africana teve de suportar ligações lentas à Internet no último mês, depois do corte de um cabo submarino que serve a região. A linha foi cortada a norte do porto sul-africano de Durban, e o tráfego de Internet foi redireccionado, enquanto engenheiros resolviam o problema, segundo o grupo Liquid Intelligent Technologies. Diversos grandes fornecedores de conteúdo da África Oriental são servidos por centros de dados na África do Sul.

www.economiaemercado.co.mz | Junho 2024 45

stamos a viver uma era onde a Inteligência Artificial (IA) terá um papel importante na nossa vida. A forma como a contabilidade será produzida por via da IA representa uma mudança significativa na maneira como os profissionais da área contabilística irão gerir e processar as informações contabilísticas e financeiras. Essa transformação digital traz uma série de benefícios, como maior eficiência operacional, qualidade dos serviços e agilidade na tomada de decisões. No entanto, também apresenta desafios relacionados com a adaptação constante às novidades tecnológicas e à preparação dos profissionais para lidar com as mudanças. Neste documento, exploraremos os principais aspectos da contabilidade digital e o seu impacto no cenário profissional.

Definição e Impactos da Contabilidade Digital

1- Eficiência Operacional

A automação de processos contabilísticos reduz erros e agiliza o processamento das informações, optimizando as rotinas de trabalho.

2- Qualidade dos Serviços

A inclusão de ferramentas tecnológicas nos escritórios contabilísticos melhora a qualidade dos serviços prestados aos clientes.

3- Maior Agilidade

A integração digital das informações permite a tomada de decisões mais rápidas e estratégicas, baseadas em dados actualizados e confiáveis.

Desafios e Benefícios da Contabilidade Digital

Embora a contabilidade digital ofereça diversos benefícios, ela também apresenta alguns desafios a serem enfrentados pelos profissionais da área:

A Contabilidade Digital e sua Transformação

• Benefícios

A contabilidade digital traz benefícios significativos, como:

- Maior eficiência e precisão nos processos;

- Facilitação da tomada de decisões;

- Redução de erros e agilidade no processamento de dados.

• Desafios

Os principais desafios da contabilidade digital incluem:

- Necessidade de actualização constante para acompanhar as mudanças;

- Preparação dos profissionais de contabilidade para lidar com as transformações digitais

Pesquisas indicam que os escritórios de contabilidade estão cada vez mais empenhados na transformação digital e procuram automatizar tarefas

- Adaptação de processos e sistemas existentes para se adequarem às novas tecnologias.

• Perspectiva dos Profissionais

- Os profissionais de contabilidade precisam de estar preparados para enfrentar os desafios e aproveitar os benefícios da contabilidade digital. Isso requer investimento em capacitação, adopção de novas ferramentas e adaptação constante às mudanças tecnológicas.

Estudos e Casos de Contabilidade Digital

Diversos estudos e casos têm sido desenvolvidos para analisar a adopção e os impactos da contabilidade digital no mercado contábil. Alguns exemplos relevantes incluem:

• Estudo de Caso

Estudos realizados em escritórios de contabilidade analisaram a adopção da contabilidade digital no processo de produção de informações contabilísticas. O estudo concluiu que a implementação de soluções digitais melhorou a eficiência e a precisão dos serviços prestados.

• Contabilidade Digital e Crescimento Empresarial

Outro estudo recente constatou que a adopção da contabilidade digital contribui de forma significativa para o crescimento das empresas. A agilidade nos processos e a disponibilidade de informações actualizadas permitiu uma melhor tomada de decisões estratégicas.

• Transformação Digital nos Escritórios Contabilísticos

Pesquisas indicam que os escritórios de contabilidade estão cada vez mais empenhados na transformação digital e procuram adoptar soluções tecnológicas para automatizar tarefas, melhorar a produtividade e oferecer serviços de maior valor agregado aos clientes.

Tecnologias Essenciais para a Contabilidade Digital

Para que a contabilidade digital seja implementada com sucesso, é fundamental a adopção de determinadas tecnologias-chave:

• Computação em Nuvem

Sistemas e software hospedados na nuvem permitem acesso remoto e colaboração em tempo real, facilitando o trabalho em equipa e a mobilidade dos profissionais de contabilidade.

www.economiaemercado.co.mz | Junho 2024 46 P OWERED BY

Profissionais de contabilidade precisam de desenvolver habilidades como pensamento analítico

• Automatização de Processos Ferramentas de automatização de tarefas repetitivas, como lançamentos contabilísticos e conciliações, aumentam a eficiência e a produtividade dos escritórios.

• Inteligência Artificial Aplicações de IA, como chatbots e sistemas de análise de dados, auxiliam na geração de insights valiosos e na tomada de decisões mais assertivas.

• Segurança Digital Soluções de cibersegurança, como criptografia e backups em nuvem, garantem a protecção e a integridade dos dados contabilísticos, essenciais para a confiabilidade dos serviços.

Adaptação dos Profissionais de Contabilidade

A transformação digital na contabilidade exige que os profissionais da área se adaptem constantemente às novas tecnologias e competências necessárias. Algumas acções importantes para essa adaptação incluem:

1- Actualização Constante

Os profissionais de contabilidade devem manter-se actualizados sobre as tendências e inovações tecnológicas aplicáveis à sua área de actuação,

participando em cursos, formações e acompanhando publicações especializadas.

2- Desenvolvimento de Novas Competências

Além do domínio técnico da contabilidade, os profissionais precisam de desenvolver habilidades complementares, como pensamento analítico, resolução de problemas e comunicação efectiva, para melhor aproveitar os recursos digitais.

3- Colaboração Multidisciplinar

A contabilidade digital requer a integração com profissionais de outras áreas, como tecnologia da informação e ciência de dados. Essa colaboração interdisciplinar é essencial para a implementação bem-sucedida de soluções digitais.

Oportunidades da Contabilidade Digital

A transformação digital na contabilidade abre diversas oportunidades para profissionais e empresas do sector:

• Eficiência Operacional

A automação de processos contabilísticos e a integração de sistemas digitais permitem uma gestão mais eficiente, reduzindo erros e agilizando a entrega de informações aos clientes.

• Novos Modelos de Negócios

A contabilidade digital abre caminho para o desenvolvimento de novos serviços e modelos de negócios, como assessoria financeira online, gestão de riscos e consultoria estratégica.

• Vantagem Competitiva Escritórios e empresas que adoptam soluções digitais avançadas podem destacar-se no mercado, oferecendo serviços de maior qualidade e valor agregado.

Conclusão: Rumo à Contabilidade Digital

A contabilidade digital representa uma transformação significativa no mercado contábil, trazendo benefícios como maior eficiência, qualidade dos serviços e agilidade na tomada de decisões. No entanto, essa evolução também apresenta desafios relacionados com a adaptação constante às tecnologias e à preparação dos profissionais. Para aproveitar as oportunidades da contabilidade digital, as empresas e os profissionais da área devem envolver-se num processo contínuo de actualização, desenvolvimento de novas competências e colaboração multidisciplinar. Dessa forma, poderão destacar-se no mercado, oferecer serviços de excelência e contribuir para o sucesso das suas entidades.

www.economiaemercado.co.mz | Junho 2024 47

Modalidades de Penhor: o Depósito a Prazo

o contexto financeiro do crédito e das garantias de crédito, o penhor de contas de depósito a prazo tem vindo a ganhar cada vez mais destaque, proporcionando um elevado nível de segurança, na perspectiva de ambos, o credor e o cliente. Neste artigo, iremos analisar como as instituições bancárias utilizam as contas de depósito a prazo como uma garantia valiosa para a concessão de créditos. O penhor de depósito a prazo envolve o bloqueio voluntário de valores depositados em contas bancárias como garantia para o pagamento de um determinado crédito. Os depositantes, na qualidade de devedores, concordam em não movimentar esses valores até que o crédito seja saldado na íntegra.

O objecto é a disponibilização do valor depositado como forma de garantia de obrigações creditícias

O titular de uma conta de depósito a prazo tem o direito de solicitar a restituição do montante nela depositada –um direito que está salvaguardado no contrato de depósito bancário e do penhor, pelo que a entidade bancária deverá restituir o valor do depósito a prazo quando as obrigações estiverem liquidadas.

Quanto à formalização da operação, a constituição do penhor de depósito a prazo é rápida e eficiente. Basta a manifestação expressa de interesse por parte do titular da conta, autorizando a constituição do penhor. O banco, como credor, deve confirmar a existência da conta de depósito a prazo do cliente e accionar o penhor através de um cativo que impossibilite o movimento do valor em questão, pelo devedor.

Em caso de incumprimento, o credor está legalmente autorizado a debitar o montante devido da conta indicada como garantia. Esta modalidade de penhor apresenta vantagens tanto para o credor quanto para o devedor. Oferece solidez ao credor ao transferir o bem para a sua esfera jurídica, permitindo ainda, ao devedor, manter a rentabilidade do depósito.

É fundamental sublinhar que, quando falamos do penhor de depósito a prazo, o objecto é a disponibilização do valor depositado como forma de garantia de obrigações creditícias. Esta garantia pode ser usada para assegurar diversos contratos de crédito, prevalecendo a data de constituição do mesmo. A conta empenhada permanece intacta até que todos os créditos garantidos sejam liquidados.

Em conclusão, o penhor de depósito a prazo é uma ferramenta valiosa no contexto financeiro e, se bem utilizado, pode ser uma solução eficaz para garantir o cumprimento das obrigações financeiras, sem comprometer a rentabilidade dos depósitos.

www.economiaemercado.co.mz | Junho 2024 48 P OWERED BY

Tecnologia, Demografia e Poupança: Como Influenciam o Crescimento?

Considerado um dos economistas mais influentes do século XX, Robert Solow, agraciado com um Nobel, deixou um legado duradouro na ciência económica, com teorias revolucionárias que ajudaram a moldar o entendimento do crescimento económico e o papel do capital, do trabalho e da inovação

Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R

obert Solow, economista norte-americano, nascido em 1924, é conhecido pelos contributos fundamentais para a teoria do crescimento económico. As suas inovadoras e a capacidade de juntar a teoria económica e a análise empírica renderam-lhe o Prémio Nobel de Economia em 1987. Neste artigo, exploramos as principais teorias de Solow.

Teorias de Solow

Um dos contributos mais significativos de Solow foi o desenvolvimento do modelo de crescimento económico, apresentado no artigo de 1956, “A Contribution to the Theory of Economic Growth” (Um Contributo para a teoria do crescimento económico). Foi a maior contribuição que deu para a ciência económica, influenciando gerações de economistas e moldando o campo do crescimento económico moderno.

Solow demonstrou como o progresso tecnológico é crucial no crescimento a longo prazo. O modelo que apresentou destacava a importância dos investimentos em capital físico e humano para impulsionar o crescimento, a par da acumulação de capital, e as teorias que apresentou influenciaram também a análise à distribuição de rendimento, contribuindo ainda para estudar as disparidades económicas entre países.

Entre as mais importantes obras de Solow estão a “Growth Theory: An Exposition” (1970) e “The Economics of Resources or the Resources of Economics” (1974), que aprofundam a análise do crescimento económico e da exploração de recursos naturais.

O modelo Solow-Swan É comum associarmos o crescimento económico a um aumento geral de rendimentos. Mas será isso suficiente para definir o que é crescer economicamente? Este foi um dos temas que Robert Solow investigou durante a sua vida profissional. Após quatro anos de pesquisa, Solow publicou, em 1956, “A Contribution to the Theory of Economic Growth”, artigo em que introduziu uma ideia inovadora intitulada “Solow-Swan model”.

O economista propôs que o crescimento económico a longo prazo estaria associado ao crescimento da população, à poupança (capital) e ao progresso tecnológico (alusivo à inovação). Em parceria com Trevor Swan, economista australiano, criou um modelo matemático que combinava estes elementos para estudar o comportamento de países com características semelhantes. Dessa forma, foi possível estabelecer um padrão no desempenho dos países e formular uma hipótese em relação à projecção do Produto Interno Bruto (PIB).

ROBERT MERTON SOLOW

Robert Merton Solow nasceu a 23 de Agosto de 1924, em Nova Iorque, EUA. Formou-se na Universidade de Harvard em 1947, onde obteve o doutoramento em economia em 1951, sob a orientação de Joseph Schumpeter. Ao longo da carreira, leccionou em instituições de renome, incluindo o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), onde passou a maior parte da sua vida profissional.

www.economiaemercado.co.mz | Junho 2024 50 SHAPERS | ROBERT SOLOW

Robert Solow destacou o papel crucial da tecnologia na expansão económica, argumentando que a tecnologia aplicada aos meios de produção não só impulsionava a eficiência produtiva, mas se tornaria também um dos motores fundamentais para o desenvolvimento económico.

De acordo com Solow, à medida que as novas tecnologias seriam integradas no processo produtivo, incrementariam valor do capital investido.

Esta ideia reflecte-se na forma como o “capital novo”, equipado com tecnologia avançada, tende a ser mais produtivo e, consequentemente, mais valioso do que o “capital antigo”, que pode tornar-se obsoleto ou menos eficiente.

Dentro do modelo de crescimento económico de Solow, conhecido como modelo Solow-Swan, a tecnologia é vista como um factor exógeno que impulsiona o crescimento económico de forma

sustentada. Tal ocorre porque as inovações tecnológicas permitem um aumento na produtividade dos factores de produção, o que, por sua vez, eleva o nível de ‘output per capita’ de uma economia. Além disso, Solow propôs que o progresso tecnológico poderia mitigar os efeitos decrescentes da acumulação de capital, permitindo que as economias mantivessem taxas de crescimento positivas, mesmo após alcançar níveis elevados de desenvolvimento.

Inovação tecnológica

O impacto das inovações tecnológicas nos meios de produção é também uma parte essencial na análise da distribuição de rendimento dentro do modelo de Solow. À medida que a tecnologia avança e o “capital novo” se torna mais predominante, a distribuição de rendimento entre os detentores de capital e trabalho

pode alterar-se. Os trabalhadores que possuem competências complementares às novas tecnologias podem beneficiar de aumentos salariais, enquanto aqueles cujas técnicas são substituíveis podem enfrentar estagnação ou redução salarial.

Por fim, a ideia de Solow de que a tecnologia é um factor preponderante no crescimento económico, continua a ser uma das pedras angulares da economia moderna. A teoria destaca a necessidade contínua de inovação e adaptação tecnológica como meio para impulsionar o crescimento sustentável e au-

À

medida que as novas tecnologias são integradas no processo produtivo, incrementam o valor do capital investido. Esta ideia reflectese na forma como o “capital novo”, equipado com tecnologia avançada, tende a ser mais produtivo e mais valioso do que o “capital antigo”

mentar a produtividade a longo prazo. Este conceito tem implicações profundas, não apenas para a teoria económica, mas também para as políticas económicas voltadas para a promoção de investimentos em pesquisa e desenvolvimento tecnológico (R&D), essenciais para o progresso contínuo das nações.

O legado de Robert Solow para a ciência económica é significativo. As teorias revolucionárias sobre crescimento económico, investimento em capital e progresso tecnológico continuam a fornecer informação valiosa para os economistas contemporâneos, enquanto a sua capacidade de juntar teoria e provas estabeleceu um padrão de excelência no campo da economia.

Robert Solow permanece como uma figura central da teoria económica moderna, cujo impacto perdurará por várias gerações de economistas.

www.economiaemercado.co.mz | Junho 2024 51

em este artigo a propósito dos vários bootcamps de negócio orientados para o “Desenho de Modelos de Negócio” que tenho vindo a realizar no Gana, Botsuana e em Moçambique. E o mesmo dá continuidade ao texto que aqui escrevemos, com igual título (parte I). Desafio os meus leitores/as a responderem à seguinte questão:

Como pode a Africanicidade ser uma fonte de valor para os negócios, na fase da ENTREGA de Valor?

Vejamos sucessivamente, sobre o tema:

- Africanicidade (AF), o que é1 e para que serve2: remeto o desenvolvimento deste tema para o texto que aqui escrevemos3.

- Africanicidade na fase da ENTREGA de Valor?

- Conclusões.

Para facilitar o entendimento proponho a utilização de uma estrutura muito intuitiva e prática, o Business Model Canvas (BMC+4) :

Fases da Geração de Valor

A - Criação

B - Entrega

C - Captura

2. A Africanicidade na fase da ENTRE-

GA de Valor

a. Atividades-chave

Este bloco do BMC+ procura responder à pergunta: “quais são as actividades e processos de negócio críticos que a sua empresa deve realizar para operar, com sucesso, e entregar a sua Proposta de Valor aos seus Segmentos de Clientes?”.

“Africanicidade” Como Diferencial Competitivo Para o Sucesso dos Negócios (II)

Exemplos de formas de gerar valor através da AF com base:

- No tacto: envolvendo os clientes em actividades que envolvam trabalho prático, celebrando a experiência táctil. Por exemplo, o caso do restaurante, no Zimbabué, que convida os clientes a pintarem a face e cobrirem o seu corpo com um pano de algodão, originário da Zâmbia, o Tsaro, durante o jantar.

- No paladar: incorporar técnicas tradicionais de culinária, na preparação de alimentos, que são exclusivas da região. Exemplo: o caso do restaurante, no Zimbabué, que atribui um certificado ao cliente que tenha a “audácia” de provar um mopane worm, uma pequena lagarta que faz parte do menu dos nativos.

- Na audição: preservar e promover a música local e as tradições orais como parte da actividade empresarial. Exemplo: o caso do restaurante no Gana que inclui, como complemento à experiência gastronómica, aprender a tocar o jembe, um pequeno tambor.

Blocos de construção

do BMC+

1. Segmento de Clientes

2. Proposta de Valor

3. Relação com o Cliente

4. Canais

5. Impactos (ODS)

6. Actividades Críticas

7. Recursos Críticos

8. Parcerias Críticas

9. Fontes de Receita

10. Estrutura de Custos

- Na visão: conceber produtos e serviços que contenham visualmente a história local africana.

- No olfacto: utilizar a flora local no processo de produção para uma autêntica experiência olfactiva e que evoque, por exemplo, o cheiro da chuva no capim da savana.

- E, também, na espiritualidade: acti-

vidades que honram e integram práticas espirituais tradicionais, fundamentando o negócio na cultura local. Totem: o Leopardo, representando a adaptabilidade e a capacidade de prosperar em vários ambientes, destacando a importância de actividades-chave versáteis e culturalmente fundamentadas.

b. Recursos-chave Este bloco do BMC+ procura responder à pergunta: “quais são os principais activos que a sua empresa precisa para entregar o produto/serviço?”

Exemplos de formas de gerar valor através da AF com base:

- No tacto: materiais que são de origem local e carregam a essência da região/país, como têxteis, madeira, metal e cerâmica, apoiando as comunidades e os artesãos locais.

- No paladar: ingredientes que são nativos da área, apoiando a agricultura local.

- Na audição: ferramentas e recursos que ajudam a preservar as línguas e sons locais.

- Na visão: elementos de arte visual e design que se inspiram na herança africana.

- No olfacto: recursos naturais que são exclusivos da paisagem africana, utilizados em produtos.

- E, também, na espiritualidade: símbolos e elementos espirituais que são incorporados em designs de produtos ou ethos da empresa.

Totem: o Rinoceronte, simbolizando a resiliência e o valor de bases sólidas, semelhante a contar com recursos-chave que estão profundamente enraizados nas tradições africanas.

c. Parcerias-chave

Este bloco do BMC+ procura responder à pergunta: “quais são os parceiros estratégicos com os quais a sua empresa partilha recursos e/ou colabora activamente para realizar as suas actividades-chave e, em última instância, para entregar a sua Proposta de Valor ao(s) seu(s) Segmento(s) de Clientes?”

www.economiaemercado.co.mz | Junho 2024 52 OPINIÃO

Exemplos de formas de gerar valor através da AF com base:

- No tacto: colaboração com artesãos enfatizando a qualidade táctil do artesanato africano.

- No paladar: parcerias com agricultores locais e produtores de alimentos para trazer sabores africanos autênticos para o mercado.

- Na audição: alianças com músicos e contadores de histórias para preservar e promover as tradições auditivas e de storytelling africanas.

- Na visão: trabalhar com artistas locais para fundir produtos e marketing com visuais africanos autênticos.

- No olfacto: unir forças com herbalistas e botânicos locais para explorar os tesouros olfactivos africanos.

- E, também, na espiritualidade: envolver líderes espirituais e comunidades para garantir que as práticas de negócio estejam alinhadas com as crenças locais.

Totem: A Zebra, encarnando o espírito de cooperação e comunidade, sublinhando a importância de parcerias que honrem e celebrem a herança africana.

C. Conclusões

Através da essência da Africanicidade e do seu potencial transformador nos negócios, torna-se claro que os sentidostacto, paladar, audição, olfacto, visão, assim como a espiritualidade - são poderosas alavancas para criar, entregar e capturar Valor de maneiras profundamente significativas. Através do tacto somos lembrados da importância da ligação humana e da comunidade, encorajando as empresas a moldarem produtos e serviços que não só tocam o corpo, mas também o coração. O paladar, com a sua capacidade de

evocar memórias e emoções, desafia as marcas a enraizarem-se nas ricas tradições culinárias africanas, proporcionando experiências que nutrem tanto o corpo quanto a alma.

Pela audição, a rica tapeçaria de sons do continente africano serve de inspiração para negócios que desejam construir uma narrativa que ressoe com autenticidade e profundidade.

Através da essência da Africanicidade, torna-se claro que os sentidos são poderosas alavancas

O olfacto, frequentemente subestimado, emerge como um meio poderoso para evocar a singularidade do ambiente africano, guiando as empresas na criação de ambientes imersivos que transportam os clientes para lugares de profundo significado cultural.

A visão, com a sua capacidade de capturar e transmitir beleza, impulsiona as empresas a diferenciarem-se através do design e da estética que celebram a diversidade e a riqueza visual do continente africano.

A espiritualidade, tecendo todos estes sentidos juntos, chama por um compromisso mais profundo com valores que transcendem o material, incentivando práticas de negócios que não apenas buscam lucro, mas também promovem cura, conexão e um sentido de pro-

pósito maior.

Convido, então, todos os Africanos/ as a abraçarem a Africanicidade, não apenas como uma forma de honrar os nossos ancestrais, mas como um meio poderoso e distintivo de gerar Valor nos negócios e influenciar positivamente a sociedade. Que possamos, juntos, construir um futuro onde a sabedoria, a beleza e o espírito do nosso continente sejam as pedras angulares de um novo paradigma empresarial.

P.S. A propósito da Africanicidade como fonte geradora de Valor para os negócios: um dos principais bancos moçambicanos faz da Africanicidade, e com muito sucesso, o principal adjectivo e ferramenta do seu arsenal de comunicação.

Enquanto escrevia este artigo, e voava de Harare para Maputo, tive a oportunidade de ler, no editorial da revista Índico, da LAM, sobre as novas ligações: “as primeiras indicações em termos de adesão confirmam, de facto, que a comunidade moçambicana na Europa precisa do carinho marcadamente moçambicano nas suas viagens. A nossa aposta é de tornar a moçambicanidade mais efectiva e a boa ocupação dos voos sensibiliza-nos bastante.”

1 Africanicidade: na minha opinião uma empresa adoptará o conceito e práticas de “Africanicidade” sempre e quando i) se encontrar dotada de processos de fusão, nas suas práticas de gestão modernas, ii) de elementos de natureza social, cultural e espiritual tradicionais, iii) [Elementos estes] que estão intimamente associados aos imaginário, usos, costumes e práticas do continente Africano.

2 Servindo então a Africanicidade para que as empresas possam:

- Criar e entregar Valor a segmentos específicos (i.e. nichos) de clientes,

- Capturar Valor para os seus accionistas e stakeholders,

- Gerar impacto (i.e. alinharem-se com os ODS - Objectivos de Desenvolvimento Sustentável),

- E, bem assim, permitir que estas empresas possam diferenciar-se dos seus mais directos concorrentes.

3 Diário Económico (23/05/2024): https://www.diarioeconomico.co.mz/2024/05/23/opiniao/africanicidade-como-diferencial-competitivo-para-o-sucesso-dos-negocios-i/

3 Revista Economia & Mercados (edição de Maio 2024).

3 360º Mozambique: https://360mozambique.com/opinion/ africanicity-as-a-competitive-advantage-for-business-success-i/

4 BMC+ Business Model Canvas: conceito e ferramenta desenvolvidos por OSTERWALDER, Alexander e PIGNEUR, Ives “Business Model Generation – A Handbook for Visionaries, Game Changers, and Challengers”. Adicionalmente, foi incorporado ao BMC original a dimensão IMPACTO Positivo e IMPACTO Negativo, de modo a que se alinhasse com os ODS.

5 ODS - Objectivos de Desenvolvimento Sustentável: trataremos deste tema num futuro artigo.

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Há que conhecer os canais pelos quais as empresas chegam aos clientes

Dois anos do PAE: Como as Reformas (Des)ajudaram o Sector Privado

O sector privado continua a ressentir-se da elevada carga fiscal, das altas taxas de juro, das fragilidades na logística, do excesso de burocracia, entre outros obstáculos. A 19.ª edição da Conferência Anual do Sector Privado (CASP) serviu para abordar a (in)eficácia de algumas medidas

m Moçambique, o Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Colectivas (IRPC), principal tributação cobrada sobre a actividade empresarial, é de 32%. Ou seja, quase um terço dos rendimentos é engolido pelo fisco. Paralelamente, as taxas de juro do mercado financeiro são geralmente superiores a 20%, apesar da redução contínua, pelo banco central, da Taxa MIMO (principal sinalizador do custo do dinheiro no mercado), para os actuais 15,75%.

Estas questões não são novas, mas voltam a ganhar particular relevância por terem sido, mais uma vez, levantadas pela classe empresarial no mais importante evento de discussão dos desafios do sector privado – a Conferência Anual do Sector Privado (CASP) – que teve lugar nos dias 15 e 16 de Maio, precisamente sob o tema “Investimentos e Negócios em Ambiente das Medidas de Aceleração Económica (PAE): Desafios e Oportunidades”. Curiosamente, o PAE já havia introduzido medidas de alívio à pressão sobre o sector privado, mas tudo indica que os resultados estão ainda longe de fazer efeito.

Empresários pedem redução de impostos

Não satisfeitos com a intervenção aprovada pelo PAE (ver caixa), os empresários defenderam a necessidade de o Governo baixar ainda mais as taxas de impostos para impulsionar a competitividade, o que concorrerá para o dinamismo da economia nacional. “Tenho alguma dificuldade em perceber o problema que temos em baixar as taxas de impostos. A análise muito simplista de que baixar as taxas implica a redução de receitas não é bem verdade. Portugal fez um estudo com uma comissão, trabalhando com países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), em que verificou que a redução da taxa de imposto implicou o aumento da receita fiscal, contrariamente àquilo que defendemos em Moçambique”, protestou Ismael Faquir, especialista em fiscalidade. E acrescentou: “pessoalmente, tenho uma conclusão diferente sobre a ideia de que baixar os impostos vai implicar a redução de receita. Pelo contrário, o alargamento da base tributária consegue-se por via da simplifica-

Na Conferência Anual do Sector Privado, os empresários defenderam o alargamento da base tributária, com redução de impostos e simplificação de procedimentos

ção dos procedimentos, bem como da redução de taxas, porque isto é que vai incentivar as pessoas a entrarem para a formalidade”.

Em relação a esta questão, o painel que discutiu o impacto da política fiscal na economia estimou que apenas 20% das pessoas com capacidade é que pagam impostos, ficando um potencial de 80% que ainda não é tributado, principalmente no sector informal. Como solução, defenderam a necessidade de alargamento da base tributária, acompanhada pela redução de impostos e taxas, e pela simplificação de procedimentos, entre outras medidas.

Juros mais baixos

Apesar de os empresários portugueses considerarem que Moçambique tem um mercado “fértil em oportunidades de negócio”, apontam as taxas de juro “muito elevadas”, que dificultam o acesso ao financiamento, e a burocracia como os principais constrangimentos a um maior

www.economiaemercado.co.mz | Junho 2024 54 M&F | CASP 2024

investimento na economia nacional. “Há taxas de juro elevadíssimas e excesso de burocracia para quem quer começar uma actividade”, disse à Lusa o vice-presidente da Câmara de Comércio Moçambique-Portugal, Paulo Oliveira, durante a CASP. Ainda entre os constrangimentos para investimentos no País, destacou a corrupção e a morosidade dos processos judiciais, pelo que defende uma justiça dinâmica e célere que dê garantias aos empresários, não apenas portugueses. Apesar de já existir um mercado importante de trocas comerciais entre os dois países, Oliveira assume que o volume de negócios tem vindo a cair desde 2021, por causa dos ciclones, da insurgência armada em Cabo Delgado e dos efeitos da pandemia da covid-19.

Dívidas do Estado continuam a preocupar

A sobrepor-se aos problemas já referidos, estão as dívidas acumuladas do Governo

na contratação dos serviços empresariais, um problema antigo e que continua a prejudicar o desempenho do sector privado. Durante a Conferência, a Confederação das Associações Económicas (CTA) de Moçambique resolveu “inovar” para tentar resolver a questão: pediu ao Governo que inclua, no Orçamento do Estado (OE), uma rubrica específica para o pagamento anual das facturas em atraso aos fornecedores, no valor de 3,1 mil milhões de meticais (50 milhões de dólares).

Retirar a obrigação de garantias provisórias

O presidente da CTA, Agostinho Vuma, defendeu, igualmente, a necessidade de se “impor a retirada da obrigatoriedade de garantias provisórias, no âmbito dos concursos públicos” e “harmonizar os respectivos procedimentos para se evitar que alguns ministérios continuem a insistir na exigência deste requisito, sem base legal”. Na mesma intervenção, de-

O PAE NA FACILITAÇÃO DE

INVESTIMENTO

Recorde-se, entre um total de 20 medidas, as mais impactantes na facilitação do investimento privado:

Reduzir a taxa do IVA de 17% para 16%; isenção do IVA na importação de factores de produção para a agricultura e a electrificação.

Baixar a taxa do IRPC de 32% para 10%, na agricultura, na aquacultura e nos transportes urbanos.

Estabelecer incentivos fiscais para novos investimentos em sectores-chave realizados em três anos (até 2026).

Simplificar os procedimentos para repatriamento de capitais.

Criar um fundo de garantia mútua.

Rever o regime geral de vistos de entrada no País, para promover maior fluxo de turistas e homens de negócios.

Ajustar as leis do trabalho e de investimento para torná-las mais atractivas ao investimento estrangeiro.

Ministério da Economia e Finanças (MEF)

fendeu que deve existir um programa de apoio para aumentar a incorporação de matéria-prima nacional na indústria de óleo e sabão, assumindo que o País pouparia 18,9 mil milhões de meticais (300 milhões de dólares) em importações.

Falta o Fundo de Garantia Mútua Há muito proposto pelos empresários para fazer face às elevadas taxas de juro, o Fundo de Garantia Mútua acabou por ser aprovado no PAE, mas a sua operacionalização foi sendo adiada. Mas a boa nova saída da CASP é que este instrumento deve entrar em funcionamento já a partir de Agosto, sob a gestão do Banco Nacional de Investimento (BNI), de acordo com a vice-ministra da Economia e Finanças, Carla Louveira.

Na sua intervenção durante o evento, a governante garantiu que o desenvolvimento do Fundo está na fase de fecho do modelo económico, em coordenação com o Banco de Moçambique, bem

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FONTE
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YVONNE

como a estruturação de uma linha de crédito e respectivo funcionamento com apoio do BNI.

Fundo com 300 milhões de dólares

No início do mês de Maio, o Executivo aprovou os instrumentos legais que levam à viabilização do Fundo de Garantia Mútua, orçado em cerca de 300 milhões de dólares. Trata-se do decreto que cria e aprova o seu regulamento, tal como estabelece o regime jurídico das sociedades gestoras.

Este Fundo é composto por património autónomo, constituído por recursos financeiros públicos, integrados no Tesouro, dotado de autonomia financeira e patrimonial, que tem como objectivo assegurar a facilidade de acesso ao financiamento das micro, pequenas e médias empresas que actuam nos sectores da agricultura, piscicultura, comercialização e processamento agrícola, turismo e habitação, através da concessão de garantias e contra-garantias.

Mas há boas perspectivas

Uma leitura do ambiente macroeconómico traz uma luz sobre o futuro. A

“Prevê-se um crescimento de 3,8% para este ano, impulsionado por uma série de reformas e investimentos (em infra-estruturas e no sector não mineiro). Este crescimento é notável considerando as adversidades económicas anteriores”

CASP EM NÚMEROS

Um retrato da Conferência Anual do Sector Privado

1,7

mil milhões USD Valor dos projectos discutidos

12

Países participantes

80

Empresários estrangeiros

40

Oradores nacionais e estrangeiros

4000

Participantes (em sala)

20 000

Participantes virtuais FONTE CTA

economista-chefe da agência de informação financeira Bloomberg Africa, Yvonne Mhango, destacou, no evento, o crescimento promissor de Moçambique em relação a outros países africanos, antecipando um aumento significativo, impulsionado pelo sector não mineiro e de hidrocarbonetos.

Yvonne Mhango, nascida no Maláui, sublinhou o potencial de crescimento do País: “prevê-se um crescimento de 3,8% para este ano, impulsionado por uma série de reformas e investimentos (em infra-estruturas e no sector não mineiro). Este crescimento, acrescentou, é notável, especialmente considerando as adversidades económicas anteriores devido a factores internos e externos.

A especialista também abordou a gestão da dívida pública em Moçambique, mencionando o alto índice de vulnerabilidade da dívida soberana, mas, felizmente, com uma perspectiva de melhoria, graças “às medidas que estão a ser tomadas, e que apontam para uma estabilização da dívida nos próximos anos”, indicou, chamando a atenção para a importância de uma gestão fiscal prudente.

www.economiaemercado.co.mz | Junho 2024 56 M&F | CASP 2024
MHANGO Economista-chefe da agência Bloomberg Africa

“Um Terço Das Empresas já Utilizam IA Nos Seus Negócios”

Convidado da última edição do Digital Club, promovido pela EY, Sérgio Ferreira integra a equipa de Human Experience da consultora. Aborda a influência crescente da Inteligência Artificial (IA) em negócios e serviços públicos, como está a revolucionar a automação, a análise de dados e a interacção com clientes, além de melhorar serviços públicos como a saúde e a segurança.

a última sessão do EY Digital Club, a IA e as suas implicações económicas, no trabalho e na liderança foram temas em debate numa troca de ideias que reuniu alguns dos principais gestores e figuras ligadas ao mundo dos negócios em Moçambique. Um evento que contou com a presença de Sérgio Ferreira, EY Partner & Business Transformation, que trouxe a Moçambique a sua experiência de mais de 15 anos na matéria. Na sua alocução, aludiu aos desafios e oportunidades em países em desenvolvimento e enfatizou a importância de requalificação e adaptação contínua dos profissionais face a uma “realidade que, bem enquadrada, é já hoje uma ferramenta indispensável nos negócios”.

Começando pela sua apresentação no Digital Club, o que é hoje a IA e para onde está a evoluir no mundo dos negócios?

A IA tem-se revelado como uma das forças mais disruptivas e transformadoras, tanto no mundo dos negócios, como na área pública. Está actualmente integrada numa variedade de aplicações, desde análises preditivas e automação de processos, até interacções avançadas com clientes através de chatbots e sistemas de recomendação personalizados. Um dos últimos estudos que realizámos sobre a utilização e adopção de IA nas organizações mostra que cerca de um terço das empresas globais já utilizam alguma forma de IA em pelo menos uma função de negócio. Estima-se que o mercado global de IA valerá aproximadamente 826 mil milhões de dólares até 2030, segundo a Statista. No sector empresa-

rial, a IA está a revolucionar a tomada de decisão, a eficiência operacional e a criação de novos produtos e serviços. Empresas de todos as dimensões estão a utilizar IA para Automação Inteligente de Processos; automação de processos de negócios que pensam, aprendem e se adaptam de forma autónoma; análise de dados e insights, ferramentas de machine learning são aplicadas para prever tendências de mercado, comportamentos do consumidor e para optimizar cadeias de abastecimento; e interacção com o cliente em chatbots e assistentes virtuais. Estudos como os da Statista sugerem que a IA poderá ter um impacto até 11,4% no PIB mundial em 2030, com ganhos significativos em produtividade e consumo pessoal.

E na esfera pública?

Aí, a IA tem o potencial para melhorar significativamente os serviços públicos, a segurança e as políticas sociais. Algumas aplicações incluem serviços de saúde em que algoritmos de IA são usados para diagnóstico médico, gestão de epidemias e personalização de tratamentos; segurança e vigilância nos quais sistemas de reconhecimento facial e análise preditiva são utilizados para aumentar a segurança pública e, por exemplo, na gestão urbana em que a IA ajuda na optimização de tráfego, planeamento urbano e gestão de recursos.

E para onde podemos olhar no que respeita à evolução da IA?

Tudo parece apontar para preponderância da ética e governança, com o crescimento da IA - em que instituições como a UE estão a desenvolver regulamentações, como o EU AI Act, para abordar estas questões; a sustentabilidade e a IA autónoma, com o desenvolvimento de sistemas que podem aprender e operar independentemente em ambientes complexos. A IA não só está já profundamente enraizada em várias vertentes da vida moderna, mas continua a evoluir para enfrentar novos desafios e oportunidades. O compromisso com uma IA ética e responsável será crucial para o seu desenvolvimento sustentável e aceitação social.

Esteve recentemente em Moçambique, em Angola, países e mercados em desenvolvimento com desafios específicos. Com que impressão ficou destes mercados? Há desafios próprios em áreas como a banca, a indústria, o desenvolvimento?

A minha recente visita a Moçambique e Angola foi reveladora e ilustrou as particularidades e desafios que estes mercados enfrentam, bem como as oportunidades únicas que oferecem. A adopção de tecnologia pode ser uma grande alavanca para o de-

“Estudos como os da Statista sugerem que a IA poderá ter um impacto até 11,4% no PIB mundial em 2030, com ganhos significativos em produtividade e consumo pessoal”
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senvolvimento. Um estudo de 2020 de uma consultora internacional sugere que a digitalização pode contribuir significativamente para o crescimento económico em mercados emergentes, aumentando o PIB em até 10% numa década. As soluções para muitos desses desafios podem vir através de uma maior adopção de tecnologias inovadoras, como a IA, a desempenhar um papel vital em sectores como a banca e os seguros, a educação e as infra-estruturas. A colaboração entre os governos, as empresas locais e investidores internacionais será fundamental para concretizar esse potencial.

Que realidades de países mais desenvolvidos podem adaptarse à situação de um país como Moçambique?

Certamente, o potencial da IA para transformar vários sectores é já evidente em muitos países mais desenvolvidos. Há diversas iniciativas e estudos

que podem ser adaptados ou servir de inspiração para países como Moçambique. Nos EUA e na Europa, sistemas de IA como o IBM Watson Health estão a ser utilizados para ajudar no diagnóstico oncológico, análise de imagens médicas e recomendação de tratamentos personalizados. Estudos publicados pelo Journal of the American Medical Association demonstram que a precisão do diagnóstico pode ser significativamente aumentada com o auxílio de IA. Dada a escassez de médicos especializados em áreas rurais de Moçambique, a IA pode ser usada para realizar diagnósticos preliminares e fornecer consultas de saúde à distância. Segundo o Banco Mundial, apenas cerca de quatro médicos estão disponíveis por 10 000 habitantes em Moçambique, o que compara com uma média de 33 nos países da OCDE. Plataformas como a Khan Academy e Coursera usam algoritmos de IA para adaptar o conteúdo de aprendizagem ao ritmo

e estilo de aprendizagem do aluno, o que tem demonstrado melhorar o desempenho académico, conforme estudos da Stanford University. Implementar plataformas de aprendizagem que utilizam IA para personalizar a educação pode ajudar a superar alguns dos desafios educacionais em Moçambique, como a alta taxa de abandono escolar e as grandes discrepâncias de desempenho entre áreas urbanas e rurais. A UNESCO relata que a taxa de conclusão do ensino primário em Moçambique ainda é inferior a 50%.

Mas como adaptar essas tecnologias à realidade moçambicana?

A implementação de IA requer uma infra-estrutura tecnológica básica, que inclui acesso confiável à Internet e disponibilidade de hardware. Segundo o Banco Mundial, apenas cerca de 17,6% da população de Moçambique tinha acesso à Internet em 2019.

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SÉRGIO FERREIRA EY Partner & Business Transformation
“Um relatório do Fórum Económico Mundial, de Agosto de 2023, indica que 83 milhões de empregos em todo o mundo serão perdidos nos próximos cinco anos por causa da IA – e 69 milhões serão criados”

E cerca de 20% em 2023, segundo Tauha Mote, presidente do Conselho de Administração (PCA) do INCM. É necessário investir na formação de profissionais locais em tecnologias de IA, o que pode ser realizado através de parcerias com universidades e instituições internacionais. Estabelecer parcerias com organizações internacionais e procurar financiamento de agências de desenvolvimento pode acelerar a implementação e adaptação dessas tecnologias.

O ‘elefante na sala’ é a questão do desemprego que a IA pode propiciar. Como é que se lida com isto?

Este é um tema complexo que abrange não apenas as implicações económicas, mas também questões sociais e éticas. A introdução de IA no local de trabalho tem potencial, tanto para substituir empregos existentes, quanto para criar novas oportunidades de trabalho. Um relatório do Fórum Económico Mundial, de Agosto de 2023, indica que 83 milhões de empregos em todo o mundo serão perdidos nos próximos cinco anos por causa da IA – e 69 milhões serão criados (significando uma

perda de 14 milhões de postos de trabalho durante este período), resultado da automação e devido às tecnologias digitais, incluindo a IA. A chave para gerir o impacto da IA no emprego é o foco em estratégias de requalificação e transição para a força de trabalho. A OCDE recomenda que as políticas públicas promovam a educação e a formação contínua, permitindo que os trabalhadores adquiram novas competências necessárias para os empregos do futuro. Por exemplo, a procura por competências tecnológicas, analíticas e de gestão deve crescer substancialmente. Além da substituição de alguns empregos, a IA também está a criar novas categorias de emprego e sectores inteiros de actividades económicas que não existiam anteriormente. Sectores como desenvolvimento de IA, engenharia de dados, cibersegurança e gestão de sistemas automatizados estão em rápida expansão. Há um alerta para a requalificação com literacia de dados para agarrar oportunidades no futuro. Embora seja verdade que a IA pode substituir certas funções desempenhadas actualmente por humanos, ela também traz consigo a criação de novos empregos e a ne-

O QUE É O EY DIGITAL CLUB

O EY Digital Club junta, trimestralmente, 12 figuras do mundo dos negócios em Moçambique, num encontro exclusivo para debater os temas mais prementes do desenvolvimento tecnológico. Nesta edição, o debate esteve centrado nas principais preocupações que estes líderes irão enfrentar: a inovação centrada no ser humano e alimentada pela IA e a forma como esta poderá influenciar a transformação das indústrias até 2030.

cessidade de competências até agora vistas como secundárias. O desafio está em preparar a força de trabalho para estas mudanças por meio da educação, formação e políticas públicas adequadas, garantindo que os benefícios da IA sejam acessíveis e equitativos.

E aqui entra uma outra questão que foi abordada: qual será o perfil do profissional do futuro a médio e longo prazo e como é que ele deverá ter de lidar com a IA?

Segundo a Future of Jobs Report da World Economic Forum (2023), espera-se que a IA, um dos principais impulsionadores da potencial substituição algorítmica, seja adoptada por quase 75% das empresas pesquisadas e leve a uma alta rotatividade, com 50% das organizações a esperar que ela crie crescimento de empregos e 25% esperando que motive perda de empregos. A capacidade de resolver problemas complexos será ainda mais valorizada, uma vez que muitas das tarefas simples serão automatizadas. A IA muitas vezes lidará com análises e processos, enquanto os humanos serão chamados para intervir em situações onde o julgamento e a empatia são cruciais. Profissionais que conseguirem combinar conhecimentos de diferentes áreas com a tecnologia serão altamente valorizados. O profissional do futuro será caracterizado por um amplo conjunto de competências, incluindo valências técnicas em IA, habilidades sociais e emocionais robustas e uma capacidade notável para se adaptar a um ambiente de trabalho em rápida evolução.

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especial inovações daqui

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64 HEALTHTECH

No mundo, há já várias formas de Inteligência Artificial aplicáveis à saúde. Moçambique pode integrar a lista destes países em breve, quando a app denominada “Apoio” entrar em funcionamento. Conheça as suas funcionalidades

YANGO PANORAMA

O presente e o futuro da plataforma que pretende melhorar a mobilidade urbana de Maputo e Matola

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As notícias da inovação em Moçambique, África e no Mundo.

Aplicação Quer Levar IA a Expandir Saúde Preventiva

Com recurso a Inteligência Artificial, a app moçambicana “Apoio” pretende processar imagens do utilizador e responder a perguntas sobre o seu estado de saúde, para promover a saúde preventiva e tornar mais eficientes os recursos limitados dos serviços de saúde. O co-fundador Gerry Marketos revela o protótipo

jornalista da E&M pediu a uma aplicação móvel que lhe avaliasse a condição de saúde com base em sinais vitais visíveis. A ‘app’ accionou a câmara que, de imediato, analisou o rosto do “paciente” e começou as medições. Passados dois minutos, emitiu um breve diagnóstico a informar sobre a existência ou não de sinais preocupantes, bem como de riscos para a saúde ou outros cuidados. É como estar diante de um médico. A aplicação ainda em fase de protótipo chama-se Apoio e não é difícil imaginar o impacto que poderá ter quando entrar em funcionamento, previsto para o último trimestre deste ano.

Esta inovação foi criada pela Galencia, uma joint venture formada por uma empresa maaoçambicana de Inteligência Artificial (IA) e uma empresa norte-americana que desenvolveu o HeatlhBot. Em Moçambique, a empresa é representada por Gerry Marketos, co-fundador da Galencia, um moçambicano de origem grega que se assume como entusiasta da área das tecnologias.

Um leque de funcionalidades

A aplicação Apoio proporciona soluções em três dimensões: além da medição de sinais vitais, faz perguntas de despistagem de problemas de saúde e permite marcar uma videochamada com um médico ou especialista em saúde.

A ‘app’ está pronta para responder a questões frequentes. O que fazer quando sentir dores de cabeça? Ou desconforto no estômago? Ou problemas noutro órgão ou parte do corpo? O que fazer em caso de picada por uma cobra, de fractura óssea, entre outras situações?

A interacção pode ser feito por escrito (com capacidade para ignorar eventuais erros ortográficos, desde que a pergunta seja clara) ou por voz. Da mesma forma, as respostas podem ser dadas por escrito ou por voz sintetizada. Em ambos os casos, o utilizador tem a opção de gravar os conteúdos para os recuperar quando quiser.

Uma videochamada com um médico requer que este já tenha os resultados da primeira avaliação feita pela ‘app’, para garantir o atendimento e tratamento adequados.

Gerry Marketos chama a atenção para o facto de a aplicação não substi-

“A aplicação foi desenvolvida para auxiliar países com problemas como o acesso limitado a instalações médicas

e baixo conhecimento

sobre saúde preventiva”, Gerry Marketos

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Celso Chambisso • Fotografia iStock Photo &
HEALTHTECH

tuir os serviços de saúde convencionais. “Foi desenvolvida para auxiliar países que enfrentam dificuldades, como acesso limitado a instalações médicas e baixo conhecimento da população em relação à saúde preventiva. A sua função é dar acesso a informações e conselhos sobre tratamentos domiciliares e estabelecer a ligação entre os utentes e os profissionais de saúde”, esclareceu.

Um passo para a saúde pública O Governo, através do Ministério da Saúde, já tem conhecimento do projecto e sinalizou interesse em explorar os serviços desta ‘app’. Porquê? Num país onde estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam para um dos piores rácios do mundo no acesso a médicos (um profissional para 100 mil habitantes), e em que um posto de saúde pode estar a hora e meia a pé no meio rural, a Apoio tem potencial para promover uma mudança substancial.

Está em negociação com algumas operadoras móveis a possibilidade de interacção a partir de telefones mais pequenos e simples, através de códigos

USSD

Além disso, a população moçambicana cresce cerca de 3,5% ao ano, duplica a cada 25 anos e sobrecarrega o sistema de saúde, que não tem condições de crescer ao ritmo da pressão populacional.

Ao nível da saúde pública, uma das ideias em carteira será a possibilidade de o pessoal médico poder fazer uma triagem entre os pacientes que estão em fila de espera: saber quem precisa de intervenção médica urgente, avaliar a gravidade da enfermidade, evitando o acesso por ordem de chegada, que muitas vezes se revela ineficaz e ocasiona óbitos por falta de assistência médica urgente.

Há também a possibilidade de identificar possíveis focos de epidemias, ao observar características comuns de doenças em pessoas da mesma região. Esta detecção precoce permitiria enviar uma equipa de profissionais ao local pa-

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GERRY MARKETOS Co-fundador da Galencia

COMO FUNCIONA A APP?

Pergunta de Apoio

O paciente faz uma pergunta escrita ou por voz

1

Medição Dos Sinais Vitais

O paciente só tem de olhar para a câmara por dois minutos

2

ra pesquisas e desenvolver campanhas de prevenção.

O acesso sem smartphone

Gerry Marketos explicou à E&M que um dos objectivos passam por tornar o serviço acessível mesmo para quem não tem smartphone ou tablet. Está em negociação com algumas operadoras móveis a possibilidade de interacção a partir de telefones mais pequenos e simples, através de códigos USSD. Mas, neste caso, os serviços de câmara para a avaliação de saúde e o contacto com o médico por videochamada não estarão acessíveis.

Paralelamente, e para mais tarde, pensa-se em criar uma espécie de quiosque para garantir o acesso à Apoio a quem não tenha telemóvel, ou que queira utilizar serviços com suporte de câmara sem ter um smartphone.

Presença na VivaTech

A Apoio foi a primeira iniciativa moçambicana a participar na VivaTech, feira tecnológica realizada em Maio, em Paris, reunindo entidades globais líderes na inovação e tecnologia, com a presença de milhares de participantes, oriundos de vários quadrantes do mundo. “A participação da Galencia na VivaTech transmite um importante sinal para os intervenientes mundiais no sector, ao colocar Moçambique entre os países que estão a usar o desenvolvimento tecnológico para encontrar soluções para problemas que a população mundial enfrenta”, enfatizou Gerry Marketos. Apesar de se prever que a aplicação só comece a funcionar no último trimestre deste ano, o co-fundador referiu a existência de países africanos que já manifestaram interesse em adoptá-la.

A telemedicina no mundo

Esta é uma app revolucionária, mas a telemedicina já faz parte da rotina de várias instituições de saúde em todo o mundo. A prática, que objectiva a minimização das limitações físicas e geográficas, trouxe inúmeros avanços para a saúde e revolucionou consideravelmente a forma de se prestar serviços no segmento. Pode-se dizer que a pandemia de coronavírus foi um marco importante para esta prática no mundo e isso aconteceu porque a tecnologia foi uma das principais aliadas para a preservação do isolamento social, ou seja, foram necessários recursos tecnológicos que permitissem que a actuação médica fosse exercida mesmo à distância, garantindo uma maior segurança para os médicos e pacientes.

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YANGO

Mobilidade e Entregas em Maputo e Matola Através do Telemóvel

A Yango oferece uma plataforma de mobilidade urbana em que uma aplicação móvel serve para pedir um carro que nos leve ao destino. A rede de motoristas também faz entregas e mais serviços podem surgir em breve. O Country Manager da Yango em Moçambique, Mahomed Adam leva-nos nesta viagem

TEXTO Celso Chambisso • FOTOGRAFIA D.R.

á um ano e meio, os serviços de transportes tornaram-se menos penosos para os residentes da capital do País e arredores. A imagem da crise de mobilidade em Maputo (como em todos os grandes centros urbanos do País) prevalece, mas um novo serviço privado veio reduzir o seu impacto – a plataforma digital Yango. Dois factores terão contribuído para a sua aceitação no mercado: primeiro, o custo acessível em relação ao táxi tradicional (preço a partir de 60 meticais por viagem) e a rapidez de deslocação até ao destino.

Uma solução para a mobilidade

De acordo com o Country Manager da Yango em Moçambique, Mahomed Adam, esta é uma empresa internacional de tecnologia e um dos principais serviços de mobilidade urbana de África, que liga os prestadores de serviços de transporte com os passageiros. “Cá em Moçambique, além deste serviço, lançámos, recentemente, o serviço de entregas” disponível através da aplicação móvel. “O motorista faz a entrega”. Yango é a primeira aplicação a trazer este tipo de soluções integradas para o País. Noutras geografias, a plataforma suporta ainda mais serviços, como os de entrega de comida, uma valência de que o mercado moçambicano também precisa, diz Mahomed Adam. “Queremos ver, primeiro, como

é que correm as entregas. Temos também uma plataforma de entretenimento que junta filmes, séries e músicas e que está disponível no Médio Oriente, designada por Yango Play. Dependendo da geografia, oferecemos os serviços de tecnologia que mais se adequam às características de consumo específicas desse mesmo mercado e vamos implementando. Temos também o Yango Maps, que neste momento está disponível apenas nos Emirados Árabes Unidos. Poderemos trazer todos estes serviços para Moçambique”, garante.

Aplicação ajustada ao mercado

A aplicação móvel Yango é mais leve que outras similares utilizadas na Europa, ajustada aos telemóveis que estão disponíveis no mercado moçambicano. “A forma como foi desenhada permite menor consumo de dados e requer especificações mais modestas. Foi adaptada para a realidade africana”, explicou o Country Manager da empresa.

Mahomed Adam esclarece que, enquanto empresa de tecnologia, não presta serviços de táxi ou entregas: “Gerimos informação”. Na verdade, “quem presta os serviços são os operadores. Tentamos ter os serviços de mobilidade no que nós chamamos de Super App. Em vez de termos três app diferentes, temos tudo reunido. No fundo, isto torna o serviço muito mais eficiente, tanto para o consumidor como para a empresa de transporte”.

“A

MAHOMED ADAM

Country Manager da Yango em Moçambiquee

forma como a aplicação móvel foi desenhada permite um menor consumo de dados e requer especificações mais modestas. Foi adaptada para a realidade africana”, Mahomed Adam

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Ano de criação

Presença em Moçambique

Country Manager da Yango

Motoristas registados no

Sem especificar, o Country Manager da Yango em Moçambique estima em “milhares” os motoristas que trabalham nesta plataforma e que fazem “milhares” de viagens por mês. Mas como fazer parte desta equipa? A plataforma de gestão e acesso às viagens é disponibilizada aos operadores de transporte. Por sua vez, estes operadores fazem o recrutamento, formação e gestão dos motoristas que depois são integrados nestas empresas.

Por outras palavras, quando um motorista se regista na aplicação tem de apresentar a documentação exigida e a plataforma faz a validação do seu documento de identidade, carta de condução e livrete do veículo. Depois, faz-se a confirmação da sua identidade. “Temos mecanismos de segurança”, refere Mahomed Adam. Além disso, os parceiros avaliam se a viatura está em boas condições e dão formação aos motoristas. “Nós, naturalmente, damos formação quando um parceiro se regista na nossa plataforma ou vem trabalhar connosco”, esclareceu Mahomed Adam.

Numa era em que está em voga a implementação da cibersegurança, esta questão torna-se num desafio permanente. O Country Manager da Yango em Moçambique garante que, no que diz respeito à protecção de dados, esta é “a única plataforma em Moçambique que tem o registo certificado do Instituto Nacional de Tecnologias de Informação e Comunicações (INTIC) e que inclui tudo o que está relacionado com a privacidade de dados”.

Expansão à vista

Presente em Maputo desde Novembro de 2022, mais recentemente na Matola, a Yango reporta um “crescimento significativo” nos últimos sete meses. “Gostaríamos de expandir os nossos serviços para outras cidades de Moçambique. Vamos ver como é que os nossos estudos correm e o melhor momento para o fazermos.

Além disso, precisamos de ampliar a equipa e os recursos financeiros para garantir que estamos alinhados com o Governo, com as autarquias dessas regiões e que prestamos serviços que vão beneficiar tanto o consumidor, como os prestadores de serviços que utilizam a plataforma”, referiu Mahomed Adam.

A Yango está em vários países. Na América Latina está em mercados como a Bolívia e o Peru, em África marca presença em Moçambique, Zâmbia, Namíbia, Angola, Camarões, Gana, Costa do Marfim, Senegal e Argélia. Está também nos Emirados Árabes Unidos, na, Paquistão, Noruega e Finlândia.

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2018
2022
Mahomed
em Moçambique
Adam
mundo 600 mil

Telecomunicações

Movitel e Conselho Municipal de Maputo fornecem centros digitais e Internet gratuita

Agritech

A operadora móvel Movitel, em parceria com o Conselho Municipal de Maputo, rubricou, a 22 de Maio, uma parceria para a implementação de 70 praças com Internet gratuita e sete centros digitais dentro do Município de Maputo. A iniciativa será implementada dentro de dois a seis meses, nos pontos a serem indicados pelo Conselho Municipal, com o objectivo de ajudar os munícipes a acederem a Internet de qualidade, sem custos.

Moza Hydroponic apresenta a maior estufa do País

A Moza Hydroponic, uma empresa do ramo da agricultura que aposta em tecnologias sustentáveis para aumentar a produtividade agrícola, estabeleceu a maior estufa hidropónica de Moçambique, na província de Tete. O inovador sistema de cultivo numa solução de água e nutrientes sem solo tem capacidade de produção mensal de 16 mil pés de alface e outras culturas. Representa um marco significativo na agricultura moçambicana, demonstrando que a inovação pode superar barreiras climáticas e a dependência do solo. “Escolhemos Tete justamente por ser uma província com muitos desa-

Sustentabilidade

fios,” afirmou Samuel Alexandre, CEO da empresa, acrescentando que a inovação serve também para “provar que, com a tecnologia certa, é possível produzir hortícolas em Tete, durante todo o ano”. Actualmente, a empresa possui estufas no sul e centro do País e já se prepara para, nos próximos tempos, abranger a zona norte, a partir da província de Nampula. Além dos trabalhos no campo, a empresa tem despertado atenção no mercado regional, sendo convidada para ministrar formações em tecnologias de hidroponia em países como Zimbabué e Maláui.

Jovem sul-africano cria carro movido a energia solar

Sqiniseko Mpontshane, jovem sul-africano da província de KwaZulu-Natal, estudante da Mandla Mthethwa School of Excellence, desenvolveu, num trabalho de investigação, um veículo eléctrico solar totalmente autónomo.

O veículo vem equipado com um reboque sem fios, que segue o veículo de forma autónoma, e uma estação de carregamento com energia renovável.

O jovem, citado pela Kabum Digital, explica que a invenção é uma oportunidade de contribuir para o desenvolvimento de soluções de transporte mais limpas, ajustadas aos imperativos globais de redução das emissões de carbono, e deriva da sua paixão pela tecnologia e pela robótica.

“Sempre me fascinou o potencial dos veículos autónomos e da energia sustentável”, revelou o jovem estudante. Esta inovação rendeu-lhe um prémio na Eskom Expo International Science Fair (ISF).

O acordo preconiza a colocação de cerca de 50 antenas da operadora Movitel em diversos pontos da cidade, para melhorar os serviços e oferecer melhor qualidade de Internet e com cobertura mais ampla para os consumidores. A iniciativa foi anunciada depois de, no dia 5 de Maio, terem entrado em vigor, em todo o País, novas tarifas nas telecomunicações que encareceram a Internet e outros serviços móveis.

Inovação AfriLabs e Vault Hill querem impulsionar a inovaç ãão em ÁÁfrica e no Méédio Oriente

A AfriLabs, uma rede de centros tecnológicos africanos, e a Vault Hill, uma empresa de blockchain sediada nos Emirados Árabes Unidos, anunciaram uma parceria de capacitação orientada para a tecnologia, estimulando a inovação e a transformação digital em toda a África e no Médio Oriente. Esta aliança estratégica combina a extensa rede da primeira com as capacidades tecnológicas inovadoras da segunda, numa colaboração para promover objectivos comuns de progresso tecnológico e emancipação das comunidades.

“A colaboração visa fornecer soluções digitais sofisticadas a milhões de pessoas e contribuir para enriquecer o panorama tecnológico em África”, afirmou Ajibola Odukoya, director de operações da AfriLabs.

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PANORAMA

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ESCAPE

Faium

Uma aventura por uma das mais antigas cidades do Egipto e de África

GOURMET Bean Coffee Shop

Onde o café é servido com sabor especial

ADEGA

Vinho Santa Helena

A degustação de um vinho reconhecido em décadas

EMPREENDEDOR

Mafalala Rugby Clube

Um novo empreendimento pela saúde da sociedade

Todos os eventos globais que não pode perder, incluindo as artes 80 78

AGENDA

Maio 2024

VOLANTE

Super 9

O veículo futurístico, capaz de proporcionar uma experiência única, como na Fórmula 1!

ócio

O oásis de Faium

atrai turistas com a sua natureza, sítios arqueológicos e uma aldeia célebre pela cerâmica

Uma Aventura Por Faium,

A CIDADE DE FAIUM é a mais antiga do Egipto, uma das mais antigas de África e do mundo. Fica na província com o mesmo nome, fundada em 4000 a.C e situada a cerca de 100 quilómetros a sudoeste do Cairo, capital egípcia. Possui 6068 quilómetros quadrados e, segundo o censo de 2018, tinha mais de três milhões de habitantes.

A cidade é repleta de história, beleza natural e cultura vibrante que remontam aos tempos do antigo Egipto. O seu nome deriva do árabe “al-Fayyum”, que significa “o mar”, uma referência ao lago da região. Esta cidade foi um importante centro populacional e comercial durante o período greco-romano, uma vez que fica junto ao rio Nilo, o que tornava a terra muito fértil para a prática da agricultura.

Entre festivais e antigos templos

A cultura vibrante de Faium é evidente na sua arquitectura distinta, culinária deliciosa e artesanato tradicional. Além disso, Faium abriga uma série de festivais e celebrações ao longo do ano, que desta-

Uma das Mais Antigas

Cidades do Egipto... e de África

cam a rica tradição cultural da região. Na lista incluem-se eventos como o Festival da Colheita, onde os moradores celebram a abundância da produção local com música, dança e comida.

Faium é um berço da história antiga e pode oferecer aos visitantes uma experiência única e memorável. Possui monumentos historicamente importantes para o povo egípcio, como a antiga cidade de Medinet el-Faium, que foi o centro religioso do culto ao deus crocodilo, Sobek. As ruínas desses antigos templos e monumentos ainda podem ser exploradas hoje, oferecendo aos visitantes uma visão fascinante da vida e da religião na antiguidade.

Principais atracções turísticas

O oásis de Faium é um dos espaços naturais mais fascinantes do Egipto, um local onde a história e a natureza se misturam. O oásis acolhe os visitantes com as cascatas, templos sagrados, vistas

para o lago e muita arte. Há peças do Egipto faraónico, da época greco-romana, copta e islâmica.

Outra grande atracção é a Pirâmide de Meidum, um complexo funerário cerca de 80 quilómetros a sul de Mênfis, na margem ocidental do rio Nilo, junto à região de Faium. Acredita-se que seja apenas a segunda pirâmide construída após a de Djoser e pode ter sido originalmente construída para Huni, o último faraó da terceira dinastia.

Os impressionantes retratos dos antigos egípcios

No início do primeiro milénio, o Egipto testemunhou uma prática bastante peculiar: muitas múmias foram sepultadas juntamente com retratos realistas. Mais de mil foram encontrados por arqueólogos ao longo dos últimos séculos, a grande maioria na cidade de Faium, motivo pelo qual receberam o nome de “retratos de Faium”. A exposição “Face to Face: The People Behind Mummy Portraits”, realizada pelo museu Allard Pierson, em Amesterdão (Holanda), apresentou 40 dessas pinturas entre Outubro de 2023 e Fevereiro deste ano.

Para além dos lugares por visitar, a cidade de Faium é um destino popular para actividades ao ar livre, como passeios de barco, observação de aves e piqueniques à beira do lago - tem 27 quilómetros e fica no norte da cidade, sendo considerado o lago natural mais profundo do país. Se for ao Egipto, encontre forma de lá chegar. É um lugar ideal para os famosos passeios com os quadriciclos no deserto. Aproveite as cascatas.

Texto Filomena Bande

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Egipto
FOTOGRAFIA iStockphoto

NO INÍCIO DO PRIMEIRO MILÉNIO, O EGIPTO TESTEMUNHOU UMA PRÁTICA BASTANTE PECULIAR: MUITAS MÚMIAS FORAM SEPULTADAS JUNTAMENTE COM RETRATOS REALISTAS

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FOTOGRAFIA iStockphoto FOTOGRAFIA iStockphoto FOTOGRAFIA iStockphoto FOTOGRAFIA iStockphoto

A

CAFETERIA OFERECE UMA MISTURA DE AMBIENTES: METROPOLITANO, JOVEM, COZY E ‘HOME FEEL’ PARA SE ADAPTAR A TODO O TIPO DE PERSONALIDADES E OCASIÕES.

TALVEZ POR ISSO TANTO PÚBLICO A ESCOLHA COMO LUGAR DE ELEIÇÃO.

Localização:

Av. Julius Nyerere, Maputo

Contacto +258 84 118 7889

LOGO À ENTRADA, o olfacto é brindado por aromas deliciosos, tão inebriantes que, se for um verdadeiro amante de café, ficará já a ansiar pela degustação. E como se diz na gíria, “só de sentir o cheiro do café, o humor melhora”. Falamos da Bean Coffee Shop, uma ddcafetaria nova na capital moçambicana. Nova por ter aberto recentemente, há menos de um ano, mas também por trazer um conceito diferente do habitual em Moçambique. Anais Adrianouplos, gerente do estabelecimento, explica que a Bean Coffee Shop nasce com a missão de “redefinir a forma como as pessoas olham para o café em Moçambique”. É uma forma de criar ‘coffee shops’, como as que são vistas nas grandes metrópoles, como na Cidade do Cabo (África do Sul), Nova Iorque (EUA) e outros mercados com maior tradição no consumo do café. Este conceito de cafetaria tem origem na empresa Shaker HS, uma marca moçambicana de eventos que opera no mercado há cerca de dez anos, sendo detentora,

Inovação na Degustação de um Simples Café

de outros empreendimentos, da renomada casa nocturna Opium.

Qualidade, raridade e... alto valor

Uma das principais diferenças da Bean Coffe Shop é a especialização a 100% em café arábica, uma espécie natural da Arábia ou da Etiópia, conhecida por produzir bebidas de qualidade, finas e requintadas, e possuir um aroma intenso, com sabor suave, ligeiramente ácido e naturalmente adocicado. É uma mistura do café de Uganda e do Brasil. Outra particularidade é a grande dificuldade (senão, até, impossibilidade) de encontrar noutro sítio qualquer o tipo de café e bebidas servidas pela Bean Coffee Shop de Maputo: são os coquetéis de café com álcool, coquetéis de champanhe e bebidas com água de lanho.

A casa está também virada para um estilo de vida saudável, do qual deri-

va a diversidade de opções que traz para todos os públicos, incluindo veganos. A Bean serve bebidas com leite, incluindo variedades sem lactose e com leite vegetal. Numa chávena de café nunca há apenas café. Há inovação e a experiência de estar num lugar onde há novos sabores e em que cada chávena transporta alegria.

“Sugar Bean”, a nova especialidade?

Aqui há café expresso, há cappuccino - que não se parece com nenhum outro que se possa provar – e propostas especiais. O Sugar Bean é uma invenção da casa que é simplesmente espectacular. Leva limão, gengibre e canela, numa mistura que só se explica, provando.

As propostas para trincar incluem comida feita por uma empresa parceira, a CK, e o cartaz da casa inclui pão

de banana, croissants – uma iguaria francesa na sua receita e sabor original –, e tostas de abacate, tanto na versão vegetariana como na vegan.

Uma cafetaria sustentável

A Bean apresenta-se como uma cafetaria que zela pela sustentabilidade em vários níveis. Adopta práticas ambientalmente saudáveis como a ornamentação interna, toda feita com plantas naturais, onde se aproveita a borra de café para adubo, o uso de embalagens e utensílios biodegradáveis. Na Bean Coffee Shop decorre o projecto Beans Bookshelf que oferece aos clientes a oportunidade de trocar livros antigos por novos, uma forma de consciencializar os clientes sobre a responsabilidade pela preservação do ambiente.

Texto Filomena Bande

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FOTOGRAFIA D.R.
BEAN COFFEE SHOP

A MARCA CONTINUA A SER UMA ESCOLHA POPULAR. O ROSÉ RESERVADO É CONSIDERADO UM DOS DEZ MELHORES ROSÉS DO MUNDO

Vinho Santa Helena.

A HISTÓRIA DO VINHO SANTA HELENA é marcada por bravura e co ragem. O nome é um tributo à heroína que o resgatou da extinção e permitiu que, até aos dias de hoje, fosse possível apreciar o seu sabor.

A vinha Santa Helena é uma célebre companhia vinícola com experiência na produção de alta qualidade. A história remonta ao início do século XX, no Chi le, quando um produtor de vinhos ficou gravemente doente. A filha, Helena, tes temunhando a deterioração das videi ras durante o período em que o pai este ve em cuidados intensivos, decidiu re vitalizar o campo: restaurou a qua lidade das vinhas e fez renascer a propriedade. Por isso, em ho menagem à filha, o produtor deu aos vinhos o nome que conhecemos.

Cada etapa do processo agrícola é gerida de forma sustentável. A vinha está localizada no vale central dos grandes vinhos do Chile, entre as cordilheiras dos Andes e da costa do Pacífico Sul. É a maior e mais antiga zona de produção do Chile, com um clima mediterrânico, boa exposição solar e noites frias. A protecção da cordilheira da costa impede que a influência do oceano invada estes territórios, enquanto a distância em relação aos Andes mantém a amplitude térmica. As uvas tintas são as predominantes e as castas Carmenére e Cabernet Sauvignon são as variedades de maior destaque.

As diferentes faces de Santa Helena O vinho conjuga todos os elementos da região, com uma ampla gama de opções, desde vinhos jovens e refrescantes até aos vinhos encorpados e complexos, tintos, brancos e rosés. A marca possui três linhas de produtos. A linha Reservado é composta por vinhos jovens e equilibrados, ca-

Tradição e Qualidade

de Um Clássico de Décadas

racterizados pela sensação de frutas frescas. Fáceis de beber, oferecem uma ampla variedade de uvas vermelhas e brancas. A linha Reserva é reconhecida pela sua consistência enológica e equilíbrio entre aromas de fruta e madeira. Por fim, a linha Gran Reserva apresenta toda a qualidade das uvas combinada com um trabalho enológico que resulta em vinhos complexos, encorpados e estruturados. A marca continua a ser uma escolha popular entre os amantes do vinho. O Rosé Santa Helena Reservado é considerado um dos dez melhores rosés do mundo. É feito a partir da uva Cabernet Sauvignon, uma das castas mais célebres do mundo. Possui uma cor rosada pálida, uma excelente opção para quem aprecia vinhos leves e frutados porque possui um aroma delicioso de frutas vermelhas frescas, como a cereja e o morango. Na boca, é leve, frutado e fresco, tornando-o perfeito para ser apreciado em dias mais quentes ou para acompanhar pratos leves como carnes brancas, entradas, queijos e frutos do mar.

Entre os países que mais consomem o vinho Santa Helena encontramos o Brasil, os Estados Unidos e o Reino Unido. No Brasil, o vinho chileno é bastante apreciado devido à proximidade geográfica e à qualidade reconhecida dos vinhos produzidos no Chile. Já nos Estados Unidos, o vinho Santa Helena encontra um mercado favorável entre consumidores que buscam opções de vinhos de qualidade com preços acessíveis.

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Uva Cabernet Sauvignon País Chile Região Vale Central Volume 750ml Teor Alcoólico 12.5 Safra 2020 SANTA HELENA

A HISTÓRIA

DESTE CLUBE

ASSENTA NAS LIÇÕES QUE O RUGBY PODE ENSINAR PARA MUDAR

AS VIDAS DE CENTENAS DE JOVENS DA MAFALALA

MAFALALA

RUGBY CLUBE

O projecto inclui um programa educacional abrangente, conhecido como “funil educativo”, que visa seleccionar crianças talentosas, não apenas no râguebi, mas também na academia

A Mafalala é um bairro histórico da capital, Maputo, que, para além de ser um dos mais famosos do País, é associado à emergência da identidade moçambicana, nomeadamente a oposição cultural e política africana à administração colonial portuguesa. O bairro viu nascer várias figuras moçambicanas, do desporto (Eusébio da Silva Ferreira – o Pantera Negra –, um dos maiores futebolistas africanos), Lurdes Mutola, das artes, nomes como Craveirinha, entre tantos outros.

Na Mafalala, há uma considerável concentração de pessoas vindas de quase todos os cantos do País e até além-fronteiras. Mas apesar de toda a riqueza histórica e cultural que lhe dão vida, o bairro abriga uma das maiores “bocas de fumo” da cidade, o que faz com que as crianças cresçam com grande exposição às drogas e à prostituição. E é aí, no campo on-

Mafalala Rugby Clube

de joga a dificuldade que o desporto pode ajudar a ultrapassar barreiras e a vencer batalhas.

Porque se o desporto pode servir como catalisador do desenvolvimento social, promovendo a inclusão, o respeito pelo próximo, o trabalho em equipa, o rugby, pelos valores inerentes à sua prática — integridade, paixão, solidariedade, disciplina e respeito —, pode ser um importante farol de esperança para muitos dos jovens daquele bairro da periferia, igual a tantos outros espalhados pelo País.

Criado em 2015, o Mafalala Rugby Clube nasceu numa altura em que o Parque dos Continuadores, no centro da cidade de Maputo, entrava em obras de reabilitação e as actividades desportivas que decorriam naquele recinto tiveram de ser interrompidas.

Jogar no Campo,

placar o destino e triunfar

A necessidade aguçou o engenho e surgiu a ideia de levar o rugby para o bairro. A história do clube está muito ligada a Omar Aly, actual presidente do clube, o primeiro adolescente a fazer parte do projecto. Omar praticava a modalidade no Parque dos Continuadores, mas, uma vez fechado, tornou-se impossível continuar. Com a ajuda de antigos jogadores portugueses radicados em Moçambique, com destaque para Paulo Murinello, antigo internacional luso, e um dos ‘Lobos’ que fez parte da mítica primeira selecção portuguesa a participar num Mundial da modalidade, transferiram o rugby para a Mafalala.

na vida

Desde os primeiros passos dados em 2016, quando a modalidade começou a ser divulgada no bairro, o clube tem feito um esforço contínuo para se estabelecer como uma força positiva na comunidade, tendo por lá já passado centenas de jovens que tiveram ali, no campo, as oportunidades que, fora dele, nunca encontraram. “A hipótese de competir, de estarem envolvidos num colectivo e, em alguns casos, de vir a ter uma carreira desportiva”, conta Paulo. No ano passado, o projecto oficializou-se como Associação Desportiva sem fins lucrativos, passando a integrar, além do desporto, outras

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componentes para promover o desenvolvimento social e a educação. Uma dessas acções foi a introdução da modalidade nas escolas do bairro, visando beneficiar cerca de mil crianças com idades entre os 6 e os 12 anos. Por causa das vulnerabilidades sociais do bairro, a associação não visa apenas a promoção da actividade física, mas também a construção de uma estrutura sólida de formação. Isso inclui capacitar monitores, treinadores, árbitros e directores de equipa. “Mas sobretudo o que o Clube quer mesmo é criar condições para as crianças e jovens do bairro singrarem na vida”.

Na Mafalala, onde a influência muçulmana é predominante e os desafios socioeconómicos são evidentes, Paulo Murinello explica que “a participação feminina no desporto ainda é escassa. No entanto, o clube

está empenhado em garantir a inclusão de meninas, reconhecendo os benefícios da actividade desportiva como caminho para a inclusão”.

O projecto inclui um programa educacional abrangente, conhecido como “funil educativo”, que visa seleccionar crianças talentosas, não apenas no râguebi, mas também na academia. Os seleccionados receberam apoio extra, desde aulas de reforço de competências em áreas focais como o português, o inglês e a informática. Além disso, o clube procura fornecer suporte nutricional a cerca de mil crianças de escolas do Bairro que enfrentam desafios alimentares nas suas comunidades. “A fazer a seguir? Há muita coisa pela frente, precisamos de apoios, patrocínios... Mas o mais importante, está aqui, e são os jovens da Mafalala!”.

TEXTO Filomena Bande

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A NÃO PERDER

JUNHO

Todos os eventos globais que não pode perder, desde a sustentabilidade ao desporto, incluindo as artes

SÃO PRECISOS QUATRO

ANOS para que a nata do futebol europeu se reúna para a festa do desporto rei. Chegou o mês do Euro 2024, que vai decorrer na Alemanha. Durante um mês, as melhores selecções do Velho Continente vão competir pelo prestigiado troféu e unir toda a Europa na celebração dos jogos.

Em Sharm El-Sheikh, no Egipto, vai realizar-se o “Africa Energy Forum” (AEF), com uma agenda que inclui debates sobre inovações tecnológicas, desenvolvimento de projectos e colaborações transfronteiriças, gerando uma excelente plataforma para alinhar as necessidades energéticas de África com os objectivos globais de sustentabilidade.

O “Africa Rail 2024” vai decorrer em Joanesburgo, África do Sul. Com uma expectativa de quatro mil participantes, 800 VIP e 150 oradores, o evento promete ser uma experiência enriquecedora para os profissionais da indústria ferroviária, de carga e de transporte, onde os

FUTEBOL

ENERGIA/ SUSTENTABILIDADE

Africa Energy Forum (AEF) Sharm El-Sheikh / Egipto De 24 a 27 de Junho africa-energy-forum.com

Emoções de Junho

participantes terão a oportunidade de ouvir apresentações, discutir estudos de caso práticos em vários países, além de participar de mesas-redondas interactivas e workshops. Os temas da conferência incluem sustentabilidade, carga, ferrovia digital, planeamento operacional, entre outros.

No mundo do streaming, o mês marca o tão esperado regresso de “Mayor of Kingstown”, agora para a terceira temporada. A série, protagonizada por Jeremy Renner,

Que Não Pode Perder

conta a saga da família McLusky, passada numa pequena cidade do Michigan, onde a única indústria rentável que resta é a das prisões. Nos livros, destaque para o lançamento de “A próxima vaga”, de Mustafa Suleyman e Michael Bhaskar. “Uma obra fundamental”, segundo Bill Gates, pois é um alerta sobre os riscos associados às tecnologias emergentes.

TEXTO Luís Patraquim

STREAMING UEFA EURO 2024 / Alemanha De 14 de Junho a 14 de Julho uefa.com

O UEFA EURO 2024 promete ser um evento emocionante para os fãs de futebol, com jogos a decorrer em várias cidades da Alemanha entre 14 de Junho e 14 de Julho. A selecção de Portugal vai estrear-se contra a República Checa no dia 18 de Junho na Red Bull Arena, em Leipzig. Este campeonato é sempre um momento de grande paixão e os fãs podem esperar um mês cheio de acção, com as melhores selecções europeias a competirem pelo prestigiado título.

O Africa Energy Forum (AEF) é um importante evento que reúne líderes de governos, instituições financeiras, promotores de energia e outros stakeholders importantes do sector energético africano. Este ano, o fórum será realizado em Sharm El-Sheikh, Egipto, e promete ser um ponto de encontro vital para discussões sobre a transição energética do continente e o desenvolvimento de sistemas de energia sustentáveis. O AEF é uma excelente plataforma internacional para alinhar as necessidades energéticas de África com os objectivos globais de sustentabilidade.

TRANSPORTES FERROVIÁRIOS

Africa Rail 2024 Joanesburgo / África do Sul De 25 a 26 de Junho terrapinn.com/africarail

O Africa Rail 2024 é uma plataforma de encontro para profissionais da indústria ferroviária, de carga e de transporte. O programa é bastante rico e inclui apresentações, debate de casos práticos em vários países, mesas-redondas interactivas e workshops. Os temas em foco incluem sustentabilidade, carga, ferrovia digital, planeamento operacional, sensores, monitorização de condições, entre outros.

Mayor of Kingstown / Paramount+ 3 de Junho

Protagonizado por Jeremy Renner (Hawkeye), Mayor of Kingstown é um drama centrado na família McLusky, passado numa pequena cidade do Michigan, onde a única indústria rentável que resta é a das prisões. A família McLusky funciona como uma espécie de mediadora entre a polícia, os criminosos, os reclusos, os guardas prisionais e os políticos, nesta cidade dependente das prisões e dos prisioneiros que estas albergam. A série explora temas importantes e actuais como o racismo sistémico, corrupção e desigualdade, ao mesmo tempo que mostra a tentativa dos McLusky em manter a ordem e a justiça.

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EM

ARTES

O Quotidiano de Maputo

Descrito em “Lagartos de Madeira e Zinco”

Com os olhos fixos no dia-a-dia dos bairros periféricos da grande cidade de Maputo, tendo o bairro da Mafalala (o bairro onde nasceu) como principal referência, o jornalista e escritor Hélio Nguane escreveu a obra literária intitulada “Lagartos de Madeira e Zinco”.

A obra é composta por experiências que resultaram em 41 crónicas, que, desde a ficção à realidade, narram histórias de comunidades desses bairros, cujas construções são predominantemente feitas de madeira e zinco.

São crónicas com histórias vividas, observadas ou imaginadas pelo autor que, no fundo, expressam os seus próprios sentimentos, escritas por ele mesmo e publicadas inicialmente no jornal “notícias” no qual o escritor era responsável por duas colunas, entre 2018 e 2020, e que são revividas, agora, em forma de obra literária.

A obra é de cariz social, em que o objectivo do autor é “dar voz a pessoas marginalizadas, que normalmente não têm as suas histórias exaltadas nos media”. As personagens são pessoas imaginárias trazidas para o mundo literário para incorporar características e acções de pessoas reais, com realidades vividas por muitos Moçambicanos”.

“Lagartos de Madeira e Zinco” não é um livro típico, mas sim “um microfone que liberta várias vozes moçambicanas para provocar reflexões sobre a vida e a sociedade”, refere o escritor.

A próxima vaga

Autor: Mustafa Suleyman e Michael Bhaskar • Género: Finanças / Informática • Editora: Clube do Autor

As próximas décadas serão caracterizadas por uma onda inevitável de inovações que afectarão sectores tão diversos como a biologia sintética, a inteligência artificial e a ciência da computação. Estes avanços, impulsionados por fortes incentivos estratégicos e financeiros, resolverão muitos desafios e trarão riqueza.

Mas também acarretam muitas ameaças à nossa sociedade. Esta obra é um alerta fundamental sobre os riscos associados às tecnologias em rápido desenvolvimento, e o que é possível fazer para os evitar enquanto ainda há tempo.

Outros Lançamentos Que Merecem a Nossa Atenção

Dia 2: Billy The Kid T2B (MGM+)

Dia 4: Clipped (FX)

Dia 5: Star Wars: The Acolyte (Disney+)

Dia 6: Sweet Tooth T3 (Netflix), Criminal Minds: Evolution T2 (Paramount+) e Prisma T2 (Prime Video)

Dia 7: Queenie (Hulu), Becoming Karl Lagerfeld (Disney+) e Power Book II: Ghost T4A (Starz)

Dia 12: Presumed Innocent (Apple TV+) e Desde el mañana (Disney+)

Dia 13: Bridgerton T3B (Netflix), The Boys T4 (Prime Video) e Doutor Clímax (Netflix)

Dia 14: Pesadelos e Devaneios de Joko Anwar (Netflix)

Dia 16: Hotel Cocaine (MGM+)

Dia 17: House of the Dragon T2 (Max)

Dia 21: Clãs da Galiza (Netflix)

Dia 26: Land of Women (Apple TV+)

Dia 27: My Lady Jane (Prime Video), The Bear T3 (FX) e That ’90s Show T2 (Netflix)

Dia 28: WondLa (Apple TV+)

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STREAMING LIVROS

SUPER 9

Marca: BYD

Modelo: Super 9 (protótipo de demonstração)

Motor: Eléctrico

O Veículo que Proporciona a Experiência da Fórmula 1

A INOVAÇÃO NA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA ganha cada vez mais ousadia. A fabricante chinesa BYD revelou o seu mais recente carro-conceito: o Super 9. É um estudo para futuros modelos desportivos e é já apelidado de “supercarro”. Quebra paradigmas por não possuir tecto, nem pára-brisas e por prometer uma experiência de condução completamente nova. O conceito faz parte da linha de carros de luxo da empresa, a Fang Cheng Bao. Fundada em 1995 e com sede na metrópole chinesa de Shenzen, a BYD é a maior produtora de veículos eléctricos da China e exporta para todo o mundo, principalmente para a Europa, América do Sul, Sudeste Asiático e Médio Oriente. A marca ultrapassou a Tesla, de Elon Musk, como líder mundial em vendas de

veículos eléctricos no final do ano passado, e, ao contrário da Tesla, fabrica também híbridos plug-in (automóveis que funcionam com um motor a combustão interna e outro eléctrico). A BYD é conhecida por oferecer carros mais acessíveis comparativamente à Tesla, o que ajudou a marca a atrair um grupo mais amplo de consumidores.

Design futurista

O protótipo de demonstração

Super 9 chega com uma proposta extremamente futurista e tecnológica que propõe aos condutores a sensação de estar num veículo de Fórmula 1: a ausência do tecto deixa-os expostos à sensação de velocidade máxima. Com espaço para apenas duas pessoas, o carro apresenta por-

tas do estilo tesoura (que abrem para cima), remetendo para a estética icónica dos supercarros e distanciando-se dos modelos mais tradicionais. O interior é equipado com assentos de fibra de carbono, volante multifuncional e uma cabine dupla. O chassis do Super 9 é construído em fibra de carbono, conferindo-lhe uma leveza e resistência excepcionais. Apesar da ausência de um pára-brisas convencional, o veículo inclui um pequeno vidro frontal projectado para direccionar o vento.

DOS

COM ESPAÇO PARA APENAS DUAS PESSOAS, O CARRO APRESENTA PORTAS NO ESTILO TESOURA (QUE ABREM PARA CIMA), REMETENDO PARA A ESTÉTICA

SUPERCARROS E DISTANCIANDO-SE DOS TRADICIONAIS

Embora ainda haja muitos detalhes a serem revelados sobre o Super 9, o conceito representa um marco significativo na busca da BYD pela inovação. Este “supercarro” promete redefinir os limites do que é possível na indústria automobilística. A BYD não está apenas a lançar um novo veículo, mas a desafiar as expectativas e a inspirar uma nova era de design e engenharia automotiva.

FOTOGRAFIA D.R.

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