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O património cultural imaterial representa uma grande fatia do nosso território
// Identificar, proteger e valorizar as artes e ofícios tradicionais dos municípios de Abrantes, Constância e Sardoal é o objetivo da Tagus - Associação do Ribatejo Interior, que na sexta-feira, dia 13 de janeiro, apresentou o resultado do levantamento histórico do “saber fazer” efetuado pelo antropólogo Paulo Lima.
O antropólogo que iniciou a sua intervenção com uma espécie de provocação, quando afirmou que “cada vez desconfio mais do património imaterial, que devemos é caminhar mais para a paisagem. A dimensão humana que transforma o território e paisagem.”
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Depois avançou com a explicação do inventário que fez ao longo de vários meses e que serve para preparar o presente e o futuro. E a primeira grande conclusão é que “o território mostrou que há um dinamismo de continuar a saber fazer e até trazer continuidade e modernidade.”
A metodologia foi começar com a criação de uma base de dados sobre esta região, sobre os três concelhos.
Paulo Lima vincou que teve grande interesse em perceber o percurso biográfico das pessoas, porque continuam a fazer e a saber fazer (artesanato) ou, porque é que quebraram essa continuidade. E deu vários exemplos deste seu trabalho. Por exemplo, do
Sérgio silva, barqueiro e calafate de Constância que, se nada for feito, o “saber construir barcos vai acabar aqui.” Paulo Lima disse ter feito “o inventário de todas as artes artesanais que existiram e existem nos três concelhos” e foi dando exemplos, como a dona “Mariazinha” sendo a única que faz as bonequinhas de pernas de cana, em Constância.
O antropólogo recuou no tempo, para deixar a nota que há 50 ou 70 anos, as tecelãs eram uma presença forte em todas as freguesias dos três concelhos. Hoje é uma presença magra. E deixou novo exemplo de uma tecelã de Sardoal que faz parte da cooperativa Artelinho que mantém a atividade e a continuidade do saber fazer.
Paulo Lima disse também que “há artes que acabaram, porque acabaram. Por exemplo, alfaiates.” E registou um outro tipo de arte “que chamo de arte ingénua” que é arte, mas não é artesanato. Usam matérias-primas e constroem peças, mas que não são artesanato e que não há saber fazer para as gerações futuras. Depois há outros níveis em que o artesanato se mistura com outras formas de arte. E já existe atividade em que até se faz fazem modelagem em AutoCAD ou impressão em 3D.
Paulo Lima não esqueceu as Instituições Particulares de So - lidariedade Social (IPSS) e Misericórdias que mantêm atividade com os idosos a fazer muitos produtos como faziam antigamente.
Neste inventário ou base de dados não foram esquecidas as pequenas indústrias como a cerâmica Tejo e a Sifameca, ambas em Mouriscas, que continuam a laborar e a fabricar peças que, em grande parte, já se podem considerar peças de artesanato. E no caso da Sifameca, Paulo Lima, disse “ter ficado apaixonado” pela maquinaria “manual” que usam para fazer as ceiras. “Temos um trabalho de perceber como é que se enquadram estas artes e este saber fazer.”
Conceição Pereira, a coordenadora da Tagus, um Grupo de Ação Local que está a caminho de fazer a festa dos 30 anos, a 26 novembro, apresentou o AO.RI.
Esta candidatura é um projeto de três municípios que se unem com um projeto comum e que tem a designação de “Artes e Ofícios” do Ribatejo interior, com a intenção clara de valorizar o
Património Imaterial Cultural. Há também a dimensão de alavancar a oferta turística e atração de visitantes.
A coordenadora da Tagus apresentou este programa AO.RI que tem cinco atividade para um ano de projeto.
Há a intenção de fazer o levantamento histórico de artes e ofícios, e identificação do saber fazer dos artesãos e entidades; organizar oficinas de formação e capacitação (com aposta numa ligação mestre-aprendiz e dinamização de workshops); promover oficinas criativas do artesanato à inovação (concurso de ideias do artesanato tradicional à inovação) em fevereiro de 2023, com o envolvimento de escolas; criação de um percurso turístico com integração no saber fazer, com experimentação e ações de charme junto dos influenciadores; e a promoção e divulgação com a produção de um catálogo com artigos.
E neste nível Conceição Pereira revelou que a Tagus tem uma plataforma onde já é possível adquirir algumas peças de artesanato com o Cá da Terra em www. praca.ri.pt e que pode ter uma dinamização ainda maior na área do artesanato.
Na sessão de abertura deste seminário, Miguel Borges, presidente da Câmara Municipal de Sardoal, começou por evocar o trabalho da Tagus, como Grupo de Ação Local que está próximo da comunidade e é uma estrutura próxima, igualmente, de “quem sabe fazer ou de quem tem capacidade para fazer.”
O autarca utilizou uma expressão que já utilizou noutros eventos (como no projeto Caminhos Literários) quando referiu que “estamos a fazer passadiços entre os três municípios. Artes. Património. E as artes e ofícios, como é o caso.” Logo de seguida Miguel Borges voltou a repetir uma outra ideia que tem feito parte da sua narrativa quando promove o seu território: “muitas vezes falamos do interior como território deprimido, mas o interior é tão bom que Sardoal até está perto do mar e até tem um aeroporto”, fazendo notar que a distância entre aeroportos internacionais e a capital