O Caminho da Graça
Transforme sua vida num gerúndio de esperança! Caio Fábio
Conquanto na ordem de numeração o salmo 137 venha depois dos salmos 126 e 133, a sequência histórica desses três salmos, ou seja, a cronologia histórica dos fatos aos quais eles fazem alusão é diferente. Na cronologia histórica o que vem primeiro é o salmo 137. O reino norte de Israel, que tinha sua capital na Samaria – daí surgirem os samaritanos – já tinha sido levado para cativeiro antes, mas foi somente na metade do século VI a.C. que Jerusalém caiu; e o reino sul de Israel, chamado de o reino dos judeus (o povo de Jerusalém, o povo da Judeia), foi levado para Babilônia pelo rei Nabucodonosor. E isso foi algo que aconteceu por causa de desobediência renitente ao ensino, ao apelo e à exortação que os profetas vinham fazendo por anos e anos, profetas como esses que nós estamos habituados a ler, como Isaías e Jeremias.; e também como Ezequiel numa certa fase da sua profecia – depois o resto da sua profecia, a quase totalidade da sua profecia escrita foi produzida no cativeiro, porque ele também foi levado para lá. De modo que Isaías e Jeremias, mais do que quaisquer outros profetas, são aqueles que bradam e gritam e advertem que, por causa daquela existência individual e coletiva que o povo judeu vivia, eles iriam ser levados para o cativeiro em Babilônia. Não porque fosse inevitável – os profetas diziam que o cativeiro era evitável. Então, não foi porque uma obsessão de Nabucodonosor fosse inevitavelmente acontecer e um poder tão maior viesse a subjugar um poder tão
menor, pois outros povos pequenos foram poupados pelo rei de Babilônia, Nabucodonosor. Mas Israel não foi poupado. Explicitamente os profetas diziam que era por causa da idolatria que eles – o povo de Israel – praticaram, adorando a toda sorte de deuses enquanto cultuavam a Deus no templo de Jerusalém; por causa da prostituição que eles viviam do ponto de vista da promiscuidade sexual, da proliferação do adultério, gerando uma sociedade de infiéis e adúlteros, de uma corrupção que começava com os sacerdotes no templo e se estendia por todo o tecido social; o que também gerou e alimentou esse espírito de idolatria, que os profetas chamam também de prostituição espiritual, porque designava uma infidelidade de Israel na sua conjugalidade para com o Deus único e eterno – eles tinham casos e paixões com os desuse loucos dos povos que os circundavam; o que também gerou uma destruição total do sentido de equidade, de justiça, de verdade, de equilíbrio social, produzindo disparates: ricos absolutamente ricos e nababescos, e pobres famintos e miseráveis, o que produziu a antissociedade, do ponto de vista do que a palavra de Deus lhes propunha, o que estava então determinado na lei de Moisés e que era frequentemente objeto de convocação dos profetas para que eles soubessem e lembrassem que eles eram aquele povo que, na presença de Deus, no Monte Sinai, tinham dito: nós queremos ser um povo diferente de todos os outros
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Primeiramente vamos ler o Salmo 137. Depois leremos os salmos 126 e 133:
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E até mesmo esses profetas, por assim falarem e denunciarem, foram considerados traidores do povo, da nação e das autoridades; foram considerados subversivos, marginais, foram interpretados como figuras que lutavam contra a continuidade do status quo. E alguns sofreram penalidades horríveis por falarem, em nome de Deus, contra a maldade que se coletivizava dia após dia, década após década. Até que chegou o dia da calamidade; e Nabucodonosor não teve pena: entrou em Jerusalém, tomou-a, possuiu-a, derrubou o templo, roubou todos os seus tesouros e objetos sagrados, destruiu as muralhas, as casas, as vinhas, os pomares, incendiou a nação, estuprou as mulheres, matou os velhos, os aleijados, os pobres, recrutou, apanhou, cativou, algemou e levou toda a realeza, todos os príncipes e todos os jovens fortes e todos os que eram considerados inteligentes; não sem antes castrar a maioria deles e torná-
los eunucos, destituídos dos seus membros sexuais. As mulheres jovens, as virgens, foram usadas como escravas sexuais e levadas a serviço dos prazeres hedônicos dos Babilônios. Foi deixado para trás apenas um restolho humano que eles julgavam que não tinha poder para refazer nada e que dava trabalho demais para ser conduzido, era um peso morto. É esse assim considerado lixo humano que eles deixam ficar para trás. E o povo de Israel, mais precisamente o povo de Judá, chega em Babilônia, que era uma megatrópole extraordinária do mundo antigo, com os seus jardins suspensos, com os seus chafarizes, com os seus Taj Mahal de beleza, com toda arquitetura absolutamente impensável até para os nossos pseudoarquitetos modernos, que só trabalham com programinhas de computador e concreto pré-feito e estrutura de metal pobre. Era tudo de uma beleza absolutamente indizível, uma cidade imensa, cortada de canais, com distribuição de água para todos os lados, e a opulência de todos os povos da Terra ali presente. E eles chegam esparvoridos diante daquela grandeza, sem identidade, sem nome, sem raízes; todos eles órfãos, e os que tinham filhos, muitos deles desfilhados. A melhor memória ali era de orfandade castrada. Esse era o estado deles. E esse é o espírito do Salmo 137. Isso dito, vamos entender o salmo. Porque é nesse contexto que se tem de entender esse salmo. Veja como ele se transforma em outro salmo, sabendo-se deste contexto:
Às margens dos rios da Babilônia, nós nos assentávamos e chorávamos, lembrando-nos de Sião. Nos salgueiros que lá havia, pendurávamos as nossas harpas, pois aqueles que nos levaram cativos nos pediam canções, e os
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povos da Terra, um povo que seja um reino de sacerdotes, um povo que seja propriedade exclusiva de Deus, um povo no meio do qual não haja pobres, nem famintos, nem discriminados, um povo onde até os marginais tenham cidades de refúgio para que nelas sejam defendidos; um povo em cujos vínculos diversos prevaleça a justiça e a verdade e a equidade. Esse era o pacto que eles haviam feito com Deus. Porque esse era o sentido da lei e dos profetas: a produção dessa comunidade de amor, justiça, verdade e paz. E eles foram sistematicamente violando isso. E é por essas violações que vieram inúmeras advertências de profetas que nós conhecemos e de profetas anônimos, que, durante o dia inteiro, por anos e décadas, disseram: Se nós continuarmos assim é inevitável que a tragédia nos abata de maneira implacável.
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Às margens dos rios da Babilônia: às margens do Tigre, do Eufrates, do rio Quebar, desses rios que estão correndo até hoje entre o Iraque e o Irã, eles se assentavam e choravam, lembrando-se de Sião. Nos salgueiros que lá havia – os chorões, aquelas plantas bonitas – eles botavam suas harpas para ficarem penduradas, numa redundância botânicomusical. Assim como o salgueiro é aquela árvore chorona, suas harpas, penduradas, choravam. Essa é a poesia do Salmo. Pois os babilônios, aqueles que os levaram cativos, os seus opressores, lhes pediam canções, pediam que fossem alegres; a eles, os castrados, desfilhados, órfãos, arruinados, diziam: Entoem-nos algum dos cânticos que vocês cantavam em suas festas lá em Sião. E eles se perguntam: Como, porém, haveríamos de entoar o canto do Senhor em terra estranha? Como, se no tempo em que eles moravam na própria terra eles já não cantavam o cântico do Senhor, eles já estavam cantando, há muito tempo, cânticos a deuses estranhos? Aqui, de repente, como sói acontecer com aqueles que decidem viver contra o mandamento de Deus, contra a vontade de Deus, contra a palavra de Deus, contra a revelação de
Deus, e que acham que é possível plantar espinheiros e colher uvas, e que ouvem a palavra divina advertindo de que conforme a sua semeadura será a sua colheita; algum tempo depois de terem colhido exatamente o que plantaram, e não sem advertência, surge, no meio do cativeiro, no meio dessa situação de angústia e de aflição, uma devoção autovitimada, que se toma de arroubos, que se deixa possuir de intensidades que até pouco tempo atrás eles repudiavam, quando em nome de Deus alguns os chamavam justamente a que vivessem com o compromisso da visceralidade para com Deus, sem que eles, no entanto, quisessem. Agora, oprimidos, feitos órfãos, desfilhados, desmembrados, com perda da própria identidade, oprimidos, tiranizados, movidos por autopiedade esquecediça, eles dizem: Como, porém haveríamos de cantar o canto do Senhor em terra estranha? Mas na sua própria terra, estimulados pela palavra de Deus eles preferiram entoar canções contra o louvor a Deus. E aí surge essa outra afirmação, que seria maravilhosa se feita por um povo que tivesse vindo de um caminho de fidelidade, de amor, de obediência, de compromisso, de sinceridade para com Deus, para com a vida, para com o próximo. Mas é justamente o povo que sobreviveu à sua própria desobediência, recalcitrância, maldade e indiferença que agora, acossado pela agonia e experimentando o que se lhes dissera que sobreviria sobre eles, subitamente, esquecendo tudo que eles tendo feito produziu o que agora sobre eles estava, dizem, como se fossem vítimas da maldade: Se eu de ti me esquecer, ó Jerusalém, que se resseque a minha mão direita, que se apegue a minha língua ao paladar, se me não lembrar de ti, se não preferir eu Jerusalém à minha maior
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nossos opressores, que fôssemos alegres, dizendo: Entoainos algum dos cânticos de Sião. Como, porém, haveríamos de entoar o canto do SENHOR em terra estranha? Se eu de ti me esquecer, ó Jerusalém, que se resseque a minha mão direita. Apegue-se-me a língua ao paladar, se me não lembrar de ti, se não preferir eu Jerusalém à minha maior alegria. Contra os filhos de Edom, lembra-te, SENHOR, do dia de Jerusalém, pois diziam: Arrasai, arrasai-a, até aos fundamentos. Filha da Babilônia, que hás de ser destruída, feliz aquele que te der o pago do mal que nos fizeste. Feliz aquele que pegar teus filhos e esmagá-los contra a pedra.
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E o salmo vai prosseguir, agora com raiva dos Babilônios. Veja como a desobediência levada para o cativeiro e que sofre as coisas que eles sofreram, de repente inventa na terra do cativeiro a devoção do ódio e da autopiedade. Primeiramente, a da autopiedade: Penduramos as nossas harpas nos chorões; nos pediam canções que não podíamos cantar em terra estranha (quando em sua própria terra se tornaram estranho para com o Senhor). E agora que não têm outra alternativa, dizem: Jamais me esquecerei de ti, Jerusalém, que se resseque a minha mão direita (quando com as duas mãos, na terra deles, eles ressecaram as suas mãos para o bem que não praticaram), que se apegue a minha língua ao paladar (quando eles, em sua própria terra, com toda a graça de Deus que lhes estava disponível preferiram que suas línguas repudiassem o gosto da vontade de Deus; e não preferiram a Jerusalém, antes preferiram a sua orgia, o seu hedonismo e os seus caprichos). Agora, na terra do cativeiro, a autopiedade revoltada, o sentido de autocomiseração, a tristeza produzem essa piedade poeticamente irrealista, e que vem eivada, agora, também de um espírito de raiva, pois no final do verso 7 eles dizem: Arrasai-
a, arrasai-a, até aos fundamentos – eles diziam de Babilônia. Filha de Babilônia, que hás de ser destruída, feliz aquele que te der o pago do mal que nos fizestes, feliz aquele que pegar teus filhos e esmagá-los contra a pedra. Olha a vingança deles! Olha como eles estão cheios do amor de Deus! É o que acontece frequentemente, quando nós ficamos ouvindo a Palavra, anos e anos e, depois de um tempo, semeando espinhos e dizendo: eu sei que é espinho, mas eu unjo esse espinho, em nome de Jesus (vou plantar essa traiçãozinha aqui, mas, Senhor, existe um borogodó entre mim e ti, então, tem misericórdia de mim e abençoa esse meu caso de adultério. Ou: Senhor, eu vou pegar essa grana aqui, mas prometo que a santifico dando o dízimo!). O indivíduo vai enganando e sendo enganado. Plantando espinhos e esperando colheita de uvas; semeando mandacaru, cactos, e esperando figos, plantando abrolhos e esperando que a bondade de Deus faça nascer manga doce. Até que chega o dia em que aparece o resultado do que nós mesmos semeamos, conforme a natureza do que plantamos. E o coração, em vez de bater no peito e se arrepender, começa a fazer poesia na catástrofe – como eu conheço aqui e entre milhares que me veem na VVTV, fazendo poesia na catástrofe. É gente que desobedeceu, desobedeceu e se arrebentou por inteiro. E ficou assim, com esse coração autovitimado, sofrendo dessa depressão poética. Você conhece esse estado? De gente que foi advertida e exortada solenemente pela verdade e pelo amor de Deus, anos a fio, até que tudo arrebentou, e quando tudo cai, eles ficam sofrendo de depressão poética? “Penduramos as nossas harpas nos chorões”. Lindo! “Não dá para cantar canções de Deus em terra estranha, casada com esse homem maligno que se diz meu
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alegria. Daí que até hoje os judeus, em seus casamentos, dizem esses versos. Porque o casamento supostamente é o momento da maior alegria; por isso eles pegam uma taça, com ou seu vinho, colocam-na no chão, com um pano em cima, e o homem diz isso: Se eu me esquecer de ti, ó Jerusalém, que a língua se me apegue ao paladar; que se seque a minha mão direita se eu esquecer de ti, ó Jerusalém, se eu não preferir a ti acima e antes da minha maior alegria, que é esse momento conjugal. E, aí, ele quebra aquela taça. É bonito, poético, mas hipócrita.
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E aqui no Salmo eles estão dizendo: Ai de ti, filha de Babilônia, tomara que te deem a paga, porque tu nos queimaste! Parecia que era uma comunidade de santos, de monges, todo mundo andando em pureza, em santidade, em fidelidade, em amor: “irmão, quer mais um pouco de pão? Vamos dividir, todos. Vamos nos ajudar mutuamente. A mulher do próximo é do próximo”. Parecia que viviam assim e que foram vitimados. Parecia uma comunidade onde só havia homens como Jó e foram todos trilhados pela maldade. Quando na realidade eram todos uns Beira-Mar vestidos de estola sacerdotal, e que agora
ficam tomados esquisita.
dessa
autopiedade
E esse tipo de autopiedade não é incomum nos corações de muitos de nós, que depois de advertidos experimentamos a catástrofe e ficamos vacilando nessa bipolaridade entre a autovitimização e o ódio, que transfere culpas e que não assume arrependimentos. A culpa é de Babilônia, a culpa é do diabo. Mas até aqui não tem ninguém se enxergando. E ainda tem a espiritualidade raivosa dos que querem vingança. Tudo isso escrito com poesia! Uma oração imprecatória, que no espírito do evangelho de Jesus não tem lugar. Começa com autopiedade e termina com ódio e com vingança. Agora observe se não existem pessoas aqui que viveram esse processo e ainda hoje estão dentro desse processo espiritual, psicológico, fazendo ainda transferências e, de outro lado, se autovitimando; e em momento algum se enxergando. A culpa é do outro, o outro é que é o opressor, o outro é que zomba de mim, o outro é que pede de mim o que eu não tenho para dar; e tomara que chegue o dia em que ele seja esmagado. Enquanto isso eu mesmo não me enxergo, até hoje e até agora. Vou ficar fazendo as orações do ódio, e não me converterei e nem terei o meu destino mudado. Setenta anos se passaram para eles, lá no cativeiro. Uma geração inteira morreu, outra geração nasceu. É nesse período que os profetas Daniel e Ezequiel se desenvolvem. Quando lermos Ezequiel e Daniel saibamos que eles estão vivendo, existindo e transitando nos setenta anos desse cativeiro, onde gerações foram mudando e algumas consciências foram se renovando; até que chega uma hora, um dia, pela inteira graça de Deus, em que se
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marido, que me oprime. Meu Deus, como eu vim parar aqui?!” Ou: “Não dá para cantar canções de Deus com essa bruxa, que eu pensei que era maravilhosa, deliciosa, cheirosa; mas que é encantadoramente satânica! E eu não tenho sequer grana para sair daqui. E ela ainda pede alegria, mas eu não posso tirar alegria do meu coração nessa situação, meu Deus!”. Ou: “Estou na miséria, não tenho mais nem chance de ir e de vir, e ainda tem gente dizendo: Escuta, e a tua fé, onde está?! Mas eu estou é com raiva! Raiva do diabo!”. Você não encontra gente com uma raiva danada do diabo? Eu digo: Calma, rapaz, que raiva é essa do diabo? Teu diabo és tu. Porque mais do que os profetas falaram, mais do que o Espírito disse, mais do que a luz revelou, mais do Deus gritou, mais do que o amor de Deus nos cerceou, nos provocou, nos invadiu com bondade, e nós resistimos?! Você ainda vem dizer que a culpa é do diabo? Nesse caso o diabo foi um servo do Senhor contra você; como Nabucodonosor, que Isaías disse ter sido usado por Deus como uma navalha para fazer em Israel barba, cabelo e bigode.
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E na sucessão dos Medos e dos Persas, e agora mais dos Persas, Ciro, o Persa, ascende ao poder supremo. E cem anos antes de Ciro o Grande nascer e existir Deus dissera por meio do profeta Isaías: Eis que levantarei Ciro, o meu ungido, o meu escolhido; ele quebrará os grilhões, ele destruirá as trancas de ferro, ele arrebentará os portões de bronze, ele libertará o meu povo Israel, porque ainda que ele não exista, eu o chamo pelo nome, e ainda que ele não me conheça, eu o conheço e o designei para isso. E conforme a profecia de Isaías esse Ciro nasce, cresce, vira rei, imperador; e quando ascende ao trono ele toma a decisão absolutamente impensável da soberania divina sobre a história humana, sobre os poderes e os potentados mais grandiosos do que nós chamamos de civilização humana; e ele, da noite para o dia, sem explicações, sem opressão, sem coerção, sem barganha, decide apenas; compungido por um poder superior, ordena, escrevendo um édito, que todo o povo judeu voltasse para a sua terra, que reconstruísse as suas cidades, que levantasse os muros de Jerusalém, que erguesse o templo do Senhor, e que lá buscasse ser feliz outra vez. Assim como a graça de Deus que, conforme Colossenses 1: 13, “nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor” por deliberação exclusivamente
dele, por mandado e decisão unilateral, por afirmação explícita de que Deus estava em Cristo reconciliando consigo mesmo o mundo, por uma decisão que não dependia de ninguém, era exclusivamente fruto da graça de Deus em nosso favor, do mesmo modo aconteceu com eles. E eles receberam esse édito de libertação e podiam ir embora. É então que acontece o Salmo 126. Veja como agora, depois do que foi dito aqui, faz sentido:
Quando o SENHOR restaurou a sorte de Sião, ficamos como quem sonha. Então, a nossa boca se encheu de riso, e a nossa língua, de júbilo; então, entre as nações se dizia: Grandes coisas o SENHOR tem feito por eles. Com efeito, grandes coisas fez o SENHOR por nós; por isso, estamos alegres. Restaura, SENHOR, a nossa sorte, como as torrentes no Neguebe. Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão. Quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes. O Senhor restaurou a sorte de Sião por meio do édito de Ciro o Grande. E eles ficaram como quem sonha, não podiam acreditar! Tiveram de ir sendo enxotados: Vão, a porta está aberta, ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do filho do seu amor! Estou livre, estou livre da desgraça, da culpa, da angústia, e nem acredito! Então, sua boca se encheu de riso e a língua, de júbilo – vem primeiro aquela fase da bobeira; eles ficaram bem crentes! E até entre as nações se dizia que o Senhor tinha feito grandes coisas por eles. Ninguém acreditava, diziam: não é possível! Mas aí eles começaram a cair na real: com efeito, é verdade, grandes coisas fez o Senhor por nós, e essa é a razão de estarmos alegres;
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cumpre a profecia do profeta Jeremias, que dissera – e eles nem prestaram atenção – que aquele cativeiro não seria eterno, não se perpetuaria, mas, ao contrário, duraria apenas setenta anos. Setenta anos depois. Tempo em que houve sucessões; Nabucodonosor morreu, Belsazar ascendeu ao trono (antes dele Nabonido havia estado no trono), depois os Medos e os Persas tomaram o reino dos Babilônios e Dario tomou o poder.
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Eles voltaram para sua terra e encontraram tudo arruinado. E precisaram encarar uma segunda situação: tinham que reconstruir. Porque a libertação de Deus é instantânea, mas a reconstrução da vida que nós estragamos é progressiva. E diz o verso 4: “Restaura, Senhor, a nossa sorte, como as torrentes no Neguebe. Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão”. Nós levamos anos destruindo contra o amor de Deus, mas quando isso vem, vem, e depois nos deixa em um estado longo de experiência doída, período no qual nós desenvolvemos autovitimizações, raivas, sentimentos espirituais de autocomiseração improdutiva que não nos leva a lugar algum a não ser à vontade de vingança e de ódio da vida. Até que a misericórdia de Deus nos alcança e nos deixa embasbacados com o seu amor, a ponto de nós nem acreditarmos; e então temos de aprender que a libertação de Deus opera-se de maneira instantânea, mas que a reconstrução daquilo que nós estragamos acontece de modo progressivo. E é nessa progressividade que se tem de exercer a perseverança que neste salmo é afirmada como poesia, no que assim se expressa: “Os que com lágrimas semeiam, com júbilo ceifarão”. É outra semeadura. Antes eles semearam espinhos querendo colher uvas; agora eles vão semear lágrimas e vão ceifar bondade de Deus no chão da terra. Os que com lágrimas semeiam, e perseverantemente semeiam, com júbilo ceifarão. “Quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes”. Andando e chorando são verbos no gerúndio,
contínuos, processuais, que demandam perseverança, esperança, um dia depois do outro. Mas quem anda no gerúndio da esperança e vai andando e chorando enquanto semeia, esse voltará, no dia da graça – e esse dia sempre chega – com júbilo, trazendo seus feixes. Muita gente aqui está vivendo esses processos. Tem gente que acabou de sair e não está nem acreditando: será que eu vou, ou estão me enganando? Não, meu irmão, você está livre, em nome de Jesus. Pode vir, em nome do Senhor. Tem outros em quem a ficha caiu: oh, é verdade, é fato, já tem até gente de fora reconhecendo. Tem outras nações dizendo: uau! Já tem vizinhos dizendo: a cara dele mudou! Ou: o que aconteceu com ele, com ela?! E ainda tem outros que depois de viverem o surto dessa alegria olhou de novo em volta, voltou para os ambientes da restauração, do recomeço, e disse: Meu Deus, que estrago! E que vai ter de aprender que a palavra do perdão de Deus nos perdoa instantaneamente, que a graça de Deus nos absolve instantaneamente, que a reconciliação com Deus é instantânea, é já, mas o processo histórico de refazimento daquilo que na nossa idiotice nós estragamos é gradual e demanda perseverança. Vai ter de aprender a andar no mesmo chão estragado pela própria estupidez, só que agora, semeando lágrimas, não de autocomiseração, mas de esforço, de arrependimento, de consciência; sabendo que aquele que com lágrimas semeia – lágrimas de amor, de arrependimento, de decisão de construir o novo – esse com júbilo ceifará, colherá. E aquele que gerundia a sua vida na propulsão da esperança, e que sai andando e chorando enquanto semeia, infalivelmente voltará com júbilo trazendo os seus feixes! É assim que é.
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não é um surto histérico, é verdade, é alegria com base na realidade, é fato, estamos livres!
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Mas há um terceiro momento desses salmos. É o pessoal que quando chegou lá na Babilônia dizia, no salmo 137: Quando nós estávamos junto aos rios de Babilônia, nós nos assentávamos e chorávamos, e os nossos inimigos pediam que cantássemos canções de Sião, canções de alegria. E nós penduramos as nossas harpas nos chorões – como é que poderíamos cantar canções do Senhor em terra estranha? E fizemos juras de que longe de Jerusalém não viveríamos, que colocaríamos o lugar da vontade de Deus acima da nossa maior alegria; em outras palavras, dissemos: o reino de Deus em primeiro lugar; prometemos que buscaríamos primeiro o reino de Deus e que as demais coisas, que nos fossem acrescentadas. Aquele mesmo pessoal que terminou com autovitimização, com ira, com raiva, e querendo vingança, agora, depois que o tempo passou, uma geração depois da outra, se acostumou. Como bons judeus abriram uma lojinha em Babilônia: pedras preciosas, aromas; foram fazendo bons negócios, ganhando um dinheirinho. Aí, vem o édito de Ciro dizendo que eles podem ir. Mas um monte de gente disse: Não, eu não vou; Babilônia é um lugar muito legal, nós é que não sabíamos nos virar aqui, mas agora é só
uma questão de malandragem. Vamos ficar por aqui mesmo, dar o nosso jeitinho. Vamos trazer Jerusalém para o coração, é uma questão de subjetividade, de existencialidade, não é necessário fazer essa viagem para lá, não é preciso construir nada. Está bom aqui, a gente acomoda as coisas. Deus abençoe os que vão, mas nós vamos ficar por aqui. Nós aprendemos a ser gente de Deus no meio dessa coisa, e nós manobramos. É verdade que há um preço a pagar, que não dá para ficar inteiro; mas o que sobra é bom demais. Então, nada de fazer esse esforço, já estamos bem acomodados, não vamos recomeçar essa vida da fidelidade, está bom demais aqui. Aí, o pessoal que voltou e que está agora em Jerusalém trabalhando, chorando, construindo, fazendo, crendo, sente falta desses irmãos que não voltam nunca, que até dizem: olha, eu vou mandar uma oferta, mas eu aprendi a sobrevier em Babilônia. É aquele pessoal que perdeu a esperança, que ficou cínico. É aquele pessoal que guardou lembranças que um dia foram doloridas e agora são apenas memórias de um álbum de família, mas que trocou qualquer que tivesse sido o seu sentimento de pertencimento profundo à realidade de Deus pela acomodação circunstancial dos confortos imediatos. E é para esses que o salmo 133 é escrito, já por aqueles que estão na terra, lutando e sentindo falta dos amigos, dos irmãos, desses que preferiram a acomodação a voltarem para compartilhar o mesmo destino e a mesma caminhada do povo de Deus, em obediência à vontade de Deus. O salmo 133 clama a esses que no início diziam que para eles não havia alegria alguma longe do centro da vontade de Deus; e que agora, por causa do entorpecimento do cinismo que lhes dominou o coração, encontraram conciliações e acomodações, de tal modo
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Tem gente aqui que saiu e ainda não creu. Creia. Tem gente que começou a crer, a perceber e a se apossar. Aposse-se, é fato. Tem gente que verificou agora, já, o que tem de ser feito, está sob o impacto. Decida-se a não parar, sua vida precisa ser um gerúndio de esperança na graça. E vá. Semeando com lágrimas de amor e de esperança você vai ceifar com júbilo, com alegria, é só uma questão de tempo. Vá semeando e andando e chorando. E não pare, porque você vai voltar dessa viagem com júbilo, carregado dos feixes da bondade de Deus. Em nome de Jesus.
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Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos! É como o óleo precioso sobre a cabeça, o qual desce para a barba, a barba de Arão (o sacerdote), e desce para a gola de suas vestes. É como o orvalho do Hermom, que desce sobre os montes de Sião. Ali, ordena o SENHOR a sua bênção e a vida para sempre. Viverem unidos os irmãos é como o orvalho do Monte Hermom, nevado, que desce sobre os montes de Sião, montes secos e que dependem fundamentalmente da umidade que se adensa sobre o monte Hermom. Sião não tem água se o Hermom não for generoso na produção de umidade que vá pelos ventos da Síria e do Líbano soprados para o sul, para gerarem chuva sobre Sião, sobre Jerusalém. Ali, onde os irmãos estão unidos, onde o dom de um ajuda o outro, onde a capacidade de um se torna possibilidade para o outro, onde a competência de um é estímulo para o outro, onde a existência de um é complemento para a existência do outro, onde a unidade faz com que o óleo que caiu na cabeça de um não fique preso nem retido, mas escorra para a barba, desça para as golas, molhe o corpo todo – o espírito é de que a bênção tem de se esparramar! Assim como o orvalho do Hermom que desce sobre o monte de Sião, assim tem de ser. Porque onde quer que esse espírito aconteça, ali ordena o Senhor a sua bênção e a vida, para sempre. Tem hoje alguns que passam por aqui e que quase nunca ficam – passam pela “rodoviária Caminho da Graça”. Então a
gente pergunta: Cadê aquele irmão? E ele, depois de um ano, aparece de novo: estava com uma saudade de você, Pastor! Eu digo: É, eu sei, uma saudade enorme, a sua. Há outros que dizem: É que com a bênção da VVTV eu fico em casa ,lanchando e vendo você ali; com uma saudade enorme. Tudo compreensível para quem está longe; e o resto é desculpa para quem está perto. Porque é gente que diz que se cansou de servir, é gente que se cansou de se envolver, de se engajar, é gente que se cansou de pertencer, de se dar, de servir, de sofrer, de caminhar o caminho comum de todos. É gente que diz: Eu encontrei a minha síntese, encontrei a minha distância de conforto; e que um tempo atrás estavam chorando as angústias do cativeiro, mas que agora estão nesse limbo: já não estão mais cativos e também não ajudam na libertação. É para esses que vem a evocação desse salmo: Ah, meu irmão, o bom e agradável, mesmo, é que viam unidos os irmãos. É como o óleo precioso que cai na cabeça, escorre pela barba, se derrama pelo corpo – varre a organicidade inteira disso que nós chamamos povo de Deus, corpo de Cristo. É como o orvalho do Hermom nevado, com seus 2.300 metros de altitude; se não for o seu orvalhamento e o adensamento da sua umidade, não chove para outras pessoas. A presença de uns é a sobrevivência de outros. Os meios de uns são a graça de outros. Os dons de uns são a salvação e a redenção de outros. Saia do limbo! Saia do limbo, tome compromissos, nós somos todos membros de um só corpo. Estes são três salmos antigos feitos atuais na experiência existencial de quem quiser ter aprendido com a verdade espiritual do que aqui se eterniza, se anuncia e trás revelação dos estados possíveis em que
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que não querem mais fazer a viagem. A esses, o salmo 133 (que aqui se diz ser um salmo de Davi, mas que é um salmo exílico) é dirigido por vozes fraternas que clamam e dizem:
O Caminho da Graça
nós nos encontremos. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça a palavra do Senhor.
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Mensagem ministrada em 11/03/2012 Estação do Caminho - DF
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