O processo de cristificação do ser

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O Caminho da Graça

O processo de cristificação do ser Caio Fábio

Vamos ler em João 3, no diálogo de Jesus com Nicodemos. Vocês conhecem a história de Nicodemos, um dos grandes fariseus, membro do Sinédrio, que procurou Jesus à noite, dizendo:

É uma cartesianidade, uma lógica histórica, uma linearidade, uma horizontalidade tão aprisionante, essa do Nicodemos, que dá pena! Mas ele era mestre da religião em Israel. E Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade te digo: Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne, é carne; e o que é nascido do Espírito, é espírito”. Nascer da água, simbolizando arrependimento segundo a pregação de João Batista: “arrependei-vos e converteivos”, simbolizando, pelo batismo em água, esse arrependimento e essa conversão. “Quem não nascer da água...”, ou seja, quem não nascer do arrependimento (da metanoia, como diz a expressão grega, que significa mudança de mente, de olhar); quem não nascer da conversão da mente, dos valores, da interpretação nova que o arrependimento produz na consciência; quem não ganhar esse novo olhar que decorre dessa nova mente. “...e do

Espírito...”, ou seja, quem não nascer da ação profunda do Espírito Santo, que regenera o ser, de modo que, dentro do velho emerge, eclode, explode uma metamorfose que deixa para trás um casulo de velhices e faz surgir um ser absolutamente novo, com nova mente, nova consciência, nova percepção, nova interpretação da vida, nova atitude, nova postura. Se isso não acontecer, se alguém não nascer desse milagre não pode entrar no reino de Deus. Porque quem é nascido da carne é nascido da carne, mas o que é nascido do Espírito Santo, esse é tocado, é produzido, é criado na dimensão do espírito. Por isso – continua Jesus – não te admires, Nicodemos, de eu te dizer: Importa-vos nascer de novo. E o diálogo prossegue, mas eu queria que nós ficássemos por aqui, por enquanto. Esse conceito não é um conceito filosófico, mas Nicodemos tentou transformá-lo em um conceito de natureza filosófica, quando

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“Mestre, nós sabemos que tu és vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer os sinais que tu fazes se Deus não estiver com ele”. E a essa afirmação de Nicodemos, que usava a lógica cartesiana de causa e efeito para dizer: tu só podes ser de Deus por causa dos sinais tão maravilhosos que fazes, Jesus respondeu: Em verdade, em verdade te digo, Nicodemos, que se alguém não nascer de novo, se não deixar essa logicazinha cartesiana e não passar por uma experiência parturiente de ser um sujeito da gravidez divina, não pode ver o reino de Deus; porque, com esse olhar dessa lógica linear e cartesiana, tu não estás enxergando nada. O que se enxerga em Deus só se pode enxergar se a pessoa nascer do útero da graça, de uma experiência de amor, de transformação da mente e de regeneração do espírito. Então, perguntou-lhe Nicodemos: Como pode suceder tal coisa? Como pode um homem nascer sendo velho, Mestre? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez?!”


disse que era uma questão de causa e efeito discernir que Jesus só poderia ser enviado da parte de Deus por causa dos sinais que ele fazia. Assim, pelo efeito Nicodemos avalia o causador da existência de Jesus. E Jesus anulou aquilo, dizendo: Não, você não compreendeu; por essa lógica você não vai discernir o que eu estou propondo. Você vai ficar preso a esse arcabouço de linearidade que não muda a mente e nem o ser; que constrói uma equaçãozinha intelectual, mas não transforma criatura humana nenhuma no ser para o qual Deus lhe chama a se tornar, transcendendo essa horizontalidade imediata, animal, dessas logicazinhas absolutamente pueris e baratas. Eu estou chamando todo homem para experimentar a gravidez de Deus, para ser reparido na vida, com uma nova mente, com um novo olhar, com um novo entendimento, com uma nova interpretação de si mesmo na vida, e com uma nova interpretação da existência como um todo. Estou chamando todo ser humano a ser regenerado pelo Espírito Santo a partir do homem interior. Não se trata de nenhuma mudança externa, nem na carne; o que é nascido do Espírito, é espírito. E isso está na base e na essência de tudo o que Jesus ensinou. Sem essa pedra de esquina, sem essa pedra fundamental, não se ergue nenhuma construção espiritual em Cristo e no Evangelho. Nós podemos fazer cursos de teologia, ler livros, nos aplicarmos à filosofia, podemos tentar nos humanizar nas perspectivas mais interessantes e bonitinhas, mas isso não vai gerar a transformação nesse nível de metamorfose grotesca, que é algo semelhante a deixar para trás uma lagarta e voar no ente absurdo de uma borboleta, tamanha é realidade do chamado da metamorfose que Jesus quer operar na

mente, no coração, na interioridade, nos sentimentos, nas afeições, no olhar, nas interpretações, nas atitudes de todos nós. E isso não é produzido por conceito; isso é produzido por experiência. É uma experiência que Paulo diz que é de amor, quando, em 2 Coríntios 5: 16 e 17, falando do mesmo assunto, ele afirma: Assim que, daqui por diante, a ninguém conhecemos segundo a carne; e se antes conhecemos inclusive a Cristo apenas como o Cristo histórico, como o Cristo das narrativas, como o Jesus da crucificação, como o Jesus da ressurreição histórica, como o Jesus que nasceu da virgem, como o Jesus dos milagres, como o Jesus da Galileia, como o Jesus morto em Jerusalém, como o Jesus das narrativas, se antes nós conhecemos a Cristo Jesus segundo a carne, ou seja, segundo esse tipo de conceito ou informação (a apreensão linear aqui definida por ele como sendo apenas uma captação da carne, do intelecto, da transferência informativa), já agora, não o conhecemos deste modo. Nós sabemos do Jesus histórico, mas nós temos é uma experiência com o Cristo existencial. Nós não nos alimentamos da crucificação, nós transcendemos a crucificação e pela fé nos vimos e nos deixamos crucificar com Cristo. Nós cremos na ressurreição histórica de Jesus de entre os mortos, mas nós transcendemos a ressurreição histórica e tivemos comunhão com os sofrimentos de Cristo, e nos tornamos partícipes da ressurreição de Jesus. De modo que a ressurreição histórica de Jesus é, para nós, um fato e um fator transformador – mental, espiritual e psicologicamente – e reenergizador do nosso espírito e da nossa existência; é um poder que nos levanta das nossas dores, das nossas agonias, das nossas derrotas; é uma força e um fator de ressurreição nos emulando nas mortes

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psicológicas, emocionais e espirituais da nossa própria existência e nos fazendo viver de vida em vida nessa consciência. Assim – prossegue Paulo –, se alguém está em Cristo (não no conceito do Jesus histórico, mas nessa condição de parimento, de gravidez, de estar relacionado a Jesus por um vínculo profundo de fé, de experiência de amor), esse é uma nova criatura (ou, conforme diz a expressão grega, é uma nova criação, é um novo gênese, é um regênese do nosso ser), e para esse, as coisas antigas já passaram, o passado passou. Para quem nasceu de novo, o passado passou. Nessa afirmação de Paulo não existe nenhum resíduo de espiritismo existencial. Não existe nenhum resíduo de carma hindu, aqui. Não existe nenhum resíduo de perseguição do passado, de assombração e fantasmagoria do passado nessa nova criatura que agora conhece a Jesus não segundo a carne, mas no espírito, que nasceu de novo, que nasceu do arrependimento, da metanoia, da mudança de mente; que pelo Espírito Santo está absorvendo, agora, a mente de Cristo – absorção essa que não é uma absorção mágica; é uma absorção mística, mas que se ampara no que Jesus disse, ensinou, viveu, encarnou e deixou como passos a serem seguidos e encarnados por nós, não numa imitação exterior, mas numa absorção interior, de tal modo, que nós não nos esforçamos para nos parecermos com ele, nós apenas mergulhamos nele, nós nos entregamos a essa revolução de interioridade; e o que acontece, o que explode, o que brota daí nasce com a natureza do que seja natural: é nascido do Espírito, é espírito; é nascido do amor, é amor; é nascido da graça, age com misericórdia, com bondade; foi constrangido pelo amor de Deus, então

vive em amor. Conforme Paulo diz no verso 14, ainda do capítulo 5: “Pois o amor de Cristo nos constrange” – esse amor que nós vimos revelar-se na loucura do Evangelho. Sendo Deus o Deus de todas as coisas, ele é o único que existe de si mesmo (de forma que Deus não “existe”. Existem as demais coisas, mas Deus não existe. Se Deus existisse, ele tinha de ser contado entre as coisas existentes. Existo eu, existe o universo, existe o cosmo, existem as criaturas, existem os entes: os macroentes, os microentes. Deus, no entanto, é! E dele decorrem todas as coisas. E tudo o que existe, existe nele). E esse Deus que é, se fez criatura, se encarnou em Cristo, o que é inconcebível, o que é inadmissível, o que é uma loucura, e o que se expressa como uma paixão enlouquecida. E a percepção dessa paixão chega a nós como uma iluminação do Espírito Santo, que nos faz perceber, discernir, enxergar que Deus estava em Cristo se reconciliando com o mundo inteiro, unilateralmente, independentemente da resposta que qualquer ser humano dê a ele (essa foi uma decisão dele, essa foi a soberania dele, esse foi o arbítrio dele, esse é o despotismo do amor dele, essa é a doce tirania da graça: reconciliar-se unilateralmente com todo ser humano no Planeta, ainda que ninguém saiba; e nos constituir, a nós, os que cremos, embaixadores desse anúncio). O milagre dessa percepção só nos vem como revelação, porque carne e sangue, filosofia, psicologia, elucubração mental não chegam a essa conclusão; isso é plantado em nós pelo milagre de uma revelação estonteante que nos transcende e que, de repente, nos invade, nos insemina; plantase em nós pelo amor absurdo de Deus, e nos arromba de dentro para fora, e nos constrange. E nos constrange das vísceras para fora – esse é o sentido da palavra

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“constranger” no texto original de Paulo escrevendo em grego: algo que mexe com as vísceras da nossa existência, de dentro para fora –, vai nos movendo nas contorções da metamorfose, e nós vamos nascendo, desabrochando, e a mente vai mudando, a consciência vai sendo transformada, e o milagre vai se dando, a nova criação vai se instalando, e um regênese se estabelece na nossa existência. Esse é o novo nascimento. Esse é o milagre dos milagres. Essa é a realidade impossível de ser compreendida e realizada por qualquer filosofia ou psicologia humana. Esse é um fato de Deus sobre nós, que só pode ser discernido por uma revelação que não nasce de nós mesmos. Mas também é graça de Deus derramada sobre nós, de modo que quem quer que no coração comece a ter essa percepção, a ter os primeiros rasgos dessa alegria, a ter a primeira volição dessa gratidão, a ser tomado por esse encantamento, a ser visitado por esse vislumbre, a ser engravidado por essa gravidez, saiba: é porque Deus já se inseminou em amor em você. Do contrário, de você mesmo, nada aconteceria. Esse é o novo nascimento, que é um processo crescente. Nós nascemos de novo não para ficar no formol do novo nascimento, mas para nos desenvolvermos. Nascemos para crescer, para virar gente, para nós tornarmos humanos. Aí, você poderia perguntar: “mas eu já não sou humano? E também o resto da humanidade já não é humana?”. Eu digo: É e não é. Porque por mais desumano que alguém seja, Deus nunca retirou de nenhum ser humano todo resquício de humanidade. Mesmo no homem mais diabo existe algo de humano. Em certos homens essa humanidade vai sendo anulada, anulada, até o ponto de, em um

determinado momento, eles anularem tão radicalmente sua humanidade que se transformam em diabos encarnados entre nós – usando uma figura do século passado: eles se transformam em “Hitleres” entre nós, de tão inconcebivelmente desumanos. Outros existem em graus diferentes de desumanização, de indiferença, de cinismo, de egoísmo, de ódio, de antipatias, de amarguras, de raivas, de iras, de abusos, de manipulações, de tentativa de controle, de domínio sobre o próximo, de aproveitamento; ou vão perdendo a coragem da humanidade e têm medo de amar, têm medo de se entregar, de darem tudo, de existirem, de viver em plenitude, boicotam a própria vida, boicotam o amor, trabalham contra o sentido da vida. Todas essas coisas são manifestações – umas negativíssimas – da nossa desumanização; outras, do nosso sabotagem à nossa própria humanidade, que está em processo freqüentemente amortecido em nós. De modo que o novo nascimento nos coloca em um caminho de “re-humanização”, porque Jesus se autodefine como sendo o Filho do Homem. Na realidade, Jesus foi o único homem absolutamente homem que a História conheceu – essa História de machos que não são homens, de humanos desumanizados, de humanos com potencial humano freqüentemente anulado, boicotado ou relegado a um plano de inferioridade, ou, até mesmo, morto. Nessa humanidade toda só houve um homem absolutamente homem: esse que conhecemos como Jesus de Nazaré e que se autodefiniu como o Filho do Homem, o Homem dos homens, o Homem arquetípico. Se alguém quiser saber o que é ser um homem (no sentido de humanidade: homem e mulher), olhe para Jesus, olhe para o amor dele, olhe para a

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E Paulo está nos dizendo que é na direção de nos tornamos semelhantes a Jesus que nós estamos aqui. Nós nascemos de novo, somos paridos pelo constrangimento desse amor que é revelação, e uma nova gravidez é gerada em nós. Nós somos engravidados no amor de Deus e somos paridos na História com essa nova mente, com essa nova consciência, com essa nova vontade, com essa nova disposição, com essa nova atitude, para irmos crescendo, para irmos nos tornando semelhantes a Jesus. E Paulo descreve isso como uma obra contínua do Espírito Santo, que vai nos transformando dia a dia, de glória em glória, se nós ficarmos olhando para Jesus, vendo nele o que é ser humano e também o que é ser absolutamente divino, pois quanto mais humano ele é, mais divino ele se expressa, e quanto mais divino ele se expressa, mais humano ele se torna. E quem quer que perceba isso e se perplexifique com isso e se apaixone por isso e ambicione isso para si e queira se tornar um ser vivendo a mutação constante do crescimento na direção dessa glória humana e divina de ser, esse será transformado de glória em glória, na contemplação de Jesus e na absorção de Jesus pelo trabalho do Espírito Santo em nós, trabalho que nunca cessa até ao dia em que nós, sem morrermos, passamos para a vida, deixando para trás, na História, apenas o casulo dessa carne; e

sem conhecer a morte, entramos na eternidade que já entrou em nós, porque já estamos, em Cristo, habitados pela eternidade, incapazes de morrer. Pois eu, Caio, não sou este corpo; este corpo é um aparato do qual eu me sirvo no espaçotempo; um dia esse aparato, como um casulo, será deixado para trás e eu entrarei na glória absoluta e me tornarei semelhante a Jesus em tudo, porque vê-loei absolutamente e serei absorvido por ele e dele absorverei tudo. De modo que o meu destino é me tornar Cristo. Eu sou chamado para nascer de novo até àquele dia em que me torne irmão de Jesus, herdeiro de Deus, cristificado em Cristo Jesus. Essa é a minha vocação eterna, e é a sua também. Mas nesse processo, as pessoas estão em fases diferentes. Tem gente que está em um ponto mais adiante, outras estão mais aquém. Tem gente que está no início e outras que estão ainda só pensando em entrar. Tem gente que ainda está só olhando pelas beiradas, pensando: “pôxa, é legal pra caramba, mas não sei não, vai depender...”. E tem gente que está fora, mesmo, só olhando, dizendo: “legal, mas por enquanto é melhor que haja um muro entre mim e ele”. Eu não sei em que fase desse processo você está. Eu estou assumindo que, pela misericórdia de Deus, você já tenha andado um pouco e agora esteja caminhando para adiante. Nenhum de nós chegou ao extremo, cada um de nós está em fase diferente da caminhada. E nesse processo, nessas diferentes fases da caminhada, há muitas coisas que nos atrapalham fazer a viagem. Eu poderia enumerar dezenas delas, mas elegi três que são as mais esmagadoramente presentes e desconstrutivas, desestimuladoras e antitéticas para o nosso ser nessa travessia, nessa jornada entre o nascer de novo e a

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verdade dele, olhe para a compaixão dele, olhe para a justiça dele; olhe para o destemor, para a coragem, para a meiguice, para a veemência, para a humildade, para a simplicidade, para a naturalidade dele; olhe para a intimidade dele com o Pai; olhe para a certeza dele quanto ao que era a natureza humana e olhe para o fato de que, apesar disso, ele não temia os humanos, e se dava a todos. E aí você vai saber o que é um ser humano.


nossa cristificação em Jesus. Que coisas são essas? A primeira delas é a que encontramos escrita na Epístola aos Hebreus, capítulo 12, quando se fala da caminhada da fé, de como nós temos de andar essa vereda estreita, esse caminho pouco escolhido pelos humanos, essa viagem da vida que a maioria não quer fazer em consciência e plenitude – vão apenas se deixando levar pelos fluxos, pelos cursos, pelos empurrões, alienados, existência afora. Poucos são os que escolhem, que querem, que se entregam sem medo à viagem. No capítulo 11 o escritor vinha falando dos que fizeram a viagem, que só pode ser feita de fé em fé, todo dia. E no capítulo 12 ele conclui dizendo: “Portanto, também nós, visto que temos

a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas (que fizeram a viagem), desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta (façamos a viagem que nos está proposta), olhando firmemente para o autor e consumador da nossa fé, Jesus, (sem tirar nossos olhos de Jesus, que foi quem gerou isso em nós e é quem consuma isso em nós), o qual, em

troca da alegria que lhe estava proposta (desde antes de haver existência), suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia (à qual foi sujeito), e está assentado à destra do trono de Deus. Considerai, pois, atentamente, aquele que suportou tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo, para que não vos fatigueis, desmaiando, em vossas almas (na jornada)”. Poucas narrativas poderiam ser descritivas daquilo que vai

mais nos

atrapalhando na viagem entre o nascer de novo e o ser cristificado em Cristo. Por isso, aqui na Epístola aos Hebreus, além de fazer recomendações positivas, como: “olhando firmemente para o autor e consumador da nossa fé, Jesus”, e sobre recobrar o ânimo, vendo que a existência é dura e tem antagonismos, mas não nos deixando abater por esses antagonismos, considerando aquele que enfrentou tais coisas e experimentou a glória transcendente para nos mostrar como é que a gente faz a viagem e o que é que alcançamos no fim de todo o processo, enquanto, durante a viagem, vamos nos renovando no amor dele, sempre, o escritor menciona também algumas negatividades que são indicadas como sendo os grandes impedidores da jornada. Um desses impedidores, ele chama de peso: “desembaraçando-nos de todo peso”. Aqui no contexto imediato dessa epístola ele se referia ao legalismo, ao moralismo, às leis judaicas acrescidas àqueles cristãos a quem ele escrevia, os quais estavam se tornando híbridos do judaísmo, sem entenderem que o fim da Lei é Cristo para a justiça de todo o que crê; e sem entenderem que, em Jesus, nós não carregamos nas costas as tábuas de pedra, de Moisés, nem carregamos uma multidão de mandamentos cerimoniais, nem de ritos, nem de observâncias exteriores, nem de modas religiosas e nem de meticulosidades neuróticas conforme a lei do Antigo Testamento e conforme aquilo que a tal lei foi acrescentado pela multidão de arrogância humana construindo mais derivativos alucinantes, não carregáveis, esmagadores, neurotizantes e paranoicos. De tal modo que todo aquele que se ponha sob tais pesos não os suportará; além do que, Jesus, na cruz, já anulou todas essas coisas e as rasgou, para que a nossa

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sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve”. O peso de Hebreus 12 era esse, mas há muitos outros pesos. Cada um de nós aqui carrega pesos diferentes. Pesos que nós escolhemos carregar, carmas que elegemos, coisa que, de maneira autossabotada, nós levamos, vícios em relação aos quais ficamos dependentes. E não estou falando de vícios exteriores, estou falando dos verdadeiros vícios, que são os vícios da alma, os vícios das afetividades, as relações de dependência, de codependência, que nós desenvolvemos e carregamos, e que vão ficando pesados. Tem mulher que me escreve dizendo que apanha do marido, e ela quer saber se ele é a cruz dela. Eu respondo que não, que isso é a estupidez dela, e não a sua cruz. Eu digo: larga essa estaca, isso é uma perna manca, é uma viga sem função na existência, mas cruz não é. São muitas as doenças, são muitos os pesos familiares que nós carregamos. São, por exemplo, pesos de filhos, que mães redentoras carregam. Há mães que se sentem verdadeiras “jesusas” dos seus filhos, acham que vão salvá-los. Mas você, que é mãe, não tem esse poder. Você tem o poder de parir, de dar leite, de limpar bundas, de lavar roupas, de dizer a seu filho que não faça isso ou aquilo para que ele não quebre a cara, de dar umas palmadas enquanto é tempo, dia e hora. Mas a sua impotência é rápida e crescente, chega uma hora em que ele diz adeus e sai; e quando tem alguma consideração, manda uma mensagem de texto, de madrugada, dizendo que está tudo bem – ele só não diz que é na suruba que está tudo bem. Aí você fica achando que porque ele, ou ela,

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obediência a ele não seja tangenciada, nem motivada, nem estimulada desgraçadamente pelo medo, pelo pânico, pela culpa; ao contrário, tudo quanto em nós se opere genuinamente de Deus como motivação que carregue o significado do que para Deus é verdadeiro, tem de nascer do amor, da gratidão, da entrega, tem de ser fruto desse constrangimento que recebeu a revelação da loucura de que Deus, em Cristo, se fez homem e se reconciliou unilateralmente comigo e com o mundo, e não me pediu satisfação, se apaixonou por mim. E quando essa graça me penetra o coração, eu dou a resposta de dizer: ele morreu por mim, portanto, eu morri com ele, para que, agora, a vida que eu tenha na carne eu não a tenha mais para mim mesmo, mas para aquele que por mim morreu e ressuscitou. E não é por nenhum peso, por nenhum medo, é por pura gratidão e por puro amor. Então, aqui em Hebreus, ele está falando desse peso, o qual estava fazendo com que uma quantidade enorme de pessoas desistissem do caminho, ou caíssem na hipocrisia e começassem a se transformar em seres exteriores, de espiritualidades estereotipadas, apenas de demonstração, apenas de teatralização sem nenhuma correspondência no interior, apenas de fachada, ficando cínicos, hipócritas. Outros estavam achando que era demais, porque, na realidade, aquilo não tinha nada a ver com o Evangelho, era uma construção humana exacerbada, exagerada, apelidada de Evangelho ou de híbrido da vontade de Deus e posta sobre pessoas que não tinham condição de carregar tal peso. E é porque nenhum de nós tem condição de carregar tal peso, que ele foi anulado na cruz por aquele que disse: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai


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Deus é que você aprenda e discirna. Se você faz um mau negócio, faz dois, faz três – aprenda! E é assim em qualquer outra coisa, em qualquer outro nível. Mas nós, não. Nós carregamos esses pesos enormes. Outro peso que nós carregamos é o daqueles, na nossa casa, que não querem nada com a vida. E nós sofremos tanto! Existe, também, filho que sofre pelo pai: “Meu Deus, meu pai está ficando velho e parece um playboy idiotado, eu tenho vergonha dele...”. Aí leva aquele carma desgraçado, do pai, da mãe. Ou, também, filho que sofre pelo divórcio dos pais: “Ai, isso me rasgou no meio...!” – todo mundo acha que tem obrigação de ficar psicologicamente dualizado se os pais se divorciarem, é quase uma obrigação moral sofrer o sofrimento deles, a dor deles; é como se o desentendimento deles fosse fazer o filho ficar desentendido, confuso, divorciado de si mesmo para sempre. É uma obrigação moral, filial, não saber a quem amar, dividir-se: odiar a ambos? Amar a ambos com raiva dos dois? E, assim, é peso que se vai levando. Muito peso. Um segundo impedidor dessa nossa jornada, diz o escritor de Hebreus, é “o pecado que tenazmente nos assedia” – o dia inteiro está ali, nos assediando. Para onde a pessoa se vira há uma proposta de saída da consciência, de desvio da vereda, de abandono do princípio, de recusa à vontade de Deus. Toda hora, o tempo todo há algum apelo, algum chamado, alguma sedução, algum tipo de encantamento enganoso, alguma distração que nos rouba o foco e que, no mínimo, nos atrasa o caminho, quando não nos desvia de vez daquele que era o caminhar original. É essa multidão enorme de pecados que nos assediam. Por pecado, entenda tudo aquilo que nos faz transgredir o mandamento do amor. E no mandamento do amor nós não

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mandou uma mensagem de texto, está tudo bem, que você está redimida, pode ir dormir. Pare com isso, você não tem esse poder todo; mas carrega um peso horroroso. A paternidade também, às vezes, é um peso neurótico. Eu encontro alguns pais que sofreram na infância e decidem que os filhos não passarão pelo que eles passaram. E, assim, vivem para transformar aquele filho em um babaca – desculpem a expressão. Ele agora decide que vai poupar o filho de tudo aquilo por que ele, pai, passou e que fez dele um homem, porque ele sofreu, a vida não o poupou. Aí, constrói aquela coisinha, aquele babaquinha do papai, aquele playboyzinho do papai, aquela patricinha. E aí ficam aqueles monstros. Cheirosos, cabelos sedosos, com tudo lindo, mas podres por dentro, seres insuportáveis, intragáveis. É melhor tragar um porronco, aquele cigarrão de palha; e a pior cachaça também queima menos do que tragar um filho assim. E o pai fica se sentindo responsável pelo que não deu certo, assume um peso desgraçado. E começa a culpar a Deus, dizendo: “Ó Deus, eu fiz o meu melhor!”. Mas não; ele fez foi tudo o que Deus não faz por nós. Você já imaginou se Deus fosse como um desses pais? Ninguém tropeçava na vida. Eu não teria uma marca sequer no rosto, seria um idiota. Graças a Deus que ele deixa a gente subir, descer, cair, ralar, se arrebentar. Ele não avisa onde está o poste. Deixa bater no outro carro, estourar a frente, a traseira, para que da próxima vez a gente aprenda a prudência. E é assim em tudo o mais na vida: ele não diz: “Olha, o homem que eu escolhi para você está com neon na testa”. É você quem olha aquela “coisa gostosa”, aquele “tanquinho”, e vai na direção da desgraça, como num tobogã. Você vai uma, vai duas, vai três vezes – a esperança de


nos utilizamos do outro, não manipulamos o outro, não amamos pela metade, não odiamos, não negociamos a nossa consciência, antes, andamos conforme a razão estabelecida por Deus como mandamento de vida. O pecado é tudo aquilo que nos arranca desse veio simples que o amor propõe como condutor da nossa existência todos os dias. E isso nos assedia de dia e de noite. Em diferentes fases e faixas etárias da vida nós experimentamos isso de formas diversas. E o escritor da epístola aos Hebreus diz para ficarmos atentos, pois o assédio é ininterrupto, é constante, o pecado é fã de todos nós, assedia o dia inteiro, quer nos comer a todos, quer nos devorar. O pecado é um headhunter da nossa vida. Então, andemos com essa consciência, e não transijamos. E não negociemos com o pecado, não barganhemos com ele, não brinquemos com ele, porque ele faz propostas impensáveis, mas o salário dele é a morte; ele não sabe pagar de outro modo, a não ser com morte para a alma e para as emoções; não sabe pagar senão com falências da nossa própria realidade de ser. Uma terceira coisa que é desgraçada, nesse processo do nascer de novo à cristificação do ser, é o passado. O passado é um diabo. Faz quarenta anos, praticamente, que eu como um cristão ouço pessoas. E de tudo o que eu tenho observado nesses quarenta anos, não há nada que seja equivalente ao peso do passado quanto a acachapar, esmagar, condicionar e determinar para a maioria esmagadora das pessoas quem elas assumem ser, quem elas não têm coragem de deixar de ser, e quem elas assumem o compromisso de continuar sendo. Isso tem a ver com o passado. Com o passado dos pais, com o passado da família, com o passado como relação

adoecida e disfuncional entre o pai e a mãe, entre os pais e a pessoa – a marca desse peso do passado que não passa nunca. Na realidade, para a maioria quase absoluta dos seres humanos o passado não passa. E a própria psicologia cultua de um modo extraordinariamente forte a importância e o significado do passado, de maneira que a pessoa vai para uma terapia para que o passado seja repassado – a pessoa tem de repassar, tem de reprocessar e reprocessar, é uma reciclagem de pai e de mãe que não acaba nunca, é o terapeuta perguntando se já elaborou isso, se já processou aquilo; e a pessoa fica grávida daquilo, depois pare aquilo, depois engole de novo, é um processo que não acaba mais. Então, até na ciência da terapia da alma o passado se eterniza e não passa. E sem terapia, aí é que o indivíduo vai, mesmo, se atabalhoando, brigando; tem raivas, pulsões, fobias, e não sabe por que. É um extraordinário acumular de passado, vivo, em nós, todo dia. E isso determina a nossa sexualidade, determina o nosso modo de sentir, o nosso modo de amar, o nosso medo de nos darmos, as nossas confianças e desconfiança; transforma o mundo inteiro em um clone do nosso passado: cada outro ser humano tem de ser uma repetição reencarnada do nosso trauma, todo mundo chega inseminado pelas assombrações do nosso passado. De maneira que as coisas mais lindas não são permitidas, os encontros mais possíveis não são realizados, os amores mais prováveis se inviabilizam por causa das nossas projeções, das nossas transferências, das nossas culpas, dos nossos traumas, dos nossos medos, das nossas dores herdadas. Nós nascemos de novo, precisamos ganhar a mente de Cristo. E o maior empecilho para que esse amor de Deus nos

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O Caminho da Graça

me amar. Nada impede Deus de me amar, depois da loucura da cruz; está provado que Deus é louco até à morte, e morte de cruz, por nós. Mas o passado me impede de absorver as transformações, os constrangimentos do amor de Deus; me impede de caminhar no processo de me tornar homem, de me tornar gente, de assimilar a mente de Cristo, de me tornar cristificado dia a dia na direção dele, de me individuar em Cristo de maneira que dia a dia eu me torne o ser que eu fui chamado para me tornar, o que implica deixar camadas e camadas de falsos “eus”, de falsos selfs, de estereotipagens, de construções, de arquiteturas culturais, de fantasmagorias, de traumas, de medos, de culpas; e ficar dia a dia nu, somente vestido pela graça de Deus, todo dia, e andando em fé, dizendo: eu fui chamado para me tornar segundo Cristo Jesus; como ele é, eu também serei, e é na direção disso que eu caminharei todos os dias. Olhe agora para si mesmo e se pergunte como o passado tem impedido você de experimentar a grandeza desse amor – como suas desconfianças, eventualmente, nascem daí, como seus medos, até de se entregar a Deus, vêm daí, como a sua relação com o amor de Deus é limitada pelo trauma, pelo pânico, pela desconfiança; como você se boicota, como a graça de Deus quer ser abundante na sua vida e você não deixa, como você se reduz, se encolhe, se complexifica, se menospreza, como você não se admite na viagem, como você atrasa o processo. E olhe também para essa quantidade de emoções que às vezes ficam confusas em você, e veja se não vêm do passado, impedindo você de ter um coração simples, de fazer uma jornada reta, de trilhar um caminho que seja absolutamente singelo na direção do que está proposto – em vez de trilhar the

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constranja, forjando em nós uma nova criatura, uma nova criação, decorre desse passado que não passa, decorre também do nosso apego à síndrome de estivadores existenciais – querendo carregar pesos e mais pesos de compensação, de culpa – e decorre, ainda, do pecado que, naturalmente, tenazmente nos assedia. Mas o passado é poderoso. Porque ele vem carregado de tudo: de pecado, de culpa, de medo, de pesos diversos; ele faz uma síntese de tudo aquilo que vai impedindo o nosso desabrochar, dia a dia, na direção de nos tornarmos um ser crescentemente mais liberto. O passado é o casulo que não queremos deixar; que até dizemos que queremos largar, mas não deixamos; que, muitas vezes, intelectualmente nós admitimos, mas afetivamente não abandonamos, emocionalmente não deixamos para trás, e, então, o carregamos, numa desnecessidade absoluta e fazendo um mal horroroso. Não é à toa que, em Romanos 8, quando Paulo fala das coisas que não podem nos separar do amor de Deus, da experiência do amor de Deus, ele inclui as coisas mais chocantes e não menciona o passado como uma dimensão. Paulo diz que “nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidades, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor”. Paulo não menciona o passado. Porque o passado, conquanto não possa me separar do amor de Deus por mim, tem o poder de me impedir de me abrir para experimentar, hoje, a realidade do amor de Deus em meu favor. Deus não se impede de me amar, eu é que me impeço de provar esse amor, freqüentemente por causa do passado. O passado não impede Deus de


O Caminho da Graça

long and winding road. A gente até chega lá, porque Deus é bom (lead me to your door), mas o caminho não precisa ser tão longo, nem tão sinuoso, nem tão atabalhoado, nem tão angustiante, não precisa ser uma volta de precipícios, todo dia. Eis o caminho, por ele andai. Entre o novo nascimento e a nossa cristificação são muitas as coisas que nos impedem, mas há o pecado que tenazmente nos assedia, há os pesos neuróticos e culposos que carregamos, nos nossos complexos de justiça própria, de moralidade, de moralismo, ou de supremacia ética, ou de expressão de superioridade espiritual sobre os outros; e há o desgraçado do passado que não passa e que nos assombra, e que nos impede de ver com simplicidade e clareza que aquele que nos amou, nos amou com o nosso passado, e matou o nosso passado, e nos diz que se alguém está em Cristo, é uma nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que tudo se fez novo. Seu pai é o mesmo, sua mãe é a mesma, sua família continua disfuncional, seus filhos são os mesmos, mas em você, deixe o passado passar. Se não passou para eles,

Deus tenha misericórdia, e que um dia passe para eles também. Mas, em você, tem de passar; essa regeneração não é coletiva, é individual, é em você. Só é possível você nascer de novo. Só dá para você, singular e solitariamente, fazer a jornada; e você tem de fazê-la sozinho. As coisas antigas, deixe passar, tudo vai se fazer novo. É Paulo quem diz: porque eu faço isto: esquecendo das coisas que para trás de mim ficam, eu vou deixando coisas, vou deixando coisas; eu não tenho nenhum apego a trauma algum, não tenho nenhum vínculo com saudades de morte, não tenho nenhum compromisso com mazelas, nem com dores, nem com amarguras, nem com feridas, nem com machucaduras, nem com rasgos na minha carne. Eu não tenho compromisso com nada disso, eu não beijo as minhas cicatrizes. Esquecendo-me das coisas que para trás ficam eu prossigo para as que diante de mim estão. Prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus, o nosso Senhor. E bem aventurado o que crer e que praticar estas coisas. Esse andará vitoriosamente no caminho.

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Mensagem ministrada em 13/05/2012 Estação do Caminho - DF

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