Culpa... o que ela te faz fazer?

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Culpa... o que ela te faz fazer? Caio Fábio

Primeiramente vamos ler no evangelho de Mateus 23:

Vou iniciar lendo Mateus 23, que é um texto pesado, uma fala de Jesus contra os religiosos, os escribas, os teólogos de Israel, os líderes da religiosidade, e os reis do exemplo: os fariseus. Ele diz coisas pesadas acerca dessas pessoas e do espírito que elas encarnavam. E ele inicia dizendo o seguinte: Na cadeira de Moisés se assentaram os escribas e os fariseus. Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem, porém não os imiteis nas suas obras; porque dizem e não fazem. Atam fardos pesados [e difíceis de carregar] e os põem sobre os ombros dos homens; entretanto, eles mesmos nem com o dedo querem movê-los. Praticam, porém, todas as suas obras com o fim de serem vistos dos homens; pois alargam os seus filactérios e alongam as suas franjas. Amam o primeiro lugar nos banquetes e as primeiras cadeiras nas sinagogas, as saudações nas praças e o serem chamados mestres pelos homens. Depois, a partir do verso 13, ele diz: Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque fechais o reino dos céus diante dos homens; pois vós não entrais, nem deixais entrar os que estão entrando! [Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque devorais as casas das viúvas e, para o justificar, fazeis longas orações; por isso, sofrereis juízo muito mais severo!] Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque rodeais o mar e a terra para fazer um prosélito (um pseudo discípulo, um membro da seita); e, uma vez feito, o tornais filho do inferno duas vezes mais do que vós! Ai de vós, guias cegos, que dizeis: Quem jurar pelo santuário, isso é nada; mas, se alguém jurar pelo ouro (ou pelo dinheiro) do santuário, fica obrigado pelo que jurou! Insensatos e cegos! Pois qual é maior: o ouro ou o santuário que santifica o ouro? E Jesus prossegue dizendo coisas semelhantes a respeito deles, até que se chega ao verso 24, quando ele diz:

Eu quero falar sobre mecanismos de compensação, que são realidades frequentemente presentes na nossa existência. Aqui no caso dos escribas e dos fariseus, o que acontece é que o mecanismo de compensação neles operante é do pior tipo possível. E por que? Porque a alma humana necessita

frequentemente de fazer compensações em relação àquilo em que ela se sinta defraudada. São mecanismos psicológicos que são deflagrados em nós como necessidade de compensação em razão de exageros – toda sorte de exageros, sejam os deliberados ou sejam os exageros infligidos sobre nós, praticados contra a

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Guias cegos, que coais o mosquito e engolis o camelo! Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque limpais o exterior do copo e do prato, mas estes, por dentro, estão cheios de rapina e intemperança! Fariseu cego, limpa primeiro o interior do copo, para que também o seu exterior fique limpo! Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque sois semelhantes aos sepulcros caiados (pintados de branco, por fora), que, por fora, se mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia! Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas, por dentro, estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade.”


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a seita das fariseias, só a dos fariseus. De modo que era, além de tudo, uma maçonaria perversa, masculina, chauvinista, horrorosa; não se vê na Escritura nenhum tipo de reunião de religiosos para apedrejarem homens por adultério, mas, apenas, mulheres, como vemos em João, capítulo 8. De modo que eles eram os primeiros a se oferecerem para essas tarefas de sentença, de punição, de disciplina, de cobrança. Sempre a postos, sempre os primeiros. Nós lemos as narrativas dos evangelhos e vemos que, fora as multidões anônimas e os apóstolos nomeados, eles são o grupo mais insistentemente frequente em todos os ajuntamentos de Jesus, para perturbarem: estão lá com perguntas cretinas, provocações, raivas, ódios, hostilidades, invejas, ciúmes. Não queriam nada com o que Jesus dizia e não conseguiam deixar Jesus seguir o seu caminho em paz; era um atração fatal, horrorosa. Nós vemos a mesma coisa com Paulo no tempo em que ele ainda era Saulo, o fariseu da tribo de Benjamim: como ele diz que, por aquele espírito religioso, ele perseguiu insistentemente a igreja de Deus, inclusive obrigando alguns discípulos de Jesus a blasfemarem, tamanha era a disposição sôfrega e canina dele de perseguir aqueles que viviam de um modo diametralmente oposto à fé que ele defendia. E ele vivia de maneira tão radical e tão rigorosa aqueles princípios do não pode, não toques, não olhes, não proves, de tal modo ele praticava com fanatismo esses ascetismos, que toda e qualquer prática humana diferente da dele lhe parecia uma provocação; como também toda e qualquer confissão de fé que fosse diferente da dele era heresia contra a qual ele se lançava obstinadamente. E também vemos, depois que Paulo se converte e

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nossa vida. No caso desses fariseus são exageros autoimpostos, porque ninguém era obrigado a ser um fariseu, nem a se tornar um religioso legalista, nem a jejuar três vezes por semana, nem a cumprir uma dieta kosher, onde não se podia comer quase nada; ninguém era obrigado a ir ao templo com aquela regularidade fanatizada, nem a andar com uma caixinha de couro na testa com pedaços dos mandamentos de Moisés, nem a amarrar no braço uma outra caixa com mandamentos de Moisés, num letrismo e num literalismo absolutamente pagão, porque o que Moisés tinha dito era: Guardem a palavra de Deus na mente, ata-a no teu braço, para que o teu comportamento, a tua força, venha carregada desse espírito; amarra-a no teu pé, para que o teu caminho seja de um movimento reto. E em vez de eles guardarem os mandamentos na mente, eles fizeram uma caixa de couro, puseram lá pedacinhos do mandamento e a colocaram na testa; e amarraram outra caixinha no braço, e outra no pé. E aí foram criando um fashion mall de moda de piedade, e andavam brejeiros, pálidos de jejuar, com aquela cara tarada para todos os lados, aqueles olhos esquisitos. E onde quer que eles vissem uma esquina eles paravam e começavam a fazer orações, com aqueles movimentos de balanço do corpo. E deixam o cachinho de cabelo crescer, do lado do rosto, usam a roupa mais esquisita que possam, para serem identificados; e vão em todos os lugares assim. E quando viam qualquer incoerência humana em relação ao comportamento por eles adotado na exterioridade, eram veementes, denunciadores, eram os primeiros a agarrarem pedras para apedrejarem adúlteros e adúlteras – especialmente as adúlteras, pois não existia


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Como o próprio Paulo viria a dizer, escrevendo aos Colossenses (no capítulo 2): que essa determinação de dizer “não pegues isto”, “não toques nisto”, “não proves isto”, “não olhes para aquilo outro” tem uma aparência de sabedoria, mas não tem nenhum poder contra a sensualidade, que brota do coração. Ao contrário, essas coisas exacerbam, na mesma medida e na conexão exata àquilo que a gente chame de proibição, em razão da qual nós fiquemos obcecados e não só com a vontade de obedecer aquilo que porventura a gente julgue proibido, mas, mais do que isso, com a vontade de impor sobre os outros o significado daquilo que para nós é proibição; nessa mesma medida e nessa mesma intensidade esse elemento proibido gerará o seu polo oposto, crescente volumosamente, exponencialmente se expandindo, antiteticamente se manifestando na nossa interioridade. De modo que quanto mais o meu consciente fique lotado

obcecadamente de uma determinada coisa, seja ela o farisaísmo ou seja ela qualquer outra coisa (mas por enquanto eu estou falando desse espírito de proibições, fanatismos religiosos, ascetismos dessa natureza), quanto mais meu consciente fique engessado por essa fixação, tanto mais eu produzo no meu inconsciente o elemento diametralmente oposto. Então, esse espírito de proibição que seja fruto de algo que venha de fora, que não seja uma vontade pessoal, uma deliberação, uma escolha; se for apenas uma proibição decorrente de uma lei escrita, que eu ache divina, sagrada e santa, a qual eu obedeça por medo da sentença, mais produzirá o efeito oposto dentro de mim: mais desejoso eu ficarei daquilo do que eu me proíbo, mais atraído eu ficarei por aquilo que eu não me permito ver, mais angustiada e sofregamente com carências inexplicáveis eu começo a me manifestar em relação àquilo que eu digo que não devo não porque seja uma escolha consciente, mas porque seja uma proibição externa, como era o caso dos fariseus. Daí Jesus dizer: vocês são como sepulcros caiados, do ponto de vista da expressão, da exterioridade, da moralidade, do comportamento, da ética cidadã e religiosa. Vocês são tão obcecados com essa demonstração, e isso é uma coisa que decorre de uma imposição que não entra no coração de vocês, não é fruto de nenhuma consciência, é apenas o resultado de um superego gigantesco, esmagador, sob o qual vocês se colocaram, que o coração faz as piores formas de compensação. Então, se para fora vocês não comem sem lavar as mãos, por dentro vocês estão cheios de toda imundícia! Se do lado de fora vocês não podem comer isso, nem aquilo, do lado de dentro, meu

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começa a pregar de cidade em cidade pela Ásia Menor (hoje Turquia), anunciando a Palavra naquela região do Planeta, como os diabos mais renitentes da existência dele, molestando-o ou perturbando-o, não eram demônios de natureza persecutória invisível – esses sempre estavam presentes, como sempre estão, conforme diz a Palavra: que o diabo, nosso adversário, anda em derredor de nós como um leão procurando alguém para devorar; mas os satanazes mais chatos que Paulo encontrou durante aqueles anos e décadas de caminhada pregando o Evangelho foram os judeus do mesmo espírito que antes habitara nele: aquele espírito farisaico persecutório, hostil, querendo obrigar o indivíduo a parar de fazer o que fazia. E isso tudo – agora eu volto e digo –, por causa de um mecanismo de compensação.


Deus, os olhos de vocês consomem a vida com gulodices extraordinárias. E é assim que funciona essa lei da compensação, porque o indivíduo começa a dizer (no caso ainda dos fariseus, ou de coisas semelhantes): “eu faço tanto sacrifício do lado de fora, eu me esforço tanto, eu pago preços tão altos, eu me entrego com tanta intensidade, eu me esforço, eu me contenho; mas enquanto eu estou aqui, jejuando, orando, me consagrando, esse pessoal fica por aí, com essas genitálias voadoras, sem dono; me dá uma raiva, uma vontade de matar! E o pior é que quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece! Eu não sei, deve ser porque eu estou muito consagrado, e o diabo deve me tentar. Aí, eu fico de um jeito que se alguém me diz: aquilo ali é bonito, eu digo: não é, não; em nome de Jesus, não é! Não tem nada bonito, não tem nada gostoso neste mundo, tudo é detestável, tudo é abominável, estou livre disso, isso é coisa de mundanos!”. Mas por dentro, ah, meu Deus, só o Senhor sabe o que acontece nos contorcimentos de sensualidade disfarçada por maquiagem de piedade, na existência desse indivíduo, por esses mecanismos de compensação. No caso dos fariseus é a justiça própria o que ativa a compensação: eu faço tanto, para fora, que eu tinha de ter direitos, para dentro. Mas esse é apenas um exemplo de mecanismo de compensação. Praticamente não há ser humano, aqui, que não faça seus próprios mecanismos compensatórios. E a maioria aqui não é de fariseus; é até possível que algum tempo atrás muitos de vocês tenham sido, mesmo, mas a maioria já não é mais. Mas há outros mecanismos de compensação. Por exemplo: recentemente, lá no Papo de Graça, um senhor casado escreveu contando-nos uma

história pavorosa: que a esposa dele no ventre da mãe já fora objeto de uma tentativa de envenenamento, porque a mãe não apenas não queria a criança, mas estava disposta a morrer junto, matando a criança e a si mesma. A criança sobreviveu: nasceu numa família onde o ódio entre o pai e a mãe era uma expressão cotidiana e visceral, e o desamor era total e frequente. Aí, passa mais um tempinho e ela, ainda criança, se sentindo enjeitada, rejeitada, mal amada, o dia inteiro lembrada da sua condição de indesejada, foi horrorosamente estuprada; e um estupro que deve ter sido horripilante, pois em consequência ela ficou vinte dias em coma. Quando ela sai dessa situação, a mãe e o pai se separam, e a mãe a vende para alguém. Aí, lá foi ela fazer trabalho escravo. E cresce assim, até que uma tia, sabendo da situação, tentou aproximar-se dela e a resgatou, como redentora da adolescentezinha. E tão logo a leva para morar com ela e começar a dar a ela uma vida mais aliviada, mais tranquila, o que acontece é que a tia subitamente morre, e de maneira prematura. Aí fica essa criatura por aí, largada em meio a todas essas dificuldades. E aí se casa com esse indivíduo que me escreveu, com quem ela tem duas filhinhas. E ele estava me dizendo: “Eu a amava muito, mas hoje eu tenho medo dela, porque ontem à noite, Caio, ela tentou o suicídio duas vezes; e eu só me lembrava de você, e tudo o que eu queria era um abraço, de tão angustiado que eu estava. Sem falar que nos últimos tempos ela tentou suicidar-se cinco vezes, e também que ela me faz frequentes propostas de separação”. Aí, eu o indaguei sobre as razões para essas propostas de separação, mencionando a ele algumas possíveis razões. Eu disse que podia ser porque ela viveu uma vida em estado de

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Mas o que é aquilo, senão um mecanismo de compensação? Não do tipo do dos fariseus, mas é de um outro tipo. O dos fariseus é o da justiça própria, que quer compensações: eu faço tantos sacrifícios, então eu tenho que ter alguns lugares, nem que seja dentro de mim, reservados para uma gandaia só minha. No caso dela é o sofrimento: todas as coisas cooperam conjuntamente contra mim, conspiram contra a minha existência; eu nasci debaixo de um carma desgraçado e eu preciso ter alguma forma de compensação nesta vida. E essa necessidade de compensação é tão grande, que gera uma insatisfação para a qual marido não é a solução, filho não é a solução. Muitas vezes nem Deus é a solução, quando a pessoa não se abre para relacionar-se com Deus mesmo, e fica apenas na perspectiva daquela crença; que para algumas pessoas já serve de ilusão psicológica para irem continuando vivendo, sem que seja, de fato, vínculo com Deus, mas seja apenas uma referência psicológica animadora. Mas para uma pessoa com esse grau e com essa gravidade de necessidade de compensação, ou ela encontra Deus de verdade ou nada a preencherá. E a viagem que ela fez ainda foi essa, mas podia ter sido outra. Esse mesmo histórico poderia ter produzido nela uma vontade enorme de promiscuidade, de ter tantos homens quantos ela conseguisse. Ou poderia ter gerado nela um espírito vingativo, hostil contra a vida, contra as pessoas. Poderia ter produzido nela, dependendo da personalidade, até um espírito despótico de liderança, de quem diz: nunca mais passarei por isto, e quem quer que esteja sob o meu domínio vai ver com quantos paus se faz uma cangalha, vai ver o que o indivíduo precisa se esforçar pra chegar onde eu cheguei, tá pensando

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rejeição e de escravatura por tantos anos, que talvez ela sofresse de uma claustrofobia conjugal, que a conjugalidade fosse para ela uma escravidão, fosse uma senzala, fosse uma cela, fosse um aprisionamento, e que a alma dela não soubesse nem explicar por que não suportava. E a outra hipótese que eu levantei, a mais provável, foi aquela que eu vejo todo tempo: há pessoas que são tão infelizes, que se amam tão pouco, que se amam tão nada, que, por essa falta de amor que têm por si próprias, muitas vezes preferem se evadir, desaparecer, para que não façam sofrer as pessoas por quem elas têm um sentimento que chamam de amor, para que aqueles que com elas se importam não assistam o caminho de degradação delas. E eu perguntei a ele qual era a situação que ela alegava. E a resposta dele foi que ela dizia que não aguentava o fato de que dentro dela havia essa carência imensa, essa vontade enorme de ser preenchida, um vazio imenso, e ele não era alguém que podia preencher o vazio dela; ninguém era, nem os filhos, nem coisa alguma, de modo que ela queria morrer. E eu disse a ele: Ela quer, mas nem tanto; pois ninguém tenta o suicídio sete vezes sem se matar. Quando alguém quer mesmo morrer, consegue facilmente. Se tiver com vontade, tem muitos modos garantidos de fazê-lo. Mas quem tenta se matar sete vezes não está a fim de se matar; está pedindo socorro, pedindo ajuda, está querendo que um ente divino apareça em sua vida. E no caso dela era o marido. Ela desejava que ele se tornasse divino para preencher todos os escaninhos da vaziez dela. E muitas outras coisas eu disse a ele, para que ele a convidasse a me ouvir nos horários de reprise do programa e tentasse aproveitar o que eu estava dizendo.


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Em outras ocasiões nós vemos pessoas que tiveram origens muito simples, muito pobres, e que ficam tomadas do oposto. É uma vaidade intelectual, ou uma cobiça do ponto de vista material, ou um desejo de compensarem a existência tão anônima, tão sem nome, por alguma coisa que lhes catapulte para a fama, para o reconhecimento; e que é a grande pulsão da vida daquela pessoa, ela nem sabe, nem percebe por que. Ou às vezes nós encontramos um contador que, em vez de ser apenas um contador que contabiliza coisas para os outros, que tem um escritório arrumadinho, que paga os impostos, que diz para as pessoas o que elas não devem ficar devendo, nós o assistimos se tornar um “contachato” familiar, relacional, levando aquele negócio para todos os outros níveis da vida dele. E não raramente eu também já vi contadores que foram tão completamente meticulosos no que faziam, que um dia, depois de vinte anos de profissão, surtaram, e alguém me disse: sabe o Fulano, contador? Tá roubando, que você não faz ideia! É que o indivíduo diz: depois de vinte anos de tostões, chegou a minha hora de não ter pena de ninguém, e aquilo em que vacilarem e não virem, eu verei. São mecanismos compensatórios, para todos os lados. É também como aquele pai, aquela mãe, que dizem: “eu jurei pra mim mesmo que os meus filhos não passariam pelo que eu passei! Eu passei necessidade, passei fome, passei privação, eu ia pra a escola andando dez quilômetros a pé”. E essa pessoa está bem, por aí, com as pernas bonitas, grossas, sarada; mas está dizendo: “prometi que os meus filhos não vão ter que apagar o mesmo papel com borracha, pra fazer o dever em cima, outra vez!”. Aí

ele compra livro, caderno e mais caderno, o menino não pode ir nem ali na esquina, de patinete, que já está fazendo muito esforço: deixa que eu te levo, meu filho, você não vai passar o que eu passei. Aí fica aquele menino de perna esquálida, aquela coisa frouxa. Porque ele prometeu para si mesmo que o filho não ia passar o que ele passou; e aí, cria uma lombriga humana, sem espinhela, sem resistência para nada. E nós podemos multiplicar as situações: Por que, em geral, mulheres que não são bonitas segundo o padrão da sociedade, que é um padrão relativo (quando eu nasci, mulher sem um pouquinho de celulite não estava com nada; tinha que ter quadril, cintura fininha, seios grandes, uma boca mais para o carnudo; era o padrão Marilyn Monroe, que não passaria nos padrões de hoje, de jeito nenhum. Essas meninas anoréxicas de agora, essas bulêmicas de hoje, naquele tempo eram desprezadas. Porque tinha que ter massa! Então, é um conceito extremamente relativo), por que essas mulheres que se consideram feias pela relatividade do conceito estético da sua geração, em geral são elas que se tornam mais dadas? Elas são “dadas”, são muito “dadivosas”, a gente nunca as vê desacompanhadas, estão sempre engatando de um no outro. É compensação: “já que ninguém diz que eu sou uma maravilha, eu vou me tornar aquela que maravilha todo mundo, eu vou partir para as cabeças, vai ser fácil me ter. E ninguém precisa saber as razões por que eu esteja acompanhada; as pessoas podem só olhar de longe e dizer: eu não entendo essa menina, porque ela nem é essas coisas, mas nunca está sozinha!”. E ela vai fazendo suas compensações. Por que rapazes que não são tão belos, do ponto de vista estético (conforme a

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que eu cheguei aqui á toa?! E são mecanismos que vão se estabelecendo.


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Esses mecanismos estão presentes em todas as coisas, o tempo todo, olhe para dentro da sua vida e veja. Esqueça os fariseus, pelos quais eu comecei, e agora olhe para a sua vida. Mas antes de olhar para sua própria vida tome mais um exemplo, a fim de verificar quais são os mecanismos compensatórios operantes em você e as desculpas que você tem para si mesmo, para si mesma. Para que você acabe com esse mundo de desculpas, de autoenganos e de tapeações, que afastam você da verdade de Deus para você, do conhecimento de Deus em você, da sua verdade diante de Deus quanto a ser verificado o que você chama de verdade e não passa de mecanismo psicológico de afirmação que você nunca teve a coragem de constatar, nem de enxergar, nem de perceber. Em outras palavras: Por que você é como você é? Por que a sua vida ganha tantos

dogmas de afirmação, que você não tem coragem de abrir e se perguntar: “por que eu ajo desse modo?” e você prefere dizer: “não, isso é um traço da minha personalidade, que eu não consigo mudar, não estou a fim de mudar, não sei se devo mudar, já estou velho demais para mudar; eu sou assim mesmo, os outros que se adaptem à minha existência”. E é também por essa razão que você nunca se converte, é também por essa razão que você nunca melhora, é também por essa razão que certas coisas se tornam vícios de comportamento, vícios mentais, vícios de atitude que você não transforma jamais; e vai caminhando para morrer carregando aqueles traços para os quais você tenta o tempo todo arranjar desculpas validadoras. Mas quem está de fora – e às vezes só não lhe diz isso por carinho por você, porque não tem coragem de confrontar você, ou porque sabe que você não tem a coragem de encarar os fatos – às vezes assiste entristecido, por ver o potencial que vai sendo destruído por causa de mecanismos compensatórios: de justiça própria, de autovitimização, ou de outros fatores como esses que eu elenquei há pouco, ou por causa de realidades que você julgue que teve de sobra na vida e que agora, de algum modo, você desenvolveu um mecanismo que lhe diz que o resto de sua existência são umas férias daquele tipo de coisa que no passado você teve como overdose; e esse mecanismo joga você para o outro polo, para o outro extremo. É exatamente igual àqueles que ficaram na religião durante anos sendo explorados, em igrejas de exploração. O indivíduo tinha que ir para a reunião de segunda, de terça, de quarta, de quinta, de sexta, de sábado, de domingo de manhã, de domingo à noite; se não fosse, ia para o inferno, perdia o status espiritual, tinha menos assistência

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relatividade do conceito estético generacional), tendem a ser mais agressivos, mais matadores, mais intensos? Leis da compensação. Por que mulheres extremamente belas – não é uma lei absoluta, mas na maioria das vezes acontece – em geral não se preocupam com o esforço acadêmico? Elas olham no espelho e dizem assim: “eu estou diplomada, eu já nasci formada!”. Mas aquela que se olha no espelho e diz: “bom, eu vou precisar de umas dez plásticas, eu tenho mais é que estudar e me virar. Além do que, eu tenho de ser reconhecida, se não for por uma coisa, será por outra”. Aí, bota pra estudar! Por que filho de gente rica em geral é fraca? Por causa de um mecanismo de compensação: já está tudo garantido. Os herdeiros são frágeis; a sina dos herdeiros é falirem o que os pais fizeram – com suas exceções.


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muitos de vocês estavam, até não muito tempo atrás. Assim como entre nós há alguns que estão saindo dessa areia movediça agora. E ali na VVTV, assistindo no mundo inteiro, tem uma quantidade enorme de pessoas que estiveram, algumas ainda estão, e outras estão saindo, mas vivendo processos extremamente semelhantes. Um outro exemplo desses mecanismos de compensação nós vemos decorrer também da culpa. Vocês se lembram de que Pedro negou Jesus três vezes. Jesus disse: Olha, Pedro, hoje, antes que o galo cante, tu me negarás três vezes. Aí, lá na casa de Caifás, naquele pátio, Pedro botou o galho dentro três vezes. Na primeira, chegou uma empregada doméstica e disse: esse cara é um deles. E ele respondeu: eu não sou, você me confundiu com alguém no mercado; para com isso, mulher! Depois vem outro e diz: esse aqui é um deles! E Pedro retruca: eu já disse que não sou, e estou na iminência de perder a paciência, eu não sou! Aí vem um terceiro, dizendo: esse aqui é um deles, até o modo de falar é galileu, eu o vi com ele (com Jesus) por aí. E o texto diz que Pedro saiu falando impropérios, insultos contra eles. É uma maneira branda de dizer que ele mandou todo mundo para aqueles lugares de partos indesejáveis, da zona do meretrício. Aí Jesus saiu, olhou para ele, e quando fitou-o nos olhos, Pedro chorou amargamente. Então foi uma noite horrenda de tristeza, o dia seguinte foi horroroso, porque ele também não compareceu à crucificação, ficou de longe, sabe Deus onde ele estava. Depois vem aquele sábado agonizante, de inferno na alma, de depressão. E domingo de manhã acontece a ressurreição. Jesus aparece a ele, aparece

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angelical. Se não desse o dízimo, estava devendo à receita federal celestial e o leão de judá ia virar o leão do inferno, na vida da pessoa, acompanhado, ainda, do gafanhoto migrador. Eram todos os bichos do inferno em cima dele. E ele ali, filho de apóstolo, de paipóstolo, de episcopisa, de bispo. E, aí, ele primeiro se decepciona com a canalhice. Quando a canalhice já está insofismável, incontestável, então ele lê o meu site. E diz: “ah, bem que eu sempre achei que era isso!” (mentira, eu o conheci atolado lá, na areia movediça, com raiva até de mim. Mas ele está perdoado, em nome de Jesus; e vamos fazer de conta que ele sempre achou que era isso). Aí ele me escreve: “Caio, obrigado, agora estou livre!”. Mas eu fico com vontade de perguntar: livre de quê? Pois agora ele é o religioso antirreligioso, sendo religiosamente antirreligioso, na antirreligiosidade dele. Aí ele chega e tem vontade de dar um bico no gazofilácio: “porcaria, desgraçado, me enganou, quanto dinheiro que eu botei ali para aquele pastor comprar jatinho, helicóptero! Nunca mais ponho nada em ti, gazofilácio!”. Mas ele não tem coragem de dizer que é um idiota, ele fica com raiva é do gazofilácio. Aí ele vira esse ateu de relações afetivas, de generosidade, de dadivosidade. Fica cínico, não se importa mais com nada porque um dia ele se importou até a morte, como membro de seita, entregando a alma para os controladores do seu ser; e agora ele diz: “ninguém mais me controla!”. Até a você, que ele diz que ama, ele ama com vontade de solapar, de provar, de vez em quando, para você, para ele mesmo e para o mundo, que se ele quiser ele fala mal de você. Ele diz que não concorda com você, sem entender nem por que, mas ele precisa dizer. É um fanático, fazendo uma viagem idêntica, só que no outro polo. Assim como


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fazer tudo sem a ajuda de ninguém: irmãos, tirem férias, eu cubro, eu cubro! Vocês conhecem esse mecanismo. Quando a pessoa quer, por obras, fazer com que o seu déficit diante de Deus seja compensado e ela entra nessa de missionariozinho, de mecanismos diversos de compensação voluntária. O indivíduo é capaz de deixar a mulher, deixar os filhos, deixar pai, deixar mãe, deixar gente na UTI, mas “eu vou fazer um trabalho chamado explicitamente divino, em algum lugar! Porque eu estou devendo demais”. Agora, por favor, olhe para dentro do seu coração. Eu não peço outra coisa, senão que você faça um exercício sincero para ver o que, como compensação, tem desvirtuado seu caminho, seu existir. Se você for honesto, honesta, sincero, sincera, e fizer uma viagem para dentro com coragem, dizendo: ó Deus, sonda-me, conhece-me, prova-me, vê se há em mim algum caminho de compensação, de tortuosidade, de autoengano; e se houver, guia-me pelo caminho da eternidade, da saúde, do equilíbrio, da moderação. Se você fizer isso, isso poderá jogar você num ambiente espiritual de saúde diante de Deus, e acabar com uma quantidade enorme de pulsões, de impulsos, de aflições, de necessidades, de buscas, de sofreguidões, de frenesis, que só vão atabalhoando cada vez mais a sua vida, adiando para sempre os processos da simplicidade, da verdade, da sanidade, da pacificação, da quietude na sua alma. Porque você nunca se enxerga e está sempre emulado, impulsionado, conduzido por mecanismos que você não compreende e que vão fazendo a sua vida cada vez mais incompreensível para você mesmo e para todo mundo mais.

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aos onze. Dá instruções através de um anjo: dizei aos meus discípulos e a Pedro que se dirijam à Galielia, lá eles me verão. Então eles viajam de Jerusalém para a Galileia. Estavam lá, às margens do mar da Galileia, do lago de Tiberíades, arranjaram um barco (eles eram de lá, não lhes faltavam alternativas de barco para pescar)e resolveram passar a uma noite pescando – Pedro e mais seis. E aí jogam a rede pra lá, jogam a rede pra cá, uma noite inteira, e ninguém pega nada. Quando foi pela madrugadinha, o sol começando a nascer atrás dos montes da Galileia, eles olharam para a praia e viram aquela silhueta, que falava com eles: Ei, filhos! Tendes aí alguma coisa que comer? E eles responderam: Não! E a silhueta respondeu: Lancem a rede à direita do barco, que vocês acharão! Eles jogaram a rede, como foi dito. Quando puxaram, a rede brigava com eles, de tanto peixe dentro. E eles foram se aproximando da margem, remando, mas João disse a Pedro: É o Senhor! Pedro, quando ouviu dizer que era o Senhor, estava nu, pelado, pelado . Naquele tempo ninguém usava sunga; ou o indivíduo estava com aquele roupão, ou sem nada. Aí ele pula n’água e vai nadando. Quando chega lá e vai saindo da água, tem ali um braseiro com alguns peixes já assados, Jesus está ali, acocorado, quietinho, e diz a ele: Trazei-me alguns dos peixes que acabastes de apanhar. Aí Pedro se ergue. Estavam mais seis amigos com ele, e a rede cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes, mas Pedro disse: afastem-se. Foi lá sozinho, agarrou aquela rede pesadíssima (cento e cinquenta e três grandes peixes pesam! Era Tilápia do mar da Galileia, cada parruda!). E lá vem Pedro: pode deixar que eu seguro a onda, Senhor, a rede é minha, eu peguei, eu trago. Compensação. Muita culpa. Agora o indivíduo quer fazer a missão sozinho, quer


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A segunda coisa é tendo a coragem, no Senhor, de, em identificando essas coisas, ter a disposição de dizer: eu não viverei mais para atender a essas demandas, ainda que tal implique em uma reinvenção absoluta da minha vida. Essa compreensão vai significar uma regeneração para você. Você vai ser re-gene-rado; literalmente, vai nascer de novo. Vai começar uma outra vida, não mais sob o engano, não com o véu da ilusão, nessas áreas. E nós precisamos nascer de novo em diversas áreas da nossa vida, todo dia, a vida inteira; sem nos conformarmos com quem somos, mas, ao contrário, transformarmo-nos pela renovação da nossa mente. A renovação da mente implica a compreensão desses mecanismos e a abolição dessas acomodações paralisantes na nossa vida. A terceira coisa é você entender que “todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus”. Sem autovitimização, sem ficar com nenhuma pena de você, nem com autojustificação de natureza alguma, dizendo: ah, meu Deus, se eu tivesse tido outro pai, outra mãe, ah, quem me dera ter tido outra educação. Ou, como eu ouço pessoas dizendo: ah, Caio, se eu tivesse te conhecido há trinta anos e ouvido essas coisas naquele tempo, minha vida teria sido tão diferente! Sabe lá, meu irmão! Tanta gente que está ouvindo isso há tanto tempo e entra por um ouvido e sai pelo outro. Mas você está ouvindo hoje, então não evoque nem sua ignorância passada como uma dor remidora da sua vida. Deus só trata com a gente no dia chamado Hoje; e diz: “Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração”. Então, hoje é o dia. Faça abolição de todos os mecanismos de autojustificação e de desculpa e diga com fé: Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus. Diga isso com fé, com convicção,

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E como é que quebramos isso em nós? Em primeiro lugar, é tendo a coragem de fazer a viagem, identificando processo a processo, não se dando como um ser acabado (eu não conheço um único ser humano acabado, neste auditório. Todo mundo está incompleto, com milhares de coisas a serem tratadas e resolvidas). Não se dando por acabado, não se satisfazendo com quem você seja, tendo a coragem de verificar que existem mecanismos operando em você como formas de compensação, que você não quis encarar nem enxergar, e que estragam a sua vida, que deformam você, que petrificam você como um fariseu; ou que colocam você no caminho do serviço culposo, do bondadismo adoecido, como Pedro fazendo compensações pelos seus erros; ou colocam você num mecanismo de autopurificação e santidade que só esburacam no seu coração sensualidades maiores e mais profundas; ou colocam você na necessidade de socialmente se tornar uma pessoa que contradiga aquilo que o seu estereótipo atual designa para você para ser, e você, para contrariar isso, se destrói numa guerra suicida contra padrões idiotas. E milhares de outras coisas que não tenho tempo aqui para aventar, mas eu imploro a você que tenha a coragem de encarar. Nós quebramos isso com essa determinação de encarar, de olhar para o coração, de verdade. Nós conhecemos a verdade e a verdade nos liberta, mesmo, em todos os níveis da vida. Não é verdade doutrinária, não; é verdade sobre quem nós somos diante de Deus, diante da vida, diante do próximo: o que é verdade em nós, o que é fantasia em nós, o que é compensação em nós, que mecanismos são esses que nós chamamos de “eu” e não têm nada a ver com o que Deus nos criou para ser.


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não como uma declaração que já se transformou num chavão que nós pronunciamos sem abraçar as consequências nem as implicações. Noventa e nove por cento das pessoas que eu ouço pronunciando isso o fazem sem compromisso com a consciência nem com as implicações do que pronunciam. Para nós vencermos isso tudo é preciso que essa afirmação seja algo a tornar-se absolutamente verdadeiro, visceralmente verdadeiro no nosso coração – acaba com toda autojustificação, com toda autovitimização, com toda autocomiseração, com toda culpa, com tudo. Em Cristo tudo está consumado e, portanto, todas as coisas cooperam. Até a mãe que quis envenenar a menina na barriga, que entregou-a ao estupro, abandonou-a no coma, vendeu-a para terceiros; até os aparentes carmas da vida desgraçada dela, conforme contei aqui. Todas as coisas. “Todas as coisas” significa, mesmo, todas as coisas.

coisas... Pense no seu pai, na sua mãe e diga: Todas as coisas... Pense na sua criação e diga: Todas as coisas... Pense nos reveses da sua vida e diga: Todas as coisas.... Pense nas suas burrices e diga: Todas as coisas... Pense nas misericórdias de Deus e diga: Todas as coisas... Pense nas vezes em que você foi enganado e diga: Todas as coisas... Pense em tudo que em você precisa mudar e você ainda não mudou, e compare isso com a oportunidade do dia de hoje na palavra de hoje, e diga: Todas as coisas... Todas as coisas cooperam conjuntamente para o bem daqueles que amam a Deus. E no amor de Deus não há culpa. No amor de Deus não há medo; porque o amor de Deus lança fora todo medo. No amor de Deus não há autovitimização; porque os alcançados pelo amor de Deus foram alcançados pela salvação. No amor de Deus não existem leis de compensação; porque no amor de Deus, Cristo é a minha compensação. Está consumado. Está pago. Está acabado. Em nome de Jesus. Amém.

Pense na sua vida e diga: Todas as coisas... Pense na sua vida toda e diga: Todas as

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Mensagem ministrada em 18/03/2012 Estação do Caminho - DF

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