Festas universitárias Por Bárbara Schmidt
O setor que ainda não conhece a crise econômica Enquanto vários setores do país tentam driblar a crise econômica, o segmento das festas universitárias parece não ter sido afetado pela situação. Os eventos realizados em Juiz de Fora vêm crescendo desde o início dos anos 2000, quando algumas empresas começaram a ganhar fôlego na cidade.
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Foto: Divulgação Carnadministrando 2010
Marcelo Gonçalves, diretor administrativo da Viva Eventos, foi um dos precursores das festas universitárias em Juiz de Fora. Em 2003, o então estudante de administração se juntou a mais quatro amigos, dois do direito e dois da odontologia, para fazer uma festa, unindo alunos desses três cursos. Tentando chamar a atenção dos estudantes, idealizaram um nome criativo e cômico que envolvesse as graduações em questão: “Administrando a Boca Direitinho”. Marcelo comenta: “As poucas festas universitárias que existiam no mercado eram pouco estruturadas e pequenas, reunindo cerca de 250 pessoas. Nosso objetivo, desde o início, era fazer algo novo e que chamasse público. Nesse primeiro momento, fizemos algo que nunca havia sido feito por aqui: uma festa que os convidados teriam bebida liberada do início ao fim, com tendas, DJs e estruturas de luz e palco diferenciadas.” Logo na primeira vez que se arriscaram, os jovens empreendedores conseguiram reunir 700 convidados, recorde de público universitário naquela época, e inúmeros pedidos por uma segunda edição. No semestre seguinte, tentaram a sorte novamente, e, dessa vez, receberam 1.350 convidados. “A partir desse momento, a gente foi só quebrando recordes de público. A cada semestre dobrava, até chegarmos a seis mil pessoas, quando já não conseguíamos mais fazer a festa em granjas e tivemos que levála para o Exposhop.” Os estudantes pediam patrocínios para os pais dos amigos que eram empresários para começar a estruturar o evento, e, posteriormente, a própria venda de ingressos custeava o valor final orçado. O diretor administrativo conta que eles
Carnadministrando: o evento era considerado a maior micareta universitária do país
guardavam quase toda a porcentagem do lucro para investirem nas próximas festas, pois não tinham renda própria e ainda eram sustentados pelos pais. Depois de algumas edições, os cinco universitários perceberam que o sucesso era contínuo e que poderiam “desdobrar” o evento em algo maior e tiveram a ideia de fazer a versão micareta do “Administrando a Boca Direitinho”, chamada “Carnadministrando”, que perdurou por dez anos consecutivos. Marcelo destaca que houve muitas mudanças nesse setor nos últimos 14 anos, principalmente na parte burocrática. “Hoje é tudo muito mais difícil. Você precisa de uma centena de autorizações: Corpo de Bombeiros, Polícia Federal, Prefeitura, trânsito, Polícia Militar. Antigamente não existiam tantas exigências. Em termos de festa, hoje em dia todas praticamente trazem atrações de peso, pelo menos um cantor famoso nacionalmente. Naquela época eram apenas atrações locais, regionais ou, no máximo, alguma do Rio de Janeiro; hoje o foco
principal é qual MC famoso vai vir.” O empresário também comentou que antes as festas eram exclusivamente universitárias, enquanto hoje apenas metade do público é destes estudantes e que há exigências de maior sofisticação. Sem revelar valores fixos de festas, Marcelo diz que tudo depende do tamanho das atrações, entre outras questões. O empresário ressalta, por exemplo, que em uma festa que tenha como atração a cantora Anitta, seria preciso arcar com o custo de seu show, que hoje está em torno de R$120 mil, enquanto um DJ local, como o Zulu, terá um custo de R$ 2.500. “Os resultados financeiros sempre foram e continuam sendo muito positivos, por enquanto a crise econômica não afetou e esperamos que continue assim. Sempre tentamos inovar para continuar mantendo os jovens mais festeiros interessados em participar dos nossos eventos e tentando despertar o interesse dos que ainda não têm tanta familiaridade com essa área – o que é raro hoje em dia entre os universitários.”
O lazer que virou negócio Hoje, pouco mais de dez anos depois de seu primeiro evento, os cinco jovens, que começaram sem muitas pretensões, continuam atuando no ramo das festas universitárias - além das formaturas. Como diretores da Viva Eventos eles controlam, além de duas unidades em Juiz de Fora, outras nove franqueadas pelo país. 21
Foto: Wanderson Monteiro
Hoje, um dos diferenciais mais requisitados nas festas são os brindes personalizados Foto: Wanderson Monteiro
No ano passado, a festa “Anatomando” reuniu cerca de 1.500 jovens universitários Foto: Bárbara Schmidt
O último evento universitário realizado pela empresa Phormar foi a denominada “Entra São, Cai & Pira”, festa com temática junina que ocorreu no último sábado
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Nathalia Queiroz é uma das administradoras da Phormar, empresa de formaturas e eventos de Juiz de Fora que já atua no mercado há 20 anos. Ela já produz festas universitárias há dez anos e comentou que a cada vez é “um turbilhão de sensações: ansiedade para ver tudo dar certo, expectativa de que o evento encha e dê lucro e, no fim, a emoção por tudo ter ocorrido conforme planejado”. Nathalia comenta que a média de custo de uma festa universitária bem estruturada é de R$ 120 mil, enquanto a porcentagem de lucros varia bastante. “Já tivemos festa que gerou lucro de R$ 16 mil, outras que geraram R$ 50 mil. E, claro, que já houve festas que não geraram lucro nenhum.” Segundo a administradora, todas as chopadas e calouradas que a Phormar promove partem de ideias vindas das próprias turmas universitárias, que se reúnem na empresa para discutir expectativas e sugestões para a festa. Com as ideias na mesa, Nathalia gera um orçamento e aí fica sob a responsabilidade dos alunos arrecadarem de alguma forma, principalmente com a venda de ingressos, o valor para cobrir posteriormente os custos. Por isso, ela afirma que todo o lucro obtido vai diretamente para eles. “Nós não cobramos deles a organização do evento, por já pagarem para a empresa um valor que inclui nossos serviços.” Uma das festas universitárias mais populares promovidas pela Phormar é o “Anatomando”, realizada pelos calouros da Faculdade de Medicina da UFJF. O evento inicialmente ocorria na granja da empresa e era planejado apenas para comportar os calouros e seus acompanhantes, tendo algumas bebidas liberadas. Hoje, além de já ser tradição entre os jovens e receber, em média, dois mil convidados, a festa conta com diferentes tipos de cantinhos temáticos, contendo diversas e refinadas comidas e bebidas; prova de que esse segmento está sempre em alta e se sofisticando. Sobre a atual crise econômica que o país enfrenta, a empreendedora Nathalia Queiroz defende que o setor de festas universitárias não é afetado. “Toda vez que fazemos dá certo, até porque são festas que o pessoal gosta muito, pela bebida liberada, por já estar tudo incluído no preço do ingresso. Porém há épocas em que acontecem mais festas, principalmente quando algum evento universitário faz muito sucesso. A partir daí, outras turmas animam fazer em seguida. Em outras épocas, acontecem menos, às vezes, por estarem tendo muitos shows na cidade, por exemplo. Mas é um setor que não entra em crise realmente.” .
Foto: Brenda Marques
Um dos mais populares da atualidade, o DJ carioca Yago Gomes foi uma das atrações que agitou o público jovem da “Perdição 2000”
Análise profissional
Já na opinião do analista do Sebrae Minas, Paulo Veríssimo, é perceptível que esse mercado “não para” e está sempre em alta, porém, também é necessário analisar se os custos são os mesmos de anos atrás ou se aumentaram consideravelmente. “Por mais que a gente veja sempre um movimento grande nesses eventos, talvez a margem de lucro que os organizadores tinham no passado não seja mais tão elevada nos dias atuais, dado a inflação, dado que o poder de compra das pessoas diminuiu... Então é preciso analisar isso também, não é porque uma festa está super cheia que o ponto de equilíbrio de gastos dela foi atingido.” Paulo afirma, porém, que é um mercado crescente que conta com uma procura e um acesso muito grandes. Paulo ainda comentou algumas orientações para aqueles que têm vontade de se aventurar nesse setor. “É preciso primeiramente fazer um estudo de mercado: pesquisar quem são seus clientes, qual o potencial de crescimento desse mercado, levando em consideração seus concorrentes e seus fornecedores.” O analista destaca que esse possível empreendedor também deve ficar atento à questão operacional da
realização da festa, pois a realização de eventos exige preparação e planejamento prévios, contando com uma equipe bem estruturada, para se reduzir a chance de imprevistos impertinentes durante a realização do evento em si; além de ter atenção com a desmontagem. Ainda orientando o empreendedor em potencial, Paulo ressaltou que é imprescindível ficar atento à legislação envolvida: “Pegar os alvarás necessários, dentro do prazo correto, verificar os códigos de postura do município, entre outros.” Quanto à questão financeira, o analista do Sebrae Minas comenta que a “matemática” é básica: analisar seu ponto de equilíbrio, o custo estimado para a realização e o potencial de receita estimado. Com estas informações é possível calcular inclusive a possível taxa de lucro e então averiguar se é válido ou não executar o evento.
Opúblico universitário A estudante de jornalismo, Lina Castro de Almeida, 21 anos, é frequentadora assídua das chopadas, calouradas e eventos universitários de Juiz de Fora. Ela também acredita que o setor é inabalável. “Sempre vão ter jovens saindo do Ensino Médio, doidos para começar suas ‘temporadas’ nessas festas, para descobrirem esse
lado da diversão que a maioridade proporciona. Não só eles, como pessoas mais velhas que continuam interessadas em curtir atrações nacionais bacanas.” A estudante de medicina, Tainara Rezende, 20, há dois meses teve a oportunidade de concretizar o sonho de ser uma das “responsáveis” por uma das maiores festas universitárias da cidade. Com 3.700 pessoas lotando o Terrazzo, a festa denominada “Perdição 2000” foi idealizada pela turma de Tainara, além de seus calouros da medicina da Suprema, uma turma de odontologia da UFJF e uma turma de direito do Instituto Vianna Júnior, que contaram com o apoio da Viva Eventos. Os estudantes optaram por contratar apenas atrações que estão em alta e por colocar bebidas e pizzas liberadas ao público, o que resultou em um orçamento final de R$ 145 mil. A realização foi um sucesso, tendo repercutido nas cidades da região, reunindo um dos maiores públicos de festa universitária da cidade. Não somente os estudantes conseguiram abater o preço de custo com as vendas de ingressos, como o lucro final bateu o recorde da empresa, gerando R$ 91 mil para serem distribuídos para o fundo de formatura das quatro turmas participantes. 23
Tentando a sorte
mas o lucro principal era nossa satisfação.” Os organizadores Alguns estudantes tentam a estudam a retomada da festa para sorte de fazer festas universitárias este ano. mesmo sem o respaldo de uma Na Faculdade de Comunicação empresa de eventos. É o caso de da UFJF, é possível encontrar Felipe Lechitz, 24, estudante de um grupo de alunos que faz, há engenharia elétrica, que já fez três anos, uma festa universitária edições da nomeada “GuelaBaxo”. independente. A chamada Em 2010, quando começou, a “Choppadawh”, realizada ideia de Felipe era reunir 40 de pelos membros do Diretório seus amigos do segundo ano do Acadêmico Wladmir Herzog, colégio Apogeu em um churrasco. acontecia inicialmente nos Porém, antes mesmo de tirar tudo próprios corredores da faculdade, do papel, a “festinha” já estava facilitando a organização e repercutindo em outros colégios, possibilitando que a festa ocorresse alcançando 380 interessados em toda primeira quinta-feira do mês. comprar ingresso. O estudante Hoje, com novas normas em vigor convocou mais quatro amigos na universidade, eles optaram por para o auxiliarem a montar um realizar a chopada fora do campus, nome e a estrutura o que tornou o necessária. processo mais No ano seguinte, Fazíamos uma trabalhoso e por com a proporção isso o evento está inesperada e divulgação muito ocorrendo apenas o sucesso do no máximo três intensa, o que primeiro evento, vezes por ano, gerava interesse reunindo uma Felipe e seus amigos decidiram do público e venda média de 250 apostar em outras pessoas. duas edições de ingressos, o que O estudante de da chopada de fato pagava Jornalismo, Vitor “ G u e l a B a x o ”, Gabriel, um dos que reuniram, todo o evento.” responsáveis pela respectivamente, Felipe Lechitz próxima edição 630 e 760 do “Choppadawh”, convidados. Isso tudo com os comenta que os lucros vão para organizadores tendo apenas entre o D.A., mas que não há muito 16 e 18 anos. “Nunca investimos retorno financeiro. Ele explica: um real do nosso bolso na festa. “antes, quando era nos corredores, Porém, fazíamos uma divulgação a gente conseguia vender cerveja muito intensa, o que gerava consignada, e não tínhamos gastos interesse do público e venda de com o local, então gerava um valor ingressos, que de fato pagava todo bacana no final das contas. Hoje, o evento. Com isso, tínhamos infelizmente temos que arcar com inicialmente uma média de R$ esse gasto do espaço, passamos a 6.500 para montar a festa. Na ter que contratar atrações e tornar segunda edição, chegamos a R$ 14 o evento “open bar”, para chamar mil e, na última, R$ 23 mil. O lucro, claro, ficava para nós. Sempre público. Então, não tem muito dividido na mesma proporção retorno mesmo, só a consciência entre os sócios. Era, em média, de ter feito algo bacana para a uns R$ 900 só, não era muita coisa, galera.”
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