JORNAL DE
ESTUD
MAIO | 2016
Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação da UFJF | Juiz de Fora, Maio de 2016 | Ano 51 | Nº 248
Foto: Bárbara Mendonça/Divulgação
Grupos de estudantes da UFJF lutam por causas sociais
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entrevista
esporte
economia
P. 4-5
especial Arte: Pedro Henrique Rezende
Foto: Tales Rodrigues Faria
Foto: Divulgação/Agricultura.gov
Foto: UFJF/Alexandre Dornelas
Falta de Recursos
Agricultura Familiar
Futebol Americano
Zine
Pró-reitor de Planejamento e Finanças da UFJF conta em entrevista dificuldades que os Campi vêm passando
Mesmo sendo a maior parte da produção agrícola brasileira, o setor ainda encontra dificuldades de desenvolvimento
Juiz de Fora tem sua primeira equipe do esporte a participar da Liga Fluminense
Tem 10 minutinhos? Confira o especial do Zine 10’ para esta edição do JE
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opinião
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JE
Editorial
A
pós árdua e cansativa rotina na disciplina de Técnica de Produção em Jornalismo Impresso, chegamos a nossa última publicação: o Jornal de Estudo, um patrimônio da Faculdade de Comunicação da UFJF. Nesta edição, os estudantes de jornalismo dos cursos integral e noturno se juntam, trazendo resultados de suas apurações. Antenado com as pautas sociais, o JE traz nessa edição reportagem que aborda coletivos da Universidade e o Feminismo. A reportagem “O(s)
coletivo(s) de Universidade” explica a situação do movimento estudantil no campus Juiz de Fora, que desde a comprovada fraude nas últimas eleições do Diretório Central dos Estudantes (DCE), ainda usa de representação provisória. Além desta, a reportagem “As várias faces da violência contra a mulher” mostra, com dados, o grande índice desse tipo de violência, que persiste ainda nos dias de hoje. Em época em que grande parte da sociedade debate a “cultura do estupro” e também o direito
ao corpo. O tema é importante e muito sério. Fica o convite para a reflexão. Entre os assuntos abordados, “A esperança de vencer uma doença sem cura” explica o que é a Distrofia Muscular de Duchenne, relatando a batalha pela vida de dois jovens da região que possuem a doença. Investigamos também a situação atual da educação municipal, que desde o início deste ano enfrenta paralisações advindas das más condições de trabalho. Em um outro cenário, mos-
tramos o futebol “amador” da cidade, na Copa Bahamas, em que jogadores chegam a receber até R$ 450 por jogo para defender as equipes. E não para por aí. O nosso especial é em formato de Zine, uma busca por outros formatos jornalísticos, igualmente legítimos. Apresentamos uma entrevista exclusiva com o ex-jogador de vôlei Giovane Gávio. Na seção de econômica destacamos os food trucks, e a possibilidade de regulamentação em Juiz de Fora. Um economista também analisa o impacto econô-
mico no governo provisório de Michel Temer (PMDB). O cenário político também é debatido pelos deputados federais que representam nossa região. E muito mais! Agradecemos, por meio deste editorial, aos professores que nos orientaram e que tanto foram importantes para o crescimento em nossa longa caminhada jornalística. Às equipes, indispensáveis para que tudo ficasse pronto a tempo. Obrigado a você, caro leitor, que dedica tempo a leitura deste Jornal. Boa leitura!
formando uma comunidade com a qual se identificavam. Com o fim do nomadismo, cada indivíduo poderia experimentar a sensação de pertencimento não apenas a um grupo social, mas também a um local, uma terra de
origem. Isso, de fato, faz todo o sentido e só reforça a ideia, para mim, de que, independente do tempo que passe, ou das mudanças que certamente ocorrerão na minha vida, Juiz de Fora estará sempre comigo.
Crônica
Sobre o pertencer Bruno Marangon
J
uiz de Fora vem se tornando, nos últimos anos, uma cidade cada vez mais violenta. Também percebo que o trânsito, por exemplo, tem piorado continuamente. São pontos negativos que estão, quase inevitavelmente, relacionados ao crescimento de uma cidade. Enquanto essa expansão traz muitas coisas positivas, algumas situações problemáticas também se manifestam com cada vez mais força. Por ter nascido e crescido aqui, sinto uma forte ligação com a cidade, até costumo ter uma certa dificuldade para explicar. Mas é provável que todos aqueles que se sintam da mesma forma consigam compreender facilmente esse sentimento. Gosto de ver a cidade se desenvolver, ser palco de eventos importantes e casa de pessoas que levam o nome da cidade para o
país e mundo afora. É um certo tipo de orgulho do local de onde venho, que é minha casa. De uns tempos pra cá, tenho tomado gosto por viajar, conhecer outros locais. Entretanto, é sempre com grande alegria que eu faço meu retorno a Juiz de Fora, porque aqui está, basicamente, toda a minha vida e história. Os meus amigos, a minha família mais próxima, as instituições em que estudei. É tudo familiar, acolhedor. Quando reflito sobre tudo isso, logo percebo que, independente dos problemas que possam ter surgido ou tomado novas proporções, o carinho que sinto pela cidade e a felicidade em viver aqui, não diminuem. Lembro de ter lido uma vez, que, a partir do momento em que o ser humano foi capaz de desenvolver a agricultura e a criação de animais, deixando en-
tão de ser nômade, o conceito de pertencimento obteve uma nova dimensão. Antes disso, um homem ou mulher pertencia, a partir de seu nascimento, apenas ao seu povo, aqueles com quem se relacionava direta e diariamente,
Expediente Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora
Coordenadora do Curso de Jornalismo Integral: Profa Dra Claúdia de Albuquerque Thomé
Publicação produzida pelos alunos do 6o periodo do curso de Jornalismo integral e do 7o período do curso noturno para a disciplina Técnica de Produção em Jornalismo Impresso.
Coordenador do Curso de Jornalismo Noturno: Prof. Me. Eduardo Sérgio Leão de Souza
Reitor: Prof. Dr. Marcus David Vice-Reitor: Profa. Dra. Girlene Alves da Silva Diretor da Faculdade de Comunicação: Prof. Dr. Jorge Carlos Felz Ferreira Vice-Diretora da Faculdade de Comunicação: Profª. Drª. Marise Pimentel Mendes
Oliveira, Guilherme Fernandes, Gustavo Fonseca, Gustavo Sampaio, Hugo Alessi, Hyrlla Tomé, Isabella Gonçalves, Lilian Delfino, Lucas Guedes, Mateus Figueiredo, Matheus Medeiros, Moisés Fialho, Naiara Neves, Otávio Botti, Pedro Henrique Rezende, Tarcísio Altomare, Thiago Viana, Vinícius Polato.
Chefe do Departamento de Metódos Aplicados e Técnicas Laboratoriais: Profa Dra Maria Cristina Brandão de Faria
Charge: Mário Tarcitano
Professores Orientadores: Profª. Dra. Fernanda Pires Alvarenga Fernandes Prof. Me. Guilherme Moreira Fernandes Profª. Dra. Lara Linhalis Guimarães Prof. Me. Rodrigo Fonseca Barbosa
Tiragem: 1.000 exemplares
Equipe: Bruna Luz, Bruno Fonseca, Bruno Marangon, Bruno Paiva, Débora Alves, Gabriel
Monitoria: Tainah Curcio
Endereço: Rua José Lourenço Kelmer, s/n, Campus Universitário - Bairro São Pedro 36036-900 Telefones: (32) 2102-3601 / 2102-3612
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As várias faces da violência contra a mulher Assédio vivenciado no dia a dia é considerado agressão, incluindo cantadas e diminuição de gênero
Vinícius Polato
O
que realmente significa violência? De acordo com o dicionário Aurélio, ela é caracterizada quando há agressividade, abuso de força, tirania; opressão, Constrangimento exercido sobre alguma pessoa para obrigá-la a fazer um ato qualquer; coação. Não é a violência que cria a cultura, mas é a cultura que define o que é violência. Diariamente mulheres sofrem com assédio moral, violência psicológica, cantadas e frases ofensivas, diminuição de gênero e exposição à situações
de risco. Muitas vezes, a agressão contra mulher é entendida somente como física, não sendo definido como abuso o assédio vivenciado no dia a dia. Consideradas “sexo frágil”, as mulheres são expostas a situações onde não conseguem definir como agressão, haja vista a concepção de muitas sobre o tema. O simples fato de uma mulher não poder ir e vir com a liberdade de circular em alguns locais, sem que sejam assedias moralmente, já torna o fato uma agressão. O debate ganha relevo após
o caso de estupro coletivo que ocorreu na Zona Leste do Rio, no final de maio, envolvendo mais de 30 homens e uma menina de 16 anos. Um caso de violência física confirmada no qual, mesmo assim, a vítima teve que lutar para comprovar que, de fato, foi violentada. Esse tipo de situação é recorrente em casos de agressão contra a mulher no Brasil, principalmente quando um delegado, e não uma delegada, recebem o relato.Todas as entrevistadas do Jornal de Estudo foram unânimes em relação a isso.
Foto: Vinícius Polato
Casa da Mulher realiza atendimento interdisciplinar
Muito além do estupro Dados comprovam alto índice de ocorrências A violência contra mulheres e meninas é uma grave violação dos direitos humanos. Ela afeta negativamente o bem-estar geral e as impede de participar plenamente na sociedade. Segundo dados compilados no Dossiê Violência Contra as Mulheres, realizado pelo Instituto Patrícia Galvão, a cada dois minutos, cinco mulheres são espancadas; a cada 11 minutos, uma mulher é estuprada; e, por dia, 179 relatos de agressão são contabilizados e 13 mulheres são mortas, vítimas de agressão. Ainda há muito a ser conquistado, mas, hoje, esse assunto está muito mais evidenciado com a ajuda de mídias sociais, que divulgam grupos de defesa da mulher, grupos feministas e leis de proteção. No Brasil, a Lei “Maria da Penha”, que entrou em vigor no dia 22 de setembro de 2006, é a mais conhecida. Existem, hoje, outras leis que protegem e resguardam a integridade da mulher. A delegada Ione Moreira Barbosa, da Delegacia de Atendimento a Mulher de Juiz de Fora, diz que todos os dias são registrados casos de violência. Em alguns, a mulher consegue sair do acolhimento com uma medida protetiva, ou, até mesmo, uma medida preventiva, que acarreta na prisão do agressor, ainda que ele não tenha atacado-a fisicamente, mas tenha ameaçado-a verbalmente. A prisão preventiva serve exatamente para isso: evitar que ocorra a agressão física. “Tem casos de mulheres que sofrem agressão há mais de 20 anos, mas, principalmente, a humilhação do homem bater no peito e dizer ‘Eu que pago as contas, a casa é minha e eu tenho o direito’. É contra isso que nós estamos lutando o tempo todo. Que as mulheres tomem coragem de denunciar esses abusos, para que os mesmos cessem”, afirma a delegada Ione.
Atuação de grupos feministas Os grupos feministas são, também, uma grande ajuda em vários aspectos na defesa dos direitos da mulher. Muitas melhorias já foram conquistadas. Laiz Perrut Marendino, uma das representantes do coletivo Maria Maria, explicou que, hoje, o Brasil não possui um perfil da mulher brasileira: “Nós somos muito diversificadas. Somos mulheres hétero, transexuais, bisexuais, lésbicas, mulheres negras e brancas. E, ainda hoje, o machismo está muito enraizado na cultura social, que pensa a mulher como ‘bela, recatada e do lar’. Isso ainda impera na concepção do que é o papel da mulher na sociedade. Quando
a mulher é vista em um trabalho que é normalmente de um homem, as pessoas se assustam”, explica Laiz. Laiz conheceu o feminismo em 2009 e conta que, desde então, tudo mudou em sua vida. “Comecei a identificar as opressões vivenciadas todos os dias. Independente de ser mulher, você passa a ficar mais atenta com o que acontece ao seu redor e com você. Muitas vezes, algumas coisas passam despercebidas, e nós continuamos no mesmo estado de opressão. Hoje em dia, eu tenho muito mais consciência de que a mulher tem que fazer a diferença na sociedade e buscar
sempre por melhorias de igualdade, justiça”, disse Laiz. Como tudo na vida, o tempo e as experiências vivenciadas nos ensinam a ter mais respeito pelo próximo e a não julgar o livro pela capa. A estudante de Design Gráfico Laura Meirelles não faz parte de nenhum grupo feminista, mas é militante ativa, pois acredita que toda mulher deve, sim, ser feminista e ajudar uma às outras. “Na verdade, você não se transforma em uma feminista, isso acontece naturalmente, por experiências vividas no dia a dia, com amigos, indo pra escola e até mesmo entre familiares”, afirma Laura.
Caso você pense que tudo isso não acontece perto de você, ou que nada disso ocorre com tanta frequência, que talvez possa ser um exagero da parte das mulheres, converse com sua mãe, sua irmã, prima ou amiga da faculdade. Disposta a ajudar, Ana Lúcia de Almeida, designer, relatou o fato vivenciado por ela. Uma história real, vivida por uma mulher real: “No começo, a pessoa cria um personagem para conquistar a sua confiança. Frequentamos a família um do outro, tínhamos uma boa convivência. Com algum tempo, alguns traços de agressão começaram a surgir de forma lenta, sem que eu percebesse. O tom de voz mais alto, alguns insultos, ameaças e pressão psicológica. Muitas vezes, acreditei que eu estava errada. Ouvia que ele havia se alterado por culpa minha, por coisas que eu tinha dito ou feito. Funcionava como uma pressão psicológica, eu acabava me culpando”. Ana Lúcia era vítima de uma conduta conhecida como ‘gaslighting’, quando a vítima é convencida de que ela é a culpada por ter sofrido a violência. “Esse tipo de ocorrência, se tornou frequente, até chegar à agressão física, um puxão de braço, um ‘sacode’, até mesmo um soco direcionado ao meu rosto, que acabou acertando a parede. Depois de conseguir forças e decidir acabar com essa situação, ainda passei pela perseguição. Ele estava em todos os lugares em que eu ia, me esperava na porta do meu trabalho, sabia todos os meus passos. Minhas redes sociais eram vigiadas. Sentia que não estava segura ao andar sozinha pelas ruas da minha cidade. Precisei avisar que entraria com denúncia na Delegacia de Mulheres, caso ele não parasse de me seguir, então consegui um pouco de paz. Contudo, até hoje tenho medo. Se eu o encontro em qualquer lugar, começo a tremer, sinto medo, não consigo reagir. Não tem como esquecer, são marcas que não se apagam”, relata Ana Lúcia. “Não podemos nos calar. Depois de passar por tudo isso, sempre que posso, conto para as outras mulheres o que passei, com a finalidade de que mais nenhuma delas sofra o que eu sofri”. Esse é um assunto delicado, difícil de compreender, mas que deve ser tratado cada vez mais cedo. Começando em casa com a família, onde acontece o início da formação de opinião e visão social do jovem, depois juntamente com a escola. A violência contra a mulher é um problema social enorme que ocorre todo tempo, em todas as idades e classes sociais. É preciso coragem e apoio para que esse seja um problema solucionado. Como afirma a militante Laiz Perrut, “ser mulher é ser humano”. Portanto, os direitos e deveres devem ser de igual acordo a todos.
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O(s) coletivo(s) de universidade Sem DCE, estudantes se organizam em grupos para lutar por questões sociais Lilian Delfino
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a maior parte das universidades brasileiras, o Movimento Estudantil (ME) é representado por entidades como Diretório Central dos Estudantes (DCE), Diretório Acadêmico (DA) e Centro Acadêmico (CA), e caracteriza-se como um movimento plural, que representa e defende os interesses da categoria estudantil. Os estudantes sempre estiveram presentes em momentos decisivos da história do Brasil, mas, de acordo com a historiadora Gislene Lacerda, o movimento estudantil só se consolidou, de fato, a partir da fundação da União Nacional dos Estudantes (UNE), em 1937, e cresceu durante a década de 1950, com a criação das primeiras faculdades e universidades. “O movimen-
to influenciou, por exemplo, a campanha ‘O Petróleo é nosso’, durante o Governo Vargas, participou da resistência à ditadura, na transição democrática, dentre outros”, explica. Na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) não é diferente, mas após uma eleição conturbada em 2014, o DCE continua sem representantes. Desde então, o movimento estudantil se desmembrou, e, além do Conselho de Centros Acadêmicos e Diretórios Acadêmicos (Concada), surgiram diversos coletivos no campus, cada um defendendo demandas específicas, como o combate ao machismo e à homofobia, uma forma alternativa de atuação e militância estudantil no campus.
Integrar e resistir
meia: a pintora Artemísia. Nascida em Roma, em 1593, época na qual as mulheres não podiam frequentar escolas de arte, Artemísia destacou-se como uma das artistas mais habilidosas do período Barroco. Estuprada por seu mentor e presa a um relacionamento abusivo, pintou muitos quadros nos quais as personagens femininas representavam heroínas. E as meninas de Artemísia, ouso dizer, não poderiam escolher melhor nome para um coletivo feminista de artistas. “O Artemísia surgiu com a necessidade de cuidar das nossas demandas internas, de forma coletiva, organizada e conjunta”, explicam. O coletivo atua no combate ao machismo e racismo, à transfobia e gordofobia, mas também interage com a comunidade juizforana. Unidas que são e estão, não há uma única delas que respon-
Para tratar dos coletivos, às vezes é melhor começar pelo óbvio. Coletivo é mais que um e, sobre isso, há consenso. Porém, para além disso, é aberto, e isso evita que o tratemos como grupo fechado. Dessa forma, o coletivo é uma formação, não de certo número de pessoas com ideias comuns, mas de um bloco de interesses, afetos, experiências, ao qual as pessoas aderem, transformando-o e reafirmando-o. Com isso em mente, conheci nosso primeiro personagem, o Coletivo Artemísia, do Instituto de Artes e Design (IAD). Meu primeiro contato com ele – com ELAS, na verdade – foi via redes sociais, quando conheci a página que elas mantém no Facebook. Por isso, não havia nenhum rosto a quem eu pudesse associar o coletivo, senão àquele que o no-
Foto: Júber Pacífico
Itervenção do coletivo Duas Cabeças em praça pública
da pelo coletivo, alguém com o cargo de relações públicas: “Sempre respondemos como um coletivo. Tudo é discutido amplamente entre os membros”, disseram em nosso primeiro contato, ainda on-line. Dessa forma, manterei essa unidade,
a escrever “membros” e “indivíduos”, por falta de uma flexão de gênero na língua padrão. Como movimento estudantil, no âmbito da UFJF já participaram de ações realizadas pela Diretoria de Ações Afirmativas, na Semana da Mulher. “Tivemos a oportunidade de discutir nossa vivência, “Todas as pessoas sobrevivência e resistência na Universidade.” Para deveriam ter um além disso, compartilhar período de o conhecimento que já adquiriram no curso com militância política, quem está chegando: orgaentrar em contato nizaram, junto ao Diretório Acadêmico do Instituto com a dureza do debate.” de Artes e Design, a 3ª Nathalie de la Cadena Semana do Calouro com oficinas, rodas de conversem me referir a indivíduos, e, sa, distribuição de cartilhas e arescrevendo esse texto, penso recadação de doações para uma como é ingrato nosso português instituição de assistência a mu– senão um tanto machista – afi- lheres em situação de rua. nal, o Artemísia é composto só Para a filósofa e cientista por mulheres, mas sou obrigada social, Nathalie de la Cadena,
O movimento estudantil em ação
Momentos em que o ME esteve mais ativo e foi protagonista na luta social
é importante que os estudantes tenham contato desde cedo com o movimento estudantil, para que saiam da zona de conforto e sejam capazes de entender questões econômicas e se mobilizar por diferentes classes sociais. Ela iniciou sua militância estudantil aos 16 anos, pela Associação Municipal dos Estudantes Secundaristas do Rio de Janeiro (Ames-RJ), fazendo parte da Geração Cara Pintada, que manifestou pelo impeachment do então presidente da República Fernando Collor e garante: “Todas as pessoas deveriam ter um período de militância política, entrar em contato com a dureza do debate de um determinado assunto, com a dificuldade que é convencer alguém, o tempo que se perde para conseguir pequenos avanços ou simplesmente para evitar retrocessos.” Na época das ações iniciais do coletivo Artemísia, rondava
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MAIO | 2016 pelo campus o fantasma de um assalto contra uma professora da Faculdade de Engenharia. Boatos sobre uma tentativa de estupro contra ela também surgiram e uma discussão sobre a violência contra a mulher foi levantada, somada à ação de um grupo de estudantes que fotografavam e constrangiam mulheres na quarta plataforma do campus, próximo ao curso de Artes e Design. Diante de situações como essa foi que surgiu o Coletivo Duas Cabeças, em 2014. Durante a festa de encerramento das Olimpíadas da UFJF, um episódio de lesbofobia contra alunas da Universidade na casa noturna onde acontecia a cerimônia,
mobilizou uma manifestação no Restaurante Universitário (RU) contra a homofobia. A partir de então, o coletivo, que leva a alcunha de um exu da umbanda, com duas cabeças que representam o lado feminino do homem e o masculino da mulher, atua na UFJF em prol da causa de lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis e transgêneros (LGBTs), por meio de palestras, reuniões e encontros. O secretário do Coletivo Duas Cabeças, Juber Pacífico, explica que o grupo está sempre aberto ao diálogo e acolhe diferentes etnias e classes sociais. “Dentre as várias lutas do coletivo, uma das mais importantes foi a conquista do
nome social junto ao Conselho Superior da UFJF (Consu). Até então, ninguém discutia essa questão e resolvemos lutar por esse direito”. Uma proposta e um abaixo-assinado com mais de mil assinaturas de alunos e não-alunos da UFJF foi apresentada ao conselho requerendo a utilização do nome social em documentos acadêmicos e de identificação. A segunda questão levantada pelo coletivo são banheiros que abranjam a identidade de gênero: “Por enquanto esses banheiros existem na reitoria e Centro de Convivência da Universidade, mas queremos que eles se estendam por todas as faculdades”, afirma Juber.
Foto: Fernando Priamo/Tribuna de Minas
Novas Eleições A última gestão do DCE, foi a “Vamos Precisar de Todo Mundo”, entre 2013/2014. Em novembro de 2014, o resultado que elegeu a chapa “Podemos Mais” foi suspenso por suspeita de fraude. Um novo processo foi deliberado para abril de 2015, mas também acabou adiado devido a greve dos técnico-administrativos e professores. Após o restabelecimento do calendário acadêmico do campus, em outubro de 2015, novas eleições foram marcadas para dezembro do mesmo ano. No entanto, com outra suspensão das aulas no campus de Governador Valadares, pela falta d’água após a ruptura das barragens da Samarco em Mariana, Minas Gerais, o pleito foi novamente adiado até que a situação do campus se restabelecesse. Mas, nesse meio tempo, o então reitor Júlio Chebli apresentou uma carta de renúncia ao Consu, inviabilizando as eleições discentes. Depois desse período, foi instituída uma comissão provisória, nomeada pelo Concada. No dia 30 de maio, durante a apuração dessa reportagem, e após mais de um ano sem Diretório, a Comissão Eleitoral da UFJF aprovou um novo calendário para eleição do DCE. A votação está prevista para os dias 6 e 7 de julho de 2016.
Além do campus
Meninas do Artemísia protagonizaram campanha da Semana da Mulher promovida pela UFJF
A falta que o DCE não faz Ambos os coletivos apresentados existem em dois cenários distintos da Universidade: na presença do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e sem ele. No entanto, a atuação de ambos se fortaleceu no segundo cenário. Entre os coletivos, a atual situação do DCE divide opiniões. Juber acredita que os
coletivos se mantem fortes no campus com ou sem DCE: “Os coletivos não têm ligações político-partidárias como o DCE tem. A maioria dos diretórios é ligada ao PT, PC do B ou outros partidos, enquanto os coletivos são independentes. Então, acredito que isso mantém os coletivos fortes e representativos”, acredita o secretário
do Duas Cabeças. Já as organizadoras do Artemísia pensam o contrário: “O movimento resiste por ser um espaço organizado de mulheres, para mulheres e independe de ligação com organização estudantil, embora não existir um DCE prejudique nossa representatividade perante a instituição”, defendem.
campus
A historiadora Gislene Lacerda, membro da gestão “DCE até o fim”, de 2005, conta que a militância, no entanto, teve influências importantes fora do Campus também: “Essa gestão conduziu ações contra o aumento da passagem de ônibus em Juiz de Fora, pela defesa da meiaentrada estudantil, pela revitalização do DCE Centro e organização de arquivos históricos do diretório”. Ela destaca ainda a importância da militância em sua vida acadêmica, já que o movimento estudantil é seu objeto de estudo desde a monografia a tese de doutorado. Nathalie de la Cadena a principal bandeira do ME deve ser sempre o ensino público, gratuito e de qualidade para todos: “Isso não é garantido, vai estar sempre sob ameaça. Ha-
verá cortes de verbas, de vagas, de bolsas, sucateamento do patrimônio das Universidades, até mesmo fechamento de cursos. E, mais uma vez, o ME terá um papel importante, pois sua luta não deve se limitar à educação, mas deve ser pela democracia, defender e proteger direitos que já foram conquistados e se encontram ameaçados”. A filósofa, que também é formada em Direito, esclarece que de seu ponto de vista jurídico, no entanto, não é possível uma total independência partidária no movimento. “Não há como negar a natureza primeira da política, que é a disputa de ideias e conquista de espaço ou poder. Ninguém defende algo sem ter um fundamento que o sustente, uma proposta de sociedade que almeja ou um compromisso com interesses.”
entrevista
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“Obra de Governador Valadares está sem construtora; não temos recursos para lá” Depois de um período conturbado, que envolveu investigações de administrações anteriores, renúncia do reitor Júlio Chebli, e novas eleições, o professor Eduardo A. Salomão Condé assumiu um cargo estratégico na UFJF, a Pró-reitoria de Orçamento, Planejamento e Finanças, com o desafio de recuperar os erros do passado e travar uma verdadeira batalha com o Governo Federal para conseguir recursos e colocar a universidade nos eixos. Em entrevista ao Jornal de Estudo, ele destacou o compromisso de coordenar a formulação do que ele define como as três macropolíticas da universidade: Pós-Graduação e Pesquisa, Graduação e Extensão, onde cada pró reitoria irá desenvolver um projeto de longo curso para produzir uma política da UFJF. Não apenas estabelecer algumas regras, criar políticas que possam ser, a longo prazo, desenvolvidas. Doutor em Economia pela Unicamp e Mestre em Ciência Política Iuperj, Condé traz para o cargo a experiência acadêmica como coordenador da área de Política e Economia da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP) e na Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais (Anpocs) na temática “desenvolvimento” de 2006 a 2015.
O senhor já trabalhou com bancos de dados municipais e análise de indicadores sócioeconômicos. Como pretende trazer essa experiência para o microcosmo da UFJF? A Pró-reitoria de Planejamento tem uma série de órgãos que estão diretamente vinculados a ela. Isso vai desde levantamentos com relação a senso universitário até a análise de processos e fluxos da própria universidade, passando por todo o planejamento orçamentário e financeiro, então é uma pró-reitoria que tem um alcance bastante grande. Os dados da universidade são muito desorganizados. A gente tem iniciado um esforço para conseguir acertar todo o organograma da universidade em todos os órgãos federais. Hoje nós temos vigorando na universidade organogramas diferentes, um oficial e vários outros registrados em lugares diferentes. Enquanto isso tudo não for tudo unificado nós não podemos ter um retrato muito claro. Isso pode ser feito relativamente rápido. Em segundo lugar é preciso também organizar o planejamento do funcionamento mais geral da universidade, mapear os processos que a universidade tem e [aqueles que ela tem necessidade de ter. E como se dará o debate sobre as prioridades em relação à situação financeira na reunião do Consu após o levantamento? Como nós temos limite, o que que aconteceu com o orçamento? Você pega o orçamento do ano passado, de 2015, o deste ano é igual, só que com um corte de 20% no custeio e 60% no ca-
hoje nós enfrentamos alguns dilemas orçamentários por causa de outras expansões do passado. Veja o Restaurante Universitário, a universidade paga 80% da refeição e os estudantes pagam menos de 20%, então a política de assistência está preservada. O que poderia provocar um baque nisso? Se o governo federal autorizar corte no programa, nós vamos manter o sistema enquanto ele estiver funcionando.
Foto: Hugo Alessi
Hugo Alessi
Além dos dilemas do passado, que desafios o senhor prevê? O pró-reitor Eduardo Condé ressalta a importância da transparência na nova administração
pital. Só tem 40% de capital para investimento nesse ano, mesmo assim no limite que eles liberaram. Eles podem até recuar, de acordo com a situação econômica atual com o governo lidando com um déficit gigantesco, que é muito maior que o déficit que estava previsto anteriormente, alguns até desconfiam desse número. Eles falam em R$170 bilhões de déficit. O governo Dilma falava de um ajuste de R$ 120 bilhões. Eles estão trabalhando com o pior cenário, quase uma catástrofe. Isso tudo por enquanto é especulação. Nós estamos vivendo com a expectativa de ter que definir com o que nós vamos gastar dinheiro esse ano e mais do que isso, o que nós vamos pagar como priorização, por que o dinheiro simplesmente não dá. Do jeito que está não tem a menor condição de continuarmos com o volume de despesas que a gente está tendo ao longo desse ano. Isso com certeza envolve muitas expectativas em relação
às obras, já que muitas estão congeladas e outras vão estar na berlinda por prioridade.
ocupação da reitoria. Como fica a ocupação da moradia, e a diminuição das bolsas?
O conselho vai ter que estabelecer o que vai ser discutido primeiro. É fundamental para a gente começar a discutir a parte das obras é importante por que nós temos hoje algumas obras ativas e muitas obras paradas. As obras paradas são muito difíceis de serem retiradas do papel sem longos processos licitatórios novos. O caso do HU claramente tem problemas jurídicos e também de orçamento, então não há meio de você retomar a obra do HU amanhã. Da mesma maneira isso vai acontecer com Governador Valadares, que é um outro problema, por que a obra de Governador Valadares está sem a construtora que é a mesma do HU; nós não temos recursos para lá.
Na verdade, no caso da moradia estudantil quem está cuidando disso é a Pró-reitoria de Assistência Estudantil. Ela não está ocupada, tem problemas de projeto porque foi concebida para mais de 200 estudantes, descobriram que não cabe, é metade disso e precisa fazer algum tipo de reforma num prédio que ainda não foi nem ocupado. Não é propriamente verdade que as bolsas diminuíram, o que aconteceu foi o seguinte: estamos gastando com bolsa R$ 34 milhões, R$ 35 milhões por ano. É mais do que vem do programa Pnaes, o programa nacional de assistência. Ano passado houve sim ocupação, mas isso foi relativamente solucionado com o volume de bolsas que estava disponível. Nós estamos com um limite orçamentário para continuar expandindo programas. Não tem como manter a mesma velocidade de crescimento. Inclusive
A administração anterior enfrentou diversos problemas em relação à política estudantil, inclusive com a
Primeiro adequar um orçamento que está cada vez mais restritivo ao nosso volume de gastos. Nós estamos remodelando a matriz de redistribuição de recursos na universidade. Essa é uma discussão que tem que ser feita com as unidades e com o conselho superior, que seja uma matriz realmente transparente e que todo mundo entenda como o dinheiro deve ser redistribuído. Nós estamos desenvolvendo um portal de transparência para abrir as informações num único lugar e estamos tentando resolver gargalos que nós herdamos. E, finalmente, coordenar a formulação do que eu chamo das três macropolíticas da universidade: Pós-Graduação e Pesquisa, Graduação e Extensão, cada pró-reitoria vai desenvolver um projeto de longo curso para produzir uma política da UFJF de graduação, uma outra de pós e pesquisa e uma outra de extensão. Agora, isso não é apenas estabelecer algumas regras, não, é você criar uma política que possa ser, no longo prazo, desenvolvida. É um processo que só vai se encerrar no ano que vem.
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educação
Educação municipal em xeque
Professores da rede municipal realizam paralisações por melhores condições de trabalho Otávio Botti e Mateus Figueiredo
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aralisações, más condições de trabalho, descontentamento da população e falta de valorização da educação. Esse é o cenário das escolas municipais de Juiz de Fora-MG nos primeiros meses de 2016. Na luta salarial dos professores por melhores condições de trabalho, quem perde são os estudantes, que não recebem um ensino de qualidade. A desvalorização das instituições municipais de ensino se dá em várias frentes: falta de estrutura das instalações escolares, má qualidade dos serviços oferecidos, além de uma profunda desvalorização do profissional da educação. Os relatos apontam para o sucateamento do ensino público. Mãe de dois estudantes da Escola Municipal André Rebouças, no Bairro Milho Branco, Ivanir Silva diz que seus filhos se deparam com diversas dificuldades durante o ano letivo. “Lá na escola, nós convivemos com a falta de professores desde que as aulas começaram em fevereiro. Nós participamos de reuniões com os professores, e eles nos
relataram essas dificuldades”. Além da falta de professores, as unidades escolares enfrentam também outros problemas. Um dos principais é a estrutura inadequada para uma vivência plena por parte dos alunos. O professor de educação física da Escola Municipal Santos Dumont, Rafael Pereira, ressalta que as suas condições de trabalho estão muito longe do ideal. “Eu dou aula em uma quadra de asfalto. Nas minhas aulas, os alunos ficam no sol. Não têm condições mínimas de desenvolver uma atividade lúdica e prazerosa com essa estrutura”. O professor Rafael ministra aulas para estudantes do 1º ao 4º ano do Ensino Fundamental, turmas de crianças de 6 a 9 anos.
Má qualidade na merenda
Outro ponto que afeta a comunidade escolar é a qualidade da merenda oferecida. Segundo Ivanir, seu filho que cursa o 4º ano do Ensino Fundamental já apresentou mal estar por ingerir a comida oferecida na escola.
Foto: Assessoria Sinpro-JF
Assembleia realizada no dia 24 de maio aprovou a manutenção do indicativo de greve
Segundo ela, o problema se intensificou nesse ano, mas a qualidade baixa da merenda vem de muito tempo. “Tem vezes que tem carne, em outras, não. Em algumas ocasiões, as crianças têm que comer biscoito com Nescau”, relata. A mãe expressa sua preocupa-
ção com o cardápio e como isso interfere na saúde e no aprendizado de seu filho: “Em alguns casos eles servem arroz com molho de tomate para as crianças. Isso tudo atrapalha muito o estudo deles”, avalia. Já o professor Rafael Pereira afirma que nunca houve falta
de merenda na sua escola, isso porém é mérito das lideranças da escola. “Faltar para as crianças não falta, mas a qualidade da comida poderia ser melhor. Poderíamos ter muito mais variedade, o que não acontece por descaso da Prefeitura”.
Questão salarial Com essa conjuntura, 2016 começou turbulento. A classe dos professores vem sentindo-se atacada pela gestão atual da Prefeitura de Juiz de Fora, devido à falta de reposição salarial das perdas de 2015. Desde o mês de fevereiro, a categoria vem realizando frequentes paralisações, contra o que o sindicato classifica como um ataque nos direitos do magistério. A coordenadora geral do Sindicato dos Professores (Sinpro-JF), Aparecida de Oliveira Pinto, elucida a reivindicação dos docentes municipais: “Nós começamos nossa campanha salarial com a prefeitura para esse ano. Estávamos na discussão da recomposição das perdas inflacionárias de 2015, que é 10,67%, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), e quando as negociações estavam bem avançadas a prefeitura, na figura do prefeito Bruno Siqueira, veio com uma desculpa da legislação eleitoral, um artigo de 1997 dizendo que não poderia neste ano recompor a inflação do ano passado”. O Sinpro-JF não está sozinho na requisição de melhorias salariais. Ao todo, seis outras categorias estão unidas: o Sindicato dos Servidores Públicos (Sinserpu), Sindicato dos Trabalhadores no Serviço de Água (Sinágua), Sindicato dos Engenheiros (Senge), Sindicato dos Odontologistas (SindOdonto), Sindicato dos Médicos (Sindimédicos) e Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas (Sinarq-
MG). Aparecida classifica a ação do governo como uma ofensiva contra o serviço público: “A política dele tem sido de tentar retirar os nossos direitos, com o artigo 9º. É uma política de destruição de serviço público para toda a população”. O vereador Roberto Cupolillo (PT), mais conhecido como Betão, apoia a posição do sindicato e ressalta o grande déficit salarial que os servidores sofreriam: “A posição do sindicato está correta, porque, pela primeira vez na história de Juiz de Fora, o governo está tentando se utilizar de uma lei eleitoral de 1997, provocando uma perda salarial muito grande para os servidores. Tem quase 30 anos que eu participo de mesas de negociação salarial, e, se fosse aplicada essa lei, a cada quatro anos, todos os servidores perderiam um ano de inflação”. A lei 9.504 de 1997, citada por Betão, proíbe o executivo de conceder aumentos acima da inflação no ano eleitoral. No entanto, essa interpretação é rechaçada pela departamento jurídico de todos os sindicatos. A Secretaria de Administração e Recursos Humanos (SARH) foi procurada pela reportagem e emitiu uma nota explicando a posição do governo municipal com relação ao tema: “A Prefeitura de Juiz de Fora informa que foi protocolada uma consulta ao Tribunal Regional Eleitoral sobre os limites impostos pela Resolução do Tribunal
Superior Eleitoral, de dezembro de 2015, para concessão de reajuste em ano eleitoral, sobretudo o período permitido para o cálculo da concessão do reajuste, se dos últimos 12 meses ou somente dos meses de 2016, como aponta a Resolução”. A Secretaria de Educação foi procurada durante três dias em horários alternados para tratar sobre os problemas como a qualidade da merenda, falta de professores e estrutura deficitária nas escolas. O único item que obtivemos retorno, através de assessoria, foi a questão da falta de professores, em que a Secretaria informou que estão sendo efetuadas contratações para repor o quadro de docentes”.
Paralisações
Na Assembleia do dia 24 de Maio, ficou decidido que a classe continuaria com suas paralisações e deliberaram pela manutenção do indicativo de greve protestos visando melhorias. Desde o ínicio dos atos, a adesão dos professores vem crescendo. No dia 10 de maio, O Sinpro estimou que entre 60 e 70% dos servidores municipais deixaram de exercer suas funções normalmente. A prefeitura estima que 56% dos professores aderiram a paralisação. Novas assembleias serão marcadas.
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Deputados federais de JF divergem sobre governo Temer e cenário atual da câmara Gustavo Sampaio e Tarcísio Altomare
Nascida em 10 de junho de 1950 (65 anos), foi secretária municipal de administração e de governo da Prefeitura de Juiz de Fora entre os anos de 1983 e 1988. De 1998 a 2006, foi reitora da Universidade Federal de Juiz de Fora. Durante este período, foi também dirigente nacional da Associação Nacional de Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior. Em 2008 e 2012, foi candidata pelo PT à Prefeitura de Juiz de Fora, chegando em ambas as ocasiões ao segundo turno. Foi eleita para a primeira suplência da legenda na Câmara em 2010. Margarida tomou posse efetivamente do mandato de deputada federal em janeiro de 2013 e foi reeleita no ano seguinte.
Marcus Pestana (PSDB) Nascido em 13 de junho de 1960 (55 anos), foi eleito em 1982, aos 22 anos, o vereador mais jovem de Juiz de Fora pelo PMDB. Após a fundação do PSDB, foi o primeiro presidente do partido na cidade. Pestana foi coordenador da campanha de Custódio Mattos à Prefeitura de Juiz de Fora, onde ocupou posteriormente o cargo de Secretário de Governo, no biênio 1993 e 1994. Foi Secretário de Estado de Saúde durante o mandato do então governador de Minas Gerais Aécio Neves, entre janeiro de 2003 a março de 2006 e janeiro de 2007 a janeiro de 2010. Elegeu-se deputado federal em 2010 e foi reeleito em 2014.
ras diferentes pelos congressistas: alguns definiram como interferência do judiciário no legislativo; outros pensam que foi uma medida extraordinária e necessária; já o grupo mais próximo ao governo Dilma, classifica a decisão da suprema corte como tardia. Os deputados juiz-foranos Júlio Delgado (PSB), Marcus Pestana (PSDB) e Margarida Salomão (PT), esclareceram, em entrevistas exclusivas ao Jornal de Estudo, suas opiniões sobre esses acontecimentos e projeções acerca da reorganização das forças políticas na Câmara Federal. Confira no dossiê a seguir:
Foto: divulgação/facebook
Foto: divulgação/facebook
Margarida Salomão (PT)
lítico de Brasília. O governo interino de Michel Temer assumiu as rédeas do país e, quem era situação, agora é oposição; novos blocos partidários estão sendo formados; o “centrão” nunca foi tão governista e a “antiga oposição” ainda não esclareceu sua nova colocação. Além da troca de governo, outros fatos movimentaram os bastidores em Brasília. A decisão inédita do Supremo Tribunal Federal (STF), ao afastar Eduardo Cunha (PMDB-RJ) de suas funções de deputado federal e presidente da Câmara, foi encarada de manei-
Foto: divulgação/PSDB
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om o atual momento político da democracia brasileira, apesar dos escândalos e da crise, o interesse do eleitor pelas ações e opiniões dos seus representantes vem crescendo. Juiz de Fora conta com três deputados no Congresso Nacional, cada um com posicionamentos e visões diferentes em relação aos últimos acontecimentos. A abertura do processo de impeachment da presidente Dilma pelo Senado, no dia 12 de maio, e seu consequente afastamento por 180 dias, mudou completamente a disposição das peças no jogo po-
Júlio Delgado (PSB) Nascido em 18 de novembro de 1966 (49 anos), foi secretário-Adjunto da Secretaria do Trabalho e Assistência Social do Estado de Minas Gerais em 1994, deixou o cargo em 1998 para entrar na disputa por uma vaga na Câmara Federal, terminando o pleito como suplente. Assumiu pela primeira vez o mandato de deputado federal em setembro de 1999. Nas eleições de 2002, conquistou vaga na câmara pelo PPS. Foi membro do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados de 2003 a 2006 e, neste mesmo ano, foi mais uma vez reconduzido ao cargo, desta vez pelo PSB. Permanece atuando na Casa desde então, sendo reeleito nos anos de 2010 e 2014.
Qual seu posicionamento em relação ao governo de Michel Temer após o afastamento da presidente Dilma? Margarida Salomão (PT) “Eu acho que é um pavor esse início de governo. Primeiro por conta dessa contaminação com a LavaJato, que é uma afronta para a sociedade brasileira, uma vez que esse governo golpista emerge de um movimento de opinião dedicado ao combate à corrupção no Brasil. Então você subverter esse desejo da sociedade construindo um governo que tantas pessoas, inclusive o próprio vice-presidente da república, estão envolvidos em delações é, de fato, um trâmite e, além disso, o que eu acho mais estrondoso é que, por exemplo, você tem no Ministério da Educação um deputado que era líder do DEM. O DEM foi derrotado na eleição de 2014. Ele estava coligado com o candidato Aécio Neves. Então como o cidadão vota em uma coisa, e o governo é o oposto? Isso na verdade é uma afronta que é inaceitável por aqueles que acreditavam na soberania do voto popular.”
Marcus Pestana (PSDB) “O governo atual, do presidente Michel Temer, foi instituído de uma maneira atípica. Ou seja, é um governo que não assumiu nos moldes tradicionais, após eleições, mas que tem a legitimidade atestada pela constituição e precisa de sustentação agora que assumiu. O eleitor que votou na Dilma, que apertou o 13 na urna, escolheu o Temer para essa função de vice e, por isso é ele que tem essa responsabilidade agora. O impeachment é um processo legal, mas ao mesmo tempo duro. É um processo desgastante que o país teve que atravessar por conta dos desmandos do governo do PT. Um cenário de crime generalizado, do ponto de vista da corrupção, que foi desmascarado pela Operação Lava-Jato. A nomeação do presidente Lula para a Casa Civil, numa clara tentativa de obstruir a justiça, em um momento em que o presidente era investigado e não gozava de credibilidade nenhuma. [...] O presidente Temer assumiu agora, está muito no início da sua gestão, então vamos esperar os resultados. Ele tem pouco tempo para tentar melhorar a situação, mas tem apoio no congresso e uma grande habilidade política para fazer o necessário.”
Júlio Delgado (PSB) “Eu achei que o período de euforia do governo iria ser maior do que isso que nós estamos vivendo. A gente está tendo um período positivo na linha econômica. [...] O anúncio da equipe econômica que vai ditar o país pelos próximos dias foi bem recebido pelo mercado, e isso, de certa forma, dá um alento para as pessoas que trabalham com a questão da produção, com geração de empregos. Mas eu volto a dizer, uma coisa não compensa as perdas sociais que estão até este momento sendo anunciadas, pelo menos da intenção. As pessoas apostaram na euforia de uma renovação, de um novo governo, mas isso ainda não se efetivou. Até porque tem também muitos textos que foram para o governo por uma articulação do próprio Cunha, em uma proteção das suas prerrogativas de ter foro privilegiado, porque estão envolvidos na Lava-Jato. Isso é uma preocupação e a gente vai estar alerta e anunciando essas questões todas que estão postas nesse início de governo, nesse período de transição, quando ele (Michel Temer) ainda é ‘presidente em exercício’, dado ao afastamento da presidente Dilma.”
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Qual sua opinião sobre o afastamento do deputado Eduardo Cunha da presidência da Câmara? Margarida Salomão (PT)
Marcus Pestana (PSDB)
“Um afastamento tardio. Necessário, mas tardio. Se tivesse acontecido um mês antes, e poderia tê-lo sido, pois não houve nenhum fato novo entre a denúncia da Procuradoria Geral da União (PGR) e a sentença do Ministro Teori Zavascki, com toda certeza, nós hoje não estaríamos lidando com o golpe. O golpe inclui esse atraso de manifestação do Supremo Tribunal Federal. Eduardo Cunha é notoriamente corrupto, é um deputado que usa o seu poder e o seu cargo para interferir na vida da Câmara especialmente em benefício próprio e no que diz respeito à manutenção do seu próprio mandato. Então, o seu afastamento é um fato que nós saudamos com alegria, mas lamentamos que tenha ocorrido tão tardiamente, porque a sua presença na presidência da Câmara levou a este golpe que hoje fere a democracia no Brasil.”
“O Eduardo Cunha foi afastado em uma medida inédita da nossa Suprema Corte e nós temos que acatar a decisão. Os poderes são interdependentes e autônomos, mas temos que reconhecer e respeitar a atuação do Poder Judiciário que tem sido de grande importância nesse momento que é muito delicado. O Supremo Tribuna Federal (STF) entendeu que o Cunha estava usando o seu cargo à frente da Casa para dificultar seu julgamento pelo conselho de ética. O parecer foi muito claro e deve ser respeitado, apesar dessa interferência inédita não ser o ideal.”
Júlio Delgado (PSB) “Quando o Cunha foi fazer sua defesa no conselho de ética, eu disse claramente que foi uma intromissão de um poder sobre o outro [...] Chegamos a um momento que necessitou de uma medida única, extemporânea, algo que não se deve fazer, mas, dada a gravidade da intromissão dele, tentando impedir o julgamento do processo dele na justiça e o andamento no conselho de ética... Eu acredito que essa instabilidade e esse momento de desonra que passa o legislativo brasileiro é muita culpa e responsabilidade dele. O Eduardo Cunha deixou com a gente essa paralisia que encontramos neste momento, sem saber o que fazer, porque a gente tem que prezar pelo cumprimento regimental e da constituição, respeitar os vice-presidentes que estão tocando a casa que têm legalmente essa atribuição mas que não têm a representatividade necessária pra que se possa colocar projetos que possam fazer com que o Brasil se sinta representado no congresso.”
Foto: d2mm.wordpress.com
Qual sua posição sobre a permanência de Waldir Maranhão na presidência da Casa? Margarida Salomão (PT) “Aí não cabe opinar, e sim dizer quais são os fatos. Waldir Maranhão é o primeiro vice-presidente. Então, pelo regimento da Câmara e pela realidade institucional, ele é o presidente em exercício, porque a sentença do Ministro Teori (Zavascki) afasta o deputado Eduardo Cunha, tanto da presidência quanto do seu mandato, mas não cassa. Então, não tendo sido ele cassado, não houve uma vacância. Portanto, pelo regimento, pelas condições institucionais, o Waldir Maranhão é o presidente em exercício da Casa. E, só deixará de sê-lo se, ele próprio for cassado, mas não há processo de cassação de seu mandato em curso na Câmara hoje; ou se ele renunciar. Todo o resto é especulação. Eu posso opinar sobre a presença dele na vice-presidência e aí eu opino com desgosto, inclusive porque não votei nele. É uma pessoa que eu considero despreparada para o exercício da função. Mas, do ponto de vista legal, ele é o presidente em exercício.”
Marcus Pestana (PSDB) “A posição já declarada do PSDB é a favor de novas eleições em até cinco sessões, após ser declarada vacância na presidência. O Waldir Maranhão não tem condições de presidir a Casa nem por um minuto, não tem legitimidade. Ele fez um papelão, uma trapalhada, vendeu a instituição naquela segunda-feira para interesses externos, que contrariavam a decisão por maioria absoluta em votação no plenário da Câmara aprovando o processo de impeachment. Foi uma decisão arbitrária, sem consultar nenhum órgão técnico da Casa. Ele (Waldir Maranhão) hoje é uma figura totalmente desmoralizada, tanto que está como Rainha Elizabeth, rainha da Inglaterra, não preside realmente o plenário. Então há essa necessidade urgente de novas eleições. O nosso bloco é pequeno, cerca de 120 votos, que eram a antiga oposição ao governo Dilma, mas vamos tentar convencer a maioria da Casa a pedir por novas eleições.”
Júlio Delgado (PSB) “Nós temos um vice-presidente em exercício que foi eleito para tal, os deputados foram responsáveis pela eleição. Eu disputei a eleição justamente para evitar que nós passássemos por isso que estamos passando. Se ele disse ontem (19) que me derrotou e que está disposto a me derrotar novamente, é porque a maioria pensa, infelizmente, de uma forma diferente da nossa, cada vez mais se distanciando da sociedade brasileira. O Waldir foi legalmente constituído com o afastamento do Cunha determinado pelo Supremo, até que haja vacância, e nós não temos determinada a vacância, o que é a vacância? Ela se dá com a perda de mandato, com a cassação, renúncia ou morte e nenhum desses três fatos aconteceu, nem com o presidente afastado e nem com o vice-presidente. Eles estão levando, infelizmente, a regra que estabelece constitucional, regimental que nós temos que cumprir.”
Como estão se reorganizando as bases de oposição e situação na Câmara atualmente? Margarida Salomão (PT)
Marcus Pestana (PSDB)
“A casa é uma balburdia, um tumulto. Como ficou claro na semana passada com os atos contraditórios do vice-presidente Waldir Maranhão, presidente em exercício da câmara. A ausência de Eduardo Cunha, benigna como ela é para nós, democratas, é um fator de desorganização do campo que apoia o golpe. Eduardo Cunha tinha uma capacidade de liderança pelas piores razões do mundo, mas ele, de fato, era o administrador da casa. [...] É um governo (do presidente interino Michel Temer) sem norte, sem projetos. Anuncia um projeto para eliminar o combate à corrupção para blindar os políticos, para fazer com que se mantenha o que há de pior na sociedade brasileira.”
“Provavelmente PT, PSOL e PCdoB vão constituir uma oposição radical contra o novo governo. Agora há o novo Centrão que é formado por deputados de vários partidos, como PP, PR, PSD e PTB. É um bloco muito grande, que está muito próximo ao PMDB, partido que está no governo e que também tem um bom número de parlamentares. O nosso bloco, que tem 120 votos, tem o Democratas, PSB, PSDB e PPS, vai se manter em uma posição diferenciada. Mas acredito que o cenário é de integração nacional e que a maioria da casa tende a dar sustentação às medidas que se mostrarem necessárias para recolocar o país em um caminho de crescimento e desenvolvimento.”
Júlio Delgado (PSB) “Nós (PSB) já éramos oposição ao governo da presidente Dilma e hoje temos uma nota clara do partido que não indicou e não chancelaria nenhum nome no governo Temer, apesar de estarmos dispostos a ajudar o país. Nós não podemos apostar no ‘quanto pior, melhor’, para que no desastre nós tenhamos uma oportunidade, não. O PSB não aposta nisso, a gente vai ser colaborativo, esse é o espírito do nosso partido. Nós fizemos uma carta ao país dizendo que a redução do número de ministérios era importante, que a gente não faz parte dessa questão de presidencialismo de coalisão, de ‘toma lá, dá cá’, e que isso a gente podia colaborar sem reivindicar nenhum tipo de ministério.”
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Agricultura familiar Projeto de Lei que visava auxiliar o desenvolvimento rural foi vetado na Câmara Moisés Fialho agricultura familiar representa 84% de toda produção agrícola brasileira, segundo o último censo agropecuário realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano de 2006, em que 4,3 milhões de estabelecimentos estavam registrados. São classificados com agricultores familiares aqueles que produzem em até quatro módulos fiscais, medida que define o enquadramento de pequenas, médias e grandes propriedade, sendo que o trabalho deve ser exercido predominantemente pela família. Elas mantêm o domínio e o controle do modo de como produzir e consumir, sendo que grande parte da renda deste grupo advém das atividades econômicas do estabelecimento ou empreendimento. De acordo com gerente regional da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), Hildebrando Lopes, Minas Gerais tem 877.451 agri-
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cultores familiares, a Zona da Mata mineira tem 128.096 e o município de Juiz de Fora, 1.100 agricultores familiares. “Apesar de ocupar somente 24,3% das terras, a mesma agricultura é responsável por 38% do valor bruto da produção agropecuária brasileira, representando 74,4% das ocupações, ou seja, algo em torno de 12,3 milhões de pessoas vinculadas a este espaço produtivo”, comenta. A Emater-MG vem promovendo um intenso debate com secretarias de estado, ministérios, organizações da sociedade civil, representações de agricultores e movimentos sociais em torno de questões relacionadas ao desenvolvimento rural mineiro. A partir deste processo dialógico e de aproximação institucional, culminou com a definição de nove agendas estratégicas para as ações da Emater-MG nos próximos anos, sendo elas: cadeia de valor do café; cadeia de valor da bovinocultura; segurança hídrica e sustentabilidade ambiental;
produção de frutas; hortaliças e pequenos animais; comercialização e gestão; inclusão produtiva e erradicação da pobreza; juventude rural e sucessão na agricultura familiar; agroecologia; tecnologia e gestão da informação. Vereadores barram projeto
O Projeto de Lei 152/2015, criado pelo vereador Roberto Cupolillo (Betão-PT), propunha a criação da Política Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável da Agricultura Familiar (Pondraf) e a implementação do Plano Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável da Agricultura Familiar (Pladraf), visando orientar as ações do governo Estadual e Federal para o desenvolvimento rural sustentável, e garantia aos agricultores juiz-foranos uma maior participação na execução e no monitoramento das políticas agrícolas. A proposta foi vetada na Câmara por problemas orçamentários. O projeto agora será analisado pela da prefeitura.
Agricultura familiar representa maior parte da produção agrícola brasileira.
Setor fitness contorna crise e tem alta em 2016
Foto: Cleiton Ribeiro
Isabella Gonçalves
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crise tem causado preocupação aos empresários de mais diversos nichos, mas o setor de vida saudável, que normalmente é uma prioridade na rotina dos amantes de academias e esportes, não tem amargado a mesma queda. Em Juiz de Fora, as empresas estão expandindo suas unidades e novos restaurantes saudáveis inauguram a cada dia. A comerciante Thaís de Landa sempre procura seguir o estilo fitness em sua vida. “Eu tenho cortado outras despesas que considero dispensáveis, como a compra de roupas e sapatos ou o hábito de almoçar e jantar fora, dando prioridade à academia no meu orçamento mensal”, afirma. Para a empresária do ramo alimentar Milena Terrel, que apostou num delivery de comida saudável para necessidades personalizadas de alimentação, é necessário caminhar com cautela em meio a uma economia desequilibrada, especialmente
Mercado de suplementos cresceu 12% em 2015 em comparação a 2014
se a sua empresa é nova, como a dela, que conta com bons resultados alcançados de forna gradual, fato que ela atribui à fidelização de seus clientes. “Acho que um dos detalhes primordiais é manter um produto diferenciado que satisfaça a necessidade do consumidor de Juiz de Fora”, analisa Terrel. “Se nós
Foto: mda.gov.br/Divulgação
não construíssemos nosso diferencial, automaticamente seríamos descartados do mercado e, aí sim, a crise atinge o empresário que se mantém no ‘trivial’”. O seu negócio delivery já está em processo de ampliação, contando com um novo restaurante para os clientes que desejam comer fora.
Jogo de cintura
O personal trainer Angelo Erhardt também garante não sofrer com a crise e conta que seus clientes estão aumentando em meio ao momento de instabilidade. O educador físico acredita ainda que esse resultado esteja intimamente ligado com o fato de as pessoas trans-
formarem comportamentos saudáveis em um hábito de vida. “Cada vez mais as pessoas se preocupam com a saúde e tem a atividade física e a alimentação como prioridade em suas vidas”, aponta. A opinião do estudante de Economia Lucas Costa confirma essa ideia. Para ele, manterse saudável é uma das prioridades. Porém, o universitário ressalta que existem “concessões” para a crise. Quando necessário, Lucas opta pela substituição de alguns componentes de suas refeições e pelo corte de suplementos. O economista Fernando Agra explica que a tendência de consumo pode sofrer variações de pessoa para pessoa. “Quando seus empregos não estão ameaçados, eles têm uma condição de vida confortável, e, por isso, acredito que não precisem abandonar seu estilo de vida. Mas, para aquelas pessoas cuja situação é oposta, não acredito que seja possível mantê-lo. Vão dar prioridade a alimentos, vão pagar a energia e, quem sabe, deixar a academia para outro momento”, conclui.
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Especialista aponta possível estagnação econômica com aprovação do impeachment Para economista, Michel Temer não conseguirá promover recuperação até 2018 Lucas Guedes
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Especulação sobre uma possível melhora no cenário econômico brasileiro se intensificou desde que a possibilidade de afastamento da presidente Dilma Rousseff (PT) começou a circular em Brasília. Entretanto, diante do crescimento da dívida pública nacional, que já chega a 73% do Produto Interno Bruto (PIB), e de uma previsão de recessão de 3,8% para este ano, segundo cálculos do Fundo Monetário Internacional (FMI), o economista Wilson Corrêa acredita que dificilmente o vice-presidente Michel Temer (PMDB) conseguirá promover uma recuperação econômica antes de 2018. “Ainda é cedo para afirmar se a situação vai melhorar ou piorar, uma vez que o processo de impeachment foi aprovado na Câmara há poucos dias e, considerando as muitas etapas que estão por vir, não
sabemos que direção ele irá se intensificou. “Isso mostra tomar”, afirma o especialista. o quão difícil, embora não “Essa incerteza deve manter impossível, será a recuperaa oscilação do mercado fi- ção, caso Dilma permaneça no nanceiro durante algum tem- poder. O governo ainda terá po, mas é preciso aguardar a que lidar com o grave endiviconclusão damento de al“O desemprego para se ter guns estados, um panocomo Rio de deve aumentar nos rama políJaneiro e Rio próximos meses e tico mais Grande do Sul, claro, na e a inevitável não estamos vendo qual a lideste crescimento da renda” recessão derança e do próximo Wilson Corrêa do poder ano”, destaca. executivo Consideapresentará suas propostas rando a possibilidade de um para combater algumas ques- déficit de quase R$ 120 bilhões tões que se desenvolverem no orçamento da união para o nesse tempo”, diz. próximo ano, o especialista recomenda que a mesma cauRecessão tela das análises econômicas Corrêa lembra que o Mi- seja usada no orçamento dos nistro da Fazenda, Nelson brasileiros. “Por hora, nossa Barbosa, chegou a propor me- economia está ‘patinando’. didas de contenção de gastos Há um sinal de que a inflação públicos e auxílio aos entes deve cair, o que influenciará o federados, que ficaram de lado custo de vida para a populaà medida que a crise política ção, uma vez que a elevação
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Falta de legitimidade e desgaste do processo de impeachment poderá prejudicar vice-presidente
dos preços será mais lenta. Contudo, essa incerteza revela que nossa prioridade deve ser evitar o acúmulo de dívidas”, pontua Wilson Corrêa. “O desemprego deve aumentar nos próximos meses e não estamos vendo crescimento da renda, ou seja, não é o momento para gastos excessivos. O ideal é aguardar o re-
sultado do processo de impeachment, a estabilização desse conturbado cenário político e analisar se a economia está melhor, para aí então tomar qualquer decisão, sobretudo se for algo que deixe suas finanças vulneráveis, até mesmo porque a queda da inflação deverá influenciar positivamente a taxa de juros”, conclui ele.
Critt/UFJF procura interessados em desenvolver projetos
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Foto: Caio Condé/UFJF
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Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia (Critt) está à procura de professores e estudantes de graduação e pós-graduação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) para participar de projetos de desenvolvimento tecnológico para o mercado. Ao todo, são 27 demandas distribuídas em diversas áreas do conhecimento, principalmente Engenharias e Ciência da Computação. Os projetos visam promover o intercâmbio de conhecimento entre centros de pesquisa, empresas e inventores com a Universidade. A responsável pelo setor de Transferência de Tecnologia do Critt/UFJF, Débora Marques, ressalta a importância do diálogo entre Universidade e sociedade: “É uma chance de aplicarmos o conhecimento acadêmico no desenvolvimento de novos produtos, processos e/ ou serviços, ampliando seu va-
prática o que aprendem em sala de aula. “A inciativa pode partir também por parte dos próprios estudantes, porém a orientação de um professor na elaboração da proposta de trabalho, bem como durante o andamento do projeto, é obrigatória”, destaca ela.
Da teoria à prática
Centro intermedeia o atendimento às demandas tecnológicas do mercardo
lor para o consumidor e impulsionando a economia”. Ainda de acordo com Débora, após entrar em contato com o Centro, será marcado um atendimento com o professor para que sejam oferecidos mais detalhes sobre a demanda pela qual ele se interessou. “A partir daí, ele deve-
rá desenvolver uma proposta de trabalho, especificando o que precisará em termos de recursos humanos, materiais e financeiros”, explica. Débora ressalta ainda que participar da equipe técnica do projeto configura uma oportunidade para que alunos da instituição coloquem em
O professor do Instituto de Artes e Design (IAD) Ivan Santos já atuou como coordenador de vários projetos de desenvolvimento tecnológico, e ressalta a importância dessas inciativas para o processo de aprendizado dos estudantes. “É muito interessante para que os alunos possam ter um contato com o trabalho prático, além de ajudar a entender a realidade do mercado”. Santos diz ainda que os projetos podem ser muito relevantes para os professores da instituição universidade, já que auxiliam a compreender melhor o mercado do ponto de vista acadêmico e científico.
Satisfeita com o resultado da parceria com o Critt/UFJF e com o projeto realizado com intermédio do órgão, Márcia Rosely da Rocha conta que a oportunidade de atender a demanda tecnológica da empresa do seu marido, o Bar do Bigode e Xororó, surgiu por meio do Sebrae. “A entidade nos indicou ao Centro, pois estávamos com uma demanda de aprimoramento da identidade visual do bar e outra de elevar a qualidade nutricional do torresmo”, conta. Os professores interessados em coordenar projetos para atender essas demandas tecnológicas podem se inscrever pelo formulário de contato disponível no site www.ufjf.br/critt. O mesmo vale para as empresas e inventores independentes interessados em projetos de inovação tecnológica. O Critt/UFJF está localizado na 4ª Plataforma Tecnológica da UFJF, na Rua José Lourenço Kelmer, s/n, São Pedro.
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Food truck poderá ser regulamentado em Juiz de Fora
Projeto de lei está na Comissão da Constitucionalidade para ser analisado
Débora Alves
Foto: Débora Alves
se deve ao fato de que as pessoas têm, cada vez mais, se alimentado nas ruas, deixando de cozinhar em casa. Além disso, há uma associação do lazer com o “comer fora”. Para o empresário Clecio Pires, dono do food truck Expresso Tapioca, a grande vantagem em ter esse tipo de comércio é poder se locomover para diferentes lugares. Segundo ele, os alimentos da maioria dos trucks são artesanais, fator que aumenta a qualidade, agradando o consumidor.
O Projeto de Lei
Food Truck Yakissoba na Kombi, na rua Monsenhor Gustavo Freire, bairro São Mateus
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vereador Zé Márcio, do (PV), lançou projeto de lei para regulamentação dos food trucks no município de
Juiz de Fora. A proposta é a de normatizar questões como o uso do espaço público e manuseio dos alimentos.
Nos últimos dois anos, é considerável o aumento dos números de food trucks no país. De acordo com o Sebrae, isso
Questionado sobre o que o incentivou a criar o projeto de lei, Zé Márcio abordou o espaço utilizado pelos empresários. “É preciso garantir o uso correto do espaço público e a salubridade do produto, além de dar oportunidade a quem realmente quer e mereça explorar essa atividade”, afirma. Sobre as normas que ficariam instauradas caso haja a aprovação do projeto, Zé Mar-
Tempo seco em JF pode comprometer bem-estar Bruna Luz
Foto: Bruna Luz
Tempo seco ainda deve permanecer nos próximos meses
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outono é uma estação marcada pela temperatura mais amena e a baixa umidade do ar, favorecendo a proliferação de doenças. Portanto, é necessária atenção redobrada para alguns cuidados com o corpo, a pele e os cabelos.
De acordo com a pneumologista Maria Francisca Cabrini Xavier, o clima favorece a ocorrência de alergias, e ressalta: “As doenças mais comuns são as respiratórias, como asma, bronquite, sinusite, gripe e resfriado”. Para manter a saúde em dia, a
especialista adverte: “Evite ambientes fechados e retire tapetes e cortinas”. Uma alimentação saudável com frutas e vegetais também ajuda no fortalecimento do sistema imunológico. Segundo Maria Francisca, um umidificador e o hábito de limpar a casa com um pano úmi-
do também são boas medidas de prevenção. Além disso, é importante sempre lavar as mãos e manter ambientes arejados. Já a dermatologista Maria das Graças Moreira destaca: “A pele no outono já está castigada pelo verão, com excesso de sol e banhos como piscina e praia. Isto resseca a pele, chegando a desidratá-la”. De acordo com a especialista, a chegada de uma frente fria também gera um ressecamento na região que prejudica principalmente crianças, acentuando o quadro de dermatite atópica, que são “lesões em áreas de dobras como cotovelo e joelhos, levando a manchas brancas por todo corpo, que coçam bastante, chegando a ferir a pele”, explica a médica. Os cabelos também são afetados durante a estação, podendo ocorrer quedas. A médica recomenda evitar o uso de produtos químicos nos fios e utilizar um creme hidratante de vez em quando, uma vez que o
cio destaca a determinação dos números de lugares que poderão ser explorados na cidade, a licitação de um alvará para cada ponto (com duração de 1 ano), além do alvará para o veículo e para o manuseio dos alimentos. “Os carros não poderão ficar em frente a hospitais, escolas e órgãos públicos. Podem ser licenciados próximos, mas não frontais. Devem ter distâncias mínimas à faixa de pedestres e não atrapalharem a mobilidade urbana”, destaca. Marcos Barreto é proprietário do Food Truck “Yakissoba na Kombi” há oito anos e fala da sua visão em relação ao ao projeto: “acredito que alguns pontos têm que ser mudados e revistos, por não favorecer o empresário nem o cliente, como por exemplo, o horário de encerramento, que seria 22h.” O projeto está na Comissão de Constitucionalidade para ser analisado, depois passará pela Comissão de Urbanismo, Meio Ambiente e Trânsito e, por fim, irá para o Plenário.
excesso do produto é maléfico e pode desencadear doenças como a seborreia. A oftalmologista Dilourdes Eclair Silva Magalhães cita que, além do tempo seco, a estação também é marcada pela forte presença de ventos, o que contribui para o ressecamento dos olhos. Crianças, alérgicos e pessoas que fazem uso frequente de um computador são mais afetadas. Eletrônicos como celulares, tablets e computadores requerem atenção especial, uma vez que a luz dos aparelhos resseca os olhos e piscamos menos ao nos concentrarmos em algo. A luz do ambiente e o uso do ar condicionado agravam o problema. Para contornar a situação, Dilourdes sugere descansar a vista a cada 2h de uso e ensina um método: “Olhar para a frente como se estivesse olhando para o infinito e piscar, lubrificando os olhos”. Mas a médica adverte: “Não adianta também sair do computador e ir para o celular”.
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saúde
Campanha popular amplia esperança de vencer doença sem cura Jovens buscam na Tailândia tratamento alternativo com células-tronco Bruno Fonseca
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susto de ter um filho diagnosticado com uma doença para a qual não existe medicação assusta os pais. É uma árdua batalha que exige muito do paciente. O apoio da família e de amigos é fundamental nesta hora. Os mineiros, Gabriel Sabadin,17, e Vinícius Assis, de 22 anos descobriram na infância que nasceram com a Distrofia Muscular de Duchenne e buscam, na Tailândia, um tratamento experimental para aumentar a qualidade de vida. Distrofias musculares são doenças genéticas, ligadas ao cromossomo X, com evolução progressiva dos sintomas e sem cura. São cerca de 30 formas de
distrofia, sendo a mais frequente a Distrofia Muscular de Duchenne que ataca um em cada 3500 nascimentos do sexo masculino. Ela destrói os músculos transformando-os em gordura. A partir dos 4 anos, são perceptíveis as dificuldades da criança no andar e as quedas frequentes são rotineiras no dia a dia. Na adolescência, os danos podem ser ainda maiores, levando o portador a perder a capacidade de andar. Além das pernas, os movimentos dos braços também são afetados com o tempo, assim como as capacidades pulmonares e cardíacas. O professor David Feder, 58, médico e Coordenador
do Curso de Medicina da Faculdade de Medicina do ABC realiza estudos experimentais em camundongos para encontrar medicamentos que possam retardar a doença. Apesar de ainda não ter cura, os estudos sobre a doença vêm avançando. ‘’No Brasil, com a difusão das informações e melhora dos cuidados, temos observado um significativo aumento da sobrevida. No exterior, temos pessoas com a doença com 30 - 40 anos e a tendência é o progressivo aumento da sobrevida nos próximos anos, com a possibilidade de novos tratamentos que hoje estão em fase experimental”, explica.
Foto: Bruno Fonseca
Gabriel e sua família organizam campanha contra distrofia
solidariedade fortalece os laços e melhora a qualidade de vida que Gabriel e sua família continuem lutando para vencer a doença. ‘’A campanha começou há pouco mais de dois meses. Resolvemos fazer pela internet, porque já havíamos visto outras pessoas terem sucesso, e porque, temos uma rede social bem ampla. Temos recebido o pedido de pessoas para ajudarem na divulgação. Hoje, já alcançamos em doações, pouco mais da metade do valor que precisamos para o tratamento e a viagem. Estamos com quase R$ 80 mil’’, disse Max Sabadin. Outro caso semelhante é o de Vinícius Assis de Senhora dos Remédios (145 km Juiz de Fora) que foi diagnosticado com a doença aos 6 anos. Mesmo passando por sessões diárias de fisioterapia e hidroterapia, ele perdeu a capacidade de andar, devido a evolução da Distrofia Muscular de Duchenne. A campanha também foi realizada na internet e conseguiu atingir um valor muito acima do necessário em apenas quatro meses. “Parei de andar aos 14 e hoje preciso do auxílio da cadeira de rodas. Atualmente tenho 22 anos e estou no último ano do curso de ciências contábeis. Estou realizando esse tratamento para melhorar a qualidade de vida’’, explica Vinícius. Ele chegou no continente asiático no último dia 17 e após três dias teve a primeira aplicação com célula-tronco. O retorno ao Brasil será só no final de junho, após o término do procedimento. O tratamento é realizado desde 2005 pela empresa chinesa Beike Biotechnology com sede na Tailândia. O objetivo é regenerar as fibras musculares perdidas ou
Mais detalhes sobre a campanha de arrecadação na página Gabriel #AnjoGuerreiro no Facebook.
danificadas através do transplante de células-tronco que são injetadas por meio intravenoso nas áreas dos músculos afetados. O procedimento pode desacelerar a perda de massa muscular e aliviar os sintomas, além de trazer benefícios em termos de força, equilíbrio e rigidez. O avanço na medicina experimental e a difusão das informações vem possibilitando uma sobrevida para muitos portadores da doença no Brasil. Segundo David Feder, tratamentos para a doença já existem e estão em fase de testes. ‘’Há inúmeras opções de tratamento que demonstraram excelentes resultados em animais, mas que ainda foram pouco testados em humanos. Um exemplo são as novas medicações de correção do defeito genético’’, Apesar de ainda não ter cura, a Distrofia Muscular de Duchenne está longe de ser uma doença terminal. Vinícius e Gabriel mostram a importância de uma família unida e de nunca desistirem de ter uma vida melhor.
Foto: Arquivo pessoal
A família de Gabriel Sabadin está organizando uma campanha de arrecadação para fazer o tratamento na Tailândia. Além das doações, as pessoas que querem ajudar podem comprar uma camisa personalizada e também adquirir uma rifa que têm como prêmio uma camisa do Flamengo autografada pelos jogadores da equipe. Os pais de Gabriel descobriram a doença quando ele tinha 4 anos, após perceberem que o menino apresentava dificuldades para andar. Após irem ao ortopedista e nada de incomum ter sido encontrado, ele foi encaminhado para um neuropediatra. ‘’A doença era uma novidade, não sabíamos nada a respeito, nem as implicações que teria na vida do Gabriel e nas nossas. Depois do diagnóstico e de estudos por conta própria é que tomamos a real dimensão do que era a doença. Hoje, ele depende da ajuda de todos. Seus movimentos são muito limitados. Vivemos quase que em função dele‘’, afirma Max Sabadin, pai de Gabriel. Aos 17 anos, Gabriel tem uma vida normal. Estuda, vai ao shopping e se diverte como um adolescente qualquer. Devido à progressão da doença, os movimentos da perna ficaram muito limitados nos últimos tempos e há dois anos ele começou a ter o auxílio de uma cadeira de rodas. Problemas respiratórios também são comuns e a noite ele precisa de um aparelho respirador conhecido como BiPAP. O valor necessário ainda está longe do ideal, mas o carinho recebido de amigos, professores, familiares e pessoas desconhecidas dão forças para
Vinícius recebe tratamento experimental na Tailândia
região
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São João Nepomuceno: Consep e Divina Misericórdia pela prevenção às drogas Gabriel Oliveira
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ma simples pesquisa no Google pelas palavras “homicídio em São João Nepomuceno” mostra diversas reportagens relatando crimes seguidos, execuções em plena luz do dia e em lugares centrais da cidade. Em quase todos os casos, os envolvidos tinham algum envolvimento com drogas. Tal situação tem afastado o turismo da cidade, que fica a 65 KM de Juiz de Fora, e gerado questionamentos entre a população que se pergunta o que pode ser feito para reverter esse quadro. Afinal hoje são ri-
Foto: Gabriel Oliveira
xas de bairros rivais, mas amanhã as consequências poderão atingir pessoas que nada têm a ver com o tráfico. Diante deste cenário, que afeta cidades de todo porte, o Jornal de Estudo foi conhecer instituições que desenvolvem trabalhos não apenas na ressocialização, mas no sentido da prevenção: o Conselho Comunitário de Segurança Pública (Consep), que atua através de projetos e no apoio à sociedade, e a Associação da Divina Misericórdia, que alia religião Católica ao combate às drogas.
No Cantinho com Jesus as crianças aprendem o respeito à diversidade
Associação da Divina Misericórdia Eco da voz da sociedade Foto: Gabriel Oliveira
Consep trabalha em conjunto com a PM
O Consep trabalha apoiando a sociedade no recebimento de denúncias, acompanhamento de campanhas de combate às drogas e demais projetos promovidos pela sociedade, além de atos públicos, como desfiles cívicos e movimentos populares como procissões e eventos gerais. O apoio financeiro da prefeitura confere liberdade nas ações e projetos do Consep que, através de uma reunião mensal, desenvolve o planejamento que, ao ser aprovado pelos membros passa pelo comandante do 136º batalhão companhia da PM, com quem o conselho mantém parceria. Entre os projetos desenvolvidos pelo conselho está a formação de uma “rede de vizinhos monitorados” através do aplicativo WhatsApp, que consiste numa ligação telefônica entre a Polícia Militar e os determinados grupos, caso haja alguma ocorrência a PM já tenha um posicionamento rápido para onde deve se deslocar.
Anderson Amaral é Conselheiro em Dependência Química foi Presidente da Associação da Divina Misericórdia (ADM) da sua fundação, em 2004, até 2015 e considera de vital importância a religiosidade e o autoconhecimento para a prevenção e o combate às drogas. Seus trabalho é focado nas reuniões de apoio e encaminhamentos e também em atividades com as crianças, como o Cantinho com Jesus e grupos de Oração, além de coral e oficina de canto. Para Anderson, a religiosidade serve para que se reconheça a presença de Deus, em quem se pode confiar ter a esperança. Segundo ele, é fundamental fazer uma leitura sobre a própria vida. “Quando pessoa resolve parar o uso de drogas ilícitas, porém ainda não reconheceu a raiz do problema, facilmente voltará a consumir drogas.” Anderson explica que, além do autoconhecimento, é fundamental que seja trabalhado o relacionamento familiar da pessoa que busca se libertar da dependência. Na experiência dele, a etapa mais sensível se dá na ressocialização, quando o dependente não está mais na clínica porém ainda não tem uma ocupação. “É quando pode ocorrer uma queda e a volta à dependência química”. A ADM não tem nenhuma ajuda governamental e se sustenta unicamente de doações espontâneas. Através de eventos como almoços, saraus e outros eventos, como a Festa da Divina Misericórdia celebrada
Foto: Gabriel Oliveira
Anderson Amaral acredita na religiosidade e no autoconhecimento
pela Igreja Católica no primeiro domingo após a Páscoa. Ao longo de 12 anos de, a ADM já encaminhou 20 pessoas para instituições de referência na recuperação da dependência, como unidades da Fazenda da Esperança em Guarará e Pouso Alegre-MG, Guaratinguetá-SP e Teresópolis-RJ, além do Instituto Padre Haroldo em Campinas-SP e do centro de recuperação Resgatando Vidas, ligado a uma igreja evangélica de Juiz de Fora.
Prevenção através da Evangelização
O Cantinho com Jesus é considerado um trabalho de prevenção às drogas feito desde a primeira infância. Paula Itaborahy Soares é uma das voluntárias do projeto, que nasceu em 1998, e o considera muito eficaz, pois chama a atenção das crianças através da música e da dança, passando a mensagem de uma forma atrativa
com teatro, fantoches e brincadeiras voltadas ao tema abordado. Os membros do projeto Cantinho com Jesus se preocupam em acolher as crianças com cuidado especial, dando colo, carinho, atenção como se fosse um ente da família. Nas palavras de Paula: “No Cantinho com Jesus nós ensinamos valores e também temos o lema que é preciso não só deixar que a criança vá até Jesus, mas levar Jesus até as crianças.” Sempre é preciso pensar novos caminhos e soluções. Existem bons projetos como os abordados nesta matéria, porém há a necessidade que surjam muitos outros tanto no âmbito do combate quanto da reabilitação do dependente químico e para tal é preciso o apoio de toda a sociedade, tanto no desenvolvimento de projetos de prevenção quando no apoio para a ressocialização das pessoas que buscam um caminho da sobriedade.
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cultura
Juiz de Fora recebe a primeira Bienal do Livro Evento volta os olhos de editoras, escritores e público de todo o país para as produções literárias da região Gustavo Fonseca
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ventos culturais são de extrema importância para a difusão da produção artística de qualquer comunidade. A propagação da cultura através da organização de seus realizadores proporciona ao público um espaço de interação com as obras e seus criadores, transformando essa experiência em algo único. No Brasil, desde 1961 a Câmara Brasileira do Livro (CBL) reserva à literatura um espaço de destaque e se dedica à divulgação do gênero nacional e internacionalmente. Em 1970, promoveu a primeira Bienal do Livro de São Paulo, evento que se consolidou também em outros estados, como Rio de Janeiro, Minas Gerais e Amazonas. As Bienais cumprem o papel imprescindível de fomento à leitura e aquisição de conhecimento através da arte escrita. Em Juiz de Fora, a Bienal será organizada pela primeira vez entre os dias 14 e 19 de Junho. De acordo com a organizadora da iniciativa, Cristina Sena, da Signa Eventos, o obje-
tivo é promover o cenário da região. “Com a intenção de valorizar o público, os livreiros e os autores locais, queremos fazer com que o livro vire o grande tema debatido”, afirma. A professora e pesquisadora da Universidade Federal de Juiz de Fora, Leila Barbosa, acredita que a Bienal pode se tornar um instrumento para impulsionar a literatura na região. “Nós queremos lançar um olhar poético sobre a cidade, divulgar o acontece em termos de literatura e poesia por aqui”. À frente da Academia Juizforana de Letras, Leila destaca o pioneirismo dos autores da região e de suas organizações para o meio acadêmico e cultural do Brasil. “Pelo que representa para a literatura nacional, com nomes como Murilo Mendes e Pedro Nava, Juiz de Fora merecia estar na rota dos grandes eventos de literatura há muito mais tempo”, comenta. Fernando Franco, responsável pela Arco-Íris Livraria e Franco Editora, ressalta como esse tipo de evento também é
Olhe para os dois lados e atravesse Na Faixa! Hyrlla Tomé Você já conhece o coletivo Avenida Independência Música e Conteúdo? Uma galera da Faculdade de Comunicação da UFJF se juntou para divulgar a música autoral juiz-forana, produzindo conteúdos e criando ações para problematizar o cenário. Em 2015, o coletivo conseguiu recursos através da Lei Municipal de Incentivo à Cultura - Lei Murilo Mendes - para produzir a websérie Música Na Faixa, constituída por oito episódios, cada um protagonizado por uma banda ou artista
autoral da cidade. A seleção foi feita através de edital e todo o material enviado pelos artistas foi avaliado pela curadoria formada por Irene Bertachini (Coletivo ANA, e Coletivo Casa Azul), José Luis Braga (Graveola e o Lixo Polifônico) e Thiago Menini (Avenida Independência). Você confere a lista com as bandas contempladas aqui no Jornal de Estudo: Silva Soul/Caetano Brasil/Raí Freitas & U Bandão/ Laura Jannuzzi/Dois Nós/ Carlos Fernando/Uiara Leigo/Matilda.
Imagem: divulgação
importante para o público mais jovem. Para ele, o gosto pela leitura é adquirido cultivandose alguns hábitos, e isso só é possível quando se começa na infância. “A pessoa tem que gostar de ler. E isso não acontece aos vinte anos, aí já é tarde: tem que começar cedo, estimulando a leitura nas crianças”, lembra. A intenção da Bienal vai ao encontro da crença de Fernando, já que, segundo Cristina Sena, o espaço será trabalhado para se tornar um lugar de descoberta de livros e do prazer pela leitura. “Vamos fazer uma grande festa, unir e reunir todas as idades, como a leitura faz. Quem ainda não lê vai sair com vontade de pegar um livro e começar”. A estimativa dos organizadores é de que 60 mil visitantes passem pela estrutura de 2.600 m² instalada para receber os 45 stands que agruparão as mais importantes editoras, livrarias e distribuidoras do país, assim como empresas regionais e locais. Evanilda Mappa é uma
grande fã desse modelo de evento. Formada em Letras, a carioca que reside em Juiz de Fora sempre sentiu falta de uma atração desse porte na cidade. “Ano passado fui à Bienal do Rio de Janeiro, foi maravilhoso, tinha tudo o que você podia imaginar, saí encantada com a variedade de livros e autores que a gente pode ter contato”.
Retorno do Som Aberto à UFJF
e Fundamental que pretendiam participar de um movimento cultural promissor em um tempo de opções limitadas pelo Regime Militar. O projeto terá em sua estreia a presença de integrantes de bandas que tocaram no Som Aberto de quase quatro décadas atrás. E isso é só o começo. O palco será ocupado também por bandas de estudantes e servidores da UF, selecionadas através de edital.
Otávio Botti Repaginado. Assim pode ser definido o Som Aberto, festival de música criado nos anos 70 que será retomado em 2016 pela Pró-Reitoria de Cultura (Procult) da UFJF. A proposta agora é misturar diferentes atividades: da música às artes plásticas, da moda à literatura. A Praça Cívica será o palco do projeto que espera aproximar a sociedade da comunidade acadêmica e apresentar aos juiz-foranos os novos artistas da cena local. O Som Aberto foi idealizado pelo então presidente do DCE, Ivan Barbosa. A primeira edição aconteceu em 1974, com apresentação da banda A Pá no Instituto de Ciências Biológicas e Geociências. O projeto foi um sucesso. Tanto que os eventos em outros anos reuniram não apenas os alunos da UFJF, mas também estudantes do Ensino Médio
Ela guarda grandes expectativas sobre a realização da Bienal em Juiz de Fora. “Agora vai ser mais fácil, a gente vai poder ter acesso à literatura de qualidade em um lugar bem perto, na nossa própria cidade, vai ser bem melhor”, afirma, confessando já ter reservado ao menos três dias para aproveitar as atrações. Foto: Reprodução - Leila Barbosa/Facebook
Leila Barbosa (à esquerda) espera que essa seja a primeira de muitas Bienais realizadas na cidade
Imagem: divulgação
Para mais informações, acesse o site www.ufjf.com.br/procult.
Martiataka grava DVD comemorativo Hyrlla Tomé O Martiataka é uma das bandas de Juiz de Fora que movimenta a cena autoral da região. Já tocou em lugares consagrados,
como o Estádio Governador Magalhães Pinto, mais conhecido como Mineirão, em Belo Horizonte. Em 2016, a banda comemora seus 15 anos de formação. W. Del Guiducci (voz), Thiago Jim Salomão (baixo), Ruy Alhadas (teclados), João Paulo Ferreira (guitarra), Bruce Ramos (guitarra) e Victor Fonseca (bateria), integram a formação mais recente do grupo, que iniciou sua trajetória em 2001, durante uma festa universitária. Após quatro álbuns na carreira, gravaram o DVD Martiataka Ao Vivo - Tá Alto Pra C@#$%&*!!! no dia 29 de maio, no Cultural Bar. As 23 músicas programadas não foram suficientes para a plateia ávida por rock’n roll. O bis veio em forma de mais quatro composições, conta Del Guiducci. O DVD é realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura - Lei Murilo Mendes e tenta representar musicalmente todas as fases da banda.
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esporte
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Futebol amador em JF beira o profissional Pagamento por jogo para atletas é prática comum entre as principais equipes da cidade
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m todos os cantos do país, uma bola rola nos pés de alguém. Contudo, a paixão nacional virou negócio. Em alto rendimento, o profissionalismo domina o mercado. Mas, os amantes deste esporte, independentemente de fama e poder financeiro, não deixam de jogar. Por isso, existem as “peladas” e os torneios amadores, com premiações, troféus e tudo mais. Juiz de Fora possui a Copa Prefeitura Bahamas de Futebol Amador e a Copa Juiz de Fora de Futebol Amador, as duas maiores competições locais, que pelo destaque, atraem clubes e jogadores de cidades vizinhas. Com tanto prestígio, alguns times investem pesado para vencer. É quando o amadorismo dá lugar à competitividade e à busca pelo resultado do futebol profissional. O empresário Juninho Carrumba patrocinou o campeão da edição 2013 da Copa Bahamas, o Tô Maluco, e hoje está apoiando o Dominados. O empresário é incisivo ao dizer que quem não investe não consegue chegar nas finais: “Na Bahamas, se não gastar, não ganha.
Invisto por amor ao esporte e pelo marketing que é gerado quando o time chega nas finais. A exposição da marca é muito grande e a repercussão é sempre positiva”. O zagueiro e atual capitão do Chapadão, João Júnior, de 33 anos, já atuou profissionalmente como jogador. Vestiu as camisas do Tupi, América-MG e URT e hoje defende o time do Dom Bosco, mas confirma que já recebeu para atuar na várzea: “Esses valores são combinados previamente. Eu já recebi cerca de R$150 por partida, mas, hoje em dia no Chapadão, a gente não recebe mais. Só o que rola é um churrasco e uma cerveja no pós-jogo”, revela. Geninho, técnico e dono do Chapadão, atual vice-campeã da Copa Prefeitura Bahamas, reitera que não utilizam mais dessa prática: “Hoje, nosso time é de amigos, mesmo. Desde a saída do Seu Edvaldo, que bancava alguns jogadores, nosso time é formado por amigos, mas na época, alguns recebiam cerca de R$100 por jogo”. O atual campeão da competição, Cruzeirinho, da Vila
Ideal, paga ainda mais por seus atletas, e ainda “contrata” jogadores de outras cidades para reforçar seu elenco. É o caso de João Batista, atacante de Três Rios-RJ e técnico em projetos de vidros temperados. Ele afirma que essa prática não é exclusiva do futebol juiz-forano: “Combina-se o valor, dependendo do atleta. Eu, por exemplo, não saio de casa por menos de R$450. A primeira vez que recebi para jogar foi em Mar de Espanha, pelo Kafofo, onde ganhava R$130 e fui campeão. Depois, passei pelo Ribeiro Junqueira, de Leopoldina; Juventude, de Muriaé; Matiense, de Matias Barbosa; e pelo Cruzeirinho, de Juiz de Fora”. Destaque da final da Copa Bahamas de 2015, o lateral-direito Lucas Vianna também já jogou profissionalmente e hoje ganha para atuar no futebol de várzea: “Quando jogo no amador, recebo um valor combinado, no Cruzeirinho, ganhei R$300 por jogo”. Já quem vive o esporte pelo amor, acha injusto o pagamento de atletas dessa maneira. João Batista de Freitas, o Ba-
Foto: Crédito
Guilherme Fernandes
Cruzeirinho, campeão adulto da Copa Prefeitura Bahamas 2015
tista, líder do Guaporé do Bairro São Pedro: “Se não tivesse taxa para inscrever no campeonato ficaria até mais fácil para manter, mas o meu time é de amigos que têm o prazer de jogarem juntos. Cada um dá um pouco e, assim, conseguimos o dinheiro necessário. Não acho justo o pagamento de atletas, mas entendo que é muito difícil controlar esse tipo de prática”, lamenta. O presidente da Liga de Futebol de Juiz de Fora, que organiza as competições junto
Touchdown juiz-forano na Liga Fluminense
à Secretaria de Esporte e Lazer da Prefeitura, deixa claro que o regulamento não proíbe esta prática: “O regulamento apenas se detém no formato de disputa, premiações e questões disciplinares. Realmente, ocorre de alguns times pagarem seus jogadores, mas aceita quem quiser e paga quem pode. Infelizmente, é notório que equipes de comunidades que não podem pagar levam desvantagem, mas o futebol é uma caixa de surpresas e nem sempre vence o mais forte”.
Thiago Viana
Foto: Tales Rodrigues Faria
Equipes de Juiz de Fora disputam primeiro clássico oficial
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futebol americano é um dos esportes que mais cresce no país e os brasileiros já representam a terceira maior audiência da Liga dos Estados Unidos de Futebol Americano profissional (NFL). Além do grande número de telespectadores, a modalidade tem cada vez mais praticantes no Brasil. Além do
Campeonato Brasileiro, há varias ligas regionais. Uma delas é Liga Fluminense, na qual os dois times juiz-foranos, JF Mamutes e JF Red Fox, participam pela primeira vez em 2016. No dia 15 de maio, no campo da Faculdade de Educação Física da UFJF, Raposas e Mamutes se enfrentaram pela competição, em jogo que mar-
cou o primeiro confronto oficial entre as duas equipes. Cerca de 700 pessoas prestigiaram o jogo e fizeram muita festa na arquibancada. Dentro de campo, os times corresponderam à empolgação dos torcedores e fizeram um confronto muito intenso. Após empate em 14 a 14 na primeira etapa, o JF Mamutes se impôs no segundo tempo e venceu por 28 a 21.
Origem e desafios
O Red Fox foi a primeira equipe de futebol americano na cidade. Tudo se iniciou no fim do ano de 2007, quando um grupo de amigos apaixonados pelo esporte começou a marcar “peladas” com a bola oval na UFJF. No ano, seguinte o time foi fundado. Nessa trajetória, houveram alguns hiatos, mas desde o fim de 2014 a equipe se reúne para treinar de manei-
ra constante. Gabriel Coelho Silva, 25, é um dos jogadores mais antigos das Raposas. Ele conta que apesar da seriedade que encaram o esporte, ainda há muitos desafios que eles buscam superar. “A parte financeira e a falta de tempo para treinar durante a semana são as grandes dificuldades”. Segundo Gabriel, o principal objetivo neste momento é equipar todo o time, já que os atletas ainda jogam sem equipamento profissional. “Tudo é muito caro. Só um bom capacete, por exemplo, custa em torno de mil reais, além das proteções e chuteiras específicas”, explica o jogador. Já o JF Mamutes é um time mais recente, mas não menos organizado e apaixonado pelo futebol americano. Além de um bom número de seguidores fiéis, o Mamutes conta com um elenco de 62 atletas e até com
cheerleaders. De acordo com o presidente da equipe, Laércio Azalim, embora com pouco tempo de atividade, os Mamutes buscam parceiros para profissionalizar o time e possibilitar um melhor suporte técnico aos jogadores. “Objetivo é conquistar o nosso espaço, na medida em que o esporte cresce no Brasil, e do que a gente pode oferecer de contrapartida aos nossos investidores”. Para a formação de novos jogadores, foi criado o projeto Mamutes Jrs., onde adolescentes de 12 a 17 anos interessados em aprender a modalidade poderão compor o elenco de base. “A intenção é fortalecer a equipe com reposição de atletas e ensinar a prática do futebol americano”, destaca o presidente, acrescentando ainda que há a possibilidade de fundar uma equipe feminina.
esporte
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Esporte local enfrenta dificuldades JF Vôlei busca alternativas e tenta se adaptar à realidade do mercado para captar recursos Naiara Neves
FOTO: GABRIELA REIS
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JF Vôlei entra em qua- pecção gere resultados no que dra para tentar captar se refere à captação de insumos recursos financeiros necessários. “Notamos que essa que permitam à equipe man- dificuldade é, também, devido ter o projeto e disputar a Su- a aspectos culturais, tendo em per Liga 2016/17, competição vista que hoje, na nossa região, para qual já tem vaga garan- temos a monocultura esportitida após a conquista da Se- va, ou seja, as pessoas tendem letiva contra o a consumir soMaringá Vôlei, mente um tipo “Temos no final de marde esporte, que ço. No percurso viabilizado outras no caso é o futepara sua sexta ações de captação” bol”, afirmou. participação no A alternatiHeglison Toledo torneio, que é va encontrada um dos principara sanar uma pais campeonatos de voleibol dívida de aproximadamente R$ do mundo, o grupo encontra 70 mil com a diretoria do time obstáculos, sobretudo finan- foi usar o crowfounding, um ceiros, que podem excluí-los modelo de arrecadação focado da próxima edição do evento. em financiamento coletivo, mas O supervisor da equipe, He- outras estratégias também vem glison Toledo, explica que, ape- sendo pensadas. “Temos viabisar do grupo ser bem recebido lizado outras ações de captação, pelo empresariado local, ainda como a implantação do ‘Sócio há dificuldade para que a pros- Torcedor’, um projeto inova-
Time JF Vôlei dá inicio a campanha de financiamento coletivo; equipe garantiu vaga para Superliga 2016/2017
dor, principalmente do ponto de vista do voleibol; e, para a próxima temporada, tentaremos desenvolver outros meios que fogem ao patrocínio tradicional e direto”, revelou Toledo. A busca por patrocínio esportivos na cidade é um desafio não só para o voleibol, mas
também vem sendo enfrentado em outras modalidades, como a corrida de rua. A gerente de Marketing da Fibratech/VidAtiva Consultoria Esportiva, Letícia Moraes, explica que existem três razões para decisão de investimento em apoio. A primeira é quando a empresa quer
Giovane Gávio revela experiências e avalia esporte
associar a sua marca a um estilo de vida saudável, ligada ao bem estar; e a segunda quando ela opta por um “naming rights”, que, no caso da corrida de rua, é colocar o nome da marca como o nome da competição em si; ou quando encontram apoiadores que fazem parcerias e permutas. Moraes aponta ainda que a maior dificuldade é quando se trata de atrair novos apoiadores. “Muito dos patrocinadores que a gente tem esse ano são os que já nos apoiaram em eventos anteriores, pois fazemos uma manutenção dessas parcerias. Hoje, o maior desafio é atrair outras empresas para investir nesse mercado, visto que os empresários querem investimentos com retorno rápido, enquanto a modalidade têm um efeito de posicionamento de marca, não necessariamente é uma ação que vai gerar resultados imediatos”, ressalta.
Bruna Luz, Bruno Marangon e Naiara Neves
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icampeão olímpico de vôlei, o juiz-forano Giovane Gávio representou o país ao ser o primeiro brasileiro e segunda pessoa a receber a tocha olímpica durante o revezamento, na Grécia, no dia 21 de abril. O evento marcou o início dos Jogos Olímpicos Rio 2016. O ex-jogador recebeu o fogo das mãos do campeão mundial de ginástica artística, o grego Eleftherios Petrounias. Confira a entrevista exclusiva do Jornal de Estudo (JE) com Giovane: JE: O que significou, para você, ser o primeiro brasileiro escolhido para carregar a tocha olímpica? Giovane Gávio: Foi uma honra. Difícil até dizer o que senti quando recebi a chama olímpica e comecei a correr com a tocha. Foi um momento mágico, uma sensação maravilhosa, foi um momento histórico, inesquecível e de muita alegria. Queria que durasse mais, é tudo muito rápido. Lembro de cada minuto, de cada segundo e vou guardar isso comigo para sempre.
JE: Você acha que a cidade de Juiz de Fora tem uma boa estrutura para a formação de atletas de ponta, como é o seu caso? Giovane Gávio: Acho que Juiz de Fora tem muitos talentos, assim como em todo o Brasil. O país tem muito potencial esportivo. Muitas vezes, o que falta é oportunidade, estrutura, e o esporte sempre perde muito por causa disso. Mas vem melhorando e eu espero que, depois dos Jogos, o Brasil possa crescer ainda mais nesse lado da prática esportiva. Somos um país esportivo, não é preciso pensar muito para lembrar de grandes nomes de várias partes, de vários estados, de todas as partes do país. JE: Sob outra análise, a cidade também teria potencial para ser sede de mais eventos esportivos? Que tipo de mudanças seriam necessárias para isso?
Giovane Gávio: Para ser sede de eventos importantes, nacionais, internacionais, é preciso ter estrutura. Juiz de Fora é uma daquelas cidades que todo
mundo gosta, por suas características, o povo é educado, hospitaleiro, recebe a todos muito bem e isso é muito importante também. Estrutura é fundamental, não apenas instalações, como arenas, ginásios, mas também toda a questão de hotelaria e tantos outros detalhes. Para isso, é preciso investimento, estimular empresários e marcas a acreditar nesse potencial. Recentemente, a cidade recebeu uma final de uma importante competição de futebol. Nos últimos anos, vimos a equipe de vôlei disputando a Superliga. Juiz de Fora já recebeu outros campeonatos, como de vôlei de praia. Enfim, é uma cidade que gosta de esporte e pratica esporte. JE: Uma participação de destaque nos Jogos Olímpicos contribui em que medida para a carreira de um atleta? (Não só a nível pessoal, mas em relação à obtenção de patrocínios e ganho de premiações).
Giovane Gávio: Disputar os Jogos Olímpicos é o auge para qualquer atleta de qualquer
FOTO: Rio 2016/André Luiz Mello
O ginasta grego Petrounias entrega chama a Giovane Gávio
modalidade. É o maior evento esportivo do planeta, o mundo para e assiste. Estar nos Jogos marca muito, mas uma medalha eterniza o atleta, não apenas pessoalmente, mas publicamente. As empresas querem se associar a projetos sérios, produtos vencedores, é isso que buscam, imagens positivas ou com conteúdo. É claro que um campeão é mais visado, que um projeto com bons nomes atrelados são mais interessantes aos olhos de mídia e empresas, mas acho que tudo que é sério e feito com paixão e profissionalismo merece apoio e respeito. Não é vence-
dor só aquele que ganha uma medalha, o esporte não é feito de vencedores ou vencidos, é feito de exemplos, de dedicação, de luta e superação. JE: Qual a sua expectativa a respeito da organização do evento? E em relação ao desempenho da delegação brasileira? Giovane Gávio: As melhores possíveis. Estou vendo os jogos por um ângulo diferente, da gestão, da organização do evento e aprendendo muito, descobrindo coisas novas a cada dia, vendo o quanto é trabalhoso organizar um evento desse tamanho.
ensaio fotográfico 20
JE
Jéssyka Prata
Arthur Veloso
Matheus Brum
Bruno Cania
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Danilo Pereira
Moisés Fialho
O que tem na sua mochila? Os objetos que carregamos conosco diariamente dão pistas sobre nossos hábitos. Abrir a mochila para as lentes do fotógrafo é contar a história do cotidiano através de itens que julgamos indispensáveis no dia a dia. Neste ensaio, somos convidados a explorar personalidades tomando como partida o inventário particular do estudante. Geszilene Oliv
eira
Fotos: Hugo Alessi e Pedro Henrique Rezende