JORNALDE
ESTUD Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação da UFJF | Juiz de Fora, 6 de Setembro de 2017
Foto: Christinny Garibaldi
Mulheres ainda sofrem com falta de apoio na prática de esportes >>> P. 16
Pesquisa aponta que só 35% das vítimas de violência doméstica procuram a justiça >>> P. 10
Polêmica: uso de verba de empresas para financiar campanhas volta ao debate Sociedade
Alunos da UFJF enfrentam rotina de pressão e ansiedade >>> P. 13
Tecnologia
Cidade
Foto: Bárbara Braga
Foto: Letícia Silva
Foto: Tatiane Carvalho
Nova Comunicação
Ambulantes Noturnos
Protótipos veiculares
Youtubers mudam a forma de comunicação para conquistar os jovens.
Uma atividade que parece simples, mas que é cercada de dificuldades e desafios.
Estudantes da UFJF constroem carros para participar de competições.
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Opinião
SETEMBRO | 2017
Editorial
D
e acordo com o dicionário, avanço pode ser definido como a abertura de uma nova perspectiva para a solução de um problema. O avanço tecnológico dos universitários, por exemplo, os leva a desenvolver novos materiais e equipamentos para criar um carro de corrida. Para avançar no comércio, lojistas organizam eventos e ações para atrair os consumidores. Estamos avançando diariamente a fim de alcançar nossos objetivos, mas, enquanto sociedade civíl, esse avanço caminha muito mais lentamente. Apresentamos problemas sociais que escancaram uma realidade vergonhosa e preocupante. Uma mulher é estuprada a cada 11 minutos no Brasil. De acordo com o Atlas da Violência divulgado em julho, em apenas um ano, 31.264 jovens foram assassinados no país. A cada cem pessoas mortas violentamente no Brasil, 71 são
negras. O cenário político do país não atende às demandas da maior parte da sua população. A crise está estabelecida e os jovens, que carregam as expectativa para o futuro da nação, crescem em um cenário de incerteza e instabilidade que não os permite imaginar esse papel revolucionário. Quanto mais se perde a esperança em uma mudança partindo de instituições ou até mesmo de mobilização popular, mais se buscam soluções individuais. Pessoas passam a acreditar em uma solução ligada à autoproteção, tentam sempre garantir o seu e, depois, quanto tiver tempo - se sobrar tempo - pensam no próximo. Comunidade, harmonia e comunhão são, ultimamente, termos mais teóricos do que práticos. Esse individualismo, muitas vezes, é um dos responsáveis pelo não engajamento em causas sociais e, com isso, menos essas causas são sentidas. Entra-se em um ciclo que dificulta o avanço humanitário. Mesmo
que se concorde com o que é defendido por um certo movimento, a descrença na luta social, faz com que o pensamento não seja disseminado. Hoje em dia é comum encontrar pessoas que usam a internet e, principalmente, as redes sociais como veículo para discursos opinativos, porém, a manifestação efetiva ainda parece pequena frente ao número dos que se apossam do rótulo. Apesar das causas terem, hoje, mais visibilidade e de serem mais representadas pelas mídias do que eram há poucos anos, o resultado disso no cenário do nosso país não é tão notado. Os números da violência e da desigualdade continuam alarmantes. Vivemos em uma sociedade que busca as mesmas causas há vários anos. É uma luta constante que avança a passos muito curtos. A solução para essa situação não é simples ou rápida. Ela depende de um
esforço conjunto para que se perceba que não é possível mudar uma realidade sozinho e que as maiores revoluções não partiram de indivíduos isolados, mas sim de um povo unido. É importante que se busque esse avanço, que se mantenha a mente aberta para as diferentes visões de mundo e que não se esqueça que, por mais que seu futuro individual esteja de alguma forma garantido, não vivemos sozinhos e somos diretamente afetados pelo ambiente no qual estamos inseridos. Fazer desse ambiente mais agradável e sadio depende, principalmente, de empatia. De olhar para notícias e dados, como os anteriormente citados, e perceber que, mesmo que não façam parte da sua realidade ou que você não se encaixe nessas estatísticas, eles refletem o que as pessoas que estão ao seu redor passam e não podem ser ignorados.
Artigo
A virtualidade das relações sociais Carolina Larcher
A
o mundo e a tomar uma posição de empatia sobre as pessoas. Fromm não critica o valor do consumo que é essencial para o ser humano, mas sim o consumismo, prática decorrente do vazio existencial, que procura fugir da fragmentação pessoal através do ato de obter bens materiais. “Consumir apresenta qualidades ambíguas: alivia ansiedades, porque o que se tem não pode ser tirado; mas exige que se consuma cada vez mais, pois o consumo anterior logo perde a sua característica de satisfazer”. De fato, as tecnologias solucionam várias adversidades que não eram supridas apenas pelo telefone ou não poderiam acontecer pessoalmente. Parentes e amigos distantes se falam todos os dias e conseguem ter acesso ao cotidiano um do outro através de fotos e vídeos. Pessoas com interesses em comum agora são capazes de se encontrar e conversar facilmente pela web. No trabalho, também são aplicadas videoconferências como uma ferramenta integrada a empresas para realizar reuniões e planejamentos. Por outro lado, se cobra o imediatismo sobre cada resposta ou acontecimento. Hoje, já não nos cabe dizer que a realidade virtual é apenas uma ferramenta que facilita o acesso a arquivos ou informações. Elas se tornaram parte das relações sociais como um todo. Questões importantes são resolvidas por WhatsApp, conversas entre amigos se desenrolam por Facebook enquanto curtem postagens no Instagram. Há também pessoas que
se conhecem e criam laços através da internet por um longo tempo. Junto das novas tecnologias surge a marca atual do entreterimento, os youtubers, que possuem canais próprios e fazem conteúdos com total liberdade, discutindo filosofia, religião, militância e assuntos corriqueiros. Os inscritos de cada canal ganham seus nomes próprios de fãs e acompanham cada vídeo postado pelo ídolo. O conteúdo também se estende pelas redes sociais, onde são trocadas ideias e é exposta parte da vida pessoal de cada um. Todos estão conectados o tempo todo. Por um lado, nunca houve tamanha aproximação entre o criador de um trabalho e seus admiradores, mas, por outro, cresce um sentimento de perseguição e invasão de
privacidade. Ao mesmo tempo em que as relações se expandem, as pessoas passam a ser mais individualistas. Os internautas se fecham em seu local físico e entram em um mundo que é coberto por irrealidades. As imagens passadas pelos perfis de redes sociais são superficiais e costumam demonstrar uma realidade que não existe, enquanto quem as observa se sente mal por não possuir essa felicidade. É importante percebermos que, ao se falar de relações entre humanos, nada deve ser generalizado, porém é preciso que façamos uma autocrítica sobre o assunto. Com o passar do tempo, a sociedade se modifica, mas, como defende Bauman, nossos valores e essência não devem ser perdidos e sim reinventados. Foto: Carolina Larcher
s tecnologias são a marca da geração atual e inegavelmente vêm modificado as relações sociais ao longo dos anos. Na última pesquisa TIC Domicílios de 2015, realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação, dados já apontavam que 58% da população são usuários de internet no Brasil. Substituímos, no cotidiano, a interação pessoal pelos encontros virtuais. Segundo Bauman, vivemos uma modernidade líquida, onde os vínculos passam por um momento de frouxidão e tornam-se descartáveis. Uma de suas mais famosas frases é que “as relações escorrem entre os dedos”. Comentários são visualizados e compartilhados pelo twitter sem que as pessoas se conheçam, porém fazem parte da diversão passageira de quem navega o site. Temos relacionamentos instáveis, acostumados com o mundo virtual e com a facilidade de “desconectar-se”. Ao mesmo tempo se popularizam aplicativos de relacionamento nos quais os parceiros são escolhidos de acordo com um perfil. A sociedade moderna busca por uma sucessão de reinícios. O pensador Erich From, em sua obra “Análise do Homem”, considera a história da humanidade dentro do embate entre o “Ser” e o “Ter”. Segundo ele, o “Ter”, representa o desejo pela posse material, que procura usufruir ao máximo uma dada coisa, para então trocá-la por outra mais atrativa e nova. Essa perspectiva objetificada das relações nos impede de ter uma visão global sobre
Expediente Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora Publicação produzida pelos alunos do 6 periodo do curso de Jornalismo integral para a disciplina Técnica de Produção em Jornalismo Impresso. o
Reitor: Prof. Dr. Marcus David Vice-Reitor: Profa. Dra. Girlene Alves da Silva Diretor da Faculdade de Comunicação: Prof. Dr. Jorge Carlos Felz Ferreira Vice-Diretora da Faculdade de Comunicação: Profª. Drª. Marise Pimentel Mendes
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Coordenador do Curso de Jornalismo Integral: Profª Ms. Eduardo Leão Chefe do Departamento de Metódos Aplicados e Técnicas Laboratoriais: Profa Dra Maria Cristina Brandão de Faria Professoras Orientadoras: Profª. Drª. Janaina de Oliveira Nunes Profª. Drª. Marise Baesso Tristão Repórteres: Alice Xavier, Ariadne Bedim, Bárbara Braga, Bárbara Delgado, Carolina Larcher, Christinny Garibaldi, Érica Vicentin, Ezequiel Florenzano, Isadora Gonçalves, Juliana Dias, Letícia Silva, Pedro Augusto, Sabrina Soares, Tatiane Carvalho.
Edição e Diagramação: Isadora Gonçalves Carolina Larcher Monitoria: Leticya Bernadete Ruth Gonçalves Tiragem: 1.000 exemplares Endereço: Rua José Lourenço Kelmer, s/n, Campus Universitário - Bairro São Pedro 36036-900 Telefones: (32) 2102-3601 / 2102-3612
Política
2017 | SETEMBRO
Partidos tradicionais enfrentam desconfiança Partido Novo chega a Juiz de Fora propondo ideias liberais para se aproveitar da crise das instituições representativas
Pedro Augusto Figueiredo
do Novo. Segundo informações do site, é formado por “cidadãos insatisfeitos com o montante de impostos pagos e a qualidade dos serviços públicos recebidos”. A organização existe desde 2011, apesar de só ter atendido às exigências legais para o registro no Tribunal Superior Eleitoral em setembro de 2015, podendo então ter filiados e lançar candidatos a cargos eleitorais. Nas eleições municipais realizadas em 2016, a sigla conseguiu eleger vereadores em quatro capitais estaduais: Porto Alegre, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo. O Novo se apresenta como um partido liberal, defensor de maior autonomia ao indivíduo e da redução das atribuições do Estado. “No âmbito municipal, se nós pegarmos o planejamento das cidades, que normalmente são divididas em bairros comerciais, industriais e residenciais, isso não é atribuição da prefeitura. Nós acreditamos que ninguém melhor que o padeiro, por exemplo, para definir o melhor local para instalar sua padaria. A prefeitura deveria se limitar a garantir que a instalação de comércios, indústrias e residências não afete o direito de propriedade do outro”, exemplica Bernardo Santos, presidente do Diretório Estadual de Minas Gerais do Partido Novo. Segundo a cientista política Helena da Motta Salles, apesar do nome do partido, essa ideologia não tem nada de nova. “A ideia de que o melhor governo é o que menos governa, por exemplo, está lá em Locke, no século XVII”, afirma, se referindo ao pensador britânico considerado o pai do liberalismo. De acordo com Helena, não há nenhum problema que essas ideias sejam defendidas no ambiente democrático em que vivemos e que façam parte da disputa na arena política. “O problema, a meu ver, é que num país marcado por profunda desigualdade, acho que o Estado se recolher e deixar que o mercado resolva as questões é deixar a ala mais fraca da sociedade à própria sorte”, opina a cientista política. Para ela, seria papel do Estado promover políticas públicas que busquem a justiça social e minimizem os problemas existentes na sociedade. Mesmo com o programa partidário do Novo definido em torno das ideias liberais, o cientista político Fernando Perlatto enxer-
Novo pode lançar candidatos a prefeito e vereador em Juiz de Fora nas eleições municipais de 2020 O lançamento de candidatos do NOVO para os cargos de prefeito e vereador em Juiz de Fora nas eleições municipais de 2020 está condicionado ao desempenho da sigla na cidade nas eleições federais de 2018, afirma o presidente do Diretório Estadual de Minas Gerais do Novo, Bernardo Santos. “A gente quer levar em consideração os resultados das eleições em 2018, assim como o apoio e as filiações, para decidir quais cidades participarão da eleição no âmbito municipal em 2020”, diz. Segundo ele, esse procedimento é adotado para alcançar maior eficácia nas ações do partido. Atualmente, a estratégia inicial do partido na Zona da Mata é de divulgação. “Nosso objetivo é tornar o partido conhecido e, consequentemente, atrair apoiadores que possam contribuir com o Novo, seja com a doação do seu tempo como voluntário ou através da doação em dinheiro”, afirma o líder do núcleo do partido na Zona da Mata, Frederico Miana. De acordo com ele, a contribuição dos apoiadores e filiados é fundamental para a manutenção do partido, já que o Novo não utiliza recursos do fun-
do partidário. Hoje, o partido conta com 27 filiados em Juiz de Fora, conforme dados fornecidos pelo Diretório Estadual de Minas Gerais. Para divulgar o Novo na Zona da Mata, o núcleo do partido na região promove apresentações para grupos de 15 a 50 pessoas, além do projeto “Novo na rua”, em que os filiados e apoiadores vão às ruas para explicar as ideias e os princípios da sigla. Apesar das ações desenvolvidas na cidade, o partido não conta com um espaço físico em Juiz de Fora. Para que isso aconteça é necessário que a cidade seja autosustentável: “Como nós pregamos uma gestão eficiente, as contribuições dos filiados de determinada cidade tem que suficientes para pagarmos as despesas do diretório”, conta Frederico. De acordo com ele, é necessário que uma cidade tenha entre 150 e 200 filiados para que a criação do diretório municipal seja viável. Com a ausência do diretório municipal, os filiados e apoiadores do Novo em Juiz de Fora se reúnem em um bar no bairro São Pedro às terças-feiras à noite.
Foto: Divulgação / Novo
Nos últimos anos, os partidos políticos tradicionais não têm tido vida fácil no Brasil. O primeiro sinal de insatisfação veio em junho de 2013, com as manifestações que inicialmente reivindicavam a redução na tarifa de ônibus, mas que logo se tornaram lugar para demandas e protestos diversos contra a classe política. Nas eleições presidenciais do ano seguinte, apesar da disputa acirrada entre Dilma Roussef e Aécio Neves, as abstenções e os votos brancos e nulos somaram 29% do total, o maior índice desde as eleições de 98, em que Fernand Henrique Cardoso foi reeleito. Em 2015 e 2016, a Operação Lava-Jato revelou que a corrupção é algo institucionalizado no país e prática comum dos mais diversos partidos e políticos, à esquerda e à direita. A população voltou às ruas para protestar no mesmo ritmo e a rejeição aos políticos atingiu números impressionantes. Segundo pesquisa divulgada pelo Ibope no final de julho, o governo de Michel Temer, tem apenas 5% de aprovação da população, o menor índice desde 1986. “Como no Brasil existe um desencanto e um descrédito em relação à política, é muito frequente que as pessoas que querem ingressar na vida pública se apresentem como não fazendo parte desse universo”, afirma a cientista política e professora da Universidade Federal de Juiz de Fora, Helena da Motta Salles. O atual prefeito da cidade de São Paulo, João Dória, é um exemplo recente dessa prática. Durante a campanha, ele se apresentava como um gestor e não como um político, mesmo sendo o candidato do PSDB, um dos partidos mais tradicionais no Brasil Para o cientista político Fernando Perlatto, os partidos tradicionais estão “degringolando” não apenas no Brasil, mas ao redor do mundo. “Há uma crise das instituições representativas. O Trump venceu as eleições nos Estados Unidos praticamente contra seu próprio partido. Na França, os dois partidos que constituíram em grande medida a democracia francesa nos últimos anos, o Socialista e o Republicano, ficaram de fora do segundo turno”. Diante desse cenário, “há a emergência de novas forças políticas à direita e à esquerda”, completa Perlatto. No Brasil, uma das iniciativas que se conslidaram nesse contexto é o Parti-
Evento de apresentação do Novo em Juiz de Fora realizado no último dia 22 no Constantino Hotel
ga que o consenso no partido e em outros movimentos surgidos a partir das manifestações de 2013 não acontece através da ideologia. “O Novo e esses movimentos, como o MBL (Movimento Brasil Livre), por exemplo, menos do que uma idelogia que os unifique, têm em comum um antipetismo muito forte”, avalia.
Manifestações
O MBL e o Vem Pra Rua foram duas or-
ganizações que ganharam destaque e popularidade nas manifestações a favor do impeachment da então presidenta Dilma Roussef, do Partido dos Trabalhadores. Na ocasião, ambos os movimentos desempenharam um importante papel na mobilização da população. Dos quatro vereadores eleitos pelo Novo em 2016, Janaína Lima, vereadora em São Paulo e Felipe Camozzato, de Porto Alegre, afirmam na própria página do partido na internet serem voluntários no Vem Pra Rua e também no MBL, respectivamente.
Novo: “Gestão eficiente se faz com gestores eficientes”
Tendo sido criado por cidadãos insatisfeitos com o montante de impostos pagos e a qualidade dos serviços públicos recebidos em troca, o Novo prega a gestão eficiente dos seus recursos. A Declaração de Princípios da sigla entende por eficiente “a gestão que, consciente de que os impostos arrecadados custam caro à sociedade, concebe e pratica o governo de forma planejada” Ainda de acordo com o documento, para que a gestão eficiente seja alcançada é necessário gestores eficientes. Por isso, o Novo adota um procedimento diferente em relação aos outros partidos políticos na hora de escolher seus representantes: quem quiser representar o partido em uma eleição tem que passar por um processo seletivo. “Nós fazemos uma prova, para verificar se o candidato está alinhado aos princípios e valores do partido. Há também a submissão de um vídeo para avaliarmos se a pessoa consegue se expressar, além da apresentação do currículo, com o objetivo de demonstrar sua capacidade de realização”, explica Bernardo Santos, presidente do Diretório Estadual do Novo em Minas Gerais. A ideia de apresentar políticos como gestores para se diferenciar da política tradicional é uma falácia, afirma o cientista político Cristiano Santos. “É claro que a política precisa de gestores. Porém, independentemente da atividade profissional, seja empresário, professor ou engenheiro, quando o sujeito se utiliza da arena política, ele é político”, afirma. Para Cristiano, se o indivíduo quer tanto ser gestor ele deveria se direcionar para a iniciativa privada, onde, “há pouco espaço para a política e muito para a gestão.” Outro ponto no qual o partido apre-
Valores defendidos pelo Novo
Indivíduo como único gerador de riquezas: Os recursos do Estado serão sempre oriundos dos impostos pagos pelos indivíduos. Os serviços públicos ofertados nunca são gratuitos. Livre mercado: O Novo acredita que no livre mercado - onde as trocas são feitas de maneira espontânea - os serviços são melhores do que aqueles ofertados pelo Estado, dados os mesmos custos Contra o Fundo Partidário: O Novo é mantido por seus filiados e doadores, não pelos pagadores de impostos. senta uma prática distinta dos outros é em relação ao fundo partidário. O Novo, assim como todos os outros 32 partidos registrados no Tribunal Superior Eleitoral, tem direito à uma verba pública como contribuição para o exercício das suas atividades políticas. No entanto, apesar de receber o partido não utiliza esses recursos. “A gente poderia até optar por não receber o fundo partidário, mas com isso esse dinheiro iria para os outros partidos”, afirma Bernardo Santos. Segundo a última prestação de contas disponível no site do Novo, relativa ao mês de junho deste ano, o partido dispõe de cerca de R$2,3 milhões do fundo partidário. De acordo com Bernardo, o partido está tentando devolver o valor recebido para o Tesouro Nacional, mas não há uma definição sobre a forma como esse procedimento deve acontecer.
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Política
Uma das pautas da reforma política que atualmente acalora o Congresso brasileiro é a forma de financiamento das campanhas eleitorais. A doação empresarial para as campanhas dos candidatos foi considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2015. Desde então, pessoas jurídicas estão proibidas de financiar atividades eleitorais. Atualmente, os esforços estão concentrados em decidir entre a criação de um fundo público para o financiamento ou a volta da permissão de empresas atuarem no custeio por meio de uma emenda constitucional – o que invalida a decisão do Supremo. Para que qualquer uma das alternativas passe a valer nas eleições de 2018, a decisão deverá sair até o dia 7 de outubro, exatamente 12 meses antes do dia em que o povo irá às urnas para o primeiro turno. No dia 10 de agosto, a Comissão Especial da Câmara que analisa a reforma política aprovou a criação do Fundo Especial de Financiamento da Democracia, reserva pública de R$ 3,6 bilhões para as campanhas eleitorais, o que corresponde a 0,5% da Receita Corrente Líquida do país. A primeira reação à medida foi a tentativa de diminuição do valor, que ainda ficaria na margem de bilhão. Mesmo com a redução, as críticas ao fundo não cessaram. De acordo com o jornal Correio Braziliense, em matéria publicada em 22 de agosto, diante do impasse, senadores sinalizaram que derrubariam a proposta de criação do “fundão”. Isso porque a opinião pública não aceita que altos valores sejam direcionados para campanhas eleitorais, enquanto há diversas áreas sociais, como saúde e educação, com carência de recursos. Com a medida de financiamento público em xeque, as empresas voltam a ser opção para a fonte de dinheiro. De acordo com Paulo Roberto Figueira Leal, cientista político e professor da Faculdade de Comunicação da UFJF, o financiamento de campanhas eleitorais está na raiz de todas as crises que o Brasil viveu nas últimas três décadas, já que as empresas fazem as doações com o intuito de receber concessões e benefícios do governo eleito. Com este histórico, segundo o professor, voltar com o modelo de custeio por CNPJ é regredir no combate aos principais problemas apontados na corrupção de todos os governos democráticos desde 1989. Paulo comenta que, por outro lado, também é difícil que a sociedade aceite um fundo na escala de bilhões como tem sido colocado. Para ele, o mais razoável é não repetir os erros com o financiamento empresarial e ter uma reserva para campanhas eleitorais que não tenha valores chocantes para a opinião pública. O montante de cerca de R$ 1 bilhão poderia ser o ideal.
Fundo Partidário
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No Brasil, já existe uma reserva que subsidia atividades partidárias. Criado em 1965, no governo do militar Castello Branco, o Fundo Partidário é o recurso de assistência financeira aos partidos políticos. O valor é dividido todos os meses entre as legendas registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que estejam com a prestação de contas em dia perante a Justiça Eleitoral. Segundo o primeiro artigo da Lei 9.096 de 19 de setembro de 1995, o objetivo do fundo é “assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema representativo e defender os direitos fundamentais definidos na Constituição Federal”. O fundo é composto por recursos públicos e privados que, de acordo com o Artigo 38 da mesma lei, são provenientes de: verba financeira já garantida pela legislação; multas e penalidades aplicadas nos termos do Código Eleitoral e leis conexas; doações de pessoas
Quem paga a conta das
O povo brasileiro aguarda 2018 para voltar a eleger seus representantes. Mas, antes disso, Con Foto: Christinny Garibaldi
Christinny Garibaldi
SETEMBRO | 2017
Congresso aponta diferentes formas de financiamento. Senado sinaliza a volta das empregas na arrecadação
físicas ou jurídicas, efetuadas por intermédio de depósitos bancários diretamente na conta do Fundo Partidário; e dotações orçamentárias da União. Do valor total do fundo partidário, segundo o artigo 41-A, 5% são direcionados a todos os partidos e 95% são distribuídos proporcionalmente às legendas mais votadas na eleição geral para Câmara dos Deputados mais recente. Com o dinheiro no partido, 20% do valor devem ser destinados à criação e manutenção de fundos de pesquisa; 5% usados para promover a participação das mulheres nas associações partidárias e o restante para a manutenção de sedes, eventos, campanhas institucionais e pagamento de funcionários. Uma parte do valor do fundo também é utilizada nas campanhas eleitorais. A lei proíbe que os partidos utilizem o Fundo Partidário para quitar multas eleitorais. Segundo informações do TSE, esse valor tem aumentado nos últimos anos. De 2010 a 2015, o montante distribuído entre os partidos aumentou de R$ 200 para R$ 365 milhões. O orçamento do governo federal prevê para 2017 a distribuição de R$ 819 milhões, mesmo valor de 2016.
Desde 2015, doações empresariais proibídas pelo STF
De 1993 a 2014, assim como pessoas físicas, pessoas jurídicas podiam efetuar doações para campanhas eleitorais. As empresas podiam oferecer até 2% do valor de faturamento bruto anual. Em 2015, Luiz Fux, ministro do Supremo Tribunal Federal e relator da
Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), levantou o questionamento do financiamento de empresas às campanhas eleitorais. Estas doações foram, recentemente, motivos de escândalos de corrupção, como apontam os relatórios da Lava Jato. Em declaração publicada no portal de notícias do STF, o ministro afirma que “o julgamento é importante para a democracia, porque os valores inerentes à democracia pressupõem uma participação livre, uma participação ideológica nas eleições, e essas doações pelas empresas acabam contaminando o processo democrático, o poder político pelo poder econômico, o que é absolutamente inaceitável numa democracia”. No julgamento do Supremo, realizado dia 17 de setembro daquele ano, foi declarada a inconstitucionalidade de dispositivos da Lei das Eleições (Lei 9.504/1997) e Lei dos Partidos Políticos (Lei 9.096/1995) relativos à doação privada. As doações com CPF continuam válidas. Cada cidadão pode doar até 10% do rendimento bruto declarado no ano anterior. Igualmente, os candidatos também podem fazer uma autodoação com seus recursos. Partidos também podem fazer doações para quem está na corrida eleitoral, mesmo que a pessoa não represente a legenda. De acordo com o TSE, não podem realizar doações: entidade ou governo estrangeiro, órgão da administração pública direta ou indireta, empresa que tem concessão para realizar serviço público, entidade de classe ou sindical, pessoa jurídica sem fins lucrativos que receba recurso do exterior, entidades beneficentes e religiosas, entidades esportivas e organizações não governamentais que recebem recursos públicos.
Distritão
Outra proposta discutida na reforma política eleitoral que influencia os gastos das campanhas é o “Distritão”. A Comissão Especial da Câmara para assuntos da reforma política aprovou, com 17 votos a favor e 15 contra, a adoção do modelo “distritão” no texto-base da reforma política. A decisão altera a maneira como os deputados federais, estaduais e vereadores seriam eleitos: a seleção de quem ganha cadeiras no Congresso deixa de ser proporcional e se torna majoritária. Os votos totais dos partidos deixam de ser utilizados para eleger deputados e vereadores da legenda, processo atual chamado de “efeito Tiririca”, porque, em 2010, o candidato Tiririca (PR) recebeu 1,35 milhão de votos, garantindo sua vaga e a de mais três deputados do partido. De acordo com Paulo Roberto, o modelo proporciona aumento de gastos nas campanhas, já que os candidatos terão que investir individualmente nas campanhas e contarão com mais competidores: os candidatos dos próprios partidos. Para Paulo, o cidadão é atingido pelo gasto das campanhas de qualquer forma: seja pelo financiamento público ou privado. Com recursos públicos, como o próprio nome já indica, o dinheiro é do povo. No financiamento privado por CNPJ, o estímulo à corrupção e o superfaturamento das empresas retira valores que deveriam ser investidos em políticas públicas e que superam até a proposta de R$ 3,6 bilhões. Não tem jeito: quem financia a democracia é o cidadão. A questão é optar pela forma menos prejudicial e mais transparente.
Política
2017 | SETEMBRO
s campanhas eleitorais?
ngresso Nacional e Senado devem definir qual será a forma para o financiamento de campanhas
Campanha à Prefeitura do Rio bateu recorde de financiamento coletivo e on-line Foto: site deputado Marcelo Freixo
Marcelo Freixo e Luciana Boiteux, candidata a vice, na Candelária, ao final das eleições municipais de 2016
Posicionamento dos deputados federais de Juiz de Fora A Câmara dos Deputados possui três cadeiras de parlamentares juiz-foranos: Júlio Delgado (PSB), Marcus Pestana (PSDB) e Margarida Salomão. (PT). Conheça o posicionamento dos parlamentares em relação às propostas de financiamento de campanhas eleitorais: Margarida Salomão: De acordo com a deputada, a melhor forma de obtenção de dinheiro para as campanhas é o financiamento público aliado à possibilidade de doações de pessoas físicas com limites bem definidos. “Acreditamos que esse é o melhor caminho para fazer as eleições se tornarem mais democráticas e justas, livres da influência nefasta de interesses privados específicos.” A deputada ainda afirma que “é preciso financiar nossa democracia”, e relembra a necessidade do teto de gastos para as campanhas eleitorais. “As campanhas precisam ser mais baratas e mais democráticas para que os espaços de representação tenham a cara da sociedade brasileira.” Em relação à proposta de criação de um fundo extra, ela critica o raso debate da forma de distribuição dos recursos. “De um lado, não podemos demonizar esse tipo de fundo. Ele existe em democracias consolidadas, operando sobre critérios razoáveis. Por outro, não podemos criá-lo a ferro e fogo, sem compreender as restrições que a sociedade impõe.”
Marcus Pestana: informações obtidas por vídeo do deputado publicado no YouTube em 26 de agosto de 2017. Pestana é contra a criação do fundo com o valor de R$ 3,6 bilhões. Quanto às doações de empresas, ele lembra que a prática foi motivo de escândalos de corrupção. A última possibilidade seria o financiamento individual dos cidadãos. No entanto, o deputado avalia que o povo brasileiro não tem hábito de contribuir financeiramente com as campanhas. Logo, essa forma abre brechas para que a democracia seja comandada pelo poder econômico, já que o dinheiro do próprio candidato seria a opção de subsidiar a atividade eleitoral: “os representantes dos trabalhadores e da classe média, pessoas que não têm capacidade de autofinanciamento e que representam ideias e posições importantes no jogo democrático” seriam prejudicadas nas eleições. Para o deputado, uma saída poderia ser a criação de um fundo partidário composto pelo valor arrecadado da renúncia das propagandas eleitorais nas emissoras comerciais.
Júlio Delgado: Para o deputado, a melhor opção é o “financiamento público de campanha através do fundo partidário, que já existe, e da contribuição de pessoa física até o limite de 10 salários mínimos.”. Ele se declara radicalmente contra a proposta de criação de um fundo extra para o financiamento de campanhas e “concorda plenamente” com o argumento de que a criação de outra reserva para a atividade política eleitoral é um desperdício de dinheiro público enquanto outras áreas, como saúde e educação, carecem de recursos. Júlio se mostra igualmente contra o horário gratuito eleitoral fora do período de eleições. De acordo a assessoria de comunicação do deputado, suas campanhas eleitorais anteriores seguiram a legislação do período e foram financiadas junto ao fundo partidário já existente e com recursos privados. Para o próximo ano, a prospecção é de que as doações serão do fundo partidário e de pessoas físicas.
A campanha eleitoral de Marcelo Freixo (PSOL), deputado estadual do Rio de Janeiro, que concorreu à Prefeitura da capital fluminense em 2016, bateu o recorde na quantidade de doadores. A estratégia de financiamento coletivo on-line surtiu grandes efeitos e, ao todo, foram cerca de R$ 1,8 milhão arrecadados de pessoas físicas e de doações pela internet, de acordo com o sistema de consultas de informações eleitorais DivulgaCandContas. Segundo a assessoria de imprensa do candidato, 14 mil pessoas contribuíram. Algumas delas doaram mais de uma vez, o que totaliza 16 mil contribuições. A maior marca até então pertencia à Dilma Rousseff, que arrecadou dinheiro de 1.206 pessoas para a campanha da presidência em 2014, de acordo com informações apuradas pela Agência Pública. O alcance também foi um recorde para a história do financiamento coletivo via internet no Brasil: superou o valor de R$ 1 milhão, que havia sido obtido pelo “Santuário Animal”, para a troca de sede da Associação Santuário Ecológico Rancho dos Gnomos, em Cotia - SP, que age pela proteção de animal. A assessoria de imprensa do deputado também declarou que o financiamento coletivo possibilitou maior envolvimento dos eleitores durante as campanhas. “Criamos um ambiente de transparência não apenas em um futuro governo, mas também na campanha, com prestações de contas sobre nossos financiadores e sobre os gastos.” Para o sucesso do financiamento, a equipe apostou na estratégia de comunicação ativa em redes sociais, na interpelação direta e específica por e-mail e whatsapp e nos pedidos de doação em propagandas veiculadas na TV. A assessoria ainda afirma que espera o mesmo sucesso de arrecadação para as próximas campanhas de Freixo, já que a cultura do financiamento coletivo vem aumentando nos últimos anos, como indica a pesquisa “Retratos do Brasil”, do site de financiamento Catarse. Freixo ficou em segundo lugar na disputa pela Prefeitura do Rio de Janeiro, com 40,64% dos votos, atrás de Marcelo Crivella (PRB). O deputado do PSOL foi para o segundo turno com 18,26% dos votos, enquanto Crivella obteve 27,78%. Em 2014, na mais recente eleição para a câmara estadual, Freixo foi eleito como o deputado mais votado do país com o total de 350 mil votos. Atualmente, ele preside a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro – Alerj.
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Economia
SETEMBRO | 2017
Especialistas apostam em retomada do comércio de Juiz de Fora no segundo semestre Aumento nas vendas, principalmente por conta dos feriados comerciais, é sentido de maneira diferente pelos comerciantes
Foto: Isadora Gonçalves
Carolina Larcher e Isadora Gonçalves
Mesmo com crise, a expectativa dos especialistas e de alguns comerciantes é de aumento de vendas no final do ano, principalmente com as datas comemorativas
Apesar de economistas e entidades ligadas ao comércio estarem otimistas em relação às vendas no segundo semestre deste ano, principalmente diante de datas como o Dia das Crianças e o Natal, nas lojas de Juiz de Fora, comerciantes se dividem entre aqueles mais otimistas e aqueles que ainda estão em compasso de espera diante das incertezas da crise. Mesmo com as dúvidas em relação ao cenário político, há um certo otimismo no país, conforme pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). De acordo com o levantamento divulgado em agosto, 43% dos entrevistados acreditam que o segundo semestre será melhor que o primeiro em questões econômicas, enquanto 38% acham que será igual. A pesquisa foi realizada com varejistas e prestadores de serviços
Para o economista Weslem Rodrigues Faria, o comércio está em processo de recuperação. Esse crescimento deve acontecer nos últimos meses do ano e, de forma mais significativa, a partir do ano que vem. É comum que o segundo semestre do ano tenha um resultado melhor que o primeiro, justamente por conta das datas comemorativas. Porém, o poder de compra da população ainda enfrenta os efeitos da crise e isso tem atingido diretamente o comércio. Isso é o que percebe, na prática, a auxiliar administrativa Thaís Aparecida, que trabalha na loja Mônica Bijuterias. Ela afirma que o valor médio de compra antes da crise ficava em torno de R$ 50 a R$ 60 por cliente. Agora, a média por cada consumidor não ultrapassa os R$ 20. Com a estabilidade da crise, as previsões são de que, no final do semestre, as vendas subam, especialmente a
partir de outubro, e já são planejadas ações para estimular os consumidores. “Estamos pensando em fazer alguma promoção para o Dia das Crianças e, em novembro, tem a Black Friday”. Segundo Weslem, “a economia em Juiz de Fora tende a prosseguir da mesma forma que a média nacional, ou seja, com ajustes da indústria à menor demanda”. Ele explica que o comércio vem sentindo essa queda, mas que o processo já está no ponto mais baixo da curva, então a tendência é melhorar. Apesar do que dizem os especialistas, alguns comerciantes já percebem uma melhora nas vendas e uma retomada do comércio. Em algumas lojas, como a Magazine Luiza, o crescimento já pode ser notado. De acordo com o gerente, Silverson Santos, comparado ao segundo semestre do ano passado, as vendas já cresceram aproximadamente
10%. “Tanto os empresários quanto os consumidores perceberam que independente do momento político a gente tinha que andar para frente”, afirma Silverson. Ele também tem a expectativa de que as vendas subam ainda mais nesse semestre. Os dados do Indicador de Confiança do Consumidor (ICC), do SPC Brasil e da CNDL mostram que o consumidor brasileiro segue cauteloso, mas a confiança voltou a crescer e atingiu 41,4 pontos em julho, ante os 39,4 pontos do mês anterior. O gerente também discute que, como contribuição, a Prefeitura de Juiz de Fora poderia colocar a cidade mais em foco, mas que cabe à uma associação comercial uma elaboração de eventos, como shows, sorteios e uma decorações de rua, que pudessem atrair a população para o Centro da cidade. Segundo o diretor do SPC, Ronaldo Chaipp Mockdece, serão feitas algumas campanhas para implementar as vendas. “Todo ano a gente faz alguma coisa. A gente está pensando esse ano em fazer feiras em determinadas ruas.” Por outro lado, Weslem Rodrigues ressalta que o governo vem adotando medidas de contenção de gastos que tendem a não aquecer a economia, como o aumento de impostos, e que acabam encarecendo os produtos. “O governo também tem enfrentado as dificuldades de controle de gastos, o que, infelizmente, tende a piorar essa crise”. Ainda existem outras iniciativas elaboradas em Juiz de Fora que buscam movimentar a economia. Os lojistas da Rua São João criaram um movimento que vem organizando eventos e atividades como exposição de retratos, palestras e shows gratuitos na rua. De acordo com Matheus Ramos Araújo, membro da Comissão de Lojistas da rua, o objetivo é aproximar a população. “Enxergamos o potencial das lojas da rua de forma coletiva, proporcionando ao consumidor fazer compras a céu aberto, resgatando e valorizando a beleza do nosso centro.” Para o comerciante Miguel Palmieri, que também participa do movimento, a iniciativa é muito interessante e está satisfazendo os consumidores. “Acho muito legal esse sociativismo, acho que faz muita diferença. Está atraindo, realmente, muita gente.”
Pesquisa, estratégia e inovação Paralelamente, são elaboradas nos meios acadêmico e empresarial metodologias e técnicas de inovação que procuram expandir o cenário industrial em Juiz de Fora. Ignacio Delgado, diretor de Inovação da UFJF, aponta que é importante sensibilizar os agentes envolvidos no desenvolvimento econômico a colaborar em conjunto com projetos positivos para a região. A Diretoria de Inovação foi uma das entidades responsáveis pela realização da Conferência de Inovação e Desenvolvimento para a Zona da Mata Mineira (Conide), realizada em agosto de 2017, a fim de buscar propostas de estratégia e cooperação entre as esferas pública e privada visando potencialidades da economia regional. Segundo a Gerente de Inovação do Critt/ UFJF, Débora Marques, as pesquisas da universidade analisam a situação não só pela perspectiva da economia, como também
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da engenharia e do marketing, por exemplo, o que gera uma reflexão mais aprofundada. Com as possibilidades de engajamento universitário, empresarial e público, os estudantes também passam a criar pesquisas aplicadas no contexto econômico local, elaborando soluções, novas tecnologias e discutindo métodos estratégicos de trabalho que invistam nos aspectos menos desenvolvidos no contexto socioeconômico da cidade. Dentro disso, o papel do governo passa a ser facilitar esse processo, garantindo um ambiente favorável e produzindo políticas públicas. “Não dispomos de recursos naturais diferenciados que confiram, nesta área, competitividade à economia regional. O que temos é uma enorme rede de ensino e pesquisa, capaz de dinamizar a economia da Mata Mineira através da inovação, além de
gerar novos empreendimentos através de spin offs e startups.”, explica Ignacio. O economista Weslem Rodrigues acrescenta que o setor de educação acaba arrecadando uma renda extra vinda de pessoas de fora que utilizam a cidade diariamente para trabalho e estudo. Ele aponta que Juiz de Fora é polo para os municípios que ficam ao redor, funcionando também como suporte por ofertar serviços mais especializados e ainda inexistentes nas cidades menores. “Acredito que uma recuperação da economia de JF venha fortalecer ainda mais a economia da Zona da Mata como um todo. (...) Aqui estão localizadas as principais indústrias da região e, além disso, o setor de comércio e de serviço têm grande peso”. Segundo ele, as cidades do entorno possuem também algumas atividades isoladas, porém elas ainda precisam da ajuda do município para se manter funcionando.
O Secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo da Prefeitura (Sedettur), João de Matos, que também faz parte da Coordenação-Geral do GDI-Mata e esteve na organização da Conide, comenta que a Prefeitura de Juiz de Fora procura estar presente em todos os momentos que favoreçam a discussão entre empreendedores, que são importantes para a cidade, trabalhando para melhorar o ambiente de negócios através de políticas públicas necessárias para esses atuantes e pesquisadores locais. Ele aponta que essas atitudes devem ser planejadas a médio e longo prazo. “Estar presente em todos os momentos que favoreçam a construção de políticas públicas, não só na Conide, (...) é reafirmar que a atual gestão converge todos os movimentos a favor do desenvolvimento do município e região”, disse o secretário.
Tecnologia
2017 | SETEMBRO
Do chassi de bambu ao volante impresso em 3D Estudantes desenvolvem protótipos veiculares, pesquisando novas técnicas e peças para construir o melhor projeto
A
lunos de diversas especializações da Faculdade de Engenharia e do Instituto de Ciências Exatas da Universidade Federal de Juiz de Fora participam de equipes que desenvolvem protótipos veiculares, com o intuito de aprofundarem seu conhecimento prático. A Escuderia UFJF trabalha na criação de um carro de corrida monoposto e open-wheel, enquanto a Equipe Capivara foca em um projeto que tenha o menor consumo possível de combustível, e a Rampage Baja UFJF desenvolve um protótipo off road. Nas três equipes, os estudantes se envolvem em situações reais de criação de um automóvel, sendo responsáveis pela concepção do projeto até sua construção. De acordo com o gerente da área de chassi e carenagem da Escuderia UFJF, Lucas Araújo, transformar o carro a partir do zero pode demorar cerca de um ano, “o pontapé inicial é mais lento, leva em torno de seis meses para projetar o carro, e de quatro a cinco meses para a construção. Mas, as equipes que já têm um projeto pronto aperfeiçoam e desenvolvem com mais rapidez. Até mesmo porque elas já têm uma base de onde começar, o que funciona ou não.” Após levantarem dados e estipularem as metas a serem cumpridas, a equipe se divide em áreas como chassi e carenagem, freio, suspensão, tração, gestão e outras. Em seguida, cada setor, através do software SolidWorks, projeta as partes necessárias para a montagem do carro. Nesta etapa, são realizadas simulações, para testar o provável comportamento do protótipo.
Avançando com o projeto, os componentes começam a ser fabricados pelos próprios alunos ou comprados. “Às vezes, tem peça que a gente compra pronta e adapta para o veículo, e tem outras que nós temos que fazer mesmo, para encaixar corretamente no projeto. E algumas peças não são fabricadas para a função que a gente quer, porque nossos carros têm cilindrada menor, então temos que fabricá-las mesmo”, afirma o capitão da equipe Capivara João Vítor Assis de Souza. Os projetos podem custar de R$ 10 mil a R$ 30 mil, dependendo de quantos componentes do projeto anterior são reaproveitados. O valor para construir os protótipos é uma das barreiras encontradas pelas equipes, visto que, em Juiz de Fora, não há incentivo suficiente para o desenvolvimento experimental de novas tecnologias, como há em outras cidades que são pólos de produção de automóveis. Dessa forma, cada equipe se vira como pode em busca de patrocínios. Porém, isso não impede que os estudantes participem de competições. A Escuderia UFJF está criando seu protótipo para a Fórmula SAE, a Equipe Capivara para a Shell Eco-marathon, e a Rampage Baja para a prova Baja SAE. “A competição traz regulamentos bem específicos e bem detalhados, que são divulgados com um ano de antecedência. Cabe à equipe fazer o veículo de acordo com o que foi pedido, para que possamos avançar na prova e chegar aos testes dinâmicos”, destaca o chefe de pilotagem e integrante da área de tração da equipe Rampage, Pedro Saber.
Estudantes criam protótipos veiculares para competições, sendo os responsáveis pela concepção do projeto em softwares, até a fabricação de algumas peças, e por buscarem colaboradores
Foto: Bárbara Braga
Em fase de desenvolvimento, o monoposto da Escuderia UFJF conta com algumas peças exclusivas. Uma delas é o volante produzido em uma impressora 3D, que a equipe pretende substituir por outro, modelado em fibra de carbono. “As peças que não conseguimos produzir, compramos prontas e fazemos adequações, tanto da peça ao carro, quanto vice-versa”, explica Lucas Araújo. Outros componentes que estão sendo feitos Novas tecnologias são usadas na fabricação de pela equipe é o chassi e a barra de direção. Para peças. O volante da Escuderia UFJF foi feito em uma a carenagem, os estudantes têm pesquisado soimpressora 3D por uma empresa parceira da equipe bre a criação de moldes de fibra de carbono que se ajustem ao design do protótipo.
Foto: Bárbara Braga
Foto: Bárbara Braga
Foto: Bárbara Braga
Voltando da competição Baja SAE Regional, a Rampage criou sua própria transmissão, fazendo-a mais curta que o habitual e se comportou bem durante a prova. O capitão Otávio Arruda conta que, “várias equipes foram olhar o nosso conjunto de transmissão. Geralmente, quando os sistemas são feitos com correntes, as equipes fazem com grandes distâncias e nós conseguimos encurtar essa distância e armazená-la em um local bem pequeno.” Entre os estudantes de todo o país que parO conjunto de transmissão mais curto feito pela equipe Rampage chamou atenção na prova que ticipam das competições de protótipos é coeles participaram em agosto mum a troca de informações e conhecimento sobre seus projetos.
móvel é um conceito extremamente significante, quando a questão é eficiência, desempenho e consumo. Se tiramos uma parte do peso, ateCada protótipo possui um objetivo distin- nuamos os esforços do carro, e no caso de proto, e é construído conforme os requisitos da com- tótipos, é sempre bom que se reduza as forças petição que irá participar. Há duas categorias de de impacto”, esclarece o engenheiro mecânico, provas, as estáticas e as dinâmicas. Na primeira, Diego Souza. Para obter a melhor relação peso os juízes conferem cada carro, realizando um x potência, as três equipes buscam por materiais checklist de todos os itens do regulamento. Se mais leves. Por exemplo, a fibra de carbono ou o carro passar, ele vai para as provas dinâmicas, vidro para a carenagem e tubos de alumínio para nas quais ele é colocado em circulação. o chassi seriam os ideais, porém, há algumas deO monoposto de corrida da Escuderia limitações, como orçamento e equipamento para UFJF tem o foco em velocidade e agilidade, mas trabalhar com estes materiais. se atenta aos requisitos de segurança exigidos O protótipo off-road desenvolvido pela pela Fórmula SAE. Peças como freios e o ate- Rampage Baja tem como foco ser um veículo nuador de impacto são rigorosamente checados, resistente, que consiga atravessar os obstáculos bem como vazamentos de óleo. Nas provas dinâ- sem quebrar. Para isso, o piloto precisa adminismicas são conferidos quesitos como aceleração, trar o quanto irá exigir do carro durante a prova, frenagem, tempo para percorrer um circuito. O pois, “na pista tem o piloto e o mecânico, então integrante da Escuderia, Lucas Araújo, comenta os dois precisam estar em sintonia com o projeto. que o motor não é um diferencial importante na Na competição Baja SAE Regional, a gente teve competição, porque “o regulamento faz algumas um problema com a transmissão, e como eu sou restrições quanto à montagem do motor, que aca- da área responsável por ela, ajudei a consertar bam nivelando os carros. Uma equipe com motor imediatamente. Às vezes falhou em um cálculo de 500 cilindradas vai ter o mesmo desempenho e você não esperava que fosse quebrar. É nessa que uma equipe com motor de 800, porque, por parte que entra o piloto, porque ele tem que dosar exemplo, tem um limite da quantidade de ar que para não quebrar “, destaca Pedro Saber, piloto vai poder entrar, o que restringe a potência.” da equipe Rampage. Já o veículo montado pela Equipe CapivaAs competições são realizadas a nível rera respeita o regulamento da Shell Eco-marathon, gional, caso da Baja SAE, ou nacional, como a na qual apresentar a maior eficiência energética Fórmula SAE e a Shell Eco-marathon. As equicom o menor consumo de combustível é o ob- pes que vencem a etapa nacional, entram para a jetivo dos participantes. A Equipe Capivara con- disputa internacional. Com seu primeiro protóticorre na modalidade de motores a combustão de po, a Rampage conquistou o 19º lugar na prova gasolina e tenta reduzir o peso do protótipo atu- Baja SAE regional sudeste, realizada entre os al, que pesa 40 kg com o motor acoplado. “No dias 18 e 20 de agosto. A etapa nacional está preano passado a parte da carenagem foi pregada ao vista para o primeiro semestre de 2018. chassi com parafuso. Esse ano, resolvemos tirar Já a equipe Capivara retornou de um hiato, os parafusos para reduzir um pouco o peso. E no- tendo construído seu segundo protótipo para a tamos que o velcro adere bem, então o adotamos prova do ano passado. O capitão João Vítor Asno projeto para fixar a carenagem, feita de polie- sis conta que eles estudam a iniciativa de criarem tileno, ao chassi”, conta Raíssa Guimarães, piloto um grupo voltado para o desenvolvimento de da equipe. carros elétricos, que apresentam uma eficiência “A relação peso x potência em um auto- acima de 90%. Porém, “o empecilho que enfrentamos atualmente é o custo. Para nós competirmos na categoria de carros com bateria elétrica seria mais caro, porque, além do motor é preciso baterias de lítio. E se for olhar o panorama geral, os carros elétricos não entram com força no mercado, embora tenha aumentado a fabricação de unidades, por causa da bateria. Estão investindo muito em pesquisa para encontrar uma opção mais barata e a competição da Shell é um destes ‘laboratórios’.” Lucas Araújo destaca esta oportunidade que as provas dão aos alunos: “além de colocarmos em prática o que aprendemos na sala de aula, e muitas vezes ampliar ainda mais nosso conhecimento, o pessoal das grandes empresas e montadoras circulam pela prova, alguns são juízes, e eles querem captar talentos dedicados a O primeiro prótotipo da Rampage voltou da prova essa área.”
Velocidade, máxima eficiência energética e resistência
Peças sob medida para os projetos
Para a última edição da competição Shell Eco-marathon, os integrantes da Equipe Capivara iniciaram um teste para diminuir o peso do veículo. A ideia era revestir hastes de bambu com fibras de carbono, para utilizá-las na fabricação do chassi. Porém, como o prazo para envio dos projetos estava se esgotando, optou-se pelo chassi feito de aço. “O projeto do chassi de bambu reduziria nossos gastos, seria mais ecológico, e nos testes inicias apresentou boa resistência, mas não tivemos tempo hábil para levá-lo Para construir um projeto eficiente, a Equipe adiante”, relembra Nubia Bergamini, respon- Capivara iniciou uma pesquisa de um chassi que sável pelo setor de freio e direção. seria fabricado com bambu revestido por carbono
Foto: Bárbara Braga
Bárbara Braga
Baja SAE regional como o 19º colocado
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Cidade
SETEMBRO | 2017
Um outro olhar sobre o trabalho dos ambulantes noturnos O amor pela atividade muitas vezes vem acompanhado de dificuldades em relação à permanência e regulamentação
Ariadne Bedim e Letícia Silva
ambulante devidamente licenciado não pode ser removido por qualquer iniciativa privada, já que a sua licença é concedida para se trabalhar em solo público. O documento necessário é uma licença emitida pela Prefeitura. Antes de receber a regularização definitiva, o cidadão deve entrar com um pedido preliminar em qualquer Espaço Cidadão, que tem cinco locais de atendimento presencial à população, e preencher um formulário específico para saber se ele pode exercer a atividade no local pretendido. Neste formulário, constam três opções para serem assinaladas, como a licença para o exercício de atividade ambulante em área de domínio público (sujeito à aprovação pela comissão de comércio ambulante), a renovação anual da licença para permanecer na mesma área e, por último, uma baixa da licença para ambulantes que ocupem o espaço público.
Segurança
De acordo com assessor de Comunicação da Polícia Militar, major Marcellus, não há nenhuma forma de prover segurança, especificamente, aos ambulantes noturnos. Isso se deve pois, segundo ele, já existe um policiamento para o pedestre, e o vendedor ambulante é considerado como um. Por fim, ele destaca sobre a importância da legalidade do trabalhador. Em Juiz de Fora, existem 227 ambulantes regulares, de acordo com a Prefeitura. Entretanto, esse não é um número que representa a totalidade dos trabalhadores do ramo. Dentre as histórias que registramos, foi relatado um aspecto em comum: a dificuldade atual de conseguir ser regularizado de forma oficial. A simplicidade que faz todas essas pessoas serem reconhecidas pelo seu trabalho e queridas pelos clientes, são fatores em comum, mas não podemos esquecer a luta que elas enfrentam todos os dias para terem o direito de permanecer em seu espaço de trabalho.
Sobre a licença, Michely considera: “Antigamente conseguia, agora não. Eu tenho a minha há 17 anos. Naquela época não era fácil, agora é impossível. Até porque são muitas barraquinhas e trailers, então acaba ficando muito um em cima do outro.”
Foto: Letícia Silva
Centro de Juiz de Fora. Local com grande circulação de pessoas todos os dias e que abriga um imenso número de estabelecimentos comerciais. Pressa, trânsito e rotina agitada são parte do dia do centro urbano. O movimento não é apenas diurno. Com o anoitecer, várias barraquinhas de alimentos ocupam as ruas, carregando consigo seus cheiros e sabores. Um trabalho feito com amor e cuidado, mas cercado de desafios. Conversas e observações atentas nos permitiram conhecer o dia a dia de um ofício, no qual é possível ter contato com a maioria dos passantes: ser ambulante vendendo comida à noite. Ser vendedor ambulante não é tão simples quanto parece, e alguns se preocupam com a possibilidade de serem retirados do lugar que ocupam. De acordo com a assessoria de comunicação da Secretaria de Atividades Urbanas da Prefeitura de Juiz de Fora, o
O centro da cidade tem grande concentração de ambulantes. O que os profissionais mais reinvindicam é segurança, uma vez que trabalham à noite
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Cidade
2017 | SETEMBRO Estação Alê Lanches
Michely Vieira, 37, trabalha com lanches há 17 anos e sobrevive disso. Sempre esteve no Calçadão da Halfeld com seu carro, mas também vendia em festas. Hoje trabalha na Praça da Estação com uma companheira que a ajuda na preparação e atendimento. Segundo a ambulante, o segredo para continuar há tantos anos trabalhando na rua, atraindo clientes, é o tempero: “A gente que mexe com alimentação tem que investir na parte do tempero. O bom atendimento e a higiene também são primordiais para quem faz isso.” Um dos lanches que mais atrai os clientes é o “X Estação”, que tem filé de frango acebolado, bacon, muçarela, salada e batata palha, e é uma homenagem ao local
em que o carrinho fica. Apesar do costume, Michely conta que a maior dificuldade em trabalhar à noite é a sensação de insegurança. Ela sofreu uma tentativa de assalto esse ano e diz que já presenciou muitas situações fortes, principalmente pelo local onde seu trailer fica. “O que mais me marca, que eu fico triste é, por exemplo, o que acabei de ver passando aqui, cinco crianças menores trabalhando, vendendo bala, prostituição de menor, essas coisas que a gente vê muito. O que mais me choca é isso, uso de drogas”, desabafa a ambulante. Essa realidade é presenciada sempre, isso porque ela não tem hora para ir embora e fica até o expediente acabar.
Hot Dog do Tião
Quem passa pela esquina da Avenida Rio Branco com a Rua Espírito Santo, no Centro, com certeza já viu o carrinho de Sebastião Reginaldo, ou Seu Tião, como gosta de ser chamado pelos clientes. Com 65 anos de idade e muita simpatia para tratar os clientes e os trabalhadores ao redor, seu foco é vender cachorroquente. Quando começou, há 22 anos, não tinham tantos concorrentes nas ruas e nem mesmo os atuais food trucks. Seu Tião era uma das opções preferidas de muitos estudantes que moravam no entorno e buscavam o cachorro-quente para matar a fome durante as noites. Ele explica que virou ambulante pela necessidade que tinha na época, pois estava desempregado: “Quando eu vim
para cá, eu tinha família para criar, hoje meus filhos estão todos criados. A época mais difícil que tive para ganhar dinheiro foi aqui. Não tinha nada o que fazer, o serviço que eu encontrei na ocasião foi vender cachorro-quente”. Hoje, Seu Tião é aposentado, mas continua na mesma localização: “Isso é mesmo pra ocupar meu tempo, pra não ficar parado”, explica. Nestes 22 anos de experiência, conta que já presenciou muitas situações. Umas das que guarda na memória é um acidente de trânsito envolvendo um motociclista, que o chocou pela gravidade do acontecimento. Apesar disso, com um sorriso no rosto, ele afirma: “Eu trabalho na maior satisfação, na maior felicidade”.
Churrasquinho do Waltencir
Waltencir Barbosa, 42, é outro ambulante que está há um longo tempo nessa atividade. Desde março de 2000, ele vende espetinhos de churrasco na esquina da Avenida Getúlio Vargas com a Rua Halfeld, no Centro de Juiz de Fora. O vendedor chega em seu ponto por volta das 17h30 e encerra o expediente às 22h30. “Minha renda todinha vem do churrasquinho que vendo há 17 anos.” Ele atribui sua permanência nesse trabalho por tanto tempo a dois fatores principais: “A primeira coisa é gostar do que faço. Em relação aos clientes, é sempre importante manter o padrão de qualidade do meu material, da minha mercadoria e do meu atendimento”,
destaca. Apesar disso, Waltencir considera que a falta de estrutura é o principal desafio para aqueles que trabalham na rua. Ele pretende, futuramente, montar um food truck. Na sua opinião, os ambulantes, muitas vezes, têm a insegurança de serem removidos devido à reclamação da iniciativa privada a qualquer momento: “Quando ninguém reclama, você pode ficar. Vamos supor, se o banco quiser me tirar daqui o banco tira. A gente não tem nenhum tipo de segurança para trabalhar. Eu acho que o que mais perturba a gente é isso.” Ele conta que já viu esse tipo de situação acontecendo com colegas de trabalho.
Hot Dog do Lu
Outro local de grande movimentação durante todo o dia é a Rua Batista de Oliveira, também no Centro. Entre as 18h e 23h, é impossível não notar a concentração de pessoas no carrinho de cachorro-quente do Lu. A simpatia dos funcionários é o ingrediente principal que acompanha cachorro-quente, batata frita e pizza. Há 19 anos, vem cultivando os mesmos clientes e cativando novos. Um negócio que começou com uma mini van, hoje cresceu e funciona em um food truck há dois anos. Michelle Almeida, 31, cuida do estabelecimento com o marido Luciano Pereira, 38, e revela que o processo de produção de todo o alimento é o que demanda mais esforço e tempo do casal.
“Eu preparo tudo, faço o molho, o lanche, monto a pizza todo o dia porque a gente quer oferecer um produto de qualidade. Então a gente trabalha das 13h30 até as 17h30, que é a hora que saímos de casa. A gente corta pão, pica bacon, rala muçarela, monta as pizzas.” Segundo Michelle, o segredo para atrair tantos clientes é o atendimento: “A gente tem o seguinte pensamento: quando a gente sai, gostamos de ser bem atendidos. Então, a gente aqui atende para ser bem atendido depois. E a gente faz com amor né?” No entanto, ela destaca que um dos grandes problemas de trabalhar na rua é a falta de banheiro. Quando precisa, acaba recorrendo ao comércio local.
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Cidade Política
SETEMBRO||2017 2017 SETEMBRO
Foto Alice Xavier
A cada 11 minutos, uma mulher ou criança é vítima de estupro no Brasil
Apenas 35% dos casos são denunciados e tomam conhecimento da justiça, para que alguma providência seja tomada
O estupro, geralmente, acontece entre adolescentes e crianças, por parte de pessoas conhecidas como padrasto, pais, tios, vizinhos e amigos próximos
Alice Xavier
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A violência sexual é um drama social sério e recorrente. Segundo dados de 2011 da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 70% das mulheres em todo o mundo sofreram algum tipo de violência. O Brasil é considerado um dos países mais perigosos para a mulher. De acordo com o 10º Anuário Brasileiro da Segurança Pública, publicado em 2016, a cada 11 minutos uma mulher é estuprada no Brasil, tendo sido registrado no ano de 2015 um total de 45.460 mil casos nesta estatística. Entretanto, muitas vítimas não denunciam por diversos fatores, como vergonha de se expor, vergonha de contar para os familiares o que aconteceu, ou, até mesmo, repulsa por não querer recordar o trauma que passou. Tal violência vem da cultura machista, em que os homens, na maioria das vezes, veem a mulher como objeto. É comum, na rotina de uma mulher, lidar com assédio sexual no dia a dia, o que é visto por muitos homens como normal, mas esse assédio é mais uma violência, que, em muitos casos, precede o estupro. Muitos não sabem, mas além da prática de relação sexual sem consentimento, o Código Penal Brasileiro também traz como definição para o estupro o ato de constranger alguém por meio de ameaça, incluindo também práticas libidinosas - qualquer ato cometido com violência ou grave ameaça, com relação aos crimes que protegem a dignidade sexual. De acordo com a delegada Ione Barbosa, atos como passar a mão no órgão genital, assim como passar a mão no seio, por exemplo, também são considerados casos de estupro, desde que não haja o consentimento de um dos pares. Em crianças, tal prática acontece com muita frequência, principalmente no meio familiar, tendo, como agressores, na maioria das vezes, o padrasto, pai natural, tio ou pessoas ligadas à família. Nem sempre há conjunção carnal, pois o agressor faz sexo oral ou anal com a criança, justamente para que fique difícil de alguém detectar. Segundo Ione Barbosa, é comum a ocorrência de diversos crimes de estupro
na região e muitos sequer são denunciados. Apenas 35% dos casos de estupro são denunciados. É importante trazer a discussão sobre o estupro para a esfera pública, pois o pior de tudo isso é a indiferença das pessoas, sendo que todos os dias uma mulher sofre abuso e a sociedade vê como algo rotineiro.
É preciso falar
Oito anos se passaram desde que a jovem P. F. viveu o pior pesadelo de sua vida. Hoje, ela consegue falar sobre o assunto, mas ainda tem muito receio de se envolver com alguém. A lembrança da dor física ainda existe. Não há como esquecer todas as cicatrizes emocionais que foram ganhas com a experiência. A terapia foi uma das formas de não silenciar o trauma. Em dezembro de 2009, ela saiu para um passeio ao shopping, com um amigo de longa data que há algm tempo não via, pois ele estava morando fora da cidade. Era para ser apenas um passeio informal para matar as saudades da distância, porém, durante o trajeto, P.F. observou que o amigo desviou a rota e ela foi levada até um motel, contra sua vontade. Segundo ela, em um primeiro momento, estranhou a atitude do rapaz, mas, por serem muito próximos, pensou apenas se tratar de um mau entendido, que poderia facilmente ser resolvido e acreditou que seria mais fácil, após chegar ao local, sentar e conversar com o amigo, para que a situação se resolvesse e pudessem sair de lá sem que nada acontecesse. Ela conta que, chegando ao local, tentou conversar com ele, insistindo para que fossem embora. Entretanto, ele disse que esperava por esse momento há seis anos e qe os dois só sairiam depois que ele conseguisse o que queria. Tentando relutar com o ex-amigo, embora se considerasse uma pessoa forte, a vítima tentou sair do local, mas não conseguiu. Começou então a ser espancada, xingada e despida sem o seu consentimento. P.F. lembra que não conseguiu mais relutar. “Começei a me sentir tão humilhada, tão mal, que parece que eu perdi a força, ainda mais porque estava com uma pessoa conhecida. A decepção foi tão grande.”
As marcas do estupro ficaram no corpo da vítima que se feriu e teve reações adversas. Por vergonha, ela não denunciou o agressor à polícia, nem contou nada para sua família. Inventou que estava com dengue para justificar os sintomas como febre, dores no corpo e muitos hematomas, ficando, assim, por mais de uma semana na cama, debaixo das cobertas, pois não queria que a mãe visse as feridas.
Quebrando o silêncio
A Igreja Adventista do Sétimo Dia, desde o ano de 2002, realiza uma ação cujo nome é “Quebrando o silêncio”. O objetivo é chamar atenção para algum tema polêmico, tendo, neste ano, o estupro como o assunto a ser abordado. A coordenadora do grupo, em Juiz de Fora, Giselli Belinassi, afirma que os dados sobre o estupro são gritantes. Muitas pessoas não acreditam, até o momento que veem de perto ou vivenciam, pois a maioria das vítimas se esconde com medo de destruir a família, caso tenha que compartilhar com alguém, até mesmo se sentem sujas, adquirindo diversos transtornos como a depressão, não quebrando o silencio e denunciando ou buscando ajuda. “Muitas mulheres são agredidas e abusadas diariamente, por isso é muito importante tratar esse assunto com a comunidade, para que a cultura impregnada na sociedade de que é natural tratar a mulher de forma subjugada acabe. É preciso deixar a mulher segura de que ela não está sozinha e a sociedade não é cega diante do que ela está passando.” O advogado Nícolas Benayon afirma que o estupro é um crime hediondo e a repulsa é muito maior por parte da sociedade. Dessa forma, as medidas que resguardam as vítimas são mais fáceis de serem realizadas, uma vez que o delegado pode pedir a prisão preventiva do estuprador - que pode ser condenado a pagar uma pena de seis a 30 anos de reclusão - pois é mais fácil ter provas contundentes, como o corpo de delito, ou, até mesmo, realizar o flagrante. Nícolas destaca ainda que, quando o estupro ocorre dentro de casa, se for menor de idade, a lei configura estupro de vulnerável, e, na maioria das vezes, não é
denunciado, pois a justificativa é sempre a de proteger a família. Porém, aquele que não denuncia responde legalmente também. “Esse crime pode piorar ainda mais se houver o silêncio. Pode ocasionar uma gravidez indesejada, o que acarreta em marcas que a mulher estuprada pode levar para o resto de sua vida.” No Brasil, há um grande avanço, no que se refere ao respaldo oferecido pela justiça às vítimas de estupro. A lei nº 11.340/2006, mais conhecida como a Lei Maria da Penha, estabelece punição às diversas formas de violência contra a mulher, seja ela verbal, física, patrimonial ou sexual. A delegada Ione Barbosa apontou que sempre escuta, na delegacia, a culpabilização das vítimas do estupro, tanto de homens quanto mulheres, o que, segundo ela, configura a “cultura do estupro”, uma vez que, ainda que a mulher esteja vestida de uma forma mais sedutora, isso não autoriza um homem a se ver no direito de ter relação com ela, como uma forma de justificar o ato, alegando, por exemplo, a roupa que a pessoa estava usando no dia, como se isso fosse o motivo para que ela fosse estuprada. É preciso haver o conhecimento da população, principalmente das vítimas, para que elas consigam buscar ajuda e, até mesmo, se cuidar. A informação, dessa forma, permite prevenção, inclusive de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST’s) que uma pessoa estuprada está sujeita. O Sistema Único de Saúde (SUS) tem o dever de receber essas vítimas, assistindo pacientes, a fim de prevenir e tratar DSTs, além de encaminhar as ocorrências às delegacias especializadas, para que possam tomar as demais providências judiciais em relação ao crime. P.F. reconhece que deveria ter denunciado, admitindo o erro de não ter tido coragem naquela época, guardando, ainda hoje, a história para poucas pessoas. “Eu superei o estupro, mas não superei a minha reação, eu não me perdoo por isso.”
NÚMEROS ALARMANTES DO ESTUPRO - 70% das vítimas no Brasil são crianças e adolescentes, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). - 60% dos agressores, das vítimas adultas, são desconhecidos. - 50% dos menores que são estuprados já foram abusados anteriormente. - 32% dos estupradores são amigos ou conhecidos. - 30% das mulheres em todo o Brasil sofrem violência verbal ou física. - 24% dos agressores são os próprios pais ou padrastos dos que sofrem o abuso.
Cidade
2017 | SETEMBRO
Comer de marmita pode ser mais saudável Preparo dos alimentos em casa ou escolha de congelados com alimentos naturais é alternativa a restaurantes e lanchonetes
Fotos: Bárbara Delgado
Bárbara Delgado
As marmitas são produzidas de forma que, ao descongelar, não percam cor e sabor, mantendo os nutrientes necessários
Em meio à correria do dia a dia, muitas vezes, a alimentação saudável é esquecida. A rotina agitada faz com que as pessoas consumam cada vez mais os fast-foods ou almoços em restaurantes. Um estudo realizado pela EAE Business School apontou que o Brasil é o país da América Latina que mais consome fast-food e o sexto no ranking mundial. Embora as comidas oferecidas nesses locais sejam atraentes, existem pessoas que gostam de se alimentar de maneira saudável e buscam outras opções, como as marmitas. Em Juiz de Fora, há cozinheiros se especializando em deixá-las mais bonitas e cheias de saúde, unindo a praticidade com o gosto do cliente. Existem marmitas congeladas, saladas no pote e merendas saudáveis para crianças. Tudo isso utilizando ingredientes coloridos, que despertam a atenção e são fáceis de serem acondicionados e transportados.
Na cidade
Estudante de nutrição e apaixonada pela culinária saudável, Isa Polastri criou a Uni Duni Te - Comidinhas Divertidas em dezembro de 2016. Desde então, a microempresa oferece a proposta de uma boa refeição de uma maneira mais regrada e gostosa. “Os congelados saudáveis começaram a partir da necessidade de uma amiga em levar marmitas para o trabalho. O desejo dela era comer bem e de forma agradável, então ofereci para produzir as refeições.” Para quem come de marmita, é preciso ficar atento para o processo inicial, que é o da higienização dos alimentos, feita com produtos que são livres de qualquer micro-organismo. “As técnicas de produção visam ao congelamento de forma que mantenha a cor, o sabor e seja agradável quando for consumir as marmitas”, afirma Isa. Para o consumo dos congelados, é importante que a marmita seja retirada no dia anterior do freezer para depois ser aquecida no micro-ondas. Quem não tem essa opção no local de trabalho, pode deixar em temperatura ambiente ou levar em uma bolsa térmica. Filha de pai vegetariano e amante dos temperos caseiros, Isa busca elaborar cardápios saborosos e práticos. “As marmitas são produzidas com produtos frescos, com ervas naturais, com temperos de especiarias e tudo cozido com
azeite extra virgem. Não uso nada de alimen- possível ter uma alimentação saudável”, diz. É tos processados e industrializados, tento usar os preciso encontrar um planejamento e torná-lo produtos mais in natura possível”, ensina para prático. A nutricionista ensina que, ao escolher aqueles que pretendem iniciar uma alimentação congelados, é preferível buscar os saudáveis, mais saudável. A montagem é pensada no equi- feitos de maneira mais natural e não os induslíbrio entre 150 gramas de acompanhamento trializados. vegetal e 100 gramas de proteínas. A validade As marmitas podem ser consumidas no é de 30 dias. almoço ou no jantar, de acordo com a preferênA estudante inspira suas receitas em via- cia e rotina do consumidor. “As pessoas hoje gens que fez, estudos em livros, estágios com estão trocando a janta por bolos, pães, biscoinutricionistas e programas de tos e torradas, mas o alimento televisão que focam em culinão pode ser substituído pelas nária saudável. “Tenho aplifarinhas. Para quem não tem cado bastante o conhecimento tempo, essas marmitinhas são que adquiri em meu intercâmexcelentes, porque é só combio em Portugal em relação prar. Você não tem o trabalho ao azeite. Pude conhecer a de ir para cozinha e preparar produção, aprendi a identifinada”, afirma. Existe uma dicar os atributos, odor e sabor. ferença entre o alimento e o Aprendi novas receitas, ervas produto alimentício, que são Lívia Botelho, e especiarias que hoje uso na aqueles vindos da indústria e nutricionista minha culinária. Uso o limão, que são cheios de substâncias o alho, temperos como cúrcuquímicas. “O alimento congema, páprica, entre outros. Conhecer essas alter- lado é um ótimo método de conservar. Quannativas aperfeiçoou meu paladar”, ressalta. do fazemos um molho de tomate caseiro, nós A construção do cardápio varia de acordo podemos congelar e usar por vários dias. Da com o paladar do consumidor, tendo em vista mesma forma, quando surgir a oportunidade de que o intuito da empresa é promover essa diver- fazer um hambúrguer artesanal, pode-se usar sidade na culinária. “Temos clientes que che- carne moída com clara de ovo, podendo consergam com uma dieta feita por um nutricionista e var assim. É uma ótima alternativa”, acrescenta outros que querem ter um estilo mais saudável. a nutricionista. Buscamos pensar em alimentos que têm melhor O excesso de comida também pode ser aspecto ao serem congelados e que vão man- prejudicial à saúde por não entender os sinais ter os atributos sensoriais do alimento, visan- que o corpo manifesta. “Precisamos ouvir o do também à forma de condicionamento.” Em que o nosso corpo está dizendo, muitas pessosegundo plano, pode-se pensar em pratos que as comem além da conta porque a comida está teriam menos carboidrato em sua constituição gostosa. É importante diferenciar fome com e em carnes com um teor menor de gordura. Os vontade de comer”, diz Lívia. vegetais podem variar entre repolho, abobrinha, A enfermeira Bianca Duque, que estava couve-flor, cenoura e abóbora. Já as carnes, na em processo de emagrecimento e desejava muempresa de Isa, variam entre sobrecoxa de fran- dar a alimentação, buscou nas marmitas uma go, tilápia, carne bovina de primeira qualidade, forma de adequar a falta de tempo com a cocomo o patinho e filezinho suíno. mida balanceada. “Sou enfermeira e trabalho com oncologia e vejo o quanto a alimentação é importante. Eu queria mudar minha alimentaVisão nutricional Segundo a nutricionista Lívia Botelho, ção, tirar um pouco do carboidrato e da glicose hoje estamos vivendo na correria generaliza- e tinha medo de adoecer por conta de me alida. “Os alimentos congelados industrializados mentar mal”, comenta. A dificuldade de concitêm a característica da praticidade, mas preju- liar a rotina com a mudança de comportamento dicam a nossa saúde. Mesmo com a correria, é chamou a atenção da enfermeira. No início da
“Mesmo com a correria, é possível ter uma alimentação saudável”
adaptação, Bianca estava fazendo uma dieta à base de vegetal e proteína: “Eu tirei todos os carboidratos e perdi oito quilos. Atualmente eu não estou com o foco em perder peso mais, quero continuar consumindo os congelados pela praticidade e continuo me beneficiando com uma alimentação mais regrada.” Mesmo quem trabalha com guloseimas, como a doceira Paula Juliani não abre mão da comida saudável no seu dia a dia. Ela sabe que consumir as marmitas ajuda a manter o seu ritmo e equilíbrio de peso, aliado à praticidade. “Super prático para o dia a dia, me ajuda a ganhar tempo, não faz sujeira, ajuda otimizar bem o tempo e, mesmo congelada, não perde o sabor, gosto do sabor caseiro.” Apesar de viver rodeada de tantas tentações, ela procura seguir um plano alimentar para controlar o peso. Algumas vantagens de fazer sua própria marmita estão no contato com o alimento. A opção de ir ao restaurante pode ser saudável e muito prática, porém, os atrativos do cardápio podem sair do plano alimentar. “Quando preparamos nossa refeição, estamos participando de todo processo, seja na lavagem das verduras e legumes ou no uso de temperos caseiros”, orienta a nutricionista Lívia Botelho.
Merendas infantis
Crianças também podem evitar os lanches gordurosos e os tradicionais biscoitos e salgados na hora da merenda. A merendeira também pode ser uma boa alternativa para elas. Isa Polastri sugere que o ideal é evitar o excesso de carboidratos, lembrar das fontes de vitaminas e das proteínas. Oficinas culinárias podem ajudar na montagem das merendas. Algumas dicas para uma merenda saudável são ensinadas no curso. Isa adianta que ao escolher o pão é importante ser 100% integral ou bolo integral feito em casa. Proteínas como leite, queijo, frango desfiado ou atum, são opções que devem estar presentes. Já quanto aos líquidos podem ser vitamina ou água de coco. Aquelas crianças que gostam de frutas, podem optar por uma salada de frutas bastante colorida. Já para aquelas crianças que gostam de biscoitos, Isa sugere as opções de batatas doces chips que substituem as batatas de pacotinho ou biscoitos de banana com aveia.
Para você que trabalha durante a semana toda, confira as sugestões de cardápio para facilitar a sua rotina: • Arroz de couve-flor com sobrecoxa de frango • Spaguetti de cenoura com filezinho suíno • Purê de abóbora com tilápia • Lasanha de abobrinha com carne moída • Rondelli de abobrinha com ricota Fonte: Isa Polastri - Uni Duni Te Comidinhas Divertidas.
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Sociedade
SETEMBRO | 2017
O jeito de se comunicar que muda entre os jovens Usando uma linguagem mais acessível, diversos youtubers ganham popularidade e fazem com que a rede social se torne uma plataforma de busca por informações
Por Tatiane Carvalho
Os Youtubers
No decorrer dos anos, diversos youtubers brasileiros chegaram à casa dos milhões de inscrito, se consolidando como formadores de opinião. Mas como surgiu essa febre no país? Em 2005, foi criado em San Francisco (Califórnia, EUA) o Youtube, como plataforma para publicar e consumir vídeos na internet. A facilidade de acesso e disseminação de conteúdo, trouxe consigo a consolidação de uma nova era na comunicação. Foi então que surgiram os youtubers. Muitos começaram como hobby, mas atualmente podem ser considerados profissionais, obtendo grande sucesso principalmente entre os jovens. A pesquisa realizada pela Snack Intelligence, empresa que realiza pesquisas na área audiovisual, apontou que o Brasil é o segundo país com canais mais influentes do mundo. Diversos deles são um verdadeiro sucesso e estão sempre na roda de conversa entre os jovens. Whindersson Nunes, Felipe Neto, Kéfera, são alguns dos nomes mais influentes no Youtube brasileiro e que já possuem milhões de inscritos em seus canais. A principal chave para o sucesso do Youtube está nas mãos dos youtubers. Eles não precisam de muitos recursos para fazer seus vídeos, apenas seu jeito de envolver o público e uma câmera, e se tornam grandes fontes de informação para diversas pessoas. O Brasil conta com talentosos jovens que sempre alimentam o Youtube com vídeos de diferentes temas, sejam ligados a debates que estão em alta na sociedade ou algo mais ligado ao entretenimeno.
Com o show “Proparoxítona”, o segundo maior youtuber do mundo e o maior do Brasil, Whindersson Nunes esteve em Juiz de Fora no último domingo (27). Mesmo a abertura de uma sessão extra, às 20h, não foi suficiente. Os fas juiz-foranos esgotaram as duas sessões e lotaram tanto o espaço externo quanto o interno do teatro. Diversas pessoas correram para tentar de última hora comprar ingresso para conferir a passagem do youtuber pela cidade. O Jornal de Estudo ouviu o fenômeno do youtube “Eu sabia que o trabalho que eu fazia ia dar em alguma coisa. Mas não pensava que ia ser o maior do Youtube, pensei que só ia dar certo mas aí, saiu mais do que esperei”, diz Whindersson sobre o que esperava no início de sua carreira na plataforma. “Assim, eu faço a minha comunicação é daquele jeito que faço no palco e nos vídeos também. A pessoa pode achar que é uma forma de achar que faço isso porque as pessoas se identificam, mas na verdade eu sou desse jeito. A diferença é que quando eu não estou nos palcos e nos vídeos eu sou um pouco mais tímido, mas no palco eu sou aquela pessoa ali”, completa.
O Público
Com a modernidade e os avanços na comunicação, obviamente, houve uma mudança no público que consome tudo o que é produzido. Os jovens são aqueles que mais mudaram e que são responsáveis por essa mutação comunicacional. Isso se deve, principalmente, a linguagem usada nos jornais exibidos nas emissoras televisivas que não despertam interesse nos adolescente. “Hoje os jovens assistem material audiovisual muito mais no Youtube do que na televisão.”, diz a professora doutoura Gabriela Borges que é pesquisadora na área. “Na verdade é uma via de mão dupla, na medida em que há mais interesse pelos canais no Youtube as pessoas também criam seus próprios canais e começam a divulgar conteúdo”, completa. “Como somos adolescentes, buscamos mais internet para nos informarmos, já o jornal é mais para os adultos, youtuber é mais gente como a gente”, diz Raiane da Silva, 15 anos. A amiga Sara Machado também concorda, dizendo que os youtubers possuem uma linguagem mais próxima e que, consequentemente, é mais fácil de entender e absorver a informação que é transmitida. As duas jovens estavam no grupo que chegaram cedo ao Cine Theatro Central para a apresentação de Whindersson Nunes.
Além da informação
Mas se engana quem pensa que esta nova geração de comunicadores atinge somente o público jovem. Os pais que procuram monitorar o conteúdo que seus filhos assistem, acabam acompanhando, assim, alguns dos sucessos do Youtube nacional. Antigamente eles procuravam saber quem eram os amigos dos filhos ou por onde andavam ou o que faziam. Mas a modernidade também trouxe alguns perigos cibernéticos, o que fazem com que os pais tenham mais cuidado com as atividades virtuais de crianças e jovens. A atitude que parece simples possui grande impacto na vida jovens e evita diversos problemas que são comuns no meio digital. É o caso de Cátia Senra e Tainá Senra, mãe e filha que esperam juntas e ansiosas os
Foto: Tatiane Carvalho
Com o avanço da tecnologia e a facilidade no acesso à internet, grande parte dos adolescentes vem mudando o hábito quando o assunto é a busca por informações. Os jornais, bastante populares há alguns anos atrás, agora não são opções para a nova geração. Ocupando grande parte da responsabilidade por essa mudança estão os youtubers, que alcançam este público de forma rápida e inteligente, usando uma linguagem que atinge diretamente aqueles que passam grande parte do dia em frente ao computador. Isso é constatato pela estudante de 17 anos, Vanessa Silva: “No jornal eles são mais sérios, enquanto no youtube eles mostram sua opinião e cada um tem seu jeito de falar. A sociedade agora está mais ligada na internet, então tudo o que for mais fácil vai ser bem mais útil, no caso seria o youtube”. Uma pesquisa realizada em todo mundo apontou que os jovens brasileiros são os mais conectados quando comparado à média global. Os brasileiros, logo que acordam, chegam as redes sociais, o celular acabou se tornando uma extensão do corpo. Segundo pesquisa do Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de brasileiros que utilizam a internet ultrapassa 100 milhões, sendo a região sudeste dominante com 65% de seus habitantes conectados. A pesquisa também aponta que os celulares são os aparelhos favoritos de acesso à internet. A facilidade vem tanto da parte de quem assiste quanto dos comunicadores. Para os que acreditavam que essa fase da comunicação seria passageira, especialistas afirmam que não, já que essa plataforma é um meio irresistível de comunicação, que vem disputando espaço com TV na audiência do público. A facilidade logo fez com que os veículos mais tradicionais também se adaptassem ao meio digital.
Fãs enfrentam fila para assistir show do youtuber Whindesson Nunes em Juiz de Fora no domingo (27)
lançamentos dos vídeos de Whindersson Nunes na web. “Eu comecei a observar o conteúdo que minha filha assistia na internet. Ao perguntar ela me respondeu: ‘Vem cá mãe, ele é um fenômeno, vem aqui ver!’, desde então comecei a acompanhar e virei fã. Acaba que a gente deixa de fazer os serviços de casa para ficar na internet”, fala a mãe Cátia. Já a filha Tainá diz que não assiste jornal e que a linguagem usada no Youtube é um veículo que traz a informação de uma forma diferente, que a ajuda assimilar com mais facilidade. “Acho que fala bem a linguagem dos jovens. Eles passam bem isso, conseguem transmitir informações bem detalhadas de assuntos sérios de uma forma mais eficaz. No caso do Whindersson, acho bem legal esse humor dele conseguir passar a informação para os jovens de hoje, assuntos de família, acho bem interessante, acho bem legal.” Completa Cátia, que ainda reforça o fato de que muitos dos youtubers não possuem a mesma idade de seu público alvo, o que não impede essa aproximação quan-
to ao jeito de falar. Mãe e filha assistem aos vídeos juntas um momento que serve para uni-las, não mais em frente à TV e sim à tela do computador. O Youtube também conta com a flexibilidade que traz diversos conteúdos mostrando o regionalismo sem a formalidade que é usada nos jornais exibidos na televisão. Outro exemplo que encontramos sobre a regionalidade é o caso da piauiense Sheila de Souza que acompanha os vídeos do conterrâneo Whindersson desde o início de suas postagens e assiste ao canal do youtuber junto com o filho, que atualmente mora em Barbacena. Sheila aponta outro beneficio trazido pelo Youtube: fazer o Brasil conhecer a si próprio. “Tem muitas expressões que o Whindersson ensinava no canal que as pessoas que moram em outras regiões do Brasil não conhecem. Eu moro em Minas há 13 anos. Em agosto estive em minha cidade e como estou acostumada com o jeito de falar aqui, achei engraçado ouvir algumas expressões que não ouvia há muito tempo.”
A diversidade que cresce no Youtube O público que usa a internet vem se modificando cada vez mais nos últimos anos. Muitos pais, tios e avós seguem os mais novos e acabam aderindo ao mundo virtual. Se o número de jovens que usa a internet aumentou, o número de idosos também cresceu. De acordo com a pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva, o número de internautas da terceira idade aumentou em 1000% de 2013 a 2016. O Youtube também está recebendo atenção dos mais velhos. Atualmente possui canais que contam com a participação do público que durante sua juventude só utilizava televisão ou rádio para se informar, e hoje já usam muitas outras possibilidades para se informar.
“Assim, eu faço a minha comunicação, é daquele jeito que faço no palco e nos vídeos” Whindersson Nunes, youtuber
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Fernanda Morais, de 36 anos e o sobrinho Eduardo Navarro assistem vídeos no Youtube
UFJF
2017 | SETEMBRO
UFJF cria apoio para combater estresse estudantil
Érica M. Vicentin
Com a correria do dia a dia, o mundo está mais ansioso. De acordo com dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2017, cerca de 264 milhões de pessoas sofrem com transtornos de ansiedade no planeta. O número representa uma alta de 15% em comparação a 2005. Dentro de casa, no mercado de trabalho, no ônibus, na escola, enfim, em todos os lugares vemos rostos aflitos. E isso vem se tornando uma preocupação imensa para os profissionais de saúde. No meio universitário, não é diferente. As preocupações dos estudantes já começam com a chegada à academia. O medo do novo, o enfrentamento de uma das mais bruscas transições de suas vidas e a necessidade de se encaixar em uma rotina completamente diferente são os primeiros passos percorridos por alunos ansiosos. E isso, infelizmente, é só o começo de uma saga, já que estes jovens ainda terão pela frente o concorrido mercado de trabalho.
Foto: Érica M. Vicentin
Alunos adoecem ao enfrentar cada vez mais a pressão para conciliar rotinas acadêmicas, de trabalho e cobranças familiares
Pressão familiar
Camila Reis é uma jovem de 20 anos. Entrou na UFJF em 2015 e abandonou a graduação de Odontologia no início de 2017. Hoje faz curso preparatório para o vestibular de Medicina: um sonho de sua mãe. É comum jovens serem pressionados pelos pais para que escolham outra carreira, seja por preocupação com o futuro financeiro do filho ou pela realização de um próprio sonho. “Desde que cheguei a Juiz de Fora, já sentia que estava incomodando minha mãe, porque ela mostrou descontentamento com a carreira desde que anunciei a aprovação. E, vendo isso, tentava sempre incomodar o mínimo possível, morava no lugar mais barato e fazia milhões de coisas na faculdade para tentar mostrar que estava fazendo valer o fato de eu estar aqui. Eu sempre bati o pé, porque odonto era o que eu sempre quis fazer, mas, depois de um tempo na faculdade, fiquei com muita dúvida se a minha mãe tinha razão e se estar ali não era realmente um erro.” A estudante ressalta ainda que outros fatores também contribuíram para aumentar a pressão familiar. Os próprios colegas de turma diziam estar na graduação por não terem sido aprovados em outro curso. Além disso, os próprios professores repetiam constantemente sobre a situação ruim da profissão no mercado, o que desmotivou Camila em relação a remuneração após a formação. A estudante diz que muita coisa mudou desde que tomou a decisão de mudar de carreira: “Quando larguei a faculdade, eu consegui respirar. Hoje em dia, o suporte que a minha mãe me dá é muito maior do que ela me dava quando eu estudava odontologia. Ela me manda mais dinheiro, reforça sempre que eu estou no caminho certo e, em casa, é totalmente diferente. Ela fica muito mais empolgada em conversar coisas do cursinho do que da própria faculdade. As minhas realizações na odonto não impressionavam ela. Hoje em dia, sinto muito menos pressão do que quando estava na faculdade, mesmo precisando passar em medicina. Antes chorava toda semana e não tinha vontade de sair de casa. E hoje isso não acontece mais. Sou mais alegre, meu psicológico melhorou muito, isso porque sei que estou fazendo algo que minha mãe concorda e me apoia.” Finalizou. De acordo com a psicóloga Gilda Helena Moreira, em casos de pressão familiar, é indispensável uma conversa do profissional em psicologia com os pais do jovem: “A pressão que vivemos está cada vez mais forte, e o grande problema é que não conseguimos, de fato, retirar isso da vida do ser humano. Em casos como esse, o que tentamos é conversar com os pais sobre as escolhas dos filhos e com os alunos sobre como lidar melhor com toda essa pressão recebida”, destacou.
As pressões sentidas pelos alunos vão desde a rotina até a preocupação com o futuro profisssional
Pressão financeira
Lucas Uriel tem 21 anos e é aluno do curso de Jornalismo da UFJF. Ele conta que veio de Sete Lagoas para Juiz de Fora para realizar seu sonho de estudar em uma universidade federal. Porém, ciente das dificuldades financeiras de sua família, ele começou a jornada dupla de estudo e trabalho. “É uma realidade muito complicada porque você não sabe definir qual é a sua prioridade, porque, se você deixa de trabalhar, vai passar fome e, se deixa de estudar, você não forma.” Uriel afirma que começou a se sentir ansioso, nervoso e com crises de choro há aproximadamente dez meses. Ele se viu em um emprego extremamente estressante, que é o call center, e frustrado com a impossibilidade de participar de projetos voltados para sua carreira na universidade. “Percebi que precisava da ajuda de um médico. Fui no psiquiatra, e ele me disse que eu precisava começar um tratamento para ansiedade com urgência e que já estava também com início de depressão. Agora estou afastado do emprego e fazendo tratamento com paroxetina. Hoje consigo me dedicar mais à faculdade e aos projetos que me interessam. Sinceramente não sei o que vai acontecer quando acabar minha licença médica do call center”, afirmou. Segundo a psicóloga Gilda, os sintomas descritos por Lucas fazem parte de uma série de sinais que o corpo dá quando estamos ansiosos: “É muito comum que pacientes ansiosos também sintam taquicardia, boca seca, tontura, em alguns casos falta de apetite e em outros compulsão alimentar e sudorese nas mãos”, exemplificou.
Pressão por desempenho
Paulo Fernando Santos tem 28 anos, é estudante de Engenharia Civil e entrou na faculdade em 2008. Paulo relatou que sempre foi um bom aluno, com ótimas notas e que sempre valorizou muito isso. Porém, em 2010, sua família passou por dificuldades financeiras, e ele começou a trabalhar para se manter na universidade. Com isso, seu rendimento caiu, e as reprovações começaram a surgir: “Eu não conseguia aceitar meu desempenho ruim na faculdade e, nessa época, entrei em um quadro depressivo por causa disso. Aí, com a necessidade de trabalhar junto com a depressão, a faculdade foi ficando cada vez mais de lado e, quando me
dei conta, tinha virado uma bola de neve. Hoje faço tratamento, tomo medicação e ainda sofro com algumas crises de ficar uma semana debaixo das cobertas sem sair de casa. Acabei perdendo o gosto pela Engenharia porque descobri que não me sentia bem lá. Mas ao mesmo tempo, já tenho uma idade mais avançada, e é complicado tomar a decisão de abandonar o curso.” Paulo destacou ainda que a falta de didática dos professores da Engenharia também é algo que contribuiu para desestimulá-lo com o curso. De acordo com o psicólogo da Pró-Reitoria de Assistência Estudantil, Frederico Freire Rosa, existe uma grande procura dos alunos dos cursos das áreas de exatas para falar sobre didática dos professores e de como isso desestimula muitos estudantes: “As exatas, de forma geral, têm questões muito sensíveis em relação a desempenho, a relação professor-aluno e a didática. Ligar na ouvidoria é um dos caminhos, mas esse não é um problema simples de se resolver. O discurso que ouvimos na faculdade é que “a engenharia é assim mesmo”, mas isso não é normal. A gente acaba naturalizando essas práticas, e isso vai se tornando cada vez mais nocivo.” Frederico ressalta que já existem movimentos que buscam desnaturalizar questões que prejudicam e pressionam os alunos. A Hashtag #NãoéNormal é uma iniciativa que surgiu na Universidade Federal de Viçosa e teve grande repercussão nas redes sociais, denunciando abusos diversos dentro das instituições de ensino. Com isso, a Diretoria Central dos Estudantes (DCE) da universidade lançou a hashtag #AtéQuandoUFJF para tentar diferenciar do movimento da UFV, porém com a mesma preocupação. Laura Matos, coordenadora da atual gestão do DCE, explica que a organização é um ponto de acolhimento dos estudantes: “Nossa motivação para a criação da hashtag #AtéQuandoUFJF foi justamente as respostas que a gente recebe quando reclamamos desses tipos de pressão: “É assim mesmo”, “Tá reclamando à toa”, “Quando eu fiz faculdade, também era assim”, “Essas coisas não mudam”, etc. Justamente porque a gente entende que esse tipo de ação não pode ser aceita como normal ou até mesmo histórico dentro da instituição.” Laura ressalta ainda que a preocupação do DCE vai muito no sentido de que a universidade era para ser marcada na vida dos estudantes como uma época importante e de boas lembranças, mas, muitas vezes, é momento de estresse, preocupação, adoecimento e até abandono dos estudos: “Os índices de adoecimento entre os acadêmicos têm subido muito, e isso nos preocupa não só por conta do aumento de evasão e retenção nos cursos da universidade, mas também a preocupação com a saúde mental e física dessas pessoas que estão na graduação.”
Quero pedir ajuda. O que posso fazer? Se você precisa de ajuda psicológica ou com os estudos, pode marcar uma consulta na Pró-Reitoria de Asssistência Estudantil (Proae). Eles contam com um time de psicólogos e pedagogos prontos para ajudar gratuitamente. O agendamento deve ser feito presencialmente na sala da Assistência Estudantil, localizada no prédio Central da Reitoria, no campus. Caso esteja precisando de um tratamento contínuo, mais a médio prazo, você pode se consultar pelo Centro de Psicologia Aplicada (CPA), que tem parceria com a universidade. Para marcar a triagem, é preciso ligar para os números: (32) 3217-8253 / (32) 3216-1029 Além disso, a Proae organiza o grupo “Fora de Casa” e o “Tô de boa”, com o objetivo de discutir questões e dificuldades vividas pelos alunos. Para mais informações sobre como participar, entrar em contato com a Proae presencialmente ou pelo telefone: (32) 2102-3886. Para reclamações ou denúncias, é preciso ligar na Ouvidoria: (32) 2102-3380 Nota: O movimento #EuMeImporto surgiu na UFJF e visa mostrar para os alunos que existem pessoas na universidade que se importam com as anormalidades descritas em #Nãoénormal e #AtéQuandoUFJF. O psicólogo da Assitência Estudantil, Guilherme Freire Rosa, ressaltou a importancia do movimento e convidou a todos que se importam, para que se tornem pontos de apoio para alunos que precisam de ajuda, para que mais estudantes sejam acolhidos.
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UFJF
SETEMBRO | 2017
Ações de extensão: ponte entre UFJF e sociedade Juliana Dias
“Extensão não é só prestação de serviço. Ela deve ser vista como uma interação em que as duas partes estão contribuindo e sendo beneficiadas. Estar em contato com o beneficiário ajuda a promover uma formação mais humanística, tem impacto na formação profissional. É uma via de mão dupla.” É o que afirma a coordenadora de Ações de Extensão da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Fernanda Cunha. Ao lado do ensino e da pesquisa, essas ações compõem os três pilares da educação superior e são partes fundamentais do papel social da universidade. Segundo o I Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras, que ocorreu em 1987, Extensão Universitária é o “processo educativo, cultural e científico, articulado de forma indissociável ao ensino e à pesquisa e que viabiliza uma relação transformadora entre Universidade e Sociedade”. As ações de extensão ocorrem nos campi de Juiz de Fora e Governador Valadares e buscam atender à comunidade externa, podendo ter ou não a presença da comunidade acadêmica, mas nunca sendo exclusivamente voltada para alunos e funcionários da Universidade. As áreas de realização das extensões abrangem os campos de cultura, comunicação, direitos humanos, educação, meio ambiente, saúde, trabalho e tecnologia e produção. “A Universidade faz parte e tem que estar integrada à sociedade, e nós chegamos à ela de diversas maneiras. A extensão é uma delas. Sem a Universidade, toda a dinâmica da cidade e do entorno seria diferente”, ressalta Fernanda. Ano passado, a UFJF abrigou 419 projetos e programas de extensão, cada um deles com até um ano de duração. Até agora, em 2017, são 403 (a maioria nas áreas de educação e saúde), além dos eventos e cursos realizados constantemente ao longo do ano. De acordo com os últimos dados divulgados pela Pró-Reitoria de Extensão (Proex), até o início de agosto, foram 42 cursos, com 2.125 vagas oferecidas, e 73 eventos, com a participação de mais de 35 mil pessoas. As ações vêm se ampliando e o número de editais crescendo, o que se reflete no aumento do número de bolsas alocadas: em 2017 são 750 bolsas, 100 a mais que no ano anterior. Além dos 24 programas de extensão, existe ainda um programa institucional da própria Proex, o “Boa Vizinhança”. Pensado para atender as demandas que chegam da comunidade, atualmente, ele envolve 24 dos 379 projetos em desenvolvimento na UFJF. Em Juiz de Fora, são atendidos 38 bairros do entorno da Universidade. Já em Governador Valadares, o programa contempla comunidades ribeirinhas da bacia do Rio Doce, afetadas pelo desastre ambiental de Mariana. Para entender a proximidade entre o meio acadêmico e a comunidade, o Jornal de Estudo foi
conhecer melhor duas dessa ações realizadas em Juiz de Fora.
Aprendendo uma nova língua
O “Boa Vizinhança – Espanhol” propõe o ensino básico da língua a pessoas que morem nos bairros contemplados, que sejam oriundas de escola pública e que não estejam vinculadas a qualquer curso de graduação ou pós-graduação da UFJF. O sargento do Exército e estudante de Administração Marcelo Rodrigues mora no Borboleta e é um dos alunos do projeto. “Muitas vezes, a pessoa não tem condições de fazer um curso aí fora por questões financeiras ou de tempo. Os horários que foram proporcionados também ajudam quem trabalha durante o dia, já que as aulas durante a semana são à noite e no sábado, de manhã.” A troca de benefícios, primordial para o projeto de extensão, acontece em sala: as aulas são compostas por pessoas de diferentes idades (têm alunos dos 16 aos 60 anos), interesses e bairros, e ministradas por acadêmicos da universidade. No caso das classes de Espanhol II, Esteban Aguilares, estudante de engenharia elétrica, é o professor. Esteban é chileno e, por ter o Espanhol como língua nativa, foi aceito para dar aulas no projeto. Ele já atua como professor de xadrez na rede particular de ensino, mas é a primeira vez que ensina idiomas. “Eu acho que, na Engenharia, a gente fica muito fechado e eu queria ter a oportunidade de explorar toda a universidade”, ressalta Esteban, que já fez aulas e participou de outros projetos de extensão no Instituto de Ciências Humanas.
“Moradia Legal”
Outro projeto que alia dois fatores importantes para a extensão é o “Moradia Legal”, que une interdisciplinaridade e formação de parcerias. Ele busca auxiliar a comunidade do entorno da UFJF na regularização jurídica de imóveis. Com ele, espera-se atingir um número expressivo de famílias de baixa renda e conscientizar a comunidade e alunos envolvidos para a importância dessas ações de regularização. A iniciativa partiu da professora e vice-diretora da Faculdade de Direito, Raquel Bellini, e da diretora, Aline Passos. “Regularizando a propriedade, você confere às pessoas que habitam ali uma segurança jurídica, dá acesso a determinados serviços públicos, favorece políticas de organização do meio urbano e a própria organização patrimonial dessas famílias”, explica Raquel. O projeto conta ainda com a parceria do Núcleo de Atendimento Social da Faculdade de Engenharia (Nasfe), que realizará a confecção das plantas dos imóveis que deverão ser regularizados através do projeto. Segundo a vice-diretora, “a ideia é que, a todo instante do projeto, os alunos do Direito estejam em diálogo com alunos da Engenharia, já que
O “Boa Vizinhança - Espanhol” é um espaço para que pessoas de diferentes idades e interesses aprendam uma nova língua. Acima, o aluno Marcelo e, abaixo, o professor Esteban, na aula de sábado
são eles que vão passar as informações para realização de plantas, acesso aos locais e às pessoas”. Para entrar em contato com o público alvo, o “Moradia Legal” ainda conta com a ajuda do Instituto Beneficente Peron, uma entidade criada em 2006, na Cidade Alta, com o objetivo de levar à comunidade o acesso a psicólogos, fonoaudiólogos e pedagogos. O instituto realiza com frequência cursos preparatórios, de reforço escolar e oficinas de artesanato. A fundadora e presidente do Instituto,
Sandra Peron, lembra que um projeto semelhante ocorreu em parceria com a UFJF há 12 anos e foi benéfico para as pessoas atendidas. “Todo projeto de extensão da universidade é de grande valia para a comunidade. As pessoas têm um anseio muito grande de regularizar sua situação, e o que falta realmente é um projeto. A gente espera que esse possa contemplar muitas famílias”, ressalta Sandra. A primeira reunião entre docentes, alunos e moradores do bairro está prevista para acontecer no início de setembro, no bairro Nossa Senhora de Fátima.
Projetos - Boa Vizinhança
Cultura
Comunicação
Direitos Humanos
Cultura
Comunicação
Direitos Humanos
Educação
Meio Ambiente
Saúde
Educação
Meio Ambiente
Saúde
Trabalho
Tecnologia e Produção
Trabalho
Tecnologia e Produção
181
10
100 19
24
3
18
16
8
1
Dados da Pró-Reitoria de Extensão da UFJF - 31/08/2017
4 1
Quantidade
Quantidade
14
2
3
0
Arte gráfica: Juliana Dias
Projetos e Programas por Área
37
Fotos: Juliana Dias
Em 2017, programas e projetos ganharam 100 novas bolsas. Eventos já somam a participação de mais de 35 mil pessoas
Cultura
2017 | SETEMBRO
Entre versos e educação: projeto busca levar oficinas de trovas às escolas de Juiz de Fora Sabrina Soares
Entidade de trovadores da cidade procura difundir o gênero através de iniciativas como o Juventrova
Projeto Juventrova
Os trovadores em Juiz de Fora
A seção de Juiz de Fora surgiu em março de 1967 e teve como primeiro presidente o professor João Gonzo Filho. A cidade foi uma das primeiras a integrar o movimento. Porém, em 1971, a seção foi praticamente desativada, permanecendo assim até o ano de 1982, quando o poeta e advogado Antônio Carlos Furtado assumiu a liderança ficando até o ano posterior. A partir disso, a seção se fortaleceu e permanece em movimento até hoje. A A UBT realiza vários concursos nacionais buscando integrar todas localidades. Em Juiz de Fora, desde 1985, ocorre o concurso de trovas interno, só para moradores do município. No ano passado, foi realizado o segundo Concurso de Trovas Country Magazine e o primeiro Festival de Trovas Juninas, que contou com a participação de estudantes dos ensinos fundamental e médio das escolas públicas. Posteriormente, as trovas premiadas nas duas disputas foram agraciadas cada uma com seu respectivo livro idealizado pela organização. Já os Jogos Florais existem muito antes da UBT. Eles tiveram origem na Grécia Antiga, acredita-se que o nome “Florais” esteja relacionado ao fato de que a festividade era feita durante a primavera. De acordo com o presidente da UBT, Messias da Rocha, para os trovadores, os jogos são um concurso de trova. Ainda segundo ele, em Nova Friburgo (RJ) há eleição até de musas, cada uma representando alegorias como a música. Juiz de Fora teve sua primeira edição em 1962, com o tema “Criança”. A décima e última foi em 1994, tendo como tema “Feitiço” e “Magia”.
Divulgação da cultura
O engenheiro cívil Arlindo Tadeu Hagen, participante da seção desde 1980, conheceu o grupo através de seu tio Célio Grunewald, que também era trovador. Nesse período, a UBT encontrava-se parada, portanto, as reuniões ocorriam informalmente na casa de Célio. Arlindo destaca a importância da instituição, sendo o grupo de Juiz de Fora um dos mais participativos do país. “Primeiro que é cultura, estamos trabalhando para a divulgação da cultura, e segundo vejo a UBT como uma atividade fantástica para manter o cérebro funcionando, para manter as pessoas ativas, porque o próprio exercício de fazer a trova já é um exercício mental, além da convivência, como os concursos”. Ele ainda relata que já viu
Foto: Sabrina Soares
Leda Bechara, que esteve à frente da instituição durante 12 anos, coordena o projeto junto às escolas buscando a expansão da trova. Ela explica que o concurso no ano que vem, que ocorrerá dentro dos Jogos Florais, visa à participação de estudantes da rede municipal, estadual e particular. O projeto denominado Juventrova é uma ferramenta lúdica de auxílio ao professor. O programa utiliza como principal instrumento a trova, mas também oficinas e workshops. De acordo
com Leda, uma das principais intenções da iniciativa é trazer mais pessoas para o movimento. “Eu acredito que tenha muito trovador em Juiz de Fora e não saiba nem o que é.” Ela mesma conta que conheceu a entidade quando veio morar na cidade e viu uma notícia na televisão sobre oficinas trovadorescas, isso em 1996. Ainda segundo ela, por ser uma organização formada por pessoas mais velhas, há receio de que a tradição seja perdida se não houver o ingresso de mais pessoas.
Primeiro Festival de Trovas Juninas, realizado em 2016, contou com a participação de estudantes dos ensinos fundamental e médio das escolas públicas da cidade
trovadores se surpreenderem com a existência da organização. “São pessoas que fazem trova há anos, mas desconhecem a união.”
Foto: Sabrina Soares
Levar a poesia para dentro das escolas. Este é um dos objetivos da União Brasileira de Trovadores (UBT) Seção Juiz de Fora, que acaba de firmar parceria com a Secretaria de Educação, para realizar oficinas nas salas de aula voltadas para professores e alunos. A iniciativa deve começar a vigorar nos colégios da cidade em 2018. Além disso, a entidade prepara um concurso de trovadores também voltado para estudantes de todas as escolas públicas e privadas do município. Esta é uma maneira de rejuvenescer o gênero, que hoje é muito popular entre as gerações mais antigas. No entanto, as rimas simples dos trovadores são muito comuns em outros gêneros, como nas combinações musicais. Os próprios trovadores admitem que há quem faça trova e nem saiba disso, portanto é necessário voltar a popularizá-la para que as normas deste gênero, exclusivo da língua portuguesa, não deixe de existir. A primeira iniciativa para esta aproximação das gerações por meio da trova aconteceu no dia 9 de agosto, quando foi realizada uma oficina com professores e bibliotecários, visando a ensiná-los sobre as especificidades do gênero. Leda Bechara, integrante da UBT Juiz de Fora, conta que também tem feito palestras em instituições de ensino da cidade. Ela já esteve em colégios da Zona Rural, como em Penido, e no Caic Amazônia, na Zona Norte. Dentro das metas de retomar a popularização da trova na cidade, a UBT também voltou a publicar o informativo “Menestrel”. Ele circulou de julho de 1982 até março de 2006, sendo novamente editado este ano, em parceria com a Editar. Outra expectativa da seção local é com os Jogos Florais, um concurso de trovas, que envolve trovadores brasileiros e estrangeiros, e que será realizado em Juiz de Fora em 2018. O presidente da UBT Juizde Fora, Messias da Rocha, explica que a cidade terá a XI edição dos Jogos Florais no ano que vem, com o tema nacional será “Cinema”. A edição vai homenagear o juiz-forano João Carriço, um dos pioneiros no meio cinematográfico, e o tema local será “Ator/atriz”. Messias esclarece também que haverá uma fase do concurso voltada somente para professores e estudantes, com o tema “Arte”. O presidente, que iniciou sua gestão em janeiro deste ano, afirma que a divisão dos temas se dá para que não haja favorecimento, pois o julgamento nacional é feito pelos integrantes da UBT do município.
Gênero que fala “ao coração do povo”
No dia 18 de julho, é comemorado o Dia do Trovador. A data é o aniversário do cirurgião-dentista Gilson de Castro, conhecido pelo pseudônimo literário Luiz Otávio. A escolha foi uma forma de homenagear um dos maiores divulgadores do movimento trovadoresco no Brasil. A trova surgiu na era medieval, referia-se a qualquer poesia ou canto. Era sinônimo de “cantiga”, designando toda espécie de poema em que havia ligação entre a letra e a musicalidade. Para o escritor Jorge Amado, “não pode haver criação literária mais popular e que mais fale diretamente ao coração do povo do que a trova. É através dela que o povo toma contato com a poesia e por isto mesmo a trova e o trovador são imortais.” Foi através dos portugueses que o estilo chegou ao Brasil. Porém, só nos anos 1950, o gênero ganhou força. Hoje, a trova é o único gênero literário exclusivo da língua portuguesa. O fundador da União Brasileira de Trovadores (UBT), Luiz Otávio, conceituou a trova como: composição poética de quatro versos de sete sílabas cada um, rimando pelo menos o segundo com o quarto verso e tendo o sentido completo. Hoje a expressão artística pede rima dupla, forma rígida, sentido completo, ritmo, melodia, precisão gramatical, fluência, espontaneidade e musicalidade. A trova é composta por quatro versos, cada um contendo sete sílabas poéticas e com rimas entre o primeiro e o terceiro verso e o segundo e o quarto. Sílabas poéticas são diferentes de sílabas gramaticais. As sílabas de um poema não são contadas da mesma maneira que contamos as sílabas de um texto. A contagem delas ocorre auditivamente. A partir dessa contagem é que se classifica. Para contar deve-se seguir algumas orientações como: ignorar as sílabas que estão após a última sílaba tônica do verso. As trovas são feitas com versos heptassílabos, ou seja, com sete sílabas poéticas, que também são conhecidas como redondilha maior. As redondilhas, também chamadas “medida velha”, são de origem espanhola, podem ser compostas de cinco ou sete sílabas e fazem parte da obra de um dos maiores escritores reconhecidos e aclamados pelo mundo, o português Luís de Camões.
Nascimento da UBT
A União Brasileira de Trovadores (UBT) foi fundada em agosto de 1966 pelos poetas Luiz Otávio e J.G de Araujo Jorge no Rio de Janeiro e instalada oficialmente em janeiro de 1967. A entidade literária, que não tem fins lucrativos, visa ao caráter cultural, cívico e educativo, envolvendo a trova e atua em estados como Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Santa Catarina, Ceará, entre outros. A organização da UBT pode ser dividida de acordo com o número de participantes. Os lugares com mais participações são seções e os com menos são delegacias. Os mandatos para a presidência tanto nacional, estadual e municipal, por regra do estatuto da instituição, deveriam ser de dois anos. A sede administrativa é a própria casa do presidente, já que não há uma sede fixa. Atualmente, a presidente nacional da União Brasileira de Trovadores é Domitilla Borges Beltrame, no mandato desde 2014. A UBT, seção Juiz de Fora, realiza reuniões mensais, às terceiras sextas-feiras do mês, às 19h, no Museu do Banco de Crédito Real, Avenida Getúlio Vargas 455 - 3º andar. O endereço para correspondência é: Rua Olga Burnier, 51 – sobrado. CEP 36.070-190 – Juiz de Fora, MG. Telefones: (32) 98881-4900 e (32)98444-4810. Email: ubtjuizdefora@gmail.com.
O jornalista poeta, compositor e presidente da UBT, Messias da Rocha
Por Messias da Rocha A raiva no coração é como um grito feroz, que acorda o bicho papão que dorme dentro de nós. Se a saudade me consome e alimenta minha dor, lembrando apenas teu nome, eu mato a fome de amor. A palma da mão encerra, nos calos, esta lição: - os que cultivam a terra não têm um palmo de chão Jardineiro de contrastes, num país de sonhadores, sei que a firmeza das hastes salva a ternura das flores. Vejo a varanda sem rede, silêncio no casarão e os retratos, na parede, parecem vivos... não são. Aos tropeços não me curvo, mesmo que a vida me afronte. Por mais que o céu seja turvo, conquisto um novo horizonte. Para viver sigo o rastro dos que acreditam e entendem, que a honestidade é o lastro dos homens que não se vendem.
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Esporte
SETEMBRO | 2017
Mulheres esportistas percorrem um caminho rodeado de desafios e preconceitos
Ezequiel Florenzano
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eram proibidas de participarem de qualquer competição por serem consideradas fracas. Apesar de algumas participações extra-oficiais durante as primeiras décadas do século XX, o direito de participar como atletas só foi concedido pelo Comitê Olímpico Internacional(COI) no ano de 1936 em algumas poucas competiçoes. Tanto que somente nas olímpiadas de Londres, em 2012, permitiram a participação de atletas em todas as modalidades. Devido a esse longo período de desafios e lutas, a pouca presença de mulheres no esporte era compressível. A ausência de grandes competições e a organização em vários países ainda é um empecilho no crescimento da mulher no esporte. Além disso, em muitos locais as mulheres são proibidas de participarem de competicões esportivas.
Espaço a ser conquistado
O treinador de futebol Léo Lima ressalta que as meninas precisam de muita força de vontade para seguir em frente. “Eu diria para as meninas que o futebol é um esporte maravilhoso e transformador, basta muita força de vontade e determinação para conquistar seus objetivos nele.” Hoje, seu time conta apenas com uma menina entre vários meninos, mas ele considera que a aceitação dela no time é visível por parte do colegas, ou seja, eles agem naturalmente com a presença dela. Segundo ele, o maior problema, tirando o preconceito, talvez seja a falta de organização para a criação de competições femininas. Enquanto em eventos esportivos masculinos sobram times, nos femininos a falta de equipes acaba diminuindo a periodicidade. É o que também observa o treinador de futsal Renato Neder. “Apesar do aumento da procura de meninas para participar de treinos e competições, ainda existem poucas equipes se comparado às masculinas”. Ele relatou que, neste ano, por falta de equipes não houve competições de bases na Copa Bahamas, ressaltando uma das dificuldades que sua equipe, a São Bernardo de Futsal Feminino, vem enfrentando. “Para participar de competições é necessário, muitas vezes, sair de Juiz de Fora, pois quase não tem competição feminina aqui.” Desde a proibição de esporte feminino na época do governo de Getúlio Vargas até hoje, a capacidade da mulher ainda é testada,como ressalta a socióloga Luciane Monteiro: “Por muitos anos, fomos proibidas de praticar certos esportes. Com o passar do tempo, as mulheres perceberam que poderiam sim, não só lutar para que pudéssemos praticar todos os esportes, mas buscar por igualdade nos mesmos. A luta ainda é grande, mas tenho certeza de que seremos reconhecidas como iguais’’. Segundo ela, é necessário mais mulheres que queiram, gostem e lutem por posições de igualdade dentro de um contexto que a propicie praticar, viver e exercer o seu direito de ser uma esportista de alto nível e ter todos os recursos disponíveis ao sexo oposto. Além disso, ela afirma que a principal forma de findar o preconceito é buscar a igualdade na representação midiática. “A mídia prefere dar voz a um esportista (homem), do que a uma esportista que tenha feito uma grande façanha, por exemplo o caso de Rafaela Silva, que ganhou medalha de ouro na olimpíadas de 2016. Ela sempre foi mencionada como sendo uma das revelações de Flávio Canto, ou seja, é preciso mencionar um grande judoca para que se refira a uma grande judoca. A mídia não está preparada para lidar com situações de destaques de meninas em modalidades ainda vistas como masculinas. Os feitos femininos nos esportes precisam ser ouvidos, vistos e divulgados na mesma intensidade dos masculinos.”
Esportes que antes eram tidos como masculino ganham cada vez mais adeptas femininas
Mudança no panorama Algumas mudanças já estão sendo implantadas no mundo e até no Brasil. Em maio do ano passado a Federação Internacional de Futebol (Fifa) elegeu sua primeira mulher como secretária geral. A vaga ficou com a senegalesa Fatma Samba Diouf Samoura. No ano de 2013, o Brasil por meio da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), criou o Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino. Neste ano, as finais reuniram público maior que muitos jogos do futebol masculino. A final vencida pela equipe feminina do Santos pelo placar agregado de 3 a 0 ( 2 a 0 no primeiro jogo e 1 a 0 no segundo) contra o Corinthians, reuniu mais de 25 mil pessoas em cada um dos dois jogos. Segundo a nova regra da Confederação de Futebol Sul-Americano (Conmebol), os times terão que ter futebol feminino para participar da Libertadores da América no ano de 2019. As primeiras medalhas femininas do Brasil vieram apenas em 1996 com o vôlei. A partir deste momento, exemplo de personalidades femininas que venceram o prenconceito se tornaram mais comum. No Judô, considerado atividade exclusiva masculina até 1941, temos as pioneras medalhistas Mayra Aguiar e Ketleyn Quadros. Além delas, temos Sarah Menezes e Rafaela Silva, que irão participar de um quadro do programa Esporte Espetacular como treinadoras. Formiga, Cristiane e Marta pioneiras no Futebol mostraram a força e a persistência em um mundo quase que exclusivamente masculino. Mulheres como Mauren Maggi do Atletismo (primeira mulher brasileira que conquistou medalha olímpica no esporte individual), Martine Grael e Kahena Kunze da vela, Paula e Hortência, entre outras, mostraram a história de consquita e luta das mulheres brasileiras, depois do pionerismo da nadadora brasileira Maria Lenk, que foi a primeira mulher sul-americana a participar de uma competição de jogos olímpicos no ano de 1932. É inegável que as mulheres praticam vários esportes, mas por questões culturais poucos são destacados pela sociedade devido à forma de ver o esporte, dividindo as modalidades em atividades para homens e atividades para mulheres. Foto: Ezequiel Florenzano
O espaço ocupado pela mulher hoje na sociedade mostra a evolução dos pensamentos e da luta diária aos longos dos anos. Entretanto, mesmo assim quando uma mulher ocupa um cargo ou local tido como masculino, suas capacidades são tidas como inferiores e testadas a todo o momento, seja em casa ou no trabalho. No esporte não é diferente. A tônica de que mulher deve jogar queimada ainda é muito utilizada. A falta de visibilidade da mulher no esporte e a falta de incentivo junto ao preconceito são os maiores desafios das atletas. Seja no futsal, no futebol, no rúgbi e em outras modalidades que tenham mais contato ou sejam consideradas mais pesadas ou brutas, as mulheres estão cada vez mais inseridas nestes espaços. Aila Kathleen Sais da Silva, 18 anos, estudante de história, tem o treino de rúgbi como atividade esportiva há um ano e quarto meses. Ela falou da importância da prática do esporte em sua vida, tanto no crescimento de sua força como mulher e nos seus valores como pessoa, mas ressaltou a falta de investimento e o receio da família. “Quando comecei a jogar meus avós falaram que o rúgbi era esporte de homem, não era coisa de menina e que eu poderia me machucar, mas no momento em que eles assistiram o treino mudaram suas opiniões e até gostaram”. Segundo Aila, o que falta no esporte para mudar esse pensamento machista é o incentivo nas escolas, nas famílias. Além de investimento e visibilidade das mulheres no esporte. Quando uma atleta ou o esporte feminino são retratados na mídia sempre são com informações rasas e em um tempo muito curto comparado ao masculino. As modalidades que ganham espaço na mídia, em geral, são aquelas em que as mulheres estão usando roupa sexy, como o vôlei e principalmente a liga feminina de futebol americano (Lingerie Football League), em que as mulheres jogam com lingeries. A diferença de visibilidade e salários no futsal e futebol entre os dois sexos é visível. Por exemplo, a melhor jogadora do mundo de futsal é brasileira, Amanda Lyssa que é ala da seleção brasileira. Ela ganhou o título pela terceira vez. Além disso, Marta é a maior artilheira da seleção com 117 gols. Entretanto na mídia, pouco fala delas em comparação com o espaço dado em reportagens sobre Falcão, Pelé ou Neymar. Luísa Vieira, 20 anos estudante de Educação Física joga futsal desde 7 anos de idade, mas mesmo com apoio familiar enfrentou várias batalhas: “Minha mãe sempre procurou um local que tivesse meninas jogando pra me colocar, mas era difícil encontrar. Colocou-me pra jogar com meninos, mas ainda sim continuou apoiando, pois viu que eu tinha talento para o esporte.” A estudante observa que desde novas as meninas são estimuladas a praticar só esportes ditos femininos, ou a nem praticar. Segundo ela, muitas vezes a menina mostra interesse pelo esporte, mas acaba desistindo por causa desses estereótipos e da falta de incentivo: “Por causa do pensamento restrito de que o esporte e, nesse caso, o futebol é coisa de homem, acaba sendo direcionado apenas aos meninos, supondo que as meninas não são capazes de jogar”. É perceptivel a falta de apoio às mulheres esportistas. Nas escolas o mais comum é as meninas serem praticamente obrigadas a jogar ou a participar de esportes onde o contanto seja pequeno, como o vôlei e a queimada. Quando uma menina quer jogar futebol ou lutar, é necessário muita vontade e garra para seguir com o sonho. O único esporte feminino que tem algum destaque na mídia como um todo é o vôlei, que tem um incentivo maior e uma organização maior. Os outros aparecem raramente quando ocorre alguma coisa importante nele. Nas primeiras olimpíadas, as mulheres
Foto: Ezequiel Florenzano
Falta de apoio e visibilidade para atletas e competições é um grande empecilho para o crescimento feminino nos esportes
Aila vestida de casaco azul treina com os colegas do JF Gúaras Rúgbi no Campus da UFJF