Sumário
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entrevista
Senador Cristovam Buarque aponta soluções para a Educação
violência nas escolas
Como conviver
19 26
especial
Professores que transformam vidas
trabalho franciscano
Irmã Paula Schneider: exemplo de dedicação
foto: Waldemir Barreto | AgĂŞncia Senado
COM A PALAVRA
Senador Cristovam Buarque
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COM A PALAVRA
Convocar as forças nacionais para debater a crise na educação brasileira seria o início da construção de uma educação de melhor qualidade?
Brasil vive um apagão intelectual A declaração, recorrente nos discursos do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), faz parte da postura sustentada em defesa da educação brasileira cuja situação qualifica como uma “tragédia” que se repete há muitos anos. Para Buarque, em cinco séculos não se conseguiu resolver os problemas e construir uma economia baseada em mão de obra qualificada; não se conseguiu fazer a educação igual para todos - única forma possível de acabar com o atraso no país. Em entrevista à Mestres +, o senador aborda esta e outras ideias. Formado em Engenharia e doutor em Economia, o pernambucano Cristovam Buarque já foi reitor da Universidade de Brasília, governador do Distrito Federal e ministro da Educação. Candidatou-se pelo PDT à presidência da república; atualmente é senador. Seguidor de Darcy Ribeiro, dá continuidade à proposta de transformar a educação em prioridade nacional. É responsável pela formulação da Lei do Piso Salarial dos Professores, em vigor desde janeiro de 2009.
Esse é um ponto necessário. Recentemente fizemos pela primeira vez no Senado um debate sobre o papel da educação na infraestrutura. Temos estradas, portos, aeroportos, energia, e colocamos a educação em debate. Foi muito interessante. Não trouxemos professores, e sim economistas e empresários. Ficou claro que sem infraestrutura educacional, o país não tem futuro. Venho defendendo que, se não fizermos uma base federal, ao invés de municipal ou estadual, não teremos futuro, porque são poucos os municípios que têm recursos para uma boa educação.
Em seus pronunciamentos, o senhor afirma que o Brasil vive um “apagão intelectual”. Por onde começar para reverter esta questão? Temos que começar pelos menores. Sempre perguntamos por onde começar do ponto de vista educacional para dar resposta imediata. Não há resposta imediata para o apagão educacional. Tem que começar pelo Ensino Fundamental. Isso não quer dizer que vamos parar de fazer cursos de qualificação e parar de trabalhar formas de melhorar o Ensino Médio, mas a verdadeira revolução tem que ser a partir do Ensino Fundamental.
Qual sua avaliação do último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) apresentado? Quando separamos as escolas municipais, das estaduais, públicas, particulares e federais, a melhor média é das federais. As particulares têm as melhores escolas, mas também têm algumas muito ruins. Na média estão abaixo das federais. Se a gente calcula o chamado PISA (indicador médio de educação por país), as federais estão em 10º lugar, particulares em 25º, estaduais e municipais nos últimos cinco lugares entre as 53 nações que são avaliadas. Estamos muito ruins, porque na média o Brasil só tem 15 países atrás. Tem muita gente comemorando porque o IDEB de hoje é melhor do que o de dez anos atrás. É um equívoco comemorar “nós com nós próprios. Nós de hoje com nós de ontem.” Temos que nos comparar com os melhores do mundo e olhar como a gente faz para chegar à Coreia do Sul, Finlândia, Singapura.
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GESTÃO
Temos um conformismo em educação. Compare a reação brasileira quando a Unesco diz que somos a 88ª nação do mundo em educação com a nossa reação quando diz que somos vice-campeões mundiais de futebol. Não nos conformamos em ser vice-campeões, mas, em ser lanterninha na educação.
Países como Coreia do Sul, Índia, China e Irlanda, que há trinta anos estavam em situação pior do que o Brasil, hoje estão melhor. Falta ao país fazer o dever de casa para alcançar níveis educacionais melhores? Falta ao Brasil saber aonde quer chegar e fazer o dever de casa permanentemente ao longo do tempo. A Irlanda é um bom exemplo. Eles se reuniram nos anos 70 e os líderes de todos os partidos se perguntaram: onde vamos investir o dinheiro que a gente vai ter com a Comunidade Econômica Europeia? E decidiram investir em educação. Muda governo, entra governo, sai governo e o investimento é em educação. Hoje é um país de ponta, no setor. Tanto que estão se recuperando da crise que atravessaram porque têm uma população educada; Ciência e Tecnologia que o mercado mundial precisa. No Brasil produzimos o que o mundo precisa, mas não de alta tecnologia, com exceção dos aviões da Embraer, resultado de uma escola de tecnologia, pois foi o ITA que fez a Embraer.
Não nos conformamos em ser vice-campeões, mas, em ser lanterninha na educação
tenho a impressão que a gente vai conseguir chegar lá em algum momento. Os governos no Brasil acham que são eternos. Há uma confusão entre país, governo e partido do governo. São três coisas diferentes. O país é permanente, o governo é a administração disso e o partido que está no governo, é provisório, não vai ficar para sempre. Lamentavelmente por isso o atual governo reage a tudo que for para mudar a educação de uma forma mais substancial. Não tem nada na educação feito pelo atual governo que me satisfaça. É como dar um pequeno passo, sem querer olhar lá na frente, dando passos maiores.
O senhor defende a federalização da educação. Neste sentido, cobra a aprovação da PEC 32/2013, de sua autoria, que responsabiliza a União pelo financiamento da educação básica pública. Como o governo vê esta questão?
Sobre criação de uma carreira nacional do magistério público, pagando com dignidade, identificando vocações, quebrando a ideia de estabilidade plena, e oferecendo escola de qualidade para os professores exercerem suas aptidões. Esta é uma ideia, também defendida pelo senhor, distante de se concretizar?
Agora devemos começar o grande debate que espero que seja feito. Ninguém pode imaginar que vai ser rápido, mas
Ainda está distante do ponto de vista político de se decidir fazer e do ponto de vista de levar a todo o Brasil depois de
Se não fizermos uma infraestrutura federal, ao invés de municipal ou estadual, não teremos futuro porque são poucos os municípios que têm recursos para uma boa educação.
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GESTÃO
começar. Após decidir por uma carreira nacional do magistério, vamos precisar contratar esses professores, pois não existem educadores com essa qualificação para pagar o que eu proponho: R$ 9.500,00 por mês. Não vamos conseguir dois milhões de jovens, pois eles hoje preferem outras carreiras. Eu proponho que seja aos poucos no Brasil, mas de imediato nas cidades. Ao longo de 20 anos, chegaríamos a todo país. Escolas federais com professores da carreira nacional do magistério, em prédios novos, bonitos e equipados, em horário integral.
Quais são os fatores que mais afastam professores da sala de aula? Uma das coisas é a própria escola. É claro que o salário afasta, mas o faz menos do que o clima das salas de aula, a degradação dos equipamentos, o descontentamento dos alunos que leva à violência. Depressão e doenças na garganta são muito preocupantes, pois muitos ministram 40 horas de aula e ainda dão aula em outro lugar para complementar o salário. Vai dar aula não tem giz, as cadeiras estão quebradas, os alunos estão com raiva e são violentos. Um dos lugares mais violentos no Brasil hoje é a sala de aula. A escola não é adaptada às crianças. O quadro negro, como existe há 150 anos no mundo, é como um pau de arara de tortura para uma criança. Uma tortura mental, pois estão acostumadas com computador, televisão, colorido, movimento. A aula é estática, com um giz branco, no máximo colorido. Tem que mudar tudo isso para que a escola se torne agradável e para que o trabalho do professor seja gratificante.
Quais são os impactos da realidade de nossa educação na economia brasileira? Exigências crescentes de ciência e tecnologia são supridas pelo ensino que temos hoje?
Sem educação de base para todo mundo, estamos jogando fora cérebros
Temos dois impactos imediatos: um é o produto que a gente faz; o outro é a ineficiência como é feito. Sem educação de base para todo mundo, estamos jogando fora cérebros. É como se a gente descobrisse um poço de petróleo quando nasce uma criança e tapasse quando não a põe na escola. Estamos jogando fora um recurso fundamental que é a criação intelectual, que hoje é determinante. O futuro não pode estar na exportação de soja e ferro, que a gente já exporta há 500 anos – bens agrícolas e minerais. Está na exportação de bens de alta tecnologia, que não temos condições de criar. Nem mesmo automóvel. Não tem um automóvel brasileiro com nome brasileiro e sim, americano, coreano, japonês. A falta de educação leva à falta de mão de obra criativa e produtiva, o que culmina nas dificuldades de hoje.
Um dos lugares mais violentos no Brasil hoje é a sala de aula
Indicadores do Enem sinalizam possíveis soluções? O Enem mostra que não estamos piores hoje do que ontem, do ponto de vista de nós próprios. Mas se a gente comparar “nós de hoje, com o de ontem” com a brecha educacional que é preciso preencher, estamos piores. É como alguém que vai caminhando mais devagar do que o ônibus que quer pegar. O ônibus - quantidade de educação de que o país precisa - vai mais depressa do que a caminhada da educação brasileira. O Enem mostra que a gente melhora em relação ao passado, mas, quando analisamos em relação ao que precisamos hoje, não melhoramos; pioramos. Estamos indo mais devagar do que as exigências em educação.
Quanto é preciso investir, por aluno, para se ter uma educação de qualidade? Começaríamos a ter uma educação de qualidade no Brasil com R$ 9 mil por aluno por ano. Isso
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COM A PALAVRA
Criamos uma cultura que não dá valor à educação. O governo despreza a educação porque o eleitor o faz.
é quatro vezes o que se gasta hoje. Uma família que põe uma criança numa escola particular das melhores, gasta muito mais do que isso. Uma mensalidade por menos de R$ 1 mil hoje, em geral, é de uma escola que não está pagando bem o professor, que não tem bons equipamentos. Para ter todas as crianças com R$ 9 mil ao ano e pagar R$ 9.500,00 por mês para os professores, precisamos de R$ 450 bilhões por ano. Isso leva tempo. Se em 20 anos o PIB crescer 3% ao ano (o que não é uma taxa grande quando olhamos a história do Brasil), esse valor vai representar 6,5% do PIB. Não é muito. O Plano Nacional de Educação está pensando em colocar 10%. A educação de base custaria 6,5. Ainda sobraria dinheiro (3,5) para o ensino superior e todas as outras formas de educação. Ou seja, não é impossível, do ponto de vista financeiro, fazer isso ao longo de 20 anos.
O que falta para o brasileiro olhar a educação com o carinho e respeito merecidos? Não enxergamos a educação com a importância que ela deveria ter, como coisa fundamental, símbolo de riqueza. No Brasil, ser rico é ter um carro bom, conta bancária, uma casa boa, outra, na praia, viajar para longe. Diploma na parede não é sinônimo de riqueza. No máximo, é sinônimo de que a pessoa vai ter uma renda alta. As pessoas estudam para ter uma renda, não porque educação seja enriquecedora. É a cultura brasileira, diferente de outros povos onde, quando você mostra um diploma de professor, as pessoas se abaixam. Não vamos nem perguntar sobre o salário... No Brasil quando se fala em professor e se pensa no salário, trata-se com desprezo.
A mente brasileira não é favorável à educação
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Criamos uma cultura que não dá valor à educação. O governo despreza a educação porque o eleitor o faz. A educação não faz parte das variáveis que o eleitor usa para tomar decisão em quem votar. Ela entra muito distante. Tem mais um complicador: o Brasil é o país do imediato. Nós queremos resolver as coisas já, e a educação só vai melhorar a vida da pessoa 20 anos depois que ela entrou na escola. O brasileiro não quer esperar. Prefere ter uma estrada hoje do que uma escola maravilhosa que só vai fazer o doutor daqui a 20 anos. A mente brasileira não é favorável à educação. Não a põe como um valor fundamental.
Responsável pela formulação da Lei do Piso Salarial dos Professores (Lei 11.738), como o senhor analisa a situação atual dos salários no Brasil? E quanto aos Estados que afirmam não poderem arcar com tal pagamento? Do ponto de vista legal está resolvido. Demorou muito. Primeiro eu consegui aprovar o projeto de Lei criando o piso. Governadores tentaram impedir no Supremo, dizendo que era inconstitucional. Nós ganhamos. Depois, o problema foi com a maneira de reajustar. Mas no Brasil tem lei que não pega. O piso não pegou em todas as cidades e Estados. Há Estados ricos que não pagam o piso alegando que não têm dinheiro. A maior parte deles, se fizesse uma mudança nas prioridades, teria dinheiro. Mas eles não fazem, por isso não estão pagando. Outros, porém, acho que não conseguiriam pagar mesmo. Por isso defendo que pelo menos o piso seja pago pela União. Todo brasileiro professor receberia o valor do piso: R$ 1.652,00 do governo federal e os governos estaduais e municipais dariam a diferença. Os que o pagam hoje, pagariam a mais. O salário ficaria igual em todo o Brasil, mas o piso seria pago garantidamente. Isso foi um passo até a gente chegar à federalização definitiva em que todos os professores seriam funcionários federais, como são hoje os profissionais de todos os órgãos federais do país.
Diálogos com o Direito
Piso do magistério em debate Com o julgamento da Ação Civil Pública, proposta pelo Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul, pedindo o cumprimento da Lei do Piso Nacional, foram confirmados os parâmetros da decisão do STF, quais sejam, pagamento de acordo com o índice fornecido pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), com respeito ao Plano de Carreira do Magistério Estadual e retroatividade a abril de 2011. O advogado Sérgio Cezimbra, que atua na área de Direito Administrativo, explica que a retroatividade do pagamento já havia sido definida pelo STF, sendo confirmada na presente Ação Civil Pública.
um lapso no momento do ingresso do processo, os pensionistas não foram incluídos na questão. Caso o Estado, por meio do Instituto de Previdência do Estado do RS (IPERGS), não cumpra a determinação da ação judicial, os pensionistas poderão ingressar com ação, pois também fazem jus ao piso da mesma forma que ativos e inativos”, esclarece o advogado.
Evolução no valor do piso do magistério: 2008 R$ 950,00 2009 R$ 950,00 2010 R$ 1.024,67 (índice de 7,86%)
”Não sabemos se o RS cumprirá com essas determinações”, observa Cezimbra
“Na prática, não sabemos se o Estado do Rio Grande do Sul cumprirá com essas determinações, pois até o momento nada foi feito. Resta aos professores, grandes prejudicados, o ingresso de ação judicial visando o cumprimento da Lei do Piso, com mais esta vitória proporcionada pela Ação Judicial do Ministério Público”, opina. A competência para a definição do piso nacional é do MEC, por meio do índice fornecido pelo Fundeb. Com o piso estabelecido, cada Estado deverá aplicá-lo no seu quadro de professores, sempre observando o plano de carreira. Desta forma teremos o salário de cada Estado. Atualmente, o piso nacional do magistério é reajustado anualmente em janeiro, pelo percentual de crescimento do valor mínimo por aluno, referente aos anos iniciais do ensino fundamental urbano do Fundeb. “Não esquecendo que a Lei do Piso não trata somente de salários, e sim da jornada e da carreira do professor”, acrescenta Cezimbra.
Quem está incluído Na decisão da Ação Civil Pública, estão abrangidos os servidores ativos e inativos do quadro do magistério estadual. “Por
2011
R$ 1.187,97 (15,94%)
2012 R$ 1.451,00 (22,2%) 2013 R$ 1.567,00 (7,97%)
Para o ano de 2014 as projeções são as seguintes: Mantendo-se a situação atual - Lei 11.738/08 Crescimento do valor por aluno ao ano (Fundeb 2013) em relação a 2012 - sem alteração - o piso do magistério será: 2014 – R$ 1.864,73 (índice de 19%) - aumento em janeiro Propostas de alteração na lei em tramitação no Congresso Nacional: 1º critério: INPC + 50% da Receita Nominal do Fundeb com aumento em maio 2014 – R$ 1.723,54 (índice de 9,99%) 2° critério: INPC + 50% da Receita Real do Fundeb com aumento em maio 2014 – R$ 1.683,58 (índice de 7,44%) Fonte: AMP - Associação dos Municípios do Paraná
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Na contramão digital, escola aposta
A metodologia valoriza as potencialidades inatas da criança e as
Hoje, as principais ferramentas de ensino de grande parte das escolas resumem-se nas novas tecnologias; por outro lado, há escolas que caminham na contramão deste sistema. Enquanto umas optam pelo uso de tablets na Educação Infantil e modernos equipamentos para alunos mais velhos, a Escola Waldorf Querência, localizada em Porto Alegre, aposta em um sistema diferente, baseado em uma pedagogia que parte da criança e que tem como meta o desabrochar de seu potencial. De forma geral, esta metodologia valoriza as potencialidades inatas da criança e as etapas de seu desenvolvimento posterior, trabalhando com uma grade curricular que aborda atividades corpóreas, artísticas e artesanais, de acordo com a idade de cada estudante. Com isso, o ensino teórico caminha lado a lado com o prático.
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As professoras Ana Beatriz Weber e Stella Branco comentam que a melhoria da qualidade do ensino não depende de solução tecnológica, e sim, humana. No método Waldorf o crescimento da criança é dividido em três fases de sete anos – os setênios –, uma concepção em que predominam o exercício e o desenvolvimento das habilidades, e não o mero acúmulo de informações, cultivando a ciência, a arte e os valores morais e espirituais necessários ao ser humano. “Sua proposta educacional curricular leva em conta, como diretriz orientadora, os passos do desenvolvimento de crianças e jovens, criando uma sutil integração interdisciplinar entre os vários níveis de ensino e as respectivas matérias, oferecendo ao aluno a possibilidade do desabrochar em múltiplas dimensões, sempre em concordância com sua faixa etária”, apontam.
Essas possibilidades consistem na aquisição de conhecimentos, competências culturais, capacidades emocionais e sociais, assim como diferentes habilidades práticas e aptidões artísticas.
Contraponto Mesmo que em grande parte das grades curriculares de escolas regulares a matéria de informática faça parte do dia a dia dos alunos, as professoras explicam que no ensino Waldorf, o objetivo central é estimular o desenvolvimento saudável da imaginação e a criatividade em seus alunos, por isso o uso da tecnologia não é algo visto como essencial. Para elas, a preocupação dos professores é a de que a mídia eletrônica impeça o desenvolvimento da imaginação da criança. “Eles estão preocupados com os efeitos físicos da mídia na criança em desen-
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em educação mais humana etapas de seu desenvolvimento posterior
volvimento e com o conteúdo de grande parte da programação”, completam.
muita compreensão, amor e altruísmo da parte de seus mestres”.
des artísticas e sociais, caligrafia cursiva e capacidade de ouvir.
Na metodologia Waldorf, a idade adequada para o uso do computador pelos estudantes na sala de aula é durante o Ensino Médio. “Achamos que é mais importante para os estudantes terem a oportunidade de interagir uns com os outros e com os professores na exploração do mundo das ideias, participando no processo criativo e desenvolvendo conhecimento, capacidades, habilidades e qualidades interiores”.
Segundo as professoras, os estudantes encaram com naturalidade esta realidade, e têm amor pela aprendizagem, uma curiosidade contínua e interesse pela vida. “Como estudantes mais velhos, eles rapidamente dominam a tecnologia, e os alunos formados conseguem seguir carreiras bem-sucedidas na indústria de computadores.”
“Aquelas crianças que entram em uma escola Waldorf, normalmente trazem muitas informações sobre o mundo. Essa contribuição deve ser reconhecida e recebida com interesse pela classe. No entanto, muitas vezes, elas têm que desaprender alguns hábitos sociais como, por exemplo, a tendência de vivenciar a aprendizagem como uma atividade competitiva”.
Além da proximidade com colegas de classe e professores, Ana Beatriz e Stella destacam outro motivo para a não tecnologia. “O computador trata todos os usuários da mesma maneira: seca, fria e impessoal. Não é isso que nossos alunos necessitam, eles precisam de
Alunos As educadoras explicam que as crianças que são transferidas para uma escola Waldorf estarão em um nível desejável com relação à leitura, matemática e habilidades acadêmicas básicas. Porém, de forma geral, elas terão muito a aprender em termos de capacidade de coordenação corporal, postura, ativida-
Para conhecer o novo aluno, a escola faz uma profunda avaliação do estudante e da família, no sentido de conhecê-los, possibilitando ao professor preparar-se para lidar com as necessidades individuais da nova criança. Agora, se uma criança é transferida de uma escola Waldorf para outra instituição durante as primeiras séries,
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provavelmente terá que melhorar a habilidade na leitura (uma vez que a alfabetização se dá nos primeiros anos escolares), e abordar as lições de ciências de modo diferente. “Por outro lado, os alunos estão normalmente bem preparados quanto a estudos sociais, atividades práticas e artísticas e o raciocínio matemático”. As professoras ainda ressaltam que os jovens que deixam este método durante o Ensino Médio possivelmente levarão para a nova escola uma força individual distinta, assim como confiança pessoal, e apreciação pela aprendizagem e pelas relações humanas.
Professores Todos os professores das escolas Waldorf devem estar legalmente habilitados para a prática da profissão, devendo, preferencialmente, ter formação suplementar em cursos específicos sobre esta pedagogia, que incluem estágios supervisionados. Atualmente está sendo estudada a possibilidade da criação de um curso superior de formação. Um curso de pós-graduação lato sensu foi realizado em 2006 em uma parceria entre
A pedagogia Waldorf foi criada pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner, em 1919, com o ensino baseado na antroposofia, que valoriza não só o desenvolvimento intelectual da criança, mas também o físico, cognitivo, espiritual e social.
a Escola Livre Porto Cuiabá, a Universidade Estadual de Mato Grosso e a FEWB. “Existem ainda sete localidades espalhadas pelo país, entre elas o Rio Grande do Sul, onde são oferecidos cursos de Fundamentação em Pedagogia Waldorf (modalidade cursos livres), que também são bastante procurados”, comentam as educadoras.
São mais de 1.000 escolas Waldorf no mundo, sendo que no Brasil existem mais de 50 escolas filiadas e várias outras em processo de filiação junto à Federação das Escolas Waldorf no Brasil.
As disciplinas são ministradas em “ciclos”. Por exemplo, durante um mês acontece a “época de geografia”, depois a “época de As escolas trabalham história”. com a euritmia pedagógica: arte que estimula a coordenação espacial, fortalece a habilidade de ouvir e desenvolve as relações sociais.
Além das atividades manuais, (tricô, crochê, bordado, argila), música (kântele, flauta doce, instrumentos de corda, iniciação musical e canto) e jardinagem, dramatizações, artes (desenho de formas, aquarela, pintura e desenho), movimento (jogos, esportes, dança), aulas de inglês e alemão também fazem parte dessa dinâmica de ensino.
Cada classe tem um professor tutor responsável por todas as matérias, que acompanha a mesma turma durante sete anos.
Nas escolas com a metodologia Waldorf, não há livros didáticos e os cadernos não têm linhas, para que as crianças aprendam a ter a coordenação motora desenvolvida.
Fonte: Sociedade Antroposófica no Brasil
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ALIENAÇÃO PARENTAL
Lição de casa para a escola As escolas precisam aprender uma importante lição: entender os sintomas e efeitos da alienação parental, para minimizar seus reflexos e interferências na educação de crianças e jovens. Para falar sobre a alienação parental, nos valemos do conceito do psiquiatra norte-americano Richard Gardner que, em 1985, diagnosticou a Síndrome da Alienação Parental – SAP. Segundo Gardner, quando há ruptura da vida conjugal e um dos genitores passa a utilizar o filho como instrumento de agressividade, canalizando ações de vingança contra o outro genitor, esta situação acaba gerando um transtorno psíquico. O objetivo daquele genitor torna-se, mesmo que inconscientemente, destruir os vínculos da criança com o outro. A manipulação ou alienação do filho contra o genitor que não é seu guardião, caracteriza o fenômeno da alienação parental. Neste contexto, percebem-se as tentativas de afastamento da criança e as campanhas difamatórias contra a imagem do pai/ mãe alvo da alienação. Com o passar do tempo e com a repetição deste comportamento, o sentimento de ódio e repúdio acaba inserido no inconsciente infantil, de tal forma que a criança o sente e o vivencia como se fosse dela própria. A partir deste ponto, o mal da alienação parental já criou profundas e nefastas raízes, num processo de desconstituição da personalidade da criança. O problema, no Brasil, começou a receber a atenção devida no início da década passada, pela relevância social e gravidade dos efeitos nas crianças. Culminou, no ano de 2010, com a promulgação da Lei da Alienação Parental (Lei 12.318), cuja preocupação é o risco da exposição de crianças e adolescentes aos atos de alienação parental, tendo como norte a proteção integral deles, para que não desenvolvam esta síndrome. Para ser mais específico, o art. 2º da referida Lei considera “ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou adolescente, promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a autoridade, guarda ou vigilância, para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este”. O artigo 3º da Lei equipara a alienação parental a abuso moral contra a criança ou adolescente, ao prejudicar a convivência social e afetiva desta com o grupo familiar, descumprindo deveres da guarda parental.
O reflexo destas intrincadas relações familiares pós-modernas chega às escolas, pois muitos alienadores, geralmente guardiães, ao matricularem seus filhos, obrigam diretores, coordenadores pedagógicos e professores a não revelarem informações escolares, boletins de notas, calendário, reuniões, festas, passeios e excursões. Ou seja, acabam as escolas enfrentando, cotidianamente, desafios antes impensáveis. A saída para superar esta problemática nos espaços educativos está no investimento em qualificação de todos os seus colaboradores e na adoção de ações preventivas, que visem preservar os vínculos familiares e o exercício dos papéis parentais. O fundamento legal para estas ações está na Lei da Alienação Parental e na Lei 12.013/2009, que modifica a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Esta alteração ocorreu no artigo 12 da LDB, que passou a determinar, no inciso VII, que é dever da instituição de ensino “informar pai e mãe, conviventes ou não com seus filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre a execução da proposta pedagógica da escola”. Tais questões evidenciam a relevância em difundir a temática da alienação parental nos espaços escolares, pois a escola não pode favorecer ou contribuir para a retirada da criança do convívio com o genitor alienado. Ao contrário, deve ser parte do resultado na preservação das relações familiares e o exercício igualitário das funções parentais. Em resumo, toda a sociedade deve se mobilizar para erradicar os atos nocivos de alienação parental e seus efeitos destrutivos no psiquismo das crianças e jovens. Assim agindo, estaremos minimizando os prejuízos emocionais sofridos por eles quando do término de um casamento ou de uma união estável.
Márcio Sequeira da Silva Advogado, graduado pela PUCRS Pós-Graduado em Direito pela UFRGS
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VIOLÊNCIA
a m o c r e v i v A arte de con
violencia sem ser conivente com ela É preciso ter força de vontade e coragem para lidar com as imposições externas, pois os problemas são vários e das mais diversas naturezas.
Tornou-se comum os noticiários anunciarem em suas manchetes temas como atos de vandalismo, crimes que atentam contra patrimônios públicos, bullying e o grau de violência a que todos são expostos diariamente. Em meio a essas notícias, destacam-se, frequentemente, agressões, físicas ou verbais, dentro e contra as escolas, professores e os próprios estudantes.
Constantemente são noticiadas brigas entre alunos, ameaça contra professores, depredações contra instituições de ensino, e tantos outros atos de violência. Se não bastasse a brutalidade que se vê nos jornais, professores ainda precisam conviver com esse drama dentro do ambiente de trabalho. São alunos drogados, pequenas chantagens, advertências, e até a famosa pergunta: “Você sabe quem é meu pai?”
Registros do incêndio na escola La Hire Guerra
Dirigir uma unidade escolar com uma realidade assim não é tarefa simples. É preciso ter força de vontade e coragem para lidar com as imposições externas, pois os problemas são vários e das mais diversas naturezas. Mas algumas pequenas atitudes provam que é possível sim, conviver com a violência sem ser conivente com ela, e ainda garantir que a escola seja um local para sonhar e acreditar. A diretora da Escola Municipal La Hire Guerra, em Eldorado do Sul, Fabiana Schwindt Rodrigues, provou como se faz.
Recomeço No dia 12 de agosto, pais, alunos e professores da Escola Municipal La Hire Guerra foram apanhados por uma lamentável notícia: a instituição fora depredada e incendiada durante a madrugada. Os suspeitos? Alunos da própria escola. “Com o incêndio, tivemos um prédio totalmente destruído (quatro salas de aula, sala de vídeo, sala dos professores, biblioteca e sala da banda), um prédio com seis salas de aula parcialmente destruído e já reformado, além de vandalismo nos setores da direção, secretaria e sala de recursos”, relata a diretora.
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VIOLÊNCIA
O outro lado da violência Engana-se quem pensa que a violência resume-se apenas em atos de vandalismo e agressões físicas. A professora Cecilia Maria Martins Farias, diretora do Sindicato dos Professores do Ensino Privado do RS (Sinpro/RS), esclarece que a violência também está presente nas pressões que os professores sofrem, seja dentro da sala de aula, por parte dos pais e alunos, ou pelas direções das instituições de ensino.
Banda da Escola Era necessário recomeçar, recuperar os danos e seguir em frente. Para isso, a escola contou com uma grande aliada: a solidariedade. Prefeitura e comunidade trabalharam em parceria, na organização e reforma. Também receberam doações de vários municípios, empréstimos de instrumentos musicais, almoço beneficente do CTG local, doações para a realização de rifas, entre outros. A contribuição de cada um colaborou para que a escola pudesse se reestruturar o mais rápido possível, e uma semana após os estragos ocasionados pelo incêndio, o clima era de emoção. Mesmo com alguns improvisos e, na época, carga horária reduzida, os alunos puderam retomar as aulas. Com 630 alunos do Ensino Fundamental e 127 da Educação de Jovens e Adultos, e um histórico de pichações, pedras no ginásio e algumas tentativas de arrombamento, a escola abre suas portas para o desenvolvimento de ações sociais e educativas no cotidiano escolar como meio de combater a violência. “Atendemos 200 alunos em turno inverso com o Programa Mais Educação, com oficinas de dança, karatê, recreação, vôlei, informática e acompanhamento pedagógico”. Aos sábados trabalha com o Projeto Escola Aberta, com oficinas de ballet, futsal, banda rítmica, fuxico, dentre outras atividades, abertas à comunidade. O diálogo também é um importante aliado para resolver conflitos. Por isso, a instituição busca promovê-lo, chamando, quando necessário, alunos e responsáveis para tentarem solucionar impasses, com o intuito de evitar a violência. Mas, afinal, o que contribui para que jovens cometam atos de vandalismo? Fabiana acredita que, dentre os fatores,
estão a desvalorização da instituição, a desestrutura familiar e o acúmulo de funções atribuídas à escola. “Além de uma inversão de valores da sociedade, onde o respeito e o público são banalizados”. O mesmo pensamento é compartilhado por Carlos Sant’ana, coordenador do RS na Paz - Programa Estadual de Segurança Pública com Cidadania. Segundo ele, a escola está sempre em segundo plano para a sociedade: a comunidade não a vê como um equipamento público à sua disposição, não sente a escola como sua propriedade e não a tem como elemento vital à cidadania. “A escola precisa ser integrada à sociedade e vista como elemento vital para exercer a cidadania das comunidades. É fundamental que as pessoas percebam a importância da escola para o seu dia a dia, para seu crescimento e dignidade, como exercício da cidadania. Não há percepção dessa ligação, a visão de que a escola faz parte da comunidade”, avalia o coordenador. Outro ponto relevante apontado por ele é a participação dos pais na vida acadêmica, promovendo o diálogo com seus filhos e deixando de terceirizar a educação deles com as instituições de ensino. “Eles precisam entender que são educações diferentes. A escola não substitui a família e nem a família substitui a escola”. O distanciamento entre a sociedade, a família e a escola também é visto como um dos responsáveis pela violência. De acordo com o coordenador do programa, as crianças depredam porque não têm nenhuma identidade com as instituições de ensino. “Elas não se veem como parte da realidade da vida dela, mesmo que sejam alunos”.
Para não desagradar alunos e responsáveis, Cecilia explica que algumas escolas interferem no planejamento do professor, em especial, na avaliação. “Também é de se destacar o excesso de trabalho extraclasse gerado pela necessidade de um atendimento mais individualizado ao aluno, pelas demandas tecnológicas e, ainda, atividades burocráticas”. Uma das formas para amenizar esta realidade é melhorar as condições de trabalho dos educadores, evitando situações de tensão quando estas não são necessárias. “As direções das escolas precisam, definitivamente, parar de minimizar os problemas e atuar sobre eles, numa postura pedagógica que ajude os integrantes da comunidade escolar a se tornarem pessoas mais justas e fraternas”.
RS na Paz Concebido pelo Governo do Estado, trabalha com um conjunto de políticas públicas baseadas no diálogo entre ações sociais e policiais, visando a redução de violência. O programa atinge prioritariamente jovens de 12 a 24 anos, atuando, dentre outros lugares, em escolas públicas, inserindo os jovens em atividades sociais que buscam coibir ações criminosas. O projeto estrutura-se em três eixos estratégicos: prevenção, transversalidade e gestão. No primeiro, ações de prevenção social à violência e à criminalidade visam a redução da vulnerabilidade da população. Já a transversalidade atua na intervenção conjunta das polícias, com a qualificação das ações tradicionais e de rotina a partir da integração. Por fim, a gestão objetiva conhecer a realidade que se pretende transformar.
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RPV
Você já verificou se não tem uma Requisição de Pequeno Valor para receber? Muitas pessoas não sabem, mas o pagamento de Ações Judiciais com decisão definitiva, ou seja, que não comportam mais nenhum recurso ou modificação na condenação, podem ser pagas pela modalidade das Requisições de Pequeno Valor (RPVs) e não por Precatórios. O advogado Paulo Cezar Pizzolotto esclarece que a diferença entre as RPVs e os precatórios é simples e está fundamentada no valor e no prazo para o pagamento. Na RPV, os valores a serem quitados devem ser iguais ou menores do que 30 salários mínimos – Municípios; 40 salários mínimos – Estados; 60 salários mínimos – União Federal. Já o prazo é de 180 dias a partir da data do protocolo na Secretaria da Fazenda. “Em caso de não pagamento dentro desse prazo, é possível uma ordem judicial determinando o bloqueio na conta do Ente Público dos valores da RPV expedida”. Enquanto na RPV o valor a ser pago é de até 40 salários mínimos, no precatório é ao contrário: deve ser acima. O prazo também é diferente. Os precatórios protocolados no SPP (Setor de Pagamento de Precatórios) ganham um número e entram em uma fila cronológica tendo que aguardar os que foram protocolados anteriormente serem quitados até que chegue sua vez para pagamento. “Importante salientar que hoje existem duas alternativas à ordem cronológica. São as preferências por idade e/ou por moléstia. Essas preferências, uma vez comprovadas com documentos, fazem com que o precatório saia da ordem
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cronológica e seja pago de forma mais rápida”, lembra Pizzolotto.
Pagamentos Ele explica que, assim como todos os pagamentos em demandas contra os Entes Públicos, os valores pagos são sempre vinculados a uma conta judicial - nesses casos ao Banrisul -, que só pode ser movimentada com autorização do juiz do processo através de um alvará judicial. Porém, de acordo com ele, o Estado não tem cumprido o prazo de 180 dias para pagamento. “O recebimento dessas quantias tem ocorrido mediante bloqueio/sequestro na conta do Estado como forma de ver o valor pago e encerrar o processo”. O advogado comenta ainda, que um dos principais motivos para os processos demorarem tanto são os prazos em dobro que o Estado tem para se manifestar. “Soma-se o fato de que a defesa do Estado interpõe todos os recursos possíveis, bem como impugna os valores apresentados, gerando, com isso, uma demora maior do que geralmente acontece em demandas entre particulares”.
O prazo é de 180 dias a partir da data do protocolo na Secretaria da Fazenda Mudanças Muitas vezes, para não ficar tempo demais na fila de espera para o recebimento dos precatórios, alguns servidores acabam abrindo mão dos valores que excedem os 40 salários mínimos, e optam por receber apenas a quantia prevista para pagamento na modalidade de RPV. A prática não é considerada nem certa nem errada, mas o beneficiado precisa lembrar que os valores que ultrapassarem este teto não poderão mais ser cobrados do Ente Público.
Os valores pagos são sempre vinculados a uma conta judicial
Advogado Paulo Cezar Pizzolotto
CARREIRA
Promoções do Magistério:
Demora abusiva completa dez anos Durante o ano de 2012, técnicos da Secretaria de Estado da Educação do Rio Grande do Sul trabalharam no recolhimento das avaliações de desempenho preenchidas entre 2003 e 2010. A etapa antecedeu o somatório de pontos e a formulação da lista de docentes promovidos. A ação deu-se em virtude do pagamento de dez anos de promoções de professores por merecimento e por antiguidade que estão atrasadas. As últimas promoções ao magistério ocorreram em 2002, ainda no governo Olívio Dutra. Contudo, elas não foram pagas. No ano de 2011, 9.606 docentes efetivamente subiram na carreira, resultando em um impacto financeiro de R$ 15 milhões. O passivo é enorme e cresce cada vez mais. A advogada Ana Amélia Piuco, especialista em Direito pela UFRGS lembra que as promoções eram pagas em dia e sempre foram publicadas no Dia do Professor, em 15 de outubro. “O atraso começou a ocorrer nos anos 90 e hoje contamos com dez anos de atraso para conseguir uma publicação de promoção. Não estou falando de pagamento; e sim, de uma década para conseguir, tão somente, uma publicação.” A questão do efeito retroativo sempre foi respeitada por todos os governadores, com exceção do atual, Tarso Genro. Ana afirma que outros governantes, ao publicarem as promoções, mesmo que com dez anos de atraso, sempre a faziam com efeitos retroativos, o que permitia ao servidor ingressar com ação judicial e receber os atrasados, desde a data em que preencheu os requisitos para ser promovido. “Hoje, o atual governo age erroneamente ao retirar os efeitos retroativos das promoções e, ao mesmo tempo, cria uma verdadeira aberração no ato administrativo de promoções, pois,
no qual o governo, há um ano e meio aproximadamente, diz: “estamos estudando e fazendo um levantamento sobre as promoções”, e nada é feito. “A Lei é clara: os professores que preencherem os requisitos antiguidade e merecimento devem ser promovidos. Desde 1976 a sistemática é a mesma, os relatórios de avaliação são realizados todos os anos pelas escolas e encaminhados à Secretaria de Educação, todavia, chegando lá nada acontece”, ressalta. “Quando vou à Secretaria da Educação, é como se estivesse entrando em um túnel do tempo”, observa a advogada desrespeitou o próprio Estatuto do Magistério do RS. Além disso, negou direito líquido e certo à progressão na carreira e, por fim, ao retirar o efeito retroativo do ato de promoções, o servidor terá enormes dificuldades em buscar judicialmente o pagamento de seus atrasados”, observa. A advogada atribui a demora de uma década no pagamento de promoções de professores por merecimento e antiguidade à má gestão da administração pública, aliada à falta de vontade política em encontrar soluções para este problema, bem como a falta de gestores públicos qualificados. “Nossos políticos e representantes falam que a Educação é importante e que precisamos valorizar os professores. Na prática, nada disso acontece e ninguém faz nada.”
Critérios para recuperar o passivo entre 2003 e 2013 Os critérios são os mesmos que já existem no Plano de Carreira dos Professores. O que há é um “discurso”
Falta de controle informatizado por parte da Secretaria de Educação, sinalizando falhas de gestão, contribuem para o aumento na demora, na visão de Ana Piuco. A desorganização, o atraso e a falta de informatização e modernização da Secretaria da Educação contribuem diretamente para o atraso. Ana explica que a Lei (Plano de Carreira) está em pleno vigor e que deve ser respeitada. Em razão do princípio da legalidade, o Estado do RS não pode passar por cima desta lei e estabelecer novos critérios para as promoções. “Isso seria um absurdo e nós, operadores do Direito, não podemos deixar que isso aconteça, de forma alguma.“ Quanto à garantia de recebimento dos valores integrais, a advogada aponta que o pagamento por meio de ação judicial é o único que garante aos professores o recebimento correto dos atrasados. Isso porque o pagamento administrativo, quando ocorre, não permite a identificação do índice utilizado pelo Estado para a correção dos valores. “Quando vou à Secretaria da Educação do RS, é como se eu estivesse entrando em um túnel do tempo, sendo jogada diretamente nos anos 80. É uma lástima”, conclui.
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Gestão
Educação vista como construção permanente Para uma gestão de sucesso: não dar respostas imediatas para situações de conflito ser pró-ativo
saber trabalhar em equipe, oportunizando o crescimento dos parceiros e colaboradores
ponderar e refletir antes de tomar decisões não permitir injustiças
saber ouvir todos os envolvidos
incentivar o profissionalismo entre os colegas
Os conselhos são de Martinha Maria Dullius, diretora do Colégio Estadual Jacob Arnt. O assunto em questão: gestão escolar. A democratização da gestão, como direito de todos à educação, representa a garantia do acesso à escola, ao conhecimento com qualidade social; do acesso e permanência com aprendizagem; ao patrimônio cultural e, especificamente do acesso à cidadania. A concepção pedagógica sinaliza a centralidade das práticas sociais tendo como origem o foco no processo de conhecimento da realidade, no diálogo como mediação de saberes e de conflitos, transformando a realidade pela ação crítica dos próprios sujeitos. “A articulação da prática social com o trabalho como princípio educativo, promove o compromisso de construir projetos de vida, individuais e coletivos, de sujeitos que se apropriam da construção do conhecimento e desencadeiam as necessárias transformações da nature-
estar atento aos anseios das famílias e sociedade criar um ambiente saudável onde as pessoas gostem de ficar
reivindicar, cobrar e oficializar à mantenedora todas as necessidades da escola
não ter medo de ousar
investir na prática de projetos
preservar e incentivar o respeito ao diferente
manter a escola equilibrada financeiramente incentivar a formação dos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem
nunca definir nada sozinho, pois a gestão é feita em equipe
o gestor não pode acomodar-se e dar-se por satisfeito, pois escola é movimento
buscar sempre a ajuda da comunidade escolar
estar com um pé na sala de aula e outro na sala dos professores e funcionários
za e da sociedade, contribuindo para o resgate do processo de humanização baseado na ética, na justiça social e na fraternidade”, afirma.
Comunidade No Colégio Jacob Arnt, a educação é vista como uma construção permanente, onde todos os envolvidos no processo são responsáveis pela mesma. “Temos que oportunizar atividades que resgatem a presença da família na escola, buscando soluções coletivas com a comunidade escolar, garantindo espaço para os segmentos se organizarem, mantendo parcerias de responsabilidades e comprometimento, promovendo a autonomia moral dos envolvidos”. A integração com a comunidade é fundamental, tendo em vista a necessidade de nortear ações dentro da escola, para todo ano letivo. Isso traz novos desafios e exige da equipe gestora o conhecimento dos problemas locais. A difícil
tarefa de trazer a comunidade para dentro da escola, ou até mesmo de levar a escola até a comunidade, implica saber como esta concebe e incorpora os novos valores propostos. “Portanto, é na política da boa vizinhança que a escola tenta criar vínculos, fortalecer laços de parceria, estabelecer responsabilidades mútuas e construir assim, sua autonomia. Na perspectiva de conseguir mais apoio e participação, a escola procura trabalhar com autenticidade, transparência, segurança, e levar em conta a riqueza cultural advinda dessas parcerias. Desta forma, o sucesso da escola nas ações norteadoras da gestão democrática está ligado à maneira como ela tem articulado os vários segmentos do contexto escolar”, explica Martinha.
Estratégias de marketing Entre os mecanismos de marketing para comunicação com a comunidade, estão: criar laços de afinidades e parceria com
Gestão
a comunidade escolar, oportunizando momentos para que as famílias criem o hábito de participar das diversas atividades desenvolvidas na escola, bem como refletir sobre a gestão escolar e aperfeiçoar o processo de inclusão, permanência e sucesso dos alunos em geral. Trazer as famílias para dentro da escola, estimulando a participação e integração da comunidade escolar em atividades recreativas e pedagógicas, como: feira de profissões, palestras de formação para pais, mães ou responsáveis, festa junina, entrega de boletins e encontro mensal com professores, festa de aniversário da escola e engajamento com obras ambientais e sociais que refletem o anseio da comunidade. “Levar a escola para dentro da comunidade, um desafio contemporâneo, a fim de definir as prioridades relacionadas às questões administrativas, financeiras e pedagógicas”, completa.
• resolver os problemas no momento em que acontecem
• chamar pais de alunos a fim de resolver conflitos entre alunos ou em relação à aprendizagem
• promover momentos de descontração, possibilitando a convivência entre professores, alunos e pais
• reuniões semanais da equipe diretiva e pedagógica • reuniões pedagógicas semanais e mensais com os responsáveis pelos alunos
Gestão financeira e de pessoas A palavra viva é diálogo existencial. Expressa e elabora o mundo, em comunicação e colaboração. O diálogo autêntico – reconhecimento do outro e reconhecimento de si, no outro – é decisão e compromisso de colocar na construção do mundo comum. Não há consciências vazias: por isto os homens não se humanizam, senão humanizando o mundo. (Paulo Freire) Esta frase de Paulo Freire sintetiza a gestão de pessoas; não há como gestar sem dialogar. “Diante de vários fatores que perpassam a formação integral de um cidadão que seja capaz de agir e interagir no meio em que vive, por meio de participação ativa e consciente em atividades diversas, adquirindo competências afetivas, cognitivas e socializadoras, faz-se mister que haja diálogo, cooperação e parcerias entre escola, sociedade e comunidade, envolvendo família, professores, funcionários e alunos”, recomenda a diretora.
Gestão ideal E como deve ser a gestão ideal de uma escola? A diretora responde que precisa estar pautada na democracia, escutando e articulando com a comunidade escolar. “As agremiações estudantis são um ótimo espelho do que os alunos querem e sempre colaboram com muitas ideias. A gestão democrática só acontece de fato se levar em conta a realidade de seus alunos e de sua comunidade escolar, a fim de dar suporte à prática pedagógica dos professores”, acredita. Estar conectado às novas tecnologias e oferecer condições para que as mesmas façam parte do dia a dia da escola é um mecanismo que oportuniza novas metodologias. Martinha finaliza, afirmando que se deve levar em conta que a maioria dos professores nasceu antes do telefone celular e que os jovens que estão chegando à escola já nasceram com um mouse na mão, portanto, diminuir as desigualdades virtuais é uma necessidade constante.
É desta maneira que se tem norteado o trabalho de todos os envolvidos na escola, incentivando os professores a serem diferentes, a dialogar, a comunicar-se, a tentar e a ousar, para, assim, construir uma boa escola. A contribuição e participação de todos que fazem parte da comunidade escolar é uma forma de democratizar as relações através de discussões e reflexões sobre as diferentes situações que precisam ser resolvidas. “É preciso criar espaços de participação para que professores, alunos, funcionários e pais participem, em consonância com a equipe diretiva, das decisões pedagógicas, administrativas e financeiras”, observa.
A escola
Planejamento
O Ensino Médio Politécnico busca proporcionar atividades voltadas ao mundo do trabalho, à ciência e à cultura, bem como erradicar os índices de evasão escolar e reprovação. Os educadores estão constantemente em busca de novas metodologias e aperfeiçoamento para oportunizar uma educação inclusiva. A escola tem por objetivo proporcionar ao aluno condições de construir seu conhecimento para atuar e viver em sociedade com responsabilidade, justiça e fraternidade.
De acordo com Martinha, a gestão de pessoas no ambiente escolar se estabelece por meio dos processos na instituição, quando se favorece a criação, captação e disseminação de conhecimentos, formando-se uma rede de compartilhamento que facilita a geração de ambientes saudáveis onde se promovem a motivação e a satisfação profissional e pessoal.
Possui Ensino Fundamental e Médio. É uma escola polo, pois recebe alunos de diversas comunidades, principalmente a partir do 6º ano do Ensino Fundamental. É a única de Ensino Médio no município de Bom Retiro do Sul. Iniciou suas atividades em 1960 e conta hoje com 864 alunos, 48 professores e dez funcionários. O nome do colégio é em homenagem a Jacob Arnt, precursor na navegação do rio Taquari e considerado o fundador de Bom Retiro do Sul.
SAÚDE
EDUCAR É
DESAFIAR Disse Jean Piaget: “O principal objetivo da educação é criar pessoas capazes de fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que outras gerações fizeram”. Sábias palavras, mas a cada dia mais vemos as dificuldades para torná-las realidade. Nosso país vive uma época de grandes desafios para os educadores. Em pouquíssimos anos a forma de educar mudou grandemente. Não falo sobre didática e conteúdo, mas sim, sobre imposições feitas que tornaram a arte de ser professor uma árdua tarefa. Uma mídia cada vez mais intrusiva, que dita padrões de comportamento, aliena pensamentos e muda padrões e valores, mostrando apenas pessoas ricas e felizes, sucesso e dinheiro a qualquer custo, modelos de beleza irreais e banalização das relações interpessoais. Uma estrutura familiar desestruturada, que impõe aos professores a tarefa de educar, o que não é dever da Escola, que seria responsável em fornecer conhecimento, aliado à educação trazida de lares bem estruturados e pais comprometidos com a formação intelectual e moral de seus filhos. Uma sociedade egoísta, que prioriza o Ter ao Ser, que cobra comportamentos e ideologias massificadas e impõe a proibição de “falar de Deus”. É para estas crianças e jovens, num cenário tão complicado, que lhes foi dada a arte de ensinar. E é preciso mudar. A realidade da educação brasileira toma rumos obscuros. Segundo o professor Pedro Demo, em entrevista ao jornal O Lince: “Em 1997 o ano letivo foi alargado para 200 dias e nada aconteceu. Ao contrário, em 1999 ocorreu uma queda estapafúrdia de desempenho (17 pontos em Língua Portuguesa e quase 10 pontos em Matemática). Por isso, pesquisar e elaborar não é opção, expectativa, mas necessidade crucial. Não pode haver professor que não seja autor. Caso contrário, só vai dar aula”. A mudança precisa acontecer, pois a educação é base de uma sociedade séria, competente, humana e que cresce. A política governamental impôs uma educação que hoje funciona como uma empresa produtora de diplomas, onde números de aprovação, quantidade de conteúdos, sem a devida com-
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preensão do educando para sua utilidade prática de tais temas e cálculos é a prática comum. Não se pode reprovar! Não se deve chamar a atenção de um aluno! Cuidado com os direitos da criança e do adolescente! É, caros mestres, sua arte virou malabarismo: pisar em ovos sem fazer barulho algum. Não devemos acreditar e viver a utopia da mudança imediata. É nos pequenos gestos individuais que começam as grandes mudanças. Quando cada um modifica um pouco seu mundo, da sua sala de aula, da sua forma de educar e de acreditar que pode dar certo, é que fazemos uma mudança real. Lenta, não podemos negar, mas sólida e necessária. Resgatar valores intrincados na família, nas amizades, num relacionamento íntimo com sua fé, na honestidade e caráter fazem a diferença. Mostrar que uma vida superficial e de consumo é volátil, que respeitar a individualidade e a liberdade de cada ser, faz bem também a nós e que a Escola existe com o grande intuito de JUNTOS fazer crescer. Quando o jovem perceber que ter uma educação de qualidade também depende dele e que isto o levará a construir sonhos reais, ele certamente mudará seu comportamento. E ao professor cabe ser o autor, aquele que joga as iscas e que mostra os caminhos. Apenas “dar aula” nunca foi suficiente. Criar novos termos e novas teorias pedagógicas é urgente aos dias de hoje. A tecnologia tomou conta de nossos alunos e seria absurdo pensar que haverá regressão. A adaptação de novas formas de ensinar e adentrar as mentes destes jovens é o desafio diário de um mestre. Modificar relações e criar comprometimento entre alunos e professores é a chave para a mudança. Desafiadora mudança, mas real.
Raquel Heep Bertozzi é médica e vem de uma família de professores . CRM 22080 – Especialista em Psiquiatria – Integrante da Sociedade Paranaense de Psiquiatria
ESPECIAL
O poder de transformar vidas “Tudo é possível quando é feito com amor. E eu amo a minha profissão, então na hora de planejar minhas aulas, sempre penso nos alunos, como eles vão se sentir ao realizarem determinada atividade e o que a mesma tem de interessante e proveitoso para eles.” Ministrar aulas para até três turmas no mesmo horário, na mesma sala; preparar a merenda dos alunos, ser responsável pela administração e pela limpeza ao fim de cada turno. A rotina desgastante é a tarefa diária desempenhada pela pedagoga Juliana Machado Gonçalves, única professora da Escola Municipal João Neves da Fontoura. Administrar uma escola sozinha não é tarefa fácil, ainda mais, quando pensamos na gestão como um todo: das contas à merenda; da elaboração de aulas à limpeza. Tudo exige responsabilidade, atenção, conhecimento, além de saber se impor em decisões com alunos ou com os pais. Soma-se a isso o preparo não de uma, mas de seis matérias para cinco turmas diferentes. A saída? Para Juliana a resposta está no amor à profissão. “Tudo é possível quando é feito com amor. E eu amo a minha profissão, então na hora de planejar minhas aulas sempre penso nos alunos, como eles vão se sentir ao realizarem determinada atividade e o que a mesma tem de interessante e proveitoso para eles”. Localizada no município de Cachoeira do Sul, distrito Dorasnal, a Escola Municipal João Neves da Fontoura é multisseriada, atendendo os 26 alunos do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental. As classes multisseriadas retratam um
fato periódico no sistema de ensino do Brasil: alunos de idades e níveis educacionais diversos são instruídos pelo mesmo professor, na mesma sala de aula. Por isso, Juliana é a única responsável pela escola. Para dar conta de tudo, a professora diz que na parte da manhã ministra aulas para o 4º e 5º ano e na parte da tarde para o 1º, 2º e 3º ano. Os alunos ficam juntos na mesma sala, e as atividades são passadas e explicadas para cada turma. “Não é muito fácil, mas dou as atividades, explico e depois faço a merenda, pois a cozinha é do lado da sala de aula”. Juliana esclarece que, enquanto prepara os lanches, também
tira dúvidas das crianças, que vão até onde ela está para perguntar. “O tempo é muito corrido, pois preparar cinco planejamentos para turmas diferentes não é fácil. Durante a semana vivo para a escola, preparando aulas, lendo, estudando e pesquisando como posso melhorar a minha didática em sala de aula”. Responsável pela instituição desde maio passado, a professora explica que a escola recebe auxílio do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), além de contar com a participação da comunidade, que colaboram, dentre outras coisas, com a merenda das crianças.
A sala de aula que abriga até três turmas ao mesmo tempo
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ESPECIAL
artesanato vão ao encontro dos interesses e manifestações de aptidão observados pelos professores.
Alunos da Escola João Neves da Fontoura “A escola recebe alimentação, mas pensar nela, saber o que fazer para aproveitar os alimentos, também é complicado”. Para uma alimentação saudável, a pedagoga recebe ajuda das mães que fazem o lanche e depois mandam para a escola. Quanto à limpeza, as mães dos alunos colaboram dispondo uma tarde na semana para limpar e organizar os materiais. “Já a parte administrativa é mais difícil, pois são muitos papéis, e cada um tem uma função dentro da escola. Para cuidar disso é preciso atenção e entendimento sobre como funciona uma escola”. Além das matérias lecionadas - matemática, português, estudos sociais, ciências, educação física, artes –, entra também o cuidado, ouvir e instruir os alunos quando apresentam algum problema social. Para 2014, Juliana pretende inserir nas atividades escolares projetos fora do horário da aula, onde possa envolver alunos e comunidade em ações sociais e educativas. Segundo Juliana, a opção pela profissão se deu por achar a alfabetização uma fase linda, onde cada descoberta dos alunos a encanta. “Sou professora e luto por uma educação de qualidade, onde todos possam aprender e trocar experiências”. Aliás, a professora destaca a alfabetização como o maior desafio da educação, pois é onde tudo começa. “Se a criança tiver uma boa alfabetização, com certeza terá mais facilidades nas etapas seguintes”, observa. “A escola é um ambiente de aprendiza-
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gem em todos os momentos, a convivência com os outros, a amizade. Não devemos pensar que a escola deve somente passar os conteúdos. Deve também trabalhar outras questões que fazem parte do cotidiano dos alunos”.
Recanto da Alegria O nome da Escola Estadual Especial Recanto da Alegria é significativo e sua história mistura alegria, superação, carinho, doação. A equipe é composta por 25 professores e cinco funcionários que se dedicam aos alunos em turnos de quatro horas (manhã e tarde). Todos os profissionais têm como formação curso de Pedagogia em Educação Especial ou especialização na área da deficiência mental, psicoses e autismo. Entre as atividades: oficina de marcenaria, de papel reciclado, de chocolate, artes, e de artesanato, educação física, atividades liberadoras, laboratório de informática, biblioteca e ludoteca, todas acompanhadas por um professor especialista e pelo regente de classe. As oficinas de papel reciclado, marcenaria e
“A escola tem como objetivo proporcionar o desenvolvimento dos alunos, possibilitando a construção do conhecimento, do autoconceito e da autonomia, através de uma educação cooperativa e participativa entre aluno, escola e família. Com isso, busca a socialização e a formação da cidadania, contribuindo para sua inclusão na sociedade”, explica a vice-diretora Letícia Tôrres. Formada em Pedagogia em Educação Especial – Deficiente Mental pela PUCRS, Letícia trabalhou na APAE de Porto Alegre durante nove anos e faz parte da equipe da Recanto da Alegria desde 1999. Ao longo deste tempo em Escola Especial, já presenciou muitas manifestações de superação por parte de alunos, pais e professores. “A EEE Recanto da Alegria é muito especial para mim, pois é uma escola humanizada. Fazendo parte da equipe diretiva, consigo transmitir aos professores diariamente os sentimentos de solidariedade que acredito que temos que ter com os pais e familiares de nossos alunos. A maioria de nossas famílias é de baixa renda e passam muitas dificuldades para cuidar de um filho especial.” A Recanto da Alegria atende a todos sem nenhum tipo de discriminação,
A convivência entre os alunos faz parte da aprendizagem
ESPECIAL
reconhecendo as diferenças como fator de enriquecimento no processo educacional. Os professores desenvolvem atividades pedagógicas planejadas conforme o grupo dividido por faixa etária.
Superação O trajeto de casa até a escola para muitos é praticamente impossível devido às dificuldades psíquicas dos alunos. Muitos se desorganizam no transporte público, os ônibus estão sempre lotados e, o pior, o preconceito pode ser observado nas expressões dos passageiros. Letícia acredita que, se, mesmo com todas essas adversidades, os pais levam seus filhos para a escola, é porque acreditam no trabalho desenvolvido. “Entre todas as histórias de superação que temos, acredito que a aluna A.B. seja o maior exemplo. Ela já esteve à beira da morte muitas vezes. Hoje deve ter 26 anos e pesar cerca de 35 quilos. Ficou três anos sem frequentar a escola, mas a mãe nos visitava toda a semana pedindo que não cancelássemos a matrícula, pois, segundo ela, a filha já estava melhorando”, conta. A.B. sempre dizia que não desistia de viver só para poder voltar a frequentar a escola. Em festas na Recanto os pais a levavam sempre, mesmo que no colo. Essa visão muitas vezes chocava a equipe, que não estava preparada para vê-la tão enfraquecida. Por outro lado, a felicidade era visível. Passava todo o tempo sorrindo.
Pais, alunos e equipe da Recanto necessário à família nos momentos de dificuldade”, comemora.
ceira, o futuro de nossos alunos.”
A Escola conta com o Círculo de Pais e Mestres (CPM) atuante e participativo. Através da realização de chás, almoço beneficente, bazar e outras atividades, é possível complementar a renda da escola, proporcionando aos alunos o atendimento adequado.
Na visão de Letícia, a afetividade, a sinceridade, as trocas verdadeiras são a base de todos os processos de aprendizagem. E na escola especial isto aparece de forma concreta em atos e ações. “O aluno especial não engana e não se deixa enganar por demonstrações falsas de afeto e admiração”, observa.
“As necessidades da escola especial vão muito além do lápis, caderno e borracha. Reconhecemos o carinho, a atenção e o respeito com o qual somos tratados pelos pais da nossa escola, com quem construímos, de forma par-
Talvez este seja o maior desafio do educador especial: estimular e incentivar constantemente os alunos, apontando suas competências e amenizando suas limitações, sendo transformador no dia a dia da escola especial.
Este ano, conforme a vice-diretora, A.B. está mais forte e já consegue ir à escola três vezes por semana. Ainda fraca e inspirando cuidados, demonstra força de vontade, sorrindo e incentivando os colegas. “Sinto muito orgulho de fazer parte desta escola que conseguiu entender o tempo desta menina dando o suporte
Atividades pedagógicas planejadas conforme a faixa etária
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ESPECIAL
De mãos dadas Em 2011, Carmen Lúcia Daitx Krüger começou a procurar uma nova escola para o filho Bruno, autista, com 14 anos na ocasião, uma vez que não estava satisfeita com a escola onde ele estudava. Visitou várias escolas, tanto da rede pública quanto privada, até que conheceu a Recanto da Alegria. “Fomos recebidos pela orientadora que nos mostrou toda a escola e nos esclareceu como era seu funcionamento. Ao sairmos, eu e meu marido nos olhamos e dissemos “é aqui”. Ficamos encantados com o que nos fora apresentado. Fizemos os trâmites legais e ficamos aguardando na lista de espera. Três meses depois, fomos chamados”, conta. Quando Bruno ingressou na escola, o casal estava cheio de expectativas, anseios e medos. Carmen lembra que nunca conseguira verbalizar que o filho era autista. “Mas todos agiam de maneira tão natural quando meu filho se desorganizava, quando tinha suas crises de ansiedade e agitação. Procuravam alternativas para que ele fosse superando essas situações, e sua adaptação transcorreu tranquilamente.”
Competência ressaltadas e limitações amenizadas
acolhida por todos: alunos, professores, funcionários, equipe diretiva e pelas outras mães. “Algumas pessoas comentam que deve ser enfadonho ficar toda manhã na escola esperando. Pois digo que minhas manhãs são regadas de boas companhias, trocas de experiências, de muitas conversas e risadas. E, quando precisamos, o que não falta é um ombro para chorar.”
Isso fez com que a mãe se sentisse mais à vontade para lidar com a situação, passando a encarar o autismo de um modo diferente. “O Recanto me inspirou a ter um outro olhar. Hoje sou uma defensora ferrenha dos direitos dos autistas”, afirma.
Defensora da escola, Carmen diz que o diferencial da instituição é acreditar e investir no potencial e nas habilidades de cada aluno, respeitando suas diferenças e limitações. Cada nova conquista é comemorada e valorizada como a aquisição de uma nova palavra, alcançar uma nova habilidade. Isso faz com que os alunos se sintam prestigiados e valorizados.
Muitas mães permanecem na escola, esperando seus filhos. Carmen resolveu juntar-se ao grupo e revela que foi
“É maravilhoso ver a evolução do meu filho. É bom saber que ele faz parte de uma instituição que o respeita e acre-
dita que ele pode evoluir ainda mais. Sinto-me honrada em fazer parte da família Recanto da Alegria.”
A cada dia, um novo aprendizado Para a professora Ana Paula Vieira Malanovicz, cada dia trabalhado na Recanto é um novo aprendizado, um novo ponto de vista, uma diversão e uma alegria. Ela revela que nenhuma manhã é igual à outra e que sempre é recebida de uma maneira diferente do que na anterior, com beijos e abraços, cartas de carinho ou com alguma nova história. “Nós, professoras, somos desafiadas a cada dia, a cada aula, a cada encontro pelos corredores. São questionamentos, dúvidas e inquietudes que muitas vezes não têm resposta: agitos, gritos e insatisfações - ou por não serem entendidos, ou por não conseguirem se fazer entender como gostariam. Com situações familiares às quais temos que dar algum sentido, uma palavra de carinho, ou simplesmente ouvir”, ilustra. Professora transformadora, Ana Paula completa: “trabalhar com meus alunos me tornou uma pessoa especial, alguém que se sente agraciada por ter a honra de conviver a cada novo dia com essas pessoas tão maravilhosas que Deus colocou no meu caminho. E é por
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ESPECIAL
isso que procuro proporcionar a cada um deles novas possibilidades, novos desafios, novas oportunidades, enfim, novas conquistas, pois eles provam a cada dia que são capazes de mais.”
O início Em fevereiro de 1962 é concedido o alvará de funcionamento da Escola Estadual Especial Recanto da Alegria, por iniciativa da professora Etelvina Oliveira. Inicia então um trabalho dedicado a crianças e adolescentes com deficiência intelectual. Localizada em Porto Alegre, tem como mantenedora a rede estadual de ensino. A escola conta com o apoio do Círculo de Pais e Mestres que, através da sua dedicação e trabalho, durante 50 anos, vem contribuindo para a manutenção do espaço físico e desenvolvimento dos alunos, através da aquisição de materiais pedagógicos e atividades de lazer e cultura. No ano de seu jubileu a escola foi contemplada com uma reforma em sua estrutura predial e com a aquisição de um elevador, o que possibilita acessibilidade total, transpondo barreiras arquitetônicas e garantindo o acesso e a participação de todos. “O que iniciou em uma estrutura de madeira, hoje é um belo prédio com 42 salas, quadra poliesportiva e sala de espera para as famílias dos alunos”, pontua a vice-diretora. Através de uma trajetória de amor, dedicação e profissionalismo, a escola contou com o envolvimento de professores, pais, funcionários e comunidade, centenas de pessoas que, imbuídas em um sentimento de solidariedade, ajudaram a escrever esta história. “Cinquenta anos se passaram. Crescemos como escola, aprendemos com nossas dificuldades, festejamos com nossas conquistas e superamos os desafios que surgiram nesta caminhada. Todos que passaram pela escola, carregam em si um sentimento de afeto e relação familiar, base para um trabalho efetivo e duradouro”, finaliza Letícia.
O Círculo de Pais e Mestres ajuda na manutenção do espaço físico
O pensador e escritor Nikos Kazantzakis já dizia que “professores ideais são aqueles que se transformam em pontes e que convidam os alunos a cruzá-la, depois de ter facilitado sua passagem, com alegria e colapso, incentivando-os a criarem pontes a partir de suas próprias atitudes”. Qual seria então o papel de Juliana, Letícia, Ana Paula – e de tantos outros professores transformadores – senão a mais pura interpretação de dedicação e amor aos alunos, pois, mesmo com tantos motivos que o mundo apresenta para desistir, estão dispostos, dia após dia, a transformá-lo em um lugar melhor para viver?
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LITERATURA
Luís Augusto Fischer, um sujeito gutemberguiano “Gosto muito de ver que ao longo do tempo o trabalho do professor frutifica, muitas vezes permanecendo na lembrança e na formação dos alunos.” É assim que o escritor gaúcho Luís Augusto Fischer, resume, segundo ele, sua única profissão: a docência. Nascido em Novo Hamburgo, em 1958, e com mais de 30 anos dedicados à formação de jovens, Fischer é hoje um dos principais críticos do país, com constante presença em jornais e revistas quando o assunto é literatura contemporânea. Formado em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com
mestrado e doutorado (com tese sobre Nelson Rodrigues) pela mesma instituição, onde leciona Literatura Brasileira, é colunista fixo no jornal Zero Hora, e eventual, nas revistas Bravo! e Superinteressante e no jornal Folha de S. Paulo, desde 2000. Com crônicas, ensaios e contos, possui diversos livros publicados, dentre eles o Dicionário de porto-alegrês (1999) e o Dicionário de palavras e expressões estrangeiras (2004). O professor ainda é um dos organizadores do Sarau Elétrico, evento que acontece todas as noites de terça-feira, em Porto Alegre. Também foi escolhido para ser o patrono da 59ª Feira do Livro de Porto Alegre.
Em entrevista à Mestres +, Fischer fala sobre sua paixão pela docência, a educação no Brasil e sobre sua atividade como escritor.
Por que escolheu ser escritor? Na verdade não sou escritor profissional, mas professor. Ser escritor, no sentido de escrever ficção, é coisa menor na minha vida. Mas se por escritor entendermos toda a minha atividade por escrito, bem, aí posso dizer que sou um deles: eu publico livros meus, autorais, de variados temas e estilos (dicionários, livros de ensaios, estudos monográficos, crônicas, contos, novelas), e também sou editor, quer dizer, preparo e anoto livros de autores, especialmente consagrados, como Machado de Assis (para a L&PM eu coordenei uma edição anotada de todos os seus romances). Por que escolhi? Não sei bem responder. Eu escolhi ser professor, isso sim, como profissão; escrever decorreu dessa opção profissional e é mais um exercício de gosto e preferência do que escolha, me parece.
Quais são as inspirações para os seus livros e como funciona o processo de criação? Depende de que livro estamos falando. Livros de ficção costumam acontecer na minha cabeça em função de experiências intensas que vivo, aquelas que tenham dei-
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xado marcas emocionais fortes. A partir dessa base, eu anoto, penso, imagino, desdobro cenas, ajunto tudo com outras coisas que vi e senti, e com o tempo o texto ficcional ganha cara. Em outros casos, a inspiração é, por exemplo, a minha vontade de intervir no debate público, o que me leva a escrever para jornais e revistas.
Como administra o tempo entre sala de aula e a literatura? Sendo essencialmente um professor, esta é minha prioridade zero; o tempo para escrever ficção é o que sobra. Eventualmente, quando tenho uma história encaminhada, aí arranjo tempo, reservo tudo que tenho para terminá-la.
O que é mais prazeroso na profissão? De professor? Gosto muito de dar aulas, de orientar trabalhos de pesquisa, de conversar com alunos interessados; em tudo isso tenho real prazer. E gosto muito também de ver que ao longo do tempo o trabalho do professor frutifica, muitas vezes permanecendo na lem-
LITERATURA
brança e na formação dos alunos. Quanto a escrever e publicar, os prazeres são intensos também, mas de outra ordem, porque escrever é um ato solitário, ao mesmo tempo em que é uma atividade que potencialmente quer sempre comunicar com outro, que não está ali, na tua frente. Isso implica uma necessidade muito instigante de imaginação, por parte de quem escreve.
Acha que a leitura, dentro da sala de aula, é estimulada tanto quanto deveria? Por quê? O que pode ser feito para melhorar? Depende de qual sala de aula estamos falando. Em termos ultragenéricos, a leitura propriamente dita não é tão estimulada quanto deveria, em nossa tradição escolar. Isso acontece tanto em matérias gerais, como História e Física, digamos - que também precisam ensinar os alunos a ler a linguagem específica de sua área -, quanto nas aulas de Língua e Literatura. Aliás, uma das maiores falhas da nossa escola, em regra, é não ler praticamente nada em língua estrangeira. Passa-se por uns dez anos de estudo, em geral de inglês, e nada de ler textos. Especificamente na área de ensino de literatura, igualmente há um vício, que se agrava muito no Ensino Médio, que é o de, muitas vezes, mais falar sobre literatura do que ler literatura. Tenho convicção de que o melhor seria, como regra geral, gastar mais tempo lendo, explicando, entendendo o texto, do que comentando.
Como você define a juventude hoje, com essa adoração pela tecnologia, internet, celulares, redes sociais etc.? Acha que esse “mundo tecnológico” afasta os jovens dos livros? Não sei definir a juventude de hoje, nem me parece que haja adoração pela tecnologia. O caso é que os jovens de agora entraram no mundo tendo à disposição essa tecnologia: este é o mundo deles, assim como, para a minha geração, o mundo já era o rádio e passou a ser o da televisão. Não quero minimizar o problema, mas é preciso em primeiro lugar entender que não foi uma escolha deles. Se isso afasta os jovens dos livros? Claro que sim. A tecnologia chamada livro, uma pilha de papéis unidos por um dos lados, com uma capa e tal, tem muitas virtudes, que ao longo de séculos foi capaz de abrigar o melhor da ciência e da arte. Mas essa garotada talvez tenha o livro como uma forma, um suporte, muito lento, incapaz de acionar todas as dimensões que uma tela põe à disposição. Pessoalmente, acho essa mudança problemática,
e penso que devemos continuar a prestigiar o livro enquanto tal, mas sem demonizar as outras formas de texto, de imagem, de som etc. Uma das lições talvez mais importantes do livro ganha um novo sentido atualmente: ele obriga a uma concentração mental e espiritual que os multimeios não têm como oferecer.
Ainda observa o prazer em manusear um livro frente aos e-books? Eu sou, como minha geração e as anteriores, um sujeito gutemberguiano, e acho que não vou deixar de ser, por mais que os computadores ofereçam outros caminhos, que por outro lado não são nada desprezíveis, pelo contrário (por exemplo, dicionários e enciclopédias fazem muito mais sentido em formatos digitais do que em papel).
Para você, como está a educação hoje no Brasil? O que deve ser feito para prender a atenção dos jovens e para que eles voltem a ter o mesmo encanto pela leitura que antes? Primeiro de tudo, acho que não se deve pensar que antes houve encanto pela leitura e agora não há mais. Antes, a escola era para muito poucos, considerando a totalidade da população; e quem aprendia o prazer da leitura eram poucos. Agora, com todos os problemas que existem, a escola é acessível a todos, e muitíssimos desses novos alunos são os primeiros de suas famílias a poderem estudar, ler, ter prazer ao ler etc. Então é preciso pensar que a escola mantém sua responsabilidade e acrescenta outra, que é a de introduzir todos esses nossos irmãos, nossos contemporâneos, no admirável mundo da cultura letrada. O que deve ser feito: oferecer boas bibliotecas, nas escolas e nas cidades, em regime aberto, com acervos atualizados regularmente; capacitar professores e pagar bem a eles; prestigiar o mundo da inteligência científica e da cultura letrada. Coisas que não são fáceis, nem baratas, mas necessárias.
Atualmente está preparando alguma nova obra? Sempre tenho algum projeto de escrita, e em geral mais de um ao mesmo tempo. Agora, estou envolvido nas pesquisas para reeditar o clássico gaúcho Antônio Chimango, que completará cem anos em 2015. Em ficção, estou acalentando a ideia de escrever um romance, cujo enredo básico já convive comigo há uns quantos anos, mas que ainda não encontrei jeito de escrever.
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TRABALHO FRANCISCANO
“...Onde houver desespero, que eu leve a esperança. Onde houver tristeza, que eu leve a alegria. Onde houver trevas, que eu leve a luz.” As palavras acima, atribuídas à oração de São Francisco de Assis, descrevem um pouco do que é a vida de Paula Schneider, irmã franciscana que integra o Conselho Geral da Congregação das Irmãs Franciscanas da Penitência e Caridade Cristã, sediado em Roma (Itália). Professora aposentada, abdicou de sua vida para doar-se em prol dos mais necessitados, a defender os fracos e marginalizados, como pregava São Francisco de Assis. Hoje, firmou compromisso com as causas sociais, batalhando por um mundo melhor na saúde, na assistência social e na educação. Assim sendo, apoia e estimula irmãs que se dedicam à educação formal em escolas franciscanas e à educação popular mais ampla, incentivando o bem-estar e o progresso do povo.
Irmã Paula em visita à Kigera, sudoeste da África, na Casa da Caridade para crianças e mulheres abandonadas
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Paula conta que a presença das irmãs se dá em diversas frentes: no Brasil, por exemplo, atuam em creches, grupos de idosos, mulheres, jovens e crianças com trabalhos artesanais, aulas de informática, entre outros. “Também atuamos na animação de catequeses e na promoção de assembleias populares sobre desenvolvimento sustentável, promoção de oficinas de trabalhos, projetos junto à prefeitura ou ao Estado, promovendo a segurança local, estimulando-os a participar da educação formal nas escolas públicas”, explica.
TRABALHO FRANCISCANO
Mas a vontade de ajudar, colaborar com uma vida melhor e educar, começou quando Paula ainda era jovem. Sentindo-se atraída em dedicar a vida à educação da juventude, ministrava aulas de língua portuguesa, língua latina e ensino religioso em diversas escolas franciscanas. Desempenhava também a função de diretora em colégios de Ensino Fundamental e Médio, em Porto Alegre e São Leopoldo. Foi docente do ensino público da capital gaúcha, o que, segundo ela, fortaleceu um leque mais amplo sobre a diversidade e a riqueza da ação educativa junto a jovens e adultos. “Com muito apreço, recordo esses tempos preciosos, quando os alunos do regime noturno vinham exaustos das lidas do dia e ainda participavam das aulas, com o objetivo de desenvolver suas potencialidades e se tornarem mais aptos humana e profissionalmente. Aprendi mais que ensinei, pois a vida é uma aprendizagem constante”.
Irmãs Franciscanas de diversas culturas, visitando uma pré-escola para crianças carentes
Mesmo atuando a maior parte do tempo em Roma, realiza visitas prolongadas às províncias do mundo, em comunidades onde outras irmãs residem e trabalham, com o intuito de colaborar com suas experiências de vida e talentos em comum, respeitando as outras culturas com suas riquezas peculiares. “Avaliamos nossa resposta às necessidades atuais do mundo e tomamos as decisões necessárias que correspondam à realidade de cada país”, aponta.
Desafios da educação Mesmo distante da educação escolar, Paula explica que ainda acompanha o processo. Para a educadora, o magistério está em situação de descrédito, pois não é dada, a ele, a devida importância por parte dos pais e do governo. “Desejamos que nossos legisladores elaborem leis e os governos executem políticas públicas que incentivem a qualidade da educação integral do alunos, como prioridade absoluta”. O descaso para com os docentes começa na má remuneração, conforme explica, desencadeando desistências dos professores, que procuram profissões mais rentáveis do que a sala de aula. Além dos desestímulos dos professores, os desequilíbrios do sistema econômico também afetam os alunos; a falta de material escolar, o difícil acesso às escolas, além da falta de interesse e estímulo, são fatores enumerados pela professora aposentada quando se fala em desistência da vida escolar. “Pais não integrados no processo escolar, problemas familiares e sociais são motivos que também interferem nas desistências”. Como saída, a irmã destaca a necessidade de uma inclusão social a partir da promoção de valores familiares, culturais e
éticos, pois, somente assim, será possível criar uma inversão dos fatos. “A vida é fundamento de tudo, fundamento da comunidade humana e política e de todas as instituições. A escola ensina a viver, aí acontece a cultura da vida que deve ser mais humana, solidária e fraterna, mais digna e mais feliz”.
Conselho Geral da Congregação das Irmãs Franciscanas da Penitência e Caridade Cristã É o órgão representativo da Congregação, formado por cinco membros de diferentes culturas, com uma superiora geral e quatro assistentes gerais. “Em nosso caso, somos: uma assistente polonesa, duas indonesianas; a superiora geral é americana e eu, brasileira”. Inspiradas no carisma de São Francisco de Assis, têm a incumbência de guiar a Congregação, respeitando as diversas culturas, promovendo a unidade, animando as irmãs dos diferentes países e continentes, com visitas mais prolongadas, correspondências, noticiários, periódicos e outros. A congregação dá andamento às ações iniciadas por Madre Madalena, há 175 anos, na Holanda. Hoje, as irmãs franciscanas atuam nas áreas de saúde formal e preventiva, e educação, com atuação em vários países: Brasil, Estados Unidos, Alemanha, Polônia, Itália, Holanda, Indonésia, Guatemala, Ilhas Filipinas, Timor Leste, Bielorússia e México. O Conselho Geral é o maior orgão desta organização. “Atuamos em colegiado, o que favorece a partilha de pensamentos e ações. Compartilhamos estudos, conhecimentos e forças. Procuramos a corresponsabilidade e a unidade de todas as irmãs, de todos países”, finaliza.
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ENTRETENIMENTO
Livros Livros Livros Livros Livros Uma prova do céu (Dr. Eben Alexander III – 2013) Cético e defensor da lógica científica e neurocirurgião há mais de 25 anos, Dr. Eben Alexander, vítima de uma meningite bacteriana grave que o deixou em coma por sete dias, viu sua vida virar do avesso quando passou por uma experiência que ele mesmo considerava impossível.
Limites Sem Trauma (Tania Zagury – 2006) O livro “descomplica” o dia a dia da família e indica as necessidades das crianças em cada etapa do desenvolvimento, dando a base para realizar a mais difícil de todas as tarefas dos pais: dar limites aos filhos.
FILMES fILMES fILMES fILMES fILMES À Procura da Felicidade (2006) O longa-metragem retrata a história real de Chris Gardner, um pai de família (interpretado por Will Smith) que enfrenta uma grande crise e precisa cuidar de seu filho de cinco anos, após a esposa o deixar devido aos problemas financeiros. Pai solteiro, Chris usa suas habilidades como vendedor para conseguir um emprego e ter um salário mais digno, mas as dificuldades são maiores, e eles são despejados de casa e travam uma luta diária para sobreviver. O filme é uma linda lição sobre a vida e sobre as relações humanas.
Frankenweenie (2012) A animação de Tim Burton é um remake do curta metragem homônimo de 1984. O longa, em preto e branco, foi elaborado todo na técnica stop motion e totalmente em 3D. Sendo uma mescla de comédia e terror, Frankenweenie parodia Frankenstein, de Mary Shelley. Esta é a primeira produção de Tim Burton sem o ator Johny Depp.
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ENTRETENIMENTO
SÉRIES SÉRIES SÉRIES SÉRIES SÉRIES SÉR Once upon a time Série norte-americana baseada em contos de fadas. A trama, que foi renovada para a terceira temporada, se passa na cidade fictícia de Storybrooke, onde os moradores são, na verdade, personagens de contos de fadas que foram transportados para o “mundo real” através de uma maldição poderosa. A esperança reside em Emma Swan, que foi transportada do mundo de conto de fadas antes que ela pudesse ser amaldiçoada.
Hannibal Assistido por mais de 6,5 milhões de pessoas desde a primeira estreia no Canadá, a trama gira em torno dos personagens e elementos aparentes no Red Dragon, de Thomas Harris, e foca na relação de amizade entre o investigador especial do FBI, Will Graham, e do genial psiquiatra forense, Dr. Hannibal Lecter, destinado a se tornar o pior inimigo (e mais inteligente) de Graham.
DESTINOS DESTINOS DESTINOS DESTINOS Já reparou que estamos a menos de dois meses paras as férias? Que tal começar a curti-las de uma maneira diferente e inusitada? A Mestres + separou dicas bem legais para você aproveitar seu merecido descanso e se divertir bastante! Confira:
Snowland foto: Vinícius Costa/Divulgação
Gramado ganhou o primeiro parque de neve indoor da América, o Snowland. Localizado na RS-235, rodovia que liga Gramado a Nova Petrópolis, o espaço tem 16 mil metros quadrados, dos quais 7,2 mil metros são dedicados a esportes da neve, como snowboard e esqui. O parque conta ainda com uma área para crianças com mais de 30 animais mecatrônicos, 18 lojas com produtos tradicionais de Gramado e dois restaurantes panorâmicos com vista para a área gelada. Os pacotes custam a partir de R$ 79 por pessoa, incluindo tour na neve e aluguel de roupas, luvas e botas para enfrentar o frio de 3 graus negativos do local.
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DEPRESSÃO
Problema reforça fragilidade da educação no Brasil Obstáculo para o ensino no Brasil, a violência tem adoecido os professores. Dados da Organização Internacional do Trabalho apontam que a profissão está entre as mais desgastantes do mundo, gerando alta incidência de licença por problemas de saúde. O surgimento de novos casos de depressão em professores tem aumentado nos últimos anos, tanto na rede pública quanto na particular. Em alguns estudos, pode chegar entre 15% e 20%. Esse número é maior na rede pública, devido às melhores condições de trabalho na rede particular. Baixos salários, superlotação de salas, falta de material e carga horária extenuante são apontados como principais fatores de depressão. O psiquiatra Rodrigo Grillo acredita que é possível atuar na prevenção do problema, mas alerta para a necessidade de uma grande mudança sociocultural, através de outro olhar do governo para com a educação. No Rio Grande do Sul, assim como em muitos Estados, entre as enfermidades que acometem os educadores, a depressão lidera o ranking. Problemas de voz, dores na coluna e deficiências respiratórias também preocupam. A depressão tem assumido, há algum
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tempo, papel preponderante como doença que vem causando afastamento do trabalho. A professora Maria da Graça Montoito Teixeira dedicou 42 anos de sua vida ao magistério estadual. A carreira em sala de aula foi encerrada na escola Dom João Braga, em São Lourenço do Sul, onde ficou 23 anos, desenvolvendo funções como professora, coordenadora pedagógica, vice-diretora e diretora. “Quando iniciei minha carreira, era muito sonhadora e tinha os anos iniciais. Nesta época dividia meu tempo entre as aulas e o banco da faculdade. Se pudesse voltar ao passado, escolheria a mesma profissão. Sou casada com professor e tenho filho professor, do que muito me orgulho.”
Os dois lados Ser professor, em sua visão, é ao mesmo tempo lindo e desgastante. “É lindo quando percebemos a descoberta dos alunos, quando chegam à conclusão, antes mesmo de o professor expor o último ponto, quando questionam e fundamentam o seu questionamento.”
É desgastante, pois o professor enfrenta situações embaraçosas, como agressões verbais tanto de alunos quanto de pais. Desgastante também quando é preciso estar preparado para as quais não recebem formação: o atendimento aos alunos especiais. É mais fácil investir na prevenção do que esperar pelo afastamento. Para o psiquiatra é também menos custosa para o governo que, segundo ele, não age corretamente nem com os alunos, nem com os professores. “Principalmente na rede estadual, muitos alunos são aprovados sem saber ler, sem critérios, interessando mais ao governo números de aprovação do que a qualidade da mesma.”
Inimigo silencioso A educadora acredita que a depressão não tem época para aparecer. “Todos estamos vulneráveis, pois vamos acumulando desagrados, problemas no trabalho, sejam com alunos, pais ou direção, somados com nossos problemas particulares culminam com o stress e com a depressão. Queremos fugir, e esta fuga, este isolamento já é a depressão”, constata. Problemas sociais não estão fora da
DEPRESSÃO
escola, que é reflexo da sociedade em que vivemos e acabam interferindo na relação professor aluno. Em escolas de periferia os alunos são mais agressivos, às vezes passam fome e frio, sofrem violência sexual. O professor que deveria preocupar-se só com a instrução fica envolvido com estes problemas, sendo que às vezes não tem estrutura para enfrentá-los. Sentindo-se impotente, a depressão aflora. “Algumas empresas apostam na prevenção de doenças. Há programas que cuidam do álcool, da depressão e outros. No Estado não possuímos nada parecido, e o governo gasta muito para substituir os professores em licença de saúde. Não seria o caso de avaliar que a prevenção vale a pena? Fica a pergunta.” Rodrigo Grillo vê com preocupação a interferência dos problemas sociais no ambiente escolar. Muitas vezes, o educador vai além de suas funções, diante das necessidades apresentadas pelos alunos. “Já faz algum tempo - com a falência da função paterna e materna -, que se espera que o professor seja o “pai”, ou a “mãe” do aluno”, adverte. Ele aponta que existem casos em que o caos social é tamanho, que o professor sofre ameaças, apanha de alunos com transtornos de conduta, que nunca tiveram entendimento a respeito do que é limite. A desestruturação da família é um importante fator, o que leva toda uma problemática para dentro da sala de aula.
Talento interrompido No caso de Andréia Piangers, que trabalhou em escolas estaduais de Gramado, a depressão chegou mais cedo. Professora das séries iniciais do Ensino Fundamental, conviver com as crianças, podendo observar e conhecer as qualidades de cada uma e também aprender com elas era algo que a deixava imensamente feliz. “Os piores fatores são a pressão causada pelos pais que querem que o professor, além de ensinar, assuma a função de criar e educar seus filhos. Outra questão desmotivante é a falta de apoio por parte de diretores, orientadores e supervisores, que, ao invés de auxiliarem o trabalho do professor, muitas vezes acabam deixando a situação ainda mais estressante”. Ela acrescenta problemas de audição devido ao barulho excessivo e sugere que, para que uma mudança seja possível, é necessária uma nova postura do Estado/Município e do ambiente escolar.
Esgotamento Rodrigo Grillo esclarece que a depressão costuma ser o resultado de um conjunto de fatores. Fala-se em Síndrome de Burnout, ou seja, de esgotamento. Costuma ocorrer alguns anos após o início da profissão, devido a experiências negativas e traumas no ambiente de
Hoje Andréia se diz plenamente realizada em sua nova profissão trabalho e envolve: cansaço, fraqueza, irritabilidade, dores de cabeça etc. Interessantes seriam grupos de trocas de experiências entre professores, direção, pais e representantes de alunos, a fim de harmonizar a convivência e aparar arestas, o que poderia ocorrer semanalmente nas escolas. Maior investimento no professor, mais carga horária para aperfeiçoamento e cursos. “Atendo alguns professores cujas principais queixas são de esgotamento com a profissão. Eles descrevem dor de cabeça, ansiedade,
“Eu não acreditava em depressão, e ela veio. O acúmulo de trabalho, a corrida de cada dia para atender três escolas, conciliar horários, preparar aulas e provas, e tudo isto somado com os problemas particulares mais os problemas dos alunos e suas famílias resultaram em uma depressão”, desabafa a professora. Ela revela que, como percebeu logo, procurou ajuda médica e continuou trabalhando, por julgar que o melhor para sair de uma depressão é manter-se ocupada. “Hoje trabalho na 5ª CRE – Pelotas. O burocrático parece-me mais leve, não tem a situação-surpresa da sala de aula, não enfrento pais nem alunos.”
Maria da Graça Teixeira: 42 anos dedicados ao magistério
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DEPRESSÃO
insônia, irritabilidade, pânico, desmotivação, cansaço. Somados, esses sintomas caracterizam uma depressão.” Para Andréia, tanto a violência quanto transtornos mentais graves apresentados por alguns alunos, comprometem o convívio social e prejudicam o professor. “É muito desgastante e constrangedor ter que dizer a um pai que seu filho precisa se tratar. Muitas vezes reagem como se o professor estivesse falando isso para prejudicar o filho, quando, na verdade, está pensando no futuro e bem-estar da criança.” Este tipo de situação resultou na depressão que a acometeu. Ela relata que no último ano em que trabalhou, teve um aluno muito agressivo e com sérios problemas psicológicos, o que prejudicava toda a convivência do grupo. Para piorar a situação, os pais não aceitavam o fato de que o problema existia. “Quanto mais tempo ficava sem tratamento, mais se agravava o seu transtorno. Este aluno me desestabilizou e
a falta de apoio da escola só fez piorar. Por fim veio, além da depressão, a síndrome do pânico. Foi então que me afastei para tratamento médico”. Antes de se exonerar, solicitou a licença-interesse a que tinha direito, que foi negada. “Como não tinha as mínimas condições de permanecer naquela situação, optei por me exonerar.”
Esperança Grillo aposta em uma grande mudança, principalmente na mentalidade governamental, como solução para esta situação. “País de primeiro mundo investe em educação, dá condições dignas aos professores. Às vezes, há necessidade de terapias (cognitivo-comportamentais, análise) e/ou medicação. Também acho que a autoestima do professor anda muito baixa. Por isso, muitas vezes psicoterapias poderiam ajudar nessa questão”, aconselha.
administrativa de uma empresa da iniciativa privada e que não pensa em voltar para o magistério por enquanto, pois o assunto ainda a fragiliza. “Acho que a depressão não tem cura, mas sim, fases. Quem sofre desse mal, precisa aprender a manter o autocontrole e dar a volta por cima.” Maria da Graça superou a depressão com auxilio médico e muita vontade própria. “Hoje rezo e agradeço a Deus todos os dias pela vida, pela saúde, pelo trabalho; se Ele nos deu este dom é porque somos capazes. Vamos cultivá-lo!”, conclui.
Hoje Andréia se diz plenamente realizada em sua nova profissão, na área
Dicas para evitar a depressão:
levar em conta a genética se tenho um familiar próximo que teve depressão, tenho predisposição. Vale como orientador e alerta
fazer exercício físico libera endorfinas, que dão sensação de bem-estar
estar atento ao que pode ser feito para prevenir atuar em fatores que dependem de mim
evitar uso de álcool em excesso e drogas
estar em harmonia comigo mesmo, com minha profissão e com as pessoas
tentar evitar o stress ao máximo
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