Revista Mestres+ nº 7

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E D I Ç ÃO N Ú M E RO 0 7 | O U T U B RO D E 2 0 1 6 | D I S T RI B U I Ç ÃO G R AT U I TA

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INCLUSÃO NA ESCOLA Legislação, vivências e desafios de quem supera os limites na sala de aula COM A PALAVRA

Mario Cortella LITERATURA

Marcelo Carneiro da Cunha fala da emoção do leitor ESPECIAL

Experiências Internacionais mostram avanços na educação O U T U B RO 2 0 1 6


2 + E D I TO RI A L

INCLUSÃO, UM TEMA QUE SE IMPÔS Uma amiga escritora, certa vez, confidenciou-me que os personagens de um livro criam vida própria e, muitas

Marcelo Carneiro da Cunha, que destaca o papel do leitor na relação com a obra literária.

vezes, determinam sua trajetória naquela obra sem pedir

Mestres+ traz ainda discussões sobre ferramentas

licença ao autor. Nesta edição da Mestres+, foi um assun-

tecnológicas como Google Education e o Whatsapp e

to que invadiu as nossas páginas. O conselho editorial

debates de temas mais amplos como o Coaching Edu-

havia decidido que a matéria principal seriam experiên-

cacional, o ensino com base no perfil cognitivo do aluno

cias internacionais bem-sucedidas de modelos educa-

e a democratização na gestão escolar. Para o servidor

cionais, o que, sem dúvida, é uma temática fascinante

público, traz também um alerta sobre a importância de

e que merece ser sempre abordada. Mas o tema da In-

acompanhar sua situação funcional para que não pas-

clusão buscou seu espaço próprio e virou a matéria prin-

se despercebido um direito tão importante como o do

cipal. Matérias e análises pedagógicas e jurídicas sobre

avanço em sua carreira.

as dificuldades de quem é diferente num mundo pouco

Por fim, comunicamos a concessão do registro da

igual exploraram os vários lados da questão a partir do

marca da Mestres+ pelo Instituto Nacional da Proprieda-

aluno, do professor e da própria escola, que têm que se

de Industrial (INPI). O prazo de concessão do registro é

adaptar à realidade que está posta. Agregou valor à dis-

válido por dez anos e inclui as seguintes marcas: Mestres

cussão o Jardim Sensorial, experiência desenvolvida na

+; Mestres mais e Mestres em Ação. O registro da marca é

escola municipal Professor Horácio Prates, na cidade de

extremamente importante e garante ao titular o direito

Charqueadas, onde os alunos, com os olhos vendados,

de uso exclusivo do nome, agregando valor à marca, for-

conseguem ver mais do que estão acostumados, experi-

necendo mais segurança ao produto, com respeito aos

mentando todos os sentidos para aprender.

nossos leitores.

Também enriquecem nossa revista a participação de Mario Sergio Cortella, filósofo e escritor, que alerta sobre

Boa Leitura.

o excesso de informação dos nossos tempos e a impor-

Vera Nunes

tância de transformá-la em conhecimento, e o escritor

Editora Mestres+

+ E X PE D I E N T E

EDIÇÃO Vera Nunes MTb 6198 REPORTAGEM Mauren Xavier MTb 12579 REVISÃO Landro Oviedo

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Design de Maria www.designdemaria.com.br TIRAGEM 10 mil exemplares

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IMPRESSÃO Gráfica e Editora Palotti

Para notícias, informações e sugestões de pautas: contato@mestresmais.com.br Fone: (51) 3930.6530 Mestres+ geração de Conteúdo LTDA. CNPJ: 19.139.149/0001-84 facebook.com/RevistaMestresMais issuu.com/mestresmais RE V I S TAwww.mestresmais.com.br M E S T RE S +

Paulo Cezar Pizzolotto

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião da Revista Mestres+ e são de inteira responsabilidade de seus autores.


SUMÁRIO

7

4

COM A PALAVRA

7

ESPECIAL

12

INCLUSÃO

16

CIDADANIA

18

LEGISLAÇÃO

19

DIÁLOGOS COM O DIREITO

20

LITERATURA

16 23

26

MARIO CORTELLA - A ERA DO EXCESSO DE INFORMAÇÃO EXPERIÊNCIAS INTERNACIONAIS EM EDUCAÇÃO NA PAUTA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA DESAFIAM ESCOLAS A SE ADAPTAREM APRENDER COM TODOS OS SENTIDOS

APOSENTADORIA PARA PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS APOSENTADORIA PARA QUEM NECESSITA DE CUIDADOS ESPECIAIS MARCELO CARNEIRO DA CUNHA ARTIGO

PROMOÇÃO E PROGRESSÃO DO SERVIDOR PÚBLICO

24

TECNOLOGIA

26

PAPO CABEÇA

28

INOVAÇÃO

30

COMPORTAMENTO

32

OPINIÃO

33

ENTRETENIMENTO

34

EDUCAÇÃO NO DIVÃ

GOOGLE FOR EDUCATION

BOM SENSO NO USO DO WHATSAPP

COACHING NA ESCOLA

COMO POTENCIALIZAR O ALUNO

GESTÃO DEMOCRÁTICA É FUNDAMENTAL NO ÂMBITO ESCOLAR DICAS DA MESTRE+

INCLUSÃO - PASSO SEM RETROCESSO

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4 + CO M A PA L AV R A

MARIO CORTELLA ESTAMOS NA ERA DO EXCESSO DE INFORMAÇÃO É preciso se conectar com o aluno para promover a educação. Conhecimento não é memória. Conhecimento é seletivo e não acumulativo, como é a informação

U

nindo bom humor e uma oratória quase can­ tada, o filósofo Mario Cortella, especialista em educação e um dos principais pensado-

res brasileiros da atualidade, tem uma capacidade admirável de captar a atenção de grandes públicos. E não foi diferente na noite de uma sexta-feira de agosto, quando reuniu no ginásio do Colégio Farroupilha, um dos mais tradicionais de Porto Alegre, mais de 500 educadores e convidados, enquanto que, quase simultaneamente, ocorria a abertura dos Jogos Olímpicos, no Rio de Janeiro. E prendeu a atenção de todos, enquanto, ao mesmo tempo,

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divertia com suas ironias e provocava reflexões. Reflexões essas que deveriam ser comuns no ambiente escolar. São aquelas provocações que geram conhecimento e não as que estimulam apenas a manutenção do status quo. E foi com esta lógica que ele seguiu falando, às vezes fazendo a sua plateia rir tranquilamente, apesar de atentamente acompanhar o seu pensamento, e, em outros momentos, gerar o silêncio absoluto. Como um bom filósofo, é importante, para não dizer essencial, seguir o seu pensamento e poder se deliciar com suas inquietudes. Mas o seu foco principal era bem prático, a educação. Como um pensador, ele consegue ter uma visão extremamente crítica. Ao mesmo tempo, guarda em si um otimismo único. “Precisamos pensar em quem estamos formando, para, a partir deste ponto, saber qual a geração que temos e como ela deverá ser lembrada no futuro”, afirmou. E, neste ponto, Cortella não deixa escapar a importância da educação para a sociedade. “Esses corruptos

RE V I S TA M E S T RE S +


Fotos: Tuti Flores

+ 5

fessores e estudantes refletirem sobre o momento

“VIVEMOS NA ERA DA INFORMAÇÃO CONTÍNUA. PO­DEMOS SABER MUITAS COISAS AO MESMO TEMPO. TE­MOS ACESSO A MUITAS INFORMAÇÕES E FONTES. SÓ QUE ISSO NÃO REPRESENTA CONHECIMENTO. DE QUE ADIANTA EU TER TAL INFORMAÇÃO SE NÃO POSSO USÁ-LA?”.

atual. “Vivemos na era da informação contínua.

Mario Cortella

que vemos no noticiário, que desviam recursos da educação, foram alunos no passado. Estiveram nas salas de aula. Será que faltou algo?”, provoca. Neste ponto, ressalta a importância de os pro-

Podemos saber muitas coisas ao mesmo tempo. Temos acesso a muitas informações e fontes. Só que isso não representa conhecimento. De que

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adianta eu ter tal informação se não posso usá-la?”, questiona. Para encontrar argumentos para o seu pensamento, recorda as primeiras experiências na escola, ainda como aluno, quando reconheceu as suas limitações de conhecimento naquele momento. “O mais grandioso, é que o ser humano não nasce sabendo, como ocorre com os animais. E, exatamente por isso, tem a condição de aprender, inovar e pensar diferente do que já foi feito”, sentencia. Segundo ele, são esses argumentos que tornam o ser huma-

O U TJ U N BH RO O 2016


6 + E N T RE V I S TA

fala em educação. Porém, na voz de Cortella parece fazer sentido. Ele explica que, ao contrário da domesticação, o conhecimento deve libertar e ser compartilhado. “É neste ponto que chegamos à questão da gestão. É ela que fará com que o co-

“SOMOS CAPAZES DE SABER QUALQUER COISA QUE É SABIDA. ATÉ QUE ELA SEJA SUPERADA. A NOSSA DIMENSÃO DO CONHE­CIMENTO VAI AVANÇANDO. MAIS CONHECIMENTO GERA MAIS IGNORÂNCIA, PORQUE OBVIAMENTE TOMAMOS CIÊNCIA DE NÃO SABERMOS TUDO.”

nhecimento não fique perdido na avalanche de in-

Mario Cortella

necessário lembrar que conhecimento não é me-

formações que temos nos dias atuais. A gestão nos indica o que é importante e a razão disso”, enfatiza. Segundo o filósofo, não é fácil, dentro da era da informação contínua e acelerada, como dito lá no início de sua fala, garantir a atenção dos alunos. “É preciso despertar neles o interesse. É preciso se conectar com eles para promover a educação. É mória. Ele é seletivo e não acumulativo, como é a informação”, explica.

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AS TRANSFORMAÇÕES NECESSÁRIAS É claro que a lógica de Cortella inspira e desafia os docentes. Ao mesmo tempo, seria ingenuidade achar que essa teoria é tão simples e fácil de ser

no tão único e os estudantes tão especiais. “Somos

colocada em prática. Mesmo ao avaliar o panora-

capazes de saber qualquer coisa que é sabida. Até

ma educacional atual, o filósofo faz uma análise

que ela seja superada. A nossa dimensão do conhe-

realista. Para ele, há várias questões que precisam

cimento vai avançando. Mais conhecimento gera

ser enfrentadas para melhorar a qualidade do en-

mais ignorância, porque obviamente tomamos

sino no país, como garantir o real acesso às esco-

ciência de não sabermos tudo. Mas isso é normal”,

las e uma instituição com as condições mínimas

tranquiliza.

para receber os estudantes. Ao ser questionado

Apesar de saber que todos podem aprender,

sobre os constantes planos de educação e, ao

avalia que o desafio dos professores é bem maior

mesmo tempo, a sua defasagem, ele é categórico:

do que se imagina. É conseguir, além de ensinar,

“A educação está em constante transformação. É

estimular. Para ele, o desafio é que os professores

normal que as leis estejam defasadas. O importan-

devem ser ensinados a ensinar e não a domesticar

te é não deixarmos de pensar a educação e como

os alunos. O termo “domesticar” é forte quando se

é possível melhorá-la”, finaliza.

QUEM É MARIO CORTELLA Natural de Londrina, no Paraná, Mario Sergio Cortella tem 62 anos. É filósofo, palestrante e tem no seu currículo 30 livros, sendo que muitos lideraram os rankings de vendas, como “Pensar bem nos faz bem!” e “Não se desespere”. A sua experiência vai além da sala de aula: exerceu ainda o cargo de secretário de Educação da cidade de São Paulo.

RE V I S TA M E S T RE S +


E S PE C I A L + 7

O QUE PODEMOS APRENDER COM AS EXPERIÊNCIAS INTERNACIONAIS DA EDUCAÇÃO? Projetos desenvolvidos em Portugal, Espanha, Alemanha e Finlândia estão mudando o conceito de ensino-aprendizagem, alterando o papel do aluno e do professor

A

educação no Brasil tem problemas e muitos deles são conhecidos, como a baixa valorização dos professores, índice baixos de apren-

dizagem dos alunos e estrutura deficiente. Mas a situação não é, ou foi, diferente de outras nações que enfrentaram dificuldades similares e conseguiram superá-las ou, pelo menos, combatê-las com projetos pedagógicos inovadores. Que a educação e a maneira de ensinar estão diretamente ligadas à cultura do país também não é novidade. Mesmo assim, nada impede que o Brasil aprenda e se aproprie de alguns conceitos que deram certo em territórios fora das nossas fronteiras. Até porque quando se projeta em como melhorar a educação, toda a ajuda é válida. Correto? Tendo este pensamento em

Salvador Scofano/GovRJ

vista, a revista Mestres + foi conhecer um pouco mais

Entre as similaridades das metodologias está o protagonismo do aluno

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8 + E S PE C I A L

Divulgação

nho em indicadores de avaliação da qualidade de ensino. Mas, afinal, o que esse grupo de professores efetivamente fez? A iniciativa busca ser um projeto coletivo. Em outras palavras, a responsabilidade do ensinar deixou de ser exclusivamente do professor e passou a coletiva. E o conceito de equipe ganhou maior espaço na aprendizagem, focada na intuição e na amorosidade. Porém, o professor, um dos idealizadores e que têm levado esses conceitos para fora das fronteiras de Portugal, confessa que o desafio não foi fácil. “Decidimos habitar um mesmo espaço, derrubar paredes, juntar alunos. Compreendemos que, sozinhos não poderíamos ensinar tudo a todos. Professor José Pacheco foi o idealizador da Escola da Ponte, que busca aproximar a relação professor e aluno

RE V I S TA M E S T RE S +

Mas, se estivéssemos em equipe, com um projeto, e de experiências pedagógicas reconhecidas interna-

autonomizássemos o ato de aprender, poderíamos

cionalmente e como elas podem indicar diretrizes ou

responder efetivamente às necessidades de cada jo-

caminhos para o Brasil superar os seus obstáculos e

vem”, explica. Assim, o projeto foi sendo construído

avançar em direção a um ensino de qualidade.

e reconstruído, num eterno processo de mutação,

Uma dessas experiências, e a mais antiga, teve

para melhor adaptar-se aos desafios da sala de aula.

início há 40 anos, em Portugal, quando começou

Nesta ruptura de barreiras, diante do ensino formal,

a ser desenvolvido o projeto Escola da Ponte pelas

a divisão por séries e as provas foram sendo substi-

mãos do professor José Pacheco. Naquela ocasião,

tuídas por outros tipos de avaliação e estruturação.

a escola pública estava degradada e as turmas,

Com alguns contornos similares, na cidade de

chamadas de “do lixo”, eram formadas por jovens

Barcelona, na Espanha, está outro método pedagó-

com idades entre 14 e 15 anos que não sabiam ler

gico que merece atenção. E as rupturas propostas

ou escrever, relembra ele. E, mais grave do que isso,

pelo Projeto Horizonte 2020, que, em espanhol cha-

agrediam, em algumas ocasiões, aqueles que deve-

ma-se Horitzó 2020, estão baseadas no fim da divi-

riam lhes ensinar e ser seus modelos: os professores.

são das aulas por temáticas e horários. A iniciativa

Diante dessa situação, Pacheco, assim como outros

da rede de escolas jesuítas da cidade de Barcelona

docentes, se questionou sobre a razão de, mesmo

é recente, tendo suas primeiras ações práticas em

com uma aula boa, os alunos não aprenderem. “Nos

2014, para um grupo específico de escolas. Mesmo

deparamos com a falta de compromisso ético com

assim, alguns resultados são comemorados pelos

profissão. O sistema educativo não funcionava. O

organizadores.

modelo não assegurava a aprendizagem de todos os

Segundo o conceito proposto pelo diretor-geral

alunos. E nós não poderíamos insistir nesse modo de

da Fundação de Educação dos Jesuítas da Catalu-

ensinar. Era preciso mudar”, relembra.

nha, Xavier Aragay, a ideia é inovar o processo edu-

Em meio a esse dilema e buscando ir contra o sis-

cacional diante das novas exigências da sociedade.

tema, um grupo de professores passou a realizar um

As aulas deixaram de ser em turmas e passaram a ser

trabalho à parte. No início não houve uma boa acei-

feitas em equipes. O grupo de alunos é maior do que

tação, o que normalmente ocorre quando há mu-

se fosse uma turma normal e houve mudanças nos

danças de práticas consolidadas, como era o caso.

formatos das salas, permitindo o desenvolvimento

As dúvidas vieram ainda de outros professores e de

de outras atividades, que superaram o rigor da dis-

pais, o que se desfez no momento em que os bons

posição das mesas e cadeiras, como normalmente

resultados apareceram, como o elevado desempe-

estamos acostumados a ver nas escolas.


+ 9

“A ideia é transformar em profundidade o processo de ensino e aprendizagem e criar uma nova escola para o século XXI”, ressalta o idealizador, que tem percorrido o mundo apresentando o projeto, como fez no início deste ano na América Latina, e as suas

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bases pedagógicas. Atualmente, o Horizonte abrange oito escolas da Catalunha. “A educação muda quando a comunidade educativa tem poderes e sonhos de fazer a mudança. As comunidades educativas vão transmitir o pensamento de que a mudança é possível quando elas são as protagonistas”. Mas e se não há mais disciplinas, turmas e deveres de casa, como os alunos estudam? O modelo pedagógico está sustentado pelo desenvolvimento de projetos. É por meio deles que as crianças adquirem conhecimento. A ideia é garantir a atenção dos estudantes, evitando que fiquem entediados, o

“NOS DEPARAMOS COM A FALTA DE COMPROMISSO ÉTICO COM PROFISSÃO. O SISTEMA EDUCATIVO NÃO FUNCIONAVA. O MODELO NÃO ASSEGURAVA A APRENDIZAGEM DE TODOS OS ALUNOS. E NÓS NÃO PODERÍAMOS INSISTIR NESSE MODO DE ENSINAR. ERA PRECISO MUDAR.” José Pacheco, Idealizador da Escola da Ponte

que segundo Aragay, é um dos principais desafios. O As principais mudanças ocorrem na sala de aula e na forma como o conteúdo é repassado aos estudantes

Gustavo Gargioni/Especial/Palácio Piratini

progresso e desenvolvimento dos alunos são moni-

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1 0 + E S PE C I A L

torados pelos professores responsáveis. Segundo o

para ingressarem no mercado de trabalho e são valo-

idealizador, o projeto “reviveu” os alunos, que se tor-

rizadas as características individuais, permitindo que

naram mais proativos. Mas, assim como Pacheco, da

eles escolham as suas atividades. O conceito básico

Escola da Ponte, Aragay reconhece que as mudanças

é motivar e estimular os estudantes. A multidiscipli-

não são rápidas, mas que fazem parte de um proces-

naridade também está presente, uma vez que, para

so de transformação.

resolver uma determinada tarefa, eles precisam co-

Assim, a sistemática da aula é a seguinte: um pe-

nectar assuntos e conhecimentos.

ríodo de reflexão, definição dos desafios e, ao fim,

Agora é praticamente impossível falar em ensi-

discussão sobre se eles foram atingidos e suas difi-

no de qualidade e não citar o case Finlândia, que é

culdades. Uma delas, por exemplo, teve a temática

considerado uma das principais referências no as-

voltada ao Império Romano, estudando sua arte,

sunto, destacando-se nas pesquisas internacionais

geografia, religião, além de história.

de avaliação da qualidade da educação. E mesmo

Com o objetivo de promover uma reforma radical

já tendo elevado o nível da educação no país nas

na cultura de aprendizagem, surgiu o Centro Escola

últimas décadas, ainda está envolto em mudanças

Evangélica de Berlim, que completa uma década de

e adaptações. Neste ano mesmo, entrou em vigor o

funcionamento. É uma instituição privada e que tem

novo currículo do ensino básico. A modificação bus-

a sua sistemática voltada ao desenvolvimento sus-

ca exatamente a atualização da formação dos estu-

tentável, focada no desenvolvimento do estudante

dantes, tendo foco nas competências transversais e

em um cidadão responsável com a sociedade no seu

no estudo entre disciplinas. Além disso, o foco pas-

entorno. Assim, a ideia é que o aprendizado venha

sou a ser em aulas mais práticas e colaborativas, em

junto com a aquisição de conhecimento. “A educa-

que os alunos podem estudar e interagir com mais

ção é um pré-requisito essencial para promover o

de um professor ao mesmo tempo. São módulos de

desenvolvimento sustentável e a melhoria da capa-

aprendizagem multidisciplinares.

cidade das pessoas para lidar com questões ambien-

A idealizadora das mudanças e integrante do Mi-

tais e de desenvolvimento”, conceito estampado na

nistério Finlandês, Irmeli Halinen, divulgou, em artigo,

apresentação da escola.

que as mudanças têm como objetivo tornar o apren-

Assim como as experiências de Portugal e Espa-

dizado mais dinâmico, além de promover a colabora-

nha já relatadas, os alunos também são colocados

ção. “São sete áreas de competências transversais”,

em posição de protagonistas. Eles são formados

explica. Apesar das atualizações, o ensino segue al-

/////////////////////////////////////////////// “PRECISAMOS APRENDER COM OS SISTEMAS EDUCACIONAIS DE OUTROS PAÍSES QUE TÊM MAIOR EXPERIÊNCIA HISTÓRICA QUE NÓS, MAS SEMPRE NO SENTIDO DE FAZER UMA RELEITURA, UMA REFLEXÃO A PARTIR DE UMA INTERPRETAÇÃO ATIVA E ‘NUNCA’ UMA CÓPIA, POIS ISSO ESTÁ FADADO A NÃO DAR CERTO” Maria Carmem Barbosa, professora de Educação - Ufrgs

gumas diretrizes, como a formação em turno integral. Uma das características é o uso de projeto ou problemas. Assim, os estudantes e professores precisam se unir para desenvolver iniciativas, ao contrário do ensino formal, em que o conteúdo é ensinado de maneira isolada em vez de ser integrado. Os estudantes também ganham mais protagonismo, similar aos demais projetos abordados. Assim, eles têm voz para opinar e sugerir e a responsabilidade não fica apenas no colo do professor. Além disso, o processo de avaliação e mesmo o ambiente escolar são diferenciados aos praticados no Brasil. Por exemplo, no primeiro caso, os alunos são responsáveis por parte de suas avaliações, assim como os seus colegas. Também é estimulado o contato entre as instituições escolares com as empresas.

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Salvador Scofano/GovRJ

+ 11

As mudanças também envolvem o tipo de material didático

E como aproveitar ou saber o que absorver de

município de Cotia, em São Paulo. A instituição, ex-

tantas propostas pedagógicas que se mostram exi-

plica o professor José Pacheco, é uma prova de que

tosas? Segundo a professora de educação Maria

a inovação na educação pode dar certo. Ele destaca

Carmem Barbosa, da Universidade Federal do Rio

que há uma fase de acolhimento em que busca re-

Grande do Sul (Ufrgs), é fundamental o contato e

cuperar a autoestima e restabelecer o conceito de

diálogo entre os diferentes grupos e comunidades

convivência. “Nesse núcleo, aprendem a construir

do mundo. “Acredito que precisamos aprender com

projetos e a retomar um projeto de vida. Com o seu

os sistemas educacionais de outros países que têm

tutor, aprendem a elaborar roteiros de estudo, a

maior experiência histórica que nós, mas sempre no

pesquisar, a se avaliar e a ser avaliado. Assumem-se

sentido de fazer uma releitura, uma reflexão a partir

em autonomia e solidariedade”, destaca.

de uma interpretação ativa e ‘nunca’ uma cópia, pois isso está fadado a não dar certo”, pontua.

O Projeto Âncora já não é um caso isolado. Pacheco aponta ainda que há muitos outros projetos

Ao mesmo tempo, a especialista lembra que o

que provam a possibilidade de romper com o ciclo

sucesso educacional e a realização escolar têm ba-

vicioso da reprodução do insucesso. E ressalta que

ses muito profundas nas escolhas culturais, valores,

os modelos, como da Escola Âncora, não devem ser

projetos de sociedade, modelos futuros de trabalho

replicados, mas fonte de inspiração para escolas.

e produção econômica, felicidade, cidadania, liber-

A relação de Pacheco com o Brasil se tornou tão

dade. “Podemos ir bem em um PISA (Programa Inter-

grande que ele se mudou. Além disso, não esconde

nacional de Avaliação de Estudantes), por exemplo,

o otimismo com o país de residência. “O Brasil tem

pelo caminho da Finlândia ou da Coreia. E não tenho

tudo aquilo que precisa: excelentes teóricos, bons

dúvida de que, entre eles, o caminho da Finlândia é

professores, ótimos projetos. A garantia de educar a

muito mais próximo daquilo que eu acredito como

todos, direito da Constituição e da LDB, será alcan-

educadora sobre o sistema educacional e a vida para

çada quando as escolas deixarem de estar cativas

jovens e sociedades”, avalia Maria Carmem.

de um modelo educacional obsoleto e de uma ges-

Um dos projetos citados já se encontra em pro-

tão burocratizada na qual os critérios de natureza

cesso de consolidação no Brasil. A Escola da Ponte

administrativa se sobrepõem a critérios de natureza

foi a inspiração para a Escola do Projeto Âncora, no

pedagógica”, avalia.

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Site Movimentodown

1 2 + I N C LU S ÃO

Presença de alunos com deficiência ainda é desafio

DESAFIO DA INCLUSÃO NAS ESCOLAS Decisão STF que proíbe escolas privadas de cobrarem a mais dos alunos com deficiência entende que as instituições não podem escolher os alunos que vão se matricular nem segregá-los

O

Estatuto da Pessoa com Deficiência, que en-

discurso. Neste ponto, alguns representantes de en­

trou em vigor no início do ano, trouxe à tona

tidades ligadas às escolas reforçam a necessidade

uma série de questões, entre elas a da inclu-

de que haja debate, antes de punições. Para o pre­

são dos alunos com algum tipo de deficiência nas

sidente do Sindicato dos Estabelecimentos do Ensi-

escolas. Uma das mais recentes esteve representada

no Privado (Sinepe/RS), Bruno Eizerik, a legislação

na decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de

não representa surpresa, já que a maioria das insti-

assegurar que as escolas privadas estão proibidas

tuições privadas trabalha com a prática da inclusão.

de cobrarem a mais dos alunos portadores de defi-

Mesmo assim, reconhece que há dificuldades. “É pre-

ciência. A decisão teve como base questionamentos

ciso que haja cuidado para que a universalização da

feitos pela Confederação Nacional dos Estabeleci-

inclusão, em que todos têm que ser recebidos, não

mentos de Ensino (Confenen). O conceito utilizado

acabe por se tornar exclusão, por não ter como aten-

pelo ministro Edson Fachin, que foi o relator da ação,

der ade­quadamente a todos”, reflete.

é que as instituições não podem escolher os alunos

Segundo o presidente da Federação Nacional

que vão se matricular nem segregá-los. Segundo o

das Escolas Particulares (Fenep), Antonio Eugênio

ministro, a legislação busca exatamente garantir o acolhimento dos estudantes, tanto nas escolas pú-

ceiras, com o desafio de garantir efetivamente que

A ESCOLA NÃO VAI PROMOVER SOZINHA A INCLUSÃO. É PRECISO QUE HAJA APOIO DA SOCIEDADE E DA FAMÍLIA

os alunos especiais sejam incluídos, não apenas no

Antonio Eugênio Cunha

blicas como nas privadas. Na prática, porém, os questionamentos nas instituições particulares vão além das questões finan-

RE V I S TA M E S T RE S +


+ 13

Cunha, é preciso aprender com a lei (Estatuto da Pessoa com Deficiência) e, ao mesmo tempo, enten­ der que a responsabilidade para o seu cumprimento deve ser abraçada por toda a sociedade. “A inclusão é um fato que já existe nas escolas e na sociedade. E diversas adaptações já são promovidas neste senti­ do. Mas as mudanças não podem ser feitas de ma­ neira impositiva”, adverte. Representante das instituições privadas, Cunha aponta algumas questões, como a dificuldade de contratar professores com especialização. “A inclusão não é fácil e nunca será. É um caminho que pre-

//////////////////////////////// “O ALUNO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL SOLICITA UMA ADEQUAÇÃO DE ACORDO COM SUA DEFICIÊNCIA E O PROFESSOR, PARA ATENDER OS OBJETIVOS TRAÇADOS PARA ELE, DEVE BUSCAR CONHECER E ESTUDAR AS ESPECIFICIDADES”. Ana Regina Caminha Braga

cisa ser construído”, observa. Ainda dentro desse debate, o Sindicato dos Pro­ fessores do Ensino Privado do RS (Sinpro/RS) apre­ sentou no início de agosto um parecer sobre a inclu­ atenção e passou a ser fiscalizado. Porém, em levanta-

privadas do Estado. E uma das principais questões

mento feito no município, 90% das escolas admitiram

apresentadas é que as instituições precisam investir

ter alunos es­peciais, entretanto muitas não tinham as

na capacitação dos professores e contar com rede de

condições para tal. Para garantir a inclusão, as institui-

apoio, além de limitar o número de estudantes por

ções pre­cisam oferecer infraestrutura e pessoas, como

turma. O estudo foi realizado com base no Estatuto.

pro­jeto pedagógico, educação bilíngue, acessibilida-

Segundo a diretora do Sinpro/RS, Cecilia Farias, a in­

de, sala de recursos, entre outros.

clusão é para todos, porém, o professor precisa de

Para a advogada da Federação Nacional das

condições para desenvolver o seu traba­lho de ma-

Apaes (Fenapaes), Rosângela Wolff Moro, a res-

neira efetiva. Ela recordou ainda que o debate surgiu

trição do acesso do aluno com deficiência é uma

exata­mente após relatos de professores que não es-

discrimi­nação. Ela reforça ainda que a presença

tão contando com o apoio das escolas.

desse estu­dante colabora para o desenvolvimento

E para dar base ao parecer, a promotora regional

do ambien­te escolar, que passa a conviver com as

de Educação de Santa Maria, Rosângela Corrêa da

diferenças. A especialista em educação especial,

Rosa, mostra que o tema tem recebido cada vez maior

Ana Regina Caminha Braga, recorda que é no ambiente escolar que o aluno será inserido nos parâ-

Vinicius Roratto

Presidente do SINEPE/RS defende maior reflexão sobre a inclusão

são dos estudantes com deficiência nas instituições

metros sistemá­ticos e, gradativamente, aprenderá os conteúdos e desenvolverá a sua construção do conhecimento. “Sobre a educação especial, o funcionamento da instituição precisa ser o mesmo. O que acontecerá de específico para atender a demanda exigida pelas deficiências encontradas em sala de aula dependerá de o professor adequar as suas estratégias às neces­sidades de cada aluno”, explica. Porém, ela não espe­ra que isso ocorra de maneira simples. A especialista aponta que o professor deve ter conhecimento de suas habilidades e, ao mesmo tempo, dos alunos, com os diferentes tipos de aprendizado e assimilação de conteúdo.

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1 4 + I N C LU S ÃO

SUPERANDO AS LIMITAÇÕES PARA ENSINAR Conscientes das suas limitações, os professores que se declararam com necessidades especiais enfatizam a importância de haver um suporte institucional

A

ssim como qualquer outro professor, Marcio

que o diferenciam no trabalho, mas que busca exer-

Fumaco, 38 anos, acorda cedo, se arruma e

cer a sua função de maneira similar à de qualquer

vai ao trabalho. Chega à escola e coordena as

outro colega, com didática e focando no desenvolvi-

atividades com os alunos da educação infantil em

mento do aluno. “Quando as aulas começam, chego

duas instituições públicas de Porto Alegre. Promove

na turma e explico aos alunos que uso uma bengala

aulas de música e busca, por meio delas, despertar

mágica, para que eles não estranhem. Depois falo

o interesse e, ao mesmo tempo, o conhecimento em

que sou cego e que preciso dela para me locomover

seus pequenos estudantes. Toda a trajetória é igual

com segurança. É uma relação muito interessante”,

à de milhares de colegas, se não fosse por um de-

confessa. As reações, lembra, são as mais diversas,

talhe: ele é cego. Marcio é um dos 35 docentes que

mas gradativamente, a presença do professor e a sua

se declaram com alguma necessidade especial na

necessidade especial, passam a fazer parte da rotina.

rede municipal da Capital, segundo levantamento

Assim como Márcio, Gaspar Scangarelli viu na do-

da própria secretaria. Na rede estadual, a secretaria

cência uma oportunidade de levar conhecimento aos

da Educação (Seduc) informa que não tem esse le-

outros, apesar da surdez genética, e quebrar precon-

vantamento. Até porque, a presença de professores

ceitos. A limitação auditiva foi tratada com um pouco

com algum tipo de necessidade especial ainda é um

de dificuldade na infância, quando não compreendia

assunto pouco debatido, apesar de o número de do-

corretamente a sua diferença em relação aos colegas,

centes estar em crescimento.

mas após o conhecimento de Libras (Língua Brasileira

Ainda jovem Márcio viu na música uma fonte de

de Sinais) e a confirmação da sua identidade, pôde

inspiração e, por meio dela, encontrou o caminho

superar as barreiras. Há seis anos, ele é professor

da sala de aula. Ele reconhece que há características

de Libras no curso de Letras da Ulbra, em Canoas, e, atualmente, Gaspar chama a atenção ainda pela companhia de seu cão Alemão, que também é surdo. “No meu fazer pedagógico, não encontro nenhu-

ENFRENTEI ALGUNS OBSTÁCULOS. QUANDO INGRESSEI NA PRIMEIRA ESCOLA (CRECHE), NÃO QUERIA CONTINUAR, PORQUE NINGUÉM SABIA FALAR EM LIBRAS E FICAVA COM MEDO, CHORAVA MUITO NA AULA, PORQUE ME SENTIA DIFERENTE. Gaspar Scangarelli

////////////////////////////////////////////// RE V I S TA M E S T RE S +

ma dificuldade a qual não consiga vencer. Sinto que sou admirado pelos colegas e também pelos alunos, os quais muitas vezes expressam sua admiração por mim”, relembra ele, que realizou diversos cursos de formação em Libras antes de se tornar professor. Inclusive lembra que por meio do ensino de Libras espera que mais pessoas com surdez possam se comunicar e ter a sua identidade.

VALORIZAÇÃO DAS DIFERENÇAS A música foi a maneira que Márcio descobriu para expressar os seus sentimentos e é por meio dela que


+ 15

busca estimular nos seus alunos a compreensão das

ção de Porto Alegre). “Fui muito bem recebido desde

diferenças. “Procuro promover o sentimento de inclu-

o início, o que me permite desenvolver minhas ativi-

são. Para que eles interajam e também tenham a com-

dades com tranquilidade”, conta.

preensão do outro. A música foi um caminho para que

Na maioria das aulas coordena sozinho a turma,

eles expressem também os seus sentimentos”, explica.

em outras, conta com o apoio de estagiário. “Sei das

Já Gaspar procura no ensinamento de Libras es-

minhas limitações. Então, busco compartilhar com

timular a difusão da linguagem, que ajuda tanto os

os estudantes para que eles vejam que eu sou cego,

surdos a terem autonomia como as demais pessoas

mas sou feliz e tenho uma vida”, destaca.

a conhecerem e poderem dialogar por meio dos si-

Nesta mesma linha, Gaspar Scangarelli enaltece a

nais. Além disso, destaca que essa é uma maneira de

atenção da Ulbra em relação à valorização da inclu-

a sociedade saber respeitar as características de co-

são. Ele ressalta que a instituição tem o PPA (Progra-

municação dos surdos. “Espero que eles tenham in-

ma Permanente de Acessibilidade). Assim, sempre

teresse em Libras, busquem um convívio com os sur-

que tem alguma necessidade especial, busca apoio

dos para poder interagir da melhor forma em sinais

no setor, como, por exemplo, ter o auxílio de um in-

e, consequentemente, ter um melhor desempenho

térprete para se comunicar.

dos surdos”, ressalta.

APOIO EXTRA Conscientes das suas limitações, em função das

Caren Moraes/Ulbra

linguístico, quebrando a limitação de comunicação

necessidades, ambos os professores enfatizam a importância de haver um suporte institucional. Por exemplo, na rede pública, o professor Marcio Fumaco lembra que, desde que ingressou na rede municipal, em fevereiro de 2015, sempre teve o apoio necessário, além de poder participar de atividades promovidas pela própria Smed (Secretaria de Educa-

Gaspar chama atenção pela companhia de seu cão Alemão

O U T U B RO 2 0 1 6


Fotos: Lisângela Lacerda

1 6 + C I DA DA NI A

Jardins Sensoriais:

O ENSINO COM TODOS OS SENTIDOS O Jardim Sensorial foi construído para que os alunos possam vivenciar situações através dos sentidos, atendendo ao mesmo tempo aqueles com necessidades especiais

I

magine se a aula ao invés das quatro paredes de

para que os alunos possam vivenciar situações atra-

uma sala ocorresse num jardim. E se no lugar de

vés dos sentidos, atendendo ao mesmo tempo nos-

lápis e caderno, os itens necessários para aprender

sos alunos com necessidades especiais”, explica a

fossem os sentidos, como o tato e olfato. Esses são

RE V I S TA M E S T RE S +

diretora Lisângela Lacerda.

alguns conceitos que estão na essência do projeto

Mas qual a diferença deste jardim? Em um pri-

Jardim Sensorial. Trata-se de um espaço compartilha-

meiro olhar, parece como qualquer outro. Porém,

do pelos alunos e professores e que recebe atenção

os detalhes dizem muito. A sua concepção leva em

especial na escola municipal de ensino fundamental

consideração alguns critérios que, muitas vezes,

Professor Horácio Prates, na cidade de Charqueadas,

não valorizamos. Por exemplo, os canteiros foram

na região Carbonífera do Rio Grande do Sul.

construídos incluindo plantas de diferentes texturas,

O espaço, que foi batizado carinhosamente de

aromas e formas. Assim, é possível identificá-las e

Nerina Flores, uma referência à professora que idea-

concebê-las dentro da natureza. Ao todo, em uma

lizou o projeto e que se aposentou aos 70 anos, co-

área de 15m³ estão reunidas variedades de 42 espé-

meçou a ser inserido no cotidiano da instituição em

cies. A diretora explica ainda que foi feito um tapete,

agosto de 2014. “O Jardim Sensorial foi construído

também cheio de texturas, bem no centro. A ideia é


+ 17

simples: permitir que os alunos possam se desvenciOS SENTIDOS DO CORPO HUMANO:

lhar dos sapatos e sentir a grama entre os seus pés.

• O tato: através das texturas das plantas;

AMPLIAR A INCLUSÃO

• A audição: com sons das folhas se mexendo,

A escola municipal tem atualmente nove alunos

sons de pássaros e outros animais;

com algum tipo de deficiência física (Síndrome de

• A visão: através das cores exuberantes;

Asperger, deficiência visual total, distúrbios da fala

• O olfato: com os aromas das espécies.

e da linguagem, atraso global do desenvolvimento, síndrome Hipotônica e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade-TDAH) de um universo de

tes que nos procuram de outras escolas e entidades

255 estudantes. E o jardim serve exatamente para

locais querendo conhecer a proposta”, explica a di-

estimular a inclusão deles no ambiente escolar e vi-

retora, sem esconder o orgulho de acompanhar o

ce-versa. Com uma grande influência oriental, o es-

sucesso do projeto. “Nossa intenção é envolver e comprometer os

e audição). “Começamos a pensar no projeto em

alunos e pais na preservação e valorização desse

2012, quando a questão da inclusão dos alunos com

espaço. Os professores estão organizando uma gin-

necessidades especiais se tornou urgente na institui-

cana com as turmas para arrecadação e plantio de

ção”, explica a diretora. Na época em que foi inaugu-

mudas, além de ações que visam o trabalho peda-

rado, em 2014, a escola tinha 13 alunos com alguma

gógico”, cita.

necessidade, sendo que dois eram cegos. Com o apoio da iniciativa privada (Gerdau e Tractebel) e com recursos públicos, o jardim foi ganhando apoio, especialmente da comunidade, que se envolveu, após a construção, e auxilia até hoje na manuten-

Arquivo Pessoal

paço busca estimular os sentidos (olfato, visão, tato

A diretora da escola, Lisângela Lacerda (branco), e as vices Josiane Alves (preto), Michele Foques (azul), Giséle Sena (amarelo)

ção. Lisângela destaca que o local se propõe a mostrar mais do que os olhos estão acostumados a ver. “É como reconhecer a natureza de outra maneira, por meio da textura das folhas, do cheiro das flores e do sabor ou do som dos pássaros e vento”. Além disso, o jardim vem oportunizando várias intervenções pedagógicas, contribuindo para a pes-

A professora Nerina Flores, que dá nome ao espaço, durante a inauguração

quisa científica e o conhecimento sobre vegetais, por exemplo. Também foram desenvolvidos projetos na área de preservação ambiental desde que o jardim foi inaugurado.

NO FUTURO, A EXPANSÃO Infelizmente, atualmente os alunos estão um pouco privados de explorarem o espaço, apesar de o motivo ser mais do que válido. O Jardim Sensorial está passando por reformas, o que irá ampliar a capacidade. A previsão é que as melhorias sejam concluídas até outubro. Uma delas é acrescentar uma fonte d’água, para aumentar o estímulo auditivo. “Dessa forma, poderemos atender melhor os visitan-

O U T U B RO 2 0 1 6


1 8 + L E G I S L A Ç ÃO

SERVIDOR PÚBLICO PORTADOR DE NECESSIDADES ESPECIAIS: A DURA REALIDADE SOBRE A APOSENTADORIA ESPECIAL Na ausência de lei regulamentadora, devem ser adotados para os servidores públicos os mesmos critérios assegura­dos ao Regime Geral da Previdência Social

A

É possível que você leia este texto procurando

peito pela sua dignidade inerente”. Negar o direito à

informação para ajudar algum colega ou ape-

aposentadoria especial, como no caso do servidor

nas por curiosidade. Independente da moti-

com paralisia, sob alegação de ausência de lei, fere o

vação, deve saber que esta é uma triste realidade de

Princípio Constitucional da Igualdade, visto que este

muitos servidores públicos portadores de necessida-

assegura ao cidadão que o Estado tem a responsabi-

des especiais: a negativa da aposentadoria especial

lidade de preservar a isonomia, proibindo discrimi-

por falta de lei.

nações injustas.

Fomos procurados, recentemente, por um ser-

Esta garantia de igualdade ficou ainda mais clara

vidor com paralisia infantil, que teve seu pedido de

com a Emenda Constitucional 47/2005, que desta-

aposentadoria especial negado sob fundamento de

cou a aposentação especial aos servidores públicos

inexistência de lei específica. A Administração Pú-

portadores de deficiência. A partir de então, o Supre-

blica alegou estar impossibilitada de conceder tal

mo Tribunal Federal (STF) passou a considerar que

benefício em razão de inexistência de uma lei que in-

deve ser aplicada, subsidiariamente, a Lei Comple-

cumbia a ela própria editar. Um misto de indignação

mentar 142/2013 a estes casos. Ou seja, na ausência

e impotência toma conta daqueles que passam por

de lei regulamentadora, devem ser adotados para os

esta situação e, quem não busca orientação especia-

servidores públicos os mesmos critérios assegura-

lizada, acaba aceitando esta negativa como correta.

dos ao Regime Geral da Previdência Social (RGPS).

Cabe lembrar que o Brasil é signatário da Conven-

Porém, a situação resolve-se somente com ação ju-

ção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com

dicial específica, para a qual entendemos cabível um

Deficiência, cujo propósito é “promover, proteger

pedido liminar, possibilitando a aposentadoria espe-

e assegurar o exercício pleno e equitativo de todos

cial. Nestas condições, objetiva-se a aposentação do

os direitos humanos e liberdades fundamentais por

servidor público desde o início do processo, enquanto

todas as pessoas com deficiência e promover o res-

perdurar a omissão legislativa. Aliás, a jurisprudência é pacífica neste sentido, aplicando a regra do RGPS aos servidores públicos portadores de deficiência.

NEGAR O DIREITO À APOSENTADORIA ESPECIAL, COMO NO CASO DO SERVIDOR COM PARALISIA, SOB ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE LEI, FERE O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA IGUALDADE. Márcio Sequeira

RE V I S TA M E S T RE S +

Desde que o STF firmou entendimento sobre a aplicação, por analogia, da Lei Complementar 142/2013 à aposentadoria especial do servidor público portador de deficiência, inúmeras injustiças foram sanadas, porém, ainda não foi possível reverter o quadro de desigualdade e discriminação que reina na Administração Pública.

MÁRCIO SEQUEIRA Advogado. Especialista em Direito do Consumidor e Direitos Fundamentais (UFRGS).


D I Á LO G O S CO M O D I RE I TO + 1 9

APOSENTADORIA PARA QUEM NECESSITA DE CUIDADOS ESPECIAIS NOVA INTERPRETAÇÃO DOS TRIBUNAIS SOBRE O TEMA Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais firmou tese de que o adicional de 25% deve ser concedido às demais aposentadorias do INSS

D

Minha colega advogada doutora Ana Amélia

25%, é dar cobertura a um risco social, que é a necessi-

Piuco sempre diz que o direito é lógico e que,

dade de um aposentado inválido de auxílio permanen-

portanto, se uma situação fática parece incorre-

te de terceiros, fato que gera um aumento de despesas

ta, injusta, ilícita é porque possivelmente ela o seja. E

inicialmente não cobertas pelo benefício previden-

faz todo o sentido. Já fui, mais de uma vez, consultado

ciário. Não é lógico que apenas uma parcela dos apo-

a respeito de um adicional de 25% sobre a aposenta-

sentados faça jus a esse adicional, se o risco social é o

doria de pessoas que, por causa do avançar da idade

mesmo.

ou de outras situações imprevisíveis da vida, passam

O juiz federal relator do processo referiu: “Não se

a necessitar de acompanhamento constante de outra

apresenta justo nem razoável restringir a concessão

pessoa para a prática de tarefas comuns da vida diária.

do adicional apenas ao segurado que restou acome-

A lei dos benefícios previdenciários, a 8.213/91, é

tido de invalidez antes de ter completado o tempo

bastante clara: faz jus ao adicional apenas os apo-

para aposentadoria por idade ou contribuição e ne-

sentados por invalidez que necessitem de auxílio

gá-lo justamente a quem, em regra, mais contribuiu

constante de terceiros e as decisões judiciais, a seu

para o sistema previdenciário”.

turno, eram categóricas em negar esse benefício

Essa decisão vem para uniformizar o entendimento

àqueles que, embora incapazes de cuidar de si, não

dos Juizados Especiais Federais acerca da interpreta-

eram aposentados por invalidez.

ção do art. 45 da Lei n. 8.213/91 e permite aos aposenta-

As pessoas que me consultavam, quando infor-

dos inválidos e que necessitem de auxílio, independen-

madas a respeito do entendimento do Judiciário

temente do benefício originário, pleitear o pagamento

sobre o tema, ficavam perplexas e sentiam-se injusti-

do adicional de 25% sobre a aposentadoria.

MAURICIO TAVARES DE ALMEIDA Advogado. Especialista em Direito do Consumidor e Direitos Fundamentais pela Universidade Federal do Rio Grande Sul (UFRGS). Especialista em Direito do Trabalho e Direito Previdenciário pelo Centro Universitário Ritter dos Reis (UNIRITTER )

çadas, pois, não raro, vinham em busca desse direito para um ente querido, que tinha custos adicionais de um auxiliar e seus proventos de aposentadoria não

Uniformização dos Juizados Especiais Federais

“NÃO É LÓGICO QUE APENAS UMA PARCELA DOS APOSENTADOS FAÇA JUS AO ADICIONAL DE 25%, SE O RISCO SOCIAL É O MESMO”

(TNU) firmou tese de que o adicional de 25% deve

Maurício Tavares de Almeida

acompanhavam esse custo. O direito é lógico. A injustiça existe e o Judiciário, afinal, deu-se conta de que o tratamento dispensado a essas pessoas não era isonômico. No último dia 12 de maio, a Turma Nacional de

ser concedido às demais aposentadorias do INSS, fazendo uma análise sistêmica da Lei 8.213/91. Isso porque a intenção da lei, com o adicional de

////////////////////////////////////////////// O U T U B RO 2 0 1 6


2 0 + L I T E R AT U R A

“PROFESSORES DEVEM PRIORIZAR O LEITOR, NÃO OS LIVROS” Entender o que os alunos sentem pelo que leem é mais importante do que testar o co­nhecimento deles com relação ao que leram

O

jornalista gaúcho Marcelo Carneiro da Cunha

Arte) de Melhor Livro Juvenil, da União de Escrito-

TIVE A SORTE DE TER UMA PROFESSORA DE PORTU­GUÊS APAIXONADA POR LIVROS. EU JÁ GOSTAVA, ELA ENTENDIA O MEU AMOR PELA COISA E EU ME SENTIA COMPREENDIDO.

res do Brasil e selos de “Altamente Recomendável”,

Marcelo Carneiro da Cunha

é uma das referências da literatura atual, como indicam as suas premiações. Ao lon-

go dos seus 59 anos construiu um currículo que traz 20 publicações e diversas premiações como o Prêmio da APCA (Associação Paulista de Críticos de

da Fundação e Brasileira do Livro Infanto-Juvenil. Além disso, alguns títulos deixaram as folhas e foram adaptados para o cinema, como no caso de “Insônia” (1996), filme dirigido por Beto Souza, e

de livros infantis do escritor Mark Twain) aos 11 ou

“Antes que o mundo acabe” (2000), dirigido por Ana

12 anos. Nunca mais senti a mesma coisa por um

Luiza Azevedo.

livro. E hoje muitos garotos me dizem que têm a

A maioria de suas publicações, como um dos seus principais personagens, Duda, lançado primei-

mesma experiência lendo livros meus, como “Codinome Duda” (que é um Tom Sawyer).

ro em 1992, teve como alvo o público jovem, esse mesmo grupo que ainda é tão difícil de os professo-

MESTRES +: COMO AVALIAS A LITERATURA E O IN-

res captarem no dia a dia da sala de aula. Em uma

CENTIVO À LEITURA NO BRASIL?

conversa rápida, ele avaliou o ensino da literatura

Se as famílias não curtem ler, as crianças vão

em sala de aula e a função dos professores na for-

ler menos. E o Brasil é um país de outras leituras

mação de novos leitores.

- musicais, audiovisuais, pessoais. Nossa sociedade é meio juvenil demais e prefere outras formas

REVISTA MESTRES +: CONTE-NOS UM POUCO SO-

de passar o tempo. Mas quem sabe o que um livro

BRE COMO COMEÇOU A TUA RELAÇÃO COM A LI-

tem para dar sabe como é bom ficar horas dentro

TERATURA E QUAIS FORAM OS TEUS LIVROS-BASE

dele. Hoje existem muitas formas de incentivo, e

OU AQUELES QUE TE ESTIMULARAM A ENTRAR NO

acho que nunca se leu tanto no Brasil. Não quer

UNIVERSO DA LITERATURA.

dizer que seja muito, ainda mais comparando com

MARCELO CARNEIRO DA CUNHA: Normalmente

nossos vizinhos muito mais cultos, uruguaios e ar-

acontece alguma coisa na infância e um livro cai

gentinos. Mas estamos melhor.

na nossa mão e muda tudo. No meu caso foi “ReiMARCELO CARNEIRO DA CUNHA Escritor Infanto-Juvenil

RE V I S TA M E S T RE S +

nações de Narizinho” (do escritor Monteiro Lobato)

MESTRES +: NA ESCOLA AINDA SE VERIFICA QUE

muito cedo e Tom Sawyer (personagem principal

HÁ DIFICULDADES NO ESTÍMULO À LEITURA. O QUE


+ 21

TU ACHAS QUE PODERIA AUXILIAR A FAZER COM QUE OS JOVENS SE INTERESSEM MAIS PELA LEI-

LIVROS

TURA?

• Noites do Bonfim (1987)

Bons livros. Bons professores que saibam para valer o que é um livro e saibam passar isso para a rapaziada. Pais e mães que acreditem que a vida

• Na Praia da Ferrugem (1989) • O Super-Rodrigo (1990)

não é só a novela da TV... Essas coisas também

• Codinome Duda (1992)

ajudariam.

• Românticos, um Amor nos anos 1990 (1993) • Duda 2, a missão (1994) - Prêmio APCA (Associação Paulista de

MESTRES +: PROFESSORES QUE SAIBAM A IM-

Críticos de Arte) Melhor Livro Juvenil / Altamente Recomendável

PORTÂNCIA DO LIVRO. ACOMPANHAMOS VÁRIOS

Categoria Jovem FNILJ

PROJETOS DE INCENTIVO DE LEITURA E FORTALECIMENTO DE BIBLIOTECAS, MAS NEM SEMPRE SURTEM EFEITOS. DITO ISSO, COMO OS PROFESSORES PODEM AJUDAR A INSERIR OS ESTUDANTES NESTE UNIVERSO. LIVROS MAIS JUVENIS,

• Insônia (1996) - filme homônimo dirigido por Beto Souza / Altamente Recomendável Categoria Jovem FNILJ • Antes que o mundo acabe (2000) - filme homônimo dirigido por Ana Luiza Azevedo / Altamente Recomendável Categoria Jovem FNILJ

AO INVÉS DOS CLÁSSICOS PRIMEIRO? OS BEST-

• A Ameaça do Rio (2001)

-SELLERS PODEM AJUDAR NESTE SENTIDO?

• Ímpar (2002)

Tive a sorte de ter uma professora de Português apaixonada por livros. Eu já gostava, ela entendia o meu amor pela coisa e eu me sentia compreendido. Professores por vezes colocam o

• Contos Publicitários (2002) • O Nosso Juiz (2004) • Duda 3, a ressurreição (2004)

foco nos livros, mas a verdade é que o foco deve

• Simples, o Amor nos Anos 00 (2005)

ser o leitor. Entender o que os alunos sentem pelo

• Depois do Sexo (2008)

que leem é mais importante do que testar o co-

• Nem Pensar (2010) - Finalista Prêmio Jabuti Categoria Jovem

nhecimento deles com relação ao que leram. Ler é emocional, é um encontro, é um sentimento único. Se o professor não compreende isso, vai fazer

• Super (2010) • Filho de Peixe (2012)

uma abordagem técnica e fria. O truque é olhar

• Primeira vez e muitas vacas (2012)

para os leitores, e não tanto para os livros.

• Endê/Você - Uma história sobre a gente (2014)

MESTRES +: SE VOCÊ FOSSE UM PROFESSOR, QUAL TÁTICA UTILIZARIA PARA INCENTIVAR OS

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2 2 + L I T E R AT U R A

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SEUS ALUNOS A LER? Marcelo Carneiro da Cunha: O que falei acima. Exploraria ao máximo o que eles sentem, o que faz deles pessoas, seres pensantes, humanos, e o livro

“LER É EMOCIONAL, É UM ENCONTRO, É UM SENTIMENTO ÚNICO. SE O PROFESSOR NÃO COMPREENDE ISSO, VAI FAZER UMA ABORDAGEM TÉCNICA E FRIA. O TRUQUE É OLHAR PARA OS LEITORES, E NÃO TANTO PARA OS LIVROS” Marcelo Carneiro da Cunha

como parte essencial da nossa humanidade. Faria eles pensar em como uma aldeia grega se reunia debaixo da oliveira da praça para ouvir histórias dos viajantes, para contar aventuras e compartilhar dessas experiências antes de haver livros. Faria todo mundo se dar conta de que temos uma relação milenar com a narrativa. Que a narrativa nos faz, que somos as histórias que vivemos. Sem isso, fica árido e superficial, eu acho. MESTRES +: COMO TEM SIDO A SUA RELAÇÃO COM OS SEUS LEITORES? QUAIS SÃO AS ABORDAGENS OU QUESTIONAMENTOS? Marcelo Carneiro da Cunha: É uma relação muito legal. Recentemente uma leitora me reconheceu num avião e veio falar comigo. Meus livros são muito lidos. Mas é verdade que nem todo mundo gosta, mas isso não é um problema. Importante é

ImagemFilmes/Divulgação

que leiam.

RE V I S TA M E S T RE S +


A RT I G O + 2 3

AVANÇOS FUNCIONAIS E O DIREITO DOS SERVIDORES Os servidores devem manter-se atentos à sua situação funcional, para que não passe despercebido um direito tão importante como o do avanço em sua carreira progressão e a promoção funcional do servi-

A

Toda essa situação, além da grande frustração

dor público são momentos de grande satisfa-

causada ao servidor pelo não avanço na carreira,

ção no decorrer de sua carreira. É por meio

gera a necessidade da busca judicial para a efetiva-

desses institutos que ocorre o desenvolvimento do

ção da promoção ou progressão, bem como o pa-

servidor na sua vida funcional.

gamento da repercussão, postergando, assim, o tão

A progressão é a passagem do servidor para o

esperado avanço na vida funcional.

padrão imediatamente superior dentro da classe ou

Diante deste quadro, devem os servidores man-

categoria atual de sua carreira funcional. Já a pro-

ter-se atentos à sua situação funcional, para que não

moção é a passagem do servidor do último padrão

passe despercebido um direito tão importante como

de uma classe ou categoria para o primeiro padrão

o do avanço em sua carreira, buscando informações

da classe ou categoria imediatamente superior de

com o sindicato de sua categoria ou com profissio-

sua carreira funcional.

nais da área do direito.

SÉRGIO CEZIMBRA Advogado. Especialista em Direito Imobiliário pela Esade Laureate International Universities

Cumpridos os requisitos para progressão ou promoção deve, de imediato, a Administração Pública proceder ao avanço funcional do servidor na carreira. Caso não altere imediatamente a situação do servidor, quando o fizer, os efeitos financeiros da promoção deverão retroagir até a data em que, efetivamente, o servidor deveria ter sido promovido. Sabemos que por fatores como política, falta de gestão de pessoas e economia, a Administração Pública não honra com pontualidade a realização dos avanços funcionais de seus servidores, não publicando os respectivos atos oficiais e, tampouco, pagando as repercussões financeiras dos referidos avanços. Também é notório que muitos órgãos do Poder Público não fornecem os dados necessários para

MUITOS ÓRGÃOS DO PODER PÚBLICO NÃO FORNECEM OS DADOS NECESSÁRIOS PARA QUE O SERVIDOR POSSA VERIFICAR A SUA POSIÇÃO PARA O AVANÇO NA CARREIRA, CONTRARIANDO O QUE É UM DIREITO DO SERVIDOR. Sérgio Sequeira

que o servidor possa verificar a sua posição para o avanço na carreira, contrariando o que é um direito do servidor: acesso a todos os seus assentos funcionais, a fim de acompanhar sua vida funcional.

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O U T U B RO 2 0 1 6


2 4 + T E C N O LO G I A

GOOGLE VOLTADO À EDUCAÇÃO Aplicativo permite que professores e alunos estejam conectados facilitando a comunicação. E aos docentes, acompanhar de maneira mais prática o desempenho dos estudantes

O

virtual tem gerado grande impacto na edu-

e-mail. Evita aqueles problemas de documentos

cação. Pelas telas de computadores, é pos-

corrompidos ou que não abrem. Além disso, o mes-

sível fazer cursos de aperfeiçoamento ou de

mo arquivo ainda poderá ser acessado de smart-

línguas e até de nível superior, como é o caso do

RE V I S TA M E S T RE S +

-phones e tablets.

Ensino à Distância (EaD), que já se consolidou como

Segundo Luciano Daudt, coordenador pedagó-

uma realidade. E, neste universo, uma ferramenta

gico da empresa QI Network e professor da Uni-

tem revolucionado e auxiliado os professores na

versidade do Sul de Santa Catarina, o serviço do

sua tarefa em sala de aula e os estudantes a amplia-

Google for Education é um pacote completo, que

rem seus conhecimentos. O Google for Education

pode ser usado no ambiente escolar e em casa.

(www.google.com.br/edu/) é um pacote de aplica-

Segundo ele, existem algumas características pró-

tivos que já é utilizado por mais de 50 milhões de

prias, como o estímulo aos estudantes trabalharem

usuários no mundo inteiro. Gratuitos, eles podem

mais juntos, mesmo quando não podem se encon-

ser usados de acordo com as necessidades de cada

trar pessoalmente, mas podem compartilhar o es-

instituição ou turma.

paço on-line. Ele destaca ainda que há um serviço

Um dos aplicativos, por exemplo, permite a co-

diferenciado, os Chromebooks, que nada mais são

laboração de várias pessoas sobre um mesmo ar-

do que notebooks mais leves e específicos para o

quivo armazenado na nuvem (no ambiente digital).

uso dos estudantes. “Ele soluciona o problema de

Assim, a grande facilidade é que não é necessário

hardware, que são os computadores, mas com cus-

salvar o arquivo em pen drive, computadores ou

tos menores”, explica.


+ 25

GOOGLE SALA DE AULA

Mas e como saber quais as melhores ferramentas

Alguns destes aplicativos já fazem parte do nos-

e aquelas que se encaixam ao perfil? Um dos servi-

so dia a dia, como gmail, drive, agenda e planilhas.

ços fornecidos é o de treinamento de professores.

Porém, há algumas novidades e serviços específicos

Assim, os docentes vão ver quais atividades poderão

para o ambiente escolar, como o Google Sala de

ser feitas e quais os recursos disponíveis. Aprendem

Aula. São 10 milhões de estudantes e professores,

ainda quais exercícios têm condições de serem apli-

distribuídos por 190 países, que estão conectados ao

cados ou desenvolvidos e como avaliar o desempe-

aplicativo, segundo o Google. O conceito principal é

nho dos alunos por meio deles.

que professores e alunos estejam conectados de modo a facilitar a comunicação. Aos docentes, permite acompanhar de maneira mais prática o desempenho dos estudantes. Nele, o professor pode criar turmas, inserir alunos, distribuir tarefas - podendo ainda conter arquivos de texto, vídeos ou imagens-, enviar retornos e tudo num mesmo local. Há uma visualização bem simples do aluno, seus desempenhos e possíveis falhas.

RECOMENDAÇÃO • Para acessar as ferramentas é necessário fazer inscrição no site do Google for Education. O login, normalmente é feito por técnicos da TI (tecnologia). O mesmo cadastro vale para toda a escola e não apenas para uma turma. É importante ter cuidado para que não haja problemas.

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Pacote de aplicativos gratuitos já é utilizado por mais de 50 milhões de pessoas

O U T U B RO 2 0 1 6


2 6 + PA P O C A B E Ç A

WHATSAPP NA ESCOLA: OS DOIS LADOS DA MOEDA A tecnologia trouxe uma série de vantagens ao dia a dia, mas a falta de bom senso pode transformar alguns benefí­cios em uma grande “dor de cabeça”

É

verdade e notório que a tecnologia trouxe uma

cabeça”. Um caso mais emblemático e que tem sido

FICAMOS, COMO COMUNIDADE DE EDUCADORES, PERPLEXAS COM A MANIFESTAÇÃO DE FALTA DE TOLERÂNCIA E DE DISPONIBILIDADE PARA O OUTRO, O DIFERENTE, TEMAS TÃO CAROS PARA A ESCOLA, VALORES QUE PASSAMOS ANOS A FORJAR NA FORMAÇÃO INTEGRAL DE NOSSOS ALUNOS E ALUNAS.

corriqueiro nas instituições de ensino é a utilização

Fernanda Flores

série de vantagens ao dia a dia. A facilidade de comunicação, a rapidez na resolução de um

problema e intensa troca de informações. Ao mesmo tempo, na área educacional, muitos dos benefícios, acabaram se tornando em uma grande “dor de

do aplicativo de troca de mensagens WhatsApp. No início eram grupos de conversas que reuniam pais ou

vários grupos sociais, como família, trabalho, amigos.

alguns professores e funcionários de escolas com o

Ressalta que apesar de as conversas serem privadas

objetivo de “facilitar a troca de informações”. Porém,

exigem bom senso e o entendimento do que é ou não

com o passar do tempo, alguns grupos se tornaram

permitido ser conversado. Fernanda cita a experiência

nocivos ao ambiente escolar com a troca de informa-

da sua escola, em que os pais começaram a utilizar os

ções nem sempre corretas e éticas.

grupos para “facilitar” a troca de informações e forta-

Esse movimento fez com que algumas instituições

lecer as relações de convívio. O problema é quando as

tivessem que chamar os pais para uma conversa um

conversas acabam provocando “desconforto” e “desa-

tanto quanto delicada. O caso mais emblemático e

venças” em função de interpretações precipitadas. O

que tomou conta das redes sociais e teve grande re-

estímulo proposto pela professora é de que algumas

percussão na comunidade escolar foi o texto publica-

coisas sejam conversadas “face a face”.

do pela diretora pedagógica Fernanda Flores, de uma

Diretor do Colégio São Lucas, de Sapucaia do Sul,

instituição paulista. No blog da escola, as palavras

na região do Vale dos Sinos, Everton Vargas, vivenciou

dela foram replicadas por outros professores e rece-

na prática algumas situações delicadas em função do

beram centenas de comentários.

aplicativo. Ele lembra o início do surto de gripe A, neste

No texto, ela explica exatamente as vantagens do

ano, no Rio Grande do Sul, quando uma turma de alu-

aplicativo, como uma possibilidade de criação de

nos ficou praticamente vazia num dia normal de aula.

contatos e de se estar conectada rapidamente com

“Perguntei para a professora o que estava ocorrendo e, para minha surpresa, soube que havia um boato de

ÀS VEZES, UMA INFORMAÇÃO SEM CONTEXTO OU SEM A VERSÃO OFICIAL PODE TOMAR GRANDES PROPORÇÕES. ISSO GERA QUASE UMA ESPÉCIE DE TERRORISMO Everton Vargas

RE V I S TA M E S T RE S +

alunos doentes e os pais decidiram não trazer os filhos”, relembra. Ele reconhece que esse foi apenas um caso de informações, sem a devida apuração, que foram repassadas entre os pais, gerando desconforto. Em outras ocorrências, até professores acabaram sendo colocados em situações de constrangimento e pressão. Nesta mesma linha, a orientadora educacional do Ensino Fundamental - Anos Finais - do Colégio Farrou-


+ 27

Cristiane Parnaiba

A orientadora Greicy Araújo reconhece que uso do WhatsApp deve ser discutido

preocupantes é quando os pais assumem obrigações

“É IMPORTANTE QUE OS PAIS NÃO TIREM A AUTONOMIA DOS FILHOS, COMO QUANDO PEDEM INFORMAÇÕES DE UM TEMA DE CASA OU TRABALHO, POIS É DEVER DO ALUNO ESTAR COMPROMETIDO. O AMBIENTE ESCOLAR SERVE EXATAMENTE PARA AJUDAR A FORMAR O CIDADÃO RESPONSÁVEL E COM VALORES ÉTICOS”

dos filhos. Por exemplo, o filho (aluno) não saber a

Greicy Araújo

pilha, em Porto Alegre, Greicy Araújo, compartilha alguns transtornos. “Tivemos situações em que conflitos do WhatsApp acabaram por impactar no ambiente escolar”, ressalta. Ela aponta que uma das mais

data de uma prova e o pai perguntar para o grupo para ter a resposta. Isso é muito delicado porque o pai

//////////////////////////////////////////////

acaba por tirar a autonomia do estudante”, explica a orientadora.

respostas ficou com a secretaria da instituição. “Abrimos um canal para informar pais e alunos e para que

EM BUSCA DE ALTERNATIVAS

a escola pudesse se manifestar formalmente sobre

Em relação aos aplicativos de comunicação, como

algumas questões que geravam dúvidas”, enfatiza o

o WhatsApp, uma coisa é certa: fazem parte do nos-

diretor Everton Vargas. E, segundo ele, os resultados

so dia a dia. Assim, o importante, em relação ao am-

têm sido positivos, apesar de não eliminar totalmente

biente escolar, é buscar iniciativas que evitem ou pelo

possíveis problemas.

menos minimizem transtornos. E cada instituição tem

No Colégio Farroupilha, a orientadora destaca vá-

procurado ações, levando em consideração o perfil

rias iniciativas, como abordar o assunto em sala de

dos alunos e do próprio ambiente.

aula ou atividades fora da sala. “Buscamos fazer com

Com mais de 700 alunos, entre educação infan-

que os estudantes reflitam sobre o impacto destas

til e cursos técnicos, a direção do Colégio São Lucas

conversas e que, mesmo privadas, podem ser repli-

encontrou uma alternativa prática para amenizar os

cadas. Assim, é preciso ter atenção”, explica Greicy. Já

transtornos: a criação de um número de WhatsApp

com os pais, o assunto tem sido abordado em even-

institucional. O telefone não integra nenhum grupo

tos de convivência, quando os responsáveis estão

de discussão, mas está disponível a todos os pais e

presentes, ou com a distribuição de artigos. “Mesmo

alunos que queiram esclarecer alguma dúvida ou

não sendo uma situação que ocorra dentro da escola,

mesmo pedir informações. A responsabilidade pelas

devemos estar em alerta”, finaliza.

O U T U B RO 2 0 1 6


2 8 + I N O VA Ç ÃO

COACHING EDUCACIONAL PARA ESCOLAS INOVADORAS O prin­cípio do coaching educacional está em pensar sobre si, o próprio papel no processo educativo e seu fazer educacional. Nesta perspectiva, serve tanto para professores quanto para alunos e famílias

A

educação brasileira passa por um momen-

Sou defensora da escola, pois penso que, por ser

to de reflexão e transformação necessárias

uma instituição social, cumpre o papel de ser um es-

a um contexto social extremamente desa-

paço de vivência “microssocial” onde os estudantes

fiador e questionado por muitos em função de a

podem conviver com as diferenças pessoais, dife-

escola hoje não mais atender às demandas e ex-

rentes opiniões, novas culturas e costumes. Trata-se

pectativas pessoais e sociais. Este movimento gera

de um local de construção, de pluralidade que deve

inúmeras opiniões a respeito do valor da escola e

acolher muito bem nossas crianças para que elas

do real serviço que ela deve oferecer na formação

possam dar continuidade ao seu desenvolvimento

de nossos cidadãos.

como sujeitos sociais construindo saberes ricos e

Muitos são os movimentos em prol das mudan-

cheios de significados. Os próprios alunos reconhe-

ças educacionais. Hoje há inclusive associações que

cem o seu valor, pois amam a escola como espaço

pedem a autorização da educação domiciliar, que

social e de convivência. O que muitas crianças não

desobriga a presença das crianças na escola du-

gostam é da escola das matérias, das provas e das

rante a educação básica, tornando os pais respon-

lições. E nós, educadores, sabemos que muitos re-

sáveis pelo processo de ensino e aprendizagem dos

latos dos alunos apontam o recreio como o melhor

filhos. Penso que mesmo este tipo de movimento,

momento do tempo escolar. Podemos depreender

negando o valor da escola na vida de uma criança e

daí que o problema da escola está justamente na

adolescentes, mostra insatisfação quanto aos resul-

adequação das práticas, das rotinas escolares e cur-

tados que a escola vem produzindo.

riculares, aos interesses e necessidades dos alunos e isto passa diretamente por pensar e repensar não apenas atividades mais lúdicas, mas precisamente no paradigma educacional que está subjacente há

“O PRIN­CÍPIO DO COACHING EDUCACIONAL ESTÁ EM PENSAR SOBRE SI, O PRÓPRIO PAPEL NO PROCESSO EDUCATIVO E SEU FAZER EDUCACIONAL. NESTA PERSPECTIVA, SERVE TANTO PARA PROFESSORES QUANTO PARA ALUNOS E FAMÍLIAS.” Cristiane Schroeder

//////////////////////////////// RE V I S TA M E S T RE S +

décadas em nossas escolas brasileiras. O conceito das escolas inovadoras nasce com força exatamente em uma época de crise e, como sabemos, as crises geram oportunidades. E o que estas escolas propõem? Justamente inovações escolares em todos os seus âmbitos. Novos espaços de ensino e aprendizagem, novas metodologias, novos tempos escolares, novas ideias, nova gestão escolar e novo mindset dos educadores. Exige um pensar sobre que novo aluno queremos para esta desafiadora sociedade.

CRISTIANE SCHROEDER Mestre em Educação (PUC-RS); Master Coach de Carreira (IMS-SP); Life e Personal Coach (SGC-RS); Esp. Coaching Educacional (Unimél- Espanha); Esp. Educação Social (UnisalSP); Pedagoga (PUC-RS); Coautora do livro “FocoAção e Resultado na vida &carreira”


Arquivo Pessoal

+ 29

O coaching educacional surgiu há mais de dez

aprender para passar no ano, no vestibular, passar

anos na Europa, nos EUA e em alguns países latino-

na vida como quem apenas passa e pouco deixa. E

-americanos como Argentina, Colômbia, Equador

quanto à família, através do coaching parental, que

como uma prática possível de transformar os espa-

trabalha a reflexão sobre o papel de ser pai e mãe,

ços escolares, trazendo mais significado e contri-

de desempenhar a função de compreender os pro-

buindo de forma transversal nestes espaços. O prin-

cessos de desenvolvimento da pessoa, as etapas

cípio do coaching educacional está em pensar sobre

que os filhos passam e ter clareza de o quanto são

si, o próprio papel no processo educativo e seu fazer

importantes nos estudos e nas práticas sociais e fa-

educacional. Nesta perspectiva, serve tanto para

miliares, que devem estar carregadas de exemplos e

professores quanto para alunos e famílias. Quando

de modelo.

trata dos professores, quer resgatar a missão de ser

O trabalho do coaching educacional pode acon-

professor, seus valores e as formas de manter o dese-

tecer através do coaching formal, informal e até nos

jo de transformar vidas como o princípio de seu ofí-

espaços educacionais não formais, fora do espaço da

cio e não apenas como aquele que “dá” suas aulas. O

escola. No espaço escolar, pode acontecer através de

professor que busca a alta performance e a excelên-

encontros sistemáticos com toda a comunidade esco-

cia mede estes resultados através da qualidade do

lar ou pode ser realizado de forma transversal com a

serviço prestado e do resultado em seus educandos,

aplicação de técnicas e ferramentas para fomentar e

que estarão mais engajados, aprendendo com signi-

repensar o contexto escolar em suas diversas frentes

ficado e prontos para serem protagonistas sociais.

de atuação. O fato é que, certamente, pode contribuir

Quanto aos alunos, resgatar o desejo de aprender,

como grande aliada das escolas inovadoras quando

construir um projeto de vida que deve estar intrín-

foca mais nos sujeitos, nas pessoas atores do proces-

seco à aquisição dos conhecimentos, despertar o

so educativo e nos meios que estes utilizam para atin-

desejo da descoberta, da pesquisa e não apenas do

gir os fins e os resultados educacionais.

No espaço escolar, o coaching pode acontecer através de encontros sistemáticos com toda a comunidade envolvida

O U T U B RO 2 0 1 6


3 0 + CO M P O RTA M E N TO

É POSSÍVEL POTENCIALIZAR O ALUNO? Trabalho que já está sendo realizado em algumas escolas paulistas busca trabalhar com os alunos em suas diferentes necessidades Na teoria, os estudantes são relativamente

Basicamente, é a partir destes modelos que as

iguais nas instituições escolas. Recebem a mesma

informações são processadas pelo cérebro. Claro

atenção, assistem às mesmas aulas e enfrentam as

que um deles sempre predomina nas potencialida-

mesmas cobranças. Na prática, a verdade é bem di-

des. Mas, e se são tantos alunos numa mesma sala

ferente. Cada aluno tem características peculiares e

de aula, com os perfis de cada indivíduo, como di-

responde de uma maneira específica aos estímulos.

ferenciá- los e potencializar as suas habilidades? A

Alguns aprendem com maior facilidade escutando o

situação ficou complexa, certo?

professor falar em sala de aula, outros reagem me-

Pois é, a partir de agora que tudo passa a fazer

lhor quando têm apoio de algum material visual e,

sentido, como explica Jamile Coelho, que dirige o Es-

por fim, há aqueles que têm maior desenvoltura por

paço Educacional, de São Paulo. A instituição busca

meio da interação. Esses são, de maneira resumida e

analisar os alunos em suas diferentes necessidades.

simplificada, os três perfis (auditivo, visual e cinesté-

São alunos novos, a partir dos seis anos, até os mais

sico) que integram o perfil cognitivo dos indivíduos.

maduros, na terceira idade. O objetivo é identificar o indivíduo. E, a partir destas informações, conseguir ampliar o seu aprendizado. “É fundamental que o es-

/////////////////////////////////////////////

tudante se conheça. O ideal é que a escola faça isso. Porque somente olhando o perfil cognitivo de cada um, será possível realmente trabalhar as habilidades e potencializar o ensino”, destaca. Com mais de 45 anos de experiência na área de

“O CONTEÚDO ESTÁ NA INTERNET ACESSÍVEL A TODOS. AS ESCOLAS DEVEM INVESTIR EM FAZER COM QUE O ALUNO APRENDA A BUSCAR O CONHECIMENTO E SAIBA COMO UTILIZÁ-LO OU APLICÁ-LO”.” JAMILE COELHO

educação, Jamile afirma que parte da dificuldade das escolas em tornar o aprendizado atrativo é por não conseguir estabelecer essa relação com o aluno. “Imagine uma sala de aula em que o professor está explicando um determinado conteúdo. Para os alunos auditivos (que representam em média 20%) esse modelo serve perfeitamente. Ele escuta e grava a informação. Só que os outros 80% acabam tendo dificuldades porque precisam de outros elementos para aprender”, enfatiza. No Espaço, o conceito mais valorizado é o de “personificação” do aluno. “As pessoas começam a perceber que todas têm habilidades e dificuldades. Assim, juntas se complementam”, diz Jamile. E o

RE V I S TA M E S T RE S +


Eduardo Seidl/Palácio Piratini

+ 31

resultado desse processo é a qualidade do apren-

cada um “traz sua história particular, repleta de de-

dizado. E para ela, essa é a chave para melhorar o

talhes próprios, características e anseios individuais

aproveitamento dos alunos e a qualidade do ensino.

que são traduzidos no comportamento e nas habili-

Em São Paulo, o Colégio Raposo Tavares tem

dades”. Assim como a avaliação feita por Jamile, Ma-

investido neste perfil de atenção aos estudantes.

ria da Penha também aponta a importância de pro-

O conceito é simples: o aluno tem um acompanha-

por atividades diferenciadas para conhecer o perfil

mento diferenciado, em que são avaliadas suas

de cada aluno. “Sugerimos conversas, explicações

potencialidades. Além disso, a grade curricular tem

e atividades para executar em exercícios, inclusive

algumas diferenças, com a inclusão de disciplinas

olhando esses cadernos constantemente. Fazer uma

que busquem desenvolver a criatividade nos alunos,

tarefa com leitura em voz alta, apresentação de tra-

despertando curiosidades, mas principalmente, o

balhos, por meio de estímulos positivos com o uso

senso crítico. “Com quantas pessoas diferentes em

de adesivos, recadinhos, entre outros”, destaca. Para

suas características e preferências nos deparamos?

ela, é fundamental conhecer o aluno e conseguir en-

Ninguém é igual e precisamos aprender a lidar com

caminhar o desenvolvimento dele por meio de suas

esse leque enorme de diferenças”, explica Maria da

habilidades. “Isso favorece para que eles se sintam

Penha Romani, diretora pedagógica da escola.

capazes e estimulados a enfrentarem os novos de-

Esse conceito é aplicado aos alunos, uma vez que

Em sala de aula, os estudantes aprendem de forma diferenciada

safios”, finaliza.

O U T U B RO 2 0 1 6


3 2 + O PI NI ÃO

GESTÃO DEMOCRÁTICA NA ESCOLA Fazer gestão democrática é pro­mover a participação efetiva, radicalizando ações de integração e comprometimento de todos com o trabalho desenvolvido pela instituição

A

questão da gestão escolar é fundamental no

gestão democrática como uma simples participação

tangente às práticas de ensino e no sucesso

de todos os segmentos em um determinado mo-

de qualquer trabalho que seja desenvolvido

mento nas atividades da escola. Não se pode limi-

no âmbito educacional. Fazer gestão inclui pensar o

tar o processo ou compartimentá-lo em momentos

sucesso dos objetivos previstos pelo projeto educa-

pontuais como a convocação de uma reunião para

cional que se almeja alcançar. Para isso, é necessário

aprovação do calendário escolar ou para socializa-

planejar, tendo em vista as ferramentas que a insti-

ção de algumas atividades desenvolvidas na escola.

tuição possui e que se tem possibilidade de obter,

O processo de democratização da gestão necessi-

os recursos humanos necessários, o espaço físico

ta de uma radicalização no sentido de que as ações

adequado e a filosofia possível. Para Veiga (2013), “a

promovidas passem a alcançar desde a participação

escola é um espaço relacional, um espaço sujeito a

efetiva de todos os segmentos na produção do regi-

compromissos, colaboração e participação”. Assim,

mento escolar e do Projeto Político Pedagógico da

é preciso planejar, ouvir, refletir e agir, porém, mais

escola até as mais diversas maneiras de participa-

que isso, é necessário planejar de modo participa-

ção cotidiana dos segmentos na vida escolar, como

tivo, com todos os envolvidos se tornando protago-

atividades de leitura, informática, recreio, passeios,

nistas do processo, colaborando mutuamente para o

momentos socializantes, pedagógicos e formativos.

fortalecimento final das ações.

A participação se constrói a partir de movimentos

No campo das concepções filosóficas, o trabalho

integrados e que possuam a intencionalidade da

de gestão pode se pautar por questões voltadas para

promoção de atividades voltadas para esse fim pela

a democratização ou para a centralização das ações,

equipe gestora e pedagógica da escola, emanando,

Essas escolhas sedimentarão as ações da equipe di-

para o restante do grupo profissional, esse sentimen-

retiva, norteando o processo educacional no âmbi-

to coletivo e solidário.

to da instituição. A linha filosófica desenvolvida na

Cabe destacar que no trabalho de gestão através

educação quase sempre segue os padrões vigentes

de um viés democrático, necessariamente deve-se

na estrutura política de um país em um determinado

ampliar o leque de conceitos como senso de perten-

momento histórico.

cimento, direitos à educação, qualidade do trabalho

Assim, vivemos um momento na histórica política

realizado e respeito à diversidade.

brasileira em que o quadro político favorece ações

Nesse sentido, fazer gestão democrática é pro-

com orientação democrática, solidária, colaborati-

mover a participação efetiva, radicalizando ações

va e participativa. Fazer gestão democrática requer

de integração e comprometimento de todos com

pensar na participação popular, na transparência

o trabalho desenvolvido pela instituição. Quando

das ações, na riqueza de possibilidades e plurali-

o indivíduo deixa de ser uno para ser coletivo, ele

dade de pensamento, na abertura e no acesso, na

se alimenta da democracia e, ao mesmo tempo, fo-

qualidade e no direito de todos. Ao mesmo tempo,

menta e fortalece o desenvolvimento social e edu-

é preciso cuidar para não correr o risco de entender

cacional.

RE V I S TA M E S T RE S +

PAULO SAGOI STRANBUSKI CALDEIRA Professor da Rede municipal de ensino de Porto Alegre, em função de gestão, na direção da EMEI da Vila da Páscoa há 6 anos(2010 - 2016). Foi diretor na EMEF Neusa Brizola por 6 anos (1999 - 2004) e vice-diretor na EEEM Gov. Walter Jobim por 4 anos (2006 - 2009).


E N T RE T E NI M E N TO + 3 3

Em São Miguel das Missões, a 483 km da Capital, localiza-se o Sítio Arqueológico de São Miguel Arcanjo, onde estão as ruínas jesuítas da antiga redução de São Miguel Arcanjo. Declaradas Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco, em 1983, as ruínas são visita obrigatória

T U RI S M O

para quem quer conhecer um pouco mais da história dos índios guaranis e a colonização jesuíta no extremo-noroeste do Rio Grande do Sul. Construído a partir de 1687, esse agrupamento de índios comandados por padres jesuítas foi o maior de todos os 30 que existiram. São Miguel das Missões chegou a ter 7.400 moradores organizados em casas onde viviam até cinco famílias guaranis. A administração estava sob responsabilidade dos caciques e dos padres, que formavam o Cabildo e exerciam o papel semelhante ao de uma Câmara de Vereadores nos dias de hoje. Suntuoso e ocupando uma posição estratégica, o templo que começou a ser construído em 1735 e levou dez anos para ficar pronto – mesmo assim, sem uma das torres previstas no projeto inicial – ainda resiste ao tempo. Feito para durar para sempre, ele sobreviveu a invasões, tempestades, incêndios e intervenções humanas e ocupa uma área de 37 hectares protegida por Legislação Federal. À noite, as ruínas recebem iluminação especial para uma dramatização especial. O Espetáculo Som e Luz acontece diariamente – com ou sem chuva – às 21h.

Quando o tema é inclusão, uma boa dica é o filme “A Família Bélier”. O drama conta a história de Paula, interpretada por Louane Emera, que com apenas 16 anos administra os negócios e é a intérprete de uma família de surdos (pai, mãe e irmão). Tudo vai bem até o momento em que a jovem resolve participar de um concurso de canto na capital francesa, Paris. Os pais entram em desespero. Já na meia idade e com os filhos criados, o casal

FILME

precisa se reciclar, se reinventar. L I V RO

Apesar da polêmica, na França, sobre o aproveitamento de atores

Organizado por José Pacheco, idealizador da célebre Escola da Ponte, de Portugal, este livro reúne experiências bem-sucedidas, realizadas também na Áustria, Islândia, Espanha e em Portugal, direcionadas à educação inclusiva em escolas obrigatórias desses países e tem como objetivo oferecer aos professores, pais e serviços de apoio, informações sobre práticas de educação escolar inclusiva.

não surdos, a atuação de Louane Emera (que venceu uma das edições do programa The Voice/França) e a interpretação de Karin Viard e François Damiens, que não têm deficiência auditiva, são destaque à parte no filme.

/////////////////////////////////////////////// O U T U B RO 2 0 1 6


3 4 + E D U C A Ç ÃO N O D I VÃ

UM PASSO SEM RETROCESSO Quando uma família recebe a notícia de que o seu bebê nasceu com alguma síndrome ou necessidade especial, todos os envolvidos com esta criança precisam de cuidados especiais Lei que prevê a inclusão da Pessoa com Defi-

A

Os movimentos familiares não são pequenos

ciência (Estatuto da Pessoa com Deficiência)

nem restritos; eles são onerosos e intensos e quais-

se destina a assegurar e a promover, em con-

quer decisões serão pensadas e trarão respostas,

dições de igualdade, o exercício dos direitos e das

infelizmente, nem sempre acolhedoras e receptivas.

liberdades fundamentais por pessoa com deficiên-

Os custos da criação de um filho não são “baratos”

cia, visando à sua inclusão social e cidadania.

quando este filho apresenta a necessidade de um

No que tange à inclusão escolar, a lei determina

cuidado especial ou suportes especializados. As

que as escolas façam as adaptações necessárias sem

preocupações se tornam ainda mais explícitas, e o

onerar os custos familiares, ou seja, sem repassar os

investimento financeiro atrela-se ao emocional, tor-

gastos nas mensalidades ou em demais taxas.

nando a preocupação ainda maior.

Embora ainda tenhamos discussões sobre a de-

A vida escolar é o segundo social da criança, onde

terminação por parte das escolas privadas, penso

ela entrará de fato no universo da socialização, crian-

que é um passo dado sem retrocesso. E isso deve

do laços cognitivos, afetivos e psicossociais. Encon-

ser comemorado. No entanto, ainda precisamos

trará obstáculos e as superações, entrará com seu

de constantes movimentos para que tenhamos a

jeito único de ser e mostrará seu potencial. É isso

continuidade da evolução, fortalecendo políticas

que os pais e as mães desejam para seus filhos, é isso

de inclusão escolar/social da pessoa que apresenta

que todos os pais e todas as mães desejam para seus

algum tipo de necessidade especial. O objetivo final

filhos; é isso que precisamos das escolas: que todas

deste processo precisa visar o resgate, o respeito

as crianças se beneficiem do convívio que ela oportu-

humano e a dignidade.

niza na vida do ser humano.

Quando uma família recebe a notícia de que

O cenário educacional solicita escolas mais bem

o seu bebê nasceu com alguma síndrome ou do

preparadas, profissionais capacitados e conhecedo-

aparecimento de alguma necessidade especial,

res do desenvolvimento humano. Necessita de um

todos os envolvidos com esta criança igualmente

Estado que dê suporte e apoio, crie e facilite ações

necessitam de cuidados especiais. Este olhar zeloso

para todos os envolvidos, construa rotinas e práticas

também precisa acontecer aos pais e mães, pois a

eficazes para as diferenças que fazem deste espaço

situação gera fragilidade e insegurança em relação

um lugar de tanta subjetividade e singularidades.

ao manejo, cuidados e suporte a esta criança. Uma

Não é uma visão romântica de uma realidade

das maiores dificuldades encontradas pela família,

desejada sobre a inclusão, é um olhar desejante

geralmente, é a forma de lidar com as limitações

para uma realidade existente.

que poderão aparecer mencionadas nos diagnós-

Quem ganha com a inclusão escolar? Todos ga-

ticos dos profissionais da saúde. Embora não seja

nham com estas atitudes, porque oportunizamos

a situação desejada, as famílias encaram uma rea-

à sociedade a possibilidade de todo ser humano

lidade apresentada, precisando de apoio e reforço

ser capaz de reconhecer a diversidade e conviver e

para conduzir o acesso do seu filho ao mundo.

aprender com ela.

RE V I S TA M E S T RE S +

DANIELLA CALETTI Psicóloga, especialista em Psicopedagogia Clínica, atua nas organizações em processos de gestão de pessoas



A mente que

sea umaabre nova

ideia jamais voltarรก

a seu tamanho

original (ALBERT EINSTEIN)

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