Mestres + (nº4)

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EDIÇÃO 04 JULHO | 2015 Distribuição Gratuita

EDUCAÇÃO O ��� o� ����ro� ����l��

C�� � P�l��r� Viviane Mosé

Li��ra��r�

Pedro Bandeira e “Os Karas”

E��� X Redaçã� O que há de errado?


Expediente

Aos Mestres

Direção Geral:

Números que nos fazem pensar

Ana Amélia Piuco Márcio Sequeira Paulo Pizzolotto Sérgio Cezimbra Direção Editorial: Ana Lúcia Zotto Direção de Arte e Design: Claudio Thiele Redação e Revisão: Ana Lúcia Zotto Para notícias, informações e sugestões de pautas: contato@mestresmais.com.br Fone (51) 3930.6530 Tiragem:

Ana Amélia Piuco

Paulo Pizzolotto

Para compreender os números e análises do último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgado pelo Ministério da Educação, conversamos com a socióloga Simone Meucci, professora da Universidade Federal do Paraná. Pesquisadora na área de pensamento social brasileiro e história do ensino da Sociologia no Brasil, ela traduziu o que os dados revelam no cenário gaúcho e nacional. Entrevistamos a filósofa Viviane Mosé, professora há mais de 30 anos, e que, em 2005 e 2006, desenvolveu o quadro “Ser ou Não Ser”, exibido no Fantástico, da TV Globo. O modelo de educação brasileiro, a relação entre conhecimento e poder, e a reformulação dos currículos, foram alguns dos temas discutidos.

10.000 exemplares

Ana Lúcia Zotto

Nesta edição, apresentamos um raio x da Educação. Vamos discutir, trazer elementos, entrevistas com diversas fontes e pesquisas, sobre as quais nos debruçamos para entender o fenômeno da grande quantidade de alunos que zeraram na redação do Enem.

Claudio Thiele

Márcio Sequeira

Sérgio Cezimbra

Mestres Mais Geração de Conteúdo LTDA. CNPJ: 19.139.149/0001-84

Os leitores irão conhecer também um pouco mais da trajetória do escritor Pedro Bandeira, autor da obra A droga da obediência, lançada há 30 anos, e que até hoje continua sendo a queridinha da garotada. O livro já atingiu a marca de um milhão de exemplares vendidos. Quando falamos em gestão na Educação, não podemos deixar de abordar o universo que envolve a alimentação, desde o preparo dos alimentos, cuidados com o armazenamento, correta e justa distribuição. Pensando nisso, apresentamos exemplos que deram certo, como o da Prefeitura de Pomerode (SC). Ouvimos também nutricionistas da rede privada e representantes do Governo do Estado. A história da Escola Municipal Professor Doutor Rui Cirne Lima, em Canoas, é um exemplo de alimentação levada a sério. Localizada em uma comunidade carente, que enfrenta problemas como desemprego, falta de saneamento básico, moradias pequenas, dificuldades de locomoção até a escola, falta de agasalho apropriado para o inverno, a escola atende atualmente 310 alunos e, mesmo diante das adversidades, trata a questão alimentar de forma sistemática.

Boa leitura. Ana Lúcia Zotto Diretora Editorial


Sumário

04

Viviane Mosé

Aposta em escola que se arrisca a pensar

07 20

capa

Educação em números

RS e Enem

Por que tantos zeraram na redação?

24

Literatura

Pedro Bandeira

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COM A PALAVRA

Professora, psic贸loga e psicanalista Viviane Mos茅 4


COM A PALAVRA

Precisamos de uma escola que se arrisca a pensar, diz filósofa Professora há mais de 30 anos, a capixaba Viviane Mosé é psicóloga, psicanalista, além de mestre e doutora em Filosofia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Autora de vários livros, entre eles ‘“A escola e os desafios contemporâneos”, iniciou sua vida docente aos 18 anos. Em 2005 e 2006, desenvolveu o quadro Ser ou Não Ser, exibido no Fantástico, da TV Globo, em que abordava temas da filosofia em uma linguagem cotidiana. Em entrevista à Mestres +, Viviane fala sobre o modelo de educação brasileiro, a relação entre conhecimento e poder, e a reformulação dos currículos.

Você afirma que a educação no Brasil é castradora e elimina líderes. Quais as consequências do modelo seguido até hoje? Como mudar esta realidade para formar líderes e empreendedores? Muitas escolas no Brasil funcionam sem um projeto pedagógico definido; não definiram, por exemplo, que tipo de aluno querem formar. Faz algumas décadas estas perguntas eram importantes, mas tinham menos urgência, porque a sociedade funcionava de modo linear, a partir de uma ordem piramidal, em que o rei, o pai, o professor e o especialista, ocupavam um lugar de poder ou de saber. Mas hoje, que todos têm acesso a tudo, quem manda não se diferencia muito de quem obedece, pois uma criança de dez anos pode ter muito mais conhecimento sobre um determinado tema do que seu professor que tem mestrado.

Isso significa que as hierarquias se horizontalizaram? Sim, e, mais do nunca, precisamos formar pensadores autônomos, éticos e criativos. Produtores de conteúdo, de conhecimentos, de valores, não repetidores. Nossas fórmulas falharam, temos que reinventar nossas relações uns com os outros, com o consumo, e com a natureza. Precisamos de uma escola que se arrisca a pensar, que não se conforma em repetir, uma escola que ousa novos métodos, que utiliza novas mídias, mas que se sustenta em princípios e valores claros, que sabe para onde quer ir. Toda escola deve ter um projeto político pedagógico claro, se quer inovar.

Abandonar modelos de ensino em massa em busca de uma educação personalizada, que respeite o indivíduo. Considera isso uma utopia no Brasil? Não, muitas escolas já trabalham nesta direção no Brasil. Desde regiões com alto rendimento nos índices como IDEB, por exemplo, até em locais com baixos resultados, nos deparamos com instituições de ensino buscando perceber seus alunos, encontrando maneiras de chegar até eles, provocando, assim, o seu interesse. Mas são minoria. Valorizar as boas práticas realizadas nas escolas públicas e privadas no Brasil deveria ser uma meta.

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COM A PALAVRA

Como a escola vê hoje a figura do aluno pesquisador? Dentro de um modelo de passividade (tão criticado por você) é possível preparar o estudante para filtrar o que realmente precisa no momento da pesquisa? Temos que ter clareza que a internet nos oferece um imenso e renovável banco de dados, mas oferece também uma rede de pessoas pensando, criando, produzindo juntas, em tempo real. Esse corpo móvel e vivo de conhecimentos está à disposição de todos que são capazes de lê-los. Formar um estudante hoje é investir em sua capacidade de ler e interpretar com sofisticação, em sua capacidade de selecionar e filtrar conteúdos, e de propor uma interpretação. Portanto, o aluno não pode mais ser pensado como aquele que recebe os conteúdos, mas como quem é capaz de buscá-los com precisão, segurança, clareza. Ensinar todos os mecanismos de pesquisa, incentivar a ação do aluno na busca por aquilo que quer ou precisa aprender é condição para uma formação contemporânea.

Levando em conta que conhecimento é poder, como os professores têm se adaptado às novas tecnologias de comunicação? Todo mundo critica o pouco uso das mídias em sala de aula, eu concordo que precisamos usar didaticamente estes novos meios, mas o grande abismo do professor nesta questão, eu penso, é sua pouca intimidade em utilizar as ferramentas da web na preparação de suas aulas. Se o professor conhece os sistemas de busca, se costuma utilizá-los, já conhece parte do que seus alunos pesquisam, e poderá falar a mesma língua que eles. O grande ganho da web são as imagens, que tornam as aulas mais atraentes e que são muito mal utilizadas em sala. Penso que em poucos anos estes problemas estarão sanados, na medida em que uma nova geração de professores não terá mais este tipo de problema.

Precisamos formar pensadores autônomos, éticos e criativos A revolução na educação deve passar pela reformulação dos currículos? Que mudanças são mais urgentes? Como avalia a postura do MEC neste sentido? Sim, a mudança curricular é fundamental hoje. É urgente rever os conteúdos, a maioria obsoletos, distantes da vida, do mundo, das grandes questões que movem a humanidade. A excessiva divisão de conteúdos também deve ser revista. A língua materna deve ser mais valorizada, ou seja, mais texto e menos gramática, mais leitura e interpretação, mais criação. Há muitos anos o MEC incentiva as mudanças curriculares, a partir de eixos comuns. O importante em uma mudança curricular é saber para onde queremos ir, que escola queremos. Sair propondo mudanças como colchas de retalhos não contribui; ao contrário, atrapalha o processo de aprendizagem.

Qual a sua opinião sobre o modelo seguido pelo Enem? Sua forma de avaliação é mais coerente do que a do vestibular, mais conteudista? Sem dúvida, o ENEM é um sistema de avaliação mais inteligente e criativo, mais vivo. Se o vestibular quer saber o que o aluno sabe, o ENEM quer saber o que ele faz com o que sabe, então avalia uma competência, e, junto com a aquisição de conteúdos, avalia a capacidade de utilizar estes conteúdos na vida prática, intelectual e existencial. Isto leva as escolas a cada vez mais investir em uma educação centrada no desenvolvimento da inteligência e não no armazenamento de dados. Pensar implica em escolher uma direção, um alvo, um foco, em traçar estratégias, em desenvolver argumentações; implica em criar, propor. O ENEM está nesta direção e isto é muito bom para a educação no Brasil.

Se o vestibular quer saber o que o aluno sabe, o ENEM quer saber o que ele faz com o que sabe. 6


ESPECIAL

Educação em Números As escolas do Rio Grande do Sul melhoraram entre 2011 e 2013. É o que revela o último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgado pelo Ministério da Educação, em setembro do ano passado. A pontuação total das redes pública e privada subiu nos três níveis avaliados, fazendo o Estado galgar posições do ranking nacional. Apesar desse avanço, as metas estabelecidas para o Ensino Médio e para os anos finais do Ensino Fundamental não foram atingidas.

Ensino Médio gaúcho

13 5 Estados recuaram no Ideb

ficaram estagnados

RS subiu de 3,7 para 3,9, graças à rede estadual

QUEDA

ESCOLAS

nos colégios privados gaúchos

estaduais melhoraram a pontuação

(de 5,9 para 5,7)

(de 3,4 para 3,7)

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ESPECIAL

O resultado foi festejado, na época, pelo então secretário estadual da Educação, José Clovis de Azevedo, que atribuiu a evolução à reformulação implantada no Médio a partir de 2012. Segundo ele, houve reforma no currículo, incentivo à pesquisa, motivação dos estudantes, formação dos professores e melhorias nos prédios escolares. Outra medida de impacto, para o ex-secretário, foi o acréscimo de 600 horas no ano escolar, o que aumentou o tempo de estudo. Especialistas foram mais contidos na avaliação e afirmaram que o avanço não é “tão significativo assim”, em termos estatísticos, já que outros Estados estagnaram ou decaíram, o que facilitou a progressão gaúcha. No Ensino Médio público, 16 Estados pioraram.

ENSINO FUNDAMENTAL NO RS Nos anos iniciais do EF (1º ao 5º)

Avanço na rede pública

5,1

5,4

Avanço na rede privada

6,7

7,2

Com esse avanço conseguiram suplantar a meta, tanto na rede pública quanto privada. Esse resultado foi atribuído pela secretaria a uma reformulação curricular.

Inovar para resgatar o interesse “Eu odeio matemática”, “Não entendo matemática”. Durante um longo período essas foram as frases ouvidas repetidamente pela professora de Matemática, Lia Figas. Lecionando há três anos na escola pública, e após refletir sobre os motivos que levavam os alunos a pensar desta forma, resolveu inovar em suas aulas. Trabalhos com jogos, materiais lúdicos, desenhos, gráficos, situações do dia a dia, todos envolvendo a disciplina, passaram a fazer parte das ferramentas utilizadas pela professo-

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ra. - Comecei a ouvir dos alunos: “A matemática pode ser legal”. “Agora estou gostando de matemática”. –Realmente, aprender matemática é árduo para a maioria, no entanto, o educador não pode se contentar com isso. Então, deve-se continuar buscando, sempre, novas alternativas na arte de ensinar – recomenda. Formada em Licenciatura em Matemática, há seis anos, e com diversos cursos de extensão, atualmente Lia trabalha em duas escolas públicas: Escola Estadual de Ensino Fundamental Paraíba – CIEP e no Neeja Cp Julieta Villamil Balestro (Penitenciária Feminina de Porto Alegre - Madre Pelletier). Durante a pós-graduação em Educação à Distância – Gestão e Tutoria, Lia resolveu desenvolver um blog (http://profliafigas.blogspot.com.br/) para trabalhar com os alunos do 6° ano da Escola Paraíba, em Porto Alegre. No blog, são postadas todas as semanas, curiosidades de matemática, combinações de atividades, datas de prova, recadinhos em que os alunos podem interagir, elogiar, criticar. São postadas no blog também as vídeo-aulas com o objetivo de ajudar e complementar o conteúdo visto em sala de aula. - Em 2014 propus aos alunos que gravassem um vídeo no celular demonstrando uma cena do cotidiano que envolvesse a porcentagem. A entrega do trabalho poderia ser feita através de CD, pendrive, Bluetooth ou Whatsapp. O que me chamou mais atenção foi a empolgação e a dedicação com que os alunos realizaram os trabalhos, que foram entregues antes de acabar o prazo – conta. A ideia não agradou só os alunos. Recentemente, Lia constatou que os pais têm acompanhado passo a passo o que seus filhos estão estudando, como também as datas de provas e trabalhos agendados. “Alguns comentaram ter assistido as vídeo-aulas para recapitular conteúdos já esquecidos. Além disso, os estudantes encaminham e-mails com sugestões e dicas de outros livros e filmes relacionados com a matemática. Assim, eu ensino e aprendo com eles”, revela a professora, completando que, com as vídeo-aulas, o desempenho em provas e trabalhos melhorou em torno de 90%. Para Lia, os resultados do último Ideb mostram, com clareza, que não basta somente colocar os alunos dentro de uma sala de aula e aprovar para que a nota do Estado cresça. “Temos sim é que dar valor a aprendizagem desses alunos e a todos os ciclos sem diferenças, pois a maioria das escolas acaba por esquecer os anos finais do Ensino Fundamental, resultando em evasão, muitas vezes provocada pela reprovação”. - Acredito que para melhorarmos o Ideb, teríamos que investir em mudanças estruturais tais como: realização de concursos anuais, o pagamento do piso nacional, investimento no ensino em tempo integral e na reformulação do currículo do Ensino Médio.


ESPECIAL

Slogan X lema Em 30 anos, a gente pode prever uma tragédia já vista hoje nas ruas, na saúde que não funciona, na ineficiência da mão de obra, na perda da competitividade, e o mesmo pode ser dito do Ideb, com níveis alarmantes para quem se preocupa com o futuro do país – observa o senador Cristovam Buarque. Defensor da educação, Buarque acredita que, até agora, “Brasil, Pátria Educadora”, é mais um slogan publicitário do que um lema de governo de fato. Ele reforça a opinião ao dizer que nenhum gesto foi visto para dizer que estamos construindo uma pátria educadora. “Sinceramente, após este slogan, nós regredimos”. Um exemplo citado é o do Pronatec, que, segundo ele, caminhava melhor antes deste lema. - Houve corte nos recursos para as universidades, então, na verdade, depois que houve este slogan, nós pioramos do ponto de vista da atenção governamental para com a educação. O que é um contrassenso para um governo que escolheu a publicidade como sua principal ferramenta – ressalta.

O senador alerta para os impactos da educação na economia e garante que, daqui para a frente, o que vai fazer uma nação ser rica não é a terra, como era na época da cana ou do ouro, não é o capital financeiro, que hoje circula mais do que chega a ser investido, e nem mesmo uma capacidade da mão de obra. - O que faz hoje de um país rico, é o conhecimento e a capacidade de criar novos produtos e ter como fabricá-los a preços competitivos no mercado internacional. Isso só vem de uma educação de base boa para todos, de uma universidade séria, de empresários interessados em desenvolver produtos de alta tecnologia. Sem isso, nós não temos futuro, seremos uma economia secundária e sem importância, o que é péssimo.

O novo ministro da Educação, professor Renato Janine Ribeiro, foi uma boa escolha, na avaliação de Buarque. - A presidente teve um gesto correto. Primeiro, porque não colocou o MEC entre os ministérios, para negociar apoio político, como fez ao escolher Cid Gomes. Segundo, porque escolheu um bom nome, um intelectual muito respeitado e sério – opina Cristovam. E completa: “Mas um ministro só faz o que um presidente quer. Não existe ministro que seja bom se não for para uma determinada área. É claro que um ministro super bom é capaz de convencer um presidente a adotar suas ideais; eu não fui capaz disso, tanto que demorei tão pouco”. - Eu espero que ele, com competência e seriedade, consiga atrair Dilma para transformar o slogan publicitário em um lema nacional. Quando se fala em pátria educadora, todos pensam no sentido da melhoria da educação. Eu penso não só nisso, e sim em criar uma cultura para a educação. Se a gente conseguisse que cada brasileiro desse à educação metade do valor que dá ao futebol, só isso já justificaria o slogan “Pátria Educadora”.

Campeão Para o senador, a hora que a população disser “eu quero que meu país seja campeão em educação”, vai começar a escolher melhor o presidente, os governadores e senadores e aí seremos capazes de fazer o que o Brasil realmente precisa: ser campeão mundial na educação.

“Brasil, Pátria Educadora”, é mais um slogan publicitário do que um lema de governo, opina Cristovam

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ESPECIAL

Resultados modestos nos anos finais Os resultados mais tímidos vieram nos anos finais do Ensino Fundamental (6º ao 9º). A meta gaúcha era um Ideb de 4,7, mas o Estado avançou muito pouco (de 4,1 para 4,2). Obteve apenas a 12º melhor posição nacional. Nesse nível, a rede estadual, que se destacou nos outros ciclos da Educação Básica, avançou apenas 0,1 ponto, aparecendo como a 9ª no ranking. No cenário nacional, o Ensino Médio e os anos finais do Fundamental não conseguiram atingir as metas previstas de qualidade. O ensino secundário, aliás, não evoluiu nada em comparação com 2011. Nos anos iniciais, o Ideb superou a meta em 0,3 ponto. Para compreender os números e análises, conversamos com a socióloga Simone Meucci, professora adjunta do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná. Pesquisadora na área de pensamento social brasileiro e história do ensino da Sociologia no Brasil, Simone traduziu o que os números revelam no cenário gaúcho e nacional.

Que leitura pode ser feita analisando os dados do último Ideb, com relação às escolas públicas e particulares no Brasil? O que se observa de mais notável nos dados recentes apurados no Brasil é que, apesar da manutenção da média nacional em 3,4 desde 2009, houve queda considerável dos índices do Ensino Médio público em alguns dos Estados que apresentavam, desde 2007, tendência ao crescimento. O Paraná, por exemplo, sofreu redução de 6,1 em 2011 para 5,7 em 2013; São Paulo foi de 3,9 para 3,7, Mato Grosso de 3,1 para 2,7. Amazonas de 3,4 para 3,0, Bahia de 3,0 para 2,8, citando apenas alguns exemplos. Felizmente o mesmo fenômeno de queda não se observa nos anos finais do Ensino Médio, quando houve, praticamente em todos os Estados, crescimento discreto do indicador, tanto nas escolas públicas quanto privadas. O índice nacional relativo as escolas públicas, ainda que bastante modesto em termos absolutos e em sua progressão, foi de 3,9 para 4,0 no período de 2011 a 2013. Nas escolas privadas subiu também discretamente de 5,9 para 6,0. De todo modo, em ambos os casos, setor público e privado, com crescimentos tão discretos, não cumpriram com as metas estabelecidas para cada setor no período. Nas séries iniciais do Ensino Fundamental, o índice teve também crescimento entre os anos de 2011 e 2013: foi de 4,7 para 4,9 no ensino público e de 6,5 para 6,7 nas escolas privadas. Interessante notar, levando em conta o indicador no sentido absoluto, que a elevação geral ocorreu de modo sensível no Ensino Fundamental, ao passo que no Ensino Médio parece haver barreiras importantes que não permitem o mesmo desenvolvimento (considerando-o em todos os níveis, bastante modesto). Vejamos, a partir da média nacional entre 2007 e 2013, a progressão do indicador nos diferentes níveis de ensino, nas escolas públicas e privadas do país: ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Escolas Privadas: o indicador saltou de 5,9 para 7,5 Escolas Públicas: o indicador saltou de 3,6 para 4,9 ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Escolas Privadas: o indicador foi de 5,8 para 6,0 Escolas Públicas: o indicador foi de 3,2 para 3,9 ENSINO MÉDIO

Simone Meucci

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Escolas Privadas: de 5,6 para 5,4 Escolas Públicas: de 3,1 para 3,4


ESPECIAL

Estes dados nos mostram que, desde 2007, o crescimento do índice foi, de modo geral, muito modesto, especialmente para o Ensino Médio, onde houve uma variação máxima de três pontos no período de 2007 para 2013. Inquietante é também o fato de que, considerando os números absolutos, há melhor índice nos primeiros anos do Ensino Fundamental. Guardadas as devidas proporções - relativas à complexidade do repertório de conhecimentos avaliados em cada nível - isso pode nos conduzir à hipótese de que temos, nos primeiros anos escolares, um letramento de melhor qualidade do que a iniciação científica do Ensino Médio. Evidentemente, no que tange ao ensino público, isso tem a ver com a recente obrigatoriedade de oferta de vagas para o Ensino Médio (desde 2009 apenas), resultando numa estrutura muito nova e precária neste nível de ensino. No entanto não creio que podemos desprezar o fato de que a escola, a cada nível, tem se tornado mais ineficaz a ponto de termos, na escola básica, uma ‘nota’ de 4,9 para os anos iniciais da escola pública e 3,4 para seus anos finais. O mesmo vale para o ensino privado que tem, em 2013, indicador de 6,7 para os primeiros anos do Ensino Fundamental e de 5,4 para os anos finais. Entre tantas hipóteses que podemos formular sobre o mau desempenho do Ensino Médio nas escolas públicas de muitos Estados importantes, há uma que diz respeito à natureza do pacto federativo e o repasse de recursos da União para os Estados. De todo modo, independentemente das razões que originam esses indicadores inquietantes, os dados sugerem que o ensino de nível médio público deverá ser alvo de ações prioritárias do governo. A presidente Dilma já deu pistas de que agirá especialmente no Ensino Médio na campanha eleitoral quando prometeu uma reforma curricular para este segmento. Deve-se também notar que essa redução do Ideb no EM, ocorreu, invariavelmente, no ensino privado e público. De modo geral, as escolas privadas têm uma média muito superior à pública (média de 3,4 nas escolas públicas e 5,4 nas privadas), mas ainda assim houve queda significativa no setor privado, que merece ser investigada. Por exemplo, o Estado do Rio de Janeiro registrou, no EM privado, índice de 5,5 em 2011 e 4,8 em 2013; São Paulo foi de 5,9 a 5,6 e Pernambuco de 5,9 para 5,2. Se não houve mudanças importantes na prova, é algo que merece ser correlacionado a outros fatores da vida escolar das escolas particulares.

O que é possível concluir do cenário no RS, já que a pontuação total das redes pública e privada subiu nos três níveis avaliados, mas as metas estabelecidas para o Ensino Médio e para os anos finais do Ensino Fundamental não foram atingidas?

O Rio Grande do Sul é uma exceção à regra, pois houve crescimento do Ideb do Ensino Médio público: de 3,4 em 2011 para 3,7 em 2013. O Estado gaúcho figura como exceção ao lado do Rio de Janeiro, que saltou de 3,2 para 3,6 no mesmo período, na avaliação das escolas de Ensino Médio público e de Pernambuco, que também apresentou elevação de 3,1 para 3,6. Ao passo que o Estado vizinho do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, reduziu o indicador de 4,0 para 3,6 entre os anos de 2011 e 2013, como ocorreu com muitos Estados. No EM privado gaúcho, houve redução significativa do indicador de 5,9 para 5,7 entre 2011 e 2013. Essa tendência de redução do desempenho das escolas privadas, especialmente no EM deve ser melhor observada e é possível haver uma decalagem entre os conteúdos que se consideram importantes na Prova Brasil e no Enem.

Números positivos ou negativos representam, na sua opinião, uma cadeia de fatores, entre eles o preparo dos professores, empenho do aluno e envolvimento familiar? Certamente. Creio que tem relação com muitas coisas. É um fenômeno complexo que se refere, desde as condições financeiras e políticas macro-estruturais, até questões relativas à divisão do trabalho intelectual e científico - bastante complexa no mundo atual, levando a impasses na formulação de conteúdos obrigatórios - além da capacidade de a escola figurar como um lugar interessante e atraente num mundo de cultura digital. Por exemplo, deve-se considerar, ao avaliar os índices, que há desigualdades nos recursos repassados para os municípios e Estados, além de formas bastante ineficazes de gestão desses recursos entre os políticos locais. Além disso, é preciso prestar muita atenção à carreira dos professores, desde as condições de recrutamento de bons profissionais até as etapas e as condições de ascensão através de formação pós-graduada que não se limite a cursos de especialização bastante medíocres. Especialmente, com os salários iniciais pouco atraentes, nós da Universidade, temos dificuldades de convencer os melhores alunos a permanecer na licenciatura. E isso não vale apenas para o setor público, mas também para o setor privado em que, de modo geral, pouco se discute acerca da carreira docente, mas se sabe que é cada vez mais precária e explorada. Creio que os índices recentes do Ideb estão dizendo algo importante sobre essas condições do professor das redes privadas, para o qual o debate social é inexistente.

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ESPECIAL

resgate da identidade Leila Schaan, diretora do Departamento Pedagógico da Secretaria Estadual da Educação do RS (Seduc), aponta que a escolarização não depende apenas da qualificação de professores, que deverá ser acompanhada mais de perto, mas que é preciso ter atenção para com a gestão das escolas, com equipamentos adequados e pedagógicos, com o espaço físico escolar, com o tempo de permanência destes alunos em um ambiente saudável, acolhedor e que vise o aluno como eixo central de todo o processo. Para ela, o aluno bem acolhido, seguro, bem alimentado e bem estimulado terá melhores resultados. Para que o Estado retome o protagonismo na Educação, a diretora comenta que, em primeiro lugar, é preciso valorizar a identidade da escola, porque as escolas, hoje, são prédios invisíveis. “Passamos por Igrejas e as identificamos como tal, passamos por bancos e os identificamos, a escola não tem identificação; é preciso resgatar o orgulho de estudar em uma determinada escola, ter amor por ela”. Leila vai mais longe e afirma que é fundamental que as escolas sejam vistas como espaços de uso da comunidade. Também é preciso retirar, na visão da diretora, a escola de qualquer zona de conflito, interno ou externo, já que a violência e o medo são fatores inibidores de aprendizagem. Neste sentido, todas as escolas terão um professor que será o transformador de conflitos, estes passarão por um curso específico sobre o tema ainda neste semestre.

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“Para retomar o protagonismo, também é preciso valorizar os profissionais, trazer a figura do professor, da professora, esquecidos por todos. O secretário Vieira da Cunha tem como meta revigorar as escolas de tempo integral que já existem e criar novas escolas com este perfil, fazendo com que os alunos permaneçam por mais tempo, com mais estudo, esporte, acompanhamento pedagógico, uso de novas tecnologias, arte, música, teatro e literatura”.

termômetro Criado pelo Instituto Nacional de Pesquisa Educacional Anísio Teixeira (Inep), em 2007, o Ideb é o principal indicador da qualidade da Educação Básica no Brasil. Para fazer essa medição, é utilizada uma escala que vai de 0 a 10. A meta para o Brasil é alcançar a média 6.0 até 2021, patamar educacional correspondente ao de países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), como Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e Suécia, observada atualmente, considerando os anos iniciais do Ensino Fundamental e, o nível de qualidade educacional, em termos de proficiência e rendimento (taxa de aprovação). Para verificar se o Brasil vai alcançar essa nota, se posicionando entre os países com os melhores sistemas de ensino do mundo, foram instituídas metas bienais, que por sua vez devem ser atingidas não apenas pelo país, mas também por escolas, municípios e unidades da Federação. A ideia é que cada instância evolua de forma a contribuir, em conjunto, para que o país alcance a meta final.


$ Revisão $ nos salários deve ser

$

SALÁRIOS

pedida por conversão incorreta dos valores para URV Conforme esclarece o sócio-diretor do PPCS Advogados, Sérgio Cezimbra, a conversão dos valores para URV (Unidade Real de Valor) pode ter implicação na conversão dos salários dos servidores públicos estaduais e municipais. A mudança aconteceu entre os anos 1993 e 1994, período em que a inflação era galopante, chegando a 80%, 90% em alguns meses. Todos os valores foram divididos por um coeficiente e transformados em URV. “Em razão disso, foi necessária a criação de uma regra para a transformação dos salários, tanto da iniciativa privada como dos servidores públicos.” Para isso, enfatiza Cezimbra, foi preciso compor uma média e converter o salário dos servidores em URV, o que deveria ter ocorrido em março de 1994. “Porém, a maior parte dos Estados e dos municípios brasileiros não tinha mecanismos nem preparo para tal.” Logo, a maioria dos Estados e municípios não fez essa conversão em março de 94, e sim alguns meses depois, em maio, junho e julho. “Nessa época estávamos falando de um período inflacionário, e se deixássemos passar um ou mais meses, já provocava uma diferença significativa nos salários.” Tanto no magistério do RS, como nas demais categorias de servidores do Estado, a conversão foi feita quatro meses depois, de forma retroativa. Porém, incorretamente, pois não obedeceu ao que a lei federal determinava. Portanto, em razão disso, muitos servidores em 1995 e 1996 se deram conta e começaram a entrar na Justiça para buscar essas diferenças. Desse modo, ressalta Cezimbra, se a conversão do salário foi feita de maneira errada, consequentemente o reajuste incidiu numa base equivocada. Em 2013, se formou um divisor de águas com o julgamento de um recurso extraordinário no STF (Supremo Tribunal Federal), que claramente referiu que reajustes posteriores não podem compensar a diferença da conversão.

riores na diferença da conversão.” Para essa revisão ser feita é preciso enquadrar os salários da época à legislação daquele período e calcular para ver se a conversão foi feita de forma correta ou não. No que se refere ao magistério estadual, frisa o sócio, as próprias decisões da Justiça já diziam que a conversão havia sido feita incorretamente, mas que reajustes posteriores compensavam. Contudo, o STF disse que esses reajustes posteriores não servem de compensação para a diferença da conversão da URV. Isso, porque a lei veio e criou uma forma de conversão por conta de uma economia que estava indexada. A orientação do PPCS Advogados é de que a pessoa busque os contracheques da época, de novembro de 1993 até março de 1994, e com os holerites em mãos, procure um advogado especializado na área de direito administrativo e que conheça a matéria da URV. Assim, depois que o professor/servidor vence a ação, a diferença deve ser implantada de imediato no salário. Já os atrasados dos últimos cinco anos, é provável que sejam pagos por meio de precatórios, que é a forma do Estado pagar suas dívidas judiciais. Cezimbra afirma ainda que é importante lembrar que não só os professores do Rio Grande do Sul estão sujeitos a essa questão da conversão, mas todos os servidores públicos gaúchos, inclusive os servidores do município de Porto Alegre. Para exemplificar, os servidores municipais têm esse problema da URV, incluindo aqui o magistério de Porto Alegre.

Sérgio Cezimbra

Advogado, atua na área de Direito Administrativo.

“Foi colocado, assim, um ponto final nessa questão, deixando muito claro que não se pode compensar reajustes poste-

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GESTÃO

Alimentação que faz a diferença A história da Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Doutor Rui Cirne Lima, em Canoas, começa em 1990, em uma comunidade carente, formada basicamente de agricultores, sobrevivendo da informalidade, e de pequenos criadores de animais. A maioria dos moradores era composta por famílias vindas do interior em busca de progresso.

Ensinar as crianças a gostar da alimentação saudável em detrimento do bombardeio das propagandas, com forte apelo para o consumo de produtos industrializados, é possível, segundo ela, se for mostrado aos alunos, na prática, a quantidade de gordura e de sal que há nos alimentos, enfatizando os males que causam à saúde.

A comunidade continua carente até os dias de hoje, enfrentando problemas como desemprego, falta de saneamento básico, moradias pequenas, dificuldades de locomoção até a escola, falta de agasalho apropriado para o inverno, além do grande número de filhos por família, que não possuem condições de sustentá-los.

- Também trabalhamos este tema na Horta Escolar, interligando com a prática em sala de aula. Nas escolas, principalmente no Cirne Lima, a preocupação principal é a de que o estudante tenha uma educação alimentar associada à prática do esporte. Isto é uma mudança gradativa e possível - aposta.

O relato é da diretora da escola, Lourdes Alves da Silva, ao constatar a interferência que esta realidade exerce no trabalho da instituição. São atendidos atualmente 310 alunos, por 21 professores, e funcionários em geral. No Programa Mais Educação, os estudantes permanecem em turno integral na escola, onde recebem todos os dias café da manhã, lanches e almoço.

ALIMENTAÇÃO MUNICIPALIZADA Como funciona o PNAE

• Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) encaminha para o secretário estadual da Educação um ofício e uma cópia de um Termo de Anuência;

Conforme Lourdes, a escola trata a questão alimentar de forma sistemática, estimulando e conscientizando quanto aos benefícios da alimentação – a importância de comer todo o alimento servido, além de tirar do prato as sobras de comida colocando em lugar adequado para o descarte.

• Secretaria de Estado envia para as Coordenadorias Regionais de Educação uma cópia do Termo de Anuência para que encaminhem aos municípios a solicitação se há interesse em municipalizar ou não a alimentação;

Que impactos uma boa alimentação gera nos alunos? – Motivação para o estudo, maior disposição e foco para realizar as atividades; conta a diretora, citando o avanço na diversificação e qualidade da merenda, bem como a inclusão de frutas e leite.

• Quando um município encaminha o Termo de Anuência assinado pelo prefeito para a Secretaria de Estado, o mesmo é enviado com ofício do secretário estadual da Educação ao FNDE para que o município seja incluído no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), como Alimentação Municipalizada;

O incentivo aos alunos para que transmitam em casa o que aprendem sobre educação alimentar, se dá através de projetos com palestrantes (nutricionistas, médicos) e do projeto da Horta na Escola e da Composteira, fazendo a integração entre família e escola.

• Estado faz um convênio com o município para repassar R$ 0,60 por dia para alunos do Politécnico no dia do turno inverso e estudantes de escolas de até 100 alunos.

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GESTÃO

O que ainda precisa melhorar para que os alunos recebam uma alimentação de qualidade? Lourdes conclui, afirmando que, ao analisar a merenda da Rede Municipal de Canoas, é possível perceber a preocupação das equipes de nutricionistas que elaboram o menu. “Já foram feitas sugestões para ajustar o cardápio à realidade dos alunos da comunidade, que foram aceitas e adequadas”.

Sobre a dinâmica de trabalho entre as nutricionistas das prefeituras e do Estado, dentro do programa, Chagas informa que a escola recebe o cardápio e a alimentação do município. As nutricionistas do Estado promovem encontros com as profissionais do município, orientando sobre os cardápios. Em 2015, o Estado do Rio Grande do Sul tem 82 municípios no PNAE. Nos demais municípios, a merenda é escolarizada, ou seja, os recursos são repassados diretamente à escola, que adquire os produtos no mercado local e confecciona a merenda sob a supervisão e orientação das Coordenadorias Regionais de Educação. - A adesão ao programa propicia à escola a inclusão da educação alimentar e nutricional no processo de ensino e aprendizagem, pois a educação alimentar é trabalhada como tema transversal no currículo e também, em alguns casos, como projeto interdisciplinar, uma vez que as escolas possuem autonomia pedagógica para definir como trabalhar o tema – esclarece o diretor.

Refeitório da Escola Estadual de Ensino Fundamental Coronel Alvaro de Moraes, em Montenegro

foto:Evandro Oliveira,Seduc/Divulgação

De acordo com o diretor de Articulação com os Municípios (DAM) da Secretaria Estadual da Educação (Seduc), Itamar Baptista Chagas, melhorias na qualidade da alimentação e no controle de distribuição, dependem muito da realidade local e da gestão da escola. No entanto, o que se percebe é que a maior parte das escolas estaduais prefere ter domínio do gerenciamento, sem depender do município.

Trabalho em equipe Paula Woltmann, nutricionista da Escola Crescer, em Porto Alegre, diz que a questão alimentar é tratada na instituição de forma integral, onde, desde cedo, é feito estímulo durante as atividades e nas refeições, uma vez que é constante o contato entre professores, pais e nutricionista. E de que forma a escola pode interferir na educação das crianças através da alimentação? – Primeiramente, elaborando um cardápio saudável, atrativo, variado e colorido. Ações em sala com a professora, combinações e aulas de educação nutricional são a base para o aprendizado alimentar. O essencial é manter estímulo e rotina. Crianças adoram a fantasia, o que é ensinado/explicado e ainda mais quando colocam em prática as receitas e as brincadeiras relacionadas – orienta. A nutricionista, que há cerca de três anos atua exclusivamente com Educação Infantil em seis escolas de Porto Alegre, garante que os benefícios de uma boa alimentação na aprendizagem são múltiplos, desde a melhora na imunidade, função cognitiva, disposição etc. Porém, ressalta, o bem mais valioso é a aquisição de um hábito alimentar adequado e saudável, que evitará uma vida adulta repleta de doenças crônicas, como diabetes, hipertensão e obesidade.

Itamar Baptista Chagas, diretor de Articulação com os Municípios da Seduc

Por ser o principal meio social, a família exerce um papel fundamental, no qual a criança aprende pelo exemplo e admiração dos seus semelhantes. Mas Paula alerta: “Porém se esse

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GESTÃO

papel não for executado de forma postural, regrada e cheia de estímulos lúdicos e atrativos, provavelmente a questão alimentar será um problema dentro de casa e em outros locais também”.

mentos das cantinas e até mesmo a modificação do cardápio de algumas escolas seriam passos importantes para reduzir a longo prazo as epidemias relacionadas com maus hábitos alimentares.

Sobre a adesão à proposta de uma alimentação saudável por crianças com hábitos alimentares inadequados, a nutricionista pontua que depende muito da faixa etária da criança e da disposição para mudança geral da rotina alimentar da família.

A nutricionista aposta ainda que haveria menos gastos com internações hospitalares, medicamentos, até mesmo redução em aposentadorias por invalidez, pois infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC), diabetes, hipertensão, síndrome metabólica derivada da obesidade e muitas outras doenças possuem como principal fator uma dieta cheia de gorduras, açúcar, sal ou aditivos, e muito pobre em frutas, legumes e grãos.

Pulso firme Paula defende que é possível ensinar as crianças o valor da alimentação saudável. - Uma mãe que educa e estimula seu filho desde bebê, não compra industrializados e não leva seu filho à lancherias estilo fast food. Esta mãe sim estará tranquila, pois educou e não mimou. Lembre-se que a criança não tem poder de escolha, os pais decidem a alimentação, determinando o que se compra e o que se come na casa. As colocações das crianças da escola reforçam a teoria de Paula: “os alimentos que vêm da mãe natureza são para os animais e para nós, e fazem bem; já os alimentos que o homem inventou, ele fez com sabor bem forte só para a língua gostar e tirar todo nosso dinheiro e a nossa saúde”, palavras dos pequenos alunos. Ela enfatiza que uma criança bem-educada e estimulada, se torna defensora atuante daquilo que aprendeu durante este despertar. - A nutrição na grade escolar, desde a primeira infância, é uma questão prioritária de saúde pública. A retirada de alguns ali-

Paula reflete que alimentação também é educação, e deve ser ensinada e praticada diariamente. “Tanto pais, quanto filhos precisam aprender, pois na maioria são leigos guiados apenas pelo paladar e pela praticidade moderna”, adverte.

• CERCA DE MIL CRIANÇAS ATENDIDAS NAS CRECHES MUNICIPAIS • SÃO OFERECIDAS MAIS DE 2.250 REFEIÇÕES, ENTRE LANCHES, ALMOÇOS E JANTAR • ALGUMAS UNIDADES FUNCIONAM DESDE AS 4H DA MANHÃ ATÉ ÀS 23H • MAIS DE 100 PRODUTOS, ENTRE ELES DEZ VARIEDADES DE FRUTAS E 19 VARIEDADES DE HORTALIÇAS • A MAIORIA É ADQUIRIDA DE PRODUTORES RURAIS DA REGIÃO

Ideia que deu certo A alimentação escolar é vista com carinho no município de Pomerode (SC), tanto pelo Executivo, que investe na aquisição de bons produtos e na valorização dos servidores envolvidos, quanto por parte da comunidade, que reconhece o trabalho realizado.

“Os alimentos que vêm da mãe natureza são para os animais e para nós, e fazem bem”, dizem os alunos da escola

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É o que conta a nutricionista da Prefeitura, Aline Beatris Pruner. Hoje são atendidos nas escolas do município mais de 3.500 alunos, que recebem 4.200 refeições por dia, entre lanches nos intervalos e almoços (oferecidos para alunos que permanecem o dia inteiro nas escolas dentro do Programa Mais Educação, de vários projetos e das duas escolas bilíngues).


GESTÃO

“Os resultados são muito positivos. A conduta da maioria dos auxiliares mudou, o entendimento dos conceitos de higiene e saúde mudou. A discussão e a padronização de boas práticas nos serviços de alimentação escolar, além de proporcionar a melhoria das condições higiênico-sanitárias das refeições preparadas, cumpre a Resolução 216/2004 da ANVISA, estabelece estratégias de educação nutricional e nos deixa mais seguros por estabelecer padrões de procedimentos claros”, comemora.

Papel da escola na educação nutricional

Aline reconhece o papel da escola na educação nutricional. - Acho de fundamental importância a Portaria Interministerial 1.010/2006, que diz, “ a educação nutricional na escola se dá através do reconhecimento deste ambiente como um espaço propício à formação de hábitos saudáveis e à construção da cidada-

Idealizadora do Manual de Operacionalização da Alimentação Escolar, implantado em Pomerode no ano de 2008, Aline explica que o documento atende a legislação que dispõe sobre o funcionamento de cozinhas nas instituições. “Sempre falo aos diretores e auxiliares de serviços gerais (merendeiras e faxineiras), que o Manual é o nosso norte”. Neste material, pode-se ter informações gerais sobre como é feita a limpeza, o controle de pragas, da água utilizada, os procedimentos de higiene e controle de saúde dos funcionários, o que fazer com o lixo e como garantir a produção de alimentos seguros e saudáveis. Aline atua na alimentação escolar de Pomerode há 11 anos, como a primeira nutricionista efetiva da rede. Desde então, vem sendo desenvolvido, segundo ela, um trabalho complexo, que envolve a motivação dos servidores, conscientização, - até chegarmos amadurecidos ao Manual de Boas Práticas, que aqui chamamos de Manual de Operacionalização, pois ele é bastante amplo.

As práticas nos serviços de alimentação escolar foram padronizadas

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GESTÃO

Patricia Kretzer, a alimentação é tratada com as crianças valorizando e incentivando o consumo do alimento saudável. - Recebemos o acompanhamento das nutricionistas do núcleo da merenda escolar da mantenedora, que organizam o cardápio diário da merenda consumida pelos alunos na escola. As professoras também realizam trabalhos em sala de aula que incentivam a ingestão e o benefício da alimentação saudável.

Horta da Escola Monteiro Lobato

nia, considerando que a alimentação não se reduz à questão puramente nutricional, mas é um ato social, inserido em um contexto cultural”. E lembra, ainda, o papel da família nesse processo, com diálogo e bons exemplos. - A criança precisa viver a alimentação saudável. Ninguém aprende a se alimentar por demagogia.

Agricultura local A escola incentiva os alunos a transmitirem em casa o que aprendem sobre alimentação escolar a partir do diálogo com pais e de todo o trabalho desenvolvido em sala de aula com alunos pelos professores, inclusive com a participação das nutricionistas. O cardápio da merenda escolar fica exposto em diversos ambientes da escola para ser acompanhado pela comunidade escolar. É desta forma que a Escola Municipal de Ensino Fundamental Monteiro Lobato, em Canoas, conduz as questões relativas à alimentação. Atualmente 615 alunos são atendidos por 32 professores e 55 funcionários. Conforme aponta a diretora Cintia

Equipe diretiva da escola Monteiro Lobato

A diretora lembra os impactos gerados por uma boa alimentação nos alunos, como mais saúde, qualidade de vida, disposição para realizar as atividades escolares e a construção de hábitos alimentares saudáveis. “Podemos afirmar que houve muitos avanços na alimentação escolar nesses últimos anos, pois, na nossa rede municipal, os alunos já recebem uma alimentação saudável, uma vez que possuem uma relação direta na aquisição de produtos da agricultura local. Porém, o fator econômico ainda é determinante para se qualificar a merenda escolar no âmbito geral”.

Ninguém aprende a se alimentar por demagogia

Alimentação também é educação, deve ser ensinada e praticada diariamente.

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DIÁLOGOS COM O DIREITO

Viúvos de servidoras públicas têm direito à pensão? A Constituição Federal proíbe tratamento desigual para homens e mulheres. O artigo 5° caput e inciso I determina: Art. 5° “Todos são iguais perante a Lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, e à propriedade nos termos seguintes:

como os fatos e a sociedade avançaram nestes últimos 30 anos. Nesse aspecto ela precisa ser revista com urgência. Quem tem direito a receber pensão? Hoje, as viúvas e também os viúvos de servidores públicos têm direito ao recebimento de pensão. Mantiveram essas condições:

I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações nos termos desta constituição”. Tal dispositivo, assim como o contido no § 5°, do artigo 226 “os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher”, não deixam dúvidas quanto à importância que a Constituição confere ao princípio da igualdade. No entanto, leis infraconstitucionais ainda servem como óbice para aplicação da norma constitucional. Um exemplo disso é a legislação previdenciária estadual (Lei Orgânica do Ipergs – Lei 7.672/82), utilizada como base para inúmeras decisões administrativas de indeferimento de pedido de pensão para os viúvos de servidoras públicas. A Lei 7.672/82 fere a isonomia entre homens e mulheres, pois os requisitos invalidez e dependência econômica não são exigidos em relação às mulheres e, portanto, também não podem ser exigidos em relação aos homens. Atualmente, o Supremo Tribunal Federal pacificou o entendimento de que os viúvos de servidoras públicas também têm direito ao recebimento de pensão por morte. A advogada Ana Amélia Piuco, fala sobre o assunto. O que prevê a lei?

- Os filhos, desde que até 24 anos, se estudantes, ou acometidos por invalidez; - Os menores postos sob a guarda do falecido; - As filhas solteiras (maiores de 24 anos) não têm mais direito ao recebimento de pensão por morte; - Companheiros que vivem em união estável, bem como aqueles que detêm uma união homoafetiva, também têm direito ao recebimento de pensão. Quais os requisitos para solicitar o benefício? Os beneficiários devem ingressar com pedido administrativo junto ao Ipergs. Já aqueles que tiverem seus benefícios negados (isso ocorrerá com os viúvos), devem procurar um advogado de sua confiança e ingressar imediatamente com ação judicial. Como está a posição dos tribunais a respeito? As últimas decisões, tanto do Supremo Tribunal Federal (STF), quanto do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (TJRS), a respeito do tema, foram favoráveis aos viúvos de servidoras públicas, inclusive, quanto ao direito de receber os últimos cinco anos de atrasados.

A Constituição Federal prevê que homens e mulheres são iguais perante a lei. Por isso, não deve haver tratamento diferenciado entre eles. A Lei Orgânica do Ipergs (Lei 7.672) é de 1982, portanto, anterior à Constituição de 1988. Sendo que, até hoje, a lei do Ipergs prevê o direito ao recebimento de pensão, apenas, para a viúva, não tendo contemplado os viúvos, nem aqueles que vivem em união estável ou homoafetiva. Esta lei não se adequou à Constituição Federal, não avançou

Ana Amélia Piuco

Advogada especialista em Direito pela UFRGS

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PAPO CABEÇA

ENEM

O que há de errado com a redação?

Na última edição do Enem, apenas 250 pessoas tiraram a nota máxima 1000 - enquanto 529.374 zeraram a redação. O balanço divulgado pelo Ministério da Educação mostra que 217.339 zeraram a prova por fugir ao tema, esse foi o principal motivo para a anulação. Dos quase 6,2 milhões que fizeram a prova, apenas 250 conseguiram a nota máxima. Na edição anterior, em 2013, entre os 5 milhões que fizeram o exame, 481 obtiveram a nota 1000 e 106.742 zeraram. Por que tantos zeraram? Que leituras podem ser feitas dos resultados apresentados? Mestres + foi em busca de respostas. Leila Schaan, diretora do Departamento Pedagógico da Secretaria Estadual da Educação (Seduc), pontua que, embora o Enem não seja o único indicador de qualidade do ensino, serve como um termômetro, a fim de se analisar a proficiência dos alunos. “Porém, devemos levar em consideração que neste resultado estão incluídos todos os alunos do Estado, portanto, não são exclusivamente da rede estadual”, ressalta.

O que fazer para elevar o desempenho? Com toda a informação veiculada pela mídia e pelo conhecimento do corpo docente sobre a importância do exame, a desinformação não pode mais ser usada como desculpa. Porém, há necessidade de uma revisão, por parte da mantenedora, para que a escola se torne novamente um lugar desejado por todos, um lugar onde se busca e se trocam conhecimentos, onde se faz amigos, se pratica esportes, enfim, onde se buscam novas alternativas de sonhar com uma vida melhor para todos. “E, neste sentido, nesta busca, surgirão a vontade e o desejo de continuidade de estudos, de ingresso em uma universidade”.

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Sobre a metodologia de ensino dividida por disciplinas, enquanto o Enem aborda questões por área do conhecimento, mais complexas e dinâmicas, ser ou não um fator determinante para a queda no desempenho, Leila acredita que o problema não se reduz a forma como o currículo está sendo trabalhado. - Sendo por disciplina, por área de conhecimento ou qualquer outra maneira, o que precisa ser feito é apresentar aos alunos os conteúdos de forma prazerosa e que eles compreendam por quais razões estão desenvolvendo aquele conteúdo. Saber onde, na vida de cada um, será importante aquele aprendizado, tornando a aprendizagem significativa e trazendo à tona a curiosidade dos alunos.

Preparo dos professores No RS, as qualificações acontecem através de seminários, cursos via EAD, e tempo disponibilizado pelas escolas para as atualizações conforme seus planos políticos-pedagógicos. De acordo com a Seduc, quase a totalidade dos professores gaúchos tem curso superior, o que eleva a qualificação do corpo docente. - A dificuldade está na organização dos conteúdos a serem ministrados, de forma que, a partir da nova base nacional comum, o Estado estará apto a reorganizar o currículo mínimo para todas as escolas. Isso vai facilitar aos alunos, professores e ao Estado, que poderão contar com uma avaliação e dados fidedignos relativos a escolarização, podendo corrigir distorções que vierem a ocorrer. Entre as dez melhores escolas do RS, duas são federais e as outras oito são privadas, ou seja, não há estaduais ou muni-


PAPO CABEÇA

cipais. Para incluir as municipais e estaduais no ranking das melhores, Leila aposta no resgate de valores esquecidos no passado, onde a escola é e sempre será o local onde toda e qualquer transformação social tem início. ”É preciso resgatar o respeito, a disciplina, o afeto, a amizade e principalmente a troca de conhecimento em um lugar de excelência, onde se ensina e se aprende”.

Cenário

Tragédia

Ao todo, 14.715 escolas brasileiras compõem o ranking. Das 100 melhores escolas do país, 93 são da rede particular, seis são federais e uma é estadual. A região Sudeste concentra 77 das instituições brasileiras com melhores médias. A escola com a nota mais alta foi o Colégio Objetivo Integrado, de São Paulo, com uma média de 741,94 na parte objetiva da prova. A escola é privada.

É assim que o senador Cristovam Buarque (PDT), qualifica o resultado do último Enem. - Basta lembrar o número que tirou zero em redação. Isso é uma tragédia para um país em que uma quantidade considerável de jovens que concluiu o Ensino Médio tirou zero em redação. O Enem é feito com a elite da juventude, porque grande parte não termina a 4ª série e só 40% conclui o Ensino Médio. São esses que fazem o Enem, ou seja, essa é a nota dos 40% melhores do Brasil.

As mais bem colocadas escolas gaúchas no Enem de 2013 recuaram no ranking da avaliação. Se o Estado tinha apenas dois colégios entre os 100 melhores do país em 2012, na última edição a situação foi ainda pior: nenhuma instituição. O ranking foi calculado a partir dos dados divulgados pelo MEC, em dezembro do ano passado, considerando ciências humanas; ciências da natureza; linguagens, códigos e suas tecnologias; e matemática. A redação ficou fora do cálculo.

- Indo para a área de ciências e matemática, o resultado também é muito negativo. O Enem mostra a calamidade da educação brasileira. Na verdade, basta olhar fisicamente a nossa escola pública. Pelo prédio da escola, você vê como é a educação; porque ali você vê o prédio, o professor, e quando você vê uma escola, vê o futuro de um país. Isto é que é triste – lamenta o senador.

Mais uma vez, o primeiro colocado no Estado – conforme os dados do MEC – foi o Colégio Politécnico da UFSM, de Santa Maria. No entanto, se no Enem 2012 a escola federal ficou na 23ª colocação, no exame de 2013, ela caiu 107 posições, ficando em 130º no ranking nacional. A média geral da escola caiu de 680,61 para 653,34.

Para Cristovam, o resultado do Enem mostra como será o Brasil daqui a 20, 30 anos. “O país inteiro noticiou que o FMI afirmou a queda do PIB brasileiro em 1% este ano. Isso não é nada diante do retrato que a gente tem no Brasil, não só do PIB, mas da relação da sociedade com a economia e dela com a natureza”, constata.

Zona de conforto

Entre as dez melhores escolas do RS, duas são federais e as outras oito são privadas — ou seja, não há estaduais ou municipais. As sete escolas estaduais mais bem colocadas no ranking são mantidas pela Brigada Militar, os colégios Tiradentes de Porto Alegre, Ijuí, Santa Maria, Santo Ângelo, Pelotas, Passo Fundo e São Gabriel, respectivamente. A escola de Ijuí, que em 2012 obteve a 4ª melhor posição entre as escolas públicas no Estado, caiu da 297ª para a 634ª colocação no ranking do país em 2013.

Lia Figas, professora de Matemática em duas escolas públicas de Porto Alegre e criadora do blog http://profliafigas. blogspot.com.br/, opina que gestões, professores e funcionários não querem sair da zona de conforto, o que faz com que predomine o paradigma da educação tradicional.

Por outro lado, em 2012, a melhor instituição particular do Estado, o Colégio Leonardo Da Vinci-Alfa, de Porto Alegre, aparecia na 111ª colocação no ranking nacional. Na avaliação de 2013, a mais bem colocada escola do setor privado, o Colégio Sinodal de São Leopoldo, ocupava o 162º lugar no país, uma queda de 51 posições.

- Existe uma resistência da escola pública em abandonar estratégias habituais que se revelam ineficazes. Embora os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) orientem para uma educação de qualidade, trabalhar com projetos interdisciplinares lhes parece um bicho de sete-cabeças e a transdisciplinaridade é utopia. Lia observa que o Rio Grande do Sul ficou fora do ranking das melhores escolas do Enem devido ao método de ensino, ainda trabalhado nas escolas de forma tradicional, dividido por matérias através da metodologia da decoreba e das respostas prontas, enquanto o Enem aborda questões por área do conhecimento, mais complexas e dinâmicas.

De acordo com o Sindicato do Ensino Privado (Sinepe/RS), o resultado do Enem não é um indicador usado para produzir rankings, mas sim de desempenho, uma vez que é preciso levar em conta a classe social e o número de alunos que fazem as provas, dados incluídos no resultado do Enem, mas não no ranking. O sindicato ainda defende um exame regionalizado, como por exemplo para os três Estados do Sul, que seja capaz de compreender as especificidades de cada região. ​

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PAPO CABEÇA

Novidades Candidatos que têm opção sexual definida poderão optar pelo uso do ‘nome social’, e inclusive poderão usar os banheiros do sexo para o qual fizeram a sua opção. Os cartões de prova não serão mais enviados pelo correio, e deverão ser baixados apenas por download na internet. Serão 19 mil locais de prova. E, quem estiver com mais de 18 anos no dia da prova ainda pode solicitar na inscrição a obtenção de Certificado do Ensino Médio se fizer pelo menos 450 pontos em cada uma das provas objetivas e 500 na redação.

O Enem 2015 será nos dias 24 e 25 de outubro. A expectativa é de 9 milhões de inscrições. A nota do Enem pode ser usada para participar de programas como o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que disponibiliza vagas no ensino superior público; Programa Universidade para Todos (ProUni), que oferece bolsas em instituições privadas; e Sistema de Seleção Unificada do Ensino Técnico e Profissional (Sisutec), que garante vagas gratuitas em cursos técnicos. O Enem também é pré-requisito para firmar contratos pelo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), obter bolsas de intercâmbio pelo Programa Ciência sem Fronteiras e certificação do Ensino Médio.

As dez melhores escolas públicas gaúchas no ranking nacional:

As dez melhores escolas privadas gaúchas no ranking nacional:

01.

01.

130º lugar

nota 653,34

181º lugar

nota 646,73

357º lugar

nota 630,58

419º lugar

nota 626,47

634º lugar

nota 615,25

Unidade De Ensino Colégio Sinodal (São Leopoldo) 162º lugar

nota 648,94

200º lugar

nota 644,03

277º lugar

nota 635,69

298º lugar

nota 634,58

303º lugar

nota 634,11

310º lugar

nota 633,65

312º lugar

nota 633,50

325º lugar

nota 632,57

326º lugar

nota 632,47

02. Colégio Militar de Porto Alegre

02. Colégio Joao Paulo I (Porto Alegre)

Estadual de Ensino Médio Tiradentes 03. entro (Porto Alegre)

de Ensino Médio Farroupilha 03. Centro (Porto Alegre)

04. Colégio Militar de Santa Maria

Marista Nossa Senhora do Rosário 04. Colégio (Porto Alegre)

05. Colégio Tiradentes Ijui

05. Colégio João Paulo I (Porto Alegre)

06. Colégio Técnico Industrial de Santa Maria

de Ensino Médio Mário Quintana 06. Escola (Pelotas)

07. Colégio Tiradentes de Santa Maria

07. Colégio Evangélico Alberto Torres (Lajeado)

Federal Sul-Rio-Grandense, 08. Instituto Campus Pelotas

Sinodal Barão do Rio Branco 08. Colégio (Cachoeira do Sul)

09. Colégio Tiradentes

09. Colégio Riachuelo (Santa Maria)

10.

10.

1084º lugar nota 598,74

1421º lugar

nota 589,74

1481º lugar

nota 588,21

1561º lugar

nota 586,59

Instituto Federal de Educação, Ciência E Tecnologia do RS, Campus Canoas 1803º lugar nota 581,40

22

Colégio Mauá (Santa Cruz do Sul) 360º lugar

nota 630,34

Fonte: Zero Hora

Colégio Politécnico da Universidade Federal de Santa Maria


SUSTENTABILIDADE

Pequenas ações, grandes mudanças Construir um projeto com a colaboração e o envolvimento de todos. Esta foi a ideia da direção da Escola Estadual de Ensino Fundamental Otávio Mangabeira ao criar o projeto de sustentabilidade, em 2012. A partir de uma formação promovida pela Secretaria Estadual de Educação, em parceria com a Emater, foram disponibilizadas aos professores ferramentas para a criação e cultivo de horta orgânica, além de orientações para a separação do lixo e reaproveitamento de materiais. Desta vez, professores e direção se reuniram para contar à Mestres + como funciona esta ideia na prática, dividindo experiências e promovendo um amplo debate sobre o caminho percorrido até agora e tudo que ainda se pretende alcançar. A ideia do projeto foi norteada por uma nova gestão alicerçada no respeito à diversidade humana e também pela necessidade da escola em formar cidadãos preocupados em não ultrapassar a capacidade de renovação dos recursos, comprometidos com as gerações futuras, como multiplicadores de uma educação cada vez mais sustentável. Num primeiro momento, as ações foram direcionadas especificamente aos alunos, que participaram de visitas orientadas e assistiram a espetáculos teatrais sobre o uso consciente da água. O engajamento ao Projeto Nosso Planeta, Nossa Casa, da Junior Achievement, que envolveu a separação do lixo e o reaproveitamento de materiais, também marcou a primeira fase. Em seguida, a iniciativa estendeu-se às famílias que participaram ativamente do processo, coletando materiais reaproveitáveis como pneus, garrafas pet, tampinhas, cd’s e também doando terra e plantas para a construção de jardins suspenso e fixo.

Para os idealizadores, o apelo mundial pela conscientização e cuidados com o meio ambiente influenciaram não só os alunos e professores, mas também as famílias para que cada vez mais fizessem a sua parte enquanto cidadãos comprometidos com o planeta e com as gerações que ainda virão. Sobre o sucesso do projeto, professores e direção apontam que é reflexo do engajamento de todos os segmentos da comunidade. Aos poucos foram agregados esforços inicialmente individuais e que normalmente partiam dos professores para então passar a resultados coletivos que muitas vezes surgem de pequenas iniciativas de pais, parentes, amigos e até de vizinhos da comunidade escolar. “Para nós, a maior lição é acreditar nos pequenos gestos, investir nas pequenas ações e provocar grandes mudanças. E temos a certeza de que estamos trilhando esse caminho, pois os resultados já ultrapassam os portões da escola e ganham cada vez mais espaço nas casas”. O programa está alicerçado e não pertence mais ao Mangabeira, e sim a comunidade que dá a ele continuidade diariamente através de pequenas ações sustentáveis. A equipe cita a frase de Albert Einstein para ilustrar este movimento: “A mente que se abre a uma nova ideia jamais volta ao seu tamanho original”. Localizada no bairro Camaquã, zona sul da capital, a Escola atende cerca de 500 alunos e conta com aproximadamente 40 servidores, entre professores, agentes administrativos, de alimentação e limpeza. Possui uma grande área arborizada, apreciada pela comunidade.

“Algumas turmas visitaram a Usina do Papel, localizada na Usina do Gasômetro, aprendendo a reutilizar o papel descartado na escola para, depois, montar a própria oficina de reciclagem. A partir desse momento toda a escola engajou-se ao projeto, selecionando e armazenando papel para a reciclagem. As crianças multiplicaram seus conhecimentos e contribuíram para a conscientização da comunidade”, comemora a equipe.

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Literatura Escrita Desenho Ilustração Quadrinho Crianças Pedro Bandeira aponta fortalecimento da Fantasia Arte Leitura Jovens leitura entre os jovens Clássicos ObReflexão Educação rasEnsinoAlfabetização Crescimento Sociedade Democracia Respeito Complexidade Criação BibliotecaTirinhas Professores LITERATURA

Pedro acredita que a missão da literatura é inquietar o alvo Os últimos 30 anos marcam, além da democracia conquistada pelo Brasil, e do direito de acesso à escola, o crescimento no número de livros consumidos pelos jovens, conforme apontam pesquisas do mercado editorial. Isso significa que, cada vez mais, a literatura vem sendo aceita pela juventude brasileira. Dentro deste cenário, o livro A droga da obediência, do escritor Pedro Bandeira, sucesso quando foi lançado, há 30 anos, e que o consagrou como escritor, continua na lista de preferidos de jovens de todo o país. Isso se deve, na visão do próprio escritor, ao fato de que hoje há mais jovens que tiveram o direito de aprender a ler, de compreender o que leem e de descobrir a diversão que um bom livro pode lhes trazer. “O público leitor jovem só aumenta no Brasil. Por isso, é natural que meu livro tenha hoje mais mercado do que tinha no início dos anos 80. Felizmente, A droga da obediência conseguiu tornar-se um clássico, lido já por duas gerações e partindo para a terceira”. Para Bandeira, a obra tornou-se um clássico e agrada os jovens há tanto tempo, porque os leitores identificam-se com a personalidade dos jovens protagonistas: “todo mundo quer ser líder, sério e ter a autoridade de Miguel; todo mun-

do quer ser inteligente como o Crânio; todo mundo quer ter a coragem e a beleza de Magrí; todo mundo quer ser bonito e ter o talento de Calu; e todo mundo que ter a ousadia e a alegria de Chumbinho. Meus leitores são os verdadeiros Karas.” Criar personagens que sirvam de espelho para futuros leitores, em que são levados a pensar como leitores de Pedro, a ter esperanças como tal, e amar como seus leitores. Em suma, estas são as ferramentas de que o escritor lança mão para criar um personagem com o qual o leitor se identifique.

Arte democrática Sobre a cultura do imediatismo, presente e crescente na sociedade, Bandeira diz que a literatura sempre será consumida avidamente pelas pessoas. “Eu adoro o imediatismo do cinema, que me permite duas horas de diversão, do mesmo modo que adoro passar um mês mergulhado na leitura de um livro de 800 páginas. Cada arte tem o seu tempo, tem o seu momento. Arte não briga com arte, arte não engole outra arte. Uma alimenta a outra, uma leva à outra, todas vivem de mãos dadas.” Há quem qualifique determinados tipos de literatura como “rasa”. Sobre esta questão, Pedro Bandeira questiona: - O

foto:Rubens Romero

Para escritor, a literatura é como o arroz e feijão para o corpo e cada vez mais vem sendo aceita pela juventude brasileira.


LITERATURA

O público leitor jovem só aumenta no Brasil que é um livro “raso”? Isso não é um conceito pessoal? Durante mais de 150 anos, a academia francesa considera Alexandre Dumas um escritor menor, talvez um escritor “raso”. Eu queria ser um escritor “raso” assim e ter escrito Os 3 mosqueteiros e O conde de Montecristo. Deixem as pessoas lerem o que quiserem, deixam-nas ler aquilo que lhes agrada, que lhes diverte. Se alguém se diverte lendo Proust, que leia Proust. Pedro acredita que a missão da literatura é inquietar o alvo, e que o autor não dá sua opinião; escreve sobre suas dúvidas, sobre o que o instiga, justamente porque ele não sabe a resposta. Na visão do escritor, a arte não deve pretender ensinar nada. - Se alguém quiser escrever um livro didático ou de autoajuda, que o faça, mas não chame isso de literatura. Literatura existe para provocar, cutucar, sugerir, duvidar, enfim, pegar o leitor pela mão e fazer uma gostosa, ou perigosa, ou amedrontadora, ou duvidosa viagem pelo mundo dos sentimentos, como um avião que decola sem bússola e sem a certeza de que poderá pousar. Mas que linda viagem!

Os Karas O livro A droga da obediência (1984), que já vendeu mais de um milhão de exemplares em todo o país, é voltado para crianças a partir de 11 anos. Na obra, os Karas — Miguel, Magrí, Calu, Crânio e Chumbinho — são um grupo de amigos que estuda no colégio Elite. Eles participam de várias aventuras de suspense em que precisam desvendar alguns crimes. Em 192 páginas, o grupo de jovens detetives desmantela uma intrincada série de sequestros ocorridos em São Paulo.

Os Karas tomam conhecimento de uma onda de desaparecimentos envolvendo alunos de vários colégios conhecidos e decidem investigar o que está acontecendo. Depois de uma série de investigações e deduções, chegam a uma organização criminosa: a Pain Control, que deseja, manipulando fórmulas químicas, controlar a dor da humanidade e, assim, a duração e a qualidade da vida humana.

O cara Com mais de 100 livros publicados, Pedro Bandeira de Luna Filho nasceu em Santos (SP) em 1942, onde dedicou-se ao teatro amador, até mudar-se para São Paulo, a fim de estudar Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (USP). Além de professor, trabalhou em teatro profissional até 1967 como ator, diretor, cenógrafo e com teatro de bonecos. Desde 62, Pedro trabalhava na área de jornalismo e publicidade, começando na revista “Última Hora” e depois na editora Abril, onde escreveu para diversas revistas e foi convidado a participar de uma coleção de livros infantis. Desde 1983, Pedro Bandeira vem se dedicando inteiramente à literatura. O primeiro livro O dinossauro que fazia au-au, voltado para as crianças, da coleção Roda de Histórias, ganha sua quarta edição após mais de 30 anos de sua primeira publicação, em 1983. Segundo Pedro Bandeira, a intenção foi escrever uma história engraçada, pois, quando era criança, adorava rir sozinho ao ler as criações de grandes autores como Monteiro Lobato. A obra mostra a aventura do menino Galileu e seus amigos, o ratinho Cuim e o falante papagaio Moreno. Em suas andanças, o garoto se depara com um ovo misterioso que logo descobre se tratar de um dinossauro. O problema é que, como todo mundo adulto sabe que esses répteis gigantes desapareceram há milhões de anos, ninguém acreditou no menino. E agora? Como Galileu vai fazer para as pessoas aceitarem seu novo animal de estimação? Também fazem parte da Série Os Karas, os livros Pântano de sangue (a par-

Livro já vendeu mais de um milhão de exemplares tir de 11 anos), Anjo da morte (a partir de 12 anos), A droga do amor, 12 anos, Droga de americana!, 13 anos, e A droga da amizade, para jovens a partir de 11 anos. Da Série Pequenos e sabidos, leitores a partir de seis anos podem se divertir com A mentira cabeluda. O valente da calça molhada pode ser lido pela criançada a partir de sete anos. A série também conta com os títulos A onça e o saci, Pequeno pode tudo, Cidinha e a pulguinha da Cidinha, entre outros. A Série Roda de histórias, inclui, além de O dinossauro que fazia au au, O fantástico mistério de feiurinha, a partir de nove anos. Risos e Rimas e ó nome da série que traz obras como Cavalgando o arco íris (a partir de sete anos) e Mais respeito, eu sou criança, voltada para crianças a partir de nove anos. Já em A marca de uma lágrima (11 anos), Pedro Bandeira apresenta uma adaptação moderna da obra Cyrano de Bergerac, de Edmond Rostand, O livro lembra os eternos desencontros amorosos, sintetizados no poema “Quadrilha” de Drummond: Fernando ama Isabel, que ama Cristiano, que ama Rosana, além de discutir o amor idealizado.

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MUNDO DAS LETRAS

Prêmio RBS de Educação

Para vencedora, ler não se resume a juntar letras O nome dela é Michelle Brugnera Cruz Cechin. Pedagoga, especialista em Psicopedagogia e em Educação Especial e mestranda em Psiquiatria pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, foi uma das vencedoras do Prêmio RBS de Educação, no ano passado. Defensora da opinião de que ler não se resume a juntar letras, formar frases, mas, pensar sobre o mundo e se colocar no lugar dos outros, a professora explica como despertar esta consciência nos alunos, desde cedo. Para Michelle, que leciona na Escola Municipal de Ensino Fundamental América, em Porto Alegre, a alfabetização não deve ficar restrita a propostas mecanicistas de conhecimento das letras, à leitura de palavras isoladas ou de frases e textos descontextualizados. E aposta que oferecer às crianças obras de literatura infantil de qualidade desde os primeiros anos de escolarização é um caminho promissor à educação cognitiva e ética.

história da primeira girafa da França. O filme conta a história de Maki, um menino nascido no Sudão, no século XIX, capturado para ser vendido como escravo após a destruição de sua aldeia. De forma poética, produzido como as primeiras animações infantis (sem computação gráfica), o filme trata sobre colonialismo, escravidão, diversidade cultural, africanidade, direitos dos animais, amizade, infâncias.

Quanto à leitura, como conta a professora, as crianças estavam iniciando o processo de alfabetização e se mostravam inseguras a se aventurar neste universo. Assim, dessas vivências e inquietações, surgiu a ideia de problematizar o racismo e as diferenças étnicas de forma sensível. “Foi então, que escolhi a literatura infantil para ampliarmos nossos conhecimentos sobre o assunto”.

- A leitura literária é um exercício de imaginação e empatia, que pode se tornar uma aliada a esse processo, pois possibilita que as crianças se aproximem do uso significativo e prazeroso da leitura, contextualizando as suas vivências, relacionamentos, seus sentimentos, preocupações, alegrias e brincadeiras próprias da infância que estão vivenciando.

Isso tudo resultou no projeto Tapete africano: um encontro entre crianças, livros e baobás, que rendeu o Prêmio RBS de Educação. Elaborado com a participação dos alunos, o tema surgiu em uma roda de conversa sobre o filme assistido. A professora então leu a reportagem de jornal que falava sobre o ato racista no futebol, refletindo sobre o que significava chamar outra pessoa de macaco.

Tapete africano Em maio de 2014, a turma de Michelle participou do 6º Festival Escolar de Cinema de Porto Alegre, onde assistiram Zarafa, um filme de animação francês, inspirado na

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- Antes de assistirmos ao filme, as questões de racismo e preconceito permeavam as conversas das crianças, especialmente por terem assistido na televisão atos racistas manifestados em uma partida de futebol. Também notei que, apesar de muitas serem negras e mulatas, representavam-se brancas, loiras e de olhos azuis em seus desenhos - reflete.

Receber o prêmio reforçou as convicções e escolhas pedagógicas de Michelle

- Uma das alunas lembrou que no filme Zarafa, o personagem Maki é chamado de macaco por outro personagem, estabelecendo uma relação entre o filme e a reportagem do jornal. Conversamos sobre


MUNDO DAS LETRAS

No planejamento diário, Michelle reserva 50 minutos para a realização das leituras no “Cantinho das Diferenças”, em um pequeno tapete com feltro azul e laranja, pintado pelo grupo.

diferentes situações que envolviam a discriminação e o preconceito, não apenas de raça, mas também da obesidade e do uso de óculos, por exemplo.

Resultado A escola apoiou o projeto desde o início, viabilizando a ida ao Festival de Cinema, adquirindo materiais de artes plásticas específicos para o projeto e livros sobre o tema. “Algumas famílias se aproximaram mais da escola, compreendendo a importância do trabalho que é realizado por meio de projetos de leitura”, constata. Michelle relata que no início do projeto, por estarem iniciando o processo de alfabetização, as crianças mostravam-se receosas em folhear os livros e muitas não queriam nem manuseá-los, dizendo que não sabiam ler. Além disso, algumas se representavam de forma estereotipada em seus desenhos, tinham muitas histórias e vivências de discriminação para contar, sem terem um espaço adequado na escola para refletirem sobre essas questões.

- Com o desenvolvimento do projeto, foram se sentindo mais seguras e encorajadas a adotarem comportamentos leitores. A leitura diária no “Cantinho das Diferenças” introduziu em suas vidas hábitos de leitura, o conhecimento de diferentes obras literárias voltadas para o público infantil, o encorajamento a realizar suas primeiras leituras individuais, ou para os seus colegas. De acordo com a professora, a cada história lida, a cada vivência no “Cantinho das Diferenças”, novas aprendizagens foram tecidas sobre as palavras, multiculturalismo e respeito às diferenças. O processo de alfabetização foi sistematizado a partir da temática do projeto de leitura, e mesmo que ainda não lessem com muita fluência, as crianças tentavam contar as histórias uma para as outras e solicitavam os livros da sacola com frequência. - Foi sobre o nosso tapete africano, ilustrado com aldeias africanas, girafas, baobás (árvore típica da África), e mapa da viagem realizada pelo personagem do filme, que vi os pequenos lerem suas primeiras pa-

lavras, frases e alguns já conseguiram ler histórias completas. Com esta proposta percebi também que as crianças se tornaram muito mais conscientes da diversidade étnico-cultural, respeitosas às diferenças e mais conhecedoras das influências dos povos africanos em suas vidas e em nossa cultura. Foi possível viajarmos em um tapete mágico, feito de cinema, leitura, livros, palavras, africanidades e infância. O projeto ainda está em andamento, e nossas próximas aventuras irão incluir as famílias nas atividades – adianta. Receber o prêmio reforçou as convicções e escolhas pedagógicas da professora, especialmente a de utilizar a literatura para tratar de temas sensíveis e importantes como a diversidade, a solidariedade e a educação ética com as crianças. “Acredito que iniciativas que valorizem a educação, o trabalho dos professores, projetos e iniciativas desenvolvidos diretamente com a leitura e as crianças, devam receber destaque e que sejam cada vez mais frequentes”, sugere.

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MUNDO DAS LETRAS

A professora acredita ainda que a leitura literária é um exercício de empatia, que nos permite a ampliação de experiências, de sair do nosso mundo e nos colocarmos no lugar do outro, vivermos aventuras e sentimentos além dos que vivemos em nosso cotidiano. A literatura, reforça, é um meio poderoso de educação ética, desenvolvimento da imaginação e crescimento pessoal. “Vejo-a como uma aliada aos professores que pretendem incluir em suas práticas a educação para o respeito à diversidade, à convivência, ao desenvolvimento moral e à alfabetização emocional”, conclui.

Sobre o prêmio O Prêmio RBS de Educação – Para Entender o Mundo é uma das principais iniciativas do Grupo RBS e da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho, a fim de contribuir de maneira efetiva na melhoria da qualidade da Educação Básica no país. Lançado em 2013, tem o objetivo de valorizar o trabalho de professores e cidadãos e de disseminar práticas educativas de sucesso nos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A nova categoria Jovens Protagonistas irá financiar propostas de projetos que devem ser executados durante o ano de 2015 (ano seguinte à premiação). Participam estudantes de 14 a 24 anos, vinculados a uma instituição pública ou privada da Educação Básica, interessados em promover ações de fomento à leitura em espaços públicos (escolas públicas, bibliotecas, centros culturais, ONGs, entre outros). Participam das categorias Escola Pública e Escola Privada: educadores (bibliotecários, técnicos administrativos, gestores e demais profissionais) e professores de todas as áreas do conhecimento, que estejam em atividade, nos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Os profissionais devem estar vinculados a instituições de ensino públicas ou privadas.

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ENSINO PRIVADO

Professores aprovam propostas para CCT’s 2015 Após diversas rodadas de negociação, os professores do ensino privado aprovaram as propostas para as Convenções Coletivas de Trabalho – CCT’s para a Educação Básica e Educação Superior, negociadas entre o Sindicato dos Professores do Ensino Privado do RS – Sinpro/RS e o Sindicato Patronal (Sinepe/RS). As propostas preveem reajuste salarial para ambos os níveis de 7.68% (INPC do período), retroativo a março, e reajuste do reembolso-creche para R$ 210,00. De forma inédita no país, a Convenção Coletiva de Trabalho da Educação Básica (educação infantil, fundamental e média) prevê a limitação de alunos por turma.

Educação Infantil 0 a 2 anos: cinco alunos (podendo chegar até 10, com auxiliar para o professor) 2 a 3 anos de idade: até oito alunos (podendo chegar até 15, com auxiliar) 3 a 4 anos: até 12 alunos (podendo chegar até 18, com auxiliar) 4 a 5 anos: até 15 alunos (podendo chegar até 20, com auxiliar) a partir de 5 anos: até 22 alunos (podendo chegar até 24, com auxiliar)

Ensino Fundamental 1º ano: até 25 alunos 2º e 3º anos: até 28 alunos 4º e 5º anos: até 30 alunos 6º e 7º anos: até 36 alunos 8º e 9º anos: até 38 alunos

Ensino Médio até 40 alunos por turma

Outra novidade na Convenção da Educação Básica é a aproximação dos valores hora-aula da Educação Infantil e dos anos iniciais em relação aos anos finais do Ensino Fundamental, reduzindo a diferença em 20%, com pagamento em duas parcelas: agosto/2015 e janeiro/2016. “A inclusão da limitação de alunos por turma e aproximação dos valores hora-aula no Ensino Fundamental constitui um fato inédito na história da relação com o Sinepe/RS e nas Convenções Coletivas no Brasil. Já a aproximação dos valores hora-aula dos professores da educação fundamental corrige uma injustiça que vem penalizando os professores com a mesma formação”, afirma Cecília Farias, diretora do Sinpro/RS. Na Educação Superior, além do reajuste de 7,68%, a proposta prevê a manutenção da mesma carga horária de trabalho dos professores quando disciplinas em cursos presenciais forem transferidas para modalidade EAD e as disciplinas realizadas em regime especial de tutoria deverão ter seu pagamento efetuado mensalmente a partir do início de sua oferta, além de licença luto e abono para licença saúde. Para ampliar a participação dos professores na definição da pauta, o Sinpro/RS propôs a realização de 40 encontros em 21 cidades – com início em 17 de março -, de forma segmentada por nível de ensino: Educação Básica e Educação Superior, uma vez que as negociações acontecem em câmaras distintas. O ensino privado do Rio Grande do Sul, base Sinepe/RS, conta com aproximadamente 28.993 professores, que atuam da educação infantil à superior, e mais de 11 mil funcionários em 924 instituições de ensino.

Mensalidades Desde 1996, o Sinpro/RS monitora o reajuste das mensalidades praticado pelas instituições de ensino. Em 2015, o reajuste médio das mensalidades na Educação Básica está em 9,47% e, na Educação Superior, em 9,09%.

Sinepe O presidente do Sinepe/RS, Bruno Eizerik, entende que as reuniões transcorreram dentro da normalidade e com respeito, o que tem caracterizado, segundo ele, a negociação nos últimos anos. “Este clima contribuiu para que, dentro das possibilidades da escola particular gaúcha, os professores e técnicos em administração escolar possam ser valorizados”. Tanto professores como os técnicos em administração escolar apresentaram uma longa pauta de reivindicações, que passam por questões salariais e também de condições de trabalho.

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LANÇAMENTO

Trabalho extraclasse X direito ao descanso Uma disputa no âmbito do ensino privado

Marcos ressalta que, no ensino privado, os profissionais são horistas, ou seja, ganham por hora-aula, reuniões e participações internas na escola. Porém, todo o trabalho de desenvolvimento de atividades e de atendimento aos pais, não é pago, uma vez que o sindicato patronal considera inerente à hora-aula que já é paga.

Este é o título do livro lançado pelo Sindicato dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (Sinpro/RS), no primeiro semestre deste ano. Organizada por um dos diretores da entidade, Marcos Julio Fuhr, a obra traz textos que contemplam a análise sobre a legislação educacional e trabalhista, bem como o histórico de lutas e as políticas do Sindicato em defesa do direito à remuneração das atividades impostas aos professores e que extrapolam a carga horária contratada. O material integra o projeto Publicações Sinpro/RS e busca oportunizar à sociedade uma melhor compreensão do que acontece no ensino privado brasileiro. Uma vez que a escola particular é um meio desconhecido da sociedade, porque, segundo Fuhr, por ganharem um pouco melhor, as lutas dos professores dessa categoria não têm a mesma força. O livro é um foco no ambiente da opção de boa parte da classe média, quando se trata da educação de seus filhos. A abordagem apresenta vários enfoques sobre

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“Denunciamos esta realidade injusta há duas décadas, de levar ao Judiciário sem progresso substancial com relação ao assunto. Em 2011, tivemos uma iniciativa de grande repercussão. A de enfrentar esse problema pelo viés da defesa do direito ao descanso. No livro, artigos de diferentes protagonistas abordam essa realidade.” O diretor lembra que o trabalho extraclasse é realizado à noite, nos finais de semana e feriados. “Duvido que haja outra categoria profissional que tenha seu tempo tão absorvido pelo trabalho como o professor. É uma vida marcada por um trabalho permanente, que começa antes da sala de aula”. Para Fuhr, o problema inicia na falta de interesse por parte dos responsáveis pela educação. Afirma que, no ensino privado, os donos das escolas e as mantenedoras não valorizam o profissional a ponto de pagar o trabalho extraclasse. “A legislação garante que 1/3 do salário seja pago por essas tarefas. O problema é que a sociedade não conseguiu fazer do professor uma questão primordial, ou seja, a grande maioria não incorporou essa profissão como de vital importância”, lamenta.

Evolução Outra questão apontada por Marcos é a diferença de complexidade do trabalho extraclasse nos dias de hoje. – Há 30 anos, era mais simples. O professor era uma autoridade e os alunos, obedientes. Sem contar nos processos avaliativos, que eram mais básicos e objetivos. Hoje em dia as exigências são muito maiores e é preciso estar cada vez mais sintonizado com os pais. As tecnologias invadiram o ambiente escolar nos últimos 15 anos. Marcos pontua que no ensino público, por ser mais numeroso, as lutas acabam tendo maior repercussão nos meios de comunicação, por terem implicações políticas, geralmente com o intuito de desgastar um governante, o que faz com que se conceda um tratamento diferenciado à essa categoria. “Professores particulares têm contrato com as escolas, cada uma com suas regras distintas, o que dificulta a noção de categoria. Infelizmente, tudo o que acontece no ensino privado, está longe da visibilidade”, conclui o organizador do livro.

Marcos Fuhr, organizador do livro

foto: Igor Sperotto

o maior problema dos professores: a jornada de trabalho extraclasse, que não é remunerada – adianta o diretor.


FAMÍLIA

TESTAMENTO Quando tomar a decisão de fazer Muitos clientes não sabem a utilidade ou a necessidade de um testamento, apenas ouviram falar sobre isso e desejam expressar a sua última vontade. No entanto, sequer têm um objetivo específico para tal e não têm certeza se podem deixar seu legado para outras pessoas ou instituições. No direito brasileiro, duas são as espécies de sucessão: a legal, como estabelece a legislação civil, que determina a divisão do patrimônio entre os herdeiros (chamados de necessários), quais sejam, descendentes, ascendentes e o cônjuge ou companheiro. Na ausência destes, a herança será transmitida aos parentes colaterais (até o quarto grau, ou seja, primos, como regulamenta o artigo 1.839 do Código Civil). Caso não haja parentes habilitados para receber os bens, a herança acaba incorporada ao patrimônio do Município, ao do Distrito Federal ou ao da União. A outra forma de sucessão chama-se testamentária e decorre exclusivamente da vontade de alguém. Esta pode ser aplicada mesmo quando o testador tem herdeiros necessários. Por exemplo, alguém que pretende deixar determinado bem para uma pessoa específica, sendo ela parente ou não, ou quando quer que a partilha seja realizada numa determinada ordem, definindo quem receberá o que. Em outras circunstâncias, não tendo descendentes ou pais vivos, não quer que os bens fiquem com tios ou primos. Aqui resta demonstrada a utilidade do testamento. Cabe ao advogado orientar e esclarecer quais as condições e limitações do direito de testar, para que este importante instrumento jurídico, capaz de auxiliar o cliente, tranquilizando-o, não se torne uma folha de papel inútil, depois do óbito do testador. Comumente, destaca-se como uma das vantagens do testamento em relação a antecipação da partilha (também chamada de doação em vida) a não incidência imediata de imposto de transmissão. Isto, pois, o patrimônio somente será transmitido após o óbito e com o processo de validação do testamento. Neste caso, o imposto de transmissão será pago por quem recebe a herança, no momento em que ultimados os atos da partilha. Ainda pensando na vantagem deste ajuste

em vida, é que o testamento pode ser alterado a qualquer momento, ao passo que uma antecipação da partilha é, via de regra, irreversível. Dentre todas as dúvidas que permeiam o testamento, uma das mais frequentes diz respeito ao que pode ser testado. Tendo herdeiros necessários (como referido: descendentes, ascendentes e o cônjuge/companheiro), qualquer pessoa pode testar até metade do seu patrimônio. A outra metade fica resguardada, para ser transferida aos herdeiros. Não havendo descendentes diretos ou ascendentes, o patrimônio pode ser testado integralmente, na mais livre expressão de vontade do testador. O advogado assume papel importante de informar e esclarecer seu cliente sobre a forma como ele pode dispor dos seus bens, para não prejudicar nenhum herdeiro necessário. Assim, o testamento atingirá seu objetivo, qual seja, fazer valer a última manifestação de vontade quanto a forma e sobre a partilha de patrimônio acumulado ao longo de muitos anos de esforço. Outro fator a considerar, refere-se ao momento. O cliente não deve deixar para tratar desta delicada situação no último instante, sob pena deste momento nunca chegar e o cliente falecer antes de expressar sua última vontade. Apenas a título de informação, no âmbito do Rio Grande do Sul, o Colégio Notarial do Brasil mantém um Arquivo Central de Testamento, facilitando a pesquisa sobre a existência de testamentos, que pode ser realizada após o óbito de qualquer pessoa, desde que cumpridos os requisitos estabelecidos para essa consulta.

Márcio Sequeira da Silva Advogado, graduado pela PUCRS Pós-graduado em Direito pela UFRGS

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EDUCAÇÃO NO DIVÃ

Enem: Desempenho na redação reforça pouca intimidade com a leitura O poder imaginário que a leitura promove no desenvolvimento global do indivíduo, sempre esteve presente nas discussões docentes. A influência do conhecimento adquirido no dia a dia de crianças e jovens seria o grande trunfo libertador das ideias e criações. Ao ler, o indivíduo aciona a sua cadeia associativa de informações e acontecimentos, e como forma de expressar essa costura, encontraríamos o poder da escrita. Na narrativa, no faz de conta, ao contar e recontar fatos a pessoa se constrói e reconstrói a própria história. No ato de escrever encontramos mais do que reproduções. Nele, o indivíduo se coloca e insere conteúdos de sua bagagem, onde traz as aquisições perceptivas e cognitivas construídas. O que fazer, então, quando a competência da escrita aparece pouco desenvolvida no universo colegial? Presenciamos, através dos resultados do Enem, o sério diagnóstico, a partir do balanço divulgado pelo MEC, que mostra o expressivo número de pessoas que zeraram a redação, apontando como o principal motivo: a fuga do tema. As conclusões de especialistas e professores de língua portuguesa, alinham-se quando garantem que a falta de leitura e o restrito espaço da criação descritiva na vida do jovem, impediram a resposta positiva nas redações apresentadas no exame de 2014. O déficit na leitura e no exercício da redação caracterizam a fragilidade detectada na tarefa. A velocidade das informações inibe o desejo de debruçar-se sobre leituras mais profundas e demoradas. O conhecimento também pode chegar neste formato; no entanto, o que os jovens não contabilizam é que a superficialidade não sustenta as produções. Por mais que um professor se esforce para seu aluno ler, muitos elementos externos estarão circulando e o maior deles é o interesse. A aprendizagem se dá pelo desejo; assim a leitura e a escrita precisam estar em sintonia com este desejo. As demais costuras e temáticas estarão atreladas ao querer original, afinal, se o indivíduo não colocar sentido na sua ação, ele não muda sua conduta.

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A redação não é restrita a vida escolar, assim como não podemos dizer que não há preocupação por parte dos professores de gramática e literatura em desenvolver seus alunos e prepará-los para o futuro. O aluno precisa produzir e receber feedbacks de suas produções, em que sejam pontuados aspectos positivos e de melhoria. A escola atua como elemento direto, quando possui uma metodologia que incentiva, desperta e coloca o estudante para pensar sobre o que faz. A prática da escrita e a sua correção promovem efeitos no indivíduo, principalmente quando ele é convocado a desafiar-se. Não serão as redações trimestrais que farão com que os alunos despertem para esse universo ou que desenvolvam o prazer e a habilidade na escrita. Além disso, a produção textual não limita-se às disciplinas de português. O texto verbal, como o não verbal, devem ser o elemento central no processo de ensino/aprendizagem em qualquer disciplina. O exame que avalia o nível de conhecimentos e habilidades do jovem brasileiro pontuou que o déficit na compreensão da proposta de redação e aplicação dos conceitos dissertativo-argumentativo estão fragilizados. A capacidade em selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos e opiniões - necessários para a construção da argumentação - e o respeito pelo tema proposto ficaram devendo. Incentivar o aluno para o hábito da leitura, interpretação e escrita, promove, além de bons leitores, pessoas criativas, críticas e possivelmente mais conscientes, capazes de avaliar e analisar as possíveis escolhas de vida.

Daniella Caletti Psicóloga, especialista em Psicopedagogia Clínica, atua nas organizações em processos de Gestão de Pessoas


ENTRETENIMENTO

LIVROS LIVROS LIVROS LIVROS LIVROS Extraordinário August Pullman, o Auggie, nasceu com uma síndrome genética cuja sequela é uma severa deformidade facial, que lhe impôs diversas cirurgias e complicações médicas. Por isso ele nunca frequentou uma escola de verdade… até agora. Narrado da perspectiva de Auggie e também de seus familiares e amigos, com momentos comoventes e descontraídos, Extraordinário consegue captar o impacto forte e extraordinariamente positivo, que um menino pode causar na vida e no comportamento de todos, inclusive da comunidade. Uma história que toca os mais diversos tipos de leitor.

FILMES FILMES FILMES FILMES FILMES A Teoria de Tudo O filme A Teoria de Tudo, baseado na biografia de Stephen Hawking, mostra como o jovem astrofísico, teórico e cosmólogo britânico (Eddie Redmayne) fez descobertas importantes sobre o tempo, além de retratar o seu romance com a aluna de Cambridge, Jane Wide (Felicity Jones) e a descoberta de uma doença motora degenerativa - esclerose lateral amiotrófica - quando tinha apenas 21 anos.

DESTINOS DESTINOS DESTINOS DESTINOS Porto Alegre Considerada um dos 65 destinos propulsores do desenvolvimento turístico regional, Porto Alegre tem no Lago Guaíba o seu vizinho mais bonito. No coração verde da cidade, o Parque Farroupilha apresenta aos domingos o Brique da Redenção, onde artistas plásticos, atores, capoeiristas, roqueiros, cantores líricos, artesãos e vendedores promovem um encontro entre artes, antiguidades, crianças, políticos, turistas, enfim, um espaço democrático para todos. A cidade conta com eventos de grande porte para todas as idades, como a maior Feira do Livro a céu aberto da América Latina, na Praça da Alfândega e no Armazém do Cais do Porto. E para curtir a noite, a Cidade Baixa, bairro antigo de arquitetura açoriana, é o ponto mais boêmio e parada obrigatória.

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SAIBA MAIS

Brasil Expediente é o 60º colocado

Aos Mestres

O Brasil ficou na 60.ª posição (próximo das nações africanas) no ranking mundial de educação, divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Foram avaliados 76 países ricos e pobres um terço das nações do mundo, ­por Direção meio doGeral: desempenho de alunos de 15 anos em testes de Ciências e Matemática. Apesar de estar entre os países com pior desempenho, a organização avaliou no relatório que o Brasil tem grande potencial de crescimento econômico se conseguir proporcionar Ana Amélia Piuco educação básica universal para todos os adolescentes de 15 anos.Nosso sonho Márcio Sequeira

Paulo Pizzolotto Sérgio Cezimbra Cenário alarmante

Há um ano saía do forno a primeira edição de Mestres +, fruto de um sonho coletivo e do sincero desejo de provocar Direção Editorial: No ranking, o Brasil aparece com desempenho pior do que o de países como o Irã (51.º), que enfrentou guerra de grandesUm protransformações no modo de fazer euma pensar a Educação. Ana Lúcianas Zotto porções últimas décadas, e os vizinhos Chile (48.º) e Uruguai (55.º), que têm economias mais fracas do que a brasileira. Outros ano se passou, e somos gratos aos leitores, a toda equipe e três sul­ade mericanos ficaram entre os 15 piores colocados na avaliação: Argentina (62.º), Colômbia (67.º) e Peru (71.º). No ranking de Direção Arte e Design: 2012, que avaliou 65 países, o Brasil havia ficado em 58.º lugar. parceiros que, junto conosco, acreditam que é possível sim, Claudio Thiele revolucionar o ensino em nosso país. Redação:

Marcando esta data especial, conversamos com o psiquiatra, educador e escritor Içami Tiba. Autor do livro “Educação E o desafio continua Familiar – Presente e Futuro”, lançado no mês de abril, Para notícias, informações e sugestões de pautas: Tiba de – como gosta de ser chamado - falou ensino sobre contato@mestresmais.com.br Dos últimos objetivos traçados por líderes mundiais em 2000, no professor Fórum Mundial Educação, alguns deles como fornecer filhos, família, educação, limites, entre outros temas que primário a todas as crianças, não foram completamente alcançados. A tarefa para os governos, nos próximos 15 anos, é ajudar os Fone (51) 3930.6530 envolvem este complexoe universo danecessários educação dos cidadãos a se desenvolver e garantir que em 2030 todos eles tenham os conhecimentos habilidades parafilhos. ter uma Revisão: educação, trabalho e vidas adequados, avalia a OCDE, no relatório apresentado no mês de maio, durante o Fórum Mundial de EduTornar o Rio Grande do Sul o melhor Estado para se viver e cação, na Adão CoreiaLenartovicz do Sul. Professor trabalhar até o ano de 2020. Esta é a meta da Agenda 2020, Tiragem: movimento que, desde 2006, organiza propostas concretas Força asiática de interesse da sociedade riograndense. Ouvimos dirigentes 10.000 exemplares Países da Ásia estão no topo do ranking, com Cingapura em 1º, Hong Kong (região administrativa da China) 2º,para Coreia do Sul em da entidade sobre o que é possível serem feito recuperar o 3º, e Japão e Taiwan empatados em 4º lugar. Em um dos mais completos rankings mundiais qualidade de educação, a OCDE protagonismo do Estado nade área de Educação. mostra a relação entre educação e crescimento econômico. A última colocação coube à Gana, na África. Os asiáticos, que começaram a investir pesado em educação na década de 90, deixaram países industrializados ocidentais trás, como o Reino Unido, que Apresentamos também umapara entrevista com a escritora e ficou na 20ª posição, a França (23º), a Itália (27º), e os EUA, maiorilustradora economia do planeta, em 28º lugar, atrás de países mais pobres de livros infantis e juvenis, Eva Furnari, autora, como o Vietnã, em uma impressionante 12ª colocação. entre outros, da Bruxinha Zuzu. Italiana, adotou o Brasil como Claudio Ana seu país, onde vive desde os dois anos de idade. Com livros Enem e redação publicados no México, Equador, Guatemala, Bolívia e Itália, e títulos adaptados para o teatro, conquistou diversos prêmios. O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), José Francisco Soares, disse que o sistema de correção da redação do Exame Nacional do Ensino Médio é confiável e “completamente equilibrado” As regras Qual(Enem) o impacto do uso das redes sociais em sala. de aula? de redação ficaram mais rígidas em 2013, quando, em 2012, estudantes escreveram hinos de times de futebol e até mesmo receita Que embasamento pedagógico justifica a sua aplicação? De de macarrão na prova. Desde então, inserir propositadamente trechos desconectados do tema é motivo para anulação da redação. forma utilizar Facebook Twitter?emEstas e outras O Ministério da Educação (MEC) anunciou as regras das provas doque Enem 2015. As de redação estãoemantidas, que serão avaliaforam respondidas por educadores, das as mesmas cinco competências: domínio da norma formal daperguntas língua portuguesa, interpretação deespecialistas informações,eopiniões, arguAna mentos e defesa de um ponto de vista. OMárcio Enem 2015 será nos dias 25 de outubro. expectativa é de 9 milhões de inscrições. a 24 fime de orientar eA discutir o uso destas ferramentas nas escolas. Ana Lúcia Zotto

Família

A partir desta edição, convidamos os leitores a enviar, além de críticas e sugestões, questionamentos sobre Educação Estudo realizado por sociólogos da Universidade do Texas e da Universidade Duke, nos Estados Unidos,“Pergunte e publicadoaonoMestre” livro The dentro do universo jurídico. A coluna Broken Compass: Parental Involvement with Children’s Education (A bússola quebrada: envolvimento dos pais com a educação das a participação quatro advogados, especialistas na crianças) avaliou 63 formas de envolvimento dos pais com a escolatrará e concluiu que ajudar de na lição de casa pode piorar o desempenho área,elas quechegaram irão tirar lá, asadúvidas nossos leitores. Escrevam do aluno. Já no livro As crianças mais inteligentes do mundo - e como jornalistados norte-americana Amanda Ripley Sérgio Paulo mostra o que os países com melhor desempenho no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) têm em comum: para contato@mestresmais.com.br e participem! além de darem importância ao aprendizado, exigem mais das crianças e acreditam que elas são capazes de se superar.

Boa leitura. Fontes: O Estado de S. Paulo, Brasil Econômico, Portal M de Mulher Mestres Mais Geração de Conteúdo LTDA. CNPJ: 19.139.149/0001-84

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Ana Lúcia Zotto Diretora Editorial


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Escritório especializado em Direito Público, nas áreas de Direito Constitucional e Administrativo. Servidor Público | Previdência | Relação de Consumo | Família

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“A educação é a arma poderosa que você pode usar para mudar o mundo” Nelson Mandela


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