Mestres + Nº5

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E D I Ç ÃO N Ú M E RO 0 5 | D E Z E M B RO D E 2 0 1 5 | D I S T RI B U I Ç ÃO G R AT U I TA

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PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO Avanços e entraves após um ano da aprovação

COM A PALAVRA

Tania Zagury LITERATURA

Dilan Camargo e a transformação pela leitura CIDADANIA

Escola para a Vida D E Z E M B RO 2 0 1 5


2 + E D I TO RI A L

MUDANÇAS PARA ENCERRAR O ANO A Revista Mestres+ está encerrando o ano de 2015

Para a reportagem de capa, fomos conferir o an-

com novidades. A partir de agora, passa a ser totalmen-

damento do Plano Nacional de Educação (PNE), que

te confeccionada no Rio Grande do Sul. Uma nova equi-

estabelece 20 metas para serem cumpridas até 2024.

pe assume a produção, propondo algumas mudanças

Após quase dois anos do início de sua execução, algu-

editoriais e gráficas, mas preservando a sua essência:

mas metas começaram agora a serem postas à prova.

valorizar a carreira do professor, trazendo reportagens,

Por exemplo, a partir do dia 1º de janeiro de 2016, to-

ideias, conceitos e discussões que englobam o dia a dia

das as crianças com idade entre quatro e cinco anos

da sala de aula.

têm direito a uma vaga na educação infantil na rede

Na parte gráfica, procuramos tornar a Mestres+ ain-

pública municipal.

da mais atrativa, organizada, dinâmica e padronizada,

Na área da Literatura, Mestre+ foi conversar com o

atendendo assim às necessidades do público-leitor de

Patrono da 61ª Feira do Livro de Porto Alegre, Dilan Ca-

mais legibilidade das matérias. Buscamos uma com-

margo, que alertou para a importância dos mediado-

posição limpa das páginas, fazendo uso do elemento

res da leitura fazerem a aproximação entre as crianças

+ presente no logotipo da revista, mas acrescentando

e os adolescentes com os livros. Os leitores da Mes-

elipses e listras como elementos complementares,

tres+ também podem conferir matéria que abordam

além de novas formas de destaque para declarações.

ações de cidadania na escola, participação da família

Em relação ao conteúdo, nesta edição, os leitores poderão conferir uma entrevista com a especialista

no cotidiano escolar e a rotina estressante do professor. Confira!

em educação Tania Zagury, que fala sobre a mudança das relações dos pais e filhos, baseada numa ampla

Boa Leitura Vera Nunes

liberdade, a partir dos anos 70, e como isso afetou a relação com os professores.

Editora Mestres+

+ E X PE D I E N T E

EDIÇÃO Vera Nunes MTb 6198 REPORTAGEM Mauren Xavier MTb 12579 REVISÃO Landro Oviedo

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Para notícias, informações e sugestões de pautas: contato@mestresmais.com.br Fone: (51) 3930.6530 Mestres+ geração de Conteúdo LTDA. CNPJ: 19.139.149/0001-84 facebook.com/RevistaMestresMais issuu.com/mestresmais RE V I S TAwww.mestresmais.com.br M E S T RE S +

Paulo Pizolotto


SUMÁRIO

7

4

COM A PALAVRA

7

ESPECIAL

PNE: O QUE JÁ SAIU DO PAPEL

13

DIÁLOGOS

14

GESTÃO

17

AMBIENTE DE TRABALHO

18

LITERATURA

20

MUNDO DAS LETRAS

24 22

30

TANIA ZAGURY – É PRECISO DAR PODER AO PROFESSOR

PARCELAMENTO DE SALÁRIOS

BIBLIOTECAS NAS ESCOLAS

ASSÉDIO MORAL

DILAN CAMARGO

LEITURA ESTRANGEIRA SALÁRIOS

DÚVIDAS SOBRE A URV

24

PAPO CABEÇA

26

TECNOLOGIA

28

SAÚDE

30

COMPORTAMENTO

32

FAMÍLIA

33

EDUCAÇÃO NO DIVÃ

34

ENTRETENIMENTO

CIDADANIA NA ESCOLA

ENSINO ON-LINE

ESTRESSE DO PROFESSOR

A HORA DA LIÇÃO DE CASA

PAIS NA ESCOLA

O SENTIDO DE APRENDER

DICAS DA MESTRES+

D E Z E M B RO 2 0 1 5


4 + CO M A PA L AV R A

NA CRISE EDUCACIONAL, PROFESSORES DEVEM

SER OUVIDOS A liberdade excessiva dada pelos pais aos filhos reflete-se no cotidiano da escola. Para Tania Zagury, a saída é o “empoderamento” dos professores

Q

RE V I S TA M E S T RE S +

uando o modelo de relação entre pais e fi-

REVISTA MESTRES+: UMA DAS QUESTÕES MAIS IN-

lhos baseado na extrema liberdade começou

TERESSANTES DAS SUAS PUBLICAÇÕES E DOS TE-

a mostrar os seus primeiros sinais de falhas,

MAS QUE ABORDA EM SUAS PALESTRAS É QUE A

ela já destoava como uma voz de alerta entre os es-

LIBERDADE EM EXCESSO DADA ÀS CRIANÇAS DEN-

pecialistas da área da educação. Rapidamente e com

TRO DE CASA ACABOU TENDO REFLEXOS NEGATIVOS

a experiência de docente, ela conseguiu captar uma

NAS ESCOLAS. PODERIA, POR FAVOR, EXPLICAR UM

mudança de paradigmas que havia começado nos

POUCO MAIS SOBRE ESSA PERSPECTIVA?

lares e acertava com toda a força o coração das esco-

TANIA ZAGURY: O que está ocorrendo hoje nas es-

las, os professores. E que, atualmente, assoberbados

colas é, em grande parte, reflexo da forma de educar

de pressão e engessados, acabaram se tornando re-

dos anos 1970 em diante, em que os pais decidiram

féns desse panorama, no mínimo, assustador.

dar aos filhos a liberdade e o direito à argumentação,

Mas é em meio a esse clima de pessimismo,

inovação na relação, nunca antes experimentada.

que novamente, a sua voz destoa. Porém, com um

Até aquele momento, as famílias educavam de forma

otimismo único e uma visão consciente e clara do

hierarquizada e rígida, exercendo sua autoridade de

processo educacional. Estamos falando da carioca

forma muitas vezes coercitiva. O castigo, até mesmo

Tania Zagury. Com mais de 40 anos de experiência

físico, era frequente e considerado pedagogicamente

na área acadêmica, ela é considerada uma das prin-

adequado. Essa mudança foi reflexo da inquietação

cipais palestrantes do país quando o tema é edu-

e das grandes mudanças que estavam em curso na

cação. Além disso, acumula diversas publicações,

sociedade, a partir dos movimentos sociais e do pen-

muitas adotadas do meio acadêmico, sendo algu-

samento Pós-Guerra, a maioria de caráter libertário,

mas com centenas de tiragens. A seguir, trechos da

que começaram em torno dos anos sessenta, com

entrevista concedida para a revista Mestres+, em que

o existencialismo de Sartre, o movimento hippie, o

ela aborda a mudança na relação dos pais e filhos

tropicalismo, o feminismo e vários outros, inclusive

e como os professores devem ser “empoderados”

nas áreas da literatura e das artes. Como não poderia

(apesar de traduzir o que autora quer dizer, o termo

deixar de ser, influenciou também os baby-boomers,

não é oficialmente aceito ainda) para mudar a reali-

nome pelo qual ficou conhecida esta geração no to-

dade nas escolas.

cante à educação de seus filhos,


+ 5

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resultou em uma mudança de 180 graus. Houve uma má compreensão da liberdade do aluno. E isso recaiu sobre os professores. Se antes os estudantes não podiam nem ao menos fazer uma pergunta sem antes levantar o dedo e ter a autorização do professor, hoje, é o professor que, em certos casos, precisa “conseguir falar”. Há muitos relatos tristes sobre a situação dos docentes nas escolas, incluindo-se aí relatos de agressão física, verbal ou ameaças. E isso reflete a grave crise de autoridade na família - e na escola. E, claro, não se pode confundir autoridade com autoritarismo, coisa que nem todos percebem. Uma criança que decide tudo em casa, até mesmo se dá ou não bom-dia e se conversa ou

E COMO FOI ESSA VIRADA?

não com a vovó que veio visitá-la, obviamente

Essa nova concepção de mundo, naturalmente, se

transferirá para a escola – e para outras institui-

refletiu ao educarem seus filhos, porque o ser hu-

ções que irá frequentar – o que aprendeu em

mano é uno, portanto, não poderiam educar da

sua vivência familiar.

mesma forma pela qual foram educados, já que defendiam a ideia da autodeterminação e da li-

QUANDO FALAS EM REFÉM, É IMPOSSÍVEL NÃO

berdade. Ocorre que, como tudo que é novo, pode

PENSAR NA SEGUINTE LÓGICA. UMA PESSOA

haver certo exagero ao se aplicar uma teoria ainda

QUE É PRESA CONTRA A VONTADE, PERMANE-

não experimentada. Daí que, em muitos casos, os

CE NESSA SITUAÇÃO MESMO NÃO QUERENDO E

pais exageraram na concessão da liberdade, devido

QUE SOFRE COM ISSO. ENTÃO, A PROVOCAÇÃO

à rejeição que tinham a qualquer forma de autorita-

É: COMO SOLTAR ESSE REFÉM?

rismo. E esqueceram que ensinar limites é questão

A minha intenção ao dar esse título, “O Professor

que fundamenta a cidadania e a ética. Com liber-

refém, porque fracassa o ensino no Brasil”, ao li-

dade total, em muitos casos, os filhos cresceram

vro, foi chamar a atenção do leitor para a situa-

com uma noção inadequada do que é o mundo e

ção em que se encontra o docente hoje no Brasil.

a sociedade. As consequências desse exagero fo-

Além disso o estudo de campo comprovou que

ram apresentadas em meu primeiro estudo sobre

há uma necessária inter-relação entre limites e

a relação pais e filhos na sociedade moderna, des-

condições de aprendizagem. Os professores só

critas e identificadas no meu livro, publicado em

sairão da situação atual se lhes forem dadas as

1991, “Sem padecer no paraíso: em defesa dos pais

condições necessárias para que recuperem a au-

ou sobre a tirania dos filhos” (hoje com mais de 50

toridade docente e a autoestima. Outro aspecto

edições esgotadas e já na 39ª da edição revista e

importante do estudo e do livro citado é que fica

publicada na nova ortografia).

claro que a imposição de metodologias, estratégias de ensino e objetivos dos quais o profes-

E COMO ISSO REFLETIU NA ESCOLA?

sor não compartilha ou para os quais o docen-

A escola também acabou sendo atingida por esse

te não se sente preparado, contribui para que

pensamento e começou a refletir sobre como se

não alcancemos a qualidade desejada na edu-

adaptar. Só que houve uma série de problemas que

cação básica.

D E Z E M B RO 2 0 1 5


6 + E N T RE V I S TA

tivamente fazê-lo com eficiência. Não por outro motivo temos hoje no ensino médio alunos que

“SE ANTES OS ESTUDANTES NÃO PODIAM NEM AO MENOS FAZER UMA PERGUNTA SEM ANTES LEVANTAR O DEDO E TER A AUTORIZAÇÃO DO PROFESSOR, HOJE, É O PROFESSOR QUE, EM CERTOS CASOS, PRECISA ‘CONSEGUIR FALAR’.” Tania Zagury

mal compreendem o que leem. Parte deles já está na universidade e, posteriormente, vamos tê-los como profissionais, construindo prédios, escrevendo livros ou cuidando da saúde da população. E COMO MUDAR ISSO? Cada unidade escolar precisa definir seus próprios mecanismos de fortalecimento da equipe pedagógica, de forma que haja atitudes coesas e harmônicas em relação, por exemplo, a como re-

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ceber os pais ou de como se deve agir no caso de algum aluno tentar agredir o professor, etc. Isso torna a equipe mais segura sobre o que fazer em

E QUAIS FORAM AS CONSEQUÊNCIAS?

cada situação. Haver disciplina em sala de aula

Um exemplo do que acabei de dizer foi a adoção

não ofende ninguém, pelo contrário, propicia a

do sistema de ciclos com progressão continuada.

que surjam as précondições concretas e reais que

Embora esse sistema tenha toda a probabilidade

possibilitam a aprendizagem.

de sucesso se for convenientemente instalado,

RE V I S TA M E S T RE S +

para dar certo é preciso que o professor seja trei-

E A ATUAÇÃO DOS PAIS?

nado previamente e haja, no máximo, vinte alu-

Eles estão tímidos e sem coragem para agir. Mui-

nos em cada sala de aula. Além disso, é necessá-

tos temem os próprios filhos. Estão enfraquecidos

ria também a presença de um professor auxiliar.

na sua ação parental, desde o momento em que

Isso porque demanda atendimento individuali-

começaram a crer que qualquer “não” poderia ge-

zado para que se façam seguidas avaliações e se

rar traumas nos filhos, o que, evidentemente, os

possa acompanhar o progresso de cada aluno -

fragilizou. Foi essa a razão por que tentam hoje

em termos de aprendizagem individual. É esse o

passar para a escola a responsabilidade de es-

fator que permite que se progrida a criança para

tabelecer limites, de educar, de socializar enfim.

um ciclo superior, independentemente do ano le-

Mas como estão visivelmente inseguros, logo que

tivo. Ou seja: no exato momento em que o aluno

surge algum conflito com os filhos, tendem a cri-

mostra capacidade para avançar. No Brasil, o que

ticar a atuação da instituição. Estão com medo e

ocorreu? A simples manutenção do regime seriado

inseguros. Qualquer sanção educacional lhes pa-

sob uma capa de níveis e a automática aprovação

rece perigosa. Mas sanção pode e deve ser utiliza-

de todos os alunos para a série ulterior, indepen-

da. Temos hoje duas instituições (família e escola)

dentemente de se ter ou não alcançado o nível de

que, em muitos casos, estão praticamente invia-

saber mínimo. Não podia dar certo, entende? 95%

bilizadas para socializar. E isso precisa mudar o

dos docentes eram contra a medida, mas tiveram

quanto antes – em favor dos jovens e do futuro

que executá-la sem as mínimas condições de efe-

da educação.


E S PE C I A L + 7

PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO: RECUPERAR OS ATRASOS E PROJETAR O FUTURO O PNE é considerado essencial para avançar nas políticas públicas para a educação, mas o que preocupa gestores e educadores é o ritmo de sua implantação

M

mostra o box sobre a situação de cada meta e a sua

levando em consideração dívidas históri-

execução). É neste panorama que se faz importante

cas de exclusões e de pouca valorização,

uma reflexão sobre como o Plano pode efetivamen-

foi o pilar para a construção das 20 metas do Plano

te elevar o nível da educação brasileira e quais são

Nacional de Educação (PNE) 2014-2024. Após qua-

os seus entraves.

se dois anos do início de sua execução, algumas

Com uma onda de otimismo, o ministro da Edu-

metas começam agora a serem postas à prova. Por

cação, Aloizio Mercadante, que assumiu recente-

exemplo, a partir do dia 1º de janeiro de 2016, todas

mente a Pasta, afirmou que o PNE será a “bússola”

as crianças com idade entre 4 e 5 anos têm direito

da sua gestão. "Para superar desafios dessa en-

a uma vaga na educação infantil na rede pública

vergadura, é fundamental coordenar as ações em

municipal. Basicamente, as metas podem ser com-

educação da creche à pós-graduação, perseguindo

putadas pelo seu resultado efetivo e prático, tendo

todo o itinerário formativo", alertou o ministro, du-

como base dados oficiais sobre a educação (como

rante sua posse. Ele enalteceu ainda a importância do Sistema Nacional de Educação (SNE) para a im-

A2 Fotografia/Diogo Moreira

O PNE é essencial na evolução das políticas públicas para a educação

elhorar a qualidade do ensino no Brasil,

plantação efetiva do Plano. "Esse intenso processo de transformação que estamos vivendo não será sustentável e definitivo sem a garantia de acesso universal a uma educação de mais qualidade, pois é a educação o instrumento mais efetivo para a redução das desigualdades", afirmou. Defensora do Plano, a presidente do Cpers/Sindicato, Helenir Aguiar Schürer, considera que as metas trazem avanços consideráveis à educação brasileira. Ao mesmo tempo, questiona a sua implantação. Ao citar a situação do Rio Grande do Sul, ela não poupa críticas à atual gestão do governo do Estado. “Pelas ações da administração, está evidente que há um distanciamento do Estado quanto ao cumprimento D E Z E M B RO 2 0 1 5


8 + E S PE C I A L

das metas. A valorização da educação não ocorre efetivamente”, afirmou ela. Recentemente, durante audiência pública na Assembleia Legislativa do RS, em um debate sobre o Plano Estadual de Educação (PEE), o secretário estadual de educação, Vieira da Cunha, disse que o plano é essencial para avançar nas políticas públicas para a educação. Reconheceu a necessidade de avanços, como a urgência em relação aos índices do Ideb e o

“ESSE INTENSO PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO QUE ESTAMOS VIVENDO NÃO SERÁ SUSTENTÁVEL E DEFINITIVO SEM A GARANTIA DE ACESSO UNIVERSAL A UMA EDUCAÇÃO DE MAIS QUALIDADE, POIS É A EDUCAÇÃO O INSTRUMENTO MAIS EFETIVO PARA A REDUÇÃO DAS DESIGUALDADES.” Aloizio Mercadante

aumento de vagas do ensino de tempo integral. Para o pesquisador e integrante do Conselho Nacional de Educação (CNE), César Callegari, o Plano é ousado e “puxa a educação para cima”. A questão é

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que nem todas as metas são fáceis de serem realizadas. Ao mesmo tempo, caso não sejam atingidas, po-

Entre os municípios, os planos estão bem avança-

dem desmoralizar o PNE por completo. Para ele, nes-

dos. Há 5.319 com as suas leis sancionadas, num uni-

te panorama, o problema central é o financiamento.

verso de 5.570 municípios. Neste sentido o Rio Gran-

E não é para menos, principalmente, no momento

de do Sul aparece em posição privilegiada. Dos 497

em que a crise financeira do país tem levado a cortes

municípios, 494 já têm o plano sancionado e outros

nos orçamentos, especialmente no da educação e,

três tiveram a lei aprovada, mas aguardam a sanção.

automaticamente, com impacto nos seus projetos.

A capital gaúcha conta com projeto já aprovado.

“O alerta é grande neste momento. Retrair recursos

"Ao trazer a realidade das metas para a situação lo-

na educação é desmontar com sonhos e projetos.

cal, foi possível identificar que muitas delas já estão

Isso é grave e é muito difícil recuperá-los depois”,

quase atingidas ou superadas. Assim, o Plano per-

afirma Callegari.

mitiu avançarmos em algumas questões, como o debate dos direitos humanos", explica a assessora

AVANÇOS DO PNE DEPENDEM DA ATUAÇÃO LOCAL

institucional da Secretaria Municipal de Porto Alegre (SMED), Célia Trevisan Teixeira. Outro avanço no Pla-

Chega a ser ingenuidade acreditar que as diretrizes

no Municipal, que foi aprovado em 25 de junho des-

de um plano nacional possam ser implantadas com

te ano, é em relação à educação infantil. Além das

facilidade e de maneira igual em todas as localidades

metas do PNE, a proposta local prevê uma avaliação

de um país tão vasto como o Brasil. E, na prática, é exa-

mais ampla e também a regularização da rede. Para

tamente isso que ocorre. Tanto que o PNE é articulado

ela, o desafio agora é ampliar as informações entre a

como uma via de mão dupla, com os Planos Estaduais

comunidade escolar.

e Municipais de Educação, que levam em consideração essas particularidades.

Especificamente sobre a meta de disponibilizar vagas para as crianças com idades entre 4 e 5 anos

Segundo dados do Ministério da Educação, entre os

na Capital a partir do ano que vem, Célia disse que

estados, o mais atrasado é o Rio de Janeiro, que está

será cumprida, porém, reconhece que há necessi-

apenas com o documento-base do seu Plano elabora-

dade de esclarecimentos sobre a questão do finan-

do. Há dois outros, Bahia e Ceará, que estão com o pro-

ciamento. “As escolas infantis são mais caras, já que

jeto de lei elaborado, aguardando o restante da tramita-

precisam de outros instrumentos, equipamentos e

ção. Seis estados, entre eles São Paulo e Santa Catarina,

espaços, além de exigir um número maior de fun-

estão com as propostas nas respectivas Assembleias

cionários para um grupo menor de alunos, mas a lei

Legislativas para votação. A maioria, 18 estados, incluin-

deixa algumas brechas sobre de onde os recursos

do o Rio Grande do Sul, já conta com a lei sancionada.

virão”, questiona.

RE V I S TA M E S T RE S +


A2 Fotografia/Diogo Moreira

+ 9

ção. Em Cerro Largo, mais de 70% dos professores têm duas formações de pós-graduação. Ao mesmo tempo, Márcia avalia que nem todas as metas serão efetivamente exequíveis. Cita o caso da que prevê desvincular a folha de pagamento dos professores dos gastos dos governos com funcionalismo.

MUNICÍPIOS SOBRECARREGADOS A importância das metas do PNE são inquestionáveis, porém, a preocupação é grande nos muni-

/////////////////////////////// Universalizar a educação infantil é uma das metas do Plano

cípios. Isso porque boa parte das metas envolve a educação infantil e fundamental, que são de responsabilidade das prefeituras. Segundo o presidente da Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais

VALORIZAÇÃO DOS PROFESSORES AINDA DEPENDE DOS GOVERNOS Um dos pilares para uma educação de qualidade

de Educação), Alessio Costa Lima, as prefeituras têm investido para fortalecer a sua rede e alguns resultados já são notados. Ele cita os dados da Prova Brasil.

é a valorização dos professores. É evidente que para

Ao mesmo tempo, Lima aponta para a necessi-

tal, além do apoio da comunidade, há a questão

dade de revisão nos repasses de recursos. "As prefei-

financeira. Segundo especialistas, ainda há discre-

turas abraçaram inúmeros desafios relacionados à

pâncias entre os valores pagos aos docentes pelo

educação, como a ampliação das vagas nas creches

país. A presidente do Cpers/Sindicato, cita o caso

e escolas. Ao mesmo tempo, não houve a contra-

do não cumprimento do piso no Rio Grande do Sul.

partida financeira necessária. Ele explica ainda que,

Para ela, esse tipo de postura afasta os professores,

com o PNE, os municípios se tornam responsáveis

que acabam perdendo o interesse na profissão e ru-

por 14 anos de educação dos alunos, enquanto que

mam para outras áreas. “É preciso que haja diálogo

os estados ficaram com o ensino médio e em alguns

e avanços. Caso contrário, como garantir a melhoria

casos com parte do fundamental. "Sem recursos não

da educação num ambiente em que os alunos não

temos (prefeituras) como garantir professores e nem

têm nem estrutura mínima para estudar?”, questiona

estrutura adequados para atender as metas", avalia.

a Helenir Aguiar Schürer. Presidente há 7 anos do Sindicato dos Professores de Campo Largo, no Paraná, Márcia Tottene reconhece a dificuldade de se manter um docente no sistema de educação público. E considera importante a meta do PNE que prevê o plano de carreira. “O piso veio para valorizar uma categoria que que havia muito tempo acumulava perdas. Gradativamente, os salários estão aumentando. Não na velocidade esperada, mas está ocorrendo. A recuperação salarial tem sido sempre maior do que a inflação”, ressalta. Ela também considera importantes as metas que preveem a reciclagem e maior formação dos profes-

“É PRECISO QUE HAJA DIÁLOGO E AVANÇOS. CASO CONTRÁRIO, COMO GARANTIR A MELHORIA DA EDUCAÇÃO NUM AMBIENTE EM QUE OS ALUNOS NÃO TÊM NEM ESTRUTURA MÍNIMA PARA ESTUDAR?” Helenir Aguiar Schürer

sores. “O ideal seria que o poder público oferecesse cursos gratuitos. Mas é grande o número de docentes que, por iniciativa própria, buscam essa forma-

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1 0 + E S PE C I A L

SITUAÇÃO DAS METAS DO PNE (O PANORAMA DO PNE 2014-2024*)

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META 1 – EDUCAÇÃO INFANTIL Universalizar até 2016 a educação infantil na pré-escola para as crianças de 4 a 5 anos de idade e ampliar a oferta de educação infantil em creches de forma a atender, no mínimo, 50% das crianças de até 3 anos até o final da vigência deste PNE. • Indicador 1A - Percentual da população de 4 e 5 anos que frequenta a escola. Meta Brasil: 100% - Atingido no Brasil: 81,4% | RS: 63,8% • Indicador 1B - Percentual da população de 0 a 3 anos que frequenta a escola. Meta Brasil: 50% - Atingido no Brasil: 23,2% | RS: 29,9% META 2 – ENSINO FUNDAMENTAL Universalizar o ensino fundamental de 9 anos para toda a população de 6 a 14 anos e garantir que pelo menos 95% dos alunos concluam essa etapa na idade recomendada até o último ano do PNE. • Indicador 2A - Percentual da população de 6 a 14 anos que frequenta a escola. Meta Brasil: 100% - Atingido pelo Brasil: 98,4% - RS: 98,3% • Indicador 2B - Percentual de pessoas de 16 anos com pelo menos o ensino fundamental concluído. Meta Brasil: 95% - Atingido pelo Brasil: 66,7% - RS: 69,8% META 4 – INCLUSÃO Universalizar, para a população de 4 a 17 anos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, o acesso à educação básica e ao atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino, com a garantia de sistema educacional inclusivo, de salas de recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou conveniados. • Indicador 4 - Percentual da população de 4 a 17 anos com deficiência que frequenta a escola. Meta Brasil: 100% - Atingido pelo Brasil: 85,8% - RS: 83,4%

META 6 – EDUCAÇÃO INTEGRAL Oferecer educação em tempo integral em, no mínimo, 50% das escolas públicas, de forma a atender, pelo menos, 25% dos alunos da educação básica. • Indicador 6A - Percentual de escolas públicas com alunos que permanecem pelo menos 7h em atividades escolares. Meta Brasil: 50% - Atingido no Brasil: 34,7% - RS: 43,5% • Indicador 6B - Percentual de alunos que permanecem pelo menos 7h em atividades escolares. Meta Brasil: 25% Atingido no Brasil: 13,2% - RS: 15,0%

RE V I S TA M E S T RE S +

META 3 – ENSINO MÉDIO Universalizar, até 2016, o atendimento escolar para toda a população de 15 a 17 anos e elevar, até o final do PNE, a taxa líquida de matrículas no ensino médio para 85%. • Indicador 3A - Percentual da população de 15 a 17 anos que frequenta a escola. Meta Brasil: 100% - Atingido pelo Brasil: 84,3% - RS: 84,5% • Indicador 3B - Taxa de escolarização líquida no ensino médio da população de 15 a 17 anos. Meta Brasil: 85% - Atingido pelo Brasil: 55,3% - RS: 55,5% META 5 – ALFABETIZAÇÃO INFANTIL Alfabetizar todas as crianças, no máximo, até o final do 3º ano do ensino fundamental. • Indicador 5A - Estudantes com proficiência insuficiente em Leitura (nível 1 da escala de proficiência)** Meta Brasil: 0% - Atingido pelo Brasil: 22,2% • Indicador 5B - Estudantes com proficiência insuficiente em Escrita (níveis 1, 2 e 3 da escala de proficiência)** Meta Brasil: 0% - Atingido pelo Brasil: 34,4% • Indicador 5C - Estudantes com proficiência insuficiente em Matemática (níveis 1 e 2 da escala de proficiência)** Meta Brasil: 0% - Atingido pelo Brasil: 51,1%

META 7 – QUALIDADE DA EDUCAÇÃO BÁSICA/IDEB Fomentar a qualidade da educação básica em todas as etapas e modalidades, com melhoria do fluxo escolar e da aprendizagem de modo a atingir as seguintes médias nacionais para o Ideb: 6,0 nos anos iniciais do ensino fundamental; 5,5 nos anos finais do ensino fundamental; 5,2 no ensino médio. • Indicador 7A - Média do IDEB nos anos iniciais do ensino fundamental. Meta do Brasil: 5,2 - Atingido pelo Brasil: 5,2 RS: 5,6 • Indicador 7B - Média do IDEB nos anos finais do ensino fundamental. Meta do Brasil: 4,7% - Atingido pelo Brasil: 4,2 - RS: 4,2 • Indicador 7C - Média do IDEB do ensino médio. Meta do Brasil: 4,3% 0 Atingido pelo Brasil: 3,7% - RS: 3,9


+ 11

///////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// META 8 – ELEVAÇÃO DA ESCOLARIDADE/DIVERSIDADE Elevar a escolaridade média da população de 18 a 29 anos, de modo a alcançar, no mínimo, 12 anos de estudo no período do Plano, para as populações do campo, da região de menor escolaridade no País e dos 25% mais pobres, e igualar a escolaridade média entre negros e não negros declarados ao IBGE. • Indicador 8A - Escolaridade média da população de 18 a 29 anos. Meta do Brasil: 12 anos - Atingido pelo Brasil: 9,8 - RS: 10 • Indicador 8B - Escolaridade média da população de 18 a 29 anos residente em área rural. Meta do Brasil: 12 anos - Atingido pelo Brasil: 7,8 - RS: 9 • Indicador 8C - Escolaridade média da população de 18 a 29 anos entre os 25% mais pobres. Meta do Brasil: 12 anos - Atingido pelo Brasil: 7,8 - RS: 8,1 • Indicador 8D - Razão entre a escolaridade média da população negra e da população não negra de 18 a 29 anos. Meta do Brasil: 100% - Atingido pelo Brasil: 92,2% - RS: 90% META 9 – ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Elevar a taxa de alfabetização da população com 15 anos ou mais para 93,5% até 2015 e, até o final da vigência deste PNE, erradicar o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% a taxa de analfabetismo funcional. • Indicador 9A - Taxa de alfabetização da população de 15 anos ou mais de idade. Meta Brasil: 93,50% - Atingido pelo Brasil: 91,5% - RS: 95,6% • Indicador 9B - Taxa de analfabetismo funcional da população de 15 anos ou mais de idade. Meta Brasil: 15,30% - Atingido pelo Brasil: 29,4% - RS: 30%

META 10 – EJA INTEGRADA Oferecer, no mínimo, 25% das matrículas de educação de jovens e adultos, nos ensinos fundamental e médio, na forma integrada à educação profissional. • Indicador 10 - Percentual de matrículas de educação de jovens e adultos na forma integrada à educação profissional. Meta Brasil: 25% - Atingido pelo Brasil: 1,7% - RS: 1,3%

META 11 – EDUCAÇÃO PROFISSIONAL Triplicar as matrículas da educação profissional técnica de nível médio, assegurando a qualidade da oferta e pelo menos 50% da expansão no segmento público. • Indicador 11A - Matrículas em educação profissional técnica de nível médio. Meta Brasil: 4.808.838 matrículas - Atingido pelo Brasil: 1.602.946 matrículas - RS: 105.297 matrículas • Indicador 11B - Matrículas em educação profissional técnica de nível médio na rede pública. Meta Brasil: 2.503.465 matrículas- Atingido pelo Brasil: 900.519 matrículas - RS: 62.351 matrículas

META 12 – EDUCAÇÃO SUPERIOR Elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos, assegurada a qualidade da oferta e expansão para, pelo menos, 40% das novas matrículas, no segmento público. • Indicador 12A - Taxa de escolarização bruta na educação superior da população de 18 a 24 anos. Meta Brasil: 50% - Atingido pelo Brasil: 30,3% - RS: 36,6% • Indicador 12B - Taxa de escolarização líquida ajustada na educação superior da população de 18 a 24 anos. Meta Brasil: 33% - Atingido pelo Brasil: 20,1% - RS: 22,3%

META 13 – QUALIDADE DA EDUCAÇÃO SUPERIOR Elevar a qualidade da educação superior e ampliar a proporção de mestres e doutores do corpo docente em efetivo exercício no conjunto do sistema de educação superior para 75%, sendo, do total, no mínimo, 35% doutores. • Indicador 13A - Percentual de funções docentes na educação superior com mestrado ou doutorado. Meta Brasil: 75% Atingido pelo Brasil: 69,5% - RS: 82,3% • Indicador 13B - Percentual de funções docentes na educação superior com doutorado.Meta Brasil: 35% - Atingido pelo Brasil: 32,1% - RS: 39,8%

D E Z E M B RO 2 0 1 5


1 2 + E S PE C I A L

META 14 – PÓS-GRADUAÇÃO Elevar gradualmente o número de matrículas na pós-graduação stricto sensu, de modo a atingir a titulação anual de 60.000 mestres e 25.000 doutores. • Indicador 14A - Número de títulos de mestrado concedidos por ano. Meta Brasil: 60 mil títulos Atingido pelo Brasil: 47.138 - RS: 3.898 • Indicador 14B - Número de títulos de doutorado concedidos por ano. Meta Brasil: 25 mil títulos Atingido pelo Brasil: 13.912 títulos - RS: 1.237 títulos

META 15 – PROFISSIONAIS DE EDUCAÇÃO Garantir, em regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, no prazo de 1 (um) ano de vigência deste PNE, política nacional de formação dos profissionais da educação de que tratam os incisos I, II e III do caput do art. 61 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, assegurado que todos os professores e as professoras da educação básica possuam formação específica de nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de conhecimento em que atuam. • (Não foi calculada a situação dos entes federativos nesta meta nacional)

META 18 – PLANOS DE CARREIRA Assegurar, no prazo de 2 anos, a existência de planos de carreira para os(as) profissionais da educação básica e superior pública de todos os sistemas de ensino e, para o plano de carreira dos(as) profissionais da educação básica pública, tomar como referência o piso salarial nacional profissional, definido em lei federal, nos termos do inciso VIII do art. 206 da Constituição Federal. • (Não foi calculada a situação dos entes federativos nesta meta nacional)

META 16 – FORMAÇÃO Formar, em nível de pós-graduação, 50% (cinquenta por cento) dos professores da educação básica, até o último ano de vigência deste PNE, e garantir a todos(as) os(as) profissionais da educação básica formação continuada em sua área de atuação, considerando as necessidades, demandas e contextualizações dos sistemas de ensino. • Indicador 16 - Percentual de professores da educação básica com pós-graduação lato sensu ou stricto sensu. Meta Brasil: 50% - Atingido pelo Brasil: 30,2% - RS: 38,1%

META 17 – VALORIZAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DO MAGISTÉRIO Valorizar os(as) profissionais do magistério das redes públicas de educação básica de forma a equiparar seu rendimento médio ao dos(as) demais profissionais com escolaridade equivalente, até o final do sexto ano de vigência deste PNE. • Indicador 17 - Razão entre salários dos professores da educação básica, na rede pública (não federal), e não professores, com escolaridade equivalente. Meta Brasil: 100% - Atingido pelo Brasil: 72,7% - RS: 79,7%

META 19 – GESTÃO DEMOCRÁTICA Assegurar condições, no prazo de 2 anos, para a efetivação da gestão democrática da educação, associada a critérios técnicos de mérito e desempenho e à consulta pública à comunidade escolar, no âmbito das escolas públicas, prevendo recursos e apoio técnico da União para tanto. • (Não foi calculada a situação dos entes federativos nesta meta nacional)

META 20 – FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO Ampliar o investimento público em educação pública de forma a atingir, no mínimo, o patamar de 7% do PIB do País no 5º ano de vigência desta Lei e, no mínimo, o equivalente a 10% do PIB ao final do decênio. • (Não foi calculada a situação dos entes federativos nesta meta nacional)

//////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// * Informações do MEC em outubro de 2015 ** Os indicadores dessa meta apontam os ‘estudantes com proficiência insuficiente’. Ao alfabetizar todas as crianças, a meta se torna zerar esse valor. Fonte: http://simec.mec.gov.br/pde/graficopne.php

RE V I S TA M E S T RE S +


D I Á LO G O S CO M O D I RE I TO + 1 3

AS CONSEQUÊNCIAS DO PARCELAMENTO DOS SALÁRIOS DOS SERVIDORES PÚBLICOS ESTADUAIS A medida do Poder Executivo produziu forte sentimento de injustiça, desequilíbrio e insegurança na vida dos servidores e de suas famílias

A

medida de parcelamento de salários dos

absoluta prioridade, não podendo a dificuldade

servidores do Poder Executivo, aplicada em

financeira enfrentada pelo Estado servir como justi-

decorrência da alegada precariedade das

ficativa para violar frontalmente garantias constitu-

finanças do Estado do RS, produziu forte sentimento de injustiça, desequilíbrio e insegurança na vida dos servidores e de suas famílias.

cionais inerentes a qualquer cidadão. Ainda cabe observar que a medida de parcelamento não atingiu os demais poderes, como o Legis-

Os pagamentos parcelados ocorridos nos meses

lativo e Judiciário, que continuam recebendo seus

de julho e agosto de 2015 desatenderam diversas

vencimentos, normalmente, como se pertencessem

determinações judiciais concedidas no sentido de

a outro estado da Federação, alheios às agruras a

garantir a integralidade dos vencimentos aos funcio-

que têm sido submetidos os servidores vinculados

nários públicos.

ao Executivo.

Nas decisões judiciais, entendeu o Tribunal de

Mais um mês vem pela frente e, diferentemente,

Justiça do Estado do RS que o poder público tem a

de uma empresa em recuperação judicial que pos-

obrigação constitucional e legal de remunerar seus

sui um plano de trabalho, com metas estatísticas,

servidores de forma tempestiva pelos serviços efe-

estudos e metodologia, seguiremos vendo nosso

tivamente prestados.

tão querido Estado sem plano algum, à deriva como

Outro problema iminente é a possível falta de recursos para o pagamento do 13º salário dos servidores.

uma nau desgovernada. Restam descumpridas, pois, a Constituição Federal, a Constituição Estadual, bem como a Lei de Aces-

O parcelamento e o não pagamento do 13º salário

so à Informação, já que nenhum dado claro e consis-

por parte do governo estadual afrontam a Constitui-

tente sobre as finanças públicas e o pagamento dos

ção do RS, que prevê o pagamento da remuneração

salários é passado aos servidores.

mensal dos servidores até o último dia útil do mês em referência, e a Constituição Federal, que prevê o

ANA AMÉLIA PIUCO Advogada graduada pela PUC/RS e Pós-Graduada pela UFRGS

Triste situação para os servidores públicos e também para todos os cidadãos gaúchos.

pagamento do 13º. O Estado é passível de pagamento de multa, além de responsabilização criminal do

os direitos sociais dos servidores públicos, tornando

HÁ UM DESCUMPRIMENTO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, UMA VEZ QUE O PARCELAMENTO DO SALÁRIO VIOLA O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, BEM COMO OS DIREITOS SOCIAIS DOS SERVIDORES PÚBLICOS.

temerária a manutenção de seu próprio sustento e

Ana Amélia Piuco

gestor, caso não ocorra a comprovação da absoluta inviabilidade de seu cumprimento. Pode-se chegar, inclusive, ao início de processo de impeachment. Além disso, há um descumprimento da Constituição Federal, uma vez que viola o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, bem como

também de sua família. Por fim, a remuneração dos servidores tem natureza alimentar, devendo, portanto, ser tratada com

////////////////////////////////////////////// D E Z E M B RO 2 0 1 5


1 4 + G E S TÃO

Os desafios das

BIBLIOTECAS BRASILEIRAS Para atender à lei, que garante uma biblioteca por escola pública e privada, seria necessária a construção de mais de mil bibliotecas por dia no país

O

Brasil está bem distante de atingir a meta de ga-

“A dívida histórica em relação à educação no Brasil é

rantir uma biblioteca por escola pública e priva-

muito grande. E saldá-la não é fácil. O acesso ao ensi-

da, segundo prevê a lei 12.244/10. Seria neces-

no fundamental só foi universalizado na década de 90”,

sário erguer 64,3 mil espaços até 2020, de acordo com

recorda. Assim, ainda existe muito a ser feito antes de

o estudo do portal QEdu, da Fundação Lemann, com

as bibliotecas se tornarem prioridades orçamentárias.

base nas informações do Censo Escolar 2014. Prova-

Além disso, são grandes as dificuldades de encon-

velmente, segundo especialistas, esse objetivo não

trar e contratar profissionais capacitados para assumir

será alcançado e as justificativas são muitas. A mais

essa tarefa. “Não há bibliotecários suficientes e prontos

simples é um cálculo matemático que prevê a cons-

para esse desafio”, ressalta Franco. Um exemplo é o

trução de mais de mil bibliotecas por dia para atingir a

crescimento das escolas em áreas mais afastadas dos

universalização das instituições.

grandes centros, onde contratar esse tipo de profissio-

A questão é que os dados precisam de reflexão e análise. Alguns números, infelizmente, não chegam a

nal não é fácil. Para o especialista, infelizmente a lei se tornou apenas “mais uma lei”.

surpreender, como o baixo índice desses equipamentos

Porém, sua análise está longe de ser pessimista. Ele

escolares no Norte e Nordeste e, do outro lado da balan-

acredita que a criação das bibliotecas precisa ser esti-

ça, está a grande presença nas escolas da Região Sul.

mulada pelo impacto positivo que gera na educação dos estudantes, mas que o desafio pode ser enfrenta-

FALTA DE RECURSOS

do de outras maneiras. Uma delas é a disponibilidade

Um dos motivos que justificam a falta de bibliotecas

de conteúdo on-line, que já conta com um acervo de

é a ausência de investimentos. Segundo o coordena-

peso e com custo baixo. Outra dica são espaços com-

dor de projetos da Fundação Lemann, Ernesto Martins

partilhados, o que pode reduzir custos de manutenção

Franco, é difícil cobrar que uma escola destine recursos

e garantir o acesso a um acervo qualificado. Assim, es-

para a construção de um espaço quando não tem nem

colas próximas poderiam concentrar os seus recursos

para equipar uma sala ou garantir o transporte escolar.

num espaço.

DESMITIFICAR AS BIBLIOTECAS Apenas 7% dos alunos frequentam as bibliotecas assiduamente. Esse é outro indicativo preocupante

Fábrica do Saber: desafio de aperfeiçoar o acervo

RE V I S TA M E S T RE S +

Fábrica do Saber / Divulgação

quando se aborda a importância desse equipamento escolar. Segundo a última pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, do Instituto Pró-Livro, que buscou identificar o comportamento do leitor, 71% veem as bibliotecas apenas como um espaço de estudo. Os dados apontaram que 61% consideram-na um lugar de pesquisa


e 28% como um espaço para estudantes. Uma questão curiosa é que, entre os entrevistados gerais, a biblioteca aparece em terceiro lugar sobre formas de acesso ao livro. Ao mesmo tempo, no grupo de estudantes, ela é a

Renato Araújo/Abr

15

/////////////////////////////////////////////

principal forma, realçando a importância desses equipamentos para estimular a leitura. Segundo a gerente-executiva de Projetos do Instituto Pró-livro e coordenadora da Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, Zoara Failla, a biblioteca precisa e deve ser um local acolhedor e estimular a descoberta de livros e autores. Porém, não bastam apenas equipamentos. São necessárias outras coisas, como acervo atualizado e abrangente e iniciativas que des-

Barazzetti Machado, a inspiração veio do projeto Faróis

pertem a curiosidade dos alunos. Na prática, porém,

do Saber, de Curitiba (PR), que transforma os espaços

a situação é bem diferente. “Não é esse o retrato da

em polo cultural e de pesquisa.

maioria das bibliotecas no Brasil. Muitas estão fecha-

A Fábrica do Saber é uma biblioteca comunitária,

das, pois não têm profissionais para atender ou fun-

administrada pela Escola Municipal de Ensino Fun-

cionam sem um acervo atualizado. Por fim, o uso des-

damental Presidente Nilo Peçanha, da Secretaria de

se equipamento não está integrado ao projeto escolar

Educação de Novo Hamburgo, e, assim, tem a respon-

e às disciplinas”, avalia.

sabilidade de atender a todas as escolas da rede. Quem

A CRIATIVIDADE VENCE

A biblioteca deve ser um local acolhedor e estimular a descoberta de livros e autores

atualmente acompanha as atividades e utiliza o equipamento escolar pode não perceber as dificuldades

E quando as dificuldades são grandes, a maior res-

enfrentadas. Milene recorda que um dos desafios re-

ponsabilidade recai sobre os professores e bibliotecá-

centes foi o de aperfeiçoar o acervo. E com as limitações

rios, que normalmente precisam romper barreiras para

financeiras, a solução foi buscar o apoio de editoras e de

reverter a situação. E muitas vezes é a criatividade o

programas do governo federal. O resultado foi o salto de

gesto que mais transforma.

3.200 livros, em 2013, para 7.250 neste ano. Nas estantes

Um exemplo é a biblioteca Fábrica do Saber, no

estão obras de referência e pesquisa, literatura adulta,

município de Novo Hamburgo, na Região Metropoli-

juvenil e infantil. “Então nos resta ter jogo de cintura e

tana de Porto Alegre. Desde 2002, o espaço se tornou

trabalhar com essas adversidades. O que não se pode

uma referência. Uma das grandes diferenças é que a

fazer é cruzar os braços e ficar só reclamando, tem que

biblioteca não é estática. Ao contrário, está em cons-

ir atrás. Este ano ampliamos os livros para pessoas com

tante agitação. Mais do que disponibilizar um acervo

deficiência visual após procurar ajuda de uma fundação

vasto, são oferecidas outras atividades que valorizam

que trabalha com publicações em braile e letras amplia-

o equipamento escolar, como a contação de histó-

das”, ressalta.

rias, mediação de leitura e auxílio à pesquisa. Segun-

Porém, ela reconhece que para ser atrativa é funda-

do a responsável pela biblioteca, a professora Milene

mental a atuação dos profissionais. “O ideal seria que

A DÍVIDA HISTÓRICA EM RELAÇÃO À EDUCAÇÃO NO BRASIL É MUITO GRANDE. E SALDÁ-LA NÃO É FÁCIL. O ACESSO AO ENSINO FUNDAMENTAL SÓ FOI UNIVERSALIZADO NA DÉCADA DE 90 Ernesto Martins Franco

D E Z E M B RO 2 0 1 5


1 6 + G E S TÃO

*Fonte: Fundação Lemann

ESCOLAS PÚBLICAS COM BIBLIOTECA*

Região Norte

26% Região Nordeste

30% Região Centro-Oeste

63%

Região Sudeste

71% Região Sul

77% todas as bibliotecas tivessem um (ou vários) bibliotecá-

sições culturais e saraus também são formas de atrair

rio ou técnico em biblioteconomia e um mediador de

a comunidade para dentro do espaço, explica Milena.

leitura (professor, educador)”, enfatiza, sem se esquecer

Apesar do entusiasmo com o projeto, a professora

do clima “acolhedor e alegre”.

RE V I S TA M E S T RE S +

afirma que o trabalho é árduo, lento e exige muita pa-

E vai além. Os espaços devem contar ainda, além

ciência. “É preciso ter uma paixão especial pelos livros,

de livros, com jogos, computadores e diversos mate-

pelas formas de ler, de contar.” E esse sentimento é com-

riais de maneira a permitir vários tipos de interação

pensado com o crescimento contínuo dos usuários, que

relacionados à leitura. Segundo ela, é esse conjunto

vão além dos alunos, incluindo também a comunidade.

que faz com que haja a transformação da bibliote-

“Investir em bibliotecas é investir em cultura e conheci-

ca. E cita, por exemplo, o trabalho de contação de

mento. A pessoa que lê tem uma visão melhor do mun-

histórias, que é uma forma eficiente de despertar a

do. Acredito que a maioria dos problemas sociais que

curiosidade em torno dos livros. E a contação nem

observamos hoje tem a ver com a falta de leitura e co-

sempre significa a leitura integral, pois, às vezes, até

nhecimento. Quanto mais temos conhecimento, ficamos

a leitura de trechos em voz alta já é suficiente. Expo-

menos intransigentes. A leitura traz cidadania”, finaliza.


AMBIENTE DE TRABALHO + 17

PRECISAMOS FALAR SOBRE O ASSÉDIO MORAL NO SERVIÇO PÚBLICO O assédio consiste em expor sistematicamente os trabalhadores a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho

C

ada vez mais, os especialistas reafirmam a im-

tarefas inócuas. Outro aspecto de grande influência é

portância do trabalho e do ambiente laboral na

o fato de que, muitas vezes, os cargos de chefia não

vida das pessoas, afinal, é nele que passamos

são indicados por qualificação técnica. Despreparado

a maior parte das horas de cada dia. Pensando numa

para o exercício das tarefas de mando e, muitas vezes,

relação de causa e efeito da qualidade do ambiente

sem o conhecimento mínimo necessário para tanto,

laboral, uma frase de Olacyr de Moraes expressa, com

mas escorado nas relações que garantiram a sua indi-

simplicidade, o que é facilmente constatado: “Quem

cação, o chefe pode tornar-se arbitrário, por um lado,

gosta do que faz, nunca se cansa de trabalhar”.

buscando compensar suas evidentes limitações e, por

Essa é uma constante para grande parte dos tra-

outro, considerando-se intocável.

balhadores, sejam eles servidores públicos, sejam da

Essa é uma situação recorrente que pode colo-

iniciativa privada. Por mais difícil que seja falar sobre

car em risco o emprego ou degradar o ambiente de

este tema, não se pode ignorar que os servidores

trabalho. Na prática, ocorre uma verdadeira guerra

públicos estão numa escala de tensão emocional e

psicológica contra o assediado, fragilizando-o e de-

estresse crônicos, provocados por condições de tra-

sestabilizando-o gradativamente.

balho psicologicamente desgastantes.

MÁRCIO SEQUEIRA Advogado graduado pela PUC/RS e Pós-Graduado pela UFRGS

Entre as medidas que podem minimizar o assédio

Ao atender servidores públicos em todo o país,

moral, sem dúvida, está o conhecimento do tema,

tenho me deparado com um número cada vez

para distingui-lo de outras tensões existentes, tais

maior de relatos envolvendo o assédio no local de

como desavenças eventuais e contrariedades.

trabalho. Também é elevado o número de servido-

É preciso falar sobre o assédio de forma clara,

res que pedem afastamento ou até mesmo exonera-

pois, quanto maior a compreensão deste quadro

ção, por se sentirem doentes com tamanha pressão

e dos sintomas, mais fácil será o seu diagnóstico,

pelo assédio sofrido.

a denúncia por parte do assediado e, por fim, mais

Trata-se de uma prática tão antiga quanto o pró-

efetiva será sua erradicação, contribuindo para a

prio trabalho. O assédio consiste em expor sistemati-

construção de uma sociedade mais justa e igualitá-

camente os trabalhadores a situações humilhantes e

ria, assim como para o desenvolvimento do serviço

constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a

público no país.

jornada de trabalho. O setor público é um dos ambientes em que o assédio se apresenta de forma mais visível e marcante, sendo representado por uma conduta abusiva, normalmente decorrente de subordinação, com comportamentos, palavras, atos ou gestos que possam causar dano à personalidade, à dignidade ou à integridade do servidor. No setor público, há uma peculiaridade: o chefe não dispõe do vínculo funcional do servidor. Não podendo

“É PRECISO FALAR SOBRE O ASSÉDIO DE FORMA CLARA, POIS, QUANTO MAIOR A COMPREENSÃO DESTE QUADRO, MAIS FÁCIL SERÁ O SEU DIAGNÓSTICO E ERRADICAÇÃO.”

despedi-lo, passa a humilhá-lo e a sobrecarregá-lo de

D E Z E M B RO 2 0 1 5


1 8 + L I T E R AT U R A

“JOVENS PRECISAM DE

mediadores de leitura” “No centro da educação tem que estar a leitura.

Não conseguiremos ter cidadãos conscientes sem isso. A literatura é transformadora.” O desabafo feito pelo escritor, compositor e poeta Dilan Camargo, 66 anos, está inserido nos desafios da educação, que é

Luis Ventura/ Divulgação

Para o Patrono da Feira do Livro de Porto Alegre, o primeiro mediador de leitura é a família, com o pai e a mãe oferecendo a leitura como atividade de lazer

conseguir estimular a leitura eficiente entre os estudantes. E, em meio a tanta falta de otimismo de professores, ele traz uma voz positiva. “Precisamos ter mediadores de leitura, somente assim conseguiremos reverter essa situação”, sentencia. E é ao movimento para criar a chamada “geração de leitores” que ele pretendeu dar mais visibilidade durante o seu período como patrono da 61ª Feira do Livro de Porto Alegre, função encerrada em 15 de novembro último. Camargo ressalta que os livros permitem uma experiência mais intensa do que, por exemplo, o cinema. “Ao invés de eleitorado, vamos formar uma ampla base de ‘leitorados’ e assim mudarmos a nossa sociedade”, afirma, ao lembrar que apenas com a leitura o cidadão passa a ter uma visão mais analítica e a interpretar os acontecimentos do dia a dia. Completamente ciente das dificuldades que envolvem esse processo, Camargo diz que é preciso apoio, mas a base está na família. “O primeiro mediador de leitura é a família. O pai e a mãe devem apresentar os livros, ter e oferecer a leitura como atividades de lazer”, enfatiza. Para ele, o exemplo dos pais causa um

///////////////////////////////

PARA OS PEQUENOS, O ESTÍMULO LINGUÍSTICO FAZ-SE POR MEIO DE HISTÓRIAS DE ENCANTAMENTO, MAGIA, MISTÉRIO, MEDO, AVENTURA. É A LEITURA DE POESIA QUE LIBERTA A NOSSA CAPACIDADE DE EXPRESSÃO. Dilan Camargo

RE V I S TA M E S T RE S +


+ 19

SEM SABER LER, AS PESSOAS ESTÃO MARGINALIZADAS NA SOCIEDADE. NÃO CONSEGUEM ESTAR E PARTICIPAR DO SEU MUNDO E NEM ENTENDER AS COMPLEXIDADES EXISTENTES. PERDEM A CIDADANIA. Dilan Camargo grande impacto na formação das crianças e estimula

ser visto durante as suas palestras e visitas às escolas.

hábitos que se perpetuarão ao longo da vida. “Para os

O desejo de estimular a leitura está intrínseco na

pequenos, o estímulo linguístico faz-se por meio de

sua vida desde cedo. Natural de Itaqui, ele passou a

histórias de encantamento, magia, mistério, medo,

infância em Uruguaiana, onde era um frequentador

aventura. É a leitura de poesia que liberta a nossa ca-

assíduo de bibliotecas. Alguns projetos, ainda no

pacidade de expressão”, cita.

período escolar, fizeram-no seguir pelo caminho da

Em segundo lugar, com a educação formal, são os

escrita. A paixão pela leitura e escrita foi inserida pelo

professores que assumem essa função. “Pais, profes-

professor de português e literatura, Irmão Gabriel, que

sores e especialistas em educação sabem a impor-

lhe ensinou o ditado: “Nenhum dia sem ler, nenhum

tância do estímulo linguístico na formação de uma

dia sem escrever”.

criança. E os professores quando forem ler para os seus alunos precisam apenas entregar-se, com alegria e arte, a esse momento único de comunhão humana entre gerações”, assinala. Assim, eles se inserem no processo de mediação, que é o caminho para inserir os livros no dia a dia. Um exemplo da urgência desse movimento é a queda no índice de leitura entre os gaúchos. Para ele, ainda é preciso fazer muito para mudar essa realidade. “Sem saber ler, as pessoas estão marginalizadas na sociedade. Não conseguem estar e participar do seu mundo e nem entender as complexidades existentes. Perdem a cidadania”, afirma. E ao falar sobre cativar os jovens estudantes, Camargo tem larga experiência. Ao longo da sua trajetória lançou diversos livros direcionados ao público

ALGUMAS OBRAS: “Bem-vindos ao inferno” “O man e o brother” “Poeplano” “É verdade! É mentira!” “Álbum da Fe - Li – Cidade” “Álbum da Fe - Li - Cidade II” “Com Afeto e Alfabeto” “Diário sem data de uma gata” “BrincRIar” “O Embrulho do Getúlio” “Em mãos III” “A fala de Adão” “O Vampiro Argermiro”

infantil, os quais têm grande aceitação, como pode

D E Z E M B RO 2 0 1 5


2 0 + M U N D O DA S L E T R A S

A INFLUÊNCIA DA LEITURA

estrangeira em sala de aula Publicações internacionais sofrem críticas por serem pouco aprofundadas, mas podem servir como uma ‘ponte’ para promover uma leitura mais crítica

É

difícil encontrar algum jovem estudante que

ço, que realizou estudos nesta área, reconhece que

não conheça as aventuras de Harry Potter, a

há pouco debate sobre o tema e destaca a impor-

saga “Crepúsculo” ou o “Diário de um banana”.

tância dessa reflexão. Para ela, essas publicações

São apenas algumas citações de coleções de livros

podem servir como uma “ponte” para promover

estrangeiros que acertaram a tática ao cair no gosto

uma leitura mais crítica. Na base literária, recorda,

do público-alvo, neste caso, os adolescentes. Apesar

os livros chamados populares são considerados de

do sucesso desses best-sellers, é impossível não levar

qualidade inferior por serem aqueles que ganham

em consideração o impacto dessas leituras. Há ques-

espaço entre as massas. “Na verdade, não há uma

tões culturais, uma vez que os jovens retratados nos

definição do que é literário. O conceito de valor lite-

livros vivem uma realidade diferente da dos brasilei-

rário é atribuído a obras com características literárias

ros; há a avaliação de especialistas de que a leitura

e varia de acordo com o público”, explica.

é confortável, porém, pouco crítica e analítica, não

Assim, considera-os essenciais, independente-

tendo, assim, características literárias. Agora, dentro

mente de serem ou não literários. “A leitura é impor-

desse complexo panorama, como deve ser a atuação

tante para ampliar o conhecimento de mundo das

dos professores?

pessoas de todas as faixas etárias. O ato permite que

A coordenadora do Centro Acadêmico de Línguas

elas aprendam e conheçam sobre diferentes socie-

Estrangeiras Modernas (Calem) da Universidade Tec-

dades, culturas e posicionamentos. O importante é

nológica Federal do Paraná (UTFPR), Daiane Louren-

criar o gosto da leitura”, enfatiza. É nesta mesma linha que está o trabalho desenvolvido pela professora de literatura Marilene Goebel, que, há mais de 30 anos, leciona para jovens em escolas públicas e privadas de Santa Catarina. Para ela, o desafio é exatamente o de conseguir despertar o interesse dos estudantes por obras consagradas da

“ACHO QUE TEMOS QUE COMEÇAR VENDO O ALUNO NÃO COMO UM DEPÓSITO, MAS COMO ALGUÉM QUE TEM MUITO A NOS ENSINAR.” Daiane Lourenço

literatura nacional. “Para que os jovens leiam de verdade, precisam ser encantados”, explica. Foi com este conceito que nasceu o projeto Contos Machadianos, reconhecido neste ano pelo Prêmio RBS de Educação. O objetivo foi envolver os jovens do Ensino Médio no universo de Machado de Assis, para que, por meio desses livros, entendam o comportamento da sociedade brasileira no final do século XIX. Um dos artifícios foi explorar as belas e

/////////////////////////////////////////////// RE V I S TA M E S T RE S +

“dissimuladas” personagens femininas e também os acontecimentos sociais que ainda estão presen-

/


+ 21

/////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////

tes na atualidade. Outra estratégia foi a de tornar a linguagem machadiana, considerada como com-

“SE O ALUNO LÊ, INTERPRETA, EXPRESSA SUA OPINIÃO SOBRE O QUE LEU, VAI SE APROFUNDAR MAIS NA LEITURA E COMPARTILHAR ISSO COM AS OUTRAS PESSOAS.” Marilene Goebel

plexa, mais atraente, por meio da leitura, análise e interpretação. “Assim, os leitores percebiam o quão viva e atraente é a Língua Portuguesa. E, ao mesmo tempo, eram transportados para aquela época, em que o contexto da história está inserido, o que facilita o seu entendimento”, diz Marilene. A partir desse sucesso, o projeto foi ampliado. A experiência mais recente é com os poemas dos au-

sobre outras culturas”, explica. Além disso, a leitura

tores brasileiros, chamado “Poemas em Canção”, em

de obras estrangeiras não precisa ficar exclusiva-

que os estudantes têm de ler e escolher um poema

mente nos títulos mais populares, mas pode evoluir

e depois transformá-lo em um clipe. O resultado tem

e abranger clássicos.

sido surpreendente. “Recentemente, dois meninos

Então, o desafio de conseguir tirar proveito des-

declamaram em sala de aula Vinicius de Morais. Ima-

sas publicações cabe aos professores. “A literatura

gina, em pleno século XXI, uma declamação em sala

é ensinada há muito tempo de maneira tradicional

de aula? Foi emocionante.”

(cânone), que infelizmente afasta o estudante, ao

E o envolvimento não para por aí. Segundo ela, os

invés de aproximá-lo. E a preocupação dos profes-

alunos continuam leitores não só de Machado, mas

sores em introduzir esses livros faz com que rene-

de Vinícius, Carlos Drummond de Andrade, Jorge

guem a literatura de massa em sala de aula”, desta-

Amado, Érico, Leminski, Franklin, Lindolf Bell, e tan-

ca Daiane Lourenço.

tos outros. “Enfim, aprendem a respeitar e a amar a Literatura Brasileira e seus autores.”

Assim, ela lança um desafio, ou quase uma provocação, aos professores. “Seria interessante que o professor direcionasse a leitura de um best-seller

O IMPACTO CULTURAL

com o intuito de mostrar aos alunos seu ponto de

Se a leitura de Machado de Assis agrega valor, não

vista sobre a obra, descobrir o ponto de vista deles

é diferente com uma publicação estrangeira, mesmo

(estudantes) e ver como é possível os alunos cres-

se ela for popular. Isso porque tem a capacidade

cerem com esse processo.” Trazer uma obra que a

de transportar os jovens para outra realidade. Por

turma lê para a sala de aula pode ser uma forma de

exemplo, a saga “Crepúsculo” mostra um pouco da

despertar o interesse do grupo para a leitura. “No

rotina do jovem americano. Percy Jackson apresenta

entanto, uma coisa é certa: as críticas às leituras que

deuses gregos. “A menina que roubava livros” aborda

realizam não incitarão os adolescentes a abandoná-

a Alemanha nazista. “O menino do pijama listrado”

-las”, avalia. “Como professores, cabe a nós a preo-

relata sobre a Segunda Guerra Mundial e o Holocaus-

cupação de como tomar tal iniciativa como gancho

to. “São exemplos de como o leitor aprende muito

para leituras institucionalmente aceitas”, afirma.

D E Z E M B RO 2 0 1 5


22 + SALÁRIOS

DÚVIDAS SOBRE A URV Em 1994, para conter a inflação e conseguir implementar a nova moeda, o real, toda a economia foi indexada em URV (Unidade Real de Valor)

N

a edição número 4 da Revista Mestres +,

ENTÃO OS SERVIDORES DO MAGISTÉRIO, POR

http://issuu.com/mestresmais/docs/mes-

EXEMPLO, TÊM DIREITO A PLEITEAR ESTA DI-

tres_4_web, escrevemos sobre as diferenças

FERENÇA?

geradas pela incorreta conversão dos salários dos

Sim, os servidores do magistério, seja estadual,

servidores públicos, no ano de 1994, com a entrada

seja municipal, como servidores públicos que são,

em vigor da URV e, em seguida, do real.

fazem jus a buscar esta reposição, desde que cons-

Após a publicação da revista, recebemos vários

SÉRGIO CEZIMBRA Advogado, graduado pela PUC/RS e Pós-Graduado pela Esade Laureate International Universities

tatada a diferença por meio de perícia.

questionamentos acerca do tema. Separamos os principais, na expectativa de esclarecermos os leito-

QUAL O PERCENTUAL DEVIDO?

res sobre seus direitos.

Para apurar o percentual, faz-se uma perícia contábil que apontará se houve ou não o erro na con-

O QUE SÃO AS DIFERENÇAS DA URV?

versão e qual o índice da defasagem. Para o magis-

Em 1994, antes da entrada em vigor do Plano Real,

tério público do Rio Grande do Sul, por exemplo, o

a economia nacional passava por forte período in-

percentual é de aproximadamente 23%.

flacionário. Para conter a inflação e conseguir implementar a nova moeda, o real, toda a economia foi indexada em URV (Unidade Real de Valor), inclusive os salários dos trabalhadores da iniciativa privada e do serviço público. Para a indexação e conversão dos salários em URVs, foi criada uma regra específica por meio da Lei Federal n. 8.880/94. Todas as esferas e os órgãos da administração pública deveriam cumprir esta regra. Porém, a maioria dos estados e dos municípios editaram leis próprias, com formas de conversão diferentes daquelas previstas na lei federal, provocando as diferenças que se buscam corrigir na justiça.

“PARA O INGRESSO COM O PROCESSO, É NECESSÁRIO, INICIALMENTE, QUE SE FAÇA UMA PERÍCIA CONTÁBIL NOS VALORES RECEBIDOS PELO SERVIDOR ENTRE 1993 E 1994. CONSTATADA A EXISTÊNCIA DO ERRO, DÁ-SE ENTRADA COM PROCESSO NA JUSTIÇA.”

QUEM TEM DIREITO A RECEBER ESSAS DIFERENÇAS? O direito estende-se a todos os servidores que não tiveram a reposição das perdas da URV implantadas em seu contracheque. Via de regra, são a maioria, pois apenas os servidores do Poder Legislativo e do Poder Judiciário tiveram as perdas repostas.

RE V I S TA M E S T RE S +

//////////////////////////////////////////////


+ 23

QUEM ENTROU NO SERVIÇO PÚBLICO APÓS 1994,

COMO FUNCIONA O PROCESSO DA URV?

TEM DIREITO?

Para o ingresso com o processo, conforme já dis-

Sim, todos os servidores têm direito à revisão da

semos, é necessário, inicialmente, que se faça uma

URV, independente da data da entrada no serviço

perícia contábil nos valores recebidos pelo servi-

público, isso porque a defasagem está na tabela de

dor entre 1993 e 1994. Constatada a existência do

vencimentos do funcionário, que não foi convertida

erro, dá-se entrada com processo na justiça.

corretamente em 1994, gerando defasagem até hoje.

O processo judicial terá dois momentos: a correção da tabela de vencimento do servidor e a co-

POR QUE O ERRO NÃO FOI CORRIGIDO ATÉ HOJE?

brança dos valores atrasados referentes aos últi-

Os governos municipais e estaduais não corrigiram

mos cinco anos.

esta distorção, pois entendiam que a falha na conversão da URV havia acontecido apenas nos Pode-

QUAL A CHANCE DE GANHAR O PROCESSO?

res Legislativo e Judiciário. As decisões na justiça

Os processos que buscam à correção da URV para

também eram nesse sentido.

os servidores do executivo, desde o julgamento

Porém, em setembro de 2013, com um julgamen-

pelo Supremo Tribunal Federal do tema, estão

to no Supremo Tribunal Federal de um recurso

com uma boa chance de êxito, pois a matéria foi

sobre o tema da URV para os servidores do Poder

decidida em nível de repercussão geral, ficando,

Executivo, o entendimento mudou. Estabeleceu-

assim, todos os julgamentos sobre o tema vincu-

-se que, constatado o erro na conversão, median-

lados àquele. Contudo, este entendimento ainda

te perícia contábil, o poder público deve corrigir a

não é predominante nas instâncias inferiores da

distorção e pagar ao servidor o percentual apurado

justiça, necessitando-se o ingresso de recursos até

no processo.

o STF para obtenção da decisão favorável.

D E Z E M B RO 2 0 1 5


2 4 + PA P O C A B E Ç A

A ESCOLA FORMANDO

cidadãos

Escolas têm atuado na formação de cidadãos conscientes e responsáveis com a sociedade em que vivem e os resultados dessas iniciativas já começam a aparecer

A

Atividade procura estimular a liberdade de expressão dos jovens

s escolas vêm exercendo função bem mais com-

No início de outubro, durante a mostra científica, três

pleta do que apenas fornecer o ensino acadêmi-

alunas apresentaram um trabalho realizado em áreas

co. Têm atuado na formação de cidadãos mais

públicas de Porto Alegre. “Elas acompanharam como as

conscientes e responsáveis com a sociedade em que vi-

pessoas agiam ao ter um pedaço de papel ou plástico em

vem. As ações são as mais diversas e os resultados já têm

mãos. E perceberam que, independentemente da classe

mostrado conquistas importantes.

social, elas acabavam jogando os itens no chão”, explica a

Um exemplo é o movimento “Da escola pra vida”, do

diretora. Outra iniciativa foi a de vivenciar as dificuldades

Colégio Farroupilha, em Porto Alegre. O projeto, iniciado

enfrentadas por um deficiente visual ao fazer atividades

em 2012, busca fazer com que os alunos, de todas as sé-

cotidianas na cidade. Então, alguns alunos percorreram

ries, se tornem mais conscientes do que acontece fora dos

ruas, como se fossem cegos, sentindo as particularidades

portões da escola e como podem ser agentes transfor-

e verificando o comportamento dos outros e os gestos de

madores. Segundo a diretora pedagógica da instituição,

solidariedade.

Marícia Ferri, a atuação dos estudantes ocorre em diversas

Para ela, essa é uma maneira de reflexão que elas fi-

frentes. Uma delas foi a sustentabilidade. Os alunos abor-

zeram sozinhas sobre o impacto do lixo nas suas vidas

daram essa questão de uma maneira bem prática. Eles

e mostra a importância de despertar a curiosidade e a

perceberam que, ao final do horário do lanche, se formava

reflexão quando ainda são jovens. “As crianças são ver-

um grande volume de lixo. Assim, decidiram fazer ações

dadeiras transformadoras de conhecimentos. Elas têm o

para substituir as embalagens das refeições e até evitar

poder de mudar os hábitos dos pais. Elas levam a sério o

aquelas que geravam muitos resíduos. E também busca-

aprendizado”, explica Marícia.

ram promover uma alimentação mais saudável.

BULLYING, VIOLÊNCIA E ARTES Como ter uma escola menos violenta? Esse era o questionamento do professor de artes da Escola Estadual de Ensino Médio Padre Réus, Aloizio Pedersen, ao acompanhar o crescimento dos casos de bullying na instituição em 2006. Neste sentido, ele começou a desenvolver o projeto com os estudantes para que os alunos pudessem se

Aloisio Pedersen/Divulgação

expressar. “A complexidade da violência consegue ser ex-

RE V I S TA M E S T RE S +

posta na arte”, explica ele, que também é artista plástico. E com os resultados positivos, o projeto evoluiu. No ano passado, a temática abordada foi a Ditadura Militar, que completou 50 anos. Os jovens tinham que escolher uma das pessoas que haviam desaparecido neste regime e contar a história deles. No final foi feita uma lá-


+ 25

Colégio Farroupilha / Divulgação

Movimento ‘Da escola pra vida’ do Colégio Farroupilha visa estimular os alunos a serem agentes transformadores

pide para cada um deles, num processo de despedida.

corda, por exemplo, o trabalho de alunos da educação

“Esses jovens passaram por um processo de desenvolvi-

infantil que passaram a se preocupar com as árvores

mento e amadurecimento após essa experiência. O alu-

que ficam ao redor do colégio e que estavam “morren-

no se tornou protagonista”, enfatiza.

do”. Pelo interesse, o assunto foi para a sala de aula e se

Neste ano o enfoque foi outro. Com base nas obras

tornou um projeto. “O conteúdo da escola deve ser rele-

indicadas para o vestibular da Universidade Federal do

vante para os estudantes. Deve aproximar os alunos da

Rio Grande do Sul (UFRGS), foram realizadas apresen-

sociedade”, explica.

tações teatrais. “Os grupos invadiam as salas de aula

No caso da escola pública Padre Réus, os benefícios

para declamar ou encenar trechos das obras.” Para ele,

se refletem nas próprias paredes da instituição. Segundo

o diferencial desses projetos é que os alunos passam a

Aloizio Pedersen, se no passado a escola precisava ser

promover o conhecimento.

pintada duas vezes por ano por causa das pichações, essa

Uma prova do êxito desse trabalho com a arte foi a ex-

situação mudou. “Agora, pintamos a cada dois anos. Isso

posição de adolescentes da Fundação de Atendimento

porque os alunos passaram a se comprometer mais com

Sócio-Educativo (Fase). Sob a coordenação de Pedersen,

as condições da escola que frequentam”, destaca.

os jovens fizeram 20 pinturas usando técnica de acrílico sobre tela. “Paisagens Interiores” integra o projeto Artinclusão, que começou em 2013 na Fase. A iniciativa abran-

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ge os jovens em medida socioeducativa ou privação de liberdade nas unidades Casef, Case POA II e CSE (Escola Tom Jobim), onde Pedersen é professor. “Foi uma forma de estimular a liberdade de expressão desses jovens.”

OS ALUNOS MUDAM E A ESCOLA TAMBÉM As mudanças promovidas pelos projetos vão além de apenas transformar os jovens, mas também refletem nas

“O CONTEÚDO DA ESCOLA DEVE SER RELEVANTE PARA OS ESTUDANTES. DEVE APROXIMAR OS ALUNOS DA SOCIEDADE.” Marícia Ferri, diretora pedagógica

instituições. No caso do Colégio Farroupilha, alguns assuntos que vieram das ações passaram a ser abordadas dentro da sala de aula. A diretora pedagógica Marícia re-

D E Z E M B RO 2 0 1 5


2 6 + T E C N O LO G I A

Estudo on-line:

UMA FORÇA EXTRA NA QUALIFICAÇÃO Cursos virtuais em instituições reconhecidas nacional e internacionalmente podem ser opção para quem não dispõe de tempo para buscar a qualificação

N

o corre-corre diário, o tempo para a realização

sionais. Em seu livro, Carla reconhece que há resistên-

daquele tão necessário curso de qualificação fica

cia, mas que a qualificação dos cursos tem se ampliado,

curto, especialmente para os professores. Porém,

assim como o número de alunos. Então, agora mãos à

a tecnologia pode ser um apoio extra. A um clique estão

obra. Hora de achar aquele que mais interessa e investir

disponíveis diversos cursos on-line com certificação e em

na própria qualificação.

instituições reconhecidas nacional e internacionalmente. É preciso ficar atento, porém, a alguns cuidados. Muitos cursos são realizados durante um período definido.

CURSOS SÃO IMPORTANTES, MAS DEMANDAM DISCIPLINA

O interessado precisa assistir e fazer os exercícios den-

Professora por formação, Ana Solange, de 57 anos,

tro de um prazo determinado. Há casos em que as aulas

descobriu na plataforma Veduca uma opção de qualifica-

ficam disponíveis por tempo indeterminado, cabendo

ção. Moradora do litoral paulista, ela revela que o curso

ao indivíduo dar o seu ritmo ao aprendizado. Também

on-line tem muitas facilidades, mas também armadilhas.

é importante conhecer os custos em torno do curso. Há

“É prático e cômodo. O aluno faz o horário, não há des-

aqueles em que as aulas são gratuitas, porém, é cobrado

locamentos nem custos e há diversificação de cursos. A

valor para a emissão de certificado. É interessante verifi-

experiência foi muito boa. Ao mesmo tempo, sem discipli-

car recomendações dos cursos com outros professores e

na e força de vontade é muito fácil se perder e não conse-

buscar informações nos próprios portais.

guir concluir o curso. É difícil desenvolver o aprendizado”,

aventurar.

É PRECISO DISCIPLINA Se por um lado o ensino on-line é cheio de facilidades, como não necessitar de deslocamentos e estar disponível 24 horas, há alguns cuidados importantes para

alerta ela, que recentemente concluiu o curso de Ciência Política e Ética pelo Veduca. Arquivo Pessoal/Ana Solange

Ao lado, a Mestres + selecionou algumas opções, além de recomendações a quem está interessado em

evitar a perda de tempo. O sucesso depende de responsabilidade e comprometimento. Reservar um horário diário específico para estudar é essencial, como se fosse um curso normal, bem como realizar as leituras indicadas e os exercícios complementares. Segundo a diretora do Enlinea e doutora em educação à distância, Carla Netto, os cursos on-line não são uma modalidade recente e têm se tornado cada mais relevantes na formação e aperfeiçoamento dos profis-

RE V I S TA M E S T RE S +

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/

+ 27

ENLINEA Um dos portais mais recentes é o Enlineaeducacional (enlineaeducacional. com.br). O site, que começou a funcionar em julho deste ano, também traz alternativa de cursos específicos para professores, porém, as aulas são cobradas. O site tem como objetivo garantir a formação continuada à distância. As formações têm duração média de 30 a 40 horas. Assim, os cursos podem ser realizados em poucas semanas. Na conclusão, são fornecidos certificação. ALISON

CURSOS LIVRES O site do Cursos Livres, cursos on-line de curta duração (www.cursoslivresead.com.br), também oferece boas opções aos professores que estão em busca de qualificação. Porém, as aulas são pagas e os valores dependem dos cursos.

A plataforma internacional Alison (pt.alison.com) também oferece vasta opção de cursos gratuitos. Por estar presente em vários países, nem todos os cursos têm legenda. Uma das áreas interessantes é a de ensino e formação de profissionais. Entre as aulas estão a de “técnicas de comunicação eficazes para os professores”.

VEDUCA O Veduca (www.veduca.com.br) é uma dessas plataformas. Por meio do cadastro, qualquer pessoa tem acesso aos cursos, transmitidos por videoaulas, de diversas universidades, inclusive reconhecidas internacionalmente, como Harvard e MIT. Atualmente, estão disponíveis mais de 300 cursos, distribuídos por 21 áreas de conhecimento. Os cursos de MBA têm certificado válido pelo Ministério da Educação e os de extensão também têm certificado de conclusão. Há ainda as opções de MOOC (Massive open online course), cursos on-line abertos oferecidos em larga escala, e de aulas livres. Após fazer o cadastro, o aluno tem acesso às aulas e aos cursos. O layout é bem simples e dinâmico, facilitando a navegação. Apesar de ser uma plataforma nova, pois entrou no ar em 2012, conta com um acervo considerável de videoaulas e de universidades parceiras. Na área de educação, por exemplo, há formação de libras e de capacitação para utilização do jornal na sala de aula. Em literatura, línguas e linguística, há aula de escrita científica para produção de artigos de alto impacto, da USP, ou de introdução à teoria literária, da faculdade norte-americana Yale. Um dos itens interessantes é que o ponto em que foi parada a exibição fica salvo automaticamente. Assim, ao retomar os estudos, o aluno saberá exatamente onde parou de assistir. Alguns cursos contam com indicação de leituras e de quizes, ao longo da palestra. As aulas nas universidades internacionais contam com legendas. COURSERA O Coursera (pt.coursera.org) disponibiliza 1.451 cursos gratuitos em todo o mundo. Isso porque é uma plataforma de educação formada por universidades e organizações internacionais. Ao todo, são 133 parceiros distribuídos por 26 países. Por exemplo, as universidades do Arizona, Columbia, Yale e Illinois, todas dos Estados Unidos, ou as brasileiras Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Para ter acesso, basta entrar no site, fazer cadastro, analisar as opções de cursos e verificar as datas de realização. Os cursos estão distribuídos por nove áreas, como ciências sociais, ciências biológicas, matemática e lógica. É importante verificar o idioma e a disponibilidade de legendas, no caso dos cursos estrangeiros. Ao longo das aulas, serão solicitados testes interativos e há condições de interagir em tempo real com professores e colegas. Um dos diferenciais é que a avaliação dos trabalhos é feita pelos próprios colegas, inclusive com comentários. Ao concluir, é possível solicitar certificados.

D E Z E M B RO 2 0 1 5


2 8 + S AÚ D E

Jonas Pereira/Agência Senado

Fazer a chamada ou tentar ‘controlar’ a turma estão entre as atividades diárias dos docentes

Como vai a saúde DO PROFESSOR?

Pesquisa recente apontou que os docentes brasileiros são os profissionais que destinam mais tempo para executar sua atividade – a ação de educar

R

otina estressante, horas gastas em deslocamen-

professores utilizam apenas 67% do tempo em sala de

tos entre escolas e excesso de funções admi-

aula para dar aula. E onde estão os outros 32%? Parte é

nistrativas. E como se esquecer do tempo desti-

gasta com atividades administrativas, como fazer chama-

nado para controlar os alunos em sala de aula? Essas

da, ou, a principal, tentar controlar a turma. Esse último

questões estão presentes no dia a dia de boa parte dos

desafio não é recente, mas tem sido um entrave no dia a

docentes, em especial os da rede pública de educação.

dia dos professores.

Esse somatório tem impacto e afeta diretamente a qualidade de vida dos professores. Para se ter uma dimensão da situação delicada, uma

RE V I S TA M E S T RE S +

IMPORTÂNCIA DA NEGOCIAÇÃO PARA COMBATER A INDISCIPLINA

recente pesquisa apontou que os profissionais brasileiros

Segundo a professora da Universidade Federal do Rio

são os que mais trabalham. Isso quer dizer na prática que

Grande do Sul (Ufrgs), Maria Luisa Merino Freitas Xavier,

são os que mais destinam tempo para executar a sua ati-

para enfrentar essa questão é preciso investir na negocia-

vidade, sendo que nem sempre é a profissão em si, neste

ção. “Antes de qualquer coisa, o professor precisa com-

caso, a ação de educar.

preender que o aluno não está na sua posição natural.

O levantamento da Pesquisa Internacional sobre Ensi-

Isso significa que ele não está acostumado a ficar em uma

no e Aprendizagem (Talis), da Organização de Cooperação

sala sentado, quieto e prestando a atenção. É ainda mais

e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que entrevistou

sério esse debate, porque as crianças estão cada vez mais

mais de 14 mil profissionais brasileiros, apontou uma sé-

empoderadas dentro das suas famílias. Assim, em muitos

rie de “distrações” que fazem com que efetivamente os

casos, o professor é o primeiro adulto a exigir algo, o que


+ 29

gera o conflito”, analisa a especialista, que coordena um

qualificação”, explica o integrante do Conselho Nacional

grupo de pesquisa na Ufrgs sobre Educação e Disciplina-

de Educação e ex-secretário municipal de Educação de

mento. Ela ressalta que essa situação deve ser compreen-

São Paulo, César Callegari. Infelizmente, reconhece que

dida e aceita pelos professores, para então começar um

nem todos os avanços têm os resultados esperados. Cita

processo de negociação. “Somos [docentes] minoria na

o fato de que, apesar de haver um tempo destinado para

escola. É preciso mostrar aos alunos que é importante

a qualificação, esse período ainda não é aproveitado da

aprender e que, com 30 pessoas falando ao mesmo tem-

melhor maneira. “Nem sempre esse tempo efetivamente

po, não será um momento produtivo. A partir deste ponto

é bem utilizado”, enfatiza.

se pode estabelecer uma relação de negociação”, afirma.

O especialista alerta ainda para outras situações que

Com vasta experiência, Maria Luisa busca ainda des-

comprometem o desempenho do professor em sala de

mitificar a ideia de que na escola do passado os alunos

aula. Um caso é a necessidade de mudar o conceito sobre

respeitavam os professores. Para ela, a diferença é que an-

o que é ser docente. “Ele (professor) não é mais um pro-

tes as instituições só estavam abertas para uma minoria e

fissional que dá aula. Ele deve ser um agente de criação

que era basicamente formada por alunos de classes mais

individual e coletivo. Esse processo precisa ser estimulado

altas. “Hoje, com a democratização do acesso à educação,

para que ele possa levar novidades à sala de aula”, incen-

é evidente que há um grupo de alunos que têm outras ne-

tiva. Inclusive, acredita que esse tipo de protagonismo de-

cessidades do que só aprender. E essas particularidades

veria ser contabilizado em avanços de plano de carreira.

precisam ser compreendidas e atendidas junto com o pro-

Além disso, ressalta que essa ação mais autoral por parte

cesso de aprendizagem”, explica.

do docente também é uma maneira de ele ver o seu trabalho reconhecido e valorizado, quebrando paradigmas

A SAÚDE EM ALERTA

e deixando um legado. “Quer maneira melhor de traba-

Não são poucas as pesquisas que abordam a questão

lhar do que deixar um legado positivo aos outros profis-

da saúde do professor. Um estudo recente do Cpers-Sindi-

sionais?”, questiona, ao mesmo tempo em que deixa um

cato, do Rio Grande do Sul, trouxe um alerta importante. A

incentivo em forma de provocação aos colegas

publicação “Cuidado! A Saúde da Educação está em Perigo” mostrou, por exemplo, que quase 50% dos professores pode desenvolver algum tipo de transtornos psíquicos

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e mais de 70% diz sofrer de sentimentos como nervosismo, tensão e preocupação. Além disso, muitos dos mais de 3 mil professores e funcionários pesquisados revelaram sentir sensações desagradáveis de estômago, não dormirem bem e terem dores de cabeça com frequência. Entre as justificativas da pesquisa, que teve o apoio do Laboratório de Psicodinâmica do Trabalho da Ufrgs, estão a falta de profissionais, precarização das condições de serviço e baixos salários.

“É CORRETO AFIRMAR QUE A LEI ESTÁ MUITO LONGE DA REALIDADE DAS SALAS DE AULA. PORÉM, HÁ ALGUNS AVANÇOS IMPORTANTES, COMO O PISO SALARIAL PARA A CATEGORIA E A DETERMINAÇÃO DE QUE UMA PARTE DA CARGA HORÁRIA DO PROFESSOR SIRVA PARA A QUALIFICAÇÃO.”

AVANÇOS, MAS AINDA HÁ DIFICULDADES Para alguns especialistas, é preciso reconhecer que as condições de trabalho dos professores melhoraram nos últimos anos. Apesar disso, ainda há muito a avançar. “É correto afirmar que a lei está muito longe da realidade

César Callegari, integrante do Conselho Nacional de Educação e ex-secretário municipal de Educação.

das salas de aula. Porém, há alguns avanços importantes, como o piso salarial para a categoria e a determinação de que uma parte da carga horária do professor sirva para a

D E Z E M B RO 2 0 1 5


3 0 + CO M P O RTA M E N TO

COMO AJUDAR OS FILHOS NAS

lições de casa

Os pais não devem dar as respostas, mas estar ao lado dos filhos para ajudá-los a encontrar a solução correta. A descoberta da aprendizagem pertence ao aluno

A

lição de casa é uma das atividades mais importan-

para que elas tirem boas notas vai contra o objetivo,

tes do processo de aprendizagem dos estudantes.

que é o de dar continuidade à aprendizagem da sala

E, em muitos casos, ela desperta questionamentos

de aula. Esta descoberta deve ser do aluno”, enfatiza a

sobre como os pais devem agir. Como ajudar o filho? Dar a resposta para que o filho leve as lições corretas no dia

Nesta mesma linha, Lígia Pacheco, professora e pes-

seguinte? Segundo especialistas, a participação dos pais é

quisadora de educação, destaca que o papel dos pais

fundamental, mas alguns cuidados são essenciais.

deve ser o de ajudar o filho a refletir e tornar prazeroso

Mesmo ambicionando que o filho apresente nas li-

esse momento. “Eles precisam se colocar no lugar da

ções um bom desempenho, é unânime a recomendação

criança. E achar maneiras que façam o assunto da lição

de que os familiares não devem dar as respostas. Ao con-

ser mais interessante. É assim que o aluno vai aprender

trário, é nesta situação que precisam estar ao lado dos

de verdade”, explica ela, que mantém o blog FILHOsofar,

filhos para auxiliá-los a encontrar a solução correta. “Os

voltado a discutir a educação e a relação dos pais.

pais podem ajudar, mas o tema é das crianças. Fazer isso

Os pais devem auxiliar os filhos a encontrarem as respostas certas

RE V I S TA M E S T RE S +

psicopedagoga Tania Menegotto.

E o desafio neste caso é encontrar tempo. Isso por-


Arquivo Pessoal

31

Lígia Pacheco: “É preciso que a criança tenha um momento para estudar em casa”

que a criança precisa gradativamente compreender a

dificuldade, como ajudá-lo. “No momento em que o pai exe-

importância da lição e como isso impacta na sua vida.

cuta a tarefa ou facilita demais para o filho, estará na verdade

“Nem sempre os pais têm tempo e paciência para esta-

mascarando o processo de aprendizado para o professor”,

rem ao lado do filho. Então preferem fazer o dever por

enfatiza Ligia. Para ela, o momento da tarefa pode ser apro-

eles”, lamenta a professora. Ligia então recomenda que

veitado para aproximar pais e filhos. Nesta mesma linha, a

os pais adotem algumas medidas. Uma delas é a rotina.

psicopedagoga Tania ressalta a importância dessa parceria.

É preciso que a criança tenha um momento para estudar

“A família deve criar uma equipe em que todos estão se for-

em casa, num ambiente propício e adequado.

mando juntos e aprendendo juntos. A criança se sentirá esti-

Outra dica é tornar a tarefa mais prática para a crian-

mulada e mais aberta para aprender”, finaliza.

ça. Se o estudo é sobre exatas, por que não fazer cálculos práticos utilizando exemplos do dia a dia? “Não há necessidade de decorar a tabuada se a criança pode aprender a raciocinar sozinha. Ou se o estudo é sobre o meio ambiente, levar o filho para um passeio na beira do Guaíba pode ser uma opção. Assim, o dever vai fazer sentido”, cita Lígia. Um dos questionamentos frequentes dos pais é se o volume de tarefas é adequado. Neste ponto, ambas as especialistas ressaltam que a lição é um complemento ao aprendizado em sala de aula. O aluno pode organizar os pensamentos e consolidar o aprendido na escola. Ao mesmo tempo, é um dos instrumentos para que o professor possa avaliar o desempenho do aluno e, se estiver tendo

DICAS • Os pais não devem fazer os deveres dos filhos • O exercício de casa deve ser uma atividade agradável • Os pais precisam ajudar a criar nos filhos o hábito do estudo, definir local e horários • Em vez de estimular a decoreba, devem promover o raciocínio, com exemplos do dia a dia • Pais devem ter paciência e entender as dificuldades de aprendizado da criança

///////////////////////////////////////////////////////////////// D E Z E M B RO 2 0 1 5


3 2 + FA M Í L I A

OS DESAFIOS DE ABRIR

as escolas para os pais Se, por um lado, a gestão democrática garante a presença do pais na escola, por outro, a instituição escolar ‘expulsa’ os familiares. Como obter o desejado equilíbrio?

////////////////////////////////// O QUE BUSCAM OS CONSELHOS ESCOLARES?*

U

m dos pilares da educação brasileira é garantir a gestão democrática nas escolas. Em outras palavras, conseguir atrair os pais e responsáveis para dentro da instituição, garantindo assim participação, en-

volvimento e decisão no modelo pedagógico ao qual os seus filhos, como

A) as decisões refletem a pluralidade de interesses e visões que existem entre os diversos segmentos envolvidos; B) as ações têm um patamar de legitimidade mais elevado; C) há uma maior transparência nas decisões tomadas; D) garantem-se decisões efetivamente coletivas nas unidades escolares enquanto espaço de cidadania.

alunos, serão submetidos. O desafio está posto, ao mesmo tempo, a sua complexidade. Afinal, como conseguir atrair os pais? Há algumas estratégias que se destacam pelo país, como o desenvolvimento de Cartilhas, como ocorre no estado de São Paulo buscando essa aproximação. O documento esclarece e ressalta a importância de os pais compreenderem o que está em jogo, que é a educação de seus filhos. É importante lembrar que São Paulo conta com mais de 5 mil escolas da rede estadual. A importância de se discutir amplamente o planejamento coletivo e o projeto político-pedagógico. Os princípios são conhecidos e envolvem basicamente: descentralização, participação e transparência. Ao

*Fonte: Cartilha da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo.

/

mesmo tempo, a escola se mostra aberta para compreender e mais sensível às demandas e aos anseios da comunidade na qual está inserida. Para o professor, pesquisador e autor do livro ‘Por dentro da Escola Pública’, Vitor Henrique Paro, os desafios são mais complexos. E abre algumas questões polêmicas para garantir que essa participação efetivamente aconteça. “A escola (instituição) continua reclamando dos pais. Mas a verdade é que a escola expulsa os pais. E, ao falar isso, não estou dizendo que os culpados são os professores. Ao contrário, eles acabam sendo a parte mais

A2img / Du Amorim

visível”, explica.

Projeto pais presentes

RE V I S TA M E S T RE S +


E N T RE T E NI M E N TO + 3 3

L I V RO

DE S T I N O

GRAMADO – NATAL LUZ A histórica edição do Natal Luz 30 Anos prossegue até o dia 17 de janeiro de 2016. O tradicional evento, promovido pela Prefeitura de Gramado e realizado pela autarquia municipal Gramadotur, atraiu cerca de 2 milhões de pessoas em sua edição anterior e busca repetir a marca ao longo da edição deste ano. São mais de 1,8 mil pessoas envolvidas diretamente para oferecer mais de 500 apresentações, ressaltando que apenas 157 são pagas, relativas aos quatro principais espetáculos, completamente renovados. São eles: Eu sou Maria – Nativitaten, apresentado às terças, quintas e sábados a partir das 21h30min, no Lago Joaquina Bier; Natal pelo Mundo, espetáculo que substitui a Fantástica Fábrica de Natal, apresentado às terças, quintas, sextas e sábados, às 18h30min, no Pavilhão do ExpoGramado; Grande Desfile de Natal 30 anos, apresentado às quartas, sextas e domingos, a partir das 21h30min, na área do ExpoGramado; e o Natal Mágico com Kronnus, apresentado de sexta a domingo no Palácio dos Festivais, a partir das 17 horas. Em dezembro e janeiro, o espetáculo acontece de quartas a domingos.

“FILHOS ADULTOS MIMADOS, PAIS NEGLIGENCIADOS” Em seu novo livro, “Filhos adultos mimados, pais negligenciados”, Tania Zagury apresenta aos que educam as novas gerações uma visão inédita dos sentimentos da geração que educou os filhos a partir dos anos 1970 – com muita liberdade e poucos limites. A obra é uma espécie de continuação de um trabalho que começou há 25 anos, quando ela escreveu o primeiro livro sobre educação. Com o ineditismo que caracteriza toda sua obra, a autora optou por uma criativa e funcional forma de apresentar aos que agora educam filhos os sentimentos de seus pais idosos, revelando mágoas e expectativas não atendidas (o que esperavam e o que estão recebendo dos filhos). O formato convida à reflexão e serve de claro alerta aos jovens para a inequívoca relação entre o que se faz no presente ao educar e o futuro das relações familiares, que, dependendo de como se atua, poderá ser de reciprocidade apaixonante ou de grandes decepções.

////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// NUMA ESCOLA DE HAVANA

CINEMA

Chala (Armando Valdes Freire), um garoto de onze anos, vive com sua mãe viciada em drogas, Sonia (Yuliet Cruz). Para sustentar a casa, ele treina cães de briga, indiretamente ajudado por um homem que pode ser ou não seu pai biológico. As dificuldades de sua vida refletem na escola, onde é aluno de Carmela (Alina Rodriguez), por quem ele tem um grande respeito. Mas, quando ela fica doente e tem que se afastar, Chala não se adapta à nova professora, que sugere que ele seja transferido para um internato. Quando Carmela retorna, não aceita essa medida e outras imposições que aconteceram durante sua ausência. Enquanto a relação entre professora e aluno se intensifica, os dois passam a ser perseguidos na escola, levando a um conflito que reflete o complexo sistema contemporâneo de Cuba.

D E Z E M B RO 2 0 1 5


3 4 + E D U C A Ç ÃO N O D I VÃ

PNE: UM NOVO JEITO DE FAZER A EDUCAÇÃO ACONTECER A oportunidade dada ao indivíduo do contato com o conhecimento é o que faz com que a pessoa desperte para a possibilidade de criar, tornar-se uma mente pensante

O

s novos rumos para o processo educacional

lados à qualidade desenvolvida no ensino básico, em

estão muito bem apresentados no Plano Na-

que a forma de entender e fazer a educação acontecer

cional de Educação (PNE). Também sabemos

realmente esteja alinhada a todas as modalidades.

que é desafiador discutir sobre as práticas necessárias

Educa-se para que, no mínimo, o indivíduo pos-

para a construção do cenário educativo ideal, no qual

sa adentrar no social com as condições iniciais para

o que se quer de fato é a garantia de viver, em um fu-

exercer sua cidadania e, ao assumir a dimensão da

turo próximo, as estratégias e metas estipuladas e/ou

aprendizagem, se envolver no processo de trans-

sonhadas em tempo presente.

missão e produção de conhecimento. O ato de edu-

As inúmeras discussões das políticas educacionais

car promove a inserção na cultura, aprendem-se

e sobre os novos espaços e atuações escolares, per-

valores, projetos de vida, possibilita uma inscrição

mitem e, consequentemente, nos convocam a pensar

social. A educação envolve práticas de transmissão

um novo jeito de fazer a educação acontecer. Preocu-

e assimilação de valores e conteúdos construídos

pados em delinear as relações entre os saberes e suas

pela humanidade, sendo produzida e remetida por

construções, compreendemos a importância de olhar-

vários âmbitos da sociedade, como a família, a es-

mos o indivíduo em seu processo de construção de

cola, os grupos sociais, entre outros.

conhecimentos e de tudo que envolve esta dinâmica.

A oportunidade dada ao indivíduo do contato

O intuito de desenharmos um perfil educacional efi-

com o conhecimento e suas várias facetas para o

ciente está intimamente vinculado à necessidade de

uso de suas aquisições é o que faz com que a pes-

se promover uma aprendizagem de qualidade, com

soa desperte para a possibilidade de criar, tornar-se

diretrizes inovadoras, dando ênfase à pesquisa e ao

uma mente pensante e um pesquisador. É o desa-

interesse investigativo e à criatividade do aluno.

fio do desejo em conhecer e utilizar suas produções

Deve-se pensar e entender a aprendizagem

para o bem comum, elevando o aprender ao seu

como um processo em primeira instância, com o

mais alto tom, naquilo que acreditamos ser o prin-

próprio sujeito dando sentido a suas ações, signifi-

cípio da educação de qualidade, que é “significar o

cando e ressignificando suas construções na busca

conhecimento”, o saber utilizá-lo.

de fazer-se autor de idéias, de se costurar na teia do

A maior de todas as estratégias, ainda, será desen-

saber suas aquisições. É o olhar para a aprendiza-

volver dentro dos espaços escolares a iniciação de

gem de alguém que atua sobre o conhecimento e

grandes pensadores, de sujeitos que se construam

que se deixa ser movimentado por ele.

através dos saberes, que tenham acesso e utilizem a

Só se constroem grandes empreendimentos em

aprendizagem para o desenvolvimento de uma na-

bases sólidas e fortificadas. A ciência e os processos

ção. O incentivo e o investimento em todos os níveis

de pesquisas científicas acessíveis ao indivíduo na

à troca, ao diálogo, às experiências promovidas no

educação básica fazem sentido durante a constru-

espaço da produção de conhecimento geram aos es-

ção intelectual ao serem incorporados à sua história

tudantes um universo de possibilidades, tornando-os

educacional, resultando em uma formação comple-

sujeito inovadores e com visão de realidade.

ta, possibilitando o prosseguimento dos estudos. Os processos educacionais superiores devem estar atre-

RE V I S TA M E S T RE S +

De uma educação que faça sentido: é disso que precisamos!

DANIELLA CALETTI Psicóloga, especialista em Psicopedagogia Clínica, atua nas organizações em processos de gestão de pessoas



Educação não transforma o mundo.

Educação muda as

pessoas. Pessoas transformam o mundo. (PAULO FREIRE)

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