A última jornada de Jesus - Ciclo 3

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3ยบ um sรณ Evangelho Marcio Bertachini

A ร ltima Jornada de Jesus


Edição Márcio Bertachini Digitação Leontina Lobianco

Compilação – 04/2001 a 03/2002 Reedição – 05/2018 Atibaia – São Paulo

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Tanto pregando exclusivamente aos judeus no 1º Ciclo, quanto espraiando suas palavras entre os gentios para incitar os judeus à emulação no 2º, Jesus foi duramente rejeitado. Agora ele está em Capernaum, sua cidade gentílica. É hora de revisitar os sítios antes sacudidos por seus ensinamentos, milagres e repreensões. Ter a oportunidade de colher os frutos dignos de arrependimento porventura vicejantes. Mas ah!, quanta indignação! A desconcertante resposta ecoou não só em Jerusalém, mas por todo o Universo: Crucifica-o! Este 3º Ciclo foca sua derradeira jornada a Jerusalém, começando precisamente em Lc 9.51, até momentos antes da bendita Ceia, quando, profeticamente falando, alguns gregos desejam vê-lo. A viagem consumirá pouco menos de quatro meses para ser cumprida; a nota relativa a esta afirmação encontra-se no 2º Ciclo, no texto referente ‘à incredulidade dos irmãos de Jesus’. Interessante notar é o número de parábolas pronunciadas por Jesus nesta caminhada sem volta: 24 parábolas, consolidando o que já havíamos proposto no volume anterior acerca dos objetivos para tais figuras. Aliás, a disposição das parábolas no 2º Ciclo é das mais intrigantes: somente 10 parábolas, nove no início do ciclo, como que agrupadas, e uma única órfã encerrando o ciclo de forma ameaçadora. O leitor verificará não haver parábolas no último ciclo, o que comentaremos somente lá.



“Porque eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro que se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que estão escritas neste livro; e, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, e da cidade santa, que estão escritas neste livro” (Ap 22.18-19). Sob este peso e direção é que compus esta compilação dos Santos Evangelhos segundo Mateus, Marcos, Lucas e João, que discorrem sobre o nascimento miraculoso, a vida imaculada, a morte preciosa e a ressurreição gloriosa de Nosso Senhor Jesus Cristo, em um único livro.

Não foi tarefa fácil. Primeiro pela enorme quantidade de informações contidas nestes Evangelhos, com o agravante de os escritores terem abordado a vida e a pessoa de Jesus sob um determinado ponto de vista, e de forma nem sempre cronológica. E a segunda razão, e também a mais perversa, pela tradição que recebemos de nossos pais, sem os devidos questionamentos. Vamos esmiuçar um pouco mais estas dificuldades. Muitos cristãos sabem que Mateus enfatiza Jesus como Rei; Marcos o mostra como servo; Lucas, como homem; e João o eleva à Divindade. E estes enfoques, obviamente, levaram a narrativas em que, embora centradas no mesmo personagem, um livro contenha comentários que outro omita totalmente. Ou, o que se poderá perceber algumas vezes, parecendo-se tratar de um mesmo acontecimento, pela semelhança dos textos, na verdade os fatos ocorram em tempos distintos, depois de uma observação mais acurada.

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Exemplificando o que me propus a realizar, se tomarmos como fato a crucificação de Jesus, Mateus relata que na cruz foi escrita a seguinte sentença: “ESTE É JESUS, O REI DOS JUDEUS” (Mt 27.37). Marcos relata: “O REI DOS JUDEUS” (Mc 15.26). Lucas, por sua vez, mostra: “ESTE É O REI DOS JUDEUS” (Lc 23.38). João, finalmente, revela: “JESUS NAZARENO, REI DOS JUDEUS” (Jo 19.19). Observe as lacunas.

ESTE É JESUS ,................................. O REI DOS JUDEUS ...........................................................O REI DOS JUDEUS ESTE É .............................................. O REI DOS JUDEUS ...........JESUS NAZARENO,............ REI DOS JUDEUS

Nenhum dos quatro textos revelou a totalidade do que fora escrito em sua condenação. Portanto, com a união das passagens referidas, teríamos o seguinte na íntegra: “ESTE É JESUS NAZARENO, O REI DOS JUDEUS”.

Nenhuma palavra falta, nenhuma se repete. Mas este é um caso fácil de se resolver. Uma simples comparação das passagens já é suficiente para se esclarecer a questão. Mas e, por exemplo, quanto à afirmação de Jesus sobre Pedro, que este o negaria três vezes antes que o galo cantasse, relatado em Mateus, Lucas e João, e um outro relato em

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Marcos que diz que Pedro o negaria duas vezes antes que o galo cantasse três vezes? Soma-se a isto a dificuldade de encontrarmos vários personagens envolvidos na história, em dois diferentes locais, e em distintas ocasiões. Como coadunar tudo isto? Ou por exemplo, na famosa e intrigante transfiguração de Jesus ante os discípulos, cujos livros de Mateus e Marcos o colocam seis dias depois de um certo depoimento seu, e Lucas o coloca como sendo quase oito dias depois deste mesmo pronunciamento. Alguém mais apressado poderia alegar que quase oito poderia significar seis. Um físico, ou um engenheiro, poderia permitir uma negligência como esta em sua área de trabalho? Você contrataria, descansadamente, um profissional assim? Se em nosso mundo moderno necessitamos cada vez mais de precisão, e ele certamente passará, por que negligenciarmos as revelações da Palavra de Deus, que “não hão de passar”? E aqui devemos fazer um importante comentário. E este comentário é a base, ou pedra angular, de toda a revelação escrita no livro chamado Bíblia. Foi a partir desse pressuposto e revelação que foi possível unir os quatro Evangelhos em uma só narrativa, apesar de todos os preconceitos em contrário. Usando o mesmo exemplo acima, estamos absolutamente convencidos de que Pedro negou Jesus três vezes naquela noite fatídica. E a partir deste conceito, ou preconceito por assim dizer, propus reunir as passagens relativas a estas negações. Só houve um pequeno problema. As passagens não se encaixavam de forma precisa e natural. Por um momento me desesperei. Será que não havia saída para tal impasse? Havia partido da premissa correta de que “a Escritura não pode ser anulada” (Jo 10.35). Sabia que “a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo”, e que

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“nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação” (2 Pe 1.20-21). Não fazia nada mais que estar “comparando as coisas espirituais com as espirituais” (1 Co 2.13). A própria Palavra de Deus e o Espírito que em mim habita testificavam que o impasse estava certamente na minha incompetência em alcançar as profundezas de Deus, e jamais, nunca, poderia haver falha nas Escrituras Sagradas. E com esta certeza, levantei-me de minha cadeira, apreensivo e desconsolado, e fui refrescar minhas ideias com um copo de água. Enquanto bebia, orei assim: Ah, Senhor! Eu sei que a tua Palavra é perfeita. Preciso de tua iluminação, ou não vou poder realizar esta tarefa. Ajuda-me! Então mais uma vez o Senhor mostrou-me a sua benignidade. Como numa iluminação momentânea, e não saberia como explicar, o Senhor sussurrou-me no fundo da minha mente algo que eu nunca pensaria de mim mesmo. E a partir desta pequena pista pude montar o quebra cabeça, que o leitor poderá verificar no texto à frente. E a resolução deste questionamento calou ainda mais fundo naquela certeza, já alicerçada, de que os Evangelhos jamais poderiam conter as alegadas contradições, como alguns assim classificam apressadamente. Devo mencionar que esta passagem sempre me intrigou profundamente, e isto muito antes de sequer pensar em fazer tal compilação. E me sentia tão apreensivo quanto a ela, que logo nas primeiras páginas deste trabalho, avancei para esta passagem “problemática”, pois se eu não pudesse resolvê-la, temia não poder realizar a tarefa a que me propusera. Resolvida a questão, soube intimamente que as demais passagens teriam o mesmo destino, e regressei ao ponto em que havia interrompido, certo de que só pararia no amém final. Mas o que deve ser ressaltado ao leitor é que não só os Evangelhos participam desta graça, mas “toda a Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça: para que o homem de

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Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra” (2 Tm 3.16-17), e que “as sagradas letras... podem fazer -te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus” (2 Tm 3.15). No entanto, quando o leitor apreciar o texto único, não terá um texto sagrado, ou canônico, apesar de estar lendo somente os Evangelhos. Porque se fosse canônico, ou fizesse parte da Palavra de Deus, deveria estar contido dentro da Bíblia, e graças a Deus não está. O Espírito de Deus resolveu por bem narrar a vida de Jesus em quatro narrativas separadas, de forma que o texto unificado não sofre a inspiração mencionada por Pedro em 2 Pe 1.20-21. Aqui se pode dizer o inverso do que se diz da Bíblia. A Bíblia não contém a Palavra de Deus; ela é a Palavra de Deus. O texto à frente não é a Palavra de Deus; simplesmente contém a Palavr a de Deus. A vida do Messias deveria ser assim comentada, sob quatro pontos diferentes de vista, para que se cumprisse o que Moisés diz: “... pela boca de duas testemunhas, ou pela boca de três testemunhas, se estabelecerá o negócio” (Dt 19.15). E o próprio Messias assim o confirma, dizendo: “E na vossa lei está também escrito que o testemunho de dois homens é verdadeiro” (Jo 8.17). Portanto, temos que dois apóstolos confirmam sua humanidade, e outros dois que confirmam sua divindade, pois “por boca de duas ou três testemunhas será confirmada toda a palavra” (2 Co 13.1). Reunindo então tudo o que já dissemos, se os quatro relatos são a Palavra de Deus, que não podem errar, e eles comentam sobre a vida de uma única e indivisível Pessoa, os quatro Evangelhos devem, naturalmente, ser passíveis de uma união perfeita e equilibrada. Com isto em mente é que pude integrar os quatro documentos em um só; e nos casos em que houvesse possíveis contradições, devido à forma diferente de narrar dos Evangelistas, estas deveriam ser resolvidas de for-

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ma natural no momento da reunião dos relatos, para que se tornassem um, da mesma forma que o personagem retratado é um, e o Espírito que os inspirou é um só. Usei, para tal contento, sem diminuir ou aumentar a Palavra de Deus, para que não incorresse nas pragas descritas no início desta introdução, uma fórmula muito simples: não poderia introduzir sequer uma vírgula no texto reunido. Como no caso citado acima, onde lemos a inscrição “Este é Jesus Nazareno, o Rei dos Judeus”, o leitor poderá verificar que as quatro frases estão dentro desta única frase, sem acrescentar ou subtrair nada. Mas como eu havia dito, este trecho é facílimo de se resolver. Houve muitos textos em que, literalmente, sofri para unificá-los. A maioria das vezes devido às diferenças entre os relatos, que no momento da reunião, produziam uma quebra na continuidade lógica do todo. Também gramaticalmente, já que às vezes um texto falava no plural, e outro no singular. Seria impossível citar todas as dificuldades. As maiores complicações foram: primeiramente, a sequência exata dos fatos, no início do ministério de Cristo; o sermão da montanha, que num primeiro olhar sobre Mateus e Lucas pareciam se tratar do mesmo sermão, mas depois, num olhar mais penetrante, os Evangelhos na verdade relatavam dois sermões: um sermão chamado “da montanha”, e outro sermão que eu designei “da planície”; a transfiguração; o sermão profético; os dois cegos de Jericó; a última ceia; as negações de Pedro; Jesus perante o Sinédrio; a visita das mulheres ao túmulo no primeiro dia da semana; as aparições de Jesus aos discípulos após sua ressurreição. Todos estes textos terão suas devidas notas, para que o leitor possa entender o meu raciocínio, e também comparar com os Evangelhos, sentindo desta forma a mesma dificuldade que eu senti.

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Devo mencionar, também, lembrando ao leitor, que os títulos presentes nos Evangelhos, como por exemplo: “A entrada triunfal de Jesus em Jerusalém”, não fazem parte do texto original, que foi escrito em grego; portanto, não são a Palavra de Deus, e, logo, podem conter erros. No mesmo exemplo acima, lendo a narrativa referente à entrada de Jesus em Jerusalém, o leitor perceberá que não houve nada de “triunfal” em sua entrada, e nem poderia ser assim, visto que o Senhor dos Exércitos adentra Israel montado num jumentinho. Houve então da minha parte algumas mudanças nestes títulos, e quando acrescentei alguma palavra, ou mesmo um título novo, o que foi acrescentado estará entre chaves. E que também será explicado pelas notas. Outra dificuldade a ser mencionada são as repetições dos ensinos de Jesus. Se dentro de um mesmo Evangelho já há semelhanças profundas em alguns acontecimentos, que se dirá de quatro? O leitor pode experimentar estas dificuldades ao comparar estas simples passagens: Mt 5:29-30 com 18:8-9; Mt 12:38-40 com 16:1-4; Lc 8:16-18 com 11:33-36; Lc 11:43 com 20:46; Lc 12:11-12 com 21:12-15;

Lc 13:15 com 14:5. Mas, na verdade, nem poderia ser diferente. Se pronunciando várias vezes os mesmos discursos, o público entendia muito pouco, imagine-se um único discurso, num tempo em que não havia gravadores. Também as repetições são muito interessantes, pois elas são recolocadas num novo contexto, dando maior dinamismo em suas pregações. Estes discursos repetidos em ocasiões diferentes, obviamente, foram preservados no texto unificado.

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Mesmo os sinais e milagres de Jesus não foram únicos, mas exaustivamente repetidos para aguçar os sentidos dos ouvintes, pois o mesmo Senhor interpela os seus apóstolos quanto ao seu entendimento; como no caso das duas multiplicações dos pães: “Como não entendeis ainda?” (Mc 8.15-21). Não adentrarei agora em todas as dificuldades, pois a maior parte delas será resolvida nas notas apropriadas. Vamos, antes, ter uma visão panorâmica dos quatro Evangelhos. O Evangelho mais diferenciado trata-se de João. É neste livro que encontramos as grandes pregações de Jesus. Não há muitos milagres narrados aqui; e quase todos os que aqui são encontrados, são exclusivos deste livro, quais sejam: a água feita em vinho, a cura do filho dum régulo, a cura do paralítico de Betesda, a cura dum cego de nascença e a ressurreição de Lázaro. Somente a primeira multiplicação dos pães e seu passeio a pé sobre o mar são comuns aos outros Evangelhos. Mas daqui retiramos as pedras mais preciosas de sua Divindade, quando Ele declara ser um com o Pai, o pão que desce do céu, a água da vida, a luz do mundo, o bom Pastor, a porta das ovelhas, “o caminho, e a verdade, e a vida”, a ressurreição, a videira verdadeira, aquele que saiu do Pai e tornaria para Ele.

Somente aqui temos menção da festa dos tabernáculos, da festa da dedicação (ou das luzes) e da primeira expulsão dos vendedores do templo, logo no início de seu ministério. Somente aqui, também, vemos a menção das três páscoas consecutivas que Jesus participaria, depois de seu batismo. E de João se extrai a fala mais longa do Senhor durante a sua última ceia. Mateus, Marcos e Lucas, por terem basicamente a mesma construção, são chamados de Evangelhos Sinóticos;

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termo que insinuaria a capacidade destes três Evangelhos serem compostos num só esquema. Mas na realidade, somente Mateus e Marcos participam desta aptidão. Há diferenças sutis em Lucas, que num primeiro momento parece tratar de uma reprise dos outros dois livros, mas, na verdade, num olhar mais aguçado, trata de acontecimentos diferentes. O próprio autor foi enganado muitas vezes por essas similitudes, mas tiveram que ser revistas após um exame mais minucioso de seus contextos. Estas diferenças também serão comentadas. O livro de Marcos é o mais curto, e nada comenta sobre a infância de Jesus, partindo imediatamente para a pregação de João Batista. Comparado com Mateus, embora contenha algumas inversões quanto aos episódios ocorridos antes da primeira multiplicação dos pães, no restante são idênticos. Lucas é o livro mais longo, e o único a retratar a história de Isabel e Zacarias. Nele encontramos os detalhes do nascimento de Jesus e João Batista. Seu maior trunfo, no entanto, está em sua sequência da última viagem de Jesus para Jerusalém, comentando fatos e parábolas não abordados pelos outros. Comuns aos quatro evangelhos, temos: o ministério de João Batista, a primeira multiplicação dos pães, a entrada “triunfal” de Jesus em Jerusalém, Jesus preso em Getsémani, a traição de Judas, as negações de Pedro, o julgamento de Jesus pelos sacerdotes, por Herodes e Pilatos, sua crucificação, sua sepultura, sua ressurreição e seus aparecimentos em público após a ressurreição. Dito isto, passemos à forma do texto unificado. Para cada Evangelho usei uma determinada cor, para que o leitor possa visualizar com facilidade os textos.

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Mateus está em azul; Marcos, em ver melho; Lucas, em pr eto; João, em ver de. Como havia dito, os títulos contêm algumas mudanças, que foram colocadas entre chaves. As passagens analisadas e agrupadas estão mencionadas nos títulos, nas cores devidas, bem como as notas necessárias. Utilizei a forma padrão na identificação das passagens, e nos casos em que havia a necessidade de divisão de um único versículo em duas ou três partes, empreguei a sequência abc para identificá-las. Quanto à fonte, servi-me da Edição Revista e Corrigida (ERC) para este trabalho. O leitor, amante da Palavra de Deus, deveria se exercitar acompanhando os textos sagrados enquanto lê a síntese, para que possa entender os artifícios lógicos usados pelo escritor, e não ser um mero expectador. Lembro mais uma vez que não sendo o texto unificado inspirado como a Palavra de Deus é, poderá conter erros quanto à minha visão dos acontecimentos, e que o leitor deverá corrigir, partindo sempre daquelas premissas abordadas há pouco. Quanto às falas entre os diferentes personagens e a sequência exata do ministério do Senhor, procurei encaixá-las da melhor maneira possível, já que os textos nem sempre nos dão a ordem precisa das mesmas, visando sempre o melhor entendimento dos fatos. Espero, com a reunião destes quatro Evangelhos em um só documento, ressaltar as peculiaridades de cada passagem, aguçando-nos os sentidos para as verdadeiras proposições do Espírito Santo, ao dividir a vida de Jesus e seus apóstolos em quatro partes.

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Além disso, espero que as muitas possíveis contradições e dúvidas sobre certas passagens sejam iluminadas e esclarecidas, contribuindo para a verdade de que “homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo”, e que “a Escritura não pode ser anulada”. Fora destes dois objetivos, a unificação não tem valor algum. “ (2 Pe 3.10), juntamente com este livro.

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Os samaritanos não recebem a Jesus ..................................... 21 Acerca dos que seguem a Jesus ............................................. 21 A missão dos setenta discípulos ............................................ 22 A parábola do bom samaritano.............................................. 24 A oração dominical ............................................................... 25 Parábola do amigo inoportuno .............................................. 25 A blasfêmia dos fariseus ....................................................... 26 O sinal do profeta Jonas ........................................................ 27 A candeia do corpo ................................................................ 28 Jesus censura os fariseus e os escribas .................................. 28 Não devemos temer os homens ............................................. 30 A parábola do rico insensato ................................................. 31 Solicitude pela nossa vida ..................................................... 32 Parábola do servo vigilante ................................................... 33 Jesus traz fogo e dissensão à terra ......................................... 34 Os sinais dos tempos ............................................................. 34 A mortandade dos galileus e a queda da torre de Siloé ......... 35 A parábola da figueira estéril ................................................ 35 Cura de uma mulher paralítica .............................................. 36 Parábolas do grão de mostarda e do fermento ....................... 37 A porta estreita ...................................................................... 37 Jesus é avisado do ódio de Herodes ...................................... 38 Cura de um hidrópico ............................................................ 39 Parábola dos primeiros assentos e dos convidados ............... 39 Parábola da grande ceia ......................................................... 40 Parábola acerca da providência ............................................. 41


Parábolas da ovelha e da dracma perdidas ............................ 42 Parábola do filho pródigo ...................................................... 43 Parábola do mordomo infiel .................................................. 44 A autoridade da lei ................................................................. 45 A [história] do rico e Lázaro.................................................. 46 Acerca dos escândalos, do perdão, do poder da fé e dos servos inúteis .............................................................. 47 Cura de dez leprosos .............................................................. 48 A vinda súbita do reino de Deus ............................................ 48 A parábola do juiz iníquo ...................................................... 50 A parábola do fariseu e do publicano .................................... 50 A carta do divórcio ................................................................ 51 Jesus abençoa os meninos...................................................... 52 O mancebo rico ...................................................................... 53 A parábola dos trabalhadores e das horas de trabalho ........... 54 Jesus anuncia a sua paixão..................................................... 56 O pedido dos filhos de Zebedeu ............................................ 56 O cego de Jericó ................................................................... 57 Zaqueu, o publicano .............................................................. 58 Parábola dos dez servos e das dez minas ............................... 59 O [outro] cego de Jericó ........................................................ 60 Maria unge com unguento os pés de Jesus ........................ 61 A entrada [ ] de Jesus em Jerusalém.................................. 62 A figueira seca: a purificação do templo ............................... 64 Interrogação acerca do batismo de João ................................ 66 A parábola dos dois filhos ..................................................... 67 A parábola dos lavradores maus ............................................ 67 A parábola das bodas ............................................................. 69 A questão do tributo .............................................................. 70 Os saduceus e a ressurreição ................................................. 71


O grande mandamento ........................................................... 72 O Cristo, filho de Davi .......................................................... 72 Jesus censura os escribas e os fariseus .................................. 73 A pequena oferta da viúva pobre ........................................... 76 O sermão profético: o princípio de dores .......................... 76 O sermão profético continua: [a desolação de Jerusalém] e a grande tribulação ............................................................... 78 O sermão continua: a vinda do filho do homem .................... 79 O sermão continua: exortação à vigilância ............................ 80 O sermão continua: a parábola dos dois servos ..................... 81 O sermão continua: a parábola das dez virgens ..................... 81 O sermão continua: a parábola dos dez talentos .................... 82 Fim do sermão profético: a vida eterna e o castigo eterno .... 84 A consulta dos sacerdotes e dos escribas............................... 85 O jantar em Betânia ............................................................... 86 O preço da traição .................................................................. 86 Alguns gregos desejam ver a Jesus. Jesus fala da sua glorificação, ouve-se uma voz do céu. Jesus, a luz do mundo ........................................................ 87 Notas ..................................................................................... 91


3ยบ Ciclo


E manifestou, no semblante, a intrépida resolução de ir para Jerusalém.

Lc 9.51


Os samaritanos não recebem a Jesus (Lc 9:51-56) E, aconteceu que, completando-se os dias para a sua assunção, manifestou o firme propósito de ir a Jerusalém. E mandou mensageiros diante da sua face; e, indo eles, entraram numa aldeia de samaritanos, para lhe prepararem pousada, mas não o receberam, porque o seu aspecto era como de quem ia a Jerusalém. E os seus discípulos, Tiago e João, vendo isto, disseram: Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma, como Elias também fez? Voltando-se, porém, repreendeu-os, e disse: Vós não sabeis de que espírito sois. Porque o Filho do homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las. E foram para outra aldeia.

Acerca dos que seguem a Jesus (Lc 9:57-62) E aconteceu que, indo eles pelo caminho, lhe disse um: Senhor, seguir-te-ei para onde quer que fores. E disse-lhe Jesus: As raposas têm covis e as aves do céu ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça. E disse a outro: Segue-me. Mas ele respondeu: Senhor, deixa que primeiro eu vá a enterrar meu pai.

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Mas Jesus lhe observou: Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos; porém tu vai e anuncia o reino de Deus. Disse também outro: Senhor, eu te seguirei, mas deixa-me despedir primeiro dos que estão em minha casa. E Jesus lhe disse: Ninguém que lança mão do arado e olha par trás, é apto para o reino de Deus.

A missão dos setenta discípulos (Mt 11:25b-27; Lc 10:1-24) E depois disto designou o Senhor ainda outros setenta, e mandou-os adiante da sua face, de dois em dois, a todas as cidades e lugares aonde ele havia de ir. E dizia-lhes: Grande é em verdade, a seara, mas os obreiros são poucos; rogai pois ao Senhor da seara que envie obreiros para a sua seara. Ide; eis que vos mando como cordeiros ao meio de lobos. E não leveis bolsa nem alforje, nem alparcas; e a ninguém saudeis pelo caminho. E, em qualquer casa onde entrardes, dizei primeiro: Paz seja nesta casa. E, se ali houver algum filho de paz, repousará sobre ele a vossa paz; e, se não, voltará para vós. E ficai na mesma casa, comendo e bebendo do que eles tiverem, pois digno é o obreiro de seu salário. Não andeis de casa em casa. E, em qualquer cidade em que entrardes, e vos receberem, comei do que vos puserem diante. E curai os enfermos que nela houver, e dizei-lhes: É chegado a vós o reino de Deus. Mas em qualquer cidade, em que entrardes e vos não receberem, saindo por suas ruas, dizei: Até o pó, que da vossa cidade se nos pegou, sacudimos sobre vós. Sabei, contudo, isto, que já o reino de Deus é chegado a vós. E

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digo-vos que mais tolerância haverá naquele dia para Sodoma do que para aquela cidade. Ai de ti, Corazim, ai de ti Betsaida! Que, se em Tiro e em Sidom se fizessem as maravilhas que em vós foram feitas já há muito assentadas em saco e cinza, se teriam arrependido. Portanto, para Tiro e Sidom haverá menos rigor no juízo, do que para vós. E tu, Capernaum, serás levantada até o céu? Até ao inferno será abatida. Quem vos ouve a vós, a mim me ouve; e, quem vos rejeita a vós, a mim me rejeita; e, quem a mim me rejeita, rejeita aquele que me enviou. E voltaram os setenta com alegria, dizendo: Senhor, pelo teu nome, até os demônios se nos sujeitam. E disse-lhes: Eu via a Satanás como raio, cair do céu. Eis que vos dou poder para pisar serpentes e escorpiões, e toda a força do inimigo, e nada vos fará dano algum. Mas não vos alegreis porque se vos sujeitem os espíritos; alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus. Naquela mesma hora se alegrou Jesus no Espírito Santo, e disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste às criancinhas; assim é, ó Pai, porque assim te aprouve. Tudo por meu Pai me foi entregue; e ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, nem quem é o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar. E, voltando-se para os discípulos, disse-lhes em particular: Bem-aventurados os olhos que vêem o que vós vedes; pois vos digo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vós vedes, e não o viram, e ouvir o que ouvis, e não ouviram.

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A parábola do bom samaritano (Lc 10: 25-37) E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês? E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso e viverás. Ele porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo?

E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram e, espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto. E ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo. E d’igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e vendo-o, passou de largo. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele, e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão; e, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhe azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele; e partindo ao outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que demais gastares eu to pagarei quando voltar. Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse pois Jesus: Vai, e faze da mesma maneira.

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A oração dominical (Lc 11:1-4) E aconteceu que, estando ele a orar num certo lugar, quando acabou lhe disse um dos seus discípulos: Senhor, ensinanos a orar, como também João ensinou aos seus discípulos. E ele lhes disse: Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; dá-nos cada dia o nosso pão cotidiano; e perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a qualquer que nos deve; e não nos conduzas em tentação mas livra-nos do mal.

Parábola do amigo inoportuno

(Lc 11:5-13) Disse-lhe também: Qual de vós terá um amigo e, se for procurá-lo à meia-noite, e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães, pois que um amigo meu chegou a minha casa, vindo de caminho, e não tenho que apresentar-lhe; se ele, respondendo de dentro, disser: Não me importunes; já está a porta fechada, e os meus filhos estão comigo na cama: não posso levantar-me para tos dar; digo-vos que, ainda que se não levante a dar-lhos, por ser seu amigo, levantar-se-á, todavia, por causa da sua importunação, e lhe dará tudo o que houver mister. E eu vos digo a vós: Pedi e dar-se-vos-á: buscai, e achareis: batei, e abrir-se-vos-á; porque qualquer que pede recebe; e quem busca acha; e a quem bate abrir-se-lhe-á. E qual o pai dentre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou também, se lhe pedir peixe, lhe dará por peixe uma serpente? Ou também, se lhe pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Pois se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos,

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quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?

A blasfêmia dos fariseus (Lc 11:14-28) E estava ele expulsando um demônio, o qual era mudo. E aconteceu que, saindo o demônio, o mudo falou; e maravilhou-se a multidão. Mas alguns deles diziam: Ele expulsa os demônios por Belzebu, príncipe dos demônios. E outros tentando-o, pediam-lhe um sinal do céu.

Mas, conhecendo ele os seus pensamentos, disse-lhes: Todo o reino, dividido contra si mesmo, será assolado; e a casa, dividida contra si mesma, cairá. E, se também Satanás está dividido contra si mesmo, como subsistirá o seu reino? Pois dizeis que eu expulso os demônios por Belzebu. E, se eu expulso os demônios por Belzebu, por quem os expulsam vossos filhos? Eles pois serão os vossos juízes. Mas, se eu expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente a vós é chegado o reino de Deus. Quando o valente guarda, armado, a sua casa, em segurança está tudo quanto tem; mas, sobrevindo outro mais valente do que ele, e vencendo-o, tira-lhe toda a sua armadura em que confiava, e reparte os seus despojos. Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta espalha. Quando o espírito imundo tem saído do homem, anda por lugares secos, buscando repouso; e, não o achando, diz: Tornarei para minha casa donde saí. E, chegando, acha-a varrida e adornada. Então vai, e leva consigo outros sete espíritos piores do que ele, e, entrando, habitam ali; e o último estado desse homem é pior do

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que o primeiro. E aconteceu que, dizendo ele estas coisas, uma mulher dentre a multidão, levantando a voz, lhe disse: Bem-aventurado o ventre que te trouxe e os peitos em que mamaste. Mas ele disse: Antes bem-aventurados os que ouvem a palavra de Deus e a guardam.

O sinal do profeta Jonas (Lc 11:29-32) E, ajuntando-se a multidão, começou a dizer: Maligna é esta geração; ela pede um sinal; e não lhe será dado outro sinal, senão o sinal do profeta Jonas; porquanto assim como Jonas foi sinal para os ninivitas, assim o Filho do homem será também para esta geração. A rainha do sul se levantará no juízo com os homens desta geração, e os condenará; pois até dos confins da terra veio ouvir a sabedoria de Salomão; e eis aqui está quem é maior do que Salomão.

Os homens de Nínive se levantarão no juízo com esta geração, e a condenarão; pois se converteram com a pregação de Jonas; e eis aqui está quem é maior do que Jonas.

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A candeia do corpo (Lc 11:33-36) E ninguém, acendendo uma candeia, a põe em oculto, nem debaixo do alqueire, mas no velador, para que os que entram vejam a luz. A candeia do corpo é o olho. Sendo pois o teu olho simples, também todo o teu corpo será luminoso; mas, se for mau, também o teu corpo será tenebroso. Vê pois que a luz que em ti há não sejam trevas. Se, pois, todo o teu corpo é luminoso, não tendo em trevas parte alguma, todo será luminoso, como quando a candeia te alumia com o seu resplandor.

Jesus censura os fariseus e os escribas (Lc 11:37-12:3) E, estando ele ainda falando, rogou-lhe um fariseu que fosse jantar com ele; e, entrando, assentou-se à mesa. Mas o fariseu admirou-se, vendo que se não lavara antes do jantar. E o Senhor lhe disse: Agora vós, os fariseus, limpais o exterior do copo e do prato, mas o vosso interior está cheio de rapina e maldade. Loucos! O que fez o exterior não fez também o interior? Dai antes esmola do que tiverdes, e eis que tudo vos será limpo. Mas ai de vós, fariseus, que dizimais a hortelã, e a arruda, e toda a hortaliça, e desprezais o juízo e o amor de Deus. Importava fazer estas coisas, e não deixar as outras. Ai de vós, fariseus, que amais os primeiros assentos nas sinagogas, e as saudações nas praças. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que sois como as sepulturas que não aparecem, e os homens que sobre elas andam

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não o sabem. E, respondendo um dos doutores da lei, disse-lhe: Mestre, quando dizes isso também nos afrontas a nós. E ele lhe disse: Ai de vós também, doutores da lei, que carregais os homens com cargas difíceis de carregar, e vós mesmos nem ainda com um dos vossos dedos tocais essas cargas. Ai de vós que edificais os sepulcros dos profetas, e vossos pais os mataram. Bem testificais, pois, que consentis nas obras de vossos pais; porque eles os mataram, e vós edificais os seus sepulcros. Por isso diz também a sabedoria de Deus: Profetas e apóstolos lhes mandarei; e eles matarão uns, e perseguirão outros; para que desta geração seja requerido o sangue de todos os profetas que, desde a fundação do mundo, foi derramado; desde o sangue de Abel, até ao sangue de Zacarias, que foi morto entre o altar e o templo; assim, vos digo, será requerido desta geração. Ai de vós, doutores da lei, que tirastes a chave da ciência; vós mesmos não entrastes, e impedistes os que entravam. E, dizendo-lhes ele isto, começaram os escribas e os fariseus a apertá-lo fortemente, e a fazê-lo falar acerca de muitas coisas. Armando-lhe ciladas, a fim de apanharem da sua boca alguma coisa para o acusarem. Ajuntando-se entretanto muitos milhares de pessoas, de sorte que se atropelavam uns aos outros, começou a dizer aos seus discípulos: Acautelai-vos primeiramente do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. Mas nada há encoberto que não haja de ser descoberto; nem oculto que não haja de ser sabido. Porquanto tudo o que em trevas dissestes, à luz será ouvido; e o que falastes ao ouvido no gabinete, sobre os telhados será apregoado.

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Não devemos temer os homens (Lc 12:4-12) E digo-vos, amigos meus: Não temais os que matam o corpo, e depois não têm mais que fazer. Mas eu vos mostrarei a quem deveis temer; temei aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno; sim, vos digo, a esse temei. Não se vendem cinco passarinhos por dois ceitis? E nem um deles está esquecido diante de Deus. E até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais pois; mais valeis vós do que muitos passarinhos. E digo-vos que todo aquele que me confessar diante dos homens também o Filho do homem o confessará diante dos anjos de Deus. Mas quem me negar diante dos homens será negado diante dos anjos de Deus. E a todo aquele que disser uma palavra contra o Filho do homem ser-lhe-á perdoada, mas ao que blasfemar contra o Espírito Santo não lhe será perdoado. E, quando vos conduzirem às sinagogas, aos magistrados e potestades, não estejais solícitos de como ou do que haveis de responder nem do que haveis de dizer. Porque na mesma hora vos ensinará o Espírito Santo o que vos convenha falar.

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A parábola do rico insensato (Lc 12:13-21) E disse-lhe um da multidão: Mestre, dize a meu irmão que reparta comigo a herança. Mas ele lhe disse: Homem, quem me pôs a mim por juiz ou repartidor entre vós? E disse-lhes: Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui. E propôs-lhes uma parábola, dizendo: A herdade dum homem rico tinha produzido com abundância; e arrazoava ele entre si, dizendo: Que farei? Não tenho onde recolher os meus frutos. E disse: Farei isto: derribarei os meus celeiros, e edificarei outros maiores, e ali recolherei todas as minhas novidades e os meus bens; e direi à minha alma: Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos: descansa, come, bebe e folga. Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado para quem será? Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus.

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Solicitude pela nossa vida (Lc 12:22-34) E disse aos seus discípulos: Portanto vos digo: Não estejais apreensivos pela vossa vida, sobre o que comereis, nem pelo corpo, sobre o que vestireis. Mais é a vida do que o sustento, e o corpo mais do que o vestido. Considerai os corvos, que nem semeiam, nem segam, nem têm despensa nem celeiro, e Deus os alimenta: Quanto mais valeis vós do que as aves? E qual de vós, sendo solícito, pode acrescentar um côvado à sua estatura? Pois, se nem ainda podeis as coisas mínimas, por que estais ansiosos pelas outras? Considerai os lírios, como eles crescem; não trabalham, nem fiam; e digo-vos que nem ainda Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles. E, se Deus assim veste a erva que hoje está no campo e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé? Não pergunteis, pois, que haveis de comer, ou que haveis de beber, e não andeis inquietos. Porque as gentes do mundo buscam todas essas coisas; mas vosso Pai sabe que haveis mister delas. Buscai antes o reino de Deus, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Não temas, ó pequeno rebanho, porque a vosso Pai agradou dar-vos o reino.

Vendei o que tendes, e dai esmolas. Fazei para vós bolsas que não se envelheçam; tesouro nos céus que nunca acabe, aonde não chega ladrão e a traça não rói. Porque, onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração.

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Parábola do servo vigilante (Lc 12:35-48) Estejam cingidos os vossos lombos, e acesas as vossas candeias. E sede vós semelhantes aos homens que esperam o seu senhor, quando houver de voltar das bodas, para que, quando vier, e bater, logo possam abrir-lhe. Bem-aventurados aqueles servos, os quais, quando o Senhor vier, achar vigiando! Em verdade vos digo que se cingirá, e os fará assentar à mesa, e, chegando-se, os servirá. E, se vier na segunda vigília, e se vier na terceira vigília e os achar assim, bem-aventurados são os tais servos. Sabei, porém, isto: que, se o pai de família soubesse a que hora havia de vir o ladrão, vigiaria, e não deixaria minar a sua casa. Portanto, estai vós também apercebidos; porque virá o Filho do homem à hora que não imaginais. E disse-lhe Pedro: Senhor, dizes essa parábola a nós, ou também a todos? E disse o Senhor: Qual é pois o mordomo fiel e prudente, a quem o senhor pôs sobre os seus servos, para lhes dar a tempo a ração? Bem-aventurado aquele servo a quem o senhor, quando vier, achar fazendo assim. Em verdade vos digo que sobre todos os seus bens o porá.

Mas, se aquele servo disser em seu coração: O meu senhor tarda em vir; e começar a espancar os criados e criadas, e a comer, e a beber, e a embriagar-se, virá o senhor daquele servo no dia em que o não espera, e numa hora que ele não sabe, e separá-lo-á, e lhe dará a sua parte com os infiéis. E o servo que soube a vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites; mas o que a não soube, e fez coisas dignas de açoites, com poucos açoites será castigado. E, a qualquer que muito for dado, muito

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se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou muito mais se lhe pedirá.

Jesus traz fogo e dissensão à terra (Lc 12:49-53) Vim lançar fogo na terra, e que mais quero, se já está aceso? Importa, porém, que seja batizado com um certo batismo: e como me angustio até que venha a cumprir-se! Cuidais vós que vim trazer paz à terra? Não, vos digo, mas antes dissensão; porque daqui em diante estarão cinco divididos numa casa; três contra dois, e dois contra três. O pai estará dividido contra o filho, e o filho contra o pai; a mãe contra a filha, e a filha contra a mãe; a sogra contra sua nora, e a nora contra sua sogra.

Os sinais dos tempos (Lc 12:54-59) E dizia também à multidão: Quando vedes a nuvem que vem do ocidente, logo dizeis: Lá vem chuva, e assim sucede. E, quando assopra o sul, dizeis: Haverá calma; e assim sucede.

Hipócritas, sabeis discernir a face da terra e do céu; como não sabeis então discernir este tempo? E por que não julgais também por vós mesmos o que é justo? Quando pois vais com o teu adversário ao magistrado, procura livrar-te dele no caminho; para que não suceda que te conduza ao juiz, e o juiz te entregue ao meirinho, e o meirinho te encerre na prisão. Digo-te que não sairás dali enquanto não pagares o derradeiro ceitil.

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A mortandade dos galileus e a queda da torre de Siloé (Lc 13:1-5) E naquele mesmo tempo estavam presentes ali alguns que lhe falavam dos galileus cujo sangue Pilatos misturara com os seus sacrifícios. E, respondendo Jesus, disse-lhes: Cuidais vós que esses galileus foram mais pecadores do que todos os galileus, por terem padecido tais coisas? Não, vos digo; antes, se vos não arrependerdes, todos de igual modo perecereis. E aqueles dezoito, sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, cuidais que foram mais culpados do que todos quantos homens habitam em Jerusalém? Não, vos digo; antes, se vos não arrependerdes, todos de igual modo perecereis.

A parábola da figueira estéril (Lc 13:6-9) E dizia esta parábola: Um certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha, e foi procurar nela fruto, não o achando; e disse ao vinhateiro: Eis que há três anos venho procurar fruto nesta figueira, e não o acho; corta-a; por que ocupa ainda a terra inutilmente? E, respondendo ele, disse-lhe: Senhor, deixa-a este ano, até que eu a escave e a esterque; e, se der fruto, ficará, e, se não, depois a mandarás cortar.

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Cura de uma mulher paralítica (Lc 13:10-17) E ensinava no sábado, numa das sinagogas. E eis que estava ali uma mulher que tinha um espírito de enfermidade, havia já dezoito anos; e andava curvada, e não podia de modo algum endireitar-se. E, vendo-a Jesus, chamou-a a si, e disse-lhe: Mulher, estás livre da tua enfermidade. E pôs as mãos sobre ela, e logo se endireitou, e glorificava a Deus. E, tomando a palavra o príncipe da sinagoga, indignado porque Jesus curava no sábado, disse à multidão: Seis dias há em que é mister trabalhar: nestes pois vinde para serdes curados, e não no dia de sábado. Respondeu-lhe, porém, o Senhor, e disse: Hipócrita, no sábado não desprende da manjedoura cada um de vós o seu boi, ou jumento, e não o leva a beber? E não convinha soltar desta prisão, no dia de sábado, esta filha de Abraão, a qual há dezoito anos Satanás tinha presa? E, dizendo ele isto, todos os seus adversários ficaram envergonhados, e todo o povo se alegrava por todas as coisas gloriosas que eram feitas por ele.

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Parábolas do grão de mostarda e do fermento (Lc 13:18-21) E dizia: A que é semelhante o reino de Deus, e a que o compararei? É semelhante ao grão de mostarda que um homem, tomando-o, lançou na sua horta; e cresceu, e fez-se grande árvore, e em seus ramos se aninharam as aves do céu. E disse outra vez: A que compararei o reino de Deus? É semelhante ao fermento que uma mulher, tomando-o, escondeu em três medidas de farinha, até que tudo levedou.

A porta estreita

(Lc 13:22-30) E percorria as cidades e as aldeias, ensinando, e caminhando para Jerusalém. E disse-lhe um: Senhor, são poucos os que se salvam? E ele lhe respondeu: Porfiai por entrar pela porta estreita; porque eu vos digo que muitos procurarão entrar, e não poderão. Quando o pai de família se levantar e cerrar a porta, e começardes a estar de fora, e a bater à porta, dizendo: Senhor, Senhor, abre-nos; e, respondendo ele, vos disser: Não sei donde vós sois; então começareis a dizer: Temos comido e bebido na tua presença, e tu tens ensinado nas nossas ruas. E ele vos responderá: Digo-vos que não sei donde vós sois; apartai-vos de mim, vós todos os que praticais a iniquidade. Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, e Isaque, e Jacó, e todos os profetas, no reino de Deus, e vós lançados fora. E virão do oriente, e do ocidente, e do norte, e do sul, e assentar-se-ão à mesa no reino de Deus. E eis que derradeiros há que serão os

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primeiros; e primeiros há que serão os derradeiros.

Jesus é avisado do ódio de Herodes (Lc 13:31-35) Naquele mesmo dia chegaram uns fariseus, dizendo-lhe: Sai, e retira-te daqui, porque Herodes quer matar-te. E lhes respondeu: Ide, e dizei àquela raposa: Eis que eu expulso demônios, e efetuo curas, hoje e amanhã, e no terceiro dia sou consumado. Importa, porém, caminhar hoje, amanhã, e no dia seguinte, para que não suceda que morra um profeta fora de Jerusalém. Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha os seus pintos debaixo das asas, e não quiseste? Eis que a vossa casa se vos deixará deserta. E em verdade vos digo que não me vereis até que venha o tempo em que digais: Bendito aquele que vem em nome do Senhor.

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Cura de um hidrópico (Lc 14:1-6) Aconteceu num sábado que, entrando ele em casa de um dos principais dos fariseus para comer pão, eles o estavam observando. E eis que estava ali diante dele um certo homem hidrópico. E Jesus, tomando a palavra, falou aos doutores da lei, e aos fariseus, dizendo: É lícito curar no sábado? Eles, porém, calaram-se. E tomando-o, o curou e despediu. E disse-lhes: Qual será de vós o que, caindo-lhe num poço, em dia de sábado, o jumento ou o boi, o não tire logo? E nada lhe podiam replicar sobre isto.

Parábola dos primeiros assentos e dos convidados (Lc 14:7-14) E disse aos convidados uma parábola, reparando como escolhiam os primeiros assentos, dizendo-lhes: Quando por alguém fores convidado às bodas, não te assentes no primeiro lugar, não aconteça que esteja convidado outro mais digno do que tu; e, vindo o que te convidou a ti e a ele, te diga: Dá o lugar a este; e então, com vergonha, tenhas de tomar o derradeiro lugar. Mas, quando fores convidado, vai, e assenta-te no derradeiro lugar, para que, quando vier o que te convidou, te diga: Amigo, sobe mais para cima. Então terás honra diante dos que estiverem contigo à mesa. Porquanto qualquer que a si mesmo se exaltar será humilhado, e aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado.

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E dizia também ao que o tinha convidado: Quando deres um jantar, ou uma ceia, não chames os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem vizinhos ricos, para que não suceda que também eles te tornem a convidar, e te seja isso recompensado. Mas, quando fizeres convite, chama os pobres, aleijados, mancos e cegos, e serás bem-aventurado; porque eles não têm com que to recompensar; mas recompensado te será na ressurreição dos justos.

Parábola da grande ceia (Lc 14: 15-24) E, ouvindo isto um dos que estavam com ele à mesa, disse -lhe: Bem-aventurado o que comer pão no reino de Deus.

Porém ele lhe disse: Um certo homem fez uma grande ceia, e convidou a muitos. E à hora da ceia mandou o seu servo dizer aos convidados: Vinde, que já tudo está preparado. E todos à uma começaram a escusar-se. Disse-lhe o primeiro: Comprei um campo, e importa ir vê-lo; rogo-te que me ajas por escusado. E outro disse: Comprei cinco juntas de bois, e vou experimentálos; rogo-te que me hajas por escusado. E outro disse: Casei, e portanto não posso ir. E, voltando aquele servo, anunciou estas coisas ao seu senhor. Então o pai de família, indignado, disse ao seu servo: Sai depressa pelas ruas e bairros da cidade, e traze aqui os pobres, e aleijados, e mancos e cegos. E disse o servo: Senhor, feito está como mandaste; e ainda há lugar. E disse o senhor ao servo: Sai pelos caminhos e valados e força-os a entrar, para que a minha casa se encha. Porque eu vos digo que nenhum daqueles varões que foram convidados provará a minha ceia.

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Parábola acerca da providência (Lc 14:25-35) Ora ia com ele uma grande multidão; e, voltando-se, disse -lhe: Se alguém vier a mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. E, qualquer que não levar a sua cruz, e não vier após mim, não pode ser meu discípulo. Pois qual de vós querendo edificar uma torre, não se assenta primeiro a fazer as contas dos gastos, para ver se tem com que a acabar? Para que não aconteça que, depois de haver posto os alicerces, e não a podendo acabar, todos os que a virem comecem a escarnecer dele, dizendo: Este homem começou a edificar e não pôde acabar. Ou qual é o rei que, indo à guerra a pelejar contra outro rei, não se assenta primeiro a tomar conselho sobre se com dez mil pode sair ao encontro do que vem contra ele com vinte mil? Doutra maneira, estando o outro ainda longe, manda embaixadores, e pede condições de paz. Assim, pois, qualquer de vós, que não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo. Bom é o sal; mas, se o sal degenerar, com que se adubará? Nem presta para a terra, nem para o monturo; lançam-no fora. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.

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Parábolas da ovelha e da dracma perdidas (Lc 15:1-10) E chegavam-se a ele todos os publicanos e pecadores para o ouvir. E os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo: Este recebe pecadores, e come com eles. E ele lhes propôs esta parábola, dizendo: Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas, e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove e não vai após a perdida até que venha a achá-la? E, achando-a, a põe sobre seus ombros, gostoso; e, chegando a casa, convoca os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida. Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento. Ou qual a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma dracma, não acende a candeia, e varre a casa, e busca com diligência até a achar? E, achando-a, convoca as amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo, porque já achei a dracma perdida.

Assim vos digo que há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende.

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Parábola do filho pródigo (Lc 15:11-32) E disse: Um certo homem tinha dois filhos; e o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte da fazenda que me pertence. E ele repartiu por eles a fazenda. E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua e ali desperdiçou a sua fazenda, vivendo dissolutamente. E, havendo ele gastado tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a padecer necessidades. E foi, e chegou-se a um dos cidadãos daquela terra, o qual o mandou para os seus campos a apascentar porcos. E desejava encher o seu estômago com as bolotas que os porcos comiam, e ninguém lhe dava nada. E, tornando em si, disse: Quantos jornaleiros de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome! Levantar-meei, e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como um dos teus jornaleiros. E, levantando-se, foi para seu pai; e, quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão, e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou. E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e perante ti, e já não sou digno de ser chamado teu filho. Mas o pai disse aos seus servos: Trazei depressa o melhor vestido, e vesti-lho, e ponde-lhe um anel na mão, e alparcas nos pés; e trazei o bezerro cevado, e matai-o; e comamos, e alegremo -nos; porque este meu filho estava morto, e reviveu, tinha se perdido, e foi achado. E começaram a alegrar-se. E o seu filho mais velho estava no campo; e quando veio, e chegou perto da casa, ouviu a música e as danças. E, chamando

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um dos servos, perguntou-lhe que era aquilo. E ele lhe disse: Veio teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo. Mas ele se indignou, e não queria entrar. E, saindo o pai, instava com ele. Mas, respondendo ele, disse ao pai: Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos; vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou a tua fazenda com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado. E ele lhe disse: Filho, tu sempre estás comigo, e todas as minhas coisas são tuas; mas era justo alegrarmo-nos e folgarmos, porque este teu irmão estava morto, e reviveu; e tinha-se perdido, e achou-se.

Parábola do mordomo infiel (Lc 16:1-13) E dizia também aos seus discípulos: Havia um certo homem rico, o qual tinha um mordomo; e este foi acusado perante ele de dissipar os seus bens. E ele, chamando-o, disselhe: Que é isto que ouço de ti? Dá contas da tua mordomia, porque já não poderás ser mais meu mordomo. E o mordomo disse consigo: Que farei, pois que o meu senhor me tira a mordomia? Cavar, não posso; de mendigar, tenho vergonha. Eu sei o que hei de fazer, para que, quando for desapossado da mordomia, me recebam em suas casas. E, chamando a si cada um dos devedores do seu senhor, disse ao primeiro: Quanto deves ao meu senhor? E ele respondeu: Cem medidas de azeite. E disselhe: Toma a tua obrigação, e, assentando-te já, escreve cinquenta. Disse depois a outro: E tu quanto deves? E ele respondeu: Cem alqueires de trigo. E disse-lhe: Toma a tua obrigação, e escreve oitenta. E louvou aquele senhor o injusto mordomo por haver

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procedido prudentemente, porque os filhos deste mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz. E eu vos digo: Granjeai amigos com as riquezas da injustiça; para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos. Quem é fiel no mínimo, também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo, também é injusto no muito. Pois, se nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras? E, se no alheio não fostes fiéis, quem vos dará o que é vosso? Nenhum servo pode servir a dois senhores; porque, ou há de aborrecer um e amar o outro, ou se há de chegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.

A autoridade da lei (Lc 16:14-18) E os fariseus, que eram avarentos, ouviam todas estas coisas, e zombavam dele. E disse-lhes: Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Deus conhece os vossos corações, porque, o que entre os homens é elevado, perante Deus é abominação. A lei e os profetas duraram até João: desde então é anunciado o reino de Deus, e todo o homem emprega força para entrar nele. E é mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til da lei. Qualquer que deixa sua mulher, e casa com outra, adultera; e aquele que casa com a repudiada pelo marido adultera também.

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A [história] do rico e Lázaro (Lc 16:19-31) Ora, havia um homem rico, e vestia-se de púrpura e de linho finíssimo, e vivia todos os dias regalada e esplendidamente. Havia também um certo mendigo, chamado Lázaro, que jazia cheio de chagas à porta daquele. E desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico; e os próprios cães vinham lamber-lhe as chagas. E aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio d’Abraão; e morreu também o rico, e foi sepultado. E no Hades, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio. E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama.

Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é consolado e tu atormentado; e, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tão pouco os de lá passar para cá. E disse ele: Rogo-te pois, ó pai, que o mandes a casa de meu pai. Pois tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham também para este lugar de tormento. Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos. E disse ele: Não, pai Abraão; mas, se algum dos mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam. Porém Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tão pouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite.

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Acerca dos escândalos, do perdão, do poder da fé e dos servos inúteis (Lc 17:1-10) E disse aos discípulos: É impossível que não venham escândalos, mas ai daquele por quem vierem! Melhor lhe fora que lhe pusessem ao pescoço uma mó de atafona, e fosse lançado ao mar, do que fazer tropeçar um destes pequenos. Olhai por vós mesmos. E, se teu irmão pecar contra ti, repreende-o, e, se ele se arrepender, perdoa-lhe. E, se pecar contra ti sete vezes no dia, e sete vezes no dia vier ter contigo, dizendo: Arrependo-me; perdoa-lhe.

fé.

Disseram então os apóstolos ao Senhor: Acrescenta-nos a

E disse o Senhor: Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: Desarraiga-te daqui, e planta-te no mar; e ela vos obedeceria. E qual de vós terá um servo a lavrar ou a apascentar gado, a quem, voltando ele do campo, diga: Chega-te, e assenta-te à mesa? E não lhe diga antes: Prepara-me a ceia, e cinge-te, e serve-me, até que tenha comido e bebido, e depois comerás e beberás tu? Porventura dá graças ao tal servo, porque fez o que lhe foi mandado? Creio que não. Assim também vós, quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer.

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Cura de dez leprosos (Lc 17:11-19) E aconteceu que, indo ele a Jerusalém, passou pelo meio de Samaria e da Galiléia; e, entrando numa certa aldeia, saíramlhe ao encontro dez homens leprosos, os quais pararam de longe; e, levantaram a voz dizendo: Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós. E ele, vendo-os, disse-lhes: Ide, e mostrai-vos aos sacerdotes. E aconteceu que, indo eles, ficaram limpos. E um deles, vendo que estava são, voltou glorificando a Deus em alta voz: e caiu aos seus pés, com o rosto em terra, dando-lhe graças: e este era samaritano.

E, respondendo Jesus, disse: Não foram dez os limpos? E onde estão os nove? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro? E disse-lhe: Levanta-te, e vai; a tua fé te salvou.

A vinda súbita do reino de Deus (Lc 17:20-37) E, interrogado pelos fariseus sobre quando havia de vir o reino de Deus, respondeu-lhes, e disse: O reino de Deus não vem com aparência exterior. Nem dirão: Ei-lo aqui, ou, Ei-lo ali; porque eis que o reino de Deus está entre vós. E disse aos discípulos: Dias virão em que desejareis ver um dos dias do Filho do homem, e não o vereis. E dir-vos-ão: Ei-

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lo aqui, ou Ei-lo ali; não vades, nem os sigais; porque, como o relâmpago ilumina desde uma extremidade inferior do céu até à outra extremidade, assim será também o Filho do homem no seu dia. Mas primeiro convém que ele padeça muito, e seja reprovado por esta geração. E, como aconteceu nos dias de Noé, assim será também nos dias do Filho do homem. Comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio, e os consumiu a todos. Como também da mesma maneira aconteceu nos dias de Ló: comiam, bebiam, compravam, vendiam, plantavam e edificavam; mas no dia em que Ló saiu de Sodoma choveu do céu fogo e enxofre, e os consumiu a todos. Assim será no dia em que o Filho do homem se há de manifestar. Naquele dia, quem estiver no telhado, tendo as suas alfaias em casa, não desça a tomá-las; e, da mesma sorte, o que estiver no campo não volte para trás. Lembrai-vos da mulher de Ló. Qualquer que procurar salvar a sua vida, perdê-la-á, e qualquer que a perder, salvá-la-á. Digo-vos que naquela noite estarão dois numa cama; um será tomado, e outro será deixado. Duas estarão juntas, moendo; uma será tomada, e outra será deixada. Dois estarão no campo; um será tomado, o outro será deixado. E, respondendo, disseram-lhe: Onde, Senhor? águias.

E ele lhes disse: Onde estiver o corpo, aí se ajuntarão as

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A parábola do juiz iníquo (Lc 18:1-8) E contou-lhes também uma parábola sobre o dever de orar sempre, e nunca desfalecer, dizendo: Havia numa cidade um certo juiz, que nem a Deus temia nem respeitava o homem. Havia também naquela mesma cidade uma certa viúva, e ia ter com ele, dizendo: Faze-me justiça contra o meu adversário. E por algum tempo não quis; mas depois disse consigo: Ainda que não temo a Deus, nem respeito os homens, todavia, como esta viúva me molesta, hei de fazer-lhe justiça, para que enfim não volte, e me importune muito. E disse o Senhor: Ouvi o que diz o injusto juiz. E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele de dia e de noite, ainda que tardio para com eles? Digo-vos que depressa lhes fará justiça. Quando porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?

A parábola do fariseu e do publicano (Lc 18:9-14)

E disse também esta parábola a uns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros: Dois homens subiram ao templo, a orar; um fariseu e o outro publicano. O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças te dou, porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana, e dou os dízimos de tudo quanto possuo. O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito,

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dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado.

Acerca do divórcio (Mt 19:1-12; Mc 10:1-12) E aconteceu que, concluindo Jesus estes discursos, saiu da Galiléia, e dirigiu-se aos confins da Judéia, além do Jordão. E seguiram-no muitas gentes e curou-as ali; e a multidão se reuniu em torno dele e tornou a ensiná-los, como tinha por costume. E, aproximando-se dele os fariseus, perguntaram-lhe, tentando-o: É lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo? Mas ele, respondendo, disse-lhes: Que lhes mandou Moisés? E eles disseram: Moisés permitiu escrever carta de divórcio, e repudiar. E Jesus, respondendo, disse-lhes: Não tendes lido que aquele que os fez, desde o princípio da criação, macho e fêmea os fez, e disse: Portanto deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e se unirá à sua mulher, e serão dois numa só carne? Portanto o que Deus ajuntou não o separe o homem. Disseram-lhe eles: Então por que mandou Moisés dar-lhe carta de divórcio, e repudiá-la? Disse-lhes ele: Moisés por causa da dureza dos vossos corações vos permitiu escrever carta de divórcio e repudiar

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vossas mulheres; mas ao principio não foi assim. Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de prostituição, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério. E em casa tornaram os discípulos a interrogá-lo acerca disto mesmo: Se assim é a condição do homem relativamente à mulher, não convém casar. Ele, porém, lhes disse: Qualquer que deixar a sua mulher e casar com outra, adultera com ela. E, se a mulher deixar o seu marido, e casar com outro, adultera. Nem todos podem receber esta palavra, mas só aqueles a quem foi concedido. Porque há eunucos que assim nasceram do ventre da mãe; e há eunucos que foram castrados pelos homens; e há eunucos que se castraram a si mesmos por causa do reino dos céus. Quem pode receber isto, receba-o.

Jesus abençoa os meninos (Mt 19:13-15; Mc 10:13-16; Lc 18:15-17) Trouxeram-lhe então alguns meninos, para que sobre eles pusesse as mãos, e orasse; mas os discípulos, vendo isto, repreendiam aos que lhos traziam.

Jesus, porém, vendo isto, indignou-se, e chamando-os para si, disse-lhes: Deixai vir os meninos a mim, e não os impeçais; porque dos tais é o reino de Deus. Em verdade vos digo que qualquer que não receber o reino de Deus como menino de maneira nenhuma entrará nele. E, tomando-os nos seus braços, e impondo-lhes as mãos, os abençoou. E partiu dali.

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O mancebo rico (Mt 19:16-30; Mc 10:17-31; Lc 18:18-30) E, pondo-se a caminho, correu para ele um certo príncipe, o qual se ajoelhou diante dele, e lhe perguntou: Bom mestre, que farei para herdar a vida eterna? E Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há bom, senão um só, que é Deus. Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos. Disse-lhe ele: Quais? E Jesus disse: Tu sabes os mandamentos: Não adulterarás; não matarás; não furtarás; não dirás falsos testemunhos; não defraudarás alguém; honra a teu pai e a tua mãe; e amarás o teu próximo como a ti mesmo. Disse-lhe, porém, respondendo, o mancebo: Mestre, todas essas coisas tenho guardado desde a minha mocidade; que me falta ainda? E quando Jesus ouviu isto, olhando para ele, o amou e lhe disse: Se queres ser perfeito, ainda te falta uma coisa: vai, vende tudo quanto tens, e reparte-o pelos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me. E o mancebo, ouvindo pesaroso esta palavra, retirou-se muito triste, porque possuía muitas propriedades. E, vendo Jesus que ele ficara muito triste, olhando em redor, disse aos seus discípulos: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas! Em verdade vos digo que é difícil entrar um rico no reino dos céus.

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E os discípulos se admiraram destas suas palavras; mas Jesus tornando a falar, disse-lhes: Filhos, quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar no reino de Deus! E outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus. Os seus discípulos, ouvindo isto, admiraram-se ainda muito mais, dizendo entre si: Logo pois quem poderá salvar-se? E Jesus, olhando para eles, disse-lhes: Aos homens é isso impossível, mas não para Deus, porque para Deus todas as coisas são possíveis. Então Pedro, tomando a palavra, começou a dizer-lhe: Eis que nós deixamos tudo, e te seguimos; que receberemos? E Jesus, respondendo, disse-lhes: Em verdade vos digo que vós, que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos d’Israel. Em verdade vos digo que ninguém há, que tenha deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou campos, por amor de mim e do Evangelho, pelo reino de Deus, que não receba cem vezes tanto, já neste mundo, em casas, e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e campos, com perseguições; e no século futuro herdará a vida eterna. Porém muitos primeiros serão derradeiros, e muitos derradeiros serão primeiros.

A parábola dos trabalhadores e das diversas horas de trabalho (Mt 20:1-16) Porque o reino dos céus é semelhante a um homem, pai de família, que saiu de madrugada a assalariar trabalhadores para

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a sua vinha. E, ajustando com os trabalhadores a um dinheiro por dia, mandou-os para a sua vinha. E, saindo perto da hora terceira, viu outros que estavam ociosos na praça. E disse-lhes: Ide vós também para a vinha, e dar-vos-ei o que for justo. E eles foram. Saindo outra vez, perto da hora sexta e nona, fez o mesmo. E, saindo perto da hora undécima, encontrou outros que estavam ociosos, e perguntou-lhes: Por que estais ociosos todo o dia? Disseram-lhe eles: Porque ninguém nos assalariou. Diz-lhes ele: Ide vós também para a vinha, e recebereis o que for justo. E, aproximando-se a noite, diz o senhor da vinha ao seu mordomo: Chama os trabalhadores e paga-lhes o jornal, começando pelos derradeiros até aos primeiros. E, chegando os que tinham ido perto da hora undécima, receberam um dinheiro cada um; vindo, porém, os primeiros, cuidaram que haviam de receber mais; mas do mesmo modo receberam um dinheiro cada um. E, recebendo-o, murmuravam contra o pai de família, dizendo: Estes derradeiros trabalharam só uma hora, e tu os igualaste conosco, que suportamos a fadiga e a calma do dia. Mas ele, respondendo, disse a um deles: Amigo, não te faço agravo; não ajustaste tu comigo um dinheiro? Toma o que é teu, e retira-te; eu quero dar a este derradeiro tanto como a ti. Ou não me é lícito fazer o que quiser do que é meu? Ou é mal o teu olho porque eu sou bom? Assim os derradeiros serão os primeiros, e os primeiros derradeiros; porque muitos são chamados, mas pouco escolhidos.

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Jesus anuncia a sua Paixão (Mt 20:17-19; Mc 10:32-34; Lc 18:31-34) E iam no caminho, subindo para Jerusalém; e Jesus ia adiante deles. E eles maravilhavam-se, e seguiam-no atemorizados. E, tornando a tomar consigo de parte os seus doze discípulos, começou a dizer-lhes as coisas que lhe deviam sobrevir. Dizendo: Eis que nós subimos a Jerusalém, e se cumprirá no Filho do homem tudo o que pelos profetas foi escrito; pois o Filho do homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes, e aos escribas, e o condenarão à morte, e o entregarão aos gentios. E o escarnecerão, e cuspirão nele; e havendo-o açoitado e injuriado o crucifiquem, e ao terceiro dia ressuscitará.

E eles nada disto entendiam, e esta palavra lhes era encoberta, não percebendo o que se lhes dizia.

O pedido dos filhos de Zebedeu (Mt 20:20-28; Mc 10:35-45) Então se aproximou dele a mãe dos filhos de Zebedeu, com seus filhos, Tiago e João, adorando-o, e fazendo um pedido, dizendo: Mestre, quereríamos que nos fizesses o que pedirmos. E ele lhes disse: Que quereis que vos faça? Ela respondeu: Dize que estes meus dois filhos se assentem, um à tua direita e outro à tua esquerda na tua glória, no teu reino. Jesus, porém, respondendo, disse: Não sabeis o que pedis;

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podeis vós beber o cálice que eu hei de beber, e ser batizados com o batismo com que eu sou batizado? Dizem-lhe eles: Podemos. Jesus, porém, disse-lhes: Em verdade, vós bebereis o cálice que eu beber, e sereis batizados com o batismo com que eu sou batizado; mas o assentar-se à minha direita ou à minha esquerda, não me pertence a mim concedê-lo, mas isso é para aqueles para quem meu Pai o tem reservado. E os dez, tendo ouvido isto, começaram a indignar-se contra Tiago e João. Então Jesus, chamando-os para junto de si, disse: Bem sabeis que pelos príncipes dos gentios são estes dominados, e que os grandes exercem autoridade sobre eles. Mas não será assim entre vós; antes, todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal; e qualquer que entre vós quiser ser o primeiro será servo de todos. Porque o Filho do homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos. O cego de Jericó Nota 01 - pg. 94

(Mt 20:30-34; Mc 10:46a; Lc 18:35-43) Depois foram para Jericó. E aconteceu que, chegando ele perto de Jericó, estava um cego assentado junto ao caminho, mendigando. E, ouvindo passar a multidão, perguntou que era aquilo. E disseram-lhe que Jesus Nazareno passava. Então clamou, dizendo: Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim. E os que iam passando repreendiam-no para que se calasse; mas ele clamava ainda mais: Filho de Davi,

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tem misericórdia de mim. Então Jesus, parando, mandou que lho trouxessem; e, chegando ele, perguntou-lhe, dizendo: Que queres que te faça? E ele disse: Senhor, que eu veja. Então Jesus, movido de íntima compaixão, tocou-lhe nos olhos. E Jesus lhe disse: Vê: a tua fé te salvou. E logo viu, e seguia-o, glorificando a Deus. E todo o povo, vendo isto, dava louvores a Deus.

Zaqueu o publicano (Lc 19:1-10)

E, tendo Jesus entrado em Jericó, ia passando. E eis que havia ali um varão chamado Zaqueu; e era este um chefe dos publicanos, e era rico. E procurava ver quem era Jesus, e não podia, por causa da multidão, pois era de pequena estatura. E, correndo adiante, subiu a uma figueira brava para o ver; porque havia de passar por ali. E, quando Jesus chegou àquele lugar, olhando para cima, viu-o e disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, porque hoje me convém pousar em tua casa. E, apressando-se, desceu, e recebeu-o gostoso. E, vendo todos isto, murmuravam, dizendo que entrara para ser hóspede de um homem pecador. E, levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor: Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado. E disse-lhe Jesus: Hoje veio a salvação a esta casa, pois

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também este é filho de Abraão. Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido.

Parábola dos dez servos e das dez minas (Lc 19:11-27) E, ouvindo eles estas coisas, ele prosseguiu, e contou uma parábola; porquanto estava perto de Jerusalém, e cuidavam que logo se havia de manifestar o reino de Deus. Disse pois: Certo homem nobre partiu para uma terra remota, a fim de tomar para si um reino e voltar depois. E, chamando dez servos seus, deu-lhes dez minas, e disse-lhes: Negociai até que eu venha.

Mas os seus concidadãos aborreciam-no, e mandaram após ele embaixadores, dizendo: Não queremos que este reine sobre nós. E aconteceu que, voltando ele, depois de ter tomado o reino, disse que lhe chamassem aqueles servos, a quem tinha dado o dinheiro, para saber o que cada um tinha ganhado, negociando. E veio o primeiro dizendo: Senhor, a tua mina rendeu dez minas. E ele lhe disse: Bem está, servo bom, porque no mínimo foste fiel, sobre dez cidades terás a autoridade. E veio o segundo, dizendo: Senhor, a tua mina rendeu cinco minas. E a este disse também: Sê tu também sobre cinco cidades. E veio o outro, dizendo: Senhor, aqui está a tua mina, que guardei num lenço; porque tive medo de ti, que és homem rigoroso, que tomas o que não puseste, e segas o que não semeaste. Porém ele lhe disse: Mau servo, pela tua boca te

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julgarei; sabias que eu sou homem rigoroso, que tomo o que não pus, e sego o que não semeei; por que não meteste pois o meu dinheiro no banco, para que eu, vindo, o exigisse com os juros? E disse aos que estavam com ele: Tirai-lhe a mina, e dai-a ao que tem dez minas. (E disseram-lhe eles: Senhor, ele tem dez minas). Pois eu vos digo que a qualquer que tiver ser-lhe-á dado, mas ao que não tiver até o que tem lhe será tirado. E, quanto àqueles meus inimigos que não quiseram que eu reinasse sobre eles, trazei-os aqui e matai-os diante de mim.

O [outro] cego de Jericó (Mt 20:29-34; Mc 10:46b-52; Lc 19:28) E, saindo ele de Jericó com seus discípulos, e uma grande multidão, Bartimeu, o cego, filho de Timeu, estava assentado junto do caminho, mendigando. E ouvindo que era Jesus de Nazaré, começou a clamar, e a dizer: Jesus, filho de Davi! Tem misericórdia de mim. E muitos o repreendiam, para que se calasse; mas ele clamava cada vez mais: Senhor, Filho de Davi! Tem misericórdia de mim. E Jesus, parando, disse que o chamassem; e chamaram o cego, dizendo-lhe: Tem bom ânimo; levanta-te, que ele te chama. E ele, lançando de si a sua capa, levantou-se, e foi ter com Jesus. E Jesus, falando, disse-lhe: Que queres que te faça? E o cego lhe disse: Mestre que eu tenha vista. Então Jesus, movido de íntima compaixão, tocou-lhe nos olhos. E Jesus lhe disse: Vai, a tua fé te salvou. E logo viu, e seguiu a Jesus pelo caminho. E, dito isto, ia caminhando adiante,

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subindo para Jerusalém.

Maria unge com unguento os pés de Jesus Nota 02 - pg. 96 (Mc 11:1b; Lc 10:38-42 / 19:29a; Jo 11:55 - 12:11) E estava próxima a páscoa dos judeus, e muitos daquela região subiram a Jerusalém antes da Páscoa para se purificarem. Buscavam pois a Jesus, e diziam uns aos outros, estando no templo: Que vos parece? Não virá à festa? Ora os principais dos sacerdotes e os fariseus tinham dado ordem para que, se alguém soubesse onde ele estava, o denunciasse, para o prenderem. E indo eles de caminho, foi Jesus seis dias antes da páscoa a Betânia, onde estava Lázaro, o que falecera, e a quem ressuscitara dos mortos, chegando perto de Betfagé. E certa mulher, por nome Marta, o recebeu em sua casa; e tinha esta uma irmã chamada Maria, a qual, assentando-se também aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra. Fizeram-lhe pois uma ceia, e Marta servia, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele. Marta, porém, andava distraída em muitos serviços, e, aproximando-se, disse: Senhor, não se te dá de que minha irmã me deixe servir só? Dize-lhe pois que me ajude. E, respondendo Jesus, disse-lhe: Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas. Mas uma só é necessária; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada. Então Maria, tomando um arrátel de unguento de nardo puro, de muito preço, ungiu os pés de Jesus, e enxugou-lhe os pés com os seus cabelos; e encheu-se a casa do cheiro do

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unguento. Então um dos seus discípulos, Judas Iscariotes, filho de Simão, o que havia de traí-lo, disse: Por que não se vendeu este unguento por trezentos dinheiros e não se deu aos pobres? Ora ele disse isto, não pelo cuidado que tivesse dos pobres, mas porque era ladrão e tinha a bolsa, e tirava o que ali se lançava. Disse pois Jesus: Deixai-a; para o dia da minha sepultura guardou isto; porque os pobres sempre tendes convosco; mas a mim nem sempre me tendes. E muita gente dos judeus soube que ele estava ali; e foram, não só por causa de Jesus, mas também para ver a Lázaro, a quem ressuscitara dos mortos. E os principais dos sacerdotes tomaram deliberação para matar também a Lázaro; porque muitos dos judeus, por causa dele, iam e criam em Jesus.

A entrada [ ] de Jesus em Jerusalém Nota 03 - pg. 99 (Mt 21:1-11; Mc 11:1ac-11; Lc 19:29b-44; Jo 12:12-19) No dia seguinte, quando se aproximaram de Jerusalém, e chegaram a Betfajé, junto ao monte chamado das Oliveiras, enviou então Jesus dois dos seus discípulos, dizendo-lhes: Ide à aldeia que está defronte de vós; e, logo que ali entrardes, encontrareis uma jumenta presa, e um jumentinho com ela, sobre o qual ainda não montou homem algum; desprendei-a, e trazeimos. E, se alguém vos perguntar: Por que fazeis isso? Assim lhes direis: Porque o Senhor os há de mister: e logo vos enviará para aqui.

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E, indo os que haviam sido mandados, encontraram o jumentinho preso fora da porta, entre dois caminhos, e o soltaram. E, quando soltaram o jumentinho, seus donos lhes disseram: Por que soltais o jumentinho? E eles responderam como Jesus lhes tinha mandado: O Senhor o há de mister; e deixaram-nos ir. E trouxeram a jumenta e o jumentinho, e sobre eles puseram os seus vestidos e fizeram-no assentar sobre o jumentinho. Os seus discípulos, porém, não entenderam isto no princípio; mas quando Jesus foi glorificado, então se lembraram de que isto estava escrito dele, e que isto lhe fizeram para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta, que diz: Dizei à filha de Sião: Não temas; eis que o teu Rei aí te vem, manso, e assentado sobre uma jumenta, e sobre um jumentinho, filho de animal de carga.

Ouvindo uma grande multidão, que viera à festa, que Jesus vinha a Jerusalém, tomaram ramos de palmeiras, e saíramlhe ao encontro, e os espalhavam pelo caminho. E muitíssima gente estendia os seus vestidos pelo caminho. A multidão, pois, que estava com ele quando Lázaro foi chamado da sepultura, testificava que ele o ressuscitara dos mortos. Pelo que a multidão lhe saiu ao encontro, porque tinham ouvido que ele fizera este sinal. E, quando já chegava perto da descida do monte das Oliveiras, toda a multidão dos discípulos, regozijando-se, começou a dar louvores a Deus, por todas as maravilhas que tinham visto. E aqueles que iam adiante, e os que seguiam, clamavam, dizendo: Hosana ao filho de Davi: Bendito o Rei que vem em nome do Senhor. Bendito o reino do nosso pai Davi, que vem em nome do Senhor; paz no céu, e glória nas alturas. Hosana nas alturas.

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E disseram-lhe dentre a multidão alguns dos fariseus: Mestre, repreende os teus discípulos. E, respondendo ele, disse-lhes: Digo-vos que, se estes se calarem, as próprias pedras clamarão. E, quando ia chegando, vendo a cidade, chorou sobre ela, dizendo: Ah! Se tu conhecesses também, ao menos neste teu dia, o que à tua paz pertence! Mas agora isto está encoberto aos teus olhos. Porque dias virão sobre ti, em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras, e te sitiarão, e te estreitarão de todas as bandas: e te derribarão, a ti e a teus filhos que dentro de ti estiverem; e não deixarão em ti pedra sobre pedra, pois que não conheceste o tempo da tua visitação. Disseram pois os fariseus entre si: Vedes que nada aproveitais? Eis que toda a gente vai após ele.

E, entrando ele em Jerusalém, toda a cidade se alvoroçou, dizendo: Quem é este? E a multidão dizia: Este é Jesus, o Profeta de Nazaré da Galiléia. E Jesus entrou no templo, e, tendo visto tudo em redor, como fosse já tarde, saiu para Betânia com os doze.

A figueira seca: a purificação do templo

(Mt 21:12-22; Mc 11:12-26; Lc 19:45-48) E, no dia seguinte, quando saíram de Betânia, teve fome, e, vendo de longe uma figueira que tinha folhas, perto do caminho, foi ver se nela acharia alguma coisa; e, chegando a ela, não achou senão folhas, porque não era tempo de figos. E Jesus, falando, disse à figueira: Nunca mais coma alguém frutos de ti.

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E os seus discípulos ouviram isto. E vieram a Jerusalém; e Jesus, entrando no templo de Deus, começou a expulsar os que vendiam e compravam no templo; e derrubou as mesas dos cambiadores e as cadeiras dos que vendiam pombas. E não consentia que alguém levasse algum vaso pelo templo. E os ensinava dizendo: Não está escrito – A minha casa será chamada por todas as nações casa de oração? Mas vós a tendes feito covil de ladrões. E foram ter com ele ao templo cegos e coxos, e curou-os. Vendo então os principais dos sacerdotes e os escribas as maravilhas que fazia, e os meninos clamando no templo, Hosana ao Filho de Davi, indignaram-se, e disseram-lhe: Ouves os que estes dizem? E Jesus lhes disse: Sim; nunca lestes: Pela boca dos meninos e das criancinhas de peito tiraste o perfeito louvor? E os escribas e príncipes dos sacerdotes, tendo ouvido isto, buscavam ocasião para o matar; pois eles o temiam, porque toda multidão estava admirada acerca da sua doutrina. E todos os dias ensinava no templo; mas os principais dos sacerdotes, e os escribas, e os principais do povo procuravam matá-lo. E não achavam meio de o fazer, porque todo o povo pendia para ele, escutando-o. E, sendo já tarde, deixando-os, saiu para fora da cidade para Betânia, e ali passou a noite. E, de manhã, voltando para a cidade, viram que a figueira se tinha secado desde as raízes imediatamente. E os discípulos, vendo isto, maravilharam-se dizendo: Como secou imediatamente a figueira? E Pedro, lembrando-se, disse-lhe: Mestre, eis que a figueira, que tu amaldiçoaste, se secou. E Jesus, respondendo, disse-lhes: Tende fé em Deus; porque em verdade vos digo que qualquer que disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar; e não duvidar em seu

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coração, mas crer que se fará aquilo que diz, não só fareis o que foi feito à figueira, mas tudo o que disser, assim será feito. Por isso vos digo que tudo o que pedirdes, orando, crede que o recebereis, e tê-lo-eis; e, quando estiverdes orando, perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém, para que vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe as vossas ofensas; mas, se vós não perdoardes, também vosso Pai, que está nos céus, vos não perdoará as vossas ofensas.

Interrogação acerca do batismo de João (Mt 21:23-27; Mc 11:27-33; Lc 20:1-8) E chegando a Jerusalém, ao templo, acercaram-se dele, estando já ensinando o povo e anunciando o evangelho, os principais dos sacerdotes e os escribas com os anciãos do povo, dizendo: Dize-nos, com que autoridade fazes tu estas coisas? Ou quem te deu tal autoridade para fazer estas coisas? Mas Jesus, respondendo, disse-lhes: Também eu vos perguntarei uma coisa, e respondei-me; e então vos direi com que autoridade faço estas coisas: O batismo de João donde era? Do céu, ou dos homens? Respondei-me.

E eles arrazoavam entre si, dizendo: Se dissermos: Do céu; ele nos dirá: Então por que o não crestes? Se, porém, dissermos: Dos homens, tememos o povo, porque todo o povo nos apedrejará, pois têm por certo que João verdadeiramente era profeta. E, respondendo, disseram a Jesus: Não sabemos. E Jesus lhes replicou: Também eu vos não direi com que autoridade faço estas coisas.

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A parábola dos dois filhos (Mt 21:28-32; Mc 12:1a; Lc 20:9a) E começou a falar ao povo por parábolas: Mas que vos parece? Um homem tinha dois filhos, e, dirigindo-se ao primeiro, disse: Filho, vai trabalhar hoje na minha vinha. Ele, porém, respondendo, disse: Não quero. Mas depois, arrependendo-se, foi. E, dirigindo-se ao segundo, falou-lhe de igual modo; e, respondendo ele, disse: Eu vou, senhor; e não foi. Qual dos dois fez a vontade do pai? Disseram-lhe eles: O primeiro. Disse-lhes Jesus: Em verdade vos digo que os publicanos e as meretrizes entram adiante de vós no reino de Deus. Porque João veio a vós no caminho de justiça, e não o crestes, mas os publicanos e as meretrizes o creram; vós, porém, vendo isto, nem depois vos arrependestes para o crer.

A parábola dos lavradores maus (Mt 21:33-46; Mc 12:1b-12a; Lc 20:9b-19)

Ouvi ainda, esta parábola: Houve um homem, pai de família, que plantou uma vinha, e circuncidou-a de um valado, e construiu nela um lagar, e edificou uma torre, e arrendou-a a uns lavradores, e ausentou-se para longe da terra por muito tempo. E, chegando o tempo dos frutos, mandou um servo aos lavradores para que recebesse, dos lavradores, do fruto da vinha. Mas estes, apoderando-se dele, o feriram e o mandaram embora vazio.

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E tornou a enviar-lhes outro servo; e eles, apedrejando-o, o feriram na cabeça, e o mandaram embora vazio, tendo-o afrontado. E tornou a enviar-lhes outro, e a este mataram; depois enviou outros servos, em maior número do que os primeiros; e eles a uns feriram e a outros mataram. Tendo o senhor da vinha pois ainda um seu filho amado, enviou-o também a estes por último, dizendo: Que farei ? Mandarei o meu filho amado, talvez que, vendo-o, o respeitem. Ao menos terão respeito ao meu filho. Mas os lavradores, vendo o filho, disseram entre si: Este é o herdeiro: vinde, matemo-lo, e apoderemo-nos da sua herança. E, lançando mão dele, o arrastaram para fora da vinha, e o mataram.

Quando pois vier o Senhor da vinha, que fará àqueles lavradores? Dizem-lhe eles: Dará afrontosa morte aos maus, e arrendará a vinha a outros lavradores, que a seu tempo lhe dêem os frutos. Diz-lhes Jesus: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra, que os edificadores rejeitaram, essa foi posta por cabeça do ângulo; pelo Senhor foi feito isto, e é maravilhoso aos nossos olhos? Portanto eu vos digo que o reino de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que dê os seus frutos. E, ouvindo eles isto, disseram: Não seja assim! Mas ele, olhando para eles, disse: Que é isto pois que está escrito? A pedra, que os edificadores reprovaram, essa foi feita cabeça da esquina. E quem cair sobre esta pedra despedaçar-se-á; e aquele sobre quem ela cair ficará reduzido a pó.

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E os principais dos sacerdotes e os fariseus e escribas, ouvindo estas palavras, entenderam que falava deles; e, pretendendo prendê-lo naquela mesma hora, recearam o povo, porquanto o tinham por profeta.

A parábola das bodas (Mt 22:1-15; Mc 12:12b,13b; Lc 20:20) Então Jesus, tomando a palavra, tornou a falar-lhes em parábolas, dizendo: O reino dos céus é semelhante a um certo rei que celebrou as bodas de seu filho; e enviou os seus servos a chamar os convidados para as bodas; e estes não quiseram vir. Depois enviou outros servos, dizendo: Dizei aos convidados: Eis que tenho o meu jantar preparado, os meus bois e cevados já mortos, e tudo já pronto; vinde às bodas. Porém eles, não fazendo caso, foram, um para o seu campo, outro para o seu tráfico; e outros, apoderando-se dos servos, os ultrajaram e mataram. E o rei, tendo notícias disto, encolerizou-se e, enviando os seus exércitos, destruiu aqueles homicidas, e incendiou a sua cidade. Então diz aos servos: As bodas, na verdade, estão preparadas, mas os convidados não eram dignos. Ide pois às saídas dos caminhos, e convidai para as bodas a todos os que encontrardes. E os servos, saindo pelos caminhos, ajuntaram todos quantos encontraram, tanto maus como bons; e a festa nupcial foi cheia de convidados. E o rei, entrando para ver os convidados, viu ali um homem que não estava trajado com vestido de núpcias. E disselhe: Amigo, como entraste aqui, não tendo vestido nupcial? E ele emudeceu.

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Disse então o rei aos servos: Amarrai-o de pés e mãos, levai-o, e lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes. Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos. Então, retirando-se os fariseus, consultaram entre si como o surpreenderiam nalguma palavra; e, trazendo-o debaixo de olho, mandaram espias, que se fingissem justos, para o apanharem nalguma palavra, e o entregarem à jurisdição e poder do presidente. A questão do tributo (Mt 22:16-22; Mc 12:13a-17; Lc 20:21-26) E enviaram-lhe os seus discípulos, com os herodianos, dizendo: Mestre, nós bem sabemos que és verdadeiro, e falas e ensinas bem e retamente o caminho de Deus, segundo a verdade, e de ninguém se te dá, porque não olhas à aparência dos homens. Dize-nos, pois, que te parece? É lícito pagar o tributo a César, ou não? Daremos, ou não daremos? Jesus, porém, conhecendo a sua malícia, disse: Por que me tentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda do tributo. E eles lhe apresentaram um dinheiro.

E ele diz-lhes: De quem é esta imagem e esta inscrição? Dizem-lhe eles: De César. E Jesus, respondendo, disse-lhes: Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus. E não puderam apanhá-lo em palavra alguma diante do povo; e, maravilhados da sua resposta, calaram-se, e, deixando-o, se retiraram.

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Os saduceus e a ressurreição (Mt 22:23-33; Mc 12:18-27; Lc 20:27-39) No mesmo dia chegaram junto dele os saduceus, que dizem não haver ressurreição, e o interrogaram, dizendo: Mestre, Moisés nos escreveu que, se morresse o irmão de alguém, e deixasse mulher e não deixasse filhos, seu irmão tomasse a mulher dele, e suscitasse descendência a seu irmão. Ora houve entre nós sete irmãos; e o primeiro tendo casado, morreu, e, não tendo descendência, deixou sua mulher a seu irmão. E o segundo também a tomou e morreu, e nem este deixou descendência; e o terceiro da mesma maneira. E tomaram-na igualmente os sete: todos eles morreram, sem, contudo, terem deixado filhos. E por último, depois de todos, morreu também a mulher. Na ressurreição, pois, quando ressuscitarem, de qual destes será a mulher? Porque os sete a tiveram por mulher.

E Jesus, respondendo, disse-lhes: Porventura não errais em razão de não saberdes as Escrituras nem o poder de Deus? Os filhos deste mundo casam-se, e dão-se em casamento; mas os que forem havidos por dignos de alcançar o mundo vindouro, e a ressurreição dos mortos, nem hão de casar, nem ser dados em casamento; porque já não podem mais morrer; pois são iguais aos anjos de Deus que estão nos céus, e são filhos de Deus, sendo filhos da ressurreição. E que os mortos hão de ressuscitar, não tendes lido no livro de Moisés como Deus lhe falou na sarça, e vos declarou, dizendo: Eu sou o Deus d’Abraão, o Deus d’Isaque e o Deus de Jacó? Ora Deus não é Deus de mortos, mas sim é Deus de vivos; porque para ele vivem todos. Por isso vós errais muito. E respondendo alguns dos escribas, disseram: Mestre, disseste bem. E, as turbas, ouvindo isto, ficaram maravilhadas da sua doutrina.

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O grande mandamento (Mt 22:34-40; Mc 12:28-34a) E os fariseus, ouvindo que ele fizera emudecer os saduceus, reuniram-se no mesmo lugar; e um deles, doutor da lei, sabendo que lhes tinha respondido bem, interrogou-o para o experimentar, dizendo: Mestre, qual é o primeiro grande mandamento da lei? E Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de todas as tuas forças: este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes. Destes dois mandamentos depende toda a lei e os profetas.

E o escriba lhe disse: Muito bem, Mestre, e com verdade disseste que há um só Deus, e que não há outro além dele; e que amá-lo de todo o coração, e de todo o entendimento, e de toda alma, e de todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, é mais do que todos os holocaustos e sacrifícios. E Jesus, vendo que havia respondido sabiamente, disselhe: Não estás longe do reino de Deus.

O Cristo, filho de Davi (Mt 22:41-46; Mc 12:34b-37; Lc 20:40-44) E, estando reunidos os fariseus, interrogou-os Jesus, dizendo: Que pensais vós do Cristo? De quem é filho? Eles disseram-lhe: De Davi.

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E, falando Jesus, dizia, ensinando no templo: Como dizem os escribas que o Cristo é filho de Davi? Visto como o mesmo Davi pelo Espírito Santo, lhe chama Senhor no livro dos Salmos, dizendo: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita até que eu ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés. Se Davi pois lhe chama Senhor, como é logo seu filho? E ninguém podia responder-lhe uma palavra: nem desde aquele dia ousou alguém interrogá-lo mais coisa alguma. E a grande multidão o ouvia de boa vontade.

Jesus censura os escribas e os fariseus (Mt 23; Mc 12:38-40; Lc 20:45-47) Então falou Jesus à multidão, e aos seus discípulos, dizendo: Na cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus. Observai, pois, e praticai tudo o que vos disserem; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não praticam; pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; eles, porém, nem com o dedo querem movê-los; e fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens; pois trazem largos filactérios, e alargam as franjas dos seus vestidos, e amam os primeiros lugares nas ceias e as primeiras cadeiras nas sinagogas, e as saudações nas praças, e o serem chamados pelos homens – Rabi, Rabi. Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre, a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos. E a ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus. Nem vos chameis mestres, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo. Porém o maior dentre vós será vosso servo. E o que a si mesmo se exaltar será humilhado; e o que a si mesmo se humilhar será exaltado.

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Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que fechais aos homens o reino dos céus; e nem vós entrais nem deixais entrar aos que estão entrando. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que devorais as casas das viúvas, sob pretexto de prolongadas orações; por isso sofrereis mais rigoroso juízo. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes mais do que vós. Ai de vós, condutores cegos! Pois que dizeis: Qualquer que jurar pelo templo, isso nada é; mas o que jurar pelo ouro do templo, esse é devedor. Insensatos e cegos! Pois qual é maior: o ouro, ou o templo, que santifica o ouro? E aquele que jurar pelo altar isso nada é; mas aquele que jurar pela oferta que está sobre o altar, esse é devedor. Insensatos e cegos! Pois qual é maior: a oferta, ou o altar, que santifica a oferta? Portanto, o que jurar pelo altar jura por ele e por tudo o que sobre ele está: e o que jurar pelo templo jura por ele e por aquele que nele habita; e o que jurar pelo céu jura pelo trono de Deus e por aquele que está assentado nele. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas. Condutores cegos! Que coais um mosquito e engolis um camelo. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que limpais o exterior do copo e do prato, mas o interior está cheio de rapina e de iniquidade. Fariseu cego! Limpa primeiro o interior do copo e do prato, para que também o exterior fique limpo. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente

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parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia. Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniquidade. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que edificais os sepulcros dos profetas e adornais os monumentos dos justos. E dizeis: Se existíssemos no tempo de nossos pais, nunca nos associaríamos com eles para derramar o sangue dos profetas. Assim, vós mesmos testificais que sois filhos dos que mataram os profetas. Enchei vós pois a medida de vossos pais. Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação do inferno? Portanto, eis que eu vos envio profetas, sábios e escribas; e a uns deles matareis e crucificareis; e a outros deles açoitareis nas vossas sinagogas e os perseguireis de cidade em cidade; para que sobre vós caia todo o sangue justo, que foi derramado sobre a terra, desde o sangue de Abel, o justo, até ao sangue de Zacarias, filho de Baraquias, que matastes entre o santuário e o altar. Em verdade vos digo que todas estas coisas hão de vir sobre esta geração. Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste! Eis que a vossa casa vai ficar-vos deserta; porque eu vos digo que desde agora me não vereis mais, até que digais: Bendito o que vem em nome do Senhor.

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A pequena oferta da viúva pobre (Mc 12:41-44; Lc 21:1-4) E, estando Jesus assentado defronte da arca do tesouro, observava a maneira como a multidão lançava o dinheiro na arca do tesouro; e muitos ricos deitavam muito. Vindo, porém, uma pobre viúva, deitou duas pequenas moedas, que valiam cinco réis. E, chamando os seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deitou mais do que todos os que deitaram na arca do tesouro; porque todos ali deitaram do que lhes sobejava para as ofertas de Deus, mas esta, da sua pobreza, deitou tudo o que tinha, todo o seu sustento.

O sermão profético: o princípio de dores Nota 04 - pg. 101 (Mt 24:1-14; Mc 13:1-13; Lc 21:5-19) E, quando Jesus ia saindo do templo, aproximaram-se dele os seus discípulos para lhe mostrarem a estrutura do templo, que estava ornado de formosas pedras e dádivas.

E disse-lhe um dos seus discípulos: Mestre, olha que pedras, e que edifícios. Jesus, porém, lhes disse: Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que dias virão em que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada. E, assentando-se ele no monte das Oliveiras, defronte do templo, Pedro, e Tiago, e João, e André lhe perguntaram em particular: Dize-nos Mestre, quando serão estas coisas, e que

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sinal haverá quando isto estiver para acontecer? E que sinal haverá da tua vinda e do fim do mundo? E Jesus respondendo-lhes, começou a dizer: Acautelaivos, que ninguém vos engane; porque muitos virão em meu nome, e enganarão a muitos, dizendo: Eu sou o Cristo, e o tempo está próximo; não vades portanto após eles. E ouvireis de guerras e de rumores de guerras; olhai não vos assusteis, porque é mister que isso tudo aconteça primeiro, mas ainda não é o fim. Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e grandes terremotos, em vários lugares; haverá também coisas espantosas, e grandes sinais nos céus. Mas todas estas coisas são o princípio de dores. Mas olhai por vós mesmos, porque vos entregarão aos concílios e às sinagogas para serdes atormentados; sereis açoitados, e matar-vos-ão, e sereis apresentados ante presidentes e reis, por amor de mim, para lhes servir de testemunho. Mas importa que o evangelho do reino seja primeiramente pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as gentes, e então virá o fim. Quando pois vos conduzirem para vos entregarem, não estejais solícitos d’antemão pelo que haveis de dizer; mas, o que vos for dado naquela hora, isso falai; porque não sois vós os que falais, mas o Espírito Santo. Nesse tempo muitos serão escandalizados, e trair-se-ão uns aos outros, e uns aos outros se aborrecerão. E o irmão entregará à morte o irmão, e o pai o filho; e levantar-se-ão os filhos contra os pais, e os farão morrer. E surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos. E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará. E sereis odiados por todos por amor do meu nome; mas quem perseverar até ao fim será salvo. Mas, antes de todas estas coisas, lançarão mão de vós, e vos perseguirão, entregando-vos às sinagogas e às prisões, e conduzindo-vos à presença de reis e presidentes, por amor do

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meu nome. E vos acontecerá isto para testemunho. Proponde pois em vossos corações não premeditar como haveis de responder; porque eu vos darei boca e sabedoria a que não poderão resistir nem contradizer todos quantos se vos opuserem. E até pelos pais, e irmãos, e parentes, e amigos sereis entregues; e matarão alguns de vós. E de todos sereis odiados por causa do meu nome. Mas não perecerá um único cabelo da vossa cabeça. Na vossa paciência possuí as vossas almas.

O sermão profético continua: [ a desolação de Jerusalém e ] a grande tribulação (Mt 24:15-28; Mc 13:14-23; Lc 2l:20-24) Mas, quando virdes Jerusalém cercada de exércitos, sabei então que é chegada a sua desolação. Então, os que estiverem na Judéia, fujam para os montes; os que estiverem no meio da cidade, saiam; e, os que nos campos, não entrem nela. Porque dias de vingança são estes, para que se cumpram todas as coisas que estão escritas. Mas ai das grávidas, e das que criarem naqueles dias! Porque haverá grande aperto na terra, e ira sobre este povo. E cairão ao fio da espada, e para todas as nações serão levados cativos; e Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos dos gentios se completem. Quando pois virdes que a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, está no lugar santo; quem lê, atenda; então, os que estiverem na Judéia, fujam para os montes; e quem estiver sobre o telhado não desça a tirar alguma coisa de sua casa; e quem estiver no campo não volte atrás a buscar os seus vestidos. Mas ai das grávidas e das que amamentarem naqueles dias! E orai para que a vossa fuga não aconteça no inverno nem no sábado; porque haverá então grande aflição, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem tão pouco há de vir. E, se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma carne

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se salvaria; mas por causa dos escolhidos serão abreviados aqueles dias. Então, se alguém vos disser: Eis que o Cristo está aqui, ou ali, não lhe deis crédito; porque surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos. Eis que eu vo-lo tenho predito. Portanto, se vos disserem: Eis que ele está no deserto, não saiais; eis que ele está no interior da casa, não acrediteis. Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até ao ocidente, assim será também a vinda do Filho do homem. Pois onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão as águias.

O sermão profético continua: a vinda do Filho do homem (Mt 24:29-35; Mc 13:24-31; Lc 21:25-33) E, logo depois da aflição daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e as potências dos céus serão abaladas; e na terra angústia das nações, em perplexidade pelo bramido do mar e das ondas; homens desmaiando de terror, na expectação das coisas que sobrevirão ao mundo. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; e todas as tribos da terra se lamentarão, e verão o Filho do homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória. Ora, quando estas coisas começarem a acontecer, olhai para cima e levantai as vossas cabeças, porque a vossa redenção está próxima. E ele enviará os seus anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus. E disse-lhes uma parábola: Aprendei pois esta parábola da

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figueira: Olhai para a figueira, e para todas as árvores; quando já os seus ramos se tornam tenros e brotam folhas, sabeis que está próximo o verão. Igualmente, quando virdes sucederem todas estas coisas, sabei que o reino de Deus está próximo às portas. Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que todas estas coisas aconteçam. O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar.

O sermão profético continua: exortação à vigilância (Mt 24:36-44; Mc 13:32-37; Lc 21:34-36) Porém daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas unicamente meu Pai. E olhai por vós, não aconteça que os vossos corações se carreguem de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia. Porque virá como um laço sobre todos os que habitam na face de toda a terra. E, como foi nos dias de Noé, assim será também a vinda do filho do homem. Porquanto, assim como, nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento até ao dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos – assim será também a vinda do Filho do homem. Então, estando dois no campo, será levado um, e deixado o outro; estando duas moendo no moinho, será levado uma, e deixada outra. Olhai, vigiai e orai em todo o tempo, para que sejais havidos por dignos de evitar todas estas coisas que hão de acontecer e de estar em pé diante do Filho do homem. É como se um homem, partindo para fora da terra, deixasse a sua casa, e desse autoridade aos seus servos, e a cada um a sua obra, e mandasse ao porteiro que vigiasse. Vigiai pois, porque não sabeis quando virá o senhor da casa; se à tarde, se à meia-noite,

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se ao cantar do galo, se pela manhã, para que, vindo de improviso, não vos ache dormindo. Vigiai, pois, porque não sabeis a que hora há de vir o vosso Senhor; mas considerai isto: se o pai de família soubesse a que vigília da noite havia de vir o ladrão, vigiaria e não deixaria minar a sua casa. Por isso, estai vós apercebidos também; porque o Filho do homem há de vir à hora em que não penseis. E as coisas que vos digo digo-as a todos: Vigiai.

O Sermão continua: a parábola dos dois servos (Mt 24:45-51) Quem é pois o servo fiel e prudente, que o Senhor constituiu sobre a sua casa, para dar o sustento a seu tempo? Bem-aventurado aquele servo que o Senhor, quando vier, achar servindo assim. Em verdade vos digo que o porá sobre todos os seus bens. Porém, se aquele mau servo disser consigo: O meu senhor tarde virá; e começar a espancar os seus conservos, e a comer e a beber com os temulentos, virá o senhor daquele servo num dia em que o não espera, e à hora em que ele não sabe, e separá-lo-á, e destinará a sua parte com os hipócritas; ali haverá pranto e ranger de dentes.

O sermão profético continua: a parábola das dez virgens (Mt 25:1-13) Então o reino dos céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do esposo. E cinco delas eram prudentes, e cinco loucas. As loucas, tomando as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo. Mas as prudentes levaram azeite em suas vasilhas, com as suas lâmpadas. E,

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tardando o esposo, tosquenejaram todas, e adormeceram, mas à meia-noite ouviu-se um clamor; aí vem o esposo, saí-lhe ao encontro. Então todas aquelas virgens se levantaram, e prepararam as suas lâmpadas. E as loucas disseram às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas se apagam. Mas as prudentes responderam, dizendo: Não seja caso que nos falte a nós e a vós, ide antes aos que o vendem, e comprai-o para vós. E, tendo elas ido comprá-lo, chegou o esposo, e as que estavam preparadas entraram com ele para as bodas, e fechou-se a porta. E depois chegaram também as outras virgens, dizendo: Senhor, Senhor, abre-nos. E ele, respondendo, disse: Em verdade vos digo que vos não conheço. Vigiai pois, porque não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do homem há de vir.

O sermão continua: a parábola dos dez talentos (Mt 25:14-30) Porque isto é também como um homem que, partindo para fora da terra, chamou os seus servos, e entregou-lhes os seus bens; e a um deu cinco talentos, e a outro dois, e a outro um, a cada um segundo a sua capacidade, e ausentou-se logo para longe. E, tendo ele partido, o que recebera cindo talentos negociou com eles, e granjeou outros cinco talentos. Da mesma sorte o que recebera dois, granjeou também outros dois; mas o que recebera um, foi e cavou na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor. E muito tempo depois veio o senhor daqueles servos,

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e fez contas com eles. Então aproximou-se o que recebera cinco talentos, e trouxe-lhe outros cinco talentos, dizendo: Senhor, entregaste-me cinco talentos; eis aqui outros cinco talentos que granjeei com eles. E o senhor lhe disse: Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor. E, chegando também o que tinha recebido dois talentos, disse: Senhor, entregaste-me dois talentos; eis que com eles granjeei outros dois talentos. Disse-lhe o seu senhor: Bem está, bom e fiel servo. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor. Mas, chegando também o que recebera um talento disse: Senhor, eu conhecia-te, que és um homem duro, que ceifa onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste; e, atemorizado, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu. Respondendo, porém, o seu senhor, disse-lhe: Mau e negligente servo; sabes que ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei; devias então ter dado o meu dinheiro aos banqueiros, e, quando eu viesse, receberia o meu com os juros. Tirai-lhe pois o talento, e dai-o ao que tem os dez talentos. Porque a qualquer que tiver será dado, e terá em abundância; mas ao que não tiver até o que tem ser-lhe-á tirado. Lançai pois o servo inútil nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes.

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O fim do sermão profético: a vida eterna e o castigo eterno (Mt 25:31-46; Lc 21:37,38) E quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas; e porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda. Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque tive fome, e deste -me de comer; tive sede, e deste-me de beber; era estrangeiro, e hospedaste-me; estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me. Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? Ou com sede, e te demos de beber? E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? Ou nu, e te vestimos? E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te? E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes. Então dirá também aos que estiverem à esquerda: Apartaivos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos; porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e enfermo, e na prisão, não me visitastes. Então eles também lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos?

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Então lhes responderás, dizendo: Em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o não fizestes não o fizestes a mim. E irão estes para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna. E de dia ensinava no templo, e à noite, saindo, ficava no monte chamado das Oliveiras. E todo o povo ia ter com ele ao templo, de manhã cedo, para o ouvir.

A consulta dos sacerdotes e dos escribas (Mt 26:1-5; Mc 14:1,2; Lc 22:1,2) Estava pois perto a festa dos pães asmos, chamada a Páscoa. E aconteceu que, quando Jesus concluiu todos estes discursos, disse aos seus discípulos: Bem sabeis que daqui a dois dias é a páscoa; e o Filho do homem será entregue para ser crucificado. Depois os príncipes dos sacerdotes, e os escribas, e os anciãos do povo reuniram-se na sala do sumo sacerdote, o qual se chamava Caifás, e consultaram-se mutuamente como prenderiam Jesus com dolo e o matariam. Mas diziam: Não durante a festa, para que não haja alvoroço entre o povo; porque temiam o povo.

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O jantar em Betânia (Mt 26:6-13; Mc 14:3-9) E, estando Jesus em Betânia, em leproso, aproximou-se dele uma mulher alabastro, com unguento de nardo puro, derramou-lhe sobre a cabeça, quando ele mesa.

casa de Simão, o com um vaso de de grande valor, e estava assentado à

E os seus discípulos, vendo isto, indignaram-se em si mesmos, dizendo: Por que este desperdício de unguento? Porque podia vender-se por mais de trezentos dinheiros, e dá-lo aos pobres. E bramavam contra ela. Jesus, porém, conhecendo isto, disse-lhes: Deixai-a, por que afligis esta mulher? Pois praticou uma boa ação para comigo. Porque sempre tendes os pobres convosco, e podeis fazer-lhes bem, quando quiserdes; mas a mim não me haveis de ter sempre. Esta fez o que podia; ora, derramando ela este unguento sobre o meu corpo, antecipou-se a ungir o meu corpo para a sepultura. Em verdade vos digo que, em todas as partes do mundo onde este evangelho for pregado, também o que ela fez será contado para sua memória.

O preço da traição (Mt 26:14-16; Mc 14:10,11; Lc 22:3-6) Entrou, porém, Satanás em Judas, que tinha por sobrenome Iscariotes, o qual era do número dos doze; e foi, e falou os principais dos sacerdotes, e com os capitães, de como lho entregaria, e disse: Que me quereis dar e eu vo-lo entregarei? E eles, ouvindo-o, folgaram e prometeram dar-lhe dinheiro; e lhe pesaram trinta moedas de prata, e ele concordou;

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e buscava oportunidade para lho entregar em ocasião oportuna sem alvoroço.

Alguns gregos desejam ver a Jesus. Jesus fala da sua glorificação, ouve-se uma voz do céu. Jesus, a luz do mundo (Jo 12:20-50) Ora havia alguns gregos, entre os que tinham subido a adorar no dia da festa. Estes, pois, dirigiram-se a Filipe, que era de Betsaida da Galiléia, e rogaram-lhe, dizendo: Senhor, queríamos ver a Jesus. Filipe foi dizê-lo a André, e então André e Filipe o disseram a Jesus. E Jesus lhes respondeu, dizendo: É chegada a hora em que o Filho do homem há de ser glorificado. Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só: mas se morrer, dá muito fruto. Quem ama a sua vida perdê-la-á, e quem neste mundo aborrece a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna. Se alguém me serve, siga-me, e onde eu estiver, ali estará também o meu servo. E, se alguém me servir, meu Pai o honrará. Agora a minha alma está perturbada; e que direi eu? Pai, salva-me desta hora; mas para isto vim a esta hora. Pai, glorifica o teu nome. Então veio uma voz do céu que dizia: Já o tenho glorificado, e outra vez o glorificarei. Ora a multidão que ali estava, e que a tinha ouvido, dizia que havia sido um trovão. Outros diziam: Um anjo lhe falou. Respondeu Jesus e disse: Não veio esta voz por amor de mim mas por amor de vós. Agora é o juízo deste mundo: agora

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será expulso o príncipe deste mundo. E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim. E dizia isto, significando de que morte havia de morrer. Respondeu-lhe a multidão: Nós temos ouvido da lei, que o Cristo permanece para sempre; e como dizes tu que convém que o Filho do homem seja levantado? Quem é esse Filho do homem? Disse-lhes pois Jesus: A luz ainda está convosco por um pouco de tempo; andai enquanto tendes luz, para que as trevas vos não apanhem; pois quem anda nas trevas não sabe para onde vai. Enquanto tendes luz, crede na luz, para que sejais filhos da luz. Estas coisas disse Jesus; e, retirando-se, escondeu-se deles. E, ainda que tinha feito tantos sinais diante deles, não criam nele; para que se cumprisse a palavra do profeta Isaías, que diz: Senhor, quem creu na nossa pregação? E a quem foi revelado o braço do Senhor? Por isso não podiam crer, pelo que Isaías disse outra vez: Cegou-lhes os olhos, e endureceu-lhes o coração, a fim de que não vejam com os olhos, e compreendam no coração, e se convertam, e eu os cure. Isaías disse isto quando viu a sua glória e falou dele. Apesar de tudo, até muitos dos principais creram nele; mas não o confessavam por causa dos fariseus, para não serem expulsos da sinagoga. Porque amavam mais a glória dos homens do que a glória de Deus. E Jesus clamou, e disse: Quem crê em mim, crê não em mim, mas naquele que me enviou. E quem me vê a mim, vê aquele que me enviou. Eu sou a luz que vim ao mundo, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas. E, se alguém ouvir as minhas palavras, e não crer, eu não o julgo: porque eu vim, não para julgar o mundo, mas para salvar o mundo. Quem me rejeitar a mim, e não receber as minhas

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palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o há de julgar no último dia. Porque eu não tenho falado de mim mesmo; mas o Pai, que me enviou, ele me deu mandamento sobre o que hei de dizer e sobre o que hei de falar. E sei que o seu mandamento é a vida eterna. Portanto, o que eu falo, falo-o como o Pai mo tem dito.

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Notas Explicativas


Nota 1 – pg. 57 O cego de Jericó

A aparente contradição acerca do relato da cura destes dois cegos pode ser resolvida, engenhosamente, da seguinte forma. Mateus revela que Jesus curou “dois cegos” quando estavam “saindo eles de Jericó”. Marcos relata que somente “Bartimeu, o cego” foi curado por Jesus, quando ele saía de Jericó. E Lucas observa que “um cego” foi curado quando Jesus estava “chegando perto de Jericó”. Alguns estudiosos, para resolver este impasse da cura ter sido antes ou depois de Jesus ter entrado em Jericó, utilizam-se do conhecimento histórico de que havia duas cidades: a Jericó velha, e a nova Jericó, construída por Herodes. Entre uma e outra, portanto, entre a saída de uma e a entrada de outra, ocorreram os milagres devidos, pensando assim ter-se resolvido a questão. Em primeiro lugar, a Palavra de Deus não faz nenhuma distinção entre as cidades. Simplesmente é designada Jericó. Em segundo lugar, será que é plausível entendermos que ao sair Jesus de uma das cidades, automaticamente já estava entrando na outra? Parece-me que não. Mas eu vou propor dois argumentos lógicos que favorecem o ponto de vista de que se tratava da Nova Jericó, mesmo que, na visão dos escritores, ela englobasse a cidade velha. Em Lucas, notamos que Jesus, ao entrar em Jericó, encontra a Zaqueu, “um chefe dos publicanos, e era rico”. Ora, dificilmente um homem rico, e que era contratado pelo Império Romano para coletar impostos, moraria numa cidade velha. À altura de seu cargo e de suas posses deveria estar a pompa de uma bela cidade, construída pelo mega empreendedor Herodes, o Grande.

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E na mesma esteira do pensamento, parece óbvio supor que os cegos mendigassem nas entradas das cidades que lhes dessem maiores oportunidades de esmolas. Pois, afinal de contas, Zaqueu mesmo declara que dava “aos pobres metade dos bens”. Só estes dois argumentos já são suficientes para se quebrar a ilusão de que os escritores tivessem em mente duas cidades. Mas um terceiro argumento, e este de caráter espiritual, porá por terra toda e qualquer objeção. Trata-se da estrutura dos textos empregada pelos Evangelistas. Se o leitor afirmar bem sua visão espiritual, perceberá que as narrativas de Marcos e Lucas são absolutamente idênticas. A única diferença é que um cego mendigava no momento em que Jesus entrava em Jericó, e o outro em que ele saía dela. No demais, o clamor dos dois cegos, a repreensão da multidão, a insistência do novo clamor, a convocação dos cegos por Jesus, a pergunta inocente do Mestre, a resposta dos cegos, a cura e a observação da fé dos cegos por Jesus são desconcertantemente iguais. E é exatamente por este motivo, pelo seu íntimo grau de parentesco, que Mateus aborda a questão em uma só narrativa, dizendo que foram dois os cegos a serem curados por Jesus. E se o leitor examinar este texto com atenção, notará a mesma sequência acima, só que desta feita como se fosse um só evento. Poderíamos dizer que Mateus compilou os dois milagres numa só narrativa, devido exatamente à sua semelhança. E por este motivo é que dividi a única fala em Mateus que não é encontrada nos outros textos. Que se trata da seguinte: “Então Jesus, movido de íntima compaixão, tocou-lhes nos olhos” (Mt 20.34). Este sentimento de Cristo não é mencionado por Marcos ou Lucas. Mas refere-se aos dois cegos. Por isso dividi a mesma fala, agora no singular, e as introduzi nos dois textos omissos, ficando da seguinte forma: “Então Jesus, movido de íntima compaixão, tocou-lhe nos olhos”.

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Esta fórmula foi a única que encontrei para unir os três textos, que pareciam tão imprecisos quanto aos acontecimentos. De forma que o leitor, ao ler o texto unificado, poderá comprovar que nada foi omitido ou acrescentado, e tudo em plena harmonia. Resumindo, então, temos: Jesus cura um cego ao se aproximar da nova Jericó; entra na cidade e pousa na casa de Zaqueu, o publicano rico, tendo a oportunidade de proclamar a parábola dos dez servos e das dez minas; e ao sair de Jericó, cura outro cego, o qual teve o seu nome revelado por Marcos: “Bartimeu, o cego, filho de Timeu”.

Nota 02 – pg. 61 Maria unge com unguento os pés de Jesus

Devemos primeiramente distinguir três momentos diferentes para a unção de Jesus. O primeiro relato encontra-se em Lc 7.36-50. Tratava-se de “uma mulher da cidade, uma pecadora”, que além de ungir com unguento os pés de Jesus, regava-lhe “os pés com lágrimas”. Como “a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus” (Sl 51.17), “disse-lhe a ela: Os teus pecados te são perdoados”. O contexto anterior mostra João Batista enviando dois discípulos seus para perguntarem a Jesus se este era realmente o que havia de vir. Jesus realiza alguns milagres, mostra a missão de João Batista, e começa a repreender “os fariseus e os doutores da lei” que “rejeitaram o conselho de Deus contra si mesmos, não tendo sido batizados” por Batista (Lc 7.18-35). Desse entrave, “rogou-lhe um dos fariseus que comesse com ele”; e na casa

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deste fariseu passa-se a unção de Jesus realizada pela pecadora arrependida. Portanto, devido ao contexto, João Batista ainda estava vivo na prisão, remetendo-nos para um período não muito avançado do ministério de Jesus. A segunda unção é descrita por João em seu capítulo 12. Fique atento aos detalhes aqui revelados para poder comparar com a terceira unção, que é normalmente confundida com esta. Este acontecimento se dá já nos últimos dias de Jesus, pois ele vai “seis dias antes da páscoa a Betânia, onde estava Lázaro”. “No dia seguinte” (Jo 12.12), portanto faltando cinco dias, ocorreria a famosa entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, para logo em seguida ser morto na cruz. Lemos que, durante esta ceia, “Marta servia” (v.2), e “então Maria... tomando um arrátel de unguento... ungiu os pés de Jesus, e enxugou-lhe os pés com os seus cabelos...” (v.3). A terceira unção pode ser vista tanto em Mt 26.6-13, quanto em Mc 14.3-9 (O jantar em Betânia). A primeira diferença está no local: embora tenha sido realizada em Betânia também, desta feita é “em casa de Simão, o leproso”. Embora João não nos informe claramente que foi na casa de Lázaro que ocorrera a outra unção, todavia o contexto de João indica esta situação. No capítulo anterior de João (Jo 11.1-45), Lázaro obviamente estava enfermo em sua casa, onde também viviam Marta e Maria, suas irmãs (Jo 11.1). O versículo 2 até menciona e liga o fato de que Maria, sua irmã, era a “que tinha ungido o Senhor com unguento”. Esta linguagem no tempo passado, contudo, não quer dizer que esta unção tenha sido anterior à ressurreição de Lázaro. O escritor está simplesmente recordando aos seus leitores o vínculo familiar que havia entre Maria e Lázaro, por sua obra de fé tê-la marcado para sempre. Em Jo

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12.9 fica claro que a ressurreição de Lázaro é anterior à ida de Jesus a Betânia. Portanto, quando João relata que Jesus foi a Betânia, “onde estava Lázaro”, no capítulo seguinte, é obvio que se tratava da casa de Lázaro, e não de Simão, o leproso. Outra diferença entre as unções é que, na anterior, Maria ungiu os pés de Jesus; nesta terceira unção, “uma mulher... derramou-lho sobre a cabeça” (Mt 26.7). Mas a diferença mais marcante refere-se ao dia em que se realizou esta “boa ação”. Se o leitor recuar sua vista para o contexto anterior, em Mateus lerá a seguinte afirmação de Jesus: “Bem sabeis que daqui a dois dias é a páscoa; e o Filho do homem será entregue para ser crucificado” (Mt 26.2). Em Marcos lerá a mesma fórmula em narrativa: “E dali a dois dias era a páscoa, e a festa dos pães asmos...” (Mc 14.1). Portanto, esta terceira unção se dará dentro destes dois dias que faltavam para a páscoa derradeira. A unção anterior, como vimos, deu-se ao menos quatro dias antes desta terceira unção. Como última observação nesta nota, o leitor deve ter percebido que inseri nesta segunda unção o texto de Lc 10.38-42. Por quê? Como já vimos anteriormente, este texto de “Marta e Maria” está dentro daquela sequência da última viagem de Jesus para Jerusalém, que se inicia em Lc 9.51 e vai até Lc 18.14. Se Jesus sai de Capernaum, sua cidade, localizada ao norte de Israel, e vai se direcionando a Jerusalém, ao sul, as duas últimas cidades que ele visitaria, antes de entrar em Jerusalém, seriam Betânia e Betfagé, nesta ordem, conforme os relatos sincronizados de Mt 21.1, Mc 11.1, Lc 19.29 e Jo 12.1. Neste trecho de Lc 10.38, vemos que Jesus “entrou numa aldeia; e certa mulher, por nome Marta, o recebeu em sua casa”. João diz claramente que Betânia era “aldeia de Maria, e de sua irmã Marta” (Jo 11.1). Isto faz com que esta passagem não se

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encaixe em meio à última viagem de Jesus, mas certamente um pouco antes dele entrar em Jerusalém. E nestes dois textos pode-se perceber a mesma atitude de Marta. Em Lc 10.40, “Marta... andava distraída em muitos serviços”. Em Jo 12.2, “Marta servia”. Por estes dois motivos é que uni a passagem de Lucas com a de João; e não há como negar que houve um perfeito casamento entre elas.

Nota 03 – pg. 62 A entrada [ ] de Jesus em Jerusalém

Antes de Jesus entrar em Jerusalém propriamente, os escritores sagrados mencionam uma sequência de três locais: Betânia, Betfagé e o monte das Oliveiras. Estes três pontos estão descritos em Mt 21.1, Mc 11.1, Lc 19.29 e Jo 12.1. Todos estes locais são muito próximos uns dos outros, e as três cidades (Jerusalém, Betânia e Betfagé) fazem limite com o monte das Oliveiras, circundando-o. A sequência exata destas cidades visitadas pelo Mestre fica explicada pela sua própria geografia: Betânia, Betfagé, o monte das Oliveiras, e Jerusalém por fim. Como só o livro de João comenta sua estada em Betânia, e os outros apenas mencionam seu nome, isolei o termo “Betânia” em João 12.1 (no título “Maria unge com unguento os pés de Jesus”), já que esta foi a primeira das cidades pela qual Jesus passou, e mencionei juntamente o que Lucas observa: “chegando perto de Betfagé” (Lc 19.29). Quando Jesus chega “a Betfagé, ao monte das Oliveiras” (Mt 21.1), ele está na verdade entre Jerusalém e Betânia. Que é o que eu apresento no primeiro parágrafo do texto

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unificado, sob este título. Marcos, por sua vez, agrupa as três cidades em relação ao monte, falando de uma forma generalizada (Mc 11.1). É bem provável que a “aldeia” visitada pelos discípulos, a que forneceu o jumentinho, fosse Betfagé, pelo texto de Mt 21.1. O leitor deve ter percebido que no título “A entrada de Jesus em Jerusalém” há um colchete vazio, que se refere à palavra “triunfal” encontrada nos títulos oferecidos pelas Bíblias, tanto a Edição Revista e Corrigida (ERC), quanto a Atualizada (ERA). Esta cena cumpre o que se profetizou em Zc 9.9: “Alegrate muito, ó filha de Sião; exulta ó filha de Jerusalém: eis que o teu rei virá a ti, justo e Salvador, pobre, e montado sobre um jumento, sobre um asninho, filho de jumenta”. Tenho por triunfal o que o próprio Zacarias profetizou mais à frente, referindo-se à segunda vinda de Cristo: “E naquele dia estarão os seus pés sobre o monte das Oliveiras, que está defronte de Jerusalém para o oriente; e o monte das Oliveiras será fendido pelo meio, para o oriente e para o ocidente, e haverá um vale muito grande... então virá o Senhor meu Deus, e todos os santos contigo, ó Senhor... E o Senhor será rei sobre toda a terra...” (Zc 14.4-5,9). Aqui, sim, cabe justamente o adjetivo ‘triunfal’.

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Nota 04 – pg. 76 O sermão profético: o princípio de dores

Esta longa e terrível profecia de Jesus só pode ser entendida dentro de seu próprio contexto. O foco central está no templo em que Jesus acabara de sair, que era o local onde os judeus, como uma nação, praticavam o seu mais alto sacerdócio e adoração. É por causa deste templo que Jesus profere o seu fantástico sermão depois dos seus discípulos lhe fazerem duas perguntas, que são divididas em dois tópicos cada uma. Qual será o momento em que se não ficará pedra sobre pedra, referindo-se ao templo? Que sinal antecederá este acontecimento? Qual o sinal do retorno de Jesus? Qual o sinal do fim do mundo? Mateus, Marcos e Lucas respondem simultaneamente as quatro perguntas, porém, sem especificar a ordem das respostas. O leitor perceberá que Mateus e Marcos são idênticos. Lucas segue a mesma construção, mas contém detalhes que o diferencia dos outros. Vamos tomar como base o cerco de Jerusalém, que faz parte do próximo título: “[A desolação de Jerusalém e] a grande tribulação”. Em Lc 21.20-24, notamos “Jerusalém cercada de exércitos”, e a grande diáspora do povo judaico, que permanece até hoje: “...cairão ao fio da espada, e para todas as nações serão levados cativos; e Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos dos gentios se completem”. Historicamente, sabemos que Jerusalém foi devastada pe-

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lo Império Romano no ano 70 d.C., portanto, aproximadamente 40 anos depois que Jesus proferiu esta profecia, e os judeus, a partir de então, espalharam-se pelos quatro cantos da terra. Basta ligar a televisão todos os dias, e veremos diante dos nossos olhos o cumprimento literal da palavra de Cristo a respeito dos gentios pisando Jerusalém na esperança de conquistá-la. Portanto, o tempo dos gentios perdura até hoje. Entende-se por gentios, na Bíblia, todas as demais nações que não têm parte na circuncisão Mosaica, e que, consequentemente, não receberam as mesmas promessas de Deus através da lei de Moisés. Só Lucas, portanto, responde as duas primeiras perguntas feitas pelos discípulos. Os sinais sobre a devastação de Jerusalém encontram-se basicamente em Lc 21.12-23. Mateus e Marcos nada comentam sobre a devastação de Jerusalém, mas comentam um fato singular: uma certa “abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, está no lugar santo” (Mt 24.15). Devemos relembrar que a resposta de Jesus para as quatro perguntas dos discípulos só têm valor dentro do contexto de um templo judaico, em Jerusalém. É por este motivo que um templo deverá ser reerguido nesta “grande cidade”, no futuro, para que a abominação mencionada em Dn 9.27 e 12.11 possa se concretizar. Esta desolação está em conexão com Apocalipse 12 e 13. Não vou me deter com mais propriedade nesta questão escatológica pois não é o objetivo deste livro. Além do mais, para uma melhor compreensão das coisas futuras, o leitor poderá consultar a Bíblia Anotada de Scofield, que possui farto material didático a respeito. O que vale ressaltar é que Mateus e Marcos se prendem basicamente às duas últimas perguntas, e só Lucas responde as duas primeiras. O leitor assíduo da Palavra de Deus deverá se esforçar um pouco para compreender a fórmula lógica que utilizei na unifi-

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cação destes textos, já que é extremamente dificultoso comentar todas as questões envolvidas, sem lançar mão de um estudo aprofundado de Escatologia. Quanto ao acréscimo, no próximo título, da frase “[A desolação de Jerusalém e]”, é simples o motivo. No título original, em Lucas, consta somente “A grande tribulação”. Mas este texto não se refere a este momento, que ainda está por vir. Certamente carrega alguns tipos. Antes se refere à desolação de Jerusalém que já se cumpriu no ano 70 da nossa Era.

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